Meet the Robinsons
2007
No início da década de 2000, a Disney adquiriu os direitos do livro infantil A Day with Wilbur Robinson, de William Joyce, lançado em 1990. Ambientado no futuro, o livro acompanha um menino de nome Lewis durante um dia na casa de seu melhor amigo, Wilbur Robinson, cuja família é um tanto excêntrica. A ideia original era fazer um filme com atores, que usasse apenas a estrutura central do livro, já que a história, bastante curta, não renderia um filme completo.
Antes de entrar em produção, porém, o projeto foi parar nas mãos de Steve Anderson, supervisor artístico dos desenhos A Nova Onda do Imperador e Irmão Urso. Anderson se apaixonou pelo projeto, e viu nele a oportunidade de fazer um grande filme de viagem no tempo, fazendo de Lewis um menino da época atual que viaja para o futuro na companhia de Wilbur Robinson para conhecer sua família. Anderson convenceria os executivos da Disney a transformar o projeto em um filme de animação em computação gráfica e, recebendo a luz verde, encomendaria imediatamente um roteiro, que acabaria ficando a cargo de Jon A. Bernstein, Michelle Spritz e Nathan Greno.
Na visão de Anderson, o filme teria três atos bem distintos: o primeiro se passaria no presente, tendo Lewis como protagonista. No segundo, quase uma adaptação fiel do livro, Lewis e Wilbur passariam um dia na companhia da Família Robinson, no futuro. Já o terceiro seria um futuro alternativo, causado pelo vilão do filme, que precisa ser derrotado por Lewis e Wilbur para que a linha do tempo normal se estabeleça. Para marcar as diferenças entre eles, Anderson optaria por três estilos diferentes de animação: o presente possui formas geométricas angulares e cores opacas; o futuro tem cores brilhantes e muitas curvas, sendo inspirado no conceito de futurismo do design industrial dos anos 1930 e 1940; e o futuro alternativo é distópico nos moldes dos filmes de ficção científica da década de 1980.
Essa inspiração faria com que o filme, apesar de ambientado no futuro, tivesse um ar meio retrô. Além disso, todo o filme seria pontuado por invenções malucas: Lewis, apesar de criança, é um inventor, tendo criado, por exemplo, uma máquina que passa pasta de amendoim e geleia automaticamente em torradas, e o Sr. Robinson, pai de Wilbur, é o maior inventor do futuro, sendo sua casa cheia delas - foi ele, aliás, quem inventou a máquina do tempo, usada por Wilbur e pelo vilão para viajarem até o presente. Ao todo, mais de cem invenções loucas seriam criadas para o filme, sendo muitas descartadas ou aparecendo apenas de relance na versão final. Para dar conta do visual futurista retrô e da aparência de tantas invenções exóticas, Anderson selecionaria como diretor de arte Robh Ruppel, que trabalhou com ele em Irmão Urso, e era formado em design industrial pela Art Center College de Pasadena, Califórnia.
Além de ousar no visual do filme, Anderson decidiria ousar também no elenco, escolhendo através de testes dois atores iniciantes para os papeis principais: Jordan Fry, escolhido para dublar Lewis, tinha até então como principal trabalho o Mike Teavee da versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate de Tim Burton, enquanto Wesley Singerman, dublador de Wilbur, faria sua estreia no cinema, só tendo dublado antes Charlie Brown em três especiais do Snoopy para a TV. O próprio Anderson dublaria o vilão, que não tem nome, sendo conhecido apenas como "o cara de chapéu-coco" (The Bowler Hat Guy no original). Embora a maioria dos nomes do elenco fosse de desconhecidos do grande público, dois se destacariam: Angela Bassett, de Malcolm X e Alias, dublaria Mildred, dona do orfanato onde Lewis vive no presente, e Tom Selleck, o Magnum, seria a voz do Sr. Robinson. O filme conta ainda com uma participação super especial de Adam West, o Batman da série de TV, como o Tio Art.
