A primeira vez que eu ouvi falar sobre Street Fighter foi na oitava série, quando um amigo, maravilhado com um Street Fighter II disponível em um fliperama perto da casa dele, não parava de falar sobre os lutadores e seus golpes. Curiosamente, na minha imaginação o jogo era completamente diferente, talvez por eu estar acostumado com gráficos de 8 bits. A primeira vez que eu vi como realmente era foi em uma revista de videogames, quando foi lançada a versão para SNES, e confesso que me surpreendi. A primeira vez que eu joguei também foi no SNES, e ainda levaria alguns meses para que eu finalmente jogasse num arcade, quando aqui perto de casa finalmente apareceu uma Champion Edition. Desde então, Street Fighter sempre tem um lugarzinho no meu coração, embora já não seja mais o meu jogo de porrada preferido.
Mas a história de Street Fighter, obviamente, não começa com Street Fighter II. Antes dele, foi lançado um "Street Fighter I", que não fez muito sucesso - por incrível que pareça, eu cheguei a jogá-lo no tal fliperama que tinha aqui perto de casa, que picaretamente arrumou uma máquina quando o 2 estava no auge da fama, e posso dizer que o fato dele não ter feito sucesso não me espanta nem um pouco. Lançado para arcades pela softhouse japonesa Capcom em 1987, Street Fighter foi criado por Takashi Nishiyama e Hiroshi Matsumoto, responsáveis pelo jogo Avengers, onde um lutador de nome Ryu tentava salvar três garotas e expulsar uma gangue de sua cidade usando apenas seus socos e chutes. Com Street Fighter, Piston Takashi e Finish Hiroshi, como eram conhecidos, buscavam revolucionar os jogos de luta, fazendo com que cada fase fosse uma luta contra um chefe, sem que o jogador tivesse de derrotar inúmeros oponentes mais fracos para chegar nele. Não conseguiram, mas acabaram contratados pela SNK, onde tentariam de novo com Fatal Fury e Art of Fighting.
Street Fighter foi desenvolvido para uma placa só dele, que podia ser montada em dois tipos de gabinete: um, além do joystick de oito direções, tinha seis botões, três para socos (fraco, médio e forte) e três para chutes (idem). A segunda versão tinha apenas dois botões, um para soco e um para chute, mas estes botões eram curiosamente sensíveis, ou seja, quanto mais forte você apertava o botão, mais forte saía o golpe. Era esse que tinha aqui perto de casa, e alguns jogadores mais sem noção davam verdadeiras patadas nos botões, talvez tantando derrotar um oponente com um soco só ou coisa assim. Não sei se o botão já estava meio destruído quando eu joguei, mas era difícil controlar a força dos golpes, sendo infinitamente mais fácil aplicar um soco ou chute forte do que um fraco ou médio. Com o joystick, o jogador podia se mover na direção do oponente ou para longe dele, pular reto para cima, na direção do oponente ou para longe dele, se abaixar, ou defender (colocando o joystick na direção contrária à do oponente quando este estava atacando). Alguns comandos do joystick combinados com botão (baixo, baixo-frente, frente, soco, por exemplo), também faziam com que o personagem aplicasse um golpe especial exclusivo, que tirava mais energia do oponente do que um soco ou chute comum.
A história do jogo é bem simples: o jogador controla o lutador japonês Ryu, que participa do torneio de luta Street Fighter, tentando vencê-lo para se tornar o maior lutador do mundo. Para enfrentar o atual campeão do torneio, porém, ele precisa passar por uma fase preliminar, onde enfrentará oito oponentes em lutas ao redor do planeta. O único personagem disponível para o jogador, portanto, é Ryu, mas há um "truque" que libera outro: se um jogador já estiver jogando com Ryu, e outro jogador colocar um crédito e apertar start, Ryu será desafiado para uma luta por seu rival e ex-companheiro de treinamento, o norte-americano Ken. Se Ken vencer Ryu, o jogador que controlava Ken poderá continuar jogando com ele até o fim do jogo, tentando fazer com que Ken, e não Ryu, seja coroado o maior lutador do mundo. Se bem que jogar com Ken não oferece nenhuma vantagem além de uma aparência diferente, já que tanto ele quanto Ryu tinham os mesmos três golpes especiais, e até o mesmo final.
