domingo, 25 de abril de 2021

Escrito por em 25.4.21 com 0 comentários

Pancrácio

No fim do ano passado, eu fiz um post sobre lutas de submissão, que complementava outro, sobre luta olímpica, mais antigo, e no qual eu falei sobre as lutas esportivas reguladas pela UWW que não haviam sido abordadas naquele primeiro post. Ficou faltando uma, porém, o pancrácio, sobre o qual eu planejava falar antes do fim do ano. Só que, como de costume, eu esqueci, e só lembrei agora, depois de fazer o post sobre kudô. Como tarde é sempre melhor do que nunca, hoje é dia de pancrácio no átomo!

Embora "pancrácio" se pareça com um nome masculino antigo ("chamando o Sr. Pancrácio da Silva"), essa é a versão em português do termo grego pankration, que significa algo como "todos os estilos" - pan significa "tudo", enquanto kratos significa "força" ou "poder". O pancrácio, portanto, era uma versão grega do MMA, um tipo de luta onde os lutadores podiam atingir diretamente os oponentes (com socos, chutes e outros golpes, como joelhadas), derrubá-los (com arremessos, rasteiras e outros métodos) e seguir lutando no chão (com técnicas de imobilização e estrangulamento). É um dos poucos esportes do mundo inventados para uma ocasião especial - segundo registros, ao invés de se desenvolver naturalmente, foi criado especificamente para as Olimpíadas do ano 648 a.C. - e quase não tinha regras: praticamente, valia bater no adversário de qualquer forma que quisesse, sendo importante apenas vencer. Ah, e a vitória não era por pontos, ocorrendo apenas quando um dos lutadores desistia ou era nocauteado - ou morria.

Depois que o pancrácio foi inventado, ocorreu uma espécie de retcon nas lendas gregas, para dizer que heróis como Hércules e Teseu eram lutadores de pancrácio - a versão mais famosa da lenda de Hércules, por exemplo, diz que ele teria derrotado o Leão da Nemeia com um golpe de pancrácio. Segundo registros, entretanto, a luta que esses heróis teria praticado se chamava panmachon, não porque eles eram machões, e sim porque mache significa "combate", então seria algo como "combate total". O panmachon era uma luta fictícia, no sentido de que ninguém nunca se preocupou em estabelecer quais seriam suas técnicas válidas ou fundamentos, mas, depois da invenção do pancrácio, os dois termos, pankration e panmachon, passaram a ser sinônimos, até que panmachon caiu em desuso, e tudo passou a ser chamado de pancrácio.

A maioria dos lutadores de pancrácio (conhecidos até hoje como pancratistas) começavam suas carreiras no pygme, a versão grega clássica do boxe, ou no pále, a versão grega clássica da luta olímpica. Apesar de golpes como socos e chutes serem permitidos e bastante usados, pancratistas costumavam se tornar superespecialistas na luta de solo, capazes de encerrar qualquer combate em segundos depois que ambos iam pro chão - de fato, sua eficiência era tamanha que não era incomum um dos pancratistas ter um braço ou perna quebrados durante uma imobilização ou morrer em decorrência de um estrangulamento, o que era totalmente permitido pelas regras, que estipulavam que a morte de um dos pancratistas resultava em vitória automática para o outro. Uma história famosa é a de Arraquião da Figália, o primeiro campeão olímpico póstumo: durante a final do torneio Olímpico de 564 a.C., no qual defendia o título que havia conquistado quatro anos antes, Arraquião estava sendo estrangulado, quando conseguiu agarrar o tornozelo do oponente e quebrá-lo; não suportando a dor, o oponente desistiu, mas Arraquião, debilitado pelo estrangulamento, morreu em seguida. Os árbitros, então, decidiriam coroar seu cadáver e enviá-lo para a Figália com honras de herói.

