segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Escrito por em 20.2.17 com 1 comentário

Alfabeto (II)

Hoje eu vou adaptar mais um post do Almanaque BLOGuil para o átomo, o que falava sobre acentos e pontuação. Como os assuntos são relacionados, eu planejava juntá-lo ao post sobre o alfabeto e fazer um só, mas, como o do alfabeto acabou ficando maior que o esperado, acabei decidindo fazer o contrário: adicionar a ele mais informações sobre alfabetos, que eu acabei deixando de fora do primeiro, e transformá-lo em um Alfabeto (II).

Assim, vamos começar falando sobre as letras cursivas. Talvez você não saiba, mas atualmente está sendo travado um grande debate sobre a necessidade ou a importância de se ensinar às crianças a escrever em cursiva - também conhecidas como as letras "de mãozinhas dadas". Segundo aqueles que são contra, a maior parte das pessoas hoje digita (seja no computador, no smartphone, no tablet etc.) ao invés de escrever à mão livre, então não seria necessário que se aprendesse a escrita cursiva. A essas pessoas eu digo que, hoje em dia, a maior parte das pessoas faz contas usando uma calculadora, e nem por isso se está discutindo se devemos deixar de ensinar matemática nas escolas. Mas isso talvez fuja um pouco do propósito desse post, já que eu não pretendo explorar a validade ou a necessidade da escrita cursiva, e sim apenas a sua origem.

A escrita cursiva foi criada por volta do século II a.C., em Roma, mas, no início, era usada apenas por comerciantes, ao registrar suas transações. É importante notar que essas letras cursivas não eram as mesmas que usamos hoje, com a maioria tendo uma aparência bastante diferente, e até mesmo irreconhecível para nós; por isso, esse primeiro conjunto de letras cursivas ficaria conhecido como "romano cursivo arcaico".

A escrita cursiva não foi inventada porque os comerciantes não tinham mais o que fazer, e sim visando um propósito prático: as letras do alfabeto latino, com suas formas angulares, eram fáceis de se escrever, por exemplo, em uma gravação em pedra ou bronze, mas complicadas de se usar no dia a dia - na época, evidentemente, ninguém usava papel, e sim papiros, e, ao invés de lápis ou caneta, se usava uma pena de ave, cuja ponta era mergulhada em tinta. Apesar de a ponta da pena ter uma boa absorção - sendo este o motivo pelo qual era usada uma pena, e não, por exemplo, uma vareta de madeira - a quantidade de tinta que ela retinha não era suficiente para escrever durante um longo tempo, devendo a pena ser mergulhada na tinta inúmeras vezes cada vez que se fosse escrever alguma coisa. O fato de a pena ter que ser retirada do papiro para se fazer cada traço de cada letra piorava a situação, já que, para não escorrer e borrar o papiro todo, a tinta era de secagem rápida, o que significava que, cada vez que a pena deixava de encostar no papiro, a tinta em sua ponta secava um pouco.

Para tentar tanto economizar tinta quanto escrever mais rápido, os comerciantes, então, começaram a criar letras que, ao mesmo tempo em que lembrassem as letras originais, podiam ser escritas "de uma vez só", sem que a pena deixasse de encostar no papiro enquanto a letra estava sendo escrita. O nome "cursivo", portanto, não vem de "curso", "porque essa é a letra ensinada nas escolas", como eu já li uma vez: cursivus, em latim, significa "rápido e direto", como em uma viagem na qual você não faz escalas para chegar mais depressa. Como escrever em cursivo era mais rápido que escrever com as letras existentes até então, e cada letra era escrita "direto", sem a pena ser retirada do papiro, logo a escrita ganharia esse apelido, que acabaria pegando e se tornando seu nome oficial.

Apesar de suas vantagens, o romano cursivo arcaico tinha um sério defeito: suas letras eram quase ilegíveis. Muitas delas, como o E e o F, eram quase idênticas, enquanto outras, como o B e o R, em nada lembravam as letras originais. Conforme o uso da escrita cursiva foi se popularizando, portanto, um novo conjunto de letras seria criado pelos acadêmicos romanos, conhecido hoje como "novo romano cursivo". Esse conjunto também não é o mesmo que usamos hoje, mas a maioria de suas letras é bem semelhante às atuais, de forma que é bem mais fácil para nós ler algo escrito em novo romano cursivo do que em romano cursivo arcaico. Seu uso se popularizaria a partir do século III d.C., quando o novo romano cursivo começaria a ser usado nas escolas para se ensinar as crianças a escrever em latim.