No início do jogo, Ryu poderá escolher entre quatro países; em cada um deles, terá de derrotar dois oponentes. As lutas são em melhor de três rounds, perdendo um round quem ficar sem energia primeiro, e ganhando a luta quem ganhar dois rounds primeiro. Cada luta também tem um limite de tempo de 99 segundos, sendo declarado vencedor por tempo quem tiver mais energia quando o cronômetro zerar. É possível um round terminar empatado, caso ambos os jogadores estejam com a mesma energia quando o cronômetro zerar, mas uma luta jamais termina empatada: se isto for acontecer (um round para cada um e um empate, por exemplo), o oponente de Ryu é sempre declarado vencedor - a não ser que Ryu esteja enfrentando Ken, quando ambos são declarados perdedores. O jogador pode colocar mais um crédito e "dar continue" se Ryu perder, voltando do mesmo oponente que estava enfrentando, mas do primeiro round da luta. Após derrotar os dois lutadores de um país, Ryu poderá escolher outro, e após passar pelos quatro países, será automaticamente levado para a Tailândia, onde enfrentará os dois últimos oponentes do jogo, se sagrando campeão se vencê-los.
Os quatro países disponíveis para escolha no início do jogo são Japão, onde Ryu enfrentará o monge Retsu e o ninja Geki; Estados Unidos, onde os oponentes são o lutador de luta-livre Joe e o boxeador Mike; China, onde enfrentará o mestre de kung fu Lee e o assassino Geki; e Inglaterra, onde temos o leão de chácara Birdie e o aristocrata Eagle. Na Tailândia os oponentes são o lutador de muay Adon e seu mestre Sagat, atual campeão mundial. Além das lutas, Street Fighter trazia duas fases-bônus, onde Ryu deveria quebrar uma mesa ou uma pilha de tijolos, no melhor estilo dos filmes de artes marciais.
Street Fighter teve versões caseiras lançadas para o videogame Turbografx-16 e para os computadores dos anos 80 Commodore 64, ZX Spectrum, Amstrad CPC, Amiga e Atari ST. Como não foi nenhum sucesso, a Capcom esqueceu um pouco dele até o início da década de 1990, quando dois de seus programadores decidiram ressucitá-lo. Akira Nishitani e Akira Yasuda, responsáveis pelo jogo de porrada com fases Final Fight, acharam o conceito de Street Fighter interessante, e decidiram criar uma seqüência, com mais ou menos o mesmo estilo, mas algumas modificações. Assim, de certa forma realizando o sonho de Piston Takashi e Finish Hiroshi, em março de 1991 eles lançariam o jogo que revolucionaria não só os jogos de luta, mas também os arcades, dando a este tipo de sistema uma sobrevida além das expectativas de qualquer fabricante de games - olhando para trás hoje isso parece impossível, mas no início da década de 1990 havia quem achasse que os arcades estavam com os dias contados, e iriam ser irreversivelmente substituídos pelos consoles caseiros. O nome deste jogo era Street Fighter II: The World Warrior.
SF2, como ficaria conhecido, trazia de volta os amigos e rivais Ryu e Ken, mais uma vez em busca do título de maior lutador do mundo. Desta vez, porém, o torneio estava macetado: o vilão M. Bison, líder da organização criminosa Shadaloo, planejava usá-lo para fins excusos, que jamais ficaram muito claros para os jogadores. Oito lutadores de diversas partes do mundo se inscreveriam no torneio, cada um com uma razão pessoal para isso. Quem conseguisse derrotar os outros sete ganharia o direito de enfrentar os três maiores lutadores do mundo, o boxeador norte-americano Balrog, o dançarino espanhol Vega e o tailandês ex-campeão mundial Sagat. Derrotando-os, o lutador ganharia o direito de enfrentar Bison em pessoa, selando seu destino.