Por causa desse potencial letal, no fim do século V a.C. o pancrácio se tornaria disciplina obrigatória no treinamento militar dos exércitos de diversas cidades-estado gregas, inclusive no dos temidos espartanos e no da famosa falange macedônica. Alguns desses soldados se tornariam campeões olímpicos, como Dióxipo de Atenas, que comandou o exército de Alexandre, o Grande, em sua incursão à Ásia, e foi campeão nas Olimpíadas do ano 336 a.C. Após a invasão da Grécia pelos romanos, o pancrácio seria levado a Roma como um esporte gladiatorial, não para ser praticado pelos cidadãos, e sim pelos gladiadores para diverti-los. Com o decreto do Imperador Teodósio I, que proibiu todos os esportes gladiatoriais em 393 d.C., o pancrácio foi abolido em todo o Império Romano, inclusive na Grécia, e acabou desaparecendo. Ao contrário do pále, porém, do qual só restaram representações em imagens e registros dos resultados de algumas lutas, do pancrácio sobreviveriam relatos bastante detalhados de alguns combates, bem como tábuas de regras.

Ainda assim, talvez por ser considerado uma luta violenta, quando o Barão de Coubertin decidiu criar as Olimpíadas da Era Moderna, no final do século XIX, o pancrácio não estava dentre os esportes contemplados no programa. Ao invés disso, o Comitê Organizador decidiria por um torneio de luta greco-romana, aquela que, segundo eles, mais se aproximava das lutas da antiguidade, mas sem categorias de peso ou limite de tempo, exatamente como era na Grécia Antiga. Esse torneio não faria muito sucesso, e a luta olímpica ficaria de fora da edição de 1900, voltando em 1904 com um torneio de luta livre, que era mais popular nos Estados Unidos que a greco-romana. Após algumas confusões ocorridas em 1908 e 1912 - quando a final dos meio-pesados da luta greco-romana durou nove horas e terminou sem vencedor, por falha do regulamento - as federações nacionais de luta de vários países decidiriam se unir para fundar uma federação internacional, que ficaria responsável por todos os torneios internacionais de expressão, evitando que o esporte virasse uma bagunça. Por causa da Primeira Guerra Mundial, essa federação só seria fundada em 1921, com o nome de Federação Internacional de Lutas Associadas (FILA, na sigla em francês), mudando de nome, em 2014, para União Mundial de Luta (UWW, da sigla em inglês).

Quando a FILA foi fundada, ela só regulava a luta greco-romana e a luta livre, considerando ambas estilos diferentes de um mesmo esporte, o qual chamou de luta olímpica. Hoje, a UWW regula um total de dez esportes, dos quais eu já falei sobre nove, sendo o pancrácio o último que falta. Ao contrário do que possa parecer, entretanto, o pancrácio não foi um dos primeiros esportes regulados pela UWW, e sim um dos mais recentes, só tendo entrado para a lista oficial de esportes regulados em 2010. Isso porque o pancrácio regulado pela UWW (talvez felizmente) não é o mesmo da Grécia Antiga, e sim uma versão modernizada, chamada por alguns de "pancrácio moderno" - e que, em linhas gerais, pode ser considerado como a versão UWW do MMA.

O pancrácio moderno foi uma criação de Jim Arvanitis, nascido em 1942 em Boston, Estados Unidos, filho de um casal de imigrantes gregos. Desde criança, Arvanitis era apaixonado por duas coisas: esportes e a Grécia. Por causa disso, ele não somente fez questão de aprender grego e sobre a história e a mitologia do país de seus antepassados, como também se tornou um atleta de destaque no colégio no atletismo e no basquete, estabelecendo três recordes municipais que duram até hoje, os de maior número de flexões de braço seguidas, maior número de flexões na barra seguidas, e maior número de pontos em um jogo colegial de basquete. Nem tudo eram flores para Arvanitis, porém, e ele frequentemente sofria bullying de três meninos mais velhos que moravam em sua rua; pensando em aprender a se proteger, ele começaria a praticar luta livre, passando depois para o boxe, onde se tornaria campeão regional do noroeste.

Apesar de se destacar no boxe, a paixão de Arvanitis era a luta livre, principalmente porque seu pai tinha um restaurante onde almoçavam astros da WWE, aquela liga norte-americana na qual as lutas são verdadeiros espetáculos (e que nada têm a ver com a luta livre da UWW); Arvanitis sabia que as lutas da WWE eram coreografadas, mas mesmo assim adorava passar suas tardes conversando com os lutadores e discutindo técnicas de luta, e, quando ficou mais velho, recebeu um convite de Lou Thesz, Bruno Sammartino e Walter "Killer" Kowalski para treinar com eles em seu ginásio. Lá, ele teria seu primeiro contato com as artes marciais orientais, e começaria a praticar também muay thai, savate e judô, além de se interessar por estudar em detalhes as lutas de diferentes culturas.

