segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Escrito por em 5.9.16 com 0 comentários

The King of Fighters (I)

Vamos deixar uma coisa bem clara desde o início: eu não gosto de The King of Fighters. Talvez seja pelo sistema de lutas três contra três, talvez seja porque todo mundo tem magias e passa muito mais tempo lançando-as do que lutando de verdade, talvez seja porque o último chefe seja quase impossível de se derrotar, ou talvez seja implicância, já que, quando KoF foi anunciado como um jogo de luta que reunia personagens de vários jogos da SNK, eu fiquei meio frustrado porque não tinha nenhum de Samurai Shodown ou World Heroes, que eram meus preferidos (mais tarde eu descobri que World Heroes não era da SNK, e sim da ADK, mas mesmo assim não perdoei). Entretanto, acho que, mesmo assim, cabe fazer um post por aqui sobre a série, já que eu já falei de praticamente tudo quanto é jogo de porrada do Neo Geo, menos sobre KoF. Aliás, um post não, uns três, já que a série KoF possui um montão de jogos. Essa série de posts começa hoje, e, como de costume, será intercalada com outros assuntos, para que quem não é fã de KoF ou de jogos de porrada em geral não precise fugir daqui durante um mês. Portanto, peguem seus convites, hoje é dia de The King of Fighters no átomo.

Antes, um parêntese: nessa série de posts, eu vou falar só sobre os jogos de porrada de KoF. Nada de Quiz King of Fighters, The King of Fighters: Kyo, The King of Fighters: Battle de Paradise ou Neo Geo Heroes: Ultimate Shooting. Dito isso, comecemos.

Curiosamente, KoF originalmente não seria um jogo de porrada um contra um como os jogos mais famosos da SNK, e sim um jogo de "porrada com fases", no estilo de Final Fight ou Streets of Rage, estrelado por personagens provenientes dos jogos Fatal Fury e Art of Fighting. Com o título provisório de Survivor, esse jogo chegou a ter um demo produzido, no qual era possível jogar com Terry Bogard (de Fatal Fury) ou Robert Garcia (de Art of Fighting). Por motivos desconhecidos, esse projeto acabaria abandonado, mas a SNK gostaria da ideia de reunir personagens de Fatal Fury e Art of Fighting no mesmo jogo - afinal, ambos eram ambientados na mesma cidade, South Town, embora Art of Fighting o fosse em uma época anterior - e pediria para que as equipes responsáveis pelos dois jogos trabalhassem juntas, em um título no mesmo estilo e contendo personagens de ambos. As equipes escolheriam o nome The King of Fighters, baseado no subtítulo do primeiro Fatal Fury (Fatal Fury: King of Fighters), e também porque poderia ser o nome do torneio de luta que daria motivo para que todos esses personagens se reunissem. Para enfatizar essa ideia do torneio, o jogo traria o ano de seu lançamento no final do título, se chamando, oficialmente, The King of Fighters '94 - ou KoF 94 para simplificar.

A direção geral do jogo ficaria a cargo de Toyohisa Tanabe, que pediria para que não somente personagens de Fatal Fury e Art of Fighting fossem usados, mas também personagens novos, sob o argumento de que o jogo, assim, teria apelo junto a diferentes faixas etárias - os personagens de Fatal Fury e Art of Fighting agradando a quem já era fã dessas séries, e os novos a quem estava começando a jogar agora. As equipes de desenvolvimento levariam essa ideia ainda mais adiante, incluindo personagens de dois jogos da SNK anteriores ao lançamento do Neo Geo, Ikari Warriors e Psycho Soldier, para tentar atrair jogadores de uma época ainda mais antiga. Também por sugestão de Tanabe, o último chefe deveria ser "o mais violento e malvado chefe de um jogo de luta na história", o que talvez tenha dado origem à tradição de KoF ter últimos chefes praticamente impossíveis de serem vencidos. O sistema de times de três lutadores, porém, ao contrário do que muita gente pensa, não foi sugestão de Tanabe, e sim algo que a equipe responsável por Survivor havia decidido manter - já que Survivor seria um jogo para de um a três jogadores, com até três personagens no time, eles decidiriam que seria interessante se cada jogador de KoF 94 também pudesse controlar três jogadores.

