domingo, 28 de maio de 2023

Escrito por em 28.5.23 com 0 comentários

Golfe (II)

No início do ano, quando percebi que já fazia um bom tempo que eu não falava sobre esportes, decidi pesquisar pra ver sobre quais eu ainda não tinha falado. Acabei encontrando alguns da "família" do golfe, e isso me deu uma ideia: assim como, um dia, eu fiz um segundo post sobre beisebol para falar sobre esportes que se parecem com beisebol, hoje eu vou fazer um segundo post sobre golfe, para falar sobre esportes que se parecem com golfe.

Vamos começar pelo que é mais conhecido aqui no Brasil, o minigolfe. O minigolfe surgiu no início do século XX, com a África do Sul clamando para si a invenção, dizendo que os primeiros campos próprios para a prática do esporte teriam sido abertos lá em 1910; o primeiro registro escrito de uma partida de minigolfe, porém, data de junho de 1912, e é uma reportagem do jornal The Illustrated London News, que comenta sobre a abertura, em Londres, de um campo de golfe em miniatura, coberto e com piso de carpete ao invés de grama, chamado Golfstacle - uma mistura das palavras golf e obstacle. O Golfstacle faria um sucesso moderado e não duraria muito tempo, mas motivaria um grupo de empresários norte-americanos a criar uma empresa chamada Thistle Dhu (um trocadilho com this will do, algo como "vai servir"), especializada em montar campos de minigolfe em carpete. Fundada em 1916 em Pinehurst, Carolina do Norte, a Thistle Dhu exportaria campos para todo o país, mas iria à falência durante a Grande Depressão da década de 1930.

Antes disso, um inventor chamado Thomas McCulloch Fairbairn, fanático por golfe, revolucionaria o esporte inventando nada menos que a grama artificial, em 1922. Fairbarn gostava dos campos da Thistle Dhu, mas achava que o carpete não proporcionava a verdadeira experiência de jogar golfe. Ele então misturaria cascas de sementes de algodão, óleo de algodão, areia e corante, e obteria um material de textura quase igual ao da grama natural, que fazia com que a bolinha se comportasse exatamente como se estivesse em um campo de golfe verdadeiro, com a vantagem de que não precisava ser regado, aparado, nem exposto ao sol - além de ser muito mais barato que o carpete da Thistle Dhu, já que as cascas de sementes de algodão, material normalmente usado para fazer ração para gado bovino, eram vendidas a centavos por tonelada.

A grama artificial de Fairban seria responsável pelo surgimento de milhares de campos de minigolfe por todos os Estados Unidos, cerca de 150 deles apenas na cidade de Nova Iorque. Além de inventá-la, ele também seria o responsável por adicionar ao jogo "morrinhos", curvas inclinadas e piscinas, algo que não era possível com o carpete, com todos os obstáculos dos campos de carpete tendo de ser criados separadamente e montados sobre o campo. Por essas duas razões, Fairbarn é considerado o inventor do minigolfe moderno, e, até hoje, há um torneio em sua homenagem, a Fairbarn Cup, disputada anualmente em Seven Mile Island, Nova Jérsei. Infelizmente, a empresa de Fairbarn também iria à falência durante a Grande Depressão, e pouquíssimos campos originais criados por ele sobreviveriam até hoje, com a esmagadora maioria tendo sido desmontada e convertida em outros empreendimentos antes do final da década de 1930.

