sábado, 12 de novembro de 2005

Escrito por em 12.11.05 com 0 comentários

X-Men

Eu já devo ter citado por aqui em algum lugar que a primeira revista de super-heróis que eu comprei na vida foi uma dos X-Men. Mesmo meio sem saber o que estava fazendo, talvez por isso eu sempre tenha tido os mutantes da Marvel em alta conta. Afinal, foi graças a eles que eu comecei a descobrir todo este universo. Hoje em dia, os X-Men não são mais meus heróis favoritos (este posto pertence ao Homem de Ferro), mas ainda me sinto bastante interessado por subprodutos que tragam seus personagens, como jogos de videogame, desenhos animados e filmes. Mas não pelos quadrinhos, que já há uns oito anos estão uma confusão sem tamanho, capaz de irritar qualquer fã. Mais ou menos como aconteceu com o Homem-Aranha na época da Saga dos Clones. Argh, eu tinha que me lembrar da Saga dos Clones?!

Enfim, sem mais rodeios antes que eu lembre de sagas ainda piores, aí vai um post sobre os X-Men!



Criados em 1963 por Stan Lee - editor, roteirista e gênio da Marvel - e Jack Kirby - um dos maiores desenhistas de todos os tempos - os X-Men são conhecidos como os últimos dos "heróis clássicos" da Marvel. Após abordar temas como conflitos familiares (Quarteto Fantástico), conflitos internos (Hulk), adolescência problemática (Homem-Aranha) e problemas de saúde (Homem de Ferro), Stan Lee decidiu enveredar por um tema bem mais controverso: preconceito. Reza a lenda que os X-Men seriam um grupo de heróis negros, mas esta história nunca foi confirmada. Stan Lee decidiu que os personagens seriam mutantes, nascidos com habilidades extraordinárias, algo sem dúvida capaz de despertar ódio e temor em nossa sociedade que rejeita tudo o que é diferente. A idéia de super-heróis mutantes não foi criada por Stan Lee, já tendo aparecido no livro Children of the Atom, de 1953, do escritor Wilmar Shiras, onde adolescentes ganham poderes através de experimentos genéticos. Stan Lee jamais confirmou se este livro teria sido a inspiração para os X-Men, mas a própria Marvel já usou o subtítulo Children of the Atom em vários produtos dos X-Men, sendo o mais conhecido deles um jogo de arcades.

Seja como for, a primeira edição dos X-Men chegou às bancas em setembro de 1963. Nela, o Professor Charles Xavier, ele mesmo um mutante, com incríveis poderes telepáticos, apesar de paraplégico, decide criar uma espécie de escola, para ensinar jovens nascidos com estes estranhos dons a controlar seus poderes e usá-los sempre a favor do bem. A primeira turma da Escola Xavier para Jovens Superdotados era formada por cinco alunos: Scott Summers (codinome Ciclope), cujos olhos disparam constantemente uma rajada mortal, somente interrompida com óculos especiais de quartzo-rubi; Jean Grey (codinome Garota Marvel), telepata e telecinética; Warren Worthington III (codinome Anjo), que possuía enormes asas emplumadas nas costas que lhe permitiam voar; Hank McCoy (codinome Fera), estudante genial, dotado de mãos e pés enormes e agilidade sem precedentes; e Bobby Drake (codinome Homem de Gelo), capaz de reduzir a temperatura em volta de seu corpo e criar rajadas de gelo, ficando com a aparência de um boneco de neve.

Evidentemente, os alunos da Escola Xavier não receberam estes codinomes à toa. Além de ensiná-los a controlar seus poderes, Xavier planejava transformá-los em uma equipe de super heróis, os X-Men. Este "X" vem do Fator X, a mutação genética que transforma humanos comuns em mutantes, aparentemente com causas naturais, pois os mutantes seriam a próxima etapa na escala evolutiva dos humanos. O principal propósito dos X-Men seria deter o vilão Magneto, antigo amigo de Xavier, que, após uma série de eventos traumáticos (dentre eles uma infância passada em um campo de concentração e a morte de sua esposa e filha por humanos guiados pelo preconceito) decidiu que cabia aos mutantes exterminar todos os humanos e dominar o planeta. Nascido Eric Lensherr, Magneto adotou este codinome por ter o poder de controlar o magnetismo, impondo sua vontade sobre todas as coisas feitas de metal magnetizável. Magneto não agia sozinho, mas com sua Irmandade de Mutantes, composta por outros mutantes que compartilhavam sua opinião.

