domingo, 6 de fevereiro de 2022

Escrito por em 6.2.22 com 0 comentários

Vi

Hoje teremos mais um conto da série mensal que eu decidi fazer esse ano, com o primeiríssimo que eu escrevi para o Crônicas de Categoria. Não foi meu primeiro texto publicado lá, porque antes dele eu escrevi uma crônica como autor convidado, nem o primeiro que eu escrevi depois de me juntar à equipe, porque aí eu escrevi outra crônica, que acabei publicando depois. Mas foi o primeiro conto que eu escrevi pra eles, e o primeiro que eu escrevi depois de quase dez anos sem escrever ficção, então fiquei muito satisfeito de saber que ainda levava jeito pra coisa. Sem mais delongas, vamos a ele.






Vi

Viviane e Vitória eram gêmeas idênticas. Aliás, mais do que idênticas: ninguém, nem mesmo seu pai, conseguia diferenciar uma da outra. A única exceção era sua mãe, que, toda vez que alguém perguntava como ela sempre sabia quem era quem, respondia, muito naturalmente, que as mães sempre sabem.

Mais que idênticas, Viviane e Vitória eram inseparáveis. Desde crianças, faziam tudo juntas. Estudavam juntas, brincavam juntas, iam ao balé juntas, faziam curso de inglês juntas. Para se divertir com a confusão que causavam, se acostumaram a chamar uma à outra apenas de Vi.

Um dia, Vi se apaixonou. Não foi o primeiro rapaz com quem Vi se relacionou: antes dele, Vi já havia tido crushes, casinhos, ficantes. Se aproveitando de sua semelhança com Vi, Vi até mesmo já havia fingido ser Vi, para se divertir às custas dos rapazes incautos. Com esse, entretanto, era diferente. Esse, Vi não queria enganar, esse, Vi não queria compartilhar. E isso fez com que Vi, evidentemente, ficasse com ciúmes. Na opinião de Vi, ela estava perdendo a irmã.

Vi, então, tramou um plano diabólico: mesmo sem o consentimento de Vi, fingiria que ela era Vi, e terminaria tudo com o pobre rapaz. O plano deveria ser bem executado, porém, ou Vi simplesmente descobriria, explicaria o que aconteceu e ambos reatariam – selando para sempre a inimizade de Vi no processo. Não, Vi tinha de ser esperta. Não podia dar chance para que Vi a abandonasse.

Com tudo planejado, só faltava a Vi arrumar uma forma de se encontrar com o rapaz sem que Vi soubesse. Um dia, Vi estava passeando pelo shopping quando não conseguiu acreditar na própria sorte: lá estava o namorado de Vi, sozinho, na praça de alimentação. Vi fingiu ser Vi, sentou-se com ele, bateu papo, foi com ele ao cinema. Estava tudo transcorrendo bem. Em breve, aquela presença intrusa seria removida de sua vida, em breve, Vi voltaria a ser só dela.

Mas aí, em uma armadilha do destino, Vi também se apaixonou. Encantada com o rapaz, não conseguiu terminar com ele. Voltou para casa e caiu em prantos. Como iria explicar isso para Vi? Como poderia viver sabendo que gostava do namorado de Vi? E quando ele comentasse sobre a ida ao cinema, sobre os beijos que trocaram, sobre as juras de amor que declararam? Ela queria Vi só para si, e agora, com certeza, perderia Vi para sempre.

No dia seguinte, o namorado de Vi foi visitá-la. Vi não quis sair do quarto, mas Vi acabou por convencê-la. Estava tão alegre, tão radiante, que Vi só pôde concluir que o rapaz nada havia comentado. Mas, e quando comentasse? Vi pensou em abrir o jogo ali mesmo, mas Vi falava tanto e tão rápido, que Vi não conseguiu. Vi tinha uma surpresa para ela, era importantíssimo que Vi fosse até a sala. E Vi foi.

Chegando lá, Vi não poderia ter ficado mais perplexa: o namorado de Vi também tinha um irmão gêmeo. Gilberto e Roberto eles se chamavam, mas se tratavam apenas como Beto. E foi Beto quem Vi encontrou no shopping, e não Beto. Beto obviamente ficou meio assustado com Vi agindo como se fosse sua namorada, mas pra quê questionar a sorte, não é mesmo? Tudo esclarecido, tudo perdoado, Vi e Beto formaram dois belos casais.

Vi e Beto se casariam dois anos depois, em uma bela cerimônia. Por motivos profissionais, as irmãs realmente acabariam separadas, já que Beto conseguiu um emprego em outra cidade. Mas, recentemente, Vi e Beto compartilharam uma excelente notícia com Beto e Vi: Vi está grávida, e é claro que ela quer que Vi e Beto sejam os padrinhos.

Não, ela não está grávida de gêmeos. Mas também, qual a chance de uma coisa dessas acontecer?

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