domingo, 2 de fevereiro de 2020

Escrito por em 2.2.20 com 0 comentários

The Tick (II)

Eu amo o Tick. Desde que o conheci, através do desenho animado, o elegi como um de meus personagens preferidos. Não somente ele, mas também seu amigo Arthur e toda a gama de personagens maravilhosos que compõem seu elenco. Adoro o desenho, adoro a primeira série com atores, que infelizmente foi cancelada após poucos episódios, e adoro a série nova, que infelizmente também se encontra cancelada. Meu sonho é ver um filme do Tick nos cinemas, de preferência com o maior número de personagens clássicos possível.

Gostando tanto assim do Tick, é evidente que ele seria um dos primeiros assuntos que eu abordaria aqui no átomo. Na verdade até que demorou um pouquinho, somente em 2004, no segundo ano de existência do átomo, foi que eu falei sobre ele. Estou voltando ao assunto hoje por causa de uma questão que eu já comentei aqui algumas vezes: eu tenho uma certa implicância com esses meus primeiros posts. Não é que eu ache eles ruins (bem, alguns eu acho sim, mas não é o caso aqui), mas em tudo na vida a gente vai melhorando com o tempo, de forma que eu acho os posts mais recentes bem melhores, e, de certa forma, não me conformo com alguns dos antigos - não me conformo, por exemplo, que, digamos, o Gavião Negro tenha um post melhor que do Homem-Aranha, sendo que eu gosto muito mais do Aranha. O post do Homem-Aranha, inclusive, é um dos que eu frequentemente penso em reescrever (junto com o dos Cardigans e com mais um ou dois que eu prefiro não citar no momento), mas, por razões várias, acabo desistindo - no caso do Homem-Aranha, a principal razão é a de que sua história já está imensa e extremamente complicada, o que me faz pensar que eu vou ter muito trabalho se resolver escrever sobre ele agora, então, como eu já escrevi, prefiro focar em assuntos novos.

Enquanto eu escrevia o post sobre os filmes do Homem-Aranha, entretanto, eu me lembrei novamente dessa história de escrever ou não um novo post, e acabei me lembrando do Tick, e achando que seria bom escrever um novo post sobre ele por causa da série nova. Essa ideia, ao contrário da do Homem-Aranha, acabou prosperando, e o resultado é esse post que vocês estão lendo. Assim como ocorreu com Tori Amos e Record of Lodoss War, o post antigo continuará lá, e nesse novo falarei mais uma vez sobre tudo desde o início, ao invés de apenas complementar. Como hoje eu tenho acesso a mais informações (e, espero, mais confiáveis e mais completas) que em 2004, se alguma coisa desse post entrar em conflito com o original, peço que me desculpem, e que considerem apenas as informações do novo. Tudo isso esclarecido, hoje, mais uma vez, é dia de The Tick no átomo!

O Tick foi uma criação do desenhista Ben Edlund, que tinha apenas 18 anos quando o criou, em 1986. Na época, Edlund, que morava na cidade de Brockton, Massachusetts, Estados Unidos, frequentava uma loja de quadrinhos chamada New England Comics (dentre outros motivos, porque Massachusetts fica na região dos Estados Unidos conhecida como Nova Inglaterra), que tinha um jornalzinho bimestral que distribuía gratuitamente entre seus clientes, chamado New England Comics Newsletter, e criou o personagem por sua própria iniciativa, oferecendo-o para ser o mascote do jornalzinho. Os donos da loja, cujos nomes infelizmente não ficaram registrados, gostaram tanto que pediram para que Edlund criasse uma história em quadrinhos estrelada pelo personagem, que seria publicada no tal jornalzinho. Edlund criaria uma história chamada simplesmente The Tick, que contava a origem do herói, e seria publicada em três páginas, uma na edição 14 (de julho de 1986) e duas na 15 (de setembro do mesmo ano).

A primeira história do Tick faria um sucesso inesperado, e os donos da loja decidiriam bancar a impressão de uma revista em quadrinhos em preto e branco (somente a capa seria colorida), que seria vendida exclusivamente lá, publicada sob o selo New England Comics, cuja primeira edição seria lançada em junho de 1988. As primeiras edições da revista trariam histórias que eram paródias de outros super-herois - a segunda edição, por exemplo, era uma paródia do filme Superman, de 1978, e a terceira, uma das mais famosas revistas em quadrinhos independentes de todos os tempos, que trazia o título Night of a Million Zillion Ninjas, era uma paródia das histórias do Demolidor contra o Tentáculo, contando, inclusive, com uma Elektra genérica (chamada Oedipus) como parceira do Tick - mas, a partir da quarta edição, Edlund decidiria deixar as paródias de lado e escrever histórias de super-heróis originais, mas com muito humor e personagens bastante criativos. Aos poucos, ele introduziria outros personagens de sua criação, como Paul the Samurai, Chainsaw Vigilante (algo como o "vigilante da serra elétrica"), e o parceiro de Tick, Arthur, um contador que, cansado de sua vida monótona, compra por correspondência uma roupa de homem-traça (frequentemente confundida com uma roupa de coelho), completa, com asas que lhe permitem voar, e decide se lançar na carreira super-heroica, se aliando ao Tick quando o conhece por acaso, justamente na edição 4, de abril de 1989. Na edição 11, ele introduziria um segundo personagem chamado Tick, um milionário chamado Barry Hubris que decide usar sua fortuna para criar equipamento temático de carrapato para combater o crime, e não se conforma que já exista outro Tick, decidindo fazer de sua primeira missão derrotá-lo.

