domingo, 6 de dezembro de 2020

Escrito por em 6.12.20 com 0 comentários

Frescobol / Tamburello

Hoje, mais uma vez, vou abordar dois esportes sobre os quais quero falar faz tempo, e que talvez tenham pouco em comum, mas que me agradam mais em um mesmo post do que em dois posts curtos separados.

Assim como da última vez, vamos começar por um esporte inventado no Brasil, o frescobol. Ou quase, já que, nesse caso, há uma certa controvérsia. Eu penso em falar sobre frescobol aqui no átomo desde pelo menos 2013, e, da última vez, desisti porque, ao pesquisar sobre ele, descobri que existem dezenas de esportes parecidos, alguns até mais antigos do que ele, e eu não estava com vontade de falar sobre todos. Hoje, decidi que, se não estou com vontade, não vou falar, simples assim; vou me concentrar no frescobol.


Segundo a versão oficial, o frescobol foi inventado em 1945, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, por Lian Pontes de Carvalho, que nasceu no Pará e era dono de uma fábrica de móveis de piscina, pranchas e esquadrias de madeira. Lian costumava se encontrar com os amigos na praia para jogar tênis - o comum, não o tênis de praia - mas tinha um problema inusitado: por causa da maresia, suas raquetes se estragavam com frequência, e em pouco tempo já não serviam mais para jogar. Um dia, ele decidiu fabricar raquetes de madeira, que teriam maior durabilidade. O plano de Lian tinha uma falha que não foi prevista, porém: a bola se comportava de maneira totalmente diferente quando atingida pelas raquetes de madeira, em relação à forma como se comportava ao ser atingida pelas raquetes de tênis tradicionais. Já que não podia jogar tênis com elas, Lian e seus amigos decidiram criar um novo esporte, no qual o intuito não é colocar a bola fora do alcance do adversário, e sim passar o maior tempo possível sem deixar ela cair.

Isso mesmo, muita gente não sabe, mas o frescobol é um esporte cooperativo: os dois jogadores não são adversários, mas parceiros, tendo como objetivo passar a bola de um para o outro sem deixá-la cair no chão. De acordo com as regras oficiais, a distância entre os jogadores deve ser de 8 m, e cada dupla tem direito a 5 minutos de jogo, sendo que o cronômetro para toda vez que a bola cai no chão, sendo reiniciado quando o jogador que a recolheu bate nela com a raquete. Ao final dos 5 minutos, a dupla receberá uma pontuação de acordo com o número de sequências que realizou, sendo que, cada vez que a bola é recolhida do chão, se inicia uma nova sequência - como o objetivo é evitar que a bola caia, quanto menos sequências, mais pontos: uma dupla que encerre os 5 minutos sem deixar a bola cair nenhuma vez, ou seja, com uma única sequência, ganha 150 pontos; cada sequência a mais representa nove pontos a menos (141 pontos por duas sequências, 132 por três, e assim por diante), até 17 sequências, que valem 6 pontos, e, a partir daí, 18 sequências valem 2 pontos, 19 valem 1, e, com 20 ou mais sequências, a dupla termina com 0 pontos - embora ainda possa ganhar pontos de bônus normalmente.

Cada jogador só pode dar um toque na bola antes de passá-la para seu adversário, e a dupla ganha pontos de bônus se, ao devolver a bola, o jogador o faça com um "ataque", caracterizado pelo fato de que a bola saiu da raquete com mais velocidade do que entrou. Cada ataque vale 1 ponto de bônus, sendo que, se o ataque for feito "de mão trocada", ou seja, com a raquete na mão do jogador que não é a dominante, ele será considerado um ataque não-preferencial (também chamado de revés ou destreza revés), e valerá 3 pontos de bônus a mais (ou seja, 4 no total), e, se o ataque for feito enquanto a bola estava acima da linha dos ombros do jogador, será considerado como um ataque alto (ou destreza alta), e valerá 2 pontos a mais (3 no total); um ataque feito com a mão dominante do jogador se chama ataque preferencial, e vale apenas 1 ponto mesmo. Embora não haja um número máximo de ataques que uma dupla pode realizar, há um máximo para os pontos de bônus que ela pode ganhar: apenas os 290 primeiros ataques pontuam, sendo que apenas os 12 primeiros ataques não-preferenciais e apenas os 7 primeiros ataques altos valem pontos extras; a partir desses números-limite, eles passam a ser considerados ataques preferenciais, valendo apenas 1 ponto cada. Para que os pontos de bônus sejam computados, a bola deve tocar na raquete do parceiro após o ataque, não podendo ir direto para o chão; é permitido pelas regras que um dos jogadores "prepare" a bola para o outro, colocando-a de propósito em posição fácil de ser atacada de revés ou com um ataque alto.

