domingo, 26 de agosto de 2018

Escrito por em 26.8.18 com 0 comentários

Uma Galera do Barulho

Quando eu era adolescente, eu assistia a muitas séries "para toda a família". Minha preferida era Step by Step, sobre a qual já fiz um post aqui no átomo, e que até hoje lamento não ter sido lançada em DVD em nenhum lugar do mundo. Havia outra, entretanto, da qual talvez eu gostasse tanto quanto de Step by Step, mas a qual eu assistia muito pouco, e, por essa razão, não ficou tão gravada em minha memória. O motivo pelo qual eu assistia pouco era que, na época, nós já tínhamos TV a cabo, e eu já estava dando preferência a assistir programas legendados, de forma que assistia pouco os canais abertos; até onde eu soubesse, essa série não era exibida em nenhum dos canais por assinatura que faziam parte do nosso pacote, apenas no SBT, evidentemente dublada, com comerciais, e em um horário que não era muito bom para eu acompanhar. Ainda por cima, como o SBT não costuma ser muito sagaz para traduzir nomes de séries (eu sempre gosto de mencionar que The Dead Zone, protagonizada por um homem com poderes paranormais, eles resolveram chamar de O Vidente, enquanto Medium, protagonizada por uma mulher que tem visões, eles resolveram chamar de A Paranormal), ela acabou ganhando um nome que eu achava extremamente ridículo: Uma Galera do Barulho. Sério, quem é que escolhe esses nomes?

Voltando à vaca fria, apesar de gostar muito da série, como já foi dito, eu a assistia pouco, e, depois que ela parou de ser exibida, eu meio que a esqueci. Essa semana, entretanto, acabei me lembrando dela por acaso, quando alguém mencionou Kelly, uma de suas personagens, em uma conversa em uma rede social sobre personagens de séries pelas quais as pessoas envolvidas na conversa eram apaixonados na adolescência. Pois é. Antes que me perguntem, eu não estava envolvido na conversa, apenas decidi ler. Mas provavelmente eu escolheria a Tomoko de Cybercop.

Enfim, ao me lembrar da série, é óbvio que eu ficaria com vontade de escrever um post sobre ela. Que é esse aqui que vocês estão lendo. E que, infelizmente, vai ficar com o ridículo nome em português no título, para que as pessoas saibam do que eu estou falando. Assim, hoje é dia de Uma Galera do Barulho no átomo.

Com todo o respeito a quem traduziu o título, a partir de agora eu só vou chamar a série pelo seu nome original, Saved by the Bell, expressão que é o equivalente em inglês para o nosso "salvo pelo gongo", mas que, literalmente, significa "salvo pelo sino", sendo bell também o nome que se dá em inglês para o sinal escolar, aquele que toca quando uma aula está começando ou acabando; o nome da série, portanto, é um trocadilho, já que ela é ambientada em uma escola.

Quando a série foi criada, porém, ela era bem diferente da versão que acabaria fazendo sucesso. Tudo começou em 1986, quando o produtor Peter Engel, especializado em séries de comédia para toda a família, recebeu um pedido de Brandon Tartikoff, presidente do canal NBC, para produzir uma nova série. Tartikoff havia tido, na sexta série, uma professora chamada Srta. Bliss, que o marcou para toda a vida, e sempre teve vontade de criar uma série ambientada em uma escola e protagonizada por uma professora inspirada nela. Sob orientação de Tartikoff, Engel criaria Good Morning, Miss Bliss, cuja protagonista, Carrie Bliss, era uma professora de uma turma de sexta série na escola John F. Kennedy, da cidade de Indianápolis. Inicialmente, Tartikoff pensaria na veterana atriz Sandy Duncan para o papel de Bliss, mas os executivos da NBC o convenceriam a escalar Hayley Mills, atriz britânica famosa por ter sido a protagonista de Poliana, em 1960, aos 14 anos, mas cuja carreira estava meio estagnada nos anos 1980. Dentre seus alunos, três nomes que viriam a se tornar bastante conhecidos: Jonathan Brandis, que em 1990 seria Bastian Bux, o protagonista de A História sem Fim 2; Brian Austin Green, o futuro David Silver de Barrados no Baile; e Jaleel White, o Steve Urkel de Family Matters.