Os times de KoF 94 são fixos - ou seja, o jogador já escolhe os três personagens de uma vez, não podendo misturá-los - e, ainda sob a influência do estabelecido por Street Fighter II, cada um desses times representa um país. O time "principal" é o do Japão, composto por três personagens novos: Kyo Kusanagi, protagonista da série e membro de uma linhagem capaz de controlar o fogo; Benimaru Nikaido, com poderes elétricos e o cabelo mais excêntrico da história dos jogos de luta; e Goro Daimon, lutador de judô cuja maioria dos golpes envolve agarrar e arremessar o oponente. O time da Itália é composto pelos três protagonistas de Fatal Fury, Terry Bogard, Andy Bogard e Joe Higashi; enquanto o time do México é formado pelos dois protagonistas de Art of Fighting, Ryo Sakazaki e Robert Garcia, e por Takuma Sakazaki, de Art of Fighting 2. O time da Inglaterra é o único exclusivamente feminino, com King (de Art of Fighting), Yuri Sakazaki (de Art of Fighting 2) e Mai Shiranui (de Fatal Fury 2); enquanto o time da Coreia do Sul é formado por Kim Kaphwan (de Fatal Fury 2) e dois personagens novos, os ex-presidiários Choi Bounge, baixinho que usa uma luva parecida com a do Freddy Krueger, e Chang Koehan, grandalhão que usa como arma uma daquelas bolas de ferro que costuma ser presa ao pé de presidiários em desenhos animados. O time da China é formado pelo velhinho Chin Gentsai, que luta como se estivesse bêbado, e pelos dois personagens de Psycho Soldier, Athena Asamiya, cantora de J-pop com poderes psiônicos e reencarnação da deusa grega Atena, e Sie Kensou, menino viciado em bolinhos de arroz; e o time do Brasil é composto por três personagens de Ikari Warriors, os militares Ralf Jones, Clark Still e Heidern. Finalmente, o time dos Estados Unidos é composto por três personagens novos e nada memoráveis, o jogador de futebol americano Brian Battler (uma referência ao jogo Football Frenzy), o jogador de basquete Lucky Glauber (referência ao jogo Street Hoop) e o lutador de boxe Heavy D! (com essa exclamação no final mesmo).

O enredo é praticamente inexistente: Rugal Bernstein, milionário traficante de armas que também atua como último chefe, tem como hobby lutar mano a mano para aprimorar suas técnicas. Cansado de enfrentar fracotes, ele decide viajar pelo mundo e convidar os lutadores mais fortes que encontrar para um novo torneio King of Fighters (o mesmo organizado por Geese Howard e Wolfgang Krauser na série Fatal Fury), dessa vez disputado por times de três lutadores cada, que enfrentarão uns aos outros pela honra de enfrentar Rugal - que luta sozinho, mas, acreditem, é tão forte quanto um time inteiro. Talvez até mais.

A luta entre trios, portanto, é a principal inovação do jogo, e a principal característica pela qual ele se tornaria conhecido. Diferentemente do que ocorre em, por exemplo, Marvel vs. Capcom, entretanto, você não pode alternar entre os membros do trio livremente durante a luta; no início de cada luta, você poderá escolher em qual ordem os três personagens serão usados, e o personagem seguinte só entrará na luta após o anterior ser nocauteado, sendo necessário nocautear todos os três personagens de um time para que ele seja derrotado. O personagem que vence cada luta recupera um pouco de sua energia e mantém sua barra de super no nível em que estava, e o que está perdendo, uma vez por luta, pode chamar a ajuda de um dos que estiverem de fora (se ainda houver algum, ou seja, nocauteados não ajudam), que entrará na luta, desferirá um golpe e sairá. Durante a luta, o jogador também pode executar comandos para dar um pulinho para a frente, esquivar de ataques, afastar o oponente com um encontrão, provocar o oponente, e para encher a barra de super manualmente.