A trilha sonora ficaria a cargo dos astros pop Rufus Wainwright e Rob Thomas (vocalista do Matchbox Twenty), com trilha instrumental de Danny Elfman, habitual parceiro de Tim Burton em suas produções. A Disney tentaria ressucitar sua tradição de lançar canções da trilha sonora nas rádios em versões gravadas por astros da música pedindo aos Jonas Brothers, prata da casa, para gravar a faixa Kids of the Future. Por problemas de logística, entretanto, a música acabaria tendo uma distribuição limitada, não sendo tão executada nas rádios como os grandes sucessos da década de 1990.
A Família do Futuro seria o primeiro longa de animação produzido pela Disney em computação gráfica com personagens humanos. O que os animadores acharam que seria fácil - afinal, pessoas não poderiam ser tão diferentes dos animais antropomórficos de O Galinho Chicken Little - acabaria se tornando um grande desafio. Para garantir que os personagens fossem vistos pela audiência como humanos, e não como personagens de desenho animado, Anderson recrutaria como supervisor de animação Michael Belzer, cuja principal experiência era com filmes em stop-motion como O Estranho Mundo de Jack e James e o Pêssego Gigante. Belzer garantiu que toda a atenção fosse dada aos mínimos detalhes, principalmente das roupas, fazendo com que elementos como a capa do vilão precisassem de dezenas de horas para serem animadas corretamente. Foi Belzer também quem insistiu para que a Disney continuasse agindo como na era da animação tradicional, designando supervisores de animação individuais para cada personagem, coisa incomum em desenhos de computação gráfica, pois, segundo ele, só assim seria dada a devida atenção a todos os detalhes de cada um.
O planejamento original de Anderson era lançar A Família do Futuro em 2006, um ano após O Galinho Chicken Little. O desenho acabaria sendo, entretanto, atrasado em um ano devido a um problema inesperado: durante a produção, ocorreria a fusão da Disney com a Pixar, o que faria com que John Lasseter, diretor de Toy Story e principal executivo da Pixar, se tornasse o responsável pelo controle criativo das produções Disney. Anderson mostraria uma versão preliminar do filme a Lasseter, visando já começar a pós-produção caso ela fosse aprovada. Lasseter, porém, não a aprovou, alegando que o vilão não tinha uma motivação clara, que faltava ação e que o final não empolgava. Nos dez meses seguintes, a equipe de Anderson mudaria mais da metade do filme, melhorando o vilão, mudando o final e incluindo uma sequência na qual a Família Robinson é atacada por um dinossauro. Somente aí o filme seria aprovado e encaminhado para a pós-produção - o que serviu para mostrar à Disney mais uma vantagem da computação gráfica: caso o desenho estivesse sendo feito em animação tradicional, milhões em células, tintas e outros equipamentos teriam sido perdidos.
Na versão final do filme, Lewis (Jordan Fry) é um menino que vive em um orfanato, gerenciado pela bondosa Mildred (Angela Bassett), e cujo único amigo é seu colega de quarto, Michael Yagoobian, apelido Goob (Matthew Josten). Lewis é um inventor, e sonha criar uma máquina que resgate as memórias do usuário, para que possa ver o rosto de sua mãe no dia em que ela o abandonou no orfanato, ainda bebê.
Todas as máquinas de Lewis, porém, sofrem defeitos e não funcionam conforme o previsto. Um dia, durante uma feira de ciências no colégio, seu recuperador de memórias quase funciona, mas é sabotado por um misterioso vilão (Steve Anderson), que usa um chapéu-coco robótico de personalidade própria chamado Dóris (Ethan Sandler). Após a sabotagem, o vilão rouba o invento de Lewis, e o garoto topa com Wilbur Robinson (Wesley Singerman), um menino de sua idade que alega ser um policial do futuro, viajando no tempo para evitar danos à história. Wilbur insiste que Lewis deve consertar seu aparelho, mas o menino, decepcionado com mais uma falha, se recusa. Como ele também não acredita que Wilbur seja do futuro, os dois fazem um trato: Wilbur o levará até 2037, seu ano de origem, se Lewis prometer consertar a máquina.