O piloto de Good Morning, Miss Bliss seria exibido pela NBC em 11 de junho de 1987, mas já antes disso o canal havia comunicado a Tartikoff que não investiria na série. Não querendo desistir, Tartikoff entraria em contato com o canal a cabo Disney Channel, e os convenceria a investir em uma temporada de 13 episódios. Os executivos da Disney, porém, pediriam por mudanças, achando que o piloto era tão centrado em Bliss que não dava espaço para nenhum outro personagem. Além disso, eles pediram para que a turma passasse a ser de oitava série, pois os alunos mais velhos ofereceriam mais oportunidades de situações que poderiam ser usadas nos episódios.

Já escolado (sem trocadilho) nas séries de TV, Engel sabia que, se a temporada fosse fazer sucesso, seria não somente pelo carisma de Bliss, mas apenas se ela tivesse alunos interessantes e capazes de sustentar suas próprias histórias. O primeiro que ele criaria seria Zack Morris, segundo ele, "um garoto incorrigível, que poderia mentir na sua cara e confessar que estava mentindo, e fazê-lo amá-lo mesmo assim". Devido a essas características, os testes para o papel seriam difíceis, com poucos candidatos realmente chamando a atenção, à exceção de Mark-Paul Gosselaar, à época com 14 anos, que cativaria a diretora de elenco e seria escalado para o papel de Zack imediatamente. Como curiosidade, vale citar que os cabelos de Gosselaar são, na verdade, castanhos, mas, no dia do teste, por um acaso eles estavam tingidos de louro; como os produtores acharam o visual apropriado para o personagem, o ator teria que tingi-los para todos os episódios da série.

O melhor amigo de Zack seria Samuel Powers, apelido Screech (algo como "guincho", no sentido do som produzido por um animal, não daquele caminhão com um gancho atrás), um garoto nerd e introvertido, sempre envolvido nas confusões do amigo mais descolado. Durante os testes, os candidatos a Screech leriam o texto junto com Gosselaar, e seria Gosselaar quem insistiria que o contratado deveria ser Dustin Diamond, que, segundo ele, "era um Screech na vida real". Diamond realmente seria escalado, e apenas após a gravação do piloto é que Engel descobriria que ele tinha apenas 11 anos, e não 14 como havia imaginado no dia do teste; como ele se saiu muito bem, foi mantido, mas, mais tarde, Engel confessaria que, se soubesse que ele era tão mais jovem que o restante do elenco, não o teria aprovado.

O trio principal de alunos se completaria com Lisa Turtle, que, na sinopse original, era judia, rica, mimada, materialista e obcecada por compras. Durante os testes, Engel conheceria a atriz afro-americana Lark Voorhies, e, encantado com o teste que ela faria para outro papel, decidiria reescrever Lisa para ela - que continuaria rica, mas deixaria de ser mimada e materialista para ser uma expert em moda que adora fofocas. A melhor amiga de Lisa era Nikki Coleman, garota com um forte senso moral que sempre tentava convencer seus amigos a fazer a coisa certa, interpretada por Heather Hopper; outro aluno de destaque era Mikey Gonzalez, interpretado por Max Battimo, amigo e rival de Zack, excelente em termos acadêmicos, mas introvertido e com dificuldades para interagir com as garotas.

Completavam o elenco principal Tina Paladino, interpretada por Joan Ryan, professora melhor amiga de Bliss; Mylo Williams, interpretado por T.K. Carter, o zelador da escola; e o diretor, o Sr. Belding, único personagem além de Bliss que estava presente no piloto. No piloto, ele se chamava Gerald Belding, era interpretado por Oliver Clark, e era um homem já idoso e sem nenhum senso de humor; quando a série começou a ser produzida, o personagem foi reformulado, passou a ser mais jovem e bem humorado, a se chamar Richard Belding, e a ser interpretado por Dennis Haskins.