Além de pontos de bônus pelos ataques, os jogadores ganham pontos de bônus por equilíbrio e intensidade. O equilíbrio avalia se ambos os jogadores atacaram e defenderam na mesma medida, e existe para evitar que apenas um dos jogadores ataque, enquanto o outro apenas prepara. Segundo as regras, a diferença entre o número de ataques dos dois jogadores deve ser igual ou maior que 30% - ou seja, se um jogador efetuou 100 ataques, o outro tem que ter efetuado 30 ou mais. Caso a diferença seja menor que 30%, a dupla ganhará apenas 1 ponto de bônus, mas, caso seja igual ou maior que 30%, ganhará uma pontuação determinada pelo número de ataques realizados pela dupla, somando os ataques de ambos os jogadores: uma dupla que realize menos de 100 ataques ganha 50 pontos de bônus, e uma que realize 145 ou mais ganha 100 pontos de bônus, com pontos proporcionais sendo conferidos às que realizaram entre 100 e 145.

A bonificação por intensidade também leva em conta o número de ataques de cada dupla, mesmo que ela não tenha cumprido a regra dos 30%: uma dupla que realize entre 220 e 225 ataques ganha 35 pontos de bônus, enquanto uma que realize entre 285 e 290 ataques ganha 100 pontos de bônus, com pontos proporcionais conferidos por realizar entre 225 e 285 ataques. A bonificação por intensidade, como o nome sugere, busca fazer com que o jogo fique mais intenso, com muitos ataques, sem que os jogadores fiquem apenas passando a bola de um para o outro. Com esses pontos de bônus todos, a pontuação máxima que uma dupla pode fazer é de 740 pontos: 150 pela sequência, 290 pelos ataques, 72 pelos ataques não-preferenciais, 28 pelos ataques altos, 100 pelo equilíbrio e 100 pela intensidade.  

As primeiras competições oficiais de frescobol só surgiriam no Brasil na década de 1980, e, mesmo assim, eram regionais e espalhadas pelo litoral, sem intercâmbio de jogadores - ou seja, cada jogador só participava dos torneios de sua própria cidade. O primeiro Campeonato Brasileiro de Frescobol, que contaria com a participação de jogadores de nove estados diferentes, seria realizado apenas em 1994; a atual competição mais importante do frescobol brasileiro é o Circuito Brasileiro de Frescobol, disputado anualmente desde 2013, que conta com várias etapas em diferentes estados do Brasil, cada uma valendo pontos para as duplas de acordo com suas classificações finais, com a dupla com o maior número de pontos após a última etapa (sempre realizada em Copacabana) sendo declarada a campeã daquele ano.

O frescobol não possui uma federação internacional; no momento, quem faz esse papel é a Confederação Brasileira de Frescobol (CBraF), fundada em 2015 e atual responsável pelo Circuito Brasileiro. A CBraF não é a única entidade a regular o frescobol no Brasil, com duas outras também organizando torneios a nível nacional, ambas chamadas Associação Brasileira de Frescobol, com a mais antiga, fundada em 2003, usando a sigla ABF, e a mais recente, fundada em 2012, usando a sigla ABRAF. A principal competição do frescobol mundial é o Campenato Mundial de Frescobol, realizado pela primeira vez em 2015, pela ABRAF, em Playa del Carmen, México, e então em 2017, pela CBraF, em Macaé, no Rio de Janeiro, ambas com a participação de duplas de 20 países, mas duplas brasileiras sendo campeãs em todas as modalidades; uma terceira edição estava prevista para 2020 na Espanha, mas foi cancelada devido à pandemia global.

O frescobol, porém, é muito mais praticado na praia como passatempo do que em torneios como esporte competitivo. Além da modalidade de duplas jogada profissionalmente (em duplas masculinas, duplas femininas ou duplas mistas), o frescobol pode ser disputado na modalidade estilo livre, na qual ganha a dupla que conseguir dar mais toques contínuos na bola antes de ela cair no chão; na modalidade contra o relógio, na qual ganha a dupla que realizar mais toques na bola durante um determinado período de tempo, sendo que o relógio não para quando a bola cai no chão; e na modalidade trincas, disputada por três jogadores que se alternam passando a bola um para o outro.