Ao contrário do que se pensa, os X-Men foram um retumbante fracasso. A maior crítica aos mutantes era que era muito fácil dizer que uma pessoa simplesmente nasceu com aqueles poderes ao invés de criar uma origem para eles, portanto, os X-Men eram um grupo de heróis sem imaginação (o curioso é que o próprio Stan Lee já admitiu que inventou a história dos mutantes exatamente porque estava cansado de criar novas origens cada vez que inventava um herói). Nem mesmo a entrada de novos vilões, como o Fanático - meio-irmão de Xavier, com poderes de ordem mística e obcecado em derrotá-lo - e os Sentinelas - enormes robôs caça-mutantes criados pelo governo para acabar com a "ameaça mutante" - desperou o interesse do público. Lee e Kirby deixaram o título em 1966. Vários roteiristas e desenhistas se sucederam, mais notadamente Roy Thomas e Neal Adams, que chegaram a criar dois heróis novos: Destrutor, o irmão de Ciclope, capaz de absorver e disparar raios cósmicos; e Polaris, também com poderes magnéticos e supostamente filha de magneto. Porém, diante da persistência das vendas baixas, em 1969 os X-Men foram cancelados.

Mas só até 1975. Neste ano, Stan Lee decidiu ressucitar os X-Men, e para isso recrutou o roteirista Len Wein e o desenhista Dave Cockrum. Wein decidiu que faria mais sentido se os X-Men fossem uma equipe multicultural, já que, teoricamente, estavam nascendo mutantes no mundo todo. Ele também abandonou a idéia dos adolescentes descobrindo seus poderes (a esta altura já batida) e criou uma nova equipe de X-Men, todos adultos. Esta nova equipe fez sua estréia em Giant Size X-Men número 1, e era formada pelo japonês Solaris, capaz de gerar e controlar plasma superaquecido; o índio apache Pássaro Trovejante, que possuía força, vigor, reflexos e velocidade sobre-humanas; o russo Colossus, capaz de transformar sua pele em metal orgânico; o irlandês Banshee, capaz de produzir gritos hipersônicos, que lhe permitiam até voar; o alemão Noturno, com poder de teleporte e aparência demoníaca; a afro-americana Tempestade, capaz de controlar o clima; e o canadense Wolverine, que se curava rapidamente de qualquer ferimento, tinha um esqueleto de adamantium (o fictício metal mais duro da face da terra), um passado sombrio, e viria a se tornar o mais popular dos X-Men. Esta estranha equipe foi reunida por Ciclope, para salvar os demais X-Men da ilha viva de Krakoa. Solaris abandonou a equipe e Pássaro Trovejante morreu em missão, mas os demais se uniram aos X-Men originais após o salvamento. Esta multietinicidade e multiculturalidade acabaram se tornando a marca registrada dos X-Men, que, aí sim, começaram a fazer sucesso.

A revista regular dos X-Men voltou a circular com material inédito, roteirizada por Chris Claremont e desenhada por Cockrum e, a partir de 1978, por John Byrne, e a partir daí os mutantes tiveram uma ascensão meteórica, com sagas memoráveis. A primeira foi a Saga da Fênix, de 1977, onde Jean Grey, graças a uma suposta ligação com uma entidade cósmica chamada Fênix, descobre novos e fantásticos poderes, e guia os X-Men em uma aventura através do espaço, com a participação do império Shi'ar, cuja imperatriz, Lilandra, se tornaria amante de Xavier. Esta história só se concluiria na Saga da Fênix Negra, de 1980, onde o Clube do Inferno, um aristocrático círculo de mutantes milionários sem mais o que fazer, decide dominar Jean para que ela se torne um deles, e acaba revelando o lado maligno da Fênix, que põe em risco todo o universo. Os Shi'ar alegam que a única saída é a morte de Jean Grey, algo que os X-Men, principalmente Ciclope, seu namorado, não estão dispostos a entregar de bandeja.