Não, você não leu errado: tick, em inglês, significa "carrapato", e é por isso que o Tick tem aquelas antenas no alto da cabeça - para todos os efeitos, ele é o Homem-Carrapato ou coisa assim. Apesar disso, o Tick não tem nenhum poder relacionado aos carrapatos; seus dois superpoderes são que ele possui superforça, com quase nenhum outro personagem de seu universo sendo mais forte que ele, e é "quase invulnerável", sendo capaz de aguentar tiros, explosões, quedas de alturas inimagináveis e outros danos que destruiriam um ser humano, mas sequer o arranham - o "quase" vem por conta do fato de que o Tick não é indestrutível, sendo possível destruí-lo, mas ninguém jamais descobriu como; ele também não é imune a venenos, doenças, asfixia (mas pode prender a respiração por "bastante tempo", o que é útil sob a água e no espaço) e a morrer de idade avançada, embora ninguém saiba quantos anos ele tenha. Isso porque o Tick não tem qualquer memória de seu passado antes de se tornar o Tick, incluindo sua origem e seu nome verdadeiro; outra de suas desvantagens são que ele não é muito brilhante, tendo extrema dificuldade para compreender alguns conceitos simples - pode se dizer, inclusive, que a mente do Tick é infantil, já que, para ele, tudo é em tons de preto e branco: existe o bem e o mal, o certo e o errado, a justiça e a injustiça, e ele tem grande dificuldade em identificar o meio-termo em qualquer situação. Devido à sua perda de memória, ele também vê novidade em tudo, e tem muita dificuldade para lidar com alguns conceitos da sociedade, frequentemente se maravilhando com coisas como leis de trânsito e transações monetárias. Na origem do Tick nos quadrinhos, contada no New England Comics Newsletter, o Tick era um paciente de um manicômio, que, após encontrar seu uniforme em um depósito, decidiu fugir e se tornar o guardião da Cidade, onde suas aventuras se desenrolariam. Embora teoricamente façam parte de seu uniforme, as antenas do Tick são seu principal ponto fraco, sendo extremamente sensíveis ao toque e deixando-o enjoado e sem equilíbrio caso sejam removidas.

Quando o Tick começou a se tornar popular, muitos críticos de quadrinhos começaram a divulgar que ele seria "cópia" de dois outros personagens: The Roach ("o barata"), que fez sua estreia nas histórias de Cerberus, publicadas entre dezembro de 1977 e março de 2004, e Megaton Man, publicado entre novembro de 1984 e dezembro de 1996. O Roach, criado pelo canadense Dave Sim, era um personagem secundário que tinha múltiplas personalidades e sempre aparecia como uma paródia de um super-herói da Marvel ou DC - já que Cerberus era uma revista de paródia, principalmente de fantasia medieval, cujo protagonista era um aardvark (mamífero africano que lembra um pouco um porco) antropomórfico que ganhava a vida como bárbaro. Já Megaton Man, criado pelo norte-americano Dandy Don Simpson, era um super-herói imensamente forte e imensamente musculoso, mas igualmente estúpido. Embora ambos sejam anteriores ao Tick, e tenham algumas características em comum com ele, a verdade é que o final dos anos 1980 foi uma época extremamente prolífica para os super-heróis de humor e paródia, podendo ser citados também o Flaming Carrot ("cenoura flamejante", cuja cabeça era uma cenoura que tinha fogo no lugar das folhas), Normalman (único habitante sem nenhum superpoder em um mundo onde todos os tinham) e os Ex-Mutants (um grupo de adolescentes nascidos em um futuro apocalíptico no qual todo mundo é mutante, mas que tiveram seu DNA alterado para voltarem a ser humanos), de forma que o Tick era apenas mais um na onda - curiosamente, pode se dizer hoje, o mais bem sucedido deles.

Além do Tick e de Arthur (e de Paul e Oedipus) outros super-heróis que estrearam nos quadrinhos foram Caped Wonder (a "maravilha de capa"), uma clara paródia do Super-Homem, cuja identidade secreta, Clark Oppenheimer, trabalha no jornal Weekly World Planet, onde o Tick deseja se tornar editor da seção de palavras cruzadas; Running Guy (o "cara que corre"), cujo único poder é correr bem rápido, uma clara paródia do Flash; e The Man Eating Cow (a "vaca comedora de homens"), originalmente uma vilã, que mudou de lado após ter a vida salva pelo Tick, se tornando protetora da Cidade (e que é uma vaca mesmo, que inclusive nem fala, só muge). Além de Barry e do Chainsaw Vigilante, os vilões que estrearam nos quadrinhos foram Sagin, arqui-inimigo de Paul e líder dos ninjas; Red Eye ("olho vermelho"), capaz de matar de susto com seu olhar; Red Scare ("medo vermelho"), mercenário soviético que usa uma armadura de alta tecnologia; The Terror (O Terror), o preferido de Edlund, originalmente um vilão da Era de Ouro dos Super-Heróis, que está com 95 anos, mas ainda não desistiu de dominar o mundo; e o melhor de todos, o arqui-inimigo do Tick, Chairface Chippendale (chairface significa "cara de cadeira", e Chippendale é uma tradicional fabricante de móveis de madeira de lei, que inclusive já teve lojas no Brasil; no desenho, seu nome foi traduzido simplesmente para "O Cadeira"), mafioso que tem uma cadeira no lugar da cabeça, e se ressente do fato de que, apesar de sua enorme fortuna, não tem tanta exposição na mídia quanto criminosos de menor gabarito, sempre criando planos mirabolantes para ganhar as manchetes - o mais audacioso deles sendo escrever seu nome com um laser na Lua.

Pois bem, as primeiras revistas do Tick fizeram um enorme sucesso, mas depois as vendas começaram a cair, e, para economizar dinheiro, a New England Comics decidiu espaçar cada vez mais os lançamentos das edições, até que, em 1993, decidiu cancelar a revista, com a última edição sendo lançada em maio. Ao todo, seriam lançadas 12 edições (três em 1988, três em 1989, duas em 1990, duas em 1991, uma em 1992 e uma em 1993), todas escritas e desenhadas por Edlund. Enquanto as revistas ainda estavam sendo publicadas, a New England Comics também lançaria The Tick's Giant Circus of the Mighty, uma espécie de enciclopédia do "Universo Tick" em três volumes, lançados dois em 1992 e um em 1993.