Falando nisso, a barra de super possui apenas um nível, e só enche quando o personagem é atingido pelo oponente, mesmo que bloqueie - ou manualmente, embora, ao usar o comando para encher a barra, seu personagem fique indefeso e aberto a ataques enquanto ela estiver enchendo. Uma vez que a barra esteja totalmente cheia, o personagem ganha um bônus no dano de todos os seus ataques comuns, e a capacidade de usar o Super Especial, que esvazia a barra imediatamente - mas, assim como em outros jogos da SNK, se a energia de um personagem estiver em 25% ou menos e sua barra de energia piscando, ele poderá usar Super Especiais livremente, sem gastar a barra de super. Provocar o oponente faz com que ele perca um pouco da barra de super, e provocá-lo quando ele a está enchendo manualmente diminui a velocidade com que ela enche.

KoF 94 seria lançado para arcades em 25 de agosto de 1994, e para Neo Geo em outubro do mesmo ano. Rapidamente, ele se tornaria um dos jogos mais populares da SNK e um dos mais vendidos no Neo Geo, mas, devido ao grande poder de processamento e quantidade de memória necessários para gerenciar as lutas entre times de três, superiores às dos demais consoles da época, ele não ganharia tão cedo uma versão para outro sistema: apenas em 2004, para comemorar os dez anos de seu lançamento, é que seria lançada uma versão para Playstation 2, chamada The King of Fighters '94 Re-Bout, que, além do jogo original, trazia uma nova versão com gráficos em alta resolução, a possibilidade de se editar os times livremente (podendo serem escolhidos três personagens de três times diferentes, por exemplo), e a de se jogar com Rugal ou com Saisyu Kusanagi, pai de Kyo.

O sucesso de KoF 94 levaria, evidentemente, a uma continuação, The King of Fighters '95, lançado em julho de 1995 para arcades e em novembro para Neo Geo, ganhando versões no ano seguinte para Playstation e Saturn. Em termos de jogabilidade, KoF 95 é bastante semelhante a KoF 94, com as únicas diferenças sendo um aumento na velocidade do jogo e que os personagens ganharam a possibilidade de fazer um rápido ataque imediatamente após esquivar. Infelizmente, uma espécie de bug faria com que alguns especiais e Supers causassem mais dano quando bloqueados do que se atingissem em cheio, o que tornava meio difícil saber se era melhor bloquear ou não.

A maior novidade trazida por KoF 95 foi o Team Edit. Mais uma vez, estavam à disposição do jogador oito times de três personagens cada, mas, antes de você escolher qual time queria, o jogo perguntava se você queria ativar o Team Edit; escolhendo sim, era possível escolher seus três lutadores livremente, sem precisar seguir a formação original dos times. Dos 24 personagens à disposição do jogador, 21 estariam de volta; apenas os três lutadores do time dos Estados Unidos ficariam de fora, substituídos por um time formado por Eiji Kisaragi (de Art of Fighting 2), Billy Kane (de Fatal Fury) e um personagem novo, Iori Yagami, rival de Kyo que tem em suas veias o sangue de Orochi, que lhe confere alguns poderes psiônicos. Diferentemente do que ocorria em KoF 94, em KoF 95 os times não representam países, mas, como também não têm qualquer nome, a maioria dos jogadores ainda se refeririam a eles pelos países de KoF 94, sendo o novo time o dos Estados Unidos; extra-oficialmente, a SNK usaria vários nomes para se referir aos times, sendo os mais comuns o Rivals Team ("time dos rivais") para o de Iori e o Hero Team (o "time dos heróis") para o de Kyo, além dos óbvios Fatal Fury Team e Art of Fighting Team.

KoF 95 começaria a chamada Saga de Orochi, uma história que se desenrolaria pelos dois títulos seguintes, formando uma trilogia; nessa primeira parte, entretanto, as referências ao tal de Orochi são bem poucas, com apenas sendo citado que Iori possui o sangue de Orochi e que Rugal deseja obter seus poderes. Rugal, aliás, é mais uma vez o último chefe, dessa vez ainda mais poderoso e usando o nome de Omega Rugal (God Rugal no Japão; evidentemente, o nome seria alterado no ocidente para evitar problemas de ordem religiosa); Saisyu, o pai de Kyo, também estrearia nesse jogo como um sub-chefe, devendo ser enfrentado antes de Omega Rugal - não porque ele seja aliado do vilão, mas porque, com seus novos poderes, Rugal fez lavagem cerebral em Saisyu e o obrigou a ajudá-lo. Aliás, o jogo até faz um certo suspense para evitar que se saiba que Rugal é mais uma vez o último chefe, dando a entender que seria Saisyu.