Por outro lado, durante a Grande Depressão, o minigolfe se desenvolveria e popularizaria na Europa. Em 1926, o alemão Franz Schröder viajaria aos Estados Unidos, jogaria minigolfe, compraria grama artificial e, ao retornar a seu país de origem, abriria o primeiro campo de minigolfe da Alemanha. O primeiro da Suécia teria uma história semelhante, com os irmãos Edwin e Eskil Norman, que moraram nos Estados Unidos durante a década de 1920, retornando a seu país de origem em 1930 e fundando, um ano depois, a Norman och Normans Miniatyrgolf, que fabricaria, montaria e instalaria campos de minigolfe na Suécia, Noruega, Dinamarca e, a partir da década de 1960, Reino Unido. Inicialmente, os Norman não tinham acesso à grama artificial, e usavam saibro como superfície; na década de 1960, a empresa passaria a usar feltro, que tinha uma vantagem sobre os três materiais usados até então (carpete, saibro e grama artificial): campos de minigolfe de feltro podiam ser montados ao ar livre, pois o feltro não era afetado nem pelas baixas temperaturas do inverno, nem pela chuva, que passava direto por ele em direção ao solo, sem encharcá-lo. Depois dos Norman, até mesmo empresas dos Estados Unidos passariam a usar feltro como superfície.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, em 1938, dois irmãos também fanáticos por golfe, Joseph e Robert Taylor, decidiriam tentar ressuscitar o minigolfe, e, para aumentar o interesse dos jogadores, criariam aquela que é sua principal característica: os obstáculos temáticos. Até então, todos os obstáculos de um campo de minigolfe lembravam os de um campo de golfe comum, mas os Taylor adicionariam moinhos de vento pelos quais a bolinha tinha de passar no intervalo de suas pás, canos que serviam como túneis, castelinhos, tobogãs, poços dos desejos, e toda sorte de construções que, além de aumentar a complexidade do jogo, o deixavam lindo. A Taylor Brothers logo começaria a receber várias encomendas de empresários interessados em abrir campos de minigolfe em suas cidades, e, na década de 1950, conseguiriam até um contrato com o Exército dos Estados Unidos, para fabricar campos de minigolfe que seriam montados nas bases onde os soldados norte-americanos estavam aquartelados durante a Guerra da Coreia.

Também na década de 1950, inspirado pelo sucesso da Taylor Brothers, o empresário Don Clayton criaria uma fábrica de campos de minigolfe chamada The American Putt-Putt Company; seus campos se tornariam tão populares que, até hoje, nos Estados Unidos, putt-putt é tipo um apelido do minigolfe, como ocorre com pingue-pongue em relação ao tênis de mesa. Logo, outras empresas, como a Lomma Golf, fundada pelos irmãos Al e Ralph Lomma em 1955, e a Arnold Palmer Miniature Golf, fundada por Frank Abramoff em 1961 e batizada em homenagem a um dos maiores jogadores de golfe de todos os tempos (que, bizarramente, estava em atividade na época, e não tinha participação alguma na empresa) também começariam a criar seus próprios campos, sempre com obstáculos criativos, o que faria com que o minigolfe logo se tornasse uma parte importante da cultura norte-americana, presente em parques de diversões, shoppings, e sendo, em muitas cidades pequenas, o point de encontro da juventude local.

Mas o minigolfe também é um esporte, e seu primeiro torneio competitivo, com prêmios em dinheiro, seria o National Tom Thumb Open, disputado pela primeira vez em 1920, com qualificatórias em todos os 48 estados (nem o Alasca, nem o Havaí faziam parte dos Estados Unidos na época) e mais de 200 jogadores participando da final. Durante a Grande Depressão, os torneios seriam cancelados, mas começariam a surgir os torneios europeus, com o primeiro sendo o Campeonato Nacional Sueco, em 1939. A Suécia, aliás, seria o primeiro país a fundar uma federação nacional de minigolfe, em 1937; o segundo, a Suíça, só o faria em 1954, e a dos Estados Unidos só seria fundada em 1995, porque, depois da Grande Depressão, o minigolfe passaria a ser visto lá como um passatempo de jovens, com o lado esportivo só sendo redescoberto na década de 1990.