Wilbur leva Lewis clandestinamente, e não pode deixar ninguém saber que ele é do passado. Disfarçado, o menino é apresentado a toda a Família Robinson: a vovó Lucille (Laurie Metcalfe, a mãe do Andy de Toy Story), o avô Bud (Steve Anderson), a mãe Franny (Nicole Sullivan), a prima Tallulah (Steve Anderson), o tio Fritz (Ethan Sandler), a tia petúnia (Ethan Sandler), o tio Dimitri (Ethan Sandler), o tio Spike (Ethan Sandler), o primo Lazlo (Ethan Sandler), o tio Gaston (Don Hall), a tia Billie (Kelly Hoover), o tio Art (Adam West) e o robô-mordomo Carl (Harland Williams). O único membro da família que Lewis não conhece imediatamente é Cornelius Robinson (Tom Selleck), o pai de Wilbur; somente após Lewis e Wilbur descobrirem que o vilão precisa do recuperador de memórias para alterar o passado e criar uma linha do tempo alternativa na qual ele domina o mundo - e impedi-lo, evidentemente - é que Lewis conhece o Sr. Robinson, e descobre que seu papel na história é ainda maior do que ele imagina.
A Família do Futuro estrearia em 23 de março de 2007, assim como seu antecessor, em 2D e 3D. A crítica ficou dividida, com alguns elogiando o roteiro, outros criticando a qualidade da animação. A Disney não chegou a divulgar quanto o filme custou, mas declarou que ele foi um sucesso após arrecadar quase 98 milhões de dólares apenas nos Estados Unidos, sendo 25 milhões apenas no primeiro fim de semana.
Bolt
2008
Logo após o lançamento de Lilo & Stitch, Chris Sanders, seu diretor, apresentou à Disney um novo projeto, de um desenho que batizou American Dog. Nesse desenho, um cachorro astro da TV, chamado Henry, se perde de seus donos durante uma viagem através do deserto de Nevada, e, em companhia de um gato caolho e de um coelho radioativo gigante, tenta encontrar o caminho de volta para casa. A peculiaridade da história era que Henry acreditava ainda estar em um programa de TV, não acreditando estar realmente perdido, por mais que seus companheiros de viagem tentassem convencê-lo.
A Disney deu a luz verde para o projeto, e Sanders, que também o dirigiria, reuniu sua equipe e começou a trabalhar nele. Durante a produção, entretanto, ocorreu a já famosa fusão da Disney com a Pixar, após a qual John Lasseter se tornaria o responsável pelo controle criativo das produções Disney. Lasseter assistiu a uma versão preliminar de American Dog, e entregou a Sanders uma série de notas sobre o desenho, basicamente dicas de como ele poderia melhorá-lo. Sanders, entretanto, desconsiderou completamente as anotações de Lasseter, e continuou produzindo o desenho como havia planejado.
A Disney não gostou dessa insubordinação, e acabou afastando Sanders do projeto, substituindo-o por dois diretores iniciantes, Chris Williams (também co-roteirista da versão final, ao lado de Dan Fogelman, e que já havia trabalhado como roteirista em Mulan, A Nova Onda do Imperador e Irmão Urso) e Byron Howard (que havia trabalhado como animador em Pocahontas, Mulan, Lilo & Stitch e Irmão Urso). Os dois, que não são bobos nem nada, imediatamente introduziram no desenho todas as mudanças sugeridas por Lasseter, e decidiram, inclusive, mudar o título, para que ficasse claro que o desenho estava livre da influência de Sanders. O novo nome que escolheram foi o mesmo novo nome do cãozinho protagonista: Bolt (que, em inglês, quer dizer "raio").