Sem conseguir optar por um único estilo de luta, Arvanitis se propôs a criar um que reunisse, em sua opinião, o que os outros tivessem de melhor. A princípio, ele chamaria essa nova arte marcial de mu tau, mas, achando que esse nome não pegaria, e se lembrando das histórias que havia lido sobre o pancrácio, decidiria chamá-lo de neo-pankration. Desde o início, Arvanitis deixaria claro que sua intenção não era recriar o pancrácio da Grécia Antiga, e sim criar uma arte marcial mista totalmente nova; ele escolheria o nome pancrácio puramente por orgulho de suas raízes gregas, mas, para diferenciar sua criação da luta original, ele "americanizaria" a pronúncia - em grego, é algo como "pangratíon", enquanto a criada por Arvanitis se pronuncia "pancrêichon". Arvanitis publicaria o primeiro livro de regras do pancrácio em 1969, e abriria sua primeira academia dois anos depois, em 1971, quando começaria a realizar demonstrações do esporte por toda a região da Nova Inglaterra. O pancrácio começaria a se popularizar como esporte, contudo, a partir de 1974, pois, em novembro de 1973, Arvanitis estaria na capa da revista Black Belt, a mais importante publicação sobre artes marciais dos Estados Unidos, o que ajudaria a popularizar o pancrácio e a espalhá-lo pelo país.

Arvanitis é considerado não só o pai do pancrácio moderno, mas também o pai do MMA, pois os fundamentos criados por ele seriam a base para torneios como os de vale-tudo da década de 1990, que dariam origem ao MMA como existe hoje. Como todo bom mestre de artes marciais, Arvanitis criou o pancrácio não para ser um esporte, e sim uma filosofia de vida, ou seja, ele nunca fundou uma federação nem organizou torneios, ficando essas funções ao longo dos anos com vários órgãos diferentes, que faziam pequenas modificações nas regras em relação aos golpes válidos, pontuação e outros detalhes que não modificassem a essência do pancrácio. Hoje, dentre as federações internacionais que regulam o pancrácio, podemos citar o Conselho Mundial de Pancrácio (WPC), a Federação Mundial de Pancrácio (WPF) e a Federação Internacional de Pancrácio (IFPA); existem também organizações privadas que realizam torneios de pancrácio, ao estilo UFC, como a norte-americana Modern Fighting Pankration (MFC) e a japonesa Pancrase Hybrid Wrestling (PANCRASE).

A versão do pancrácio regulada pela UWW é a hoje conhecida como pancrácio athlima, e foi criada na década de 1990, na Grécia, pelo lutador e professor de pancrácio Lazaros Savvidis. Hoje considerado um estilo em separado, o pancrácio athlima (palavra grega que significa "disciplina") é uma luta de baixo impacto, cujo foco está mais na realização dos golpes que em sua potência, com o intuito de Savvidis sendo permitir que pessoas de qualquer idade praticassem o pancrácio com menos riscos de lesões. Savvidis fundaria a Federação Grega de Pancrácio Athlima em 1996 e a Federação Internacional de Pancrácio Athlima (IFPa) em 1999, e negociaria diretamente com a UWW a inclusão do pancrácio como um dos esportes oficiais da federação em 2010, visando sua futura inclusão nas Olimpíadas. A IFPa ainda existe e, além dela e da UWW, temos também a Federação Mundial de Pancrácio Athlima (WPAF), fundada em 2002. O Brasil é membro de todas as três.