KoF 95 também ganharia uma versão para o Game Boy, que, como vocês devem estar imaginando, não era lá essas coisas. 15 personagens estavam à disposição do jogador (Kyo, Benimaru, Mai, Yuri, Iori, Billy, Eiji, Terry, Joe, Ryo, Athena, Kensou, Heidern, Ralf e Kim), com os times podendo ser formados livremente; Saisyu é o subchefe e Omega Rugal o último chefe, e ambos podem ser selecionados através de códigos; e Nakoruru (de Samurai Shodown) é uma lutadora secreta. Contribuem para que o jogo não seja bom o fato de que os lutadores são minúsculos e todos de aparência muito semelhante, o de que o Game Boy só tem dois botões, e o de que o dano causado por cada golpe é mínimo, com a maioria das lutas terminando porque acabou o tempo. Vale destacar, entretanto, que o jogo tem suporte ao Super Game Boy (o periférico que permitia jogar jogos de Game Boy no Super Nintendo), e, se este for utilizado, é possível jogar no modo versus com os dois controles do SNES, algo que não era nada comum. Vale citar também que, além da opção de três contra três, a versão Game Boy de KoF 95 possui uma opção de luta um contra um.

A Saga de Orochi continuaria em The King of Fighters '96, lançado em julho de 1996 para arcades, e mais tarde para Neo Geo, Playstation e Saturn. KoF 96 traria drásticas diferenças em relação a seus predecessores, começando pelo fato de que todos os personagens ganhariam novos e aprimorados gráficos e animações, com os antigos sendo refeitos do zero ao invés de apenas modificados. A esquiva seria substituída por um movimento que fazia o personagem rolar no chão, bem mais eficiente, e o pulinho para a frente seria substituído por uma corrida, ao estilo de outros jogos de luta. O bug de KoF 95, evidentemente, foi solucionado, e a mecânica dos pulos foi alterada, com agora cada personagem sendo capaz de pulos de diferentes alturas e distâncias dependendo da forma como o direcional era pressionado. Todos os golpes comuns e especiais também foram refeitos, para que os personagens se tornassem o mais diferentes possível uns dos outros, e agora era possível "cancelar" um ataque ou movimento que estava em andamento gastando um pouco da barra de super, para pegar o oponente de surpresa - por exemplo, era possível começar a rolar, cancelar o movimento e emendar um especial. Se o personagem executar um Super Especial com a barra de super cheia e a energia piscando, ele causará mais dano que um Super usado com somente um desses requisitos. Finalmente, uma novidade que atuava mais como curiosidade que como mecânica de jogo era o fato de que, dependendo de qual time você formasse, os personagens que estavam de fora podiam se recusar a ajudar o que estava lutando baseado em suas relações interpessoais - Iori, por exemplo, jamais ajudaria Kyo.

A formação dos times a partir de KoF 96 é totalmente livre, sem a opção de se escolher times fixos. Ao todo, 27 personagens estão disponíveis para o jogador, sendo 20 antigos (Kyo, Benimaru, Daimon, Terry, Andy, Joe, Ryo, Robert, Yuri, Ralf, Clark, Athena, Kensou, Chin, Chang, Choi, Kim, Mai, King e Iori) e sete novos: Geese Howard (de Fatal Fury), Wolfgang Krauser (de Fatal Fury 2), Mr. Big (de Art of Fighting), Kasumi Todoh (de Art of Fighting 3), Leona Heidern, a filha de Heidern, que também tem sangue de Orochi, e mais Mature e Vice, ex-secretárias de Rugal que agora se aliaram a Iori, sendo que Mature usa golpes rápidos e de pouco dano, enquanto Vice usa golpes de execução lenta e dano brutal - e que, por alguma razão bizarra, têm suas aparências baseadas nas das vocalistas da banda The Human League. Vale citar que Geese, Krauser e Mr. Big são conhecidos extra-oficialmente como o Boss Team (o "time dos chefes").