Também seria na Suécia que seria fundada, em 2000, a Federação Mundial de Minigolfe Esportivo (WMF), que hoje conta com 51 membros dos cinco continentes - sendo que o Brasil não é membro. O mais importante campeonato da WMF é o Mundial, disputado a cada dois anos desde 2003. Os campeonatos da MWF seguem o chamado "estilo europeu", que se desenvolveu na Suécia e se popularizou na Europa continental; por causa disso, todos os melhores jogadores do ranking são europeus, e os dos Estados Unidos não costumam ter bons resultados, assim como os de países como Reino Unido e Japão, nos quais o "estilo americano" é mais popular. A WMF é membro fundadora da AIMS, uma espécie de confederação das federações internacionais dos esportes que ainda não são reconhecidos pelo COI, e um de seus objetivos, assim como o de aparentemente todas as outras federações esportivas internacionais, é colocar o minigolfe nas Olimpíadas, o que está bem longe de se concretizar no momento.

Pelas regras da WMF, o minigolfe é jogado em 18 buracos. Diferentemente do que ocorre no golfe, onde todos os buracos estão espalhados pelo mesmo campo, no minigolfe cada buraco tem sua própria pista, delimitada por linhas ou muretas, cada pista com sua própria teeing area; o ideal é que o circuito tenha 18 pistas, mas as regras da WMF permitem circuitos de no mínimo 12 pistas, caso no qual algumas serão jogadas duas vezes. Cada toque do taco na bola vale 1 ponto, e, se o jogador não conseguir colocar a bola no buraco após 6 tacadas, ele ganha mais 1 ponto e é obrigado a passar para a pista seguinte - portanto, o número máximo de pontos em cada pista é 7. Em um torneio de stroke play, ganha quem fizer menos pontos (com o mínimo possível sendo 18), enquanto no match play ganha quem vencer mais pistas (com cada pista sendo vencida pelo jogador que colocar a bola no buraco em menos tacadas). Em caso de empate, é disputado um mini-torneio em morte súbita, começando pela pista 1; a cada pista, os jogadores que colocarem a bola no buraco com mais tacadas vão sendo eliminados, até que só reste um. O único tipo de taco usado é o putter, e a bola deve ter entre 37 e 43 mm de diâmetro e não pode quicar mais de 85 cm quando cair de uma altura de 1 metro, mas, fora isso, não é padronizada - segundo a própria WMF, existem centenas de tipos de bolas diferentes, variando em material, dureza, aspereza e peso, com o jogador sendo livre para escolher a que melhor se adequa a seu estilo. Um jogador pode, inclusive, trocar de bola entre uma pista e outra, mas deve terminar cada pista com a bola com a qual a começou.

Atualmente, a WMF reconhece quatro modalidades, todas podendo ser disputadas em simples masculinas ou femininas, duplas ou equipes masculinas, femininas ou mistas, tanto em stroke play quanto em match play: concreto, miniaturegolf, feltgolf e MOS. Na modalidade concreto (também conhecida, em alguns países, como beton, B, Bongni, ou Abteilung 1) a superfície, obviamente, é de concreto, e as regras definem 18 pistas, que devem sempre ser jogadas na mesma ordem, com obstáculos simples como inclinações, rampas, túneis e curvas. A modalidade miniaturegolf (também conhecida como eternite, E, EB, Europabana ou Abteilung 2) tem superfície de eternite (um material sintético normalmente usado para fazer telhas) e 28 pistas, das quais são escolhidas 18, com obstáculos complexos como pirâmides, loopings, rampas, escadas e pontes. A modalidade feltgolf (também conhecida como feltro, F ou SFR) tem superfície de feltro e 32 pistas das quais são escolhidas 18, que combinam obstáculos simples e complexos; ao contrário do que se possa imaginar, normalmente o feltro é azul claro, e não verde. Já a modalidade MOS (sigla para Minigolf Open Standard) é a mais recente, inspirada no "estilo americano", e basicamente cobre qualquer tipo de pista que não faça parte das outras três, sem padronização de desenho ou superfície, e podendo usar os obstáculos chamados supercomplexos, como moinhos e castelinhos.

