segunda-feira, 6 de março de 2017

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M.I.A.

Eu já falei aqui várias vezes que: (a) meu gosto musical é um tanto confuso; e (b) eu não sou uma pessoa preconceituosa, de forma que, quando me indicam um livro/série/game/música, eu sempre dou uma chance, ao invés de rejeitar simplesmente por achar que não vou gostar. Assim, há uns três anos, quando uma amiga que curte música eletrônica me indicou M.I.A. - inclusive me passando algumas músicas dela em um pen drive - eu resolvi ouvir. Não é bem o tipo de música que eu gosto, mas achei legal, principalmente o sotaque dela. Desde então, passei a acompanhar os lançamentos da moça cingalesa, e, embora ache que as músicas mais antigas são melhores que as mais novas, hoje eu já digo para quem pergunta que eu gosto de M.I.A. O que surpreende algumas pessoas, mas tudo bem.

Justamente por causa dessa surpresa, eu relutei durante um tempo em falar sobre M.I.A. por aqui. Já faz bem uns dois anos que eu penso em escrever sobre ela, e sempre acabo desistindo. Depois de escrever sobre Lady Gaga, porém, pensei "por que não?", e, assim, hoje é dia de M.I.A. no átomo.

De família cingalesa (que é como se chama quem nasce no Sri Lanka, que, aliás, se pronuncia "shrilanca", e não "sirilanca"; eu trabalhei no mesmo prédio onde fica o consulado deles, um dia fui até lá e perguntei), e da etnia tâmil, M.I.A. nasceu Mathangi Arulpragasam, em 18 de julho de 1975, em Hounslow, Inglaterra; seu pai, Arul Pragasam, era engenheiro, escritor e ativista político - escrevendo textos de protesto sob o pseudônimo Arular - e sua mãe, Kala Arulpragasam, era costureira. Além de Mathangi, a qual chamavam carinhosamente de Maya, o casal teve mais dois filhos, Kali, que hoje é uma renomada designer de joias no Reino Unido, e Sugu.

Quando Maya tinha apenas seis meses de vida, seu pai, que havia acabado de fundar a organização política EROS (da sigla em inglês para "organização estudantil revolucionária eelam"), decidiu retornar ao Sri Lanka com a família, se estabelecendo na cidade de Jaffna. O Sri Lanka é uma ilha onde convivem diversos grupos étnicos, sendo o mais numeroso os sinhala, sendo dessa etnia o maior número de representantes no governo; em segundo lugar vêm os tâmil, que vivem principalmente no norte da ilha, e, desde que o Sri Lanka conquistou sua independência, em 1972, lutam pela criação de um estado independente tâmil, o qual chamam de Eelam, que, segundo eles, seria o nome "original" do Sri Lanka, embora hoje, na língua tâmil, o país seja chamado de "Ilankai", palavra que significa "serenidade" - "Sri Lanka", aliás, é uma corruptela do árabe sarandib, que também significa "serenidade", e era o nome pelo qual a ilha era conhecida antes da chegada dos portugueses, que decidiram chamá-la de Ceilão, que, vejam só, também era uma corruptela de sarandib.

Mas enfim, etimologias à parte, o EROS era mais uma organização que lutava por um estado tâmil independente no norte da ilha, e Arular achou que poderia contribuir mais pela causa se estivesse morando na região que planejava libertar do que a quilômetros de distância. Era uma época de guerra civil, e a família de Maya frequentemente tinha de viver escondida em templos e igrejas, sem residência fixa, com a menina passando meses sem ter contato algum com o pai. Até mesmo na escola as crianças eram instruídas a se jogar debaixo das mesas toda vez que um tiroteio começasse nas ruas, ou a buscar abrigo em uma escola de língua inglesa que existia do outro lado da rua - as escolas tâmil eram frequentemente alvo das forças do governo, mas as estabelecidas pelos colonizadores britânicos, não. Toda a infância de Maya foi passada na pobreza extrema, com a família dependendo de doações de partidários e simpatizantes da causa tâmil para sobreviver.