Faltou falar sobre o equipamento: a raquete originalmente era uma peça de madeira inteira e sólida, mas hoje, além de madeira, também utiliza materiais como fibra de vidro, carbono e aramida, além de uma proteção de borracha no cabo para maior firmeza na pegada. A raquete pode ser oca ou maciça, e deve ter no máximo 50 cm de comprimento por 25 cm de largura, sendo o tamanho "padrão" o de 45 cm de comprimento por 21 cm de largura; o peso fica entre 300 e 400 g. Originalmente, eram usadas bolas de tênis descascadas, mas, a partir da década de 1980, começaram a ser usadas bolas de raquetebol, que hoje podem ser encontradas no comércio vendidas como bolas de frescobol; a bola é feita de borracha, é oca e pressurizada, tendo 5,7 cm de diâmetro e pesando em torno de 40 g. Tanto as raquetes quanto a bola podem ser de qualquer cor, à escolha dos jogadores. Em torneios oficiais, o uniforme consiste de uma camiseta branca com a identificação do jogador (nome ou número), mais uma sunga para os homens e um biquíni ou maiô para as mulheres, que podem ser de qualquer cor; é obrigatório jogar descalço, e o uso de boné, viseira ou óculos escuros é opcional.

Pois bem, o motivo pelo qual há uma certa controvérsia quanto ao fato de o frescobol ter sido inventado no Brasil é o fato de que, como já foi dito, existem dezenas de esportes muito parecidos com ele - os jogadores estrangeiros que participaram do Mundial de Frescobol, aliás, eram jogadores desses outros esportes, e não de frescobol. Dois desses esportes, o italiano racchettoni e o israelense matkot, são comprovadamente mais antigos que o frescobol, com o matkot sendo o mais antigo de todos: há registros de que o matkot já era jogado no então Mandato Britânico da Palestina na década de 1920, e fotografias que mostram banhistas jogando matkot em Tel Aviv em 1932. O matkot seria levado por imigrantes para os Estados Unidos, onde se tornaria popular após a Segunda Guerra Mundial, e Europa, onde daria origem a vários outros esportes, e, hoje, é considerado o esporte nacional de Israel - país no qual se considera que o frescobol também é um derivado dele. O nome matkot vem da palavra matka, "raquete" em hebraico, e, há até bem pouco tempo, era usado em inglês para chamar também o frescobol - com o nome frescoball tendo surgido apenas recentemente. Assim como o frescobol, o matkot não possui uma federação internacional, sendo regulado internacionalmente pela Federação Israelense, e seu principal campeonato é o Campeonato Israelense, que conta com a participação de jogadores de outros países, mas é dominado pelas duplas israelenses. O matkot é jogado como o frescobol estilo livre, sendo campeã a dupla que conseguir o maior número de toques seguidos na bola; suas raquetes se parecem com raquetes de tênis de mesa gigantes, com cabos curtos e cabeças quase redondas, de 30 cm de largura, e possuem uma camada de plástico do lado que acerta a bola, que é a mesma do squash.

Vamos agora passar para o segundo e último esporte de hoje, o tamburello, que eu descobri quando escrevia o post sobre pallapugno, e, desde então, penso em falar também sobre ele. Diferentemente do pallapugno, que é um jogo de pelota, o tamburello é um parente do tênis, mas muito mais antigo: segundo algumas fontes, o tamburello já seria jogado no Império Romano, e os soldados de Júlio César, ao invadir a Gália, teriam montado quadras de tamburello para se divertir, o que acabaria ensinando o esporte também aos franceses. Lenda ou não, Itália e França são hoje as duas maiores potências do tamburello, que também é levemente popular em outros países da Europa, mas praticamente desconhecido no restante do planeta.