Torneios podem escolher qual modalidade vão adotar, mas nenhum torneio oficial da WMF jamais escolheu a MOS - todas as edições do Mundial, por exemplo, foram disputadas em concreto ou eternite. Como a WMF não é a única entidade a organizar torneios de minigolfe, porém, há torneios de prestígio que usam o que, para a WDF, seria a modalidade MOS, e atraem, principalmente, os jogadores dos Estados Unidos e do Reino Unido, como o US Masters, US Open, British Open, World Crazy Golf Championships e o World Adventure Golf Masters. Também vale citar o Campeonato Europeu, organizado pela WDF e segundo em importância abaixo apenas do Mundial, disputado a cada dois anos desde 2004, em quase todas as edições na modalidade feltro.

Vamos passar agora para um esporte que não é muito conhecido aqui no Brasil, mas tem tudo para se popularizar: o futegolfe, que consiste em encaminhar a bola até o buraco com chutes, ao invés de com um taco. O futegolfe usa uma bola comum de futebol, e é disputado em um campo comum de golfe; como o buraco para acomodar a bola precisa ser bem maior, ele nunca é cavado no green, o que poderia danificar irreversivelmente o campo, mas no fair, e sempre fora do trajeto usual das bolas de golfe. É mais fácil conduzir a bola com os pés do que com o taco, mas, principalmente devido a seu peso, a bola de futebol não viaja tanto quanto a de golfe; para acomodar essas duas características, a distância da teeing area até o buraco é menor, e o Par de cada buraco fica entre 3 e 5. Obviamente, cada chute na bola conta como uma tacada, e faltas são punidas acrescentando um chute ao total do jogador.

O futegolfe é sempre jogado no estilo match play, com os jogadores sendo pareados dois a dois, o vencedor de cada embate avançando e o perdedor sendo eliminado, até os dois melhores se enfrentarem na final (e os perdedores das semifinais disputando a medalha de bronze). A cada buraco, o jogador que cumprir o percurso com menos chutes marca um gol - ninguém marca gol em caso de empate - e, ao final dos 18 buracos, quem tiver marcado mais gols ganha o embate; caso ambos estejam empatados ao final do último buraco, o embate recomeça do primeiro buraco com morte súbita, sendo vencedor o jogador que primeiro marcar um gol. O campo de futegolfe normalmente tem 9 buracos, com a partida inteira sendo composta por 18 buracos, ou seja, cada buraco é disputado duas vezes, com a partida os seguindo em ordem crescente, depois em decrescente - primeiro do 1 ao 9, depois do 9 ao 1, sendo o 1 tanto o primeiro, quanto o último, quanto o primeiro do desempate se for necessário.

O futegolfe foi inventado em 2009, na Holanda, por Michael Jansen e Bas Korsten, irmão do ex-jogador profissional de futebol Willem Korsten. Entre 1999 e 2001, Willem jogou pelo Tottenham Hotspur, da Inglaterra, e, ao final dos treinos, tinha o hábito de apostar com os colegas de time quem conseguiria levar a bola do campo para o vestiário no menor número de chutes. Infelizmente, devido a inúmeras lesões, Willem teve de se aposentar cedo, aos 26 anos, e, ao retornar para a Holanda, conseguiu um emprego de treinador das divisões de base do NEC Nijmegen, time pelo qual começou sua carreira, mantendo a brincadeira, agora disputada entre seus comandados, ao final de cada treino. Bas assistiria a um treino comandado pelo irmão, e teria a ideia de criar um esporte que misturasse futebol e golfe; para pô-la em prática, ele chamaria Jansen, que o ajudaria a reunir uma seleção de jogadores e ex-jogadores profissionais de futebol da Holanda e da Bélgica, que disputariam o primeiro torneio de futegolfe em um dos campos de golfe de maior prestígio da Holanda, o Golfbaan Het Rijk - localizado em Nijmegen, mesma cidade do NEC.

O torneio, vencido por Theo Janssen, seria notícia em todos os principais meios de comunicação do país, e ajudaria o futegolfe a ter um início meteórico - antes do final de 2009, outros campos de golfe da Holanda, Bélgica e Hungria já estavam organizando seus próprios torneios, sempre com bastante procura. Em 2010, o esporte seria introduzido na Argentina, que hoje é uma das principais potências do futegolfe, e, no ano seguinte, nos Estados Unidos, que foi o primeiro país a fundar uma liga profissional, a American FootGolf League, e hoje já conta com mais de cem campos de golfe que também oferecem a prática do futegolfe a seus sócios. A popularização do futegolfe nos Estados Unidos coincidiria com um declínio da popularidade do golfe entre os jogadores mais jovens - muitos campos estavam em vias de fechar por falta de sócios, e acabaram sendo salvos da falência pelos jogadores de futegolfe.