Quando Maya tinha nove anos de idade, a situação ficou ainda pior, e a família de Arular passou a correr o risco de ser morta pelo governo. Ele, então, usou de algumas conexões políticas para que Kala e as três crianças se mudassem para a Índia, mais precisamente para a cidade de Chennai, localizada também em uma região de maioria tâmil. A vida não melhoraria muito para eles, porém: sem fonte de renda, eles viveriam em uma casa abandonada e caindo aos pedaços, e só teriam dinheiro quando recebessem esporádicas visitas de Arular, que se identificava como irmão de Kala e tio das crianças, para evitar perseguições políticas. Em menos de dois anos, a situação ficaria insustentável, e, às vésperas do aniversário de onze anos de Maya, sua mãe decidiria retornar à Inglaterra, levando as crianças para um centro de refugiados em Londres. Arular se recusaria a deixar o Sri Lanka, mas concordaria em não pegar mais em armas e atuar como um "mediador independente" entre os lados do conflito.

Pouco após retornar à Inglaterra, a mãe de Maya arrumaria um emprego como costureira, e, em pouco tempo, conseguiria uma comissão para trabalhar nesse ofício servindo a Família Real, o que permitiria que ela comprasse uma pequena casa na cidade de Tooting, 8 Km ao sul de Londres. Maya seria matriculada em uma escola, e, aos 11 anos de idade, finalmente aprenderia a falar inglês - até então, devido às convicções políticas do pai, a família só falava tâmil. Ela seria tão boa aluna durante o Ensino Fundamental que ganharia uma bolsa para fazer o Ensino Médio na prestigiada Ricards Lodge High School, em Wimbledon. Ao concluir os estudos, ela tentaria uma vaga no curso de cinema e vídeo da Central Saint Martins College of Art and Design; sua inscrição inicial seria rejeitada, mas, no ano seguinte, ela tentaria novamente e seria aprovada com louvor, ganhando uma nova bolsa de estudos e sendo parabenizada pela "audácia" do trabalho que enviaria para o teste de admissão.

Enquanto estudava, Maya continuaria audaciosa, decidindo criar filmes que trabalhassem com o realismo e fossem acessíveis a toda a população. Em sua opinião, o curso focava muito na teoria, se esquecendo da prática, o que distanciava os alunos da realidade; segundo ela, o objetivo da arte era representar a sociedade, algo que o curso ignorava ao priorizar a conceitualidade e a artisticidade dos filmes. Inspirada em movimentos como o Dogma 95 e nos filmes de Spike Jonze, Maya escreveria um roteiro que chamaria a atenção do diretor John Singleton (de Os Donos da Rua), que a convidaria para trabalhar com ele, convite que ela decidiria rejeitar. Seu trabalho de final de curso seria uma análise do filme CB4, de Tamra Davis, que conta a história de um grupo de rap fictício, formado na prisão. Além de com cinema, Maya trabalharia com grafitti, pinturas e colagens, vendendo algumas aos colegas. Ela se formaria, com honras, em junho de 2000.

Em 1999, Maya conheceria, através de amigos em comum da faculdade de moda de sua universidade, Justine Frischmann, a vocalista da banda Elastica, que a convidaria para ser a responsável pela criação de um documentário que registrasse uma turnê da banda pelos Estados Unidos, em 2000; além de dirigir o tal documentário, Maya ainda acabaria criando a capa do segundo álbum do Elastica, The Menace, lançado naquele mesmo ano. Em 2001, ela decidiria dirigir mais um documentário, sobre a juventude tâmil, o que faria com que ela retornasse a Jaffna, pela primeira vez depois de ter partido; ela não conseguiria concluir o filme, porém, encontrando grande resistência por parte da população local. Naquele mesmo ano, ela decidiria aceitar um convite para expor suas pinturas e colagens na Euphoria Shop, em Londres; a mostra seria extremamente bem recebida pela crítica, acabaria indicada ao Alternative Turner Prize, o mais importante prêmio da arte alternativa britânica, e, dentre os compradores de suas obras durante exposição estaria o ator Jude Law.