Após o cancelamento, porém, uma coisa estranha aconteceu: para se livrar do estoque, a New England Comics vendeu o excedente para outras lojas de quadrinhos dos Estados Unidos, e, quando os fãs de outras cidades as descobriram, o Tick começou a fazer muito sucesso. Tanto sucesso que Edlund, então com 25 anos, foi procurado pela Kiscom, uma fabricante de brinquedos que já tinha os diretos sobre as Tartarugas Ninja, e queria produzir brinquedos inspirados nos personagens das histórias do Tick. Como as Tartarugas Ninja, que também tiveram sua origem em quadrinhos independentes, em 1984, se tornaram extremamente mais populares depois da estreia de seu desenho, em 1987, a Kiscom começou a trabalhar para que um desenho do Tick também entrasse em produção, e colocou Edlund em contato com o roteirista Richard Liebmann-Smith, que trabalhou para a Sundown, responsável pelos desenhos dos Transformers e Comandos em Ação, dentre outros. Edlund e Liebmann-Smith escreveram um roteiro, com o qual não ficaram exatamente satisfeitos, e, através de um contato da Kiscom, o ofereceram à Fox, que o rejeitou, mas deu prazo de cinco dias para que eles o modificassem e reapresentassem. Edlund e Liebmann-Smith trabalhariam quase que ininterruptamente durante um fim de semana, e chegariam não somente à versão final do roteiro do primeiro episódio, mas também a uma sinopse geral de toda a primeira temporada. A Fox adorou esse novo roteiro, e deu luz verde para a produção do desenho em 1994.

Eu vou falar sobre o desenho já já, mas antes quero terminar de falar sobre os quadrinhos. Após o sucesso do desenho, a New England Comics decidiria republicar várias vezes as 12 edições originais, com uma das republicações trazendo conteúdo adicional para cada edição criado por Edlund, e outra (chamada Chroma-Tick) sendo totalmente em cores. Em outubro de 1993, a New England decidiria publicar uma segunda série, chamada The Tick: Karma Tornado, com roteiros de Chris McCulloch e arte de Dave Garcia; essa nova série duraria 9 edições bimestrais, a última lançada em março de 1995. Depois disso, a New England Comics decidiria não investir mais em uma série regular, e sim em várias edições fechadas (por exemplo, The Tick Big Halloween Special, The Tick's Big Cruise Ship Vacation e The Tick Summer Annual) e minisséries. Ao todo, oito minisséries seriam lançadas: The Tick: Big Blue Destiny (1997, cinco edições, roteiro e arte de Eli Stone), The Tick: The Luny Bin (1998, três edições, roteiro de Marc Silvia e arte de George Suarez), The Tick: Heroes of the City (1999, seis edições, roteiro de Clay Griffith e Marc Silvia, arte de Gabe Crate e Sean Wang), The Tick and Arthur (1999, seis edições, roteiro e arte de Sean Wang), The Tick: Circus Maximus (2000, quatro edições e um especial, cada uma com várias histórias curtas de vários autores e artistas), The Tick: All New in Color (2001, três edições, roteiro de Marc Silvia e arte de Tak Toyoshima), The Tick: Golden Age (2002, três edições, roteiro de Marc Silvia, arte de Dave Garcia), The Tick: Days of Drama (2005, sete edições, roteiro de Clay e Susan Griffith, arte de Dave Garcia), e Mangalicious Tick: The Rise Of The Setting Sun (2009, quatro edições em estilo mangá, as únicas até hoje além das 12 originais com roteiro e arte de Edlund). Dentre as edições fechadas, vale destacar The Tick: The Pseudo-Edition, lançada em janeiro de 2000 para fechar as pontas soltas da série original de Edlund, mas que contou com roteiro de Marc Silvia e arte de Mychailo Kazybrid.

Em 2009, a New England Comics decidiria investir mais uma vez em uma série regular, chamada The Tick: The New Series, com roteiro de Benito J. Cereno e arte de Les Maclaine; as vendas seriam abaixo do esperado, entretanto, e a série seria cancelada em março de 2011, após 8 edições. Em 2017, por causa da nova série de TV, uma nova série regular, chamada somente The Tick seria lançada, com roteiro de Cullen Bunn e Jimmy Johnston e arte de Duane Redhead, mas as vendas seriam ínfimas, e a série seria cancelada após apenas quatro edições, em junho de 2018 - até o presente momento, essa é a última revista em quadrinhos protagonizada pelo Tick. É importante dizer que todas essas edições novas introduziram muitos novos heróis e vilões, incluindo alguns que foram criados originalmente para o desenho animado.

Ok, vamos voltar agora ao desenho, que estreou em 10 de setembro de 1994, com uma temporada de 13 episódios; Edlund e Liebmann-Smith só não escreveriam juntos quatro deles (dois escritos por Henry Gilroy, um por Chris McCulloch e um por Edlund e Art Vitello). Edlund também supervisionaria pessoalmente todas as etapas da animação, inclusive rejeitando storyboards que não considerasse adequados, o que atrasou a produção de alguns episódios; segundo ele, ao invés de fazer um desenho dos anos 1990, sua intenção era fazer um "desenho ruim de super-heróis dos anos 1970", objetivo que ele achou que foi alcançado. O logotipo do desenho, a sombra de um carrapato estilizado com o nome the Tick dentro, seria inspirado no do desenho do Homem-Aranha, que estrearia no mesmo ano. Por decisão de Edlund, o desenho seria voltado para crianças, diferentemente dos quadrinhos, que traziam situações mais apropriadas a adultos, como piadas de cunho sexual; ainda assim, o humor satírico do desenho faria com que ele fizesse sucesso também entre adolescentes, que nos Estados Unidos são o principal alvo do mercado de super-heróis. Curiosamente, embora a primeira temporada tenha sido um enorme sucesso, a linha de brinquedos não vendeu quase nada, sendo cancelada pela Kiscom em 1995.