Pelas regras da UWW, que são as que interessam para esse post, os golpes válidos são socos, chutes, cotoveladas e joelhadas, desde que não sejam desferidos contra o pescoço, nuca, garganta, articulações, virilhas, rins ou coluna do oponente, nem acertem abaixo dos joelhos. Um golpe pode valer de 1 a 3 pontos, sendo que valem 1 ponto, com os pancratistas de pé, um soco contra qualquer parte válida do corpo, um chute contra as coxas, ou uma cotovelada que acerte acima da cintura e, com os pancratistas no solo, um soco contra qualquer parte do corpo, ou uma joelhada que acerte acima da cintura; valem 2 pontos, com os pancratistas de pé, um chute ou joelhada que acertem acima da cintura; e um chute contra a cabeça, com os pancratistas de pé, vale 3 pontos. Arremessos, chamados projeções, também valem pontos, com uma projeção que faça o oponente cair sentado ou uma projeção iniciada com ambos os pancratistas no solo valendo 2 pontos, e uma projeção que faça o oponente cair de costas ou de lado valendo 3 pontos. Para pontuar, além de atingir uma área válida e de ser um golpe válido do pancrácio (nada de chutar ou socar de qualquer jeito), um golpe ou projeção tem de começar dentro da área válida de luta (mesmo que termine fora dela), ter a distância, velocidade e finalização adequadas, e ter sido visto por pelo menos dois dos três árbitros; golpes simultâneos (os dois pancratistas chutarem um ao outro ao mesmo tempo, por exemplo) não valem pontos.

Uma vez que ambos os pancratistas estejam caídos, começa a parte da luta de solo, na qual ainda é possível usar socos, cotoveladas, joelhadas e até arremessos (mas não chutes), mas na qual o objetivo é usar uma das técnicas válidas do pancrácio para imobilizar o oponente, usando seus braços, pernas, ou a gola da camisa do oponente. Um lutador que esteja sentindo dor ou desconforto pode bater com a mão ou pé três vezes seguidas no chão para desistir da luta; caso isso não aconteça, um lutador que consiga manter uma imobilização por 5 segundos ganha 1 ponto, por 10 segundos ganha 2 pontos, e por 15 segundos ganha 3 pontos. Ao final do tempo da imobilização, após um dos pancratistas conseguir se livrar de uma imobilização, ou caso ambos os pancratistas saiam da área válida de luta enquanto estiverem lutando no solo, o árbitro interrompe a luta e a reinicia com ambos os pancratistas de pé; não é possível vencer uma luta de pancrácio por nocaute ou ippon.

Durante a luta, os pancratistas também podem cometer faltas, que levam a advertências. As faltas podem ser de duas categorias, passividade ou ação ilegal, sendo que a primeira advertência em cada categoria resulta apenas em aviso, a segunda em 1 ponto para o adversário, e a terceira em desclassificação (desde que seja na mesma categoria; se um lutador receber uma advertência por passividade e uma por ação ilegal, são dois avisos e nenhum ponto para o adversário). Passividade inclui fugir do oponente, não aplicar golpes, ficando só esperando e se defendendo, sair da área válida de luta de propósito, virar de costas para o oponente, e desrespeitar as instruções do árbitro. Ações ilegais incluem usar um golpe inválido (como uma cabeçada), acertar uma área do corpo proibida, chutar o oponente no solo, ferir o adversário propositalmente, não dar condições de o adversário desistir ou manter a imobilização depois que ele tiver desistido, e realizar ações desleais (como morder, cuspir ou puxar o cabelo do oponente). Dependendo da gravidade da ação ilegal (como, por exemplo, se um lutador quebrar o braço do outro de propósito), um lutador pode ser desclassificado instantaneamente, mesmo que seja sua primeira advertência.

O pancrácio é disputado em uma área chamada palestra, que é feita de material não-abrasivo e antiderrapante. A área total de luta é um quadrado de 10 ou 12 metros de lado, com um círculo de 8 ou 10 metros de diâmetro em seu interior; o círculo delimita a área válida de luta, sendo o restante do quadrado a área de segurança. No centro do círculo há um menor, com 1 ou 3 metros de diâmetro, dentro do qual os pancratistas começam a luta. Tradicionalmente, a palestra é azul e branca, mas, em torneios da UWW, a tendência é que tenha as mesmas cores do mat da luta olímpica, amarelo e vermelho. Assim como outras lutas desportivas (e diferentemente de como era na Grécia Antiga), no pancrácio ocorre a divisão por categorias de peso, para maior justiça nas lutas. No masculino há sete categorias de peso (até 60 kg, até 66 kg, até 71 kg, até 77 kg, até 84 kg, até 92 kg, até 100 kg e acima de 100 kg), e no feminino há cinco (até 53 kg, até 58 kg, até 64 kg, até 71 kg e acima de 71 kg).