Tamburello, em italiano, significa "tamborim", aquele instrumento musical, e o esporte ganhou esse nome por causa do objeto que os jogadores usam para rebater a bola, que se parece com um tamborim ou pandeiro. Também chamado tamburello, originalmente ele era feito de madeira com uma superfície de couro de cavalo esticado e uma alça de tecido natural; hoje, a armação é feita de fibra de carbono ou polímeros sintéticos, a superfície é feita de borracha ou lona, e a alça é feita de tecidos sintéticos que não machuquem a pele dos jogadores. Ao contrário do que se imagina, os jogadores não seguram o tamburello pela alça, ela serve para passar pelo punho e impedir que ele caia ou voe longe durante o jogo; os jogadores devem segurar no próprio tamburelo, sendo a pegada tradicional obtida com o polegar na parte de cima, sobre a lona, e os outros quatro dedos por baixo, segurando a armação. Um tamburello profissional possui entre 26 e 28 cm de diâmetro, e faz um barulho bastante característico quando acerta a bola.

Não há registros de que materiais eram usados para fazer a bola na época do Império Romano, mas, no século XVI, quando uma verdadeira febre do tamburello tomou conta do noroeste da Itália, principalmente da cidade de Turim - que ganhou um bairro chamado Balon, em homenagem ao jogo - as bolas eram feitas de couro, recheadas, acreditem ou não, com cabelos de mulher, que, segundo os jogadores, era o material que fazia com que elas quicassem melhor. Hoje, a bola é feita de borracha, sendo oca e inflada; a bola usada no profissional tem 6 cm de diâmetro, enquanto a usada no amador tem 8 cm de diâmetro, mas ambas pesam 88 g, o que significa que a bola do amador possui menos borracha e pressão menor, sendo mais lenta e mais fácil de controlar. Um detalhe interessante é que os jogadores podem acertar a bola não somente com a superfície do tamburello, mas também com o antebraço, até a dobra do cotovelo; acertá-la com qualquer outra parte do corpo resulta em ponto para o adversário.

O tamburello é jogado em uma área própria, conhecida em italiano como sferisterio. Se alguém reconheceu o nome, é porque esse é o mesmo campo usado para o pallapugno e para o pallone col bracciale, esporte antigo que, segundo alguns, deu origem tanto ao pallapugno quanto ao tamburello, e sobre o qual eu falei no post sobre pallapugno. O sferisterio tem superfície de terra batida, sendo que, no profissional, é usado saibro, mesmo material das quadras de tênis. Para o tamburello tradicional, o sferisterio deve ter 80 m de comprimento por 20 m de largura, sendo dividido no meio por uma linha chamada corda, embora não haja nenhuma corda ou rede, apenas a linha. A 3 m da corda, em cada uma das metades, há uma linha de falta; nenhum jogador pode acertar a bola "direto", sem deixar ela quicar no chão antes, quando estiver no espaço entre as duas linhas de falta, ou será ponto para o adversário. Finalmente, a 5 m de cada linha de fundo há a linha de saque, com o jogador devendo se posicionar entre a linha de fundo e a linha de saque para sacar. Como não há rede dividindo a quadra, os jogadores precisam tomar muito cuidado para não se empolgarem e invadirem o lado oponente; passar para o lado adversário da quadra, mesmo que pelo lado de fora, resulta em interrupção da jogada e ponto para o oponente, não importando onde estava a bola.

A pontuação no tamburello é contada de forma semelhante a no tênis, com as equipes fazendo 15, 30, 40 e então gioco, mas sem deuce, ou seja, se estiver 40 a 40, a próxima a pontuar leva o gioco. Originalmente, o jogo era disputado até que uma das equipes marcasse 13 giochi (mesmo que estivesse 12 a 12), mas, desde 2000, um novo sistema de disputa se tornou mais popular, e quase todos os torneios o tem utilizado: são disputados dois sets, sendo que ganha o set a equipe que primeiro marcar 6 giochi (mesmo que esteja 5 a 5); se uma mesma equipe ganhar ambos os sets, vence o jogo, mas, se cada uma ganhar um, é disputado um tie break, no qual a pontuação, ao invés de 15, 30, 40, é contada 1, 2, 3, sendo vencedor quem primeiro alcançar 8 pontos, com dois pontos de vantagem sobre o oponente (ou seja, se estiver 7 a 7, quem primeiro fizer 9, e assim por diante). Esse novo sistema de disputa se tornou mais popular porque, além de permitir aos jogadores um descanso entre os sets, ainda torna o jogo mais rápido do que o sistema tradicional de 13 giochi, com o qual uma partida levava em média sete horas para terminar - atualmente, leva entre 3 e 4 horas.