Tanto no romano cursivo arcaico quanto no novo romano cursivo, as letras ainda não eram todas ligadas umas às outras como na escrita cursiva atual, já que o intuito era apenas escrever cada letra, e não cada palavra, sem retirar a pena do papiro - pois, se a pena fizesse muitos movimentos contínuos enquanto pressionada à superfície, o papiro poderia se romper. A escrita cursiva que usamos hoje começaria a surgir apenas no século VII, quando novos materiais, como o pergaminho e o velino, substituíssem o papiro como a forma preferencial de se registrar a linguagem escrita. A diferença na superfície desses materiais, feitos de couro de animais, em relação á do papiro, feito de fibras vegetais, permitiria que palavras inteiras fossem escritas de uma vez sem romper o material, o que resultou em maior economia de tinta, maior velocidade na escrita, e em um novo conjunto de letras diferentes. A principal característica desse novo conjunto seria que ele possui dois tipos de letras, as ascendentes e as descendentes, sendo que, nas descendentes (f, g, j, p, q, y e z) parte da letra deve ser escrita abaixo da linha, o que é feito para facilitar na hora de ligar a letra à anterior e à seguinte.

Curiosamente, não existe um modelo cursivo "oficial" para o alfabeto latino: ao longo desses séculos todos, várias formas diferentes de se escrever as letras em cursivo foram criadas, com algumas se tornando mais populares que outras, e sendo consideradas o padrão durante um tempo, até serem substituídas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o padrão entre 1850 e 1925 era a chamada "escrita spenceriana", criada em 1840 pelo professor Platt Rogers Spencer, que desejava uma escrita que fosse, ao mesmo tempo, bonita, veloz e facilmente legível. Exemplos de palavras que são ainda hoje escritas usando a escrita spenceriana são os logotipos da Ford e da Coca-Cola - reparem como os C da Coca-Cola são diferentes dos que usamos hoje. A escrita spenceriana seria substituída pelo Método Palmer, criado pelo empresário Austin Palmer em 1888, e que começou a ser introduzido em 1920 como uma forma de escrita "apropriada para o mundo dos negócios". Hoje, o Método Palmer é o padrão para escrita cursiva nos Estados Unidos, embora outros modelos também sejam usados por grande parte da população, como o D'Neliano, criado pelo professor Donald Neal Thurber em 1978 para ajudar no ensino de letras cursivas para crianças, e o Zaner-Bloser, criado em 1888 pelo professor Charles Paxton Zaner, que em 1891 se associou a outro professor, Elmer Ward Bloser, e em 1895 fundou a Zaner-Bloser Company, devotada à publicação e venda de materiais que auxiliem no ensino da escrita cursiva.

Aqui no Brasil, o modelo ensinado nas escolas desde o início do século XX é conhecido como "letra vertical redonda", pois tem formas arredondadas e todas as letras ficam perfeitamente na vertical - na escrita spenceriana, por exemplo, as letras são levemente inclinadas para a direita, o que, no Brasil da época, se acreditava ser responsável, acreditem ou não, por deixar as crianças com miopia, estrabismo, ou até mesmo escoliose. A letra vertical redonda não foi criada no Brasil, e sim na França (onde se chama vertical ronde), e sua criação é atribuída à escritora George Sand, que a usava em seus manuscritos - vale citar como curiosidade que Sand faleceu em 1876, mas a vertical ronde só se tornou padrão na França a partir de 1881; antes disso, o padrão na França era o round hand, criado na Inglaterra em 1680 pelos editores John Ayres e William Banson, e foi padrão em muitos países europeus, mas gradativamente abandonado por ser considerado muito rebuscado.

É importante registrar que, apesar de existirem diferentes modelos de escrita cursiva, em todos eles as letras são semelhantes - mais ou menos como ocorre com as fontes com as quais escrevemos no computador, as letras podem ter aparência diferente, mas é fácil reconhecê-las. Assim, embora algumas letras possam parecer estranhas em relação ao que estamos acostumados - sempre achei o G maiúsculo usado nos Estados Unidos muito esquisito - para quem conhece um dos modelos de escrita cursiva não é difícil ler textos escritos usando outros.

Evidentemente, o alfabeto latino não é o único que pode ser escrito em cursivo; o número de sistemas de escrita que tem pelo menos um método de escrita cursiva é, porém, bastante reduzido: em apenas sete deles alguém, em algum momento, teve a ideia ou a necessidade de se escrever sem tirar a pena do papel - nos alfabetos latino, grego e cirílico, no abjad hebraico, na abugida bengali, no silabário cherokee e nos ideogramas chineses. Os abjads árabe e siríaco também costumam ser incluídos nessa lista, mas eles possuem uma característica que os diferencia dos outros sete: neles, a única forma de se escrever é ligando uma letra à outra, ou seja, em árabe e siríaco, só existe a forma cursiva, não existindo letras-bastão.

Depois do latino, o alfabeto grego foi o primeiro a ganhar uma escrita cursiva, que surgiu no século IV, provavelmente através de relações comerciais entre gregos e romanos. Assim como ocorreu com o alfabeto latino, as primeiras letras gregas cursivas eram tentativas de se escrever as letras já existentes sem retirar a pena do papiro ou pergaminho; ao longo do tempo essas letras foram evoluindo, até se chegar no modelo atual, criado no século XIX. Também como ocorre com o alfabeto latino, o grego cursivo é cada vez menos usado, estando restrito, praticamente, às escolas. Isso também ocorre com o bengali cursivo, cujas letras são mais arredondadas que as tradicionais, e têm pequenos apêndices que permitem que elas se liguem umas às outras; criado no século XVIII, o bengali cursivo é ensinado nas escolas de Bangladesh, mas pouco usado no dia a dia.