Bolt (John Travolta) é um cãozinho da raça Pastor Branco Norte-Americano, protagonista de um seriado de TV no qual sua dona, Penny (Miley Cyrus, a Hannah Montana), é a filha de um importante cientista, sequestrado pelo vilão Dr. Calico (Malcolm McDowell), que planeja extrair dele segredos que o permitirão dominar o mundo. Antes de ser sequestrado, o pai de Penny criou uma fórmula que deu a Bolt vários superpoderes - como superforça, supervelocidade, visão laser e sua principal arma, o latido atômico - para que ele pudesse proteger Penny das investidas do vilão. Penny e Bolt, então, partem para resgatar o pai da menina, enfrentando os vários capangas e armas do Dr. Calico a cada episódio.
Em uma espécie de Show de Truman canino, Bolt foi criado desde filhote como se o seriado fosse a vida real, jamais tendo contato com nenhum elemento de fora do estúdio onde o mesmo é gravado. Segundo o diretor (James Lipton), na mente do cachorro Penny realmente está em perigo, o que faz com que a "atuação" de Bolt seja ainda mais realística. Penny não concorda com essa abordagem, mas é sempre convencida pela sua verdadeira mãe (Grey DeLisle) e seu empresário (Greg Germann) a deixar as coisas como estão.
Um dia, entretanto, a rede de TV, insatisfeita com a audiência do programa, opta por uma guinada radical, fazendo com que Penny também seja sequestrada. Bolt, desesperado, tenta de todas as formas escapar do trailer para o qual sempre é levado após cada episódio - o que acaba conseguindo graças à interferência de um gato (Diedrich Bader), que "interpreta" o gato do Dr. Calico. Após a fuga, Bolt acidentalmente é empacotado e enviado para Nova Iorque, do outro lado do país.
Bolt, então, passa a ter como missão retornar a Los Angeles, cidade onde o seriado é gravado e onde ele acredita que esteja Penny, sequestrada pelo Dr. Calico. Durante sua jornada, ele conhece uma gata, Mittens (Susie Essman), e um hamster, Rhino (Mark Walton), que se tornam seus companheiros de viagem. Para desespero de Mittens, não somente Bolt não confia em nenhum gato como também acredita ter todos os superpoderes que possui no seriado, inclusive agindo como tal - e sendo encorajado por Rhino, que se declara seu maior fã - o que pode ser especialmente perigoso para o trio em algumas situações...
O visual do filme seria inspirado nas pinturas de Edward Hopper, com as sequências de ação tentando imitar a fotografia de Vilmos Zsigmond, responsável, por exemplo, por Contatos Imediatos de Terceiro Grau. Como nos áureos tempos, a Disney criaria uma nova tecnologia especialmente para o filme, com a qual os planos de fundo, mesmo sendo produzidos em computação gráfica, se pareceriam com os feitos em animação tradicional. Um novo software de renderização também seria criado especificamente para o desenho, com um intuito diametralmente oposto ao da direção de arte de A Família do Futuro: enquanto lá a intenção era fazer com que a audiência visse os personagens como humanos, em Bolt a ideia era deixar claro que tudo não passava de um desenho animado.
A raça de Bolt não foi escolhida por acaso: o Pastor Branco possui enormes orelhas, que, segundo a equipe de animação, ajudariam em sua expressividade. A gatinha Mittens ganharia um desconto, e, ao invés de caolha, passaria a ser apenas declawed, procedimento muito comum nos Estados Unidos através do qual veterinários extraem as garras dos gatos domésticos, e que encontra grande oposição dentre os defensores dos animais. Rhino também deixaria de ser um coelho radioativo gigante para ser um hamster comum e obeso, com delírios de grandeza e sempre se locomovendo dentro de sua bolinha transparente, inspirado em um chinchila de estimação de Lasseter, que também costumava correr pelos Estúdios Disney dentro de uma bolinha dessas.
A equipe de Bolt teria um prazo apertadíssimo para concluir seus trabalhos: após o afastamento de Sanders, a cúpula da Disney não quis adiar o prazo de estreia originalmente previsto para o desenho - afinal, A Família do Futuro já havia sofrido um atraso que fez com que só fosse lançado dois anos após O Galinho Chicken Little, e a Disney não queria passar a impressão de que, justamente na era da computação gráfica, seus Clássicos passariam a ser lançados a cada dois anos ao invés de anualmente. Com o prazo original mantido, a nova equipe de produção dispunha de apenas dezoito meses para concluir um trabalho que a equipe de Sanders já vinha desenvolvendo há quatro anos - e que aproveitaria muito pouco do material original. Apesar da correria, o lançamento se daria na data programada, e a Disney se mostraria extremamente satisfeita com o resultado final.