Paralelamente a estes eventos, a história de Wolverine antes de se unir aos X-Men foi sendo desenvolvida, e novos personagens foram introduzidos, como Kitty Pride, adolescente capaz de se tornar intangível; e a assassina Mística, uma transmorfa, com o poder de mudar sua aparência e se "transformar" em qualquer pessoa. Wolverine, Kitty e Mística são os protagonistas de Dias de um Futuro Esquecido, de 1981, onde, em um futuro sombrio, Sentinelas caçam mutantes e os colocam em campos de concentração, tendo a maioria já sido exterminada. Em um ato desesperado, a mente de Kitty é enviada para o passado, e agora uma jovem Kitty com mente de adulta deve convencer seus parceiros X-Men de que eles devem impedir Mística de matar o Senador Kelly, ato que levará aos eventos sombrios do futuro apresentado. Em 1982 também foi lançada a minissérie Deus Ama, o Homem Mata, onde um vilão de nome William Stryker seqüestra Xavier para obrigá-lo a destruir todos os mutantes do mundo, e os X-Men têm de unir forças a Magneto para impedi-lo. Nesta minissérie foi baseado o roteiro do segundo filme dos X-Men.

O início dos anos 80 é considerada a época de ouro dos X-Men, com desenhistas como Paul Smith e John Romita Jr. assumindo a arte, e com uma série de eventos memoráveis, como a aparição dos Morlocks, uma raça subterrânea de mutantes deformados; a viagem de Wolverine ao Japão; a perda dos poderes de Tempestade; Magneto mudando de lado e liderando os X-Men; Xavier se mudando para o espaço para viver com Lilandra; o casamento de Ciclope com Madelyne Pryor, um clone de Jean Grey; e mais tarde a ressurreição da própria Jean. Personagens importantes surgiram, como Vampira, ex-membro da Irmandade de Mutantes, capaz de copiar os poderes de qualquer mutante que toque, deixando-o enfraquecido no processo; e os vilões Sr. Sinistro, geneticista especializado na área de clonagem; Dentes de Sabre, arquirival de Wolverine, com fúria e agilidade felinas; e Apocalipse, vivo há centenas de anos, capaz de mudar de forma e sempre disposto a dominar o mundo.

Com tanto sucesso, era evidente que iriam começar a aparecer os famosos spin-offs, os subprodutos dos X-Men. O primeiro foi a revista dos Novos Mutantes, lançada em 1983, uma nova equipe de heróis adolescentes reunidas por Xavier, buscando recuperar o clima dos X-Men originais. Em 1985, os cinco X-Men originais fundaram uma nova equipe e ganharam sua própria revista, a X-Factor ("Fator X"). Wolverine ganhou uma revista própria em 1986, para tratar apenas de assuntos pessoais, sem os X-Men. E, em 1987, foi a vez de Excalibur, uma equipe formada pelos ex-membros dos X-Men Kitty Pride e Noturno e alguns super-heróis britânicos, baseada na Escócia e com enredos centrados muito mais em magia e fantasia. Tantas "séries paralelas" transformaram os X-Men no grupo mais rentável da história dos quadrinhos, embora o "Universo X" tenha se tornado absurdamente complexo. Ainda assim, para tentar pegar carona nesse sucesso, vários títulos da Marvel e da DC começaram a se desdobrar em "famílias", ao invés de ficarem restritos a uma única revista.

As sagas dos X-men agora eram verdadeiros crossovers, ocupando todas as "X-revistas". A primeira neste estilo foi o Massacre de Mutantes, de 1986, onde Sr. Sinistro cria uma equipe conhecida como os Carrascos, que tem como missão exterminar todos os Morlocks, e qualquer X-Men que se meta no caminho. O Anjo tem suas asas inutilizadas, o que o levaria ao processo de receber asas de metal e se aliar a Apocalipse. Após esta saga, Claremont reestruturou toda a equipe dos X-Men, Marc Silvestri assumiu os desenhos, e começou um período de sagas mais psicodélicas, a começar pela Queda de Mutantes, onde o vilão era um demônio chamado Adversário; e Inferno, onde Madelyne Pryor se revelou uma criação do Sr. Sinistro, e se tornou mais uma vilã, a Rainha dos Duendes. Em 1990, Jim Lee assumiu os desenhos, e introduziu Gambit, o mutante capaz de energizar objetos com energia explosiva, e Jubileu, uma adolescente com o poder de criar pequenas explosões energéticas.