O novo torneio King of Fighters é organizado por Chizuru Kagura, que planeja recrutar tanto Kyo quanto Iori para ajudá-la a selar o demônio Orochi de uma vez por todas; com o uso indiscriminado de poderes de Orochi pelos lutadores, ele obteve poder para quase se libertar, e destruirá o mundo se o fizer. Assim como Saisyu em KoF 95, Chizuru posa de último chefe, mas é, na verdade, apenas a subchefe; o verdadeiro último chefe é Leopold Goenitz, que também tem sangue de Orochi, é o mais hábil do planeta na utilização de seus poderes, e principal responsável pelo selo de Orochi estar se enfraquecendo.

KoF 96 também ganharia uma versão para o Game Boy, que mantinha a opção de luta um contra um e a possibilidade de se jogar versus no Super Game Boy, e corrigia o problema do dano mínimo, mas ainda tinha personagens minúsculos. Nessa versão estão disponíveis Kyo, Daimon, Mai, Iori, Mature, Terry, Andy, Ryo, Robert, Athena, Leona, Geese, Krauser, Mr. Big e Chizuru; com Orochi Iori, Orochi Leona e Mr. Karate (de Art of Fighting) sendo personagens secretos. Goenitz é o último chefe, mas é liberado para ser usado normalmente quando se termina o jogo; Chizuru, independentemente de se você escolhê-la ou não, é sempre a subchefe.

A Saga de Orochi se concluiria em The King of Fighters '97, lançado em julho de 1997 para arcades, e mais tarde, mais uma vez, para Neo Geo, Playstation e Saturn. O torneio King of Fighters agora é organizado por três integrantes de uma banda, que possuem o sangue de Orochi, e, ao contrário de Chizuru, querem mais é que o selo se rompa e Orochi domine o planeta. Muitos dos participantes tentam impedi-los, outros estão lá por motivos pessoais.

KoF 97 conta com 29 personagens à disposição do jogador. 23 deles são antigos: Kyo, Benimaru, Daimon, Chizuru, Mai, King, Ryo, Robert, Yuri, Terry, Andy, Joe, Athena, Kensou, Chin, Leona, Ralf, Clark, Kim, Chang, Choi, Billy e Iori. Os 6 novos são Ryuji Yamazaki, Blue Mary (ambos de Fatal Fury 3); Shingo Yabuki, adolescente que é o maior fã de Kyo, é treinado por Saisyu, e reproduz todos os seus golpes, mas sem o poder do fogo, o que faz com que seus efeitos sejam diferentes; e mais os três membros da "banda Orochi", o grandalhão Yashiro Nanakase, de movimentos lentos e golpes que causam muito dano, a enigmática Shermie, de movimentos rápidos e muitos agarrões e arremessos, e o andrógino Chris (a própria SNK jamais especificou se Chris era oficialmente menino ou menina), de muitos movimentos aéreos e combos. O jogo tem ainda um "personagem secreto", uma segunda versão de Kyo com os mesmos golpes de KoF 94 - quando todos os golpes e especiais foram refeitos em KoF 96, Kyo foi um dos personagens mais alterados, o que fez com que muitos jogadores pedissem para que, no jogo seguinte, ele retornasse para seus golpes originais; ao invés de fazer isso, a SNK colocou dois Kyos no jogo, sendo um deles secreto, mas que, para todos os efeitos de jogo, inclusive o final, é o mesmo Kyo. Curiosamente, essa ideia deu tão certo que acabou fazendo com que clones de Kyo, com diferentes características e golpes, fossem adicionados aos jogos seguintes da série.

Uma novidade interessante de KoF 97 é a adição dos personagens Orochi - personagens que tenham o sangue de Orochi, dominados pelo poder do demônio. Ao invés de simplesmente serem os mesmos personagens com novos golpes ou novas cores, os Orochi se comportam como personagens totalmente diferentes daqueles nos quais se baseiam, tendo outra aparência, falando outras frases, e, evidentemente, usando outros golpes. Ao todo, o jogo tem cinco personagens Orochi, todos atuando como subchefes (mas podendo ser selecionados com códigos): primeiro, o jogador enfrentará Orochi Leona ou Orochi Iori, dependendo de quais personagens estiver usando e quão bem estiver lutando, depois, ele deverá enfrentar um trio composto por Orochi Yashiro, Orochi Shermie e Orochi Chris. Para todos os efeitos, esse "trio de Orochis" é o último chefe, mas, após eles serem derrotados, o próprio Orochi possui o corpo de Chris, e uma luta contra ele começa - em outras palavras, Orochi é o verdadeiro último chefe do jogo, e derrotá-lo encerra sua ameaça para sempre.