Com o alfabeto cirílico, porém, o panorama é diferente: em países como Rússia e Ucrânia, no dia a dia a população praticamente só escreve em cursivo, ficando as letras-bastão reservadas para documentos impressos. Isso costuma causar muitas dificuldades àqueles que não estão habituados com a escrita cursiva do cirílico, pois, além de muitas letras serem completamente diferentes de suas versões em letra-bastão (como o д), e de outras serem extremamente parecidas entre si (como o и e o м), ainda há o problema de que algumas letras cursivas cirílicas se parecem com letras cursivas latinas sem qualquer relação com elas (o т cirílico é idêntico ao m latino). O alfabeto cirílico cursivo (oficialmente chamado rukopisnoye pis'mo, "escrita à mão livre") foi criado na Rússia, no século XVIII, pela Escola Russa de Taquigrafia, para se tornar o modelo oficial para se escrever em russo de forma cursiva, substituindo vários modelos conhecidos como skoropis, usados pela população em geral entre os séculos XIV e XVII, e que, assim como o romano cursivo arcaico, surgiram com os comerciantes e suas anotações. Graças ao poderio da Rússia e da União Soviética, esse modelo se tornaria padrão em todos os países que usam o alfabeto cirílico, exceto na Sérvia e na Macedônia, já que, na Iugoslávia, da qual ambas faziam parte, ele sofreria algumas modificações, que deixariam as letras б, г, д, п e т com aparências diferentes.

Outro país no qual a escrita cursiva é mais usada que as letras-bastão é Israel, o que significa que a forma cursiva do abjad hebraico ainda vai bem, obrigado. Assim como no alfabeto latino, existem vários modelos diferentes de hebraico cursivo, os mais antigos datando do século V, sendo que um deles, chamado ashkenazi, criado na Europa Central no século XIII, é hoje considerado o padrão para se escrever de forma cursiva em hebraico e em ídiche. Uma curiosidade do hebraico cursivo é que suas letras são bastante diferentes das letras-bastão, o que causa estranheza em quem não está acostumado com elas. Diferentemente dos alfabetos latino, grego e cirílico, no hebraico cursivo as letras não se ligam umas às outras, sendo seu único propósito a possibilidade de se escrever cada letra com um único traço.

Já a escrita cursiva dos ideogramas chineses atualmente quase não é usada, exceto como arte. Ela surgiu durante a Dinastia Han, entre os anos 265 e 420 d.C., com o intuito de permitir que se escrevesse com mais velocidade; os principais métodos para que isso fosse alcançado foram omitir parte dos ideogramas, juntar dois traços em um só, juntar vários pontos em um traço e modificar os estilos dos traços - dessa forma, era possível, por exemplo, reduzir um ideograma de 14 traços para apenas três. Ao longo do tempo, a escrita cursiva chinesa foi se modificando, e hoje temos dois modelos, o chamado cursivo moderno e o chamado cursivo livre, que é ilegível para a maior parte da população, e por isso seu uso é reduzido. O cursivo moderno deu origem aos ideogramas usados no chinês simplificado e, segundo alguns historiadores, ao hiragana japonês, mas jamais se tornou popular.

Vamos passar agora para as letras maiúsculas e minúsculas. Já estamos tão acostumados a usar letras maiúsculas e minúsculas que muita gente sequer para para se perguntar por que elas existem - ou por que algumas delas são tão diferentes em cada versão, como, por exemplo, G e g. Entretanto, parece óbvio que as letras maiúsculas e minúsculas não existem desde a invenção do alfabeto, então talvez seja interessante descobrirmos como elas surgiram e para que propósito.

De fato, quando os alfabetos grego e latino surgiram, todas as suas letras não somente eram maiúsculas, como também seguiam um padrão, tendo todas a mesma altura. As letras também eram todas angulares, ou seja, com poucas ou nenhuma curva, para facilitar sua gravação em em pedra, bronze ou madeira. Esteticamente, as letras angulares e todas do mesmo tamanho produziam um belo efeito, mesmo quando escritas em papiro, mas, no dia a dia, fazer todas as letras do mesmo tamanho e cheias de ângulos e linhas retas era extremamente complicado; exceto por textos oficiais e religiosos, mesmo aqueles que não escreviam com letras cursivas eram mais relaxados na hora de escrever, o que produzia letras mais arredondadas e de diferentes tamanhos. Alguns escribas começaram a experimentar usar essas letras em seus trabalhos, mas fazer letras arredondadas bonitas em papiros era extremamente difícil, devido à sua superfície áspera, de forma que as tentativas resultavam em aparência pouco profissional, sendo rapidamente descartadas.