Good Morning, Miss Bliss seria exibida pelo Disney Channel entre 13 de novembro de 1988 e 18 de março de 1989. Infelizmente, a série não teria boa audiência desde o início, e, antes mesmo de seu final, a Disney informaria Tartikoff que não estava interessada em encomendar uma segunda temporada. Tartikoff, entretanto, parecia se recusar a abrir mão de sua ideia, e, se aproveitando de ser presidente da NBC, se reuniria mais uma vez com os executivos do canal, para tentar convencê-los a investir novamente nela.

Ao invés de ficar socando prego, Tartikoff decidiu modificar a série para que ela tivesse mais aceitação do público. Através de uma pesquisa, ele descobriria que os episódios mais focados nas relações entre os alunos foram os mais bem aceitos e mais comentados, o que o levou à triste, porém necessária, decisão de remover Bliss do programa, transformando os alunos em protagonistas. Tartikoff sabia que essa alteração mexeria com um ponto-chave dos desejos dos executivos do canal: no fim dos anos 1980, a NBC vinha perdendo público nas manhãs de sábado, tradicionalmente dedicadas à programação voltada para crianças e pré-adolescentes; sua proposta, portanto, era que a "nova" série fosse exibida nesse horário, com enredos voltados a crianças entre 10 e 12 anos.

Uma série com atores de carne e osso (ou seja, que não fosse de animação), ainda por cima protagonizada por adolescentes, exibida nas manhãs de sábado era algo completamente inédito na televisão norte-americana da época, de forma que Tartikoff teve de usar muita lábia não somente para convencer os executivos a apostar nela, mas também Engel a continuar como produtor. A princípio, Engel não acreditava que uma série nesse horário seria bem sucedida, e não tinha o desejo de trabalhar com programação infanto-juvenil; sua esposa, porém, o convenceria de que ele tinha nas mãos a chance de fazer algo inédito, que, se desse certo, logo seria copiado pelos demais canais, e só por isso já valeria a pena. Engel, entretanto, não estava satisfeito com a ambientação em Indianápolis, acreditando que a série seria mais cativante para o público-alvo caso fosse ambientada em uma cidade maior e com mais atrativos; com isso, ele moveria a escola para Los Angeles, mudaria seu nome para Bayside High, e criaria um segundo local principal, uma lanchonete chamada The Max, onde os alunos se encontrariam depois da escola, para que nem todas as histórias tivessem de ser ligadas ao ambiente escolar. Como os atores também já estavam um ano mais velhos, ele optaria por fazer da escola uma high school, o equivalente nos Estados Unidos ao nosso Ensino Médio, com a série começando quando Zack e seus amigos estavam entrando no Primeiro Ano.

Engel decidiria manter apenas quatro personagens de Good Morning, Miss Bliss: Zack, Screech, Lisa e o Sr. Belding, todos interpretados pelos mesmos atores dos 13 episódios exibidos pelo Disney Channel; desde o início, porém, a série foi tratada pela NBC como um reboot, ou seja, para todos os propósitos, esses não eram os mesmos personagens de Good Morning, Miss Bliss, que, até onde se sabia, nem havia existido. Por causa disso (e já que não contava mais com Bliss), a nova série precisava de um novo nome, e o produtor Tom Tenovich sugeriu Saved by the Bell. Engel detestou, mas Tartikoff adorou, e esse acabou sendo o nome.

Após decidir manter Zack, Screech e Lisa, Engel decidiria fazer do grupo principal um sexteto, composto por três meninos e três meninas; para isso, ele criaria três personagens novos. O primeiro seria Albert Clifford Slater (que se apresentava como A.C. Slater, e era chamado por todos pelo sobrenome), um atleta popular, filho de militar (o que, nos Estados Unidos, normalmente significa que sua família se muda muito e ele é sempre o "garoto novo" em qualquer escola), e que andava sempre com uma jaqueta de couro. Originalmente, Slater seria ítalo-americano, mas, como a produção não gostou de nenhum dos atores que se candidataram ao papel, decidiu deixar isso pra lá e testar todos os tipos de atores; o escolhido acabaria sendo o latino Mario Lopez, dançarino e bateirista que, alguns anos antes, tinha feito parte do elenco do programa Kids Incorporated.