Com orçamento de 150 milhões de dólares, Bolt estrearia em 21 de novembro de 2008, arrecadando 26 milhões de dólares em seu primeiro fim de semana - ficando em terceiro lugar atrás de uma concorrência extremamente desleal, Crepúsculo e 007: Quantum of Solace. No total, ele arrecadaria pouco mais de 114 milhões nos Estados Unidos, mas seus ganhos mundiais fariam com que a Disney o considerasse um sucesso - devido ao aumento dos custos de produção, atualmente a maioria dos estúdios já faz seus filmes prevendo que eles não vão conseguir se pagar só com a arrecadação doméstica, e a Disney não é exceção. A crítica recebeu muito bem o filme, considerando-o apropriado a crianças e adultos, uma mistura perfeita dos estilos Disney e Pixar e, curiosamente, bastante semelhante a Lilo & Stitch em sua tentativa de resgatar o clima dos grandes Clássicos Disney.
Bolt seria indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação, mas perderia ambos para o "fogo amigo" de Wall-E, produção que a Pixar lançaria no mesmo ano.
The Princess and the Frog
2009
Quando a Disney anunciou, logo após a produção de Nem que a Vaca Tussa, que aquele seria seu último desenho para o cinema produzido em animação tradicional, muitos animadores deixaram o estúdio, despedidos ou voluntariamente, por falta de vontade de trabalhar com computação gráfica. Foi o caso de Ron Clements e John Musker, responsáveis por A Pequena Sereia e Aladdin, que deixaram o estúdio voluntariamente em 2005.
Mas, quando ocorreu a fusão da Disney com a Pixar, John Lasseter, executivo da Pixar escolhido para cuidar do controle criativo da Disney, notou uma coisa curiosa: tanto a Disney quanto a Pixar tinham projetos em desenvolvimento baseados no conto de fadas O Príncipe Sapo, dos Irmãos Grimm. O da Disney era uma tentativa de retornar aos contos de fadas, que tantas glórias os haviam rendido no passado, após um período no qual histórias mais modernas pareciam ser a onda da vez. O da Pixar, mais com a cara do estúdio, era baseado no livro The Frog Princess ("a princesa sapo"), de E.D. Baker, no qual a princesa, ao beijar o príncipe transformado em sapo, ao invés de retransformá-lo em príncipe, acaba se transformando em sapa, tendo os dois que recorrer a uma feiticeira para voltar às suas formas originais.
Lasseter decidiu misturar os dois projetos, fazendo um Clássico Disney à moda antiga baseado na história de Baker. Para isso, ele não somente ressucitou todo o departamento de animação tradicional, trazendo de volta vários animadores, inclusive alguns que haviam sido despedidos, como também foi conversar pessoalmente com Clements e Musker, únicos diretores, em sua opinião, capazes de fazer um musical Disney animado da maneira como deveria ser.
O projeto seria batizado com o mesmo nome do livro, The Frog Princess, e a produção começaria em meados de 2006. Ao invés de fazer uma história baseada nos tempos medievais, Clements e Musker decidiriam ousar, ambientando-o na cidade de Nova Orleans e fazendo da heroína, até então chamada Maddy, a primeira princesa negra da Disney. Infelizmente, a ousadia não surtiu o efeito esperado: assim que as primeiras informações sobre o filme começaram a ser divulgadas, grupos de defesa dos direitos dos negros começaram a reclamar de tudo. Reclamaram do nome da heroína, que, segundo eles, lembrava o termo pejorativo mammy; de sua profissão - originalmente, Maddy seria camareira; do fato de que o príncipe pelo qual ela se apaixona ser branco e europeu; do fato de o vilão ser negro e praticante de vodu; e até mesmo do título, considerado ofensivo por comparar negros a sapos. Além disso, a escolha de Nova Orleans, destruída no ano anterior pelo furacão Katrina, o que levou grande parte da população negra a deixar a cidade, foi considerada por muitos como uma afronta às vítimas do furacão.