Como todo mundo que conhece Street Fighter sabe, há uma história curiosa envolvendo o nome destes personagens: na versão original japonesa, o boxeador se chama M. Bison, o nome do espanhol é Balrog, e o líder da Shadaloo se chama Vega. O personagem M. Bison, porém, foi criado para ser uma paródia do lutador Mike Tyson (o "M." é de Mike, e Bison se pronuncia "báizon" - até hoje, inclusive, há quem garanta que Balrog e o boxeador Mike, do Street Fighter original, são a mesma pessoa). Quando chegou a hora de lançar o jogo nos Estados Unidos, a Capcom ficou com medo de que Tyson decidisse processá-los, e resolveu trocar o nome do boxeador. Como também tinha gente que achava que Vega era um nome muito mais apropriado a um lutador espanhol que a um chefe de uma organização criminosa multinacional, decidiram "rotacionar" os nomes, fazendo com que o boxeador passasse a ser Balrog, o espanhol se chamasse Vega, e o líder da Shadaloo se tornasse M. Bison. Diferentemente do que muita gente pensa, aliás, este "M." jamais chegou a ter uma explicação por parte da Capcom, não sendo oficialmente uma abreviação de "Major Bison" (a teoria mais aceita) nem de "Mr. Bison" (a teoria mais esdrúxula, mas bastante difundida quando eu era adolescente). Para concluir esta história, também vale dizer que o nome da Shadaloo também sofreu um problema parecido: o intuito dos japoneses era nomeá-la Shadow Law (algo como "Lei das Sombras"), mas, na hora de romanizar (transformar os caracteres japoneses em letras do nosso alfabeto), alguém da Capcom fez besteira e acabou criando a Shadaloo.
Pois bem, voltando ao jogo, oito lutadores do mundo inteiro se inscreveram no segundo torneio Street Fighter. Além do japonês Ryu e do norte-americano Ken, tínhamos o lutador de sumô japonês E. Honda, o lutador de luta livre soviético Zangief, o militar norte-americano Guile, o mestre de yoga indiano Dhalsim, o monstruoso brasileiro Blanka, e a investigadora chinesa Chun Li, primeira mulher em um jogo de porrada. Diferentemente do primeiro Street Fighter, porém, qualquer um dos oito podia ser escolhido pelo jogador, e não só cada um deles tinha golpes especiais diferentes - Ryu e Ken tinham os mesmos três do jogo anterior, os demais tinham dois golpes inéditos cada - como tinha animações diferentes para cada movimento - um chute de Zangief não era igual a um chute de Honda, por exemplo - e até mesmo um final diferente, o que efetivamente fazia com que SF2 fosse oito jogos em um. No modo de dois jogadores, cada um podia escolher um personagem diferente - não era possível ambos escolherem o mesmo - e quem ganhasse podia prosseguir no torneio normalmente.
A ordem em que os oponentes seriam enfrentados agora era aleatória (e contava com uma animação muito legal de um aviãozinho), mas as lutas continuavam sendo em melhor de três rounds. Cada luta podia ir até um máximo de 10 rounds caso eles fossem empatando sem que um lutador conseguisse vencer dois; ao final do décimo round, se ainda não houvesse vencedor, o computador vencia, ou ambos perdiam, no modo de dois jogadores. Independentemente de qual personagem você escolhesse, primeiro tinha de derrotar os outros sete, e só então passaria para Balrog, Vega, Sagat e Bison, que sempre eram enfrentados nesta ordem, e não podiam ser escolhidos pelos jogadores. Outras modificações incluíam elementos do cenário, como placas, que podiam ser destruídos durante a luta; os novos agarrões e arremessos, que podiam ser acionados com os botões combinados com o direcional quando ambos os jogadores estavam muito próximos; a possibilidade de "bolar" o oponente, deixando-o zonzo, com passarinhos rodando ao redor da cabeça e incapaz de atacar ou defender durante um curto período de tempo; e os novos bônus de destruir um carro, acertar barris que caíam do alto da tela e destruir tonéis flamejantes.
O sucesso de SF2 também acabou gerando um dos primeiros e mais duradouros boatos da história do mundo dos games. Tudo começou com um erro de tradução: desde o Street Fighter original, um dos golpes mais característicos de Ryu e Ken é o shoryuken, ou "soco do dragão ascendente", um dos golpes mais poderosos e difíceis de executar - ou pelo menos era na época - do jogo. Na série Street Fighter, após cada luta, o personagem que venceu profere uma frase, que aparece escrita na tela, e ficou conhecida como "Victory Quote". Pois bem, uma das "Victory Quotes" de Ryu, no original japonês, dizia "se você não conseguir passar pelo shoryuken, não conseguirá vencer". Só que, na hora de traduzirem o jogo para o inglês, a frase virou "você deve derrotar Sheng Long para ter uma chance". Por mais maluca que essa tradução possa parecer, ela até tem uma explicação bizarra: Sheng Long siginifica quase a mesma coisa que shoryuken - "dragão ascendente" - só que em chinês. O por quê de terem traduzido o nome do golpe para o chinês na versão americana é um mistério que jamais será solucionado.