A segunda personagem seria uma "menina perfeita", personagem bastante presente em séries ambientadas em escolas: linda, inteligente, chefe das cheerleaders, capitã das equipes de vôlei, natação e softbol, e interesse amoroso tanto de Zack quanto de Slater - e provavelmente de mais da metade da escola. Para interpretar a superpopular Kelly Kapowski, os produtores ficariam na dúvida entre Tiffani-Amber Thiessen, Elizabeth Berkley e Jennie Garth (que, mais tarde, viria a ser a Kelly Taylor de Barrados no Baile), todas as três os tendo impressionado nos testes. Thiessen havia testado para o papel de Nikki em Good Morning, Miss Bliss, mas não havia agradado; em seu teste para Kelly, porém, ela não somente impressionaria pelo quanto havia melhorado, mas também convenceria Engel de que era a escolha certa para o papel, por sua aparência e maneirismos. Os demais produtores preferiram Berkley, mas Engel acabou os convencendo de que Thiessen era a melhor escolha.

Berkley, porém, era vista pelos produtores como a melhor atriz em todos os testes - ela também havia testado para um papel em Good Morning, Miss Bliss, o de uma garota que seria o interesse amoroso de Zack em um dos episódios, chamada Karen, mas acabaria descartada por ser bem mais alta que Gosselaar, e, na televisão norte-americana, é considerado estranho um casal no qual a mulher é mais alta que o homem (pois é). Para não deixar de contar com ela no elenco, e para convencer os demais produtores de que Thiessen deveria interpretar Kelly, Engel sugeriria dar a Berkley o papel da terceira aluna nova, Jessie Spano, mesmo sem ela ter feito o teste para ele. Jessie era o que hoje se chama de menina empoderada, tendo personalidade forte, sendo dona de seu nariz, e realizando ativismo em prol da causa feminista; aproveitando que Berkley tinha 1,78 m, Engel ainda incluiu nas histórias que ela sofria bullying por causa da altura, o que contribuiu ainda mais para o caráter social da personagem.

Além do Sr. Belding, o único outro adulto do elenco principal seria Max, dono da lanchonete The Max, interpretado pelo mágico Ed Alonzo, que, em alguns episódios realmente fazia truques de mágica. Max, contudo, não agradaria e só seria usado na primeira temporada e em um único episódio da segunda; para todos os efeitos, a partir de então ele ainda existia (ou seja, não vendeu The Max para ninguém), só não aparecia mais.

A primeira temporada de Saved by the Bell teria 16 episódios, o primeiro estreando em um domingo, 20 de agosto de 1989, e os demais sendo exibidos aos sábados pela manhã, conforme originalmente planejado, até o último, em 16 de dezembro. O sucesso da primeira temporada levaria a NBC a encomendar uma segunda, inicialmente também de 13 episódios, mas que depois, para que a emissora não ficasse com horários vagos até o fim do ano, seria esticada para 18, com o primeiro estreando em 8 de setembro e o último indo ao ar em 23 de dezembro de 1990, que, por acaso, foi um domingo - o segundo episódio da série a ir ao ar em um domingo, portanto. A segunda temporada manteria o sucesso da primeira, e, evidentemente, seria encomendada uma terceira.

A partir da terceira temporada, entretanto, a NBC faria uma certa bagunça. Para começar, ao encomendar a terceira temporada, animada com o sucesso da série, ela pediria nada menos que 26 episódios, o suficiente para que a série ficasse no ar de setembro até maio; antes da estreia da terceira temporada, porém, o canal fez uma grande reformulação de sua grade, e chegou à conclusão de que não seria possível manter esse plano. Como os episódios já estavam pagos e filmados, a solução foi exibir, em algumas datas, dois deles, seguidos. Assim, a terceira temporada, de 26 episódios, seria exibida entre 14 de setembro e 21 de dezembro de 1991, com dois episódios indo ao ar em 11 das 15 datas disponíveis. A audiência da terceira temporada não seria tão alta quanto das duas anteriores, e os produtores chegaram a imaginar que a série não seria renovada para uma quarta; a NBC, entretanto, não somente renovaria a série para a quarta temporada, como também faria um pedido especial.