Maya seria convencida a ingressar também no mundo musical pela cantora canadense Peaches, que fez os shows de abertura da turnê do Elastica que ela registrou em seu documentário. Maya tinha vontade de fazer música, mas não tinha confiança em suas habilidades; durante a turnê, entretanto, tanto Peaches quanto Frischmann a encorajariam, com Frischmann até mesmo deixando que ela experimentasse alguns acordes em sua guitarra. Ao retornar da turnê, ela e Frischmann decidiriam dividir um apartamento e montar um pequeno estúdio improvisado, que usariam para que Maya gravasse três músicas em uma demo. Ela decidiria usar como nome artístico a sigla M.I.A. (pronunciada letra por letra em inglês, "em-ái-êi"), que significa missing in action ("desaparecido em ação"), expressão usada quando soldados desaparecem em meio a uma operação militar; apesar de muitos acharem que M.I.A. é uma espécie de trocadilho com o nome Maya, ela mesma declarou em entrevistas que decidiria adotar esse nome artístico em homenagem a um primo, que teria sua mesma idade e frequentou as mesmas escolas que ela no Sri Lanka, mas ficou por lá para lutar na guerra civil e acabou desaparecendo durante um combate - segundo ela, quando teve a ideia de gravar o documentário sobre a juventude tâmil, seu objetivo secundário era tentar obter informações sobre esse primo, e ela pensava muito nele quando decidiu ingressar na carreira musical, por isso a escolha desse nome artístico.

A demo gravada por M.I.A. teria três músicas, M.I.A., Lady Killa e Galang. Após apresentá-las a algumas gravadoras, ela conseguiria que a independente Showbiz Records gravasse, em 2003, 500 cópias de Galang em vinil, que seriam distribuídas em clubes de dança e rádios universitárias de Londres. A música faria um enorme sucesso, e, através da internet, chegaria aos Estados Unidos, onde seria elogiada pela revista de música independente Seattle Weekly. Em 2004, M.I.A. colocaria várias de suas novas músicas na internet, em sua página do MySpace, e logo elas seriam baixadas e distribuídas por milhares de fãs, tornando-a conhecida na cena underground de toda a Europa e dos Estados Unidos. Esse sucesso faria com que diversas gravadoras a procurassem, e ela acabaria fechando contrato com a XL Records, em junho de 2004.

O primeiro lançamento da XL Records foi um single, que continha as músicas Sunshowers e Fire Fire, essa última falando sobre guerrilha e refugiados, e com um videoclipe, escrito e dirigido pela própria M.I.A., filmado na Índia. Em setembro de 2004, a XL Records relançaria Galang, em formato single, com um videoclipe gravado em frente a vários grafitti e pixações no centro de Londres. Em dezembro de 2004, M.I.A. e o DJ Diplo decidiriam gravar e lançar por conta própria, sem o envolvimento da XL, um EP chamado Piracy Funds Terrorism ("pirataria financia terrorismo"), distribuído gratuitamente, e que contava com os vocais de M.I.A., gravados para seu álbum prestes a ser lançado, combinadas a samples de outras músicas, mixadas por Diplo. O objetivo da dupla era não somente divulgar as músicas vindouras, mas pedir para que elas fossem adquiridas de forma legal. Antes do lançamento de seu primeiro álbum, M.I.A. faria uma série de shows no Reino Unido, e, em fevereiro de 2005, faria sua primeira apresentação fora da Europa, em um show em Toronto, no Canadá; para sua surpresa, a plateia já conhecia as letras da maior parte de suas músicas, chegando até a cantar junto com ela algumas delas.

O primeiro álbum de M.I.A. seria lançado em março de 2005, com o nome de Arular. A escolha do pseudônimo de seu pai para nome do álbum não foi por acaso, já que a maior parte das músicas fala sobre a época em que M.I.A. viveu em Jaffla, com algumas outras criticando a Guerra no Iraque e falando sobre o dia a dia da cantora em Londres. Curiosamente, seu pai não ficou satisfeito com a escolha do nome, e, antes do lançamento, ao saber que ela planejava usá-lo, lhe enviou uma carta parabenizando-a por seu sucesso, mas pedindo que ela o trocasse, o que ela ignorou. Arular (o pai, não o álbum) havia voltado a morar em Londres no final de 2004, após o tsunami que ocorreu naquele ano destruir a casa onde ele morava no norte do Sri Lanka; ele não retomaria o contato frequente com a filha, porém, que, desde 1990, praticamente só falava com ele através de cartas - por causa disso, M.I.A. jamais conseguiu ter uma relação saudável com o pai, mesmo após a guerra civil do Sri Lanka se encerrar em 2009, quando o governo derrotou o último grupo que lutava com armas pela independência tâmil.