Em termos de jogabilidade, KoF 97 trouxe um sistema parecido com o de Samurai Shodown 3: no início do jogo, o jogador pode escolher se vai querer usar o modo Advanced ou o modo Extra. No modo Extra, o jogo se comporta como KoF 94 ou 95, com o pulinho para a frente, a esquiva, os pulos simples, e uma barra de super de apenas um nível, sendo a única característica de KoF 96 presente o fato de o dano do Super ser maior se tanto a barra de super estiver cheia quanto a barra de energia estiver piscando. O modo Advanced conta com a rolagem, a corrida, o cancelamento e os pulos de KoF 96, mas com uma barra de super totalmente nova, que conta com três níveis e enche conforme o personagem acerta o oponente e usa especiais, não podendo se encher manualmente. Nesse modo, o jogador pode escolher gastar um nível da barra para ganhar um bônus em seus ataques e sua defesa durante alguns segundos (ao invés de ganhar o bônus no ataque automaticamente quando a barra está cheia), ou para usar um Super, sendo que é possível usar Supers de nível 2 (mais poderosos, mas que gastam dois níveis) ou de nível 3 (ainda mais poderosos, mas que gastam todos os três níveis), e não é possível usar supers com a energia piscando sem gastar barra de super.

Outra novidade trazida por KoF 97 foi que as relações interpessoais entre os personagens, além de influenciar se eles ajudarão ou não o que está lutando, influenciam a forma como a barra de super se comporta: dependendo do relacionamento entre o personagem seguinte e o que acabou de ser nocauteado, o seguinte pode já começar a luta com parte da barra de super cheia, com o mesmo nível que o nocauteado tinha, ou com ela totalmente vazia. Para evitar que os jogadores precisassem decorar quem ia com a cara de quem, bastava pressionar o botão Start na tela de seleção de personagens após ter escolhido um ou dois para que ícones surgissem junto às faces dos demais, indicando quais eram seus níveis de relacionamento com os já escolhidos.

Em março de 1998, KoF ganharia seu primeiro jogo para o Neo Geo Pocket, a primeira versão (monocromática) do portátil da SNK. Chamado The King of Fighters R-1 (de "Round 1"), esse jogo, assim como os demais do Neo Geo Pocket, trazia personagens no estilo super deformed (SD), aquele no qual se parecem com adultos em miniatura, com corpo pequeno mas cabeça, mãos e pés grandes. A história é a mesma de KoF 97, mas apenas 14 personagens estão presentes: Kyo, Chizuru, Iori, Terry, Ryo, Kim, Mai, Yuri, Athena, Shingo, Leona, Yashiro, Shermie e Chris. Todos os cinco Orochis estão presentes e podem ser selecionados através de truques, assim como Kyo '94. Orochi é o último chefe, e também pode ser selecionado com um truque. Assim como os jogos de Game Boy, KoF R-1 tem a opção de lutas três contra três ou um contra um; a jogabilidade, porém, é bem melhor, com todos os elementos da versão Neo Geo, inclusive os modos Advanced e Extra, presentes.

Com o fim da Saga de Orochi, a SNK tentaria algo diferente com o jogo seguinte da série, The King of Fighters '98: The Slugfest (The King of Fighters '98: Dream Match Never Ends no Japão), lançado em julho de 1998 para arcades e mais tarde para Neo Geo, Playstation e Dreamcast (para esse último com o estranho título de The King of Fighters: Dream Match 1999). Como o subtítulo japonês e o do Dreamcast atestam, KoF 98 é uma dream match, um torneio fictício e fora de cronologia envolvendo quase todos os lutadores presentes na série até então, até aqueles que, segundo a história, haviam morrido. Assim, estão à disposição do jogador nada menos que 38 personagens: Kyo, Benimaru, Daimon, Terry, Andy, Joe, Ryo, Robert, Yuri, Leona, Ralf, Clark, Athena, Kensou, Chin, Chizuru, Mai, King, Kim, Chan, Choi, Yashiro, Shermie, Chris, Yamazaki, Mary, Billy, Iori, Mature, Vice, Heidern, Takuma, Saisyu, Heavy D!, Lucky, Brian, Shingo e Rugal. Shingo também atua como subchefe, e Omega Rugal é o último chefe. Curiosamente, o time composto por Takuma, Heidern e Saisyu é conhecido extra-oficialmente como Old Men Team, o "time dos velhos".