Como quis dar ao desenho um tom diferente dos quadrinhos, Edlund criou toda uma gama de heróis e vilões especialmente para ele; dos quadrinhos, estão presentes apenas Tick, Arthur, Barry, o Cadeira, o Terror e a Vaca Comedora de Homens (que tem uma origem diferente e é vilã, não mudando de lado). Tick e Arthur ganhariam dois parceiros de destaque no combate ao crime, que estariam presentes em quase todos os episódios: American Maid (traduzida para Empregada Americana, cujo nome original é um trocadilho com American made, "feito na América"), uma mistura da Mulher Maravilha com o Capitão América, que usa uma roupa de empregada francesa nas cores da bandeira norte-americana e usa como principal arma seus sapatos de salto alto, tendo personalidade forte e um grande senso de retidão e justiça; e Die Fledermaus (bizarramente traduzido para Rato Deflator; die fledermaus, que se pronuncia "dí fledermaus" e não "dái fledermaus", significa "o morcego" em alemão), uma paródia do Batman, vaidoso, preguiçoso e covarde, e com um uniforme bem mais exagerado (tendo inclusive narinas de morcego na máscara). Uma piada recorrente do desenho é que American Maid e Die Fledermaus tiveram um romance no passado, mas hoje se odeiam. Outro herói de destaque, mas que apareceu em menos episódios, era Sewer Urchin (o "ouriço do esgoto", traduzido para Ouriço Fedor), que vivia nos esgotos e era mais poderoso sob a água, sendo uma espécie de paródia do Aquaman. A origem do Tick também seria alterada para o desenho: ao invés de fugitivo de uma instituição psiquiátrica, ele era simplesmente um super-herói que recebeu a incumbência de proteger a Cidade na última edição da Convenção de Super-Heróis, quando as cidades que precisavam de protetores foram distribuídas para os heróis que não tinham nenhuma - por que uma cidade com tantos super-heróis quanto a Cidade precisa de mais um, é um mistério. Embora no desenho o Tick ainda seja pouco brilhante e meio infantil, a parte de "sem memória" não é tão explorada, com seu passado sendo simplesmente ignorado.

Dois dos episódios da primeira temporada são adaptações das histórias em quadrinhos, não por acaso aqueles nos quais Tick enfrenta o Cadeira e Barry - todos os episódios da primeira temporada, aliás, se chamam The Tick vs. alguma coisa, então o que ele enfrenta o Cadeira é The Tick vs. Chairface Chippendale, e o que ele enfrenta Barry é The Tick vs. The Tick. Ambos esses episódios estão dentre os melhores: no do Cadeira, Tick, Arthur e American Maid se infiltram na festa que o vilão está dando para escrever seu nome na Lua, que conta com a presença de criminosos como Forehead (O Testa), Deadly Nose (cujo nariz dispara lasers), Zipperneck (que tem um zíper no pescoço), Headless Henderson (que não tem cabeça), Eyebrows Mulligan (que tem sobrancelhas imensas) e Dean (que tem um torno no lugar da cabeça e mãos tão fortes quanto), além do cientista particular do Cadeira e criador do laser que vai escrever na Lua, Professor Chromedome; já no de Barry, Tick e Arthur vão enfrantá-lo no Comet Club, uma espécie de casa noturna exclusiva para super-heróis, mas apenas o Tick pode entrar, com Arthur tendo de esperá-lo no Sidekick Lounge, uma sala exclusiva para os parceiros.

Outros vilões de destaque na primeira temporada são El Seed, um girassol antropomórfico que quer se vingar dos animais pelo que eles fazem com as plantas (comem, usam como adorno etc.), e tem como capangas duas mulheres com roupa de abelha; Mr. Mental, que tem poderes hipnóticos que planeja usar para dominar o mundo, com a ajuda de sua assistente Mynda; The Breadmaster (O Padeiro), que consegue fazer bombas, armas e até capangas com massa de pão, e deseja usar essa habilidade para se vingar da Cidade por ter sido expulso da Escola de Padeiros, com a ajuda de seu assistente Buttery Pat (Pat Manteiga), que é feito de manteiga; Brainchild, um menino gênio do mal cujo cérebro é tão grande que não cabe na própria cabeça; The Evil Midnight Bomber (o Bombardeiro do Mal), que quer destruir o Comet Club com todos lá dentro; Thrakkorzog, alienígena da dimensão 14B que quer criar um clone do Tick para dominar o mundo; Pineapple Pokopo, ditador da Pokoponésia; e um grupo de supervilões reunidos pelo Terror que conta com a Vaca Comedora de Homens, a alienígena Tunn-La ("que não é desse mundo"), o gigantesco Human Ton (Tonelada Humana) e seu parceiro Handy (Mãozinha; um fantoche que aparentemente tem vontade própria), e Stalingrad (um universitário russo que o Terror acha que é Josef Stalin, seu aliado durante a Segunda Guerra Mundial).

Outros heróis que aparecem na primeira temporada são Caped Chameleon (traduzido para Camaleão Capa), que tem o poder de se camuflar com qualquer ambiente; Bi-Polar Bear (o Urso Bipolar), que nunca faz nada porque sempre muda de ideia; Human Bullet (Homem-Bala), que é disparado de um canhão de sua casa no subúrbio na direção do perigo por seu filho Fire Me Boy (algo como "me dispare, garoto"); Big Shot, uma paródia do Justiceiro, que anda com muitas armas e sempre as dispara mais que o necessário; e The Civic Minded Five (os Cinco Cívicos), equipe que conta com Four Legged Man (o Homem de Quatro Pernas), Feral Boy (que foi criado por lobos), Captain Mucilage (Capitão Mucilagem, que tem um canhão de cola), Jungle Janet (que é super forte) e Carpeted Man (o Homem-Carpete, capaz de disparar descargas de eletricidade estática, mas morre de calor porque seu uniforme é feito de carpete). Coadjuvantes de destaque incluem Dot, a irmã de Arthur, e Dinosaur Neil (Dinossauro Neil), um simpático paleontólogo que se transforma em um monstro de trinta metros de altura se não tomar seu remédio regularmente, graças a um bizarro acidente de laboratório.