No início de 1992, a NBC pediria a realização de um filme para a TV com o elenco da série. O filme mostraria os seis amigos sendo convidados para passar as férias de verão no Havaí, em um resort de propriedade do avô materno de Kelly, Harry Bannister (Dean Jones). Ao chegar lá, eles descobrem que o Sr. Belding está hospedado no mesmo resort, e, após alguma diversão, que um inescrupuloso magnata do ramo imobiliário quer desapropriar o resort para a construção de um empreendimento; os sete, então, resolvem se unir para encontrar uma forma de ajudar o avô de Kelly. Chamado Saved by the Bell: Hawaiian Style, o filme deveria ter sido exibido realmente durante as férias de verão nos Estados Unidos, em julho de 1992, antes, portanto, da estreia da quarta temporada, mas as gravações acabariam sendo complicadas: para economizar, a NBC decidiria gravar a maior parte das cenas não no Havaí, mas em Santa Monica, Califórnia, com apenas as cenas onde não era possível fingir que o elenco estava no Havaí sendo gravadas lá; as gravações no Havaí, entretanto, se estenderam mais do que o esperado, o que acabou causando atrasos na edição, e, consequentemente, no adiamento da data em que o filme iria ao ar. Hawaiian Style acabaria sendo exibido em meio à quarta temporada, em 17 de novembro de 1992, a sexta-feira logo após o Dia de Ação de Graças (atualmente conhecida como Black Friday, por causa da promoção do comércio), em horário nobre.

Para a quarta temporada, a NBC a princípio pediria apenas 15 episódios, para que ela ficasse no ar entre setembro e dezembro com apenas um episódio sendo exibido por sábado. Por alguma razão, porém, antes mesmo da estreia da quarta temporada ela mudaria de ideia, e pediria mais 11. Isso causaria dois problemas aos produtores: primeiro, imaginando que a série seria cancelada após a quarta temporada, e aproveitando o fato de que o high school é composto por quatro anos, que, então, equivaleriam cada um a uma temporada da série, eles haviam filmado um "último episódio", no qual os seis amigos se formam no colégio. O segundo era uma questão de elenco: com seus contratos encerrados, Thiessen e Berkley optariam por não renovar; a primeira, na época, namorava Brian Austin Green, que já estava atuando em Barrados no Baile, e tinha esperança de também conseguir um papel naquela série, já então uma das mais famosas e de maior audiência na televisão norte-americana. Já Berkley, cujo desejo sempre foi fazer cinema, aceitaria um convite para protagonizar o polêmico Showgirls, imaginando que seria uma boa porta de entrada para o mundo da sétima arte. Ambas estavam enganadas - Thiessen só conseguiria entrar em Barrados no Baile em 1994, após Saved by the Bell ser definitivamente cancelada e após seu namoro com Green já ter terminado, enquanto o fracasso de público e crítica de Showgirls arrastaria a carreira de Berkley para baixo, levando-a a atuar em filmes de segunda linha até decidir retornar à TV em 2000 - mas, de qualquer forma, Kelly e Jessie tiveram de desaparecer sem explicação dos episódios novos.

Para que Lisa não ficasse sendo a única menina no elenco principal, Engel decidiria criar duas personagens novas. A primeira seria Tori Scott, interpretada por Leanna Creel, menina empoderada que, de certa forma, era uma versão feminina de Zack, começando como uma rival dele e mais tarde se tornando um interesse amoroso. Mas, após muito pensar, Engel decidiria prestigiar o elenco de alunos coadjuvantes, colocando cada um deles em evidência em um dos episódios, para que o grupo principal continuasse sendo um sexteto sem precisar de duas adições novas. Assim, personagens secundários como Ginger (Bridgette Wilson) e Ox (Troy Fromin) puderam brilhar um pouquinho.