O uniforme do pancrácio se chama endyma, e é bem simples, consistindo apenas de uma camisa de vestir pela cabeça, com gola em V e mangas até os cotovelos, e de uma calça com elástico e cordão na cintura, com pernas até os tornozelos; mulheres podem usar uma camiseta branca ou top esportivo por baixo da camisa, em nome da decência. Em competições oficiais da UWW, um dos pancratistas sempre usa endyma branca, e o outro sempre usa endyma azul; os árbitros também usam endymas, de cor vermelha. Os equipamentos de proteção obrigatórios são luvas próprias para pancrácio, caneleiras e protetores de virilhas, sendo opcional o protetor de gengiva, como o do boxe; mulheres opcionalmente podem usar protetor para os seios. Qualquer tipo de bandagem é proibido, exceto em caso de ordens médicas - no início, pancratistas enfaixavam os punhos e tornozelos para aumentar a potência dos golpes, daí a proibição.

Uma luta no pancrácio dura cinco minutos, sem intervalo, e é oficiada por um árbitro central, que fica dentro da área de luta acompanhando os pancratistas, e dois auxiliares, que ficam em suas laterais e podem avisar ao central caso ele não veja uma pontuação ou falta, além de uma mesa responsável por anotar os pontos e contar o tempo. Ao fim do tempo regulamentar, o lutador com mais pontos vence; caso haja empate, é disputada uma prorrogação de um minuto, e, caso o empate persista, o vencedor é escolhido por decisão dos árbitros. Também é importante dizer que cada lutador tem um total de um minuto para atendimento médico, durante o qual o relógio não anda, podendo ser dividido em pequenos atendimentos de alguns segundos cada, mas, se esse minuto for excedido, o lutador é desclassificado.

Além do pancrácio athlima, a UWW regula duas disciplinas chamadas polidamas e palesmata, que fazem parte do treinamento do pancrácio. A polidamas é uma luta coreografada, criada tendo como inspiração a história de Polidamas de Escotusa, campeão olímpico de pancrácio no ano 408 a.C. Descrito como "imenso" e "fortíssimo", Polidamas teria enfrentado e vencido nu e desarmado três dos guardas pessoais do Imperador Dario II da Pérsia, conhecidos como "os Imortais"; outras proezas atribuídas a ele foram matar um leão com as próprias mãos e interromper uma carruagem que vinha a todo galope agarrando-a pela traseira. Segundo os registros, Polidamas morreu quando ele e alguns amigos estavam em uma caverna que começou a desmoronar; acreditando que sua grande força seria capaz de salvá-los, ao invés de correr, ele segurou o teto com ambas as mãos. Isso teria dado tempo para que seus amigos saíssem da caverna e se salvassem, mas Polidamas morreria soterrado.

Mas o que nos interessa é a luta de Polidamas contra os Imortais, na qual a disciplina foi inspirada. Uma apresentação de polidamas conta com quatro pancratistas, um que será o defensor, representando Polidamas, e três que serão os atacantes, representando os Imortais; todos os quatro usam camisas brancas e calças azuis. As equipes são mistas, podendo contar com qualquer número de homens e mulheres, inclusive uma defensora mulher contra três atacantes homens. Uma apresentação dura 2 minutos, durante os quais a equipe deve apresentar pelo menos seis movimentos diferentes - quatro movimentos são obrigatórios e devem constar de todas as apresentações, mas os demais são de livre escolha dos pancratistas. Os golpes válidos no polidamas incluem todos os válidos no pancrácio athlima e mais alguns próprios, que buscam copiar os golpes usados na antiguidade; todos eles, como já foi dito, são feitos de forma coreografada, sem impacto e sem a possibilidade de causar qualquer dano aos lutadores. Algumas apresentações incluem o uso de armas por parte dos atacantes (mas nunca do defensor, já que Polidamas estava desarmado - e nu, embora no polidamas o defensor use endyma), que podem ser de três tipos: um bastão de madeira com 2 cm de diâmetro e entre 50 e 60 cm de comprimento, uma adaga feita de madeira ou borracha com entre 1 e 2 cm de largura e 20 cm de comprimento, ou uma lança de madeira com ponta de borracha de 1,85 m de comprimento e 2 cm de diâmetro.