Como poucas pessoas nos Estados Unidos sabiam chinês em 1992, imediatamente se imaginou que Sheng Long fosse o nome de uma pessoa - até porque a própria frase falada por Ryu passava essa impressão. Como o oponente "deveria derrotar Sheng Long para ter uma chance", imediatamente se chegou à conclusão mais óbvia que existia: Sheng Long era o mestre de Ryu! E, como Ken tinha os mesmos golpes que ele, era o mestre de Ken também! Então, Ryu alegava ser o maior lutador de todos porque tinha sido o único a derrotar seu mestre! Ora, não era óbvio?
E assim Sheng Long ficou conhecido como o mestre de Ryu e Ken, embora jamais tivesse aparecido em nenhum material oficial de Street Fighter. Até que um dia, em primeiro de abril de 1992, a revista especializada em videogames EGM publicou o que teria sido uma grande descoberta: a presença de um personagem secreto em SF2! Para encontrá-lo, era preciso que o jogador selecionasse Ryu, passasse pelo jogo inteiro até chegar em Bison sem perder energia em nenhum round, e então empatasse dez rounds contra Bison, fazendo com que a luta acabasse por tempo sem Ryu nem Bison terem perdido um milímetro de energia sequer. Se essa tarefa quase impossível fosse cumprida, Sheg Long surgiria, derrotaria Bison, e desafiaria Ryu para uma luta "até a morte", onde o cronômetro jamais sairia do 99! Parecia óbvio que era uma brincadeira de Primeiro de Abril, principalmente porque, na mesma página do "truque" a EGM anunciava um concurso que consistia em achar onde estava a pegadinha de Primeiro de Abril daquela edição, mas mesmo assim muita gente acreditou - principalmente depois que revistas da Europa e de Hong Kong republicaram a matéria sem avisar que se tratava de uma brincadeira - e, ao redor do planeta, milhares de jogadores gastaram suas economias tentando enfrentar Sheng Long. Não sei se alguém conseguiu, mas muita gente disse que sim - até mesmo um colega meu, que depois foi devidamente zoado.
SF2 foi um dos primeiros jogos lançados para a CPS-1, a placa de arcade da Capcom que suportava diversos jogos apenas trocando algumas ROMs. Devido ao imenso sucesso do jogo, alguns piratas começaram a bulir com essas ROMs, e diversas versões não-oficiais do jogo começaram a surgir, que aumentavam a velocidade das lutas, permitiam que os jogadores usassem golpes especiais no ar, ou que dois jogadores escolhessem o mesmo personagem para se enfrentar. Para tentar minimizar a perda de mercado para os piratas, em abril de 1992 a Capcom decidiu lançar um update do jogo, chamado no Japão simplesmente de Street Fighter II' (com um apóstrofo depois do II), mas que nos Estados Unidos ganhou o subtítulo de Street Fighter II': Champion Edition.
Champion Edition era basicamente o mesmo SF2, mas com duas modificações importantíssimas: agora cada personagem tinha dois esquemas de cor, o que permitia que ambos os jogadores escolhessem o mesmo personagem no modo de dois jogadores, e aumentava o número de lutas do modo de um jogador para 12, já que você também tinha de enfrentar seu "clone"; além disso, Champion Edition finalmente permitia que Balrog, Vega, Sagat e Bison fossem selecionados, cada um ganhando seus próprios golpes especiais e seu próprio final. Mesmo que você escolhesse um deles, entretanto, os quatro ainda eram enfrentados por último, e naquela ordem. Além destas modificações, os personagens ainda foram redesenhados, tornando suas animações mais bonitas, os cenários ganharam novas cores, e o número máximo de rounds de uma luta foi reduzido para quatro, com a vitória do computador ou a derrota de ambos no final do quarto round (chamado "Final Round" no jogo) caso a luta ainda estivesse empatada.
SF2 ainda ganhou um segundo update em dezembro de 1992, chamado Street Fighter II': Hyper Fighting (Street Fighter II' Turbo no Japão). Esta versão era praticamente a mesma coisa que a Champion Edition, mas mais veloz (todos os personagens pareciam acelerados), e com alguns "brindes", como golpes especiais novos para Chun Li e Dhalsim, e um terceiro esquema de cor para cada personagem.