Quando a quarta temporada estreou, começaram rumores de que a NBC renovaria a série também para uma quinta, de forma que os produtores resolveram "reservar" o último episódio, entregando apenas 25, exibidos entre 12 de setembro e 5 de dezembro de 1992 - dez dos quais não contavam com a presença de Kelly e Jessie, com Tori assumindo seu lugar. A audiência da quarta temporada, porém, seria a mais baixa das quatro exibidas até então, e a quinta não foi encomendada; diante disso, os produtores pediriam para que o último episódio, no qual os seis amigos se formam no colégio e partem para viver suas vidas, fosse ao ar após os outros 25, mas, com a grade de fim de ano já fechada, isso não foi possível, e esse episódio permaneceria inédito durante algum tempo.

Apesar de ser definida como uma série de "comédia para toda a família", Saved by the Bell frequentemente abordava temas como uso de drogas, direção sob influência de álcool, pessoas sem teto, divórcio e segundo casamento, morte de entes queridos, direitos das mulheres e questões ambientais, algo que era bastante raro na época em séries voltadas para o público infanto-juvenil; isso faria com que a série rapidamente se tornasse uma das mais respeitadas pelos educadores, sendo classificada como E/I (educativa e informativa) pelo FCC, o órgão que regula as emissoras de TV aberta nos Estados Unidos, o que, para os canais de TV, era extremamente interessante, já que, por lei, eles são obrigados a transmitir pelo menos três horas por semana de programas classificados como E/I. Isso faria com que Saved by the Bell se tornasse uma das mais requisitadas séries para transmissão em syndication, ou seja, para ser reprisada por diversos canais por todo o país, ao invés de apenas pela NBC.

Quando preparou o pacote para syndication, a NBC, visando lucrar mais, dividiria Hawaiian Style em quatro episódios, encaixados entre a terceira e a quarta temporada; além disso, ela acabaria ignorando sua própria estratégia de considerar Saved by the Bell como um reboot, incluindo também os 13 episódios de Good Morning, Miss Bliss, o que resultaria em um total de 102 episódios no pacote - sendo séries com mais de cem episódios mais caras para syndication que as com menos. Para tentar "encaixar" as duas séries, a NBC gravaria uma introdução, exibida antes de cada episódio de Good Morning, Miss Bliss, na qual Gosselaar fala para a câmera, explicando que os eventos de Good Morning, Miss Bliss se passam um ano antes dos de Saved by the Bell, e usaria a abertura de Saved by the Bell para ambas as séries, com os atores que estavam apenas nela sendo substituídos pelos que estavam apenas em Good Morning, Miss Bliss.

O grande sucesso da série em syndication levaria a uma decisão da NBC que os produtores considerariam inesperada e surpreendente: o canal simplesmente voltaria atrás e pediria uma quinta temporada. Não querendo prolongar a vida de Zack e seus amigos no colégio, os produtores pediriam para que a quinta temporada fosse ambientada em uma faculdade, e que o último episódio da quarta temporada fosse exibido, para que a formatura do sexteto pudesse ser mostrada. A NBC concordou, e, assim, a quinta temporada se chamaria Saved by the Bell: The College Years, e esteraria em 22 de maio de 1993, um sábado, pela manhã; no mesmo dia, mas no horário nobre, iria ao ar, finalmente, o último episódio da quarta temporada, que mostrava a formatura - na qual, bizarramente, estavam presentes Kelly e Jessie, mas não Tori.

Nem Thiessen, nem Berkley, nem Voorhies, nem Creel aceitariam retornar para a quinta temporada, na qual Zack, Slater e Screech passam a estudar na fictícia California University (Cal U); com isso, os produtores tiveram de criar três novas protagonistas femininas: Leslie Burke (Anne Tremko), Alex Tabor (Kiersten Warren) e Danielle Marks (Essence Atkins). Sem o Sr. Belding, o papel de "adulto" caberia a Mike Rogers (Bob Golic), o responsável pelo dormitório onde os três amigos vão morar, um ex-jogador de futebol americano linha dura, que começa a série com pouco senso de humor e paciência, mas aos poucos vai se tornando uma espécie de figura paterna para o trio.