Arular (o álbum, não o pai) trouxe novamente Sunshowers, Galang e Fire Fire, as duas primeiras lançadas como músicas de trabalho, juntamente com Hombre e Bucky Done Gun - essa última um gigantesco sucesso, e, segundo a própria M.I.A., inspirada no funk carioca, o que fez com que, pela primeira vez na história, uma música estrangeira inspirada nesse ritmo fosse tocada nas rádios brasileiras. O álbum seria um sucesso mundial de público e crítica, alcançando o terceiro lugar na parada de música eletrônica da Billboard, entrando para seu Top 200 (na 190a posição, mas tudo bem), constando de quase todas as listas dos 10 Melhores Álbuns de 2005 feitas por publicações especializadas, e sendo eleito o melhor do ano pelas revistas Blender, Stylus e Musikbyran, além de render uma indicação ao Mercury Prize, um prestigiado prêmio da indústria fonográfica britânica (o qual perdeu para I Am a Bird Now de Anthony and the Johnsons). M.I.A. também seria eleita a Artista do Ano pela conceituada revista Spin, feito que repetiria em 2008, se tornando uma das poucas cantoras a conseguir esse título duas vezes. Após o lançamento, M.I.A. saiu em uma grande turnê, que contou com um show em Buenos Aires e uma apresentação no famoso festival Coachella.

Em 2006, M.I.A. gravaria seu segundo álbum, Kala (já que o primeiro teve um nome em homenagem a seu pai, o segundo teria um nome em homenagem à sua mãe). Sua intenção era gravá-lo nos Estados Unidos, mas problemas com a emissão de seu visto (segundo muitos, devido à natureza política de suas letras) fariam com que ela optasse pro gravá-lo em estúdios de nada menos que sete países diferentes - Inglaterra, Índia, Trinidad e Tobago, Jamaica, Libéria, Austrália e Japão - e apenas mixá-lo nos EUA. Lançado em 8 de agosto de 2007, Kala teria um som bem mais trabalhado que o de Arular, contando com uma gama maior de instrumentos, e tendo como principal inspiração os ritmos soca, de Trinidad e Tobago, e urumee, de Gana. Algumas das músicas traziam samples de falas de filmes em tâmil, e uma delas, Sound of Kuduro, teria o popular ritmo de Angola, contando com a participação da banda local Buraka Som Sistema, que, inclusive, canta parte da letra em português. Os principais temas abordados em Kala são guerra, relacionamentos interpessoais e políticas de imigração. Kala seria eleito o melhor álbum de 2007 pelas revistas Rolling Stone e Blender.

As músicas de trabalho de Kala seriam Bird Flu, Boyz, Jimmy (sobre uma indústria ilegal de turismo em Ruanda, que visita apenas locais onde houve genocídios), e a principal delas, Paper Planes, uma sátira/crítica aos estereótipos com os quais as pessoas veem os imigrantes e refugiados. Paper Planes seria escolhida pelo diretor Danny Boyle para fazer parte da trilha sonora do filme Quem Quer Ser Um Milionário, e uma versão remixada acabaria fazendo parte também da trilha sonora de outro filme, Hancock. Seu single venderia o suficiente para render três Discos de Platina nos Estados Unidos, se tornando o single de maior vendagem da história da XL Records (título que em 2010 perderia para Rolling in the Deep, de Adele, sendo atualmente o segundo). Paper Planes também chegaria ao terceiro lugar da parada da Billboard, e seria indicada ao Grammy de Gravação do Ano, que perderia para Please Read the Letter, de Alison Krauss e Robert Plant.

2008 seria um ano muito atarefado para M.I.A.: além de estar em plena turnê para divulgar Kala, fazendo shows na Europa, Ásia e África, incluindo três nos quais abriria para Björk, ela co-dirigiria, ao lado de Spike Jonze, o documentário Zig-Zag, que co-estrelaria ao lado de Afrikan Boy, um imigrante nigeriano que está começando uma carreira de rapper na Inglaterra e pretende abrir, juntamente com M.I.A., uma gravadora chamada Zig-Zag. A vida quase imitaria a arte, pois, ainda em 2008, ela criaria o selo N.E.E.T. Recordings (de Not in Education, Employment or Training, algo como "sem educação formal, emprego ou treinamento"), ligado à gravadora Interscope Records e dedicado a lançar novos talentos do rap e do hip-hop, e pelo qual ela mesma lançaria seus álbuns seguintes. Também em 2008, ela se casaria com o músico, empresário e ambientalista norte-americano Benjamin Bronfman, e, pouco depois, anunciaria estar grávida de seu primeiro (e, até agora, único) filho, Ikhyd Edgar Arular Bronfman. Infelizmente, o casamento não duraria, com o casal se separando em fevereiro de 2012.