SF2 ganhou muitas versões caseiras; apenas para computadores, foram lançadas versões para PC, MSX, Amiga, Commodore 64, Atari ST e ZX Spectrum. O SNES ganhou duas versões, a primeira uma adaptação do SF2 original, mas na qual era possível ambos os jogadores escolherem o mesmo personagem; a segunda, chamada Street Fighter II Turbo, tinha dois modos, o "Normal", no qual o jogo era igual ao Champion Edition, e o "Turbo", no qual era igual a Hyper Fighting. O Mega Drive também ganhou sua versão, Street Fighter II: Special Champion Edition, bastante parecida com a Turbo do SNES, e o Turbografx-16 ganhou uma versão de Champion Edition - curiosamente, as fabricantes Sega e NEC tiveram de lançar joysticks especiais de seis botões para que os fãs pudessem jogar Street Fighter nestes concoles, cujos controles só tinham três e dois botões, respectivamente; aliás, antes que eu me esqueça, vale dizer que o gabinete de SF2 só existia na versão de seis botões, com aparentemente a Capcom abandonando a idéia dos botões sensíveis do primeiro Street Fighter. SF2 também ganhou uma versão para Game Boy, semelhante à Hyper Fighting, mas que só tem nove personagens disponíveis (Dhalsim, Honda e Vega ficaram de fora); uma versão não-oficial para Master System, criada pela Tec Toy, baseada na Champion Edition, e com apenas oito personagens à disposição (Dhalsim, Honda, Vega e Zangief ficaram de fora); e diversas versões piratas para NES, cada uma com um número de lutadores diferente.
Em setembro de 1993, a Capcom deu mais um passo na franquia Street Fighter. Ao invés de passar para um Street Fighter III, porém, ela decidiu não mexer em time que está ganhando e lançar uma nova versão de SF2, chamada Super Street Fighter II: The New Challengers. Planejada por Noritaka Funamizu e Haruo Murata, esta nova versão seria lançada para a CPS-2, a nova versão da placa de arcades multijogos da Capcom, o que garantia melhores gráficos, som estéreo e surround, vozes mais nítidas para os lutadores, e, o mais importante, menos pirateamento, já que a placa possuía um sistema de segurança que queimava as ROMs do jogo caso alguém tentasse bulir com elas - o que acabou ganhando o curioso apelido de "ROM suicida" entre o pessoal da emulação quando eles começaram a tentar emular CPS-2.
Além de uma bela abertura onde Ryu lançava um hadouken, a mais avançada CPS-2 permitiu que todos os personagens fossem novamente redesenhados, as animações se tornassem mais limpas e nítidas, com algumas, como o chute forte de Vega, sendo totalmente redesenhadas, e os quatro "chefes" de SF2 ganhassem novos finais. Chun Li também ganhou um final alternativo, Vega ganhou um novo golpe, e Ryu e Ken começaram a se tornar diferentes, com uma animação exclusiva para o hadouken de Ryu, que passou a ser mais veloz que o de Ken, e outra para o shoryuken de Ken, que passou a ser mais forte que o de Ryu. Personagens "bolados" agora poderiam ver estrelas, anjinhos (quando se recuperavam mais rápido) ou mortezinhas (demorando mais para se recuperar); foi introduzido um sistema de combos, onde vários golpes em seqüência impediam que o oponente revidasse; e passaram a ser conferidos pontos de bonificação para primeiro ataque em uma luta, combos, se recuperar de estar "bolado", e por se recuperar de um arremesso, um movimento que fazia com que o lutador arremessado caísse em pé e só perdesse um pouquinho de energia. As fases de bônus foram removidas.
Mas a maior inovação de SSF2 foi a introdução de novos personagens; ele não tinha o subtítulo The New Challengers à toa. Além dos doze lutadores originais, participavam do torneio o índio norte-americano exilado no México Thunder Hawk; o lutador de jet kune do Fei Long, representando Hong Kong e claramente inspirado em Bruce Lee; o DJ jamaicano Dee Jay; e a militar britânica Cammy, que tinha amnésia e rapidamente se tornou uma das preferidas dos fãs, em grande parte devido ao seu uniforme. Cada um dos dezesseis personagens do jogo agora tinha oito esquemas de cor diferentes, criados pensando em uma versão do jogo lançada com o nome de Super Street Fighter II: The Tournament Battle, que trazia quatro máquinas conectadas onde oito jogadores podiam lutar entre si em um torneio. Apesar do número de personagens ter aumentado, o número de lutas até o final continuou sendo 12, com você não precisando enfrentar quatro dos lutadores escolhidos aleatoriamente, mas Balrog, Vega, Sagat e Bison sendo sempre os quatro últimos.