Apesar de o primeiro episódio ter ido ao ar em maio, o restante da série só estrearia em setembro, de forma que o primeiro foi gravado como uma espécie de piloto, e a gravação dos demais só começaria após sua exibição; com isso, os produtores puderam testar as águas, e descobriram que o público não aceitou muito bem a substituição de todas as três meninas. Após muitas negociações, eles conseguiram convencer Thiessen a retornar à série, com Kelly, no segundo episódio, sendo transferida para a Cal U. Como, no primeiro episódio, Leslie havia sido apresentada como o novo interesse romântico de Zack, os produtores decidiriam manter esse triângulo amoroso, com Zack estando sempre na dúvida sobre de qual das duas ele gosta mais. Para que não houvesse sete protagonistas, com a entrada de Kelly, Danielle seria removida da série, desaparecendo sem maiores explicações.

Mesmo com a volta de Kelly, o público pareceu não se empolgar com a nova temporada, que teve baixa audiência desde o início e acabou cancelada após 19 dos 26 episódios encomendados terem sido produzidos, com o último indo ao ar em 8 de fevereiro de 1994. O último episódio, aliás, contava com a participação especial de Lisa, e não havia sido previsto para ser o último, com a série terminando com um cliffhanger, aquela situação de tensão que só se resolverá no episódio seguinte.

Para sorte dos produtores, o presidente da NBC na época, Warren Littlefield, era fã de Saved by the Bell, e, insatisfeito com o cliffhanger, encomendou mais um filme para a TV, no qual não somente ele se resolveria, mas a série ganharia um final definitivo. Chamado Saved by the Bell: Wedding in Las Vegas, nele Zack, Kelly, Screech, Slater e Lisa viajam até Las Vegas para que Zack e Kelly possam se casar, já que suas famílias são contra o casamento. O filme seria exibido em horário nobre em 7 de outubro de 1994, e, assim como Hawaiian Style, seria dividido em quatro episódios para as reprises em syndication.

Antes de terminar, vale falar rapidamente sobre um spin off da série, chamado Saved by the Bell: The New Class. Após a exibição do primeiro episódio de The College Years, a NBC não ficou muito satisfeita com o fato de a série não poder mais ser ambientada no Bayside High, e pediu para que uma segunda série de Saved by the Bell fosse produzida, com novos alunos frequentando a escola e a lanchonete The Max. Engel entregaria o projeto a Sam Bobrick, que faria praticamente uma cópia de Saved by the Bell, inclusive "reciclando" alguns enredos. Do elenco original, na primeira temporada, só restaria o Sr. Belding, mas, da segunda em diante, após o cancelamento de The College Years, Screech também passaria a integrar o elenco de The New Class, dessa vez não como aluno, mas como assistente do diretor.

Para promover The New Class, a NBC gravaria uma série de comerciais que unia o elenco da quarta temporada de Saved by the Bell ao da primeira de The New Class, como se fosse uma passagem de bastão dos personagens antigos para os novos - em um deles, por exemplo, Zack entrega a Scott, o novo protagonista, uma lista das fraquezas do Sr. Belding. Infelizmente, esses comerciais seriam exibidos uma única vez cada, durante reprises das quatro partes de Hawaiian Style, entre 7 de agosto e 11 de setembro de 1993.

The New Class conseguiria ser muito mais longeva que a série original, durando um total de sete temporadas; ela ficaria famosa, porém, por mudar consideravelmente o elenco dos alunos a cada temporada, o que era motivo de bastante reclamação dentre os que só a assistiam de vez em quando, e frequentemente se viam perdidos com os novos personagens. A primeira temporada teria um total de 13 episódios, exibidos entre 11 de setembro e 4 de dezembro de 1993, e nela os alunos seriam Scott Erickson (Robert Sutherland Telfer), o "novo Zack", um aluno que veio transferido da rival Valley High, extremamente carismático mas sempre aprontando; Thomas De Luca (Jonathan Angel), apelido Tommy D, capitão do time de futebol americano que trabalha na oficina mecânica do pai e tem uma rivalidade com Scott por causa de uma garota; Lindsey Warner (Natalia Cigliuti), a tal garota da frase anterior, a "nova Kelly", linda, inteligente, popular e envolvida com todas as atividades da escola, namorada de Tommy D mas interesse romântico de Scott; Barton Wyzell (Isaac Lidsky), apelido Weasel ("fuinha"), o "novo Screech", nerd atrapalhado e tímido com as garotas que se torna o melhor amigo de Scott; Megan Jones (Bianca Lawson), a melhor aluna da escola; e Vicki Needleman (Bonnie Russavage), cheerleader um tanto neurótica, melhor amiga de Megan e apaixonada por Scott.