Clements e Musker, porém, não dariam o braço a torcer. Alegando que Nova Orleans fora escolhida por ser uma cidade mágica e de atmosfera única, e que já estava mais do que na hora de a Disney ter uma princesa negra, eles mantiveram o projeto, apenas mudando alguns detalhes, como a mudança na ambientação da Nova Orleans da época atual para a do início do século XX e a alteração do nome da heroína para Tiana e sua profissão para garçonete. O príncipe também seria levemente alterado, com seu tom de pele se tornando mais escuro e seu nome sendo mudado para Naveen, para dar a entender que ele vinha de algum país africano - embora o nome do país, Maldônia, e as feições do príncipe e de seu acompanhante continuassem sendo criticadas por aqueles que o consideravam branco, europeu e inadequado para ser o interesse amoroso de uma garota afro-americana. Como muito das críticas persistiam, em 2007 a Disney optaria por mudar o título do filme para A Princesa e o Sapo, e decidiria contratar a famosa apresentadora de televisão Oprah Winfrey como consultora técnica, oferecendo-a também o papel da mãe de Tiana.
Tiana (Anika Noni Rose) é uma jovem garçonete da Nova Orleans da década de 1920, cuja mãe, Eudora (Oprah Winfrey) é costureira, sendo responsável pelas roupas da mimada Charlotte LaBouf (Jennifer Cody), filha do Coronel LaBouf (John Goodman), homem mais rico da cidade. Graças a isso, Tiana e Charlotte são amigas de infância, apesar de viverem em mundos diferentes: enquanto Charlotte tem tudo o que quer, Tiana batalha em vários empregos e guarda cada centavo para realizar seu maior sonho - abrir seu próprio restaurante.
Um dia, a cidade entra em polvorosa com a visita do Príncipe Naveen (Bruno Campos), herdeiro do trono da Maldônia, um boa-vida cujo pai decidiu cortar qualquer auxílio financeiro até que ele aprenda a ter responsabilidade. Charlotte se ouriça toda com a possibilidade de se casar com um Príncipe, e faz com que seu pai realize uma grande festa em sua homenagem, contratando Tiana como cozinheira para a noite. Enquanto os preparativos são feitos, porém, o Príncipe é engambelado por um trambiqueiro, o Facilitador (Keith David), que usa magia negra para transformá-lo em um sapo e fazer com que seu acompanhante, Lawrence (Peter Bartlett), assuma sua aparência, agindo como fantoche para que o Facilitador tenha acesso à fortuna do Rei da Maldônia.
Sem saber de nada disso, durante a festa, enquanto Charlotte dança com o falso Príncipe, Tiana encontra o Príncipe transformado em sapo, e, lembrando-se de uma história que sua mãe lia para ela quando criança, decide beijá-lo para transformá-lo novamente em Príncipe. A magia do Facilitador, entretanto, faz com que Tiana acabe transformada em sapo. O casal de sapos, então, parte em uma viagem pelos bayous ("pântanos", na falta de tradução melhor) da Louisiana, em busca da feiticeira Mama Odie (Jenifer Lewis), que teria poderes para devolvê-los às suas verdadeiras formas. Durante a jornada, eles fazem amizade com dois animais locais que os ajudarão, o jacaré Louis (Michael-Leon Wooley), cujo maior sonho é tocar trumpete profissionalmente, e o vagalume Ray (Jim Cummings), apaixonado por uma estrela a quem chama de Evangeline.