Uma coisa que muitos repararam e poucos gostaram, porém, foi que a velocidade de SSF2 não era compatível com a de Hyper Fighting, mas semelhante à de Champion Edition. Já acostumados com o jogo mais rápido, muitos fãs torceram o nariz, e logo começaram boatos de que o jogo foi lançado antes de estar totalmente pronto para competir com Mortal Kombat II, que na época estava fazendo um enorme sucesso. Dizem que a própria Capcom confirmou estes boatos em março de 1994, quando foi lançado um update para SSF2, chamado no Japão de Super Street Fighter II X: Grand Master Challenge, mas nos Estados Unidos simplesmente de Super Street Fighter 2 Turbo.
Além da alteração na velocidade, agora sim semelhante à de Hyper Fighting, de uma nova abertura, e de gráficos melhorados, SSF2T trazia novidades, como uma nova barrinha de energia na base da tela, que enchia quando você acertava ou levava golpes, e, uma vez cheia, possibilitava o uso dos Super Combos, golpes especiais muito mais fortes, que acertavam múltiplas vezes. Mas a mais notável novidade de SSF2T foi a estréia de Akuma, um personagem secreto que em pouco tempo se tornaria um dos mais icônicos da série, aparecendo em diversos outros jogos da Capcom. Para enfrentar Akuma, um jogador tinha de vencer as onze primeiras lutas sem perder nenhum round; se conseguisse, Akuma surgiria na luta contra Bison, nocautearia o vilão e o enfrentaria como novo último chefe do jogo. Qualquer semelhança com a história de Sheng Long não é mera coincidência: aparentemente a Capcom gostou de ter ganhado um dinheirinho extra com o boato, e decidiu fazer com que Ryu e Ken realmente tivessem um mestre, chamado Gouken. Akuma (que se chamava Gouki no original japonês) era o irmão de Gouken, que debandou para o lado do mal, o matou, e agora está tentando matar ou corromper seus discípulos. Assim como ocorreu com Sheng Long, "caçar" Akuma rapidamente se tornou o passatempo preferido de muitos jogadores de SSF2T.
SSF2 também ganhou muitas versões caseiras; ambas as versões foram lançadas para PC, a versão original foi lançada para os computadores Sharp X68000 e Amiga, e a versão turbo para os consoles de vida curta Panasonic 3DO e Amiga CD32. SNES e Mega Drive também ganharam a sua versão, baseadas no original, mas com os novos modos Torneio e Time Trial. Em 2001 foi lançada uma versão para Game Boy Advance, Super Street Fighter II Turbo: Revival, com nova arte e novos cenários para alguns personagens.
Em 2003, a Capcom lançou mais uma versão de SSF2, batizada de Hyper Street Fighter II: The Anniversary Edition. Nesta curiosa versão, lançada para arcades em uma placa CPS-2 modificada, após escolher entre três níveis de velocidade, o jogador pode escolher jogar com os personagens de SF2, Champion Edition, Hyper Fighting, SSF2 ou SSF2T, sendo que cada personagem tinha os gráficos, as animações e os golpes da versão escolhida. Mas o que é realmente curioso em HSF2 é que o computador pode escolher uma versão diferente a cada oponente, ou seja, você pode escolher o Ryu de Champion Edition e ter de enfrentar o Zangief de SF2, o Guile de SSF2, ou até mesmo outro Ryu de outra versão diferente! Evidentemente, sua escolha de personagens está limitada à versão que você escolheu: se escolher SF2, só poderá escolher dentre os oito originais; se escolher Champion Edition ou Hyper Fighting, não poderá escolher os quatro novos de SSF2.
Mas eu não fiquei maluco e pulei de 1994 para 2003, ignorando tudo o que teve no meio; apenas quis encerrar os jogos "clássicos" antes de encerrar esta metade do post, que já está enorme. Semana que vem, a série finalmente anda para Street Fighter III! Mas não imediatamente...
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