Isso começaria a mudar no século IV, quando o pergaminho e o velino começassem a ser introduzidos para o registro de textos religiosos. Como o material do pergaminho era mais suave que o do papiro, os escribas podiam trabalhar em lindas letras arredondadas, muitas vezes escritas sem retirar a pena do pergaminho, como na escrita cursiva. Isso daria origem a um estilo de escrita hoje conhecido como uncial, nome cunhado no início do século XVIII pelo monge e linguista francês Jean Mabillon, que a retirou de um prefácio escrito em latim por São Jerônimo para uma versão comentada do Livro de Jó - curiosamente, São Jerônimo usa o termo uncialibus, que seria "uncial" em latim; como ninguém sabe o que é "uncial", acredita-se que, originalmente, ele escreveu inicialibus ("inicial"), e o termo foi corrompido durante uma cópia.

Seja como for, a escrita uncial visava imitar as letras latinas existentes na época, mas usando formas arredondadas, e sempre buscando fazer cada letra com um único traço. Ela jamais se popularizaria dentre a população em geral, que se sentia mais à vontade escrevendo em cursiva, e para quem o pergaminho só estaria disponível em larga escala três séculos mais tarde, mas, por sua beleza, logo se tornaria a escrita preferida dos escribas e copistas, que a usavam em seus textos oficiais e religiosos, algumas vezes ainda decorando-os com versões maiores e finamente trabalhadas das letras iniciais de cada parágrafo.

A escrita uncial seria a mais popular para o alfabeto latino até o final do século VIII, quando seria substituída pela escrita carolina, criada por monges beneditinos da abadia de São Pedro de Corbie, na França, sob a patronagem do Imperador Carlos Magno (por isso o nome "carolina"), que, apesar de ser quase analfabeto, era defensor ferrenho da disseminação da cultura através da leitura e da escrita. Baseada na escrita uncial usada na Inglaterra e Irlanda, e visando, a mando de Carlos Magno, ser o mais legível possível - para que o maior número possível de pessoas pudesse compreendê-la - a escrita carolina mesclava linhas grossas e finas, curvas e retas, criando letras fáceis não somente de ler, como também de escrever. Além disso, a escrita carolina possuía uma característica hoje considerada banal, mas que, na época, não era o padrão nem na escrita uncial, nem na tradicional: o espaçamento. Pois é, até então, as palavras eram escritas extremamente próximas umas das outras, algumas vezes como se todo o texto fosse uma palavra só, sendo difícil determinar onde terminava uma palavra e começava a outra se o leitor não estivesse habituado com o vocabulário usado; a escrita carolina acabou com esse problema, colocando espaços bem definidos entre uma palavra e outra.

Além do espaçamento, a escrita carolina trazia letras maiores e bem demarcadas, mas sem nenhuma decoração, no início de cada parágrafo. É interessante notar, porém, que nem a escrita carolina, nem a escrita uncial, tinham letras maiúsculas e minúsculas; todas as letras eram idênticas, com as do início dos parágrafos sendo maiores apenas para demarcá-los. Nesse estágio da evolução da escrita, ainda não se misturavam letras maiúsculas e minúsculas no mesmo texto; cada modelo de escrita era considerado um "alfabeto separado", e, quando se escolhia um modelo, apenas as letras daquele modelo eram usadas.

Por ordem de Carlos Magno, a escrita carolina se tornaria o padrão na Europa - embora outros modelos, como a uncial e a chamada merovíngia, ainda fossem usadas em menor escala por alguns rebeldes. Conforme se espalhava pelo continente, a escrita carolina evoluiria, ganhando diferentes características: na França as letras tinham traços finos e longos, enquanto na Alemanha as letras costumavam ser mais largas e mais altas. Foi esse segundo tipo, inclusive, que acabaria substituindo a escrita carolina: em meados do século XII, conforme as universidades se popularizavam, a demanda por livros crescia, e as letras carolinas, após mais de três séculos de domínio, se viram incapazes de supri-la devido a um problema prático - as letras carolinas tradicionais, largas, levavam muito tempo, davam muito trabalho, consumiam muita tinta e ocupavam muito papel. Enquanto eram usadas apenas para documentos e textos religiosos, isso não era um problema, mas quando as universidades passaram a precisar de várias cópias de seus livros de direito, gramática, história e outros assuntos, os escribas e copistas se viram sem tempo nem material para atender à demanda adequadamente.

As letras usadas na Alemanha, por outro lado, sendo estreitas e menos decoradas, podiam ser escritas em menos tempo, gastando menos tinta e ocupando menos papel que suas "rivais", e logo se tornariam o padrão para os livros universitários. No século XV, durante a Renascença, esse tipo de letra seria batizado como "gótica", palavra que, à época, era sinônimo de "bárbara", porque a letra era considerada muito feia, como se tivesse sido escrita por bárbaros, e não por homens letrados ("gótico", aliás, é uma espécie de erro de tradução: em português, o correto seria "godo", o nome de uma das tribos bárbaras que habitavam a Alemanha na época da queda do Império Romano; em italiano, porém, "godo" é "gotico", nome que foi mantido em português para a letra, mas não para a tribo). E é essa a parte que nos interessa, já que a escrita gótica foi a primeira a ter maiúsculas e minúsculas bem definidas.