Em junho de 2012, as federações nacionais de Holanda, Bélgica, Hungria, Suécia, Argentina, Estados Unidos, Austrália e Japão fundariam a Federação Internacional de Futegolfe (FIFG), que hoje conta com 39 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil. Naquele mesmo ano, 79 jogadores dos oito membros fundadores disputariam a primeira Copa do Mundo de Futegolfe, na Hungria, que teria apenas a competição de simples masculinas (vencida por um húngaro). A segunda edição seria disputada em 2016 na Argentina, e contaria com disputas de simples masculinas (vencida por um argentino) e equipes mistas (vencida pelos Estados Unidos); essa edição teria um enorme salto no número de participantes em relação à primeira, contando com 227 jogadores de 26 países. A ideia da FIFG era realizar a Copa do Mundo a cada dois anos, de forma que a terceira edição ocorreria em 2018 no Marrocos, com participação de 503 jogadores de 33 países, competindo nas simples masculinas (vencida por outro argentino), simples femininas (vencida por uma inglesa) e equipes mistas (vencida pela França). A edição seguinte, no Japão, em 2020, teve de ser cancelada pela pandemia, e somente será realizada nesse ano de 2023, nos Estados Unidos, com a participação de mais de mil jogadores, em disputas de simples masculinas, simples femininas, equipes masculinas e equipes femininas. Atualmente a FIFG discute se a próxima edição será em 2025 ou em 2026, mas é certo que, a partir de então, voltará a ser a cada dois anos.

Além da Copa do Mundo, a FIFG organiza a FIFG World Tour, uma série de torneios anuais nos mesmos moldes do que ocorre no golfe (com muitos deles, inclusive, sendo disputados como evento de abertura de torneios de golfe), e a FIFG World Champions Cup, série de desafios entre equipes. O futegolfe é hoje um dos esportes que cresce mais rápido no mundo, com o número de jogadores filiados e países interessados em fundar federações nacionais aumentando a cada ano - o único continente no qual a FIFG tem dificuldade em se firmar é a África, onde, apesar do enorme interesse em futebol, quase não há campos de golfe ou interesse pelo golfe, com o único país africano membro da FIFG sendo a África do Sul. O rápido crescimento do futegolfe motivaria a GAISF, organização que, dentre outras coisas, ajuda federações esportivas a preencher os requisitos para que seus esportes sejam aptos a fazer parte das Olimpíadas, a incluir a FIFG em sua lista de "membros observadores" - o que equivale a dizer "estamos de olho em vocês e temos interesse em ajudar".

O futegolfe possui um parente, criado na Alemanha em 1977 pelo ex-jogador profissional de futebol Andreas Oligmüller, chamado Buschball. Ao invés de um buraco, o Buschball usa um poste, e pode ser jogado em qualquer campo gramado, não necessariamente um campo de golfe. O objetivo é fazer com que a bola acerte o poste com no máximo nove chutes, com o jogador somando 10 pontos caso não consiga; a partida é disputada em stroke play, com aquele que somar menos pontos ao final sendo o vencedor. O Buschball nunca se popularizou fora de seu país de origem, mas lá ele conta até com um disputado torneio profissional entre clubes.