Finalmente, 2008 seria o ano no qual M.I.A. trabalharia com Boyle na trilha sonora de Quem Quer Ser Um Milionário, para a qual, além de ceder Paper Planes, ela gravaria a inédita O... Saya, que seria indicada para o Oscar de Melhor Canção Original (que perderia para outra música da trilha do mesmo filme, Jai Ho, de A.R. Rahman), o que faria com que M.I.A. se tornasse a primeira pessoa de ascendência asiática na história a ser indicada para o Oscar e para o Grammy no mesmo ano - falando nisso, ela se apresentaria grávida na cerimônia do Grammy, e estava previsto que se apresentasse na do Oscar, mas não pôde porque seu filho nasceu antes do previsto.

Em 2009, ela seria indicada ao Brit Awards, o maior prêmio da indústria fonográfica britânica, na categoria Melhor Artista Feminina, perdendo para Duffy. Ela passaria o ano trabalhando nas canções de seu terceiro álbum; em um trabalho envolvendo fotografias 3D em conjunto com o artista Jaime Martinez; compondo a música Elastic Love para Christina Aguilera; e produzindo um curta, chamado Born Free, em parceria com o diretor Romain Gavras. O curta, que mostra meninos sendo usados para desarmar um campo minado (fazendo as minas explodirem ao caminhar sobre elas), seria elogiado pela crítica, mas causaria muita controvérsia por ser considerado muito violento, sendo removido do YouTube por duas vezes - a segunda após ser re-adicionado com um aviso de restrição de idade. O curta também serviria como clipe não oficial para uma música também chamada Born Free, que acabaria sendo uma das mais tocadas no ano no Reino Unido e na Suécia.

O terceiro álbum de M.I.A., chamado Maya, seria lançado em 23 de junho de 2010, teria elementos de música industrial, e seu tema seria o de uma artista multimídia lutando para fazer sucesso no mundo da música, com canções que também abordavam a pobreza, a criação de filhos, morte e destruição. O álbum dividiria a crítica, mas seria extremamente bem sucedido dentre o público, alcançando o topo da parada de música eletrônica na Billboard e o nono lugar no Top 200. Suas músicas de trabalho seriam XXXO, Steppin Up, Teqkilla (cujo clipe seria dirigido por Spike Jonze) e Tell Me Why. Uma segunda versão do álbum, com algumas faixas remixadas e outras inéditas, e chamada Vicki Leekx (em homenagem, segundo M.I.A., ao escândalo do WikiLeaks), seria disponibilizada gratuitamente na internet no dia 31 de dezembro de 2010.

M.I.A. seria uma das compositoras da música Give Me All Your Luvin (na qual também atuaria como backing vocal), gravada por Madonna e Nicky Minaj, e seria convidada para se apresentar com elas no intervalo do Super Bowl XLVI, em 5 de fevereiro de 2012. Durante a apresentação, quando a câmera a focalizou, M.I.A. fez um sinal feio, o que fez com que a NFL a processasse pedindo milhões de dólares por danos morais. Em uma entrevista, ela declarou achar muito curioso que a NFL não se importasse em explorar sexualmente a imagem das mulheres, mas se sentisse ofendida quando uma delas não se comportasse da forma como eles julgassem adequada. O processo acabaria resolvido fora dos tribunais, de forma não divulgada. Além de em Give Me All Your Luvin, M.I.A. seria backing vocal em B-Day Song, outra música do álbum MDNA, de Madonna.

Em janeiro de 2012, M.I.A. lançaria o primeiro single de seu quarto álbum, a música Bad Girls, que teria, dois meses depois, um videoclipe dirigido por Gavras, que trazia personagens encontrados por M.I.A. na internet, como uma caminhoneira árabe. O clipe seria indicado ao Grammy de Melhor Vídeo Musical, mas perderia para We Found Love, de Rihanna. Vale citar que Bad Girls era uma das faixas de Vicki Leekx, mas com uma mixagem totalmente diferente.