Quando a Disney anunciou que estava selecionando o elenco, houve uma verdadeira disputa para ver quem seria a responsável por interpretar a primeira Princesa Disney negra: a cantora Alicia Keys chegou a ligar diretamente para o presidente da Disney pedindo o papel, e até a modelo Tyra Banks se mostrou interessada. Após muitos testes, a produção ficou dividida entre duas atrizes que participaram do filme Dreamgirls, Jennifer Hudson e Anika Noni Rose, com Rose sendo a escolhida por se sair melhor nas canções. O vilão ficaria a cargo de Keith David, de CSI, enquanto o Príncipe Naveen ficaria com o brasileiro Bruno Campos (de O Quatrilho), à época bastante conhecido nos Estados Unidos por sua participação na série Nip/Tuck. Além de Oprah Winfrey, o desenho contaria com as participações especiais de John Goodman como o Coronel LaBouff, e Terrence Howard como pai de Tiana.
Durante o processo de animação, a Disney considerou o CAPS ultrapassado, e decidiu usar um programa chamado Harmony, criado pela empresa canadense Toom Boom Animation, mas não sem fazer uma customização no programa, já que o Harmony não era capaz de reproduzir alguns efeitos do CAPS, como cortinas de fumaça. Para testar o novo software, os animadores produziram um curta do Pateta; sua intenção era fazê-lo totalmente digitalmente, usando mesas de digitalização - equipamentos semelhantes a pranchetas operados com canetas especiais; tudo o que se "desenha" com a caneta na prancheta é imediatamente transmitido para o computador - mas o processo se mostrou muito complicado, então foi usada a velha técnica de se desenhar em papel, digitalizar e passar para o programa. Os animadores também tentaram fazer o filme o mais próximo possível de suas raízes, sem qualquer elemento em computação gráfica e baseando as aparências dos personagens nos grandes Clássicos Disney. Clements e Musker desejavam que o efeito final lembrasse A Dama e o Vagabundo, desenho que eles consideram o ápice da qualidade nas animações Disney.
Como o desenho é um musical, o compositor Randy Newman teve de criar dez canções que seriam executadas em diversos momentos do filme. Como a ambientação era Nova Orleans, Clements e Musker pediram que as canções tivessem um toque de jazz; Newman fez mais que isso, misturando jazz, zydeco, blues e gospel em diferentes medidas a cada canção. Todas as canções do filme são interpretadas pelos dubladores dos personagens, exceto a que toca durante os créditos, Never Knew I Needed, escrita e interpretada pelo cantor de R&B Ne-Yo - o que faz com que ela também seja a única da trilha que não foi composta por Newman. Never Knew I Needed seria lançadas nas rádios para promover o desenho, no mesmo estilo dos musicais Disney do passado.
A Princesa e o Sapo estreou em 11 de novembro de 2009, sendo extremamente bem-recebido pela crítica, que elogiou, principalmente, o fato de o desenho ter uma história, ao invés de ser composto apenas por sequências de ação desenfreada como os últimos lançamentos do gênero. A volta da animação tradicional também foi comemorada, embora alguns tenham reclamado que, por mais bonito que o desenho fosse, não chegava aos pés dos representantes da Renascença Disney. A Princesa e o Sapo seria indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação, perdendo ambos para Up - Altas Aventuras, da Pixar, e a dois Oscars de Melhor Canção Original, com Almost There e Down in New Orleans, perdendo para The Weary Kind, de Coração Louco. Também seria o primeiro Clássico Disney a concorrer a um Grammy desde A Nova Onda do Imperador, sendo indicado na categoria Melhor Canção Escrita Especificamente para Filme ou Série de TV por Down in New Orleans, perdendo, mais uma vez, para The Weary Kind.
Com orçamento de 105 milhões de dólares, o desenho arrecadou 104 milhões e meio nos Estados Unidos, chegando perto de se pagar apenas com o rendimento doméstico, uma raridade nos dias de hoje. A Disney se mostrou extremamente satisfeita com o desempenho do desenho junto ao público e crítica, tanto que continuou investindo em seu departamento de animação tradicional e hoje, ao invés de produzir apenas Clássicos em computação gráfica, como chegou a planejar, tem como meta intercalar os dois tipos de produção, lançando desenhos em CG e em animação tradicional alternadamente.
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