Junto com a primeira temporada, seria produzido um jogo de videogame, desenvolvido pela Software Creations e publicado pela Fox Interactive, lançado para Super Nintendo e Sega Genesis (Mega Drive) em novembro de 1994. Assim como o jogo de arcade do Homem-Aranha, The Tick alterna fases de luta ao estilo Streets of Rage e fases de plataforma; o único personagem à disposição do jogador é o Tick, mas outros heróis, como Arthur, American Maid, Die Fledermaus, Sewer Urchin e até Oedipus fazem participações especiais ajudando o jogador em algumas fases - Arthur pode ser chamado e destrói todos os inimigos da tela, mas possui um número limitado de usos a cada fase. O jogo é inspirado não só no desenho, mas também nos quadrinhos - a primeira fase, por exemplo, é baseada em Night of a Million Zillion Ninjas, por isso a presença de Oedpius - e conta com 16 fases, sendo que nem todas têm chefes. Infelizmente, alguns dos melhores vilões, como El Seed e Barry, ficaram de fora; os chefes são Sagin, District Manager (um vilão menor dos quadrinhos), Forehead, Deadly Nose, Eyebrows Mulligan, o Cadeira, Chainsaw Vigilante, Red Scare e Thrakkorzog. O jogo não fez muito sucesso por dois motivos: primeiro, é absurdamente longo (com tempo estimado de três horas para sua conclusão), segundo, é absurdamente difícil, sendo praticamente impossível completá-lo sem usar múltiplos continues.

A primeira temporada seria exibida até 11 de fevereiro de 1995; em 9 de setembro de 1995, estrearia a segunda, também com 13 episódios, exibidos até 17 de fevereiro de 1996. Os roteiristas seriam Edlund e Liebmann-Smith (seis), Pippin Parker e Andy Yerkes (dois), Edlund e Randolph Heard, Jed Spingarn, Ralph Soll, Michael Rubiner, e Chris McCulloch (um cada); os episódios teriam nomes "normais", sem o padrão The Tick vs. (embora dois tenham Tick vs., sem o artigo, no título). No geral, a segunda temporada fez bastante sucesso, mas não tanto quanto a primeira.

Tick, Arthur, American Maid, Die Fledermaus e Ouriço Fedor retornariam, assim como a maioria dos heróis coadjuvantes. Os vilões que decidem tentar uma revanche contra o Tick são o Cadeira, Brainchild, El Seed, o Bombardeiro do Mal e o Terror. Novos vilões incluem Omnipotus, uma paródia de Galactus, que quer devorar a Terra (mordendo-a e engolindo os pedaços); Venus e Milo, que têm um raio que faz os braços dos heróis caírem; The Mother of Invention (A Mãe da Invenção), que cria uma máquina do tempo para dominar a história (e tem de ser detida por uma equipe formada pelo Tick, Leonardo da Vinci, Thomas Edison, Johann Gutenberg, George Washington Carver, Benjamin Franklin e o homem das cavernas que inventou a roda); Ottoman Empress (Imperatriz Otomana), que tem o poder de controlar a mobília; Deadly Bulb (Bulbo Mortal), vilão que usa lâmpadas e eletricidade como tema, e tem dois capangas chamados Watt e Socket; e Multiple Santa (o Papai Noel Múltiplo), criminoso que, enquanto escapa da polícia vestido de Papai Noel, sofre um acidente e ganha a habilidade de se multiplicar toda vez que recebe um choque elétrico. Em um dos episódios, uma raça alienígena conhecida como Hey (cuja única palavra que sabem pronunciar é Hey) está planejando destruir o universo, e outra raça alienígena, chamada What (traduzida para Quê), abduz Tick e Arthur para que eles os ajudem; em outro, os heróis são atacados por formigas, e Tick e Arthur têm de fugir do hospício comandado por Captain Sanity (o Capitão Sanidade, que não é um super herói) para negociar com sua rainha, Betty; vale citar também que o episódio com o Bulbo Mortal é uma paródia do programa de TV COPS, reality show bastante famoso na época. Uma nova coadjuvante que merece destaque é Carmalita, que usa uma roupa de traça idêntica à de Arthur, e se torna seu interesse amoroso.

O desenho ainda teria uma terceira temporada, que estrearia em 14 de setembro de 1996; os roteiros seriam de Edlund e Liebmann-Smith (cinco), Randolph Heard, Edlund e McCulloch, Liebmann-Smith e McCulloch, Heard e McCulloch, e um de Edlund, Liebmann-Smith e McCulloch. Quase todos tinham Tick vs. (sem o artigo) no título. A terceira temporada introduziu Speak, um "cachorro falante" (na verdade, uma capivara que só fala em sonhos e alucinações) que Tick decidiu adotar como mascote. Dot, Neil e Carmalita, assim como quase todos os heróis, estão de volta; os vilões que retornam são o Cadeira, o Padeiro e Mr. Mental. Os novos incluem Indigestible Man (Homem Indigesto), que não pode ser digerido; Baron Violent (Barão Violência), que tem um cinto capaz de multiplicar sua força; Eastern Bloc Robot Cowboy (Robô Caubói Comunista), que, bom, é um robô caubói comunista; Octopaganini, violinista de oito braços, e seus capangas, os irmãos Fortissimo. No último episódio, Tick e Arthur se voluntariam para serem professores de uma nova geração de super-heróis, cuja turma inclui Mr. Exciting (sempre animado com tudo), Gesundheit (que tem um super espirro), Flying Squirrel (garota que tem roupa de esquilo voador), Sarcastro (que se parece com Fidel Castro e tem o poder do super sarcasmo) e Baby Boomerangutang (que veste uma roupa de orangotango e usa bonecas de bebê como arma). Outros heróis novos que merecem destaque são Éclair e sua parceira Blitzen, que têm poderes ligados à eletricidade e participam do Programa de Intercâmbio de Super-Heróis, com Éclair vindo para a Cidade combater o Padeiro ao lado de Arthur, e Tick indo para Antuérpia, Bélgica, enfrentar Octopaganini ao lado de Blitzen.