Em outubro de 2012, ela lançaria um livro, chamado simplesmente M.I.A., que era uma espécie de biografia cobrindo os eventos de sua vida do lançamento de Arular até o lançamento de Maya, com prefácio e ilustrações de Steve Loveridge.

O quarto álbum de M.I.A., chamado Matangi (sem o "h", pois trata-se do nome de uma deusa hindu, e não do de M.I.A.), seria lançado em 5 de novembro de 2013 - inicialmente, a data de lançamento prevista era de 31 de janeiro, mas a Interscope pediria mudanças por considerar o álbum "muito positivo"; após inúmeras mudanças e adiamentos, eles concordariam em lançá-lo em novembro do jeito que estava após M.I.A. ameaçar disponibilizá-lo gratuitamente na internet. Matangi alcançaria a 23a posição no Top 200 da Billboard, e chegaria mais uma vez ao topo da parada de música eletrônica, mas causaria menos impacto que seus três antecessores. Suas músicas de trabalho seriam Bad Girls, Bring the Noize, Come Walk with Me, Y.A.L.A. e Double Bubble Trouble.

Em julho de 2015, M.I.A. lançaria mais um curta, esse menos controverso, chamado Matahdatah Scroll 01 Broader Than a Border, gravado na Índia e na África Ocidental, e que mostrava várias danças típicas dessas regiões, ao som de duas de suas músicas, Warrior, do álbum Matangi, e a inédita Swords, remixadas e contendo samplers da música Manali Trance, do rapper indiano Yo Yo Honey Singh.

Em novembro do mesmo ano ela lançaria o single Borders, acompanhado de um videoclipe dirigido por ela mesma; a música era uma paródia do estilo de vida das famílias de classe alta nos países de primeiro mundo, em vista da escalada da crise de refugiados que começa a se instalar na Europa. O clipe seria criticado por diversos meios de comunicação europeus, que o consideraram exagerado e irreal; talvez mais exagerado ainda tenha sido um processo movido contra M.I.A. pelo clube de futebol francês Paris Saint-German, alegando violação de direitos de imagem, devido ao fato de que, no clipe, M.I.A. veste uma camisa do clube na qual a frase Fly Emirates (slogan da companhia aérea Emirates, patrocinadora do clube) foi trocada para Fly, Pirates ("voem, piratas").

O mais recente álbum de M.I.A., chamado AIM, seria lançado em setembro de 2016 - após ser previsto para março e adiado pela Interscope, um filme que M.I.A. já havia visto antes. Antes de seu lançamento, ela declararia que esse seria seu último álbum, mas não daria detalhes sobre o motivo, nem sobre o que passaria a fazer depois. Falando principalmente sobre a crise de refugiados, AIM não seria tão bem recebido pela crítica quanto os álbuns anteriores, sendo considerado sem foco e pouco inspirado; dentre o público, ele mais uma vez alcançaria o topo da parada de música eletrônica da Billboard, e chegaria à posição 66 do Top 200. Suas músicas de trabalho seriam Swords (que conta com o som de espadas se chocando como percussão), Borders, Go Off, Bird Song (que faz trocadilhos com os nomes em inglês de diversos pássaros) e Freedun.

Além de cantora, cineasta e artista plástica, M.I.A. é a principal ativista política da atualidade em favor da etnia tâmil e contra o governo do Sri Lanka (a quem acusa de praticar um genocídio lento e programático contra os tâmil), falando, também, a favor dos palestinos e contra o racismo. De forma bizarra, ela frequentemente é criticada e desacreditada por analistas e cientistas políticos, principalmente dos Estados Unidos, que alegam que ela é "emocionalmente envolvida" com os assuntos que costuma criticar, e que não teria autoridade para falar de política por não ter a formação acadêmica adequada. Em suas próprias palavras, é surreal que alguém que passou a infância em meio a uma guerra civil, e que se lembra do dia em que sua escola foi bombardeada, não possa se opor a essa guerra porque não tem um diploma que diga que ela estudou sobre aquele assunto. Em diversas entrevistas, ela reforça que ouvir a voz das pessoas que passam por situações de guerra, racismo, fome e discriminação é tão ou mais importante que estudar as causas e consequências dessas situações. O que, pelo menos pra mim, faz todo o sentido do mundo.

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