Eu usei "equipes" no parágrafo anterior porque o tamburello não é um esporte individual, sendo disputado por equipes de cinco jogadores cada, mais quatro reservas, sendo que as substituições podem ser feitas entre um gioco e outro. Os jogadores não ficam correndo pra lá e pra cá na quadra, se posicionando de forma que cada um fique responsável por um setor; não é permitido aos jogadores trocar bolas como no vôlei, devendo cada jogador, ao bater na bola, devolvê-la para a quadra adversária. Também diferentemente do que ocorre no vôlei, no tamburello os jogadores não "rodam", ocupando sempre as mesmas posições na quadra do início ao fim do jogo, embora se alternem no saque seguindo uma ordem pré-determinada. Torneios profissionais podem contar com um jogador chamado battuta, que conta para o limite de nove do time mas nunca joga propriamente, só entrando em quadra para sacar e então retornando ao banco antes que a bola seja devolvida pelo adversário; o battuta usa um tamburello especial, que tem um cabo bem comprido e se parece com um banjo, que permite que a bola viaje mais longe.

Também é importante registrar que, no sistema tradicional de 13 giochi, as equipes mudam de lado na quadra a cada três giochi, e, no sistema de dois sets, a cada dois giochi; assim como no vôlei, começa sacando no gioco seguinte a equipe que pontuou no gioco atual. Para uma partida de tamburello só é obrigatório um arbitro, que pode se sentar em uma cadeira alta como no tênis ou caminhar ao lado da linha lateral da quadra; torneios profissionais usam um árbitro sentado e um segundo árbitro em pé, em lados opostos, além de vários auxiliares para ver se a bola quicou dentro ou fora da quadra ou se os jogadores cometeram faltas. Finalmente, vale citar como curiosidade que, além de os árbitros terem cartões amarelos e vermelhos para mostrar aos jogadores quando estes têm conduta antidesportiva - um cartão amarelo resulta em um ponto para o adversário, um cartão vermelho significa que o jogador deve ser substituído e não pode mais jogar naquela partida, sendo que o segundo amarelo para um mesmo jogador vem sempre acompanhado de um vermelho - os técnicos de cada time também possuem cartões que podem mostrar ao árbitro, nas cores verde e azul: o cartão azul é usado para indicar que o time quer fazer uma substituição ao final daquele gioco, enquanto o verde é um pedido de tempo. A duração de cada pedido de tempo fica a cargo de cada técnico, mas cada time tem apenas 3 minutos de tempo técnico por jogo - ou seja, pode pedir 3 tempos de 1 minuto cada, 6 tempos de 30 segundos cada, ou qualquer outra combinação que não ultrapasse 3 minutos.

Além de ser um esporte muito antigo, o tamburello também foi regulado muito cedo: o primeiro campeonato italiano de tamburello foi disputado no mesmo ano em que a primeira Olimpíada, 1896; em 1920 seria fundada a Federazione Italiana Palla Tamburello; e, em 1930, seria realizado o primeiro campeonato profissional. Internacionalmente, ele é regulado pela Federação Internacional de Tamburello, fundada em 1987 pela união das federações italiana e francesa, e que hoje conta com 20 membros, sendo 17 europeus e mais Cuba, Japão e o Brasil, representado pela Federação Paulista de Tamburéu. Curiosamente, a Federação Internacional de Tamburello é conhecida internacionalmente pela sigla de seu nome em francês, FIBT, e não pela do italiano (FIPT). O principal campeonato da FIBT não é de seleções, mas de clubes, a Coppa Europa, disputada anualmente desde 1996 no masculino e 2001 no feminino; dentre as seleções, o torneio mais importante é o Campeonato Mundial de Tamburello, disputado a cada quatro anos, no masculino e no feminino, desde 2012 - o Brasil foi medalha de bronze no masculino na primeira edição.

Além do tamburello tradicional, com cinco de cada lado, a FIBT também regula outras cinco variedades do tamburello. Atualmente, a mais popular de todas, com mais praticantes até do que o tradicional, se chama tamburello a tre, pelo fato de que há apenas três jogadores de cada lado. O tamburello a 3 não é disputado no sferisterio, e sim em uma quadra coberta, e, por isso, também é conhecido internacionalmente como tamburello indoor; foi inventado em 1934 por jogadores de tamburello que queriam continuar jogando durante o inverno, e teve seu primeiro campeonato profissional disputado em 1987 - hoje, o campeonato italiano de tamburello a 3 possui média de público e audiência maior que o do tradicional, e muitas escolas já contam com o tamburello a 3 em suas aulas de educação física. No âmbito da FIBT, o principal campeonato também é a Coppa Europa de clubes, disputada no masculino e no feminino desde 1993, ou seja, desde antes da Coppa do tamburello tradicional; para as seleções, o principal é o Campeonato Mundial de Tamburello a 3, disputado no masculino e no feminino a cada três anos desde 2013 - o Brasil também foi medalha de bronze no masculino na primeira edição.