O início dos anos 90 viu um verdadeiro boom dos X-Men. Todas as equipes foram reformuladas, com os Novos Mutantes se transformando na violenta X-Force, comandada por Cable, que depois descobriria ser um filho de Ciclope e Jean vindo do futuro; os X-Men originais voltaram para a equipe principal, que foi dividida em dois times, o azul e o vermelho, cada um com sua própria revista; e um novo X-Factor foi reunido, com heróis e ex-vilões, sob o controle do governo. Em 1994 também foi criada uma nova equipe de adolescentes, a Geração X. Mesmo com as histórias desta época sendo de qualidade inferior que as da época de ouro, os fãs mantinham as vendas lá em cima, e novos fãs eram arrebanhados através de jogos de videogame e de um desenho animado produzido pela Fox. Muitos atribuem a queda na qualidade à saída de Claremont em 1992. Ainda assim, os anos 90 produziram uma das sagas mais memoráveis dos X-Men, a Era do Apocalipse, que mostrou um mundo paralelo onde Xavier foi morto antes de reunir os X-Men, e Apocalipse se tornou senhor de tudo. Alguns personagens desta saga se tornaram tão populares que conseguiram "escapar", passando a aparecer na cronologia normal.

Mais spin-offs foram lançados no final da década de 90, como a revista do X-Man (a versão de Cable da Era do Apocalipse) e revistas solo de Gambit, Cable, Bishop (um mutante vindo do futuro com o poder de absorver e disparar energia) e Deadpool (um mercenário aparentemente imortal). Além disso, X-Factor e Excalibur foram canceladas, e substituídas por Mutante X, passada em um universo paralelo onde Destrutor vai parar acidentalmente. Duas importantes mas nada memoráveis sagas desta época são o Massacre Marvel, onde o vilão Massacre, formado pela união das mentes de Xavier e Magneto, quase destrói o Universo Marvel; e Operação Tolerância Zero, onde surgem Sentinelas de aparência humana.

A partir daí os pobres X-Men começaram a rolar ladeira abaixo. Nem mesmo o retorno de Claremont, em 2000, conseguiu reavivar o interesse dos fãs, cada vez mais poucos e menos interessados. Muitas decisões equivocadas, como redimir ex-vilões e transformá-los em X-Men (sendo o mais notável exemplo o Fanático), mudar radicalmente a personalidade ou matar alguns personagens (Polaris se tornou uma psicopata terrorista, Colossus morreu) e acrescentar novos poderes a personagens já consagrados (a infame "segunda mutação") renderam críticas pesadas do público. Muitos spin-offs foram cancelados e outros lançados, como XSE, que traz uma equipe de X-men que tem aprovação do governo para agir; District X, que mostra Bishop como um policial; Academy X, com os novos estudantes da Escola Xavier (mais uma equipe de adolescentes...); os Exilados, que viajam através do tempo e das dimensões; e NYX, que traz a personagem X23, um clone adolescente de Wolverine, introduzida no desenho X-Men Evolution, produzido pela Warner Brothers entre 2000 e 2003. Mas o spin-off mais comentado foi X-Táticos, uma equipe de mutantes-celebridades, salvando o mundo e atraindo os holofotes. X-Táticos era famosa por sua irreverência e pelo comportamento politicamente incorreto dos membros da equipe. Quando seus criadores, Peter Milligan e Mike Allred decidiram partir para novos projetos, porém, mataram todos os personagens, e a série foi cancelada.

Em 2000 e 2003, os X-Men ganharam dois filmes para o cinema, tendo o primeiro recebido uma crítica moderada, e o segundo sendo muito bem recebido, com quase a totalidade da crítica e dos fãs o considerando melhor que o primeiro. Um terceiro filme está previsto para o ano que vem. Um dos principais méritos dos filmes é utilizar histórias já consagradas, com uma excelente caracterização dos atores, buscando agradar tanto os antigos quanto os novos fãs.

Atualmente, os X-Men estão começando a ganhar popularidade novamente, principalmente devido ao sucesso da revista Astonishing X-Men, escrita por Joss Whedon (o criador da série Buffy, a Caça-Vampiros) e desenhada por John Cassaday. Astonishing traz enredos sem muita complicação, com os personagens mais famosos (alguns ressucitados, como Colossus) e por isso está despertando o interesse de alguns fãs que tinham desistido. Contando com os spin-offs, são colocadas nas bancas norte-americanas 14 revistas dos X-Men por mês, incluindo a série Ultimates, que mostra os heróis como se a equipe tivesse sido reunida na época atual. Conseguir retomar o prestígio dos melhores anos é quase impossível, mas ainda assim os X-Men merecem o lugar na galeria de ícones da Marvel, por tantas histórias memoráveis já publicadas.

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