Lembram-se das letras grandes e decoradas do início de cada parágrafo na escrita uncial? A escrita gótica também as tinha, mas com uma diferença: as do início de cada frase, bem como as do início de nomes próprios, também era maior e decorada - embora as do início de cada parágrafo, às vezes, fossem mais finamente decoradas ainda. Outra diferença era que, enquanto nas escritas uncial e carolina as letras maiores eram idênticas às menores, na escrita gótica elas eram diferentes: as menores lembravam a escrita carolina, enquanto as maiores lembravam as letras originais do alfabeto latino. Não se sabe como essa característica surgiu, mas, a partir do século XV, durante a Renascença, ela começou a ser imitada por escribas que usavam outros tipos de letras. Como a Renascença ditava a moda na Europa, esse costume se espalhou, e acabou dando origem às letras maiúsculas e minúsculas. E é por isso que as minúsculas (pelo menos no alfabeto latino) não são simplesmente versões menores das maiúsculas.

Assim como ocorre com a escrita cursiva, o alfabeto latino, obviamente, não é o único a ter letras maiúsculas e minúsculas. O nome técnico para um sistema de escrita que tem letras maiúsculas e minúsculas é bicameral, e, atualmente, seis sistemas de escrita são bicamerais: os alfabetos latino, grego, cirílico e armênio, o silabário cherokee e a abugida varang kshiti (usada para escrever em um idioma chamado ho, falado em partes da Índia e de Bangladesh); no passado, os alfabetos húngaro antigo, glagolítico e cóptico (um alfabeto derivado do grego, oficial no Egito até o século XIII, quando foi substituído pelo árabe), também eram bicamerais, mas hoje só podem ser encontrados em textos antigos preservados, não sendo usados no dia a dia.

As letras minúsculas do alfabeto grego, assim como as cursivas do hebraico, possuem a distinção de serem, salvo algumas exceções, completamente diferentes de suas versões maiúsculas. Sua primeira versão surgiu no século VII, quando escribas gregos criaram uma versão da escrita uncial para o alfabeto grego, partindo do mesmo princípio: letras arredondadas e que pudessem ser escritas com um único traço cada. A escrita uncial grega foi mais duradoura que a latina, resistindo até o século XII, quando assumiu as formas usadas até hoje - que, evidentemente, não apareceram da noite pro dia, e sim foram resultado de uma evolução da escrita ao longo desses séculos. Assim como no alfabeto latino, originalmente em grego não se misturavam maiúsculas e minúsculas; essa prática começou a ser usada por volta de 1300, provavelmente inspirada pelas letras góticas. Uma característica interessante do alfabeto grego, que vale ser citada, é que a letra sigma (equivalente ao nosso S) possui duas versões minúsculas, sendo que uma delas só é usada quando tal letra aparece no final de uma palavra. Isso também existia na escrita uncial do alfabeto latino, que tinha uma versão do s, hoje conhecida como "s longo" (ſ), própria para se usar no meio das palavras, com a que usamos hoje aparecendo apenas no final; com a escrita carolina, o s longo foi abandonado, passando o "s comum" a ser usado em qualquer posição.

Já as minúsculas dos alfabetos cirílico e armênio surgiram pela imitação de seus pares. Ambos foram inventados por apenas uma pessoa cada, o cirílico por São Clemente de Ocrida, o armênio por Mesrop Mashtots, estudioso da corte do Rei Vramshapuh, que, no final do século IV, foi ordenado por seu monarca a criar um alfabeto para substituir a escrita cuneiforme usada pelo povo armênio até então. Estudando os alfabetos existentes na época, Mashtots chegou à conclusão de que o melhor método era o do grego, no qual cada letra correspondia a exatamente um som; com isso em mente, ele criou um conjunto de 39 letras, cada uma correspondendo a um dos sons do idioma armênio. Originalmente, nem esse alfabeto armênio, nem o primeiro alfabeto cirílico (hoje conhecido como cirílico arcaico) tinham maiúsculas e minúsculas; somente a partir do século XII, quando os alfabetos grego e latino começaram a misturar letras maiúsculas e minúsculas, é que começaram a surgir os primeiros textos em cirílico e em armênio também com letras maiúsculas e minúsculas. Por essa razão, nesses alfabetos, quase todas as letras minúsculas são apenas versões menores das maiúsculas, sem formatos diferentes - em cirílico, apenas A, б, E, Ë e ф têm letras minúsculas que diferem das maiúsculas, e, mesmo assim, A, E e Ë são copiadas das minúsculas latinas.