Já a competição de palesmata é uma recriação de uma luta da antiguidade, efetuada por uma dupla de pancratistas. Competições da UWW são sempre mistas, contando sempre com um homem e uma mulher, mas outras organizações realizam competições de palesmata masculinas e femininas. Uma apresentação de palesmata dura 2 minutos, e os movimentos são totalmente de livre escolha dos participantes, sem quaisquer movimentos obrigatórios; a única obrigatoriedade é que a luta tenha uma parte de pé e uma de solo, e que termine com uma "finalização", representando a desistência ou morte do perdedor. Assim como no polidamas, a luta é coreografada, sem dano aos participantes - tanto que as regras do palesmata determinam que, se houver qualquer sinal de dano, visível ou não, a dupla é desclassificada. Assim como na polidamas, os golpes válidos na palesmata incluem todos os do pancrácio athlima e mais alguns próprios, que buscam copiar os golpes usados na antiguidade - com os "golpes próprios" da polidamas e da palesmata sendo, em sua maioria, diferentes uns dos outros.

Tanto a apresentação de polidamas quanto a de palesmata são julgadas por quatro árbitros, cada um sentado de um dos lados da palestra, com um deles sendo considerado o principal; eles avaliarão a dinâmica dos movimentos, o tempo correto dos ataques e defesas, a distância apropriada para aplicar os golpes, a atenção e concentração dos participantes e a variedade de movimentos, e darão cada um uma nota de 0 a 9, incluindo meios pontos, com a maior e a menor notas sendo descartadas e as outras duas somadas para determinar a nota final. Tanto na polidamas quanto na palesmata, penalidades de 0,3 ponto podem ser aplicadas à nota final por exceder os dois minutos de apresentação; na palesmata também são aplicadas penalidades por excesso de teatralidade (se os árbitros considerarem que a dupla está mais preocupada com a estética da apresentação do que com a eficiência dos golpes) e por sair da área de luta de propósito, enquanto na polidamas podem ser aplicadas penalidades por pisar fora da área válida de luta, exceto se for para recuperar uma arma que caiu. Após todas as equipes terem se apresentado, aquela com a maior nota final será a vencedora.

Desde 2014, a UWW também regula o pancrácio de alto impacto, baseado no criado por Arvanitis; suas duas únicas diferenças em relação às regras do pancrácio athlima, entretanto, estão na lista dos golpes válidos, que incluem alguns muito mais potentes que os da outra versão, e no fato de que é possível vencer uma luta por nocaute, da seguinte forma: se, em decorrência de um golpe quando os dois pancratistas estavam de pé, um deles cair, o árbitro abre contagem até 8, e o lutador que o derrubou ganha 4 pontos; se ele não se levantar antes do 8, o lutador que o derrubou vence a luta automaticamente, por nocaute. Um lutador que seja derrubado pela segunda vez em uma mesma luta tem direito a uma nova contagem até 8, mas um que é derrubado pela terceira vez é automaticamente desclassificado por nocaute técnico. Como os golpes são mais potentes, as luvas usadas pelos pancratistas são diferentes, semelhantes às do boxe, e é obrigatório um capacete de proteção. Ao invés do endyma, os lutadores usam uma camiseta de mangas curtas e uma bermuda até os joelhos; um dos lutadores sempre usa camiseta, luvas e caneleiras azuis, enquanto o outro usa vermelhas, e ambos usam bermudas pretas.

O mais importante torneio de pancrácio da UWW é o Campeonato Mundial, organizado anualmente desde 2010 com torneios masculinos e femininos de pancrácio athlima, com as competições de polidamas e palesmata tendo sido incluídas em 2011 e as de pancrácio de alto impacto masculino em 2014. Curiosamente, nenhuma das edições foi disputada na Grécia - embora a de 2019 tenha sido disputada em Roma.

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