Vale citar também um esporte mais antigo, do qual muitos acham que o futegolfe é uma variante, chamado codeball. O codeball foi inventado em 1929, em Chicago, Estados Unidos, pelo médico William Edward Code, que buscava criar um esporte que pudesse ser disputado em parques, sem grande custo em equipamentos. O codeball usava uma bola de borracha de 15 cm de diâmetro, e o objetivo de cada jogador era fazer com que ela fosse levada do ponto inicial até uma tigela no menor número de chutes possível. Embora tenha sido inventado para ser jogado em parques, o codeball logo se tornaria tão popular que começariam a surgir campos próprios, com obstáculos que deixavam a partida mais emocionante; um campo "profissional" de codeball contava com 14 tigelas, e pelo menos 12 campos seriam inaugurados nos Estados Unidos na primeira metade da década de 1930. Um torneio profissional chegaria a ser realizado em St. Louis em 1935, mas, com o início da Segunda Guerra Mundial, o codeball decairia em popularidade até desaparecer, não sendo hoje mais jogado em lugar nenhum. Code também inventaria um outro esporte, uma mistura de futebol e squash, no qual a mesma bola do codeball deveria ser chutada contra uma parede e devolvida pelo oponente após um quique; ele chamaria esse esporte de codeball on the court (algo como "codeball de quadra"), e, para diferenciar os dois, passaria a chamar o original de codeball on the green (algo como "codeball de grama"), nome que nunca pegou.

O terceiro esporte que veremos hoje também foi criado em 1929, e se chama pitch and putt. Como vocês devem saber, o golfe é disputado em um campo gigantesco, que ocupa muito espaço, e cuja manutenção é muito cara. Na década de 1920, na Irlanda, alguns donos de clubes começaram a pensar em regras alternativas para o golfe, para que pudesse ser usado um campo menor, provavelmente inspirados pela abertura de um campo de tamanho reduzido, em 1914, na cidade de Portsmouth, Inglaterra - que, curiosamente, ganhou o apelido de "minigolfe". O primeiro campo de tamanho reduzido da Irlanda seria aberto no Condado de Cork, em 1929, mas as novas regras seriam vistas mais como uma curiosidade até a década de 1940, quando vários outros "minicampos" começariam a aparecer, e o novo esporte se espalharia por toda a Europa, com suas regras sendo refinadas. Esse novo esporte ganharia o apelido de pitch and putt, relacionado ao fato de que primeiro o jogador dava uma tacada longa (pitch) e depois várias tacadas curtas (putt), nome que acabaria pegando como o oficial do esporte.

Hoje, o pitch and putt é majoritariamente considerado um esporte diferente do golfe, embora use o mesmo equipamento, e alguns campos de pitch and putt fiquem no mesmo terreno de campos de golfe; há um grande grupo, entretanto, que inclui dirigentes e jogadores, que considera o pitch and putt uma variante do golfe, o que entrava seu desenvolvimento - muitos países não têm federações nacionais de pitch and putt, por exemplo, porque suas federações nacionais de golfe são fortes e barram sua criação, alegando que o pitch and putt é apenas um passatempo, não um esporte.

Essa briga, inclusive, faz com que o pitch and putt tenha duas federações internacionais: a primeira, a Federação Internacional das Associações de Pitch and Putt (FIPPA) seria fundada em 2006, como uma expansão da Associação Europeia de Pitch and Putt (EPPA), fundada em 1999 para congregar as federações nacionais de seis países europeus (Irlanda, Reino Unido, Espanha, Holanda, França e Itália; na fundação da FIPPA, também já faziam parte Noruega, Suíça e Andorra, e como fundadores da FIPPA estavam Estados Unidos, Austrália e Chile). Em 2009, insatisfeitos com a gerência da FIPPA, quatro membros (França, Itália, San Marino e Dinamarca) decidiram sair da entidade e fundar sua própria, a Associação Internacional de Pitch and Putt (IPPA). Hoje, a FIPPA conta com 11 membros plenos (incluindo Reino Unido, Catalunha e Galícia) e 3 membros associados (incluindo o País Basco), enquanto a IPPA conta com 10 membros (incluindo a Inglaterra), o Brasil não faz parte de nenhuma das duas, e a principal diferença é que a FIPPA considera o pitch and putt como um esporte separado, enquanto a IPPA o considera parte do golfe.