A terceira temporada teria apenas dez episódios, o último exibido em 24 de novembro de 1996; sua baixa audiência faria com que a Fox decidisse não renovar para uma quarta. Em 1997, o canal Comedy Central começou a reprisar os episódios, o que fez com que o desenho se tornasse um grande sucesso também entre os adultos. Diante do bom desempenho das reprises, a Fox negociou com Edlund a produção de um longa-metragem de animação para ser exibido na TV, mas as negociações não foram para a frente. Em 2000, Edlund voltaria a ser procurado, mas dessa vez para conversar sobre a possibilidade de ser produzida uma série com atores, ao invés de um desenho animado.

O produtor executivo Larry Charles queria se aproveitar da popularidade do desenho entre os adultos para lançar uma série, mas, acreditando que uma série de super-heróis não obteria o sucesso esperado, planejava fazer algo nos moldes de Seinfeld, focando nas relações interpessoais entre os quatro personagens principais. Em maio de 2000, seria gravado um piloto, com roteiro de Edlund, Liebmann-Smith, McCulloch e Heard, e direção de Barry Sonnenfeld, que financiaria a produção através de sua empresa Sonnenfeld/Josephson Worldwide Entertainment. Como a série seria voltada para o público adulto, poderia ter um tom mais próximo ao dos quadrinhos, com piadas mais elaboradas e algumas de cunho sexual - um dos episódios, por exemplo, usa o fato de que Arthur decidiu se tornar super-herói e passou a morar com o Tick como alegoria para a homossexualidade, com direito à mãe de Arthur o internando em uma clínica psiquiátrica para que ele abandone esses hábitos. Edlund deixaria bem claro que não aceitaria, entretanto, palavrões, mas, mesmo assim, um deles seria colocado no roteiro do piloto. A falta de memória do Tick também voltaria a ser explorada, e sua origem seria mais uma vez alterada: assim como no desenho, ele teria uma origem nebulosa, mas seria convencido a se tornar protetor da Cidade pelos funcionários de uma rodoviária na qual morava e "protegia".

O quarteto principal da série era formado por Tick (Patrick Warburton), Arthur (David Burke), Captain Liberty (Liz Vassey) e Batmanuel (Nestor Carbonell). Captain Liberty (Capitã Liberdade na versão traduzida) é uma super-heroína a serviço do governo, que usa um uniforme dourado que lembra um pouco a Estátua da Liberdade, com direito a tiara e a uma tocha que é usada como computador portátil; já Batmanuel, que tem sotaque latino, é preguiçoso, mulherengo e meio trambiqueiro, fingindo ser um dos maiores super-heróis do mundo, mas sem fazer muita questão de se esforçar para alcançar esse título por conta própria - até mesmo seu carro, o Batmanuelmóvel, é um carro comum e bem velho, mas ele age como se fosse a última tecnologia do combate ao crime. Originalmente, Capitain Liberty e Batmanuel seriam American Maid e Die Fledermaus, mas, em 1999, a Fox vendeu toda a sua programação infantil para a Disney, o que fez com que os produtores da série não pudessem usar os personagens, tendo de modificá-los; assim como American Maid e Die Fledermaus no desenho, no passado Capitain Liberty e Batmanuel tiveram um caso, mas, na série, as alfinetadas que um dá no outro são bem mais adequadas ao público adulto.

Como é centrado nas relações entre os personagens, e não em seus atos heroicos, a série não possui tantos heróis e vilões extravagantes - ou paródias - quanto os quadrinhos e o desenho; além de Tick e Arthur, os únicos personagens do desenho que aparecem na série são Red Scare (Carrick O'Quinn), que na série é um robô e não um mercenário; o Terror (Armin Shimerman, o Quark de Deep Space Nine), que tem 112 anos mas continua fazendo o mal; e Dot (Lisa Fredrickson) - que estreou nos quadrinhos antes de no desenho, então não passou a ser propriedade da Disney. Heróis exclusivos da série que merecem destaque são The Champion (O Campeão, interpretado por Jonathan Penner), líder da Liga dos Heróis; Fiery Blaze (Chama da Justiça, interpretado por Ron Perlman, de Hellboy) e seu parceiro Friendly Fire (Fogo Amigo, interpretado por Patrick Breen), que têm poderes relacionados ao fogo; e The Immortal (O Imortal, interpretado por Sam McMurray), que é imortal - ou quase. O único vilão exclusivo da série é Destroyo (Kurt Fuller), que quer usar armas nucleares para destruir o mundo. Outros personagens da série que merecem destaque são o Sr. Fishladder (Christopher Lloyd), chefe de Arthur no escritório de contabilidade; Francis Peacock (Dave Foley), dono da clínica de recuperação de super-heróis; Sybil Cyllum (Kari Coleman), mulher que alega que o Tick é seu marido; e Stacy Waxman (Missi Pyle), garota por quem Arthur era apaixonado no colégio.

Os uniformes de Tick e Arthur são extremamente fiéis aos dos quadrinhos e desenhos, exceto por um detalhe: a face do Tick é totalmente exposta, ao invés de só a boca e o queixo. Essa seria uma decisão da figurinista Colleen Atwood, que já havia trabalhado com Warburton, e sabia que uma das principais características de suas atuações eram as expressões faciais; Edlund até chegaria a pedir que uma máscara que cobrisse os olhos fosse adicionada, mas depois concordaria que era impossível obter a mesma gama de emoções com os olhos cobertos. As antenas do Tick se moviam, sendo controladas por controle remoto; o efeito ficaria tão bom que alguns veículos de comunicação da época noticiariam que elas eram de computação gráfica. Os uniformes de Captain Liberty e Batmanuel no piloto eram ligeiramente diferentes dos usados no restante da série, com a maioria das modificações tendo sido feita a pedido dos atores; Captain Liberty, por exemplo, no piloto, tem a testa exposta e usa calças compridas, mas, no restante da série, tem franja e usa shorts - bem curtos, ao ponto de revelar parte de suas nádegas, o que foi considerado bastante ousado na época.