Após as críticas de que a série era parecida demais com a original, Bobrick decidiu dar uma chacoalhada no elenco para a segunda temporada, substituindo Scott, Weasel e Vicki por três novos alunos: Brian Keller (Christian Oliver), um aluno de intercâmbio vindo da Suíça; Bobby Wilson (Spankee Rogers), aluno sempre em busca de fazer piadas e pregar peças; e Rachel Meyers (Sarah Lancaster), a "nova Lisa", especialista em moda e viciada em compras, que já havia feito uma participação em um dos episódios da primeira temporada. A segunda temporada teria 26 episódios, exibidos entre 10 de setembro e 31 de dezembro de 1994. Os novos personagens não agradaram, e Brian e Bobby foram removidos para a terceira temporada, junto com Megan, e substituídos por Ryan Parker (Richard Lee Jackson), uma nova versão de Scott, inclusive também sendo transferido da Valley High; Maria Lopez (Samantha Becker), cheerleader que lutava pelos direitos das minorias; e R.J. Collins (Salim Grant), apelido Hollywood, metrossexual que trabalhava como DJ. A terceira temporada também teria 26 episódios, exibidos entre 9 de setembro e 9 de dezembro de 1995.

Tommy D e Lindsay sairiam ao final da terceira temporada, com a série ficando sem nenhum aluno do sexteto da primeira; Hollywood, que não agradou, também sairia. Em seus lugares entrariam Nicky Farina (Ben Gould), meio-irmão de Ryan vindo de Nova Iorque; Katie Peterson (Lindsey McKeon), namorada de Nicky e capitã do time de natação da escola; e Cornelius Little (Anthony Harrell), que preferia ser chamado de Eric, novo capitão do time de futebol americano e também talentoso para a música. Um dos enredos centrais da quarta temporada, que também teve 26 episódios, exibidos entre 7 de setembro e 14 de dezembro de 1996, era um triângulo amoroso entre Nicky, Katie e Maria, e, no último episódio, os produtores decidiriam por uma estratégia ousada e destruiriam The Max com um grande incêndio. Mas a lanchonete voltaria com um cenário totalmente reformulado na quinta temporada, também de 26 episódios, exibidos entre 13 de setembro e 14 de dezembro de 1997, que também marcaria a substituição de Rachel por Liz Miller (Ashley Lyn Cafagna), aluna transferida pela qual tanto Ryan quanto Nicky se apaixonariam. Na sexta temporada, seria a vez de Ryan ser subsituído por Tony Dillon (Tom Wade Huntington), outro jogador de futebol americano e outro transferido da Valley High, que se torna namorado de Maria.

No final da quinta temporada, a audiência já estava extremamente baixa, e a NBC decidiria que a sexta temporada seria a última. Por alguma razão, porém, os executivos da NBC parecem não conseguir ficar sem mudar de ideia quando o assunto é Saved by the Bell, de forma que, quando os 26 episódios já estavam prontos, eles decidiriam dividi-los em duas temporadas. Assim, a sexta temporada teria 13 episódios, exibidos entre 12 de setembro e 5 de dezembro de 1998, e a sétima teria mais 13, exibidos entre 11 de setembro de 1999 e 8 de janeiro de 2000. Como todos esses episódios foram filmados em 1998, a sexta e a sétima temporadas são as únicas duas temporadas seguidas que contam com o mesmo elenco de alunos.

Assim como ocorreu com Saved by the Bell, ao saber com antecedência do cancelamento da série, os produtores prepararam um último episódio no qual os alunos "sobreviventes" participavam da formatura e tinham seus destinos brevemente comentados. Vale citar que, talvez para evitar um novo spin off, um novo destino é dado até mesmo ao Sr. Belding, convidado para ser reitor na Universidade do Tennessee em Chattanooga - a mesma universidade na qual Haskins se formou. Curiosamente, não é mencionado qual teria sido o destino de Screech.

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