Seja como for, tanto FIPPA quanto IPPA consideram que são três as características que diferenciam o pitch and putt do golfe. Primeiro, no pitch and putt há uma distância máxima entre a tee area e o buraco, que, para a FIPPA, é de 70 metros, enquanto para a IPPA é de 90 metros. Segundo, há um comprimento total para o percurso que os jogadores fazem em uma partida, que, para a FIPPA, é de 1 km, enquanto para a IPPA é de 1200 m. Terceiro, cada jogador só tem direito a carregar consigo três tacos, sendo que um deles, obrigatoriamente, deve ser um putter - a maioria dos jogadores leva um putter e dois irons. Tirando isso, e alguns outros pequenos detalhes nas regras de cada federação que na verdade não alteram a mecânica do jogo, o pitch and putt é igual ao golfe, podendo ser disputado em stroke play, match play, simples masculinas ou femininas, duplas ou equipes masculinas, femininas ou mistas.

O principal torneio da FIPPA é a Copa do Mundo de Pitch and Putt, disputada somente por equipes mistas no estilo match play. As duas primeiras edições da Copa do Mundo ocorreram antes da fundação da FIPPA, e foram organizadas pela EPPA (que ainda existe, aliás), a primeira em 2004 na Itália (que cinco anos depois saiu e foi fundar a IPPA) e a segunda em 2006 na Catalunha; depois disso houve uma edição em 2008 na Holanda, e então o torneio passou a ser disputado a cada quatro anos, com a edição de 2012 sendo realizada na Irlanda e a de 2016 em Andorra. Por causa da pandemia, a edição de 2020, prevista para os Estados Unidos, foi cancelada, e não há previsão de quando ela será realizada nem onde. As duas primeiras edições da Copa do Mundo foram conquistadas pela Catalunha, que também tem uma prata e um bronze, e as três mais recentes pela Irlanda, que também tem um bronze; a Holanda tem duas pratas e um bronze, Andorra e Austrália têm uma prata cada, e França e Galícia têm um bronze cada.

Além da Copa do Mundo, a FIPPA organiza o Campeonato Mundial de Pitch and Putt, torneio de simples masculinas no estilo stroke play disputado a cada dois anos desde 2009; Catalunha e Irlanda mais uma vez são os dois países mais bem sucedidos. Campeonato Mundial de Pitch and Putt também é o nome do torneio principal da IPPA, que também é de simples masculinas no estilo stroke play, mas é disputado anualmente, desde 2012. A Espanha é o país mais bem sucedido no torneio da IPPA.

Pra terminar, vamos ver o golfe de praia, ou beach golf, esporte que vem ganhando popularidade na Europa, mas ainda não pegou no resto do mundo. O golfe de praia foi inventado em 1999, em Pescara, Itália, pelo jogador Mauro de Marco, que buscava criar uma versão do golfe que pudesse ser jogado na praia a qualquer momento, sem precisar fechar a praia; para isso, ele incluiu nas regras que tudo o que estiver na praia na hora do jogo conta como um obstáculo, incluindo guarda-sóis, cadeiras e até banhistas. Essas regras seriam refinadas ao longo dos anos, até a fundação, em 2004, da Beach Golf Sport Association (BGSA), que hoje atua como federação internacional do golfe de praia. Embora a BGSA goste de dizer que o golfe de praia é o único esporte no qual o público faz parte do campo de jogo, as regras atuais preveem uma delimitação do campo de jogo com faixas, para que a interferência de objetos externos não seja tão grande quanto no início.

O golfe de praia usa como campo um trecho de 2 km de praia em linha reta, que conta com 9 buracos. O taco usado é o wedge, e a bola é própria, feita de espuma de poliuretano, com 7 cm de diâmetro e peso máximo de 35 g, o que garante que ninguém vai se machucar caso seja atingido por ela; a bola também costuma ser rosa-choque, para ser facilmente encontrada durante o jogo. Cada teeing area conta com um pequeno tapete de grama sintética no qual está afixado um tee, para que o jogador dê sua primeira tacada; a partir de então, todas as tacadas são dadas com a bola na areia. O buraco é um copo enterrado na areia, demarcado por uma bandeirinha e por um semicírculo de 2 m de raio. Um equipamento próprio do golfe de praia é a cinta de proteção, uma faixa de material sintético de 5 m de comprimento segurada por três pessoas próximo ao jogador quando ele vai dar a tacada, para que os espectadores não interfiram - basicamente, é uma barreira para que ninguém ultrapasse aquele ponto, só que móvel.