O tamburello a 3 é disputado em uma quadra coberta de 34 m de comprimento por 16 m de largura; para dividi-la ao meio, há uma peça de madeira de 5 cm de altura, que se prolonga 5 cm de cada lado para fora da quadra, que serve para facilitar a vida do árbitro quanto a se invasões ocorreram ou não, já que, com a quadra menor, o jogo é muito mais veloz - caso a bola bata na madeira, é ponto para o adversário. As linhas de falta e de saque são nas mesmas posições, a 3 m da madeira e a 5 m da linha de fundo, respectivamente. Cada time é composto por 8 jogadores, sendo três em quadra e cinco reservas, não sendo permitido battuta. A bola do tamburello tradicional seria muito veloz e perigosa, então, em jogos profissionais, são usadas bolas de borracha sólida, com 6,7 cm de diâmetro e que pesam 40 g; em jogos amadores e nas escolas, são usadas bolas de tênis. As demais regras são idênticas às do tamburello tradicional, com a diferença de que o tamburello e 3 é sempre jogado no sistema de que ganha quem fizer 13 giochi primeiro, com a curiosidade de que, se o jogo estiver 12 a 12, termina empatado - exceto se for um jogo eliminatório, quando é necessário abrir uma vantagem de dois giochi para vencer o jogo.

Até a década de 1980, o tamburello tradicional era o mais popular, e o segundo mais popular era o tamburello a muro, que, segundo as histórias, surgiu na Idade Média, quando os jogadores do Vale d'Aosta, da Lombardia e do Vêneto jogavam tamburello ao lado dos inúmeros castelos que existiam no local, usando o muro do castelo como parte da área de jogo. Também conhecido como tambass, nome pelo qual é chamado na região do Piemonte, o tamburello a muro era bastante popular em cidades do interior, até que, em 1976, um grupo de jogadores da cidade de Monferratto decidiu regulá-lo, e os primeiros campeonatos profissionais, contando com a presença de jogadores de tamburello tradicional, começaram a surgir. O campeonato italiano é disputado desde 2002; a FIBT ainda não organiza competições internacionais. As regras do tamburello a muro são as mesmas do tamburello tradicional, exceto pela presença do muro, que ocupa somente um lado do sferisterio, e tem no mínimo 5 m de altura. Cada equipe saca sempre com o muro à sua direita, e, por isso, cada equipe saca em três giochi seguidos antes de mudar de lado, independentemente de quem pontuou nesses três giochi. Exceto após um saque, é permitido que a bola quique uma vez no muro antes de quicar na quadra adversária, o que adiciona imprevisibilidade ao jogo. Uma partida de tamburello a muro dura até que uma das equipes marque 19 giochi, terminando empatada caso esteja 18 a 18 - e com cada torneio tendo regras próprias para definir o desempate caso seja um jogo eliminatório.

A modalidade do tamburello que mais cresce no mundo hoje é o tambeach, o "tamburello de praia". Criado por jogadores de tamburello da cidade de Cava d'Aliga em 1975, ele rapidamente se popularizou como um passatempo, e não demorou para surgirem os jogadores profissionais; o campeonato italiano de tambeach é disputado desde 1996. O tambeach pode ser disputado em simples ou duplas, sendo que a área de jogo tem sempre 24 m de comprimento, mas larguras diferentes dependendo do evento: 8 m para as simples masculinas, 7 m para as simples femininas, e 12 m para as duplas. A quadra é dividida por uma rede, semelhante à do vôlei de praia, com entre 2,05 e 2,15 m de altura, presa a postes que devem ficar a no mínimo 50 cm das linhas laterais. Não há linhas de falta ou de saque, e as linhas que delimitam a quadra devem ser claramente visíveis e ter entre 5 e 8 cm de largura. O tambeach é disputado em melhor de três ou de cinco sets, sendo que um jogador ou dupla ganha um set quando faz 12 giochi, sempre com dois giochi de vantagem (ou seja, se estiver 11 a 11, ganha quem fizer 13). São usadas bolas de tênis, que devem sempre ser rebatidas "direto"; caso a bola toque o chão, é ponto para o oponente. Assim como no tamburello tradicional, saca quem pontuou, e a cada três giochi os jogadores mudam de lado; no jogo de duplas mistas, o jogador homem deve sempre sacar na direção do adversário homem, e a mulher sempre na direção da mulher, ou será falta. O principal torneio da FIBT é a Copa Intercontinental, disputada anualmente desde 2010.