O silabário cherokee também foi inventado por uma única pessoa, o Chefe Sequóia dos Cherokee, entre 1809 e 1824 no Canadá, e ele resolveu fazer o serviço completo: inventou tanto as letras maiúsculas e minúsculas quanto a escrita cursiva - talvez por isso tenha levado quase 20 anos. Quase todas as letras minúsculas são apenas versões menores das maiúsculas, mas as letras cursivas são totalmente diferentes de suas correspondentes em bastão, sendo todas extremamente trabalhadas e cheias de "voltinhas" - o que faz com que a maioria dos cherokee prefira escrever apenas em bastão, já estando a escrita cursiva considerada fadada ao desaparecimento. Finalmente, o varang kshiti também foi inventado por uma única pessoa, o líder religioso Dhawan Turi, no século XIII, que já o inventou com maiúsculas e minúsculas, embora, mais uma vez, as minúsculas sejam apenas versões menores das maiúsculas.

Nosso terceiro assunto de hoje é a acentuação gráfica. Ninguém sabe ao certo quem inventou a acentuação, mas sabe-se que ela foi inventada pelos gregos, já que os primeiros textos contendo acentos, datados do século I a.C., estão escritos em grego, usando o alfabeto grego. O motivo pelo qual a acentuação foi inventada, por outro lado, é evidente: quando o alfabeto grego foi criado, cada letra correspondia a um som presente no idioma grego, e com elas era possível escrever todas as palavras desse idioma sem dúvidas; conforme a língua evoluía, porém, novos sons eram adicionados, sendo que alguns deles mudavam o sentido de uma palavra, o que fez com que já não fosse possível ler um texto sem nenhuma dúvida (por exemplo, se você ler "vovo fez um bolo", não saberá se é "vovó" ou "vovô"). Ao invés de inventar letras novas para esses sons, optou-se por criar pequenos sinais, que seriam adicionados às letras cada vez que elas tivessem um som diferente do original.

É importante ter em mente que pouquíssimas pessoas sabiam ler ou escrever na época, então a adição desses sinais não foi um ato governamental de grande importância, e sim uma iniciativa das próprias pessoas responsáveis por registrar as palavras de forma escrita, como os escribas. Inclusive, acredita-se que foram criados diversos sistemas de acentuação gráfica diferentes, cada um por um grupo interessado em acabar com as dúvidas na hora de se ler um texto escrito; o que se tornou mais famoso e mais usado foi o que continha os três acentos que usamos ainda hoje: o agudo, o grave e o circunflexo. Também não se sabe por que justamente esse sistema prevaleceria, mas suspeita-se que foi porque ele era o mais simples, com os acentos sendo usados para demarcar a sílaba tônica de uma palavra, e diferentes acentos fazendo com que ela tivesse diferentes sons (como no já usado exemplo da vovó e do vovô). Com o tempo, os acentos grave e circunflexo deixaram de ser usados, mas o acento agudo é usado no idioma grego até hoje, principalmente para diferenciar palavras que têm grafia igual mas significado diferente.

Quando os romanos inventaram seu próprio alfabeto, mais uma vez cada letra correspondia a um som, o que eliminava a necessidade de acentos; mas, conforme as línguas derivadas do latim foram surgindo, mais uma vez novos e diferentes sons seriam incorporados aos já existentes, o que trouxe esta necessidade de volta. Como, na época, ainda havia muitos textos escritos em grego no Império Romano, foi adotada a solução mais simples: importar do grego os acentos agudo, grave e circunflexo. Como novos sons não pararam de surgir, seriam inventados outros sinais, como o til, que indica som nasal, e o macron, que indica que o som de uma vogal é mais longo que o normal.

A palavra "acento", originalmente, dizia respeito não aos sinais em si, e sim à característica de cada palavra possuir uma sílaba mais forte (tônica) que as demais. Hoje, em português, usamos o termo acentuação tônica quando queremos nos referir ao fato de cada palavra ter uma sílaba tônica, e acentuação gráfica para nos referirmos ao costume de usar sinais gráficos para demarcar os sons de uma palavra. Nesse último caso, entretanto, o termo "acentuação" não é totalmente correto, já que nem todos os sinais gráficos que usamos são verdadeiramente acentos. Os acentos são um dos subgrupos dos sinais gráficos conhecidos como diacríticos - palavra que vem do grego diakrino, "distinguir", nome que lhes foi dado justamente porque eram usados para que fosse possível distinguir o som de cada letra. O subgrupo dos acentos, além do agudo, do grave e do circunflexo, conta com o hacek (também conhecido como carom), um circunflexo de cabeça para baixo muito usado nos idiomas eslavos, e os estranhos agudo duplo e grave duplo, comuns no idioma húngaro. Os outros subgrupos são o dos pontos (que inclui o pingo, o ponto inferior e o trema), o das curvas (que inclui o breve, o breve invertido e o til), o das linhas (que inclui a barra, o slash e o macron), o dos anéis (cujo único representante é o angstrom) e o das ondulações, que por sua vez é subdividido em sobrescritas (que incluem o apóstrofo e o gancho) e em subscritas (que incluem a cedilha, a vírgula e o ogonek).