O intuito de Edlund era que a série fosse comprada pela Fox ainda em 2000, mas, por uma série de razões, o canal só daria a luz verde para sua produção em 2001, com o piloto sendo exibido apenas em 8 de novembro. Por questões orçamentárias, seriam gravados (sem contar o piloto) apenas oito episódios, algumas vezes com vários meses entre um e outro; os roteiros seriam de Edlund, Larry Charles, Edlund e Charles, Liebmann-Smith, MCulloch, Ross Venokur, David Sacks, e Lon Diamond. A Fox prometeria a Sonnenfeld que, a série fazendo sucesso, novos episódios seriam encomendados, e ela dividiria os custos. Isto, infelizmente, não aconteceu: com baixa audiência desde o início, a série seria cancelada no início de 2002, com o último episódio indo ao ar em 31 de janeiro. Em entrevistas posteriores, Warburton reclamaria que a Fox não levaria a série a sério, considerando-a cara demais para uma série de comédia, que os produtores não tinham ideia do que estavam fazendo, e que o canal tomaria duas decisões equivocadas: primeiro, colocaria a série às quintas-feiras às 20h30, mesmo horário no qual, em outros canais, iam ao ar dois programas de imenso sucesso, Survivor, na CBS, e Must See TV, na NBC, com a série do Tick não tendo chance contra essas duas; segundo, os episódios (como a Fox também já havia feito com Firefly) não iriam ao ar na ordem em que foram gravados - o episódio no qual Tick e Arthur enfrentam o Terror, que deveria ter sido o segundo, foi o último - o que prejudicou a compreensão da série pelos espectadores. Também em entrevistas, Sonnenfeld declarou que The Tick foi a melhor série na qual ele já trabalhou, e deu a entender que a Fox não quis investir nela por não ser uma produção "da casa". Curiosamente, apesar da baixa audiência, as críticas à série foram extremamente favoráveis, e ela conseguiu reunir uma base de fãs fiéis e apaixonados.

Após o cancelamento da série, o Tick passaria quinze anos somente dando as caras nos quadrinhos, até que, em 2016, a Amazon entraria em contato com Edlund, para conversar sobre a possibilidade de produzir uma nova série do Tick, que estrearia em seu serviço de streaming, o Amazon Prime Video. Para aproveitar o sucesso dos filmes de super-heróis, os executivos da Amazon queriam que a nova série fosse mais parecida com o desenho do que com a série anterior, que tinha meio cara de sitcom; Edlund, então, decidiria fazer uma versão do Tick bem mais séria, ao estilo dos filmes da Marvel - ainda com muito humor, contando com alguns absurdos, mas sem escracho (ou quase, como veremos em breve). A princípio, a Amazon encomendaria apenas um piloto, que estrearia em 18 de agosto de 2016; depois do sucesso do piloto, ela encomendaria mais cinco episódios, que estreariam em 25 de agosto de 2017, fechando a primeira metade da primeira temporada (com um baita cliffhanger). O sucesso desses cinco episódios garantiria a produção de mais seis, que estreariam em 23 de fevereiro de 2018, para o total de 12 episódios na primeira temporada. Os roteiros da primeira temporada seriam de Edlund (dois, incluindo o piloto), David Fury (dois), Susan Hurwitz Arneson (dois), José Molina (dois), Edlund e Fury, McCulloch e Molina, Joe Piarulli e Luan Thomas, e Mark Ganek. Apesar de mais séria, a nova série traria toneladas de referências ao desenho, à série antiga e até aos quadrinhos, incluindo algumas piadas "recicladas".

Na nova série, a Era dos Super Heróis começou em 1908, com a chegada, a nosso planeta, de Superian (que, em todos os sentidos, é o Super-Homem, com a única diferença de que já saiu da nave adulto, interpretado por Brendan Hines); após a chegada de Superian, que aparentemente não envelhece, não somente começariam a surgir vários supervilões, mas também vários indivíduos com poderes sobre-humanos, que o governo decidiu chamar de Categorias - na verdade o nome de um sistema de classificação, segundo o qual, quanto mais alta a categoria, mais poderoso é o indivíduo, com Superian, o mais poderoso de todos, sendo um Categoria 5. Para manter os super-heróis na linha, o governo cria uma agência chamada AEGIS, na qual todos devem se registrar; o principal grupo de super-heróis da AEGIS é o Flag Five (Super Cinco na versão brasileira), composta por Uncle Samson (que deveria ser um trocadilho com o nome do Tio Sam e do herói bíblico Sansão, mas acabou traduzido para Tio Samuel), Mighty Atlas (Poderoso Atlas), Sedona, Straight Shooter (Atirador Astuto) e Christian Soldier (Soldado Cristão), que contava com um mascote, o cachorro Onward (Avante).

O arqui-inimigo de Superian era o supervilão Terror (que envelhece, mas aparentemente não deixa esse empecilho prejudicar seus planos, interpretado por Jackie Earle Haley, o Rorschach de Watchmen), que ninguém sabe quantos anos tem, mas luta contra Superian desde 1908. Quinze anos antes dos eventos da série, o Terror foi dado como morto após uma luta contra Superian, mas Arthur (Griffin Newman), jamais acreditou nisso, e, enquanto trabalhava como contador, recolhia provas de que o vilão ainda estava vivo e trabalhando secretamente em algum plano maligno. Sua irmã, Dot (Valorie Curry), é paramédica, mas, através de seu contato, Stosh (Tyler Bunch), secretamente cuida de criminosos feridos em lutas contra super-heróis ou contra a polícia, o que, de certa forma, também a mantém a par das investigações de Arthur.