O golfe de praia é sempre disputado em duplas, no estilo stroke play. O esporte é totalmente misto, com as duplas podendo ser formadas por dois homens, duas mulheres ou um homem e uma mulher. Pelas regras da BGSA, cada dupla deve ter um jogador de handicap alto e um de handicap baixo, normalmente um profissional e um amador, ou um jogador experiente e um iniciante; cada torneio também tem seu próprio handicap, com a soma dos handicaps dos parceiros de cada dupla jamais podendo ser maior que o do torneio. Para determinar a dupla vencedora de cada torneio, é usada uma fórmula, que leva em conta o número de tacadas, o número de bolas perdidas (porque, por exemplo, foram levadas pelo mar), o número de penalidades e o handicap da dupla, com a dupla de resultado final mais baixo sendo a campeã.

Atualmente, a BGSA conta com 18 membros, todos europeus, e todos os seus torneios foram realizados na Europa; jogadores de países que não são membros da BGSA podem participar de torneios mediante convites, normalmente reservados para jogadores profissionais de golfe ou celebridades - os torneios mais populares do golfe de praia, inclusive, são aqueles nos quais celebridades, como atores, cantores e atletas de outros esportes, fazem dupla com jogadores profissionais de golfe de praia. O principal torneio do golfe de praia é o Campeonato Europeu, disputado anualmente desde 2014, que atualmente conta com a participação de 90 duplas e dura sete dias. Além dos torneios em separado, como os que contam com celebridades, a BGSA costuma organizar tours, séries de três ou mais torneios nos quais os jogadores vão somando pontos, sendo o campeão aquele com mais pontos após o último. O BGSA Tour mais famoso é o da Itália, que dura 30 dias e visita várias praias do Mar Adriático.

Para tentar popularizar seu esporte no resto do planeta e conseguir mais membros, a BGSA criaria, já em 2005, uma espécie de secretaria chamada Way Entertainment, responsável pela organização de torneios não só do golfe de praia, mas de uma variante batizada de We Golf, disputada literalmente no meio da rua. As regras são as mesmas do golfe de praia, mas o número máximo de duplas é 40, e, em alguns torneios, as duplas representam países (por exemplo, "Portugal", ao invés de "Fulano/Beltrano"). Torneios de We Golf são mais raros que os de golfe de praia, por causa da logística, mas costumam atrair mais público.

Vale citar também que uma curiosa polêmica envolve o golfe de praia, e talvez dificulte sua expansão internacional: segundo as regras oficiais da BGSA, uma parte importantíssima do esporte são as caddy girls - uma mistura de árbitros, caddies, voluntários e anfitriãs do evento, com funções como animar o público, segurar a cinta de proteção, posicionar o tapete da teeing area, remover a bandeirinha do buraco quando a bola estiver próxima, carregar material para as duplas como bolas extras e toalhinhas, marcar os pontos de cada dupla, marcar faltas e penalidades cometidas por cada dupla, e somar os pontos para determinar o vencedor do torneio. Evidentemente, não é a mesma moça quem faz tudo isso, com cada torneio tendo por volta de 120 caddy girls. A polêmica fica por conta de que só são selecionadas para ser caddy girls moças jovens, bonitas e de corpo atraente, e, como o torneio é na praia, normalmente elas usam biquínis e shorts minúsculos, quando muito uma camiseta. A presença das caddy girls faz com que muitas pessoas não considerem o golfe de praia como um esporte sério, achando que é alguma forma de puro entretenimento, como uma gincana de televisão; mesmo assim, a BGSA não abre mão de sua presença, nem faz qualquer esforço para, digamos, tornar a função mais inclusiva.

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