Pouca gente sabe, mas o pingo também é um diacrítico - em turco, por exemplo, existe o i sem pingo (ı), cujo som é diferente do i com pingo. A história de por que todos os nossos i (e j) levam pingo é bem interessante, e a culpa é da escrita cursiva: lá no Império Romano, quando se começou a escrever em cursivo, frequentemente, quando o i era escrito antes ou depois de outro i, u, m ou n, as pessoas ficavam em dúvida sobre qual seria a palavra (confundindo, por exemplo, ingenii com ingenu). Para solucionar esse problema, no século XI, se estabeleceu a prática de se colocar um pingo sobre os i que pudessem ser confundidos com outra letra, que, depois, se alastrou não somente para todos os i, mas também para todos os j, já que o j, originalmente, era um derivado do i. Como a confusão só ocorria com o i minúsculo, somente os i e j minúsculos têm pingos - exceto em turco, já que, como existem palavras que começam com o i com pingo, é necessário existir um i com pingo maiúsculo (İ).

Nem todos os idiomas usam todos os diacríticos, e cada idioma possui regras próprias que determina o que cada um deles faz. Em português, por exemplo, só usamos o acento agudo, o grave, o circunflexo, o til, a cedilha e o apóstrofo (antes da última reforma ortográfica, usávamos também o trema), e, mesmo assim, nenhum deles é usado em conjunto com todas as letras (não colocamos acento circunflexo em I ou U, por exemplo). Outros idiomas têm suas próprias regras, muitas vezes bastante diferentes das nossas: enquanto em português o acento agudo pode ser colocado sobre qualquer vogal, para indicar som aberto, em francês, por exemplo, ele só pode ser colocado sobre o E, e indica som fechado (ou seja, em francês, um "é" tem som de "ê"). Um dos motivos pelos quais não usamos outros diacríticos foi que a língua portuguesa deu preferência aos dígrafos para representar sons que não poderiam ser representados por uma única letra. Em relação à palatalização, por exemplo, em português usa-se o H logo após a letra que terá seu som palatalizado - criando os pares CH, LH e NH. Em outros idiomas, a palatalização é indicada por diacríticos, como no espanhol, no qual é usado um til sobre o N (ou seja, o som do ñ espanhol é o mesmo do nosso "nh"), e no romeno, no qual é usada uma vírgula sob o S e sob o T (ou seja, ș e ț ao invés de sh e th).

Alguns idiomas usam muitos diacríticos, como o vietnamita, que, para marcar a tonalidade das vogais, chega a usar mais de um diacrítico na mesma letra, como na palavra cất ("construir"), que tem um agudo e um circunflexo ao mesmo tempo sobre o "a". Por outro lado, há os que não usam diacrítico nenhum, ou usam um número muito reduzido deles. O inglês, por exemplo, não tem nenhuma palavra nativa que use diacríticos, embora tenha algumas palavras em seu vocabulário que foram "emprestadas" de outros idiomas, principalmente do francês, que os usam (como naïve e façade). O que determina a mudança do som ou a marcação da sílaba tônica em inglês são as letras dobradas - o som do A de apple é diferente daquele do A de staple por causa do p dobrado, por exemplo. Outro bom exemplo é o holandês, que só usa o acento agudo e o trema, e, mesmo assim, muito raramente, preferindo usar dígrafos - um "e" tem som de "ê", enquanto um "ai" tem som de "é", por exemplo.

Também é interessante registrar que, em português, as letras com diacríticos não são consideradas letras novas, apenas versões diferentes de letras já existentes; esse não é o caso, porém, em muitos idiomas, nos quais uma letra com diacrítico é considerada uma letra totalmente nova, com seu próprio lugar na ordem alfabética. O alfabeto usado no idioma polonês, por exemplo, possui 32 letras, sendo 23 das 26 que usamos (as exceções sendo Q, V e X, que jamais aparecem em palavras de origem polonesa), e mais 9 "novas" (ą ć ę ł ń ó ś ź ż), que vêm na ordem alfabética logo após suas versões sem diacríticos (o Ł vem entre o L e o M, por exemplo). Isso ocorre, também, no alfabeto cirílico usado para o idioma russo, no qual Ë e й são letras diferentes de E e и, e vêm na ordem alfabética logo depois delas.

A essa altura, acho que já é evidente que o alfabeto latino não é o único que usa diacríticos: o alfabeto grego, como já vimos, ainda usa o acento agudo, e, em algumas de suas diversas versões, o alfabeto cirílico usa o acento agudo (como no Ѓ do macedônio), o acento grave (como no Ѝ do búlgaro), o breve (como no Ў do bielorrusso) e o trema (como no ï do ucraniano). Em russo, em dicionários, livros didáticos voltados para crianças, e materiais voltados a estrangeiros que não estejam familiarizados com o idioma, o acento agudo também é usado para indicar qual seria a sílaba tônica de cada palavra, embora esse uso não esteja presente no dia a dia. Também podemos citar os diacríticos que não representam acentuação gráfica, como os dos abjads árabe e siríaco, os niqqudot do hebraico, e o ten-ten (dois traços) e o maru (círculo), presentes no hiragana e no katakana japoneses, e que, adicionados ao canto superior direito de certas letras, mudam a sílaba que aquela letra representa ("ha" com ten-ten vira "ba" e com maru vira "pa", por exemplo).