Um dia, Arthur está investigando a entrega de um carregamento suspeito no porto quando, do nada, surge o Tick (Peter Serafinowicz), super-herói superforte, quase invulnerável e totalmente sem memória, que imediatamente cisma que Arthur deve acompanhá-lo em sua luta contra o crime. O Tick não somente decide se mudar para a casa de Arthur e ajudá-lo em sua investigação como também rouba um dos itens do carregamento suspeito que Arthur estava investigando, um uniforme de homem-traça, que ele decide que é um presente do destino para que Arthur se torne um super-herói. Para serem bem-sucedidos em sua cruzada, eles terão que lidar com dois supervilões: Ramses IV (Michael Cerveris, de Fringe), líder de uma gangue criminosa temática de Egito Antigo, e Miss Lint (traduzida para Dona Poeira, interpretada por Yara Martinez), antiga ajudante do Terror, que, após sua aparente morte, se tornou subalterna de Ramses IV mas não está nada satisfeita, desejando destroná-lo e se tornar a chefe; Lint pode armazenar e disparar eletricidade estática do ambiente - mas não controlá-la, precisando de braceletes especiais para isso - e seu apelido vem do fato de que, como ela concentra muita eletricidade estática, a poeira está sempre a orbitando e grudando nas suas roupas.

Além dos dois vilões, Tick e Arthur ainda têm de lidar com o anti-herói Overkill (bizarramente traduzido para Escracho, intepretado por Scott Speiser), ciborgue treinado no uso de todo tipo de arma, que também desconfia que o Terror está vivo, e não se importa de matar todo mundo que encontra pelo caminho até provar sua tese; Overkill tem um "parceiro", um barco com inteligência artificial chamado Dangerboat (Navegador na versão traduzida, voz de Alan Tudyk), que também serve como seu meio de transporte e base de operações. Outros personagens de destaque na primeira temporada são Joan Everest (Patricia Kalember), mãe de Arthur e Dot; Walter (François Chau), segundo marido de Joan e padrasto de Arthur e Dot; Midnight (Meia-Noite), cachorro falante que se torna um autor de sucesso (voz de Townsend Coleman, que dublava o Tick no desenho); Derek (Bryan Greenberg), ex-marido de Lint; Goat (Bode, interpretado por Kahlil Ashanti), dono do mercadinho frequentado por Arthur; Frank (Joshua Schubart), braço-direito de Ramses IV; Dr. Mischa Karamazov (John Pirkis), cientista bielorrusso criador do uniforme de Arthur; Very Large Man (Homem Muito Grande, referenciado apenas como VLM em inglês e HMG na versão traduzida, interpretado por Ryan Woodle), homem que começa a crescer sem parar após um incidente bizarro; e Tinfoil Kevin (Kevin Alumínio, interpretado por Devin Ratray), sem-teto que mora em uma cabeça de robô gigante decepada perto da casa de Arthur, que é especialista em super-heróis e supervilões, e ganhou esse apelido por usar um daqueles chapeuzinhos de papel alumínio normalmente associados a quem não bate bem da cabeça.

O sucesso da primeira temporada levaria à produção de uma segunda, com 10 episódios que estreariam em 5 de abril de 2019, com roteiros de Edlund (dois), Arneson (dois), Kit Boss (dois), Ganek, Dan Hernandez e Benji Samit, Adam Starks e Francesca Gailes, e Johanna Stokes. Na segunda temporada, Tick e Arthur tentam se tornar membros da AEGIS, que está selecionando super-heróis para um novo Flag Five, enquanto Overkill, Dangerboat e Dot investigam o reaparecimento de um antigo inimigo que Overkill julgava morto. Outros personagens da primeira temporada que retornam para a segunda são Superian, Lint, Frank, Tinfoil Kevin, Walter e Joan. Uma das principais mudanças para a segunda temporada foi o uniforme do Tick, que na primeira se parece com uma armadura, mas na segunda é totalmente liso, como o dos quadrinhos e do desenho - o primeiro episódio dá até uma explicação bizarra para a mudança.

Novos personagens da segunda temporada são Lobstercules (Lagostércules, interpretado por Niko Nedyalkov, mas com voz de Liz Vassey), lagosta antropomórfica enorme e tão forte quanto o Tick; o comandante da AEGIS, Tyrannosaurus Rathbone (apelido Ty em inglês e Tito na versão traduzida, interpretado por Marc Kudisch); o principal cientista da AEGIS, Dr. Agent Hobbes (John Hodgman); as agentes gêmeas da AEGIS Miranda e Veranda Lee (ambas interpretadas por Clara Wong); os criminosos Irmãos Donnelly, Danny (Hunter Emery), Denny (Brian Faherty), Donny (Happy Anderson) e Dougie (Lucas Nixon); Black Market Bob (Jayne Houdyshell), que vende armas no mercado negro; Edgelord (Lordextremo, interpretado por Julian Cihi), que Lint contrata como seu assistente; e os super-heróis Flexon, o Homem Flexível (Steven Ogg), Sage, o Supernumerário (uma paródia do Dr. Estranho, interpretado por Clé Bennett) e Bronze Star (Estrela de Bronze, interpretado por Adam Henry Garcia).

A segunda temporada, infelizmente, não faria tanto sucesso quanto a primeira, e a Amazon decidiria não produzir uma terceira - o que foi uma pena, já que o último episódio da segunda sugeriu o aparecimento de mais um vilão que já apareceu nos quadrinhos e no desenho. Edlund ainda negociaria com outros serviços de streaming para ver se algum se interessava em produzir a terceira temporada, mas sem sucesso. Por enquanto, mais uma vez, o Tick está restrito aos quadrinhos. Mas não será surpresa alguma se, de repente, ele voltar novamente à TV.

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