Em termos de jogabilidade, KoF 98 é idêntico a KoF 97, com uma única diferença: toda vez que um personagem perde, seu time recebe um bônus, dependendo do modo escolhido - no modo Advanced, o personagem seguinte tem mais um nível na barra de super, até um máximo de 5, enquanto no modo Extra a barra de super de cada personagem seguinte enche mais rapidamente que a do anterior. Com o sucesso de Kyo '94 e dos Orochis, a SNK também decidiria incluir nada menos que 12 personagens secretos, todos selecionáveis através de códigos: Orochi Yashiro, Orochi Shermie, Orochi Chris, Kyo '95, Andy '95, Joe '95, Ryo '95, Robert '95, Yuri '95, Real Bout 2 Terry, Real Bout 2 Mai e Real Bout 2 Billy; os Orochis são idênticos aos de KoF 97, enquanto os personagens '95 têm os mesmos golpes de suas versões de KoF 95, e personagens Real Bout 2 têm os mesmos golpes, aparência e estilo de luta que suas versões presentes no jogo Real Bout Fatal Fury 2: The Newcomers.

Por todas as suas características, KoF 98 é considerado, até hoje, o melhor da série. Isso se refletiria no fato de que, assim como KoF 94, KoF 98 ganharia uma versão comemorativa de dez anos, chamada The King of Fighters '98: Ultimate Match, lançada em 2008 para arcades (para a placa Taito Type X, já que a SNK já não fazia mais jogos para a placa do Neo Geo), Playstation 2 e Xbox 360. Ultimate Match trazia um terceiro modo além do Advanced e do Extra, o Ultimate, que, na verdade, era um modo customizável no qual o jogador podia misturar características dos dois anteriores (usando o pulinho do Extra com a barra de super do Advanced, por exemplo), mas sua principal novidade era a adição de muitos personagens novos. Sete deles (Eiji, Kasumi, Geese, Krauser, Mr. Big, Goenitz e Orochi) estavam disponíveis desde o início, o que fazia com que Ultimate Match tivesse à disposição do jogador todos os personagens de KoF 94, 95, 96 e 97; outros seis (Orochi Leona, Orochi Iori, Real Bout 2 Yamazaki, Real Bout 2 Mary, Real Bout 2 Geese e AoF2 King, uma versão de King com a aparência e os golpes que ela tinha em Art of Fighting 2) eram secretos, o que aumentava o número de secretos para 18. Além disso, Orochi Iori ou Orohi Leona substituíam Shingo como subchefe antes da luta contra Omega Rugal.

Em março de 1999 seria lançado The King of Fighters R-2, para o Neo Geo Pocket Color, a segunda versão (colorida) do portátil da SNK. Na história, Rugal está criando clones dos participantes do torneio King of Fighters, e deve ser impedido. Mais uma vez, o jogo conta com 14 personagens: Kyo, Saisyu, Shingo, Athena, Yuri, Kasumi, Terry, Ryo, Mai, Leona, Iori, Yashiro, Shermie e Chris. Omega Rugal é o último chefe, e pode ser selecionado com um truque. Dessa vez, são oito personagens secretos: Kyo '94, Ryo '94, Yuri '94, Real Bout 2 Terry, Real Bout 2 Mai, Orochi Yashiro, Orochi Shermie e Orochi Chris (sendo que esses três últimos também são os subchefes antes de Rugal). Todas as características de KoF R-1 estão presentes, mais o novo modo Making, no qual você pode realizar tarefas específicas para evoluir os personagens, aumentando características como dano e velocidade dos golpes.

Chega. Na próxima parte, as Crônicas da NESTS!

The King of Fighters

Parte 1

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