Para terminar por hoje, falta falar sobre pontuação. Conforme vimos anteriormente, no início, todos os textos eram escritos integralmente em maiúsculas e sem qualquer espaço entre as palavras, o que tornava meio difícil para alguns copistas copiá-los corretamente - com muitos dividindo as palavras no meio ao terminar uma linha, por exemplo. No século III, o grego Zenódoto de Éfeso, responsável pela Biblioteca de Alexandria, teve a ideia de criar o espaçamento, colocando um pequeno espaço entre uma palavra e outra, para facilitar a leitura, e ordenou a todos os copistas da Biblioteca que usassem o espaçamento quando copiassem seus textos. Um dos discípulos de Zenódoto, chamado Aristófales de Bizâncio, foi mais além, e decidiu colocar pequenos sinais junto às palavras, que facilitassem a tarefa na hora de copiar os textos: um ponto no alto da linha significava o fim de um grupo de palavras, um ponto no meio da linha significava que mais tarde algo seria adicionado àquele trecho, e um ponto na base da linha indicava que o significado daquela frase se completaria adiante. Como esse é o primeiro sistema de pontuação do qual se tem registro, o grego Aristófales é considerado o inventor da pontuação. O nome "pontuação", aliás, vem do fato de que cada grupo de copistas tinha uma espécie de "cola", uma lista dos sinais que deveriam ser usados por todo o grupo; essa lista se chamava punktus ("ponto"), nome que recebeu porque o sistema original, criado por Aristófales, usava apenas pontos.

Como a Biblioteca de Alexandria era a mais famosa do mundo, o sistema de pontuação logo passaria a ser usado por outros escribas e copistas. Nesse primeiro momento, entretanto, a pontuação tinha um propósito bem diferente da que tem hoje, sendo destinada não a quem lia o texto, mas sim a quem o escrevia; em outras palavras, a pontuação era um sistema de instruções para que quem copiasse o texto não mudasse seu sentido. Isso começaria a mudar, entretanto, já no século IV, quando começariam a circular os primeiros textos destinados à leitura em voz alta - em especial, a Bíblia. Para que tais textos fossem lidos na cadência correta, e mantivessem o sentido pretendido pelo autor, eles vinham acompanhados de uma série de símbolos, que especificavam paradas, entonação e outras características do texto. Não havia uma padronização, porém, com cada grupo usando seus próprios símbolos.

A padronização da pontuação ocorreria somente mais de mil anos depois de sua criação, com a invenção da prensa de tipos móveis no século XIV, que permitiu que cópias de livros fossem produzidas em maior velocidade e quantidade do que no sistema de cópias à mão usado até então. O sistema de pontuação que usamos hoje foi criação do editor Aldus Manutius, da cidade de Veneza, que, em parceria com seu neto (também chamado Aldus Manutius), criou o ponto final, a vírgula, o ponto-e-vírgula, os dois pontos e os parênteses. O sistema criado pelos Manutius era bem mais simples que a maioria dos usados até então, o que levou a uma rápida popularização, com praticamente todos os editores italianos passando a adotá-lo até o final do século XV. Ao longo dos anos seguintes, também seriam inventados, por diversas pessoas, e incorporados ao sistema-padrão, o ponto de interrogação, o ponto de exclamação, as reticências, o hífen e as aspas. No final do século XVII, o sistema de pontuação padrão da Europa já estava implementado, sendo usado em todos os países do continente.

Aparentemente, o sistema de pontuação inventado pelos Manutius era tão bom que se alastrou até mesmo para os outros sistemas de escrita - os alfabetos grego e cirílico, os abjads árabe e hebraico, e até mesmo o hiragana e o katakana, todos usam o mesmo sistema de pontuação que o alfabeto latino. Podem ocorrer, entretanto, algumas variações quanto a qual símbolo é usado para qual situação, ou na aparência dos símbolos: em grego, por exemplo, o ponto-e-vírgula é usado no final de cada pergunta, ao invés do ponto de interrogação; em armênio a função dos dois pontos e do ponto final são invertidas (o fim de cada frase é marcado com os dois pontos); em árabe, como a escrita é da direita para a esquerda, o ponto de interrogação e a vírgula são espelhados (؟); e, é claro, existem os famosos ponto de exclamação e de interrogação "de cabeça para baixo" (¿), usados no início de exclamações e perguntas no idioma espanhol.

Um comentário:

  1. Que texto maravilhoso! Muito interessante, vou conferir os demais disponíveis no blog. :-)

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