A modalidade mais recente do tamburello é o tambutennis, que surgiu no início dos anos 2000. Assim como o tambeach, ele é disputado em simples ou duplas, mas em uma quadra de 20 m de comprimento por 10 m de largura, com uma rede semelhante à do tênis, de 60 cm de altura, no meio, sem linhas de falta ou de saque. O tambutennis usa bolas de tênis, e é disputado em melhor de três ou cinco sets, sendo que ganha um set quem fizer 10 giochi, com vantagem de dois sobre o oponente. A FIBT ainda não organiza campeonatos internacionais de tambutennis.

Finalmente, temos o tambumuro, a "versão squash" do tamburello, jogado somente em simples, em uma quadra que tem 10,6 m de comprimento por 6,1 m de largura e um muro de 4,9 m de altura em uma das extremidades. Ambos os jogadores ficam de frente com o muro e se alternam na hora de rebater a bola, que pode quicar uma vez no chão antes de ser rebatida; cada jogador saca três vezes seguidas, então passa o saque para o adversário. Os pontos não são contados 15, 30, 40, mas direto, 1, 2, 3; o jogo é disputado em dois sets, ganhando cada set quem primeiro fizer 11 pontos (mesmo que esteja 10 a 10). Se cada um dos jogadores ganhar um set, são somados os pontos de ambos os sets, e quem fez mais vence; se essa soma der empate, é disputado um terceiro set, cujo vencedor será aquele que fizer 5 pontos primeiro, com 2 de vantagem sobre o oponente. Originalmente, a bola usada era a mesma do tamburello tradicional, mas, desde 1991, é usada a mesma bola do tamburello a 3. Segundo registros, o tambumuro é disputado desde o século XIX, e começou como uma série de desafios entre jogadores de tamburello; o campeonato profissional italiano é disputado desde 1991, e o principal torneio da FIBT é a Liga Tambumuro.

Para terminar, vale citar que ainda existem, na Itália, duas outras variações do tamburello que não são reconhecidas pela FIBT nem disputadas no âmbito profissional. A primeira é a palloncina, disputada em um sferisterio de 60 m de comprimento por 14,5 m de largura com uma rede de 50 cm de altura no meio e um muro de 4 m de altura do lado direito, por times de cinco jogadores cada usando uma bola de borracha inflada com 6,6 cm de diâmetro e 60 g de peso. Bizarramente, a palloncina é disputada em dois sets, sendo que o primeiro usa as regras do tamburello tradicional, e o segundo usa as regras do tamburello a muro. Se cada equipe ganhar um set, termina empatado.

A segunda é a pelota italiana, que ganhou esse nome por ser parecida com a pelota valenciana - com a óbvia diferença de que os jogadores batem na bola com o tamburello, e não com a mão. A pelota italiana é disputada em duplas, em um sferisterio de 54 m de comprimento por 10 m de largura, com um muro de no mínimo 5 m de altura do lado direito; ao sacar, a bola, que é feita de borracha inflada, com 6,6 cm de diâmetro e entre 70 e 77 g de peso, deve obrigatoriamente bater no muro e depois em uma área própria demarcada na quadra por um quadrado de 50 cm de lado. A pontuação é contada direto, 1, 2, 3, e ganha a dupla que fizer 41 pontos primeiro, mesmo que esteja 40 a 40; cada dupla faz três saques antes de trocar de lado. Recentemente, surgiu uma versão chamada minipelota, jogada com as mesmas regras, mas usando uma bola de tênis, tendo uma rede de 1,2 m de altura dividindo a quadra, e sendo vencedora a dupla que primeiro fizer 21 pontos. A pelota italiana vem ganhando muita popularidade no sul da Itália, especialmente na Calábria, e já há uma campanha para que ela entre para o rol dos esportes regulados pela FIBT.

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