domingo, 10 de abril de 2005

Escrito por em 10.4.05 com 0 comentários

Curve

Na época em que a Mtv ainda prestava, quando ainda era um canal de clips, e não de programas bisonhos com apresentadores idem, meu programa preferido era o Lado B. Mesmo tendo que ficar acordado até altas horas da madrugada, eu adorava ver aquelas bandas desconhecidas, com músicas que provavelmente jamais iriam tocar no rádio, algumas com clips quase caseiros. De vez em quando passava algo mais mainstream, como Weezer ou Sonic Youth, mas eu gostava mesmo era dos "desconhecidões": Moloko, Rocket from the Krypt, Girls Against Boys, Superchunk, Monster Magnet... De alguns eu acabei gostando, outros eu acabei esquecendo e deixei para lá. Mas de todas as bandas que eu conheci pelo Lado B, a que realmente fez com que eu gastasse meu dinheiro para comprar seus discos foi um duo de música eletrônica: o Curve.

Mesmo o Dólar estando a um Real na época em que eu realmente assitia ao Lado B, eu nunca me animei a comprar um CD importado só por causa de uma música que eu tinha visto o clip. Acho que, de todas as bandas que eu conheci vendo o Lado B, a que tem mais músicas que eu gosto é o Superchunk, mas cada uma é de um disco diferente, então isso também me desanimou. O Curve foi o primeiro a ter três músicas que eu conhecia em um mesmo CD, o que, aliado à necessidade de comprar mais um CD para fechar os três do pacote de frete único da CDNow, fez com que eu me tornasse o feliz proprietário de um Come Clean. Ouvido à exaustão, naturalmente, o que acabou fazendo com que eu me interessasse pelos demais. Ao todo, eu tenho quatro CDs do Curve: Come Clean, Cuckoo, Doppelganger e Gift. Só me falta o Pubic Fruit, que eu não estou a fim de pagar um preço prostituinte para conseguir.

Como já foi dito, a banda conhecida como Curve é na verdade um duo, de origem inglesa, formado pelo músico Dean Garcia e pela cantora Toni Halliday. Os dois se conheceram através de David Stewart, dos Eurythmics, de quem Toni era amiga de infância, quando Garcia foi convidado para tocar guitarra em um dos álbuns da banda. No finalzinho da década de 80, os dois decidiram lançar seu próprio projeto, ao qual deram o nome de State of Play. Conseguiram lançar um álbum e dois singles, mas não chamaram a atenção de ninguém. Após um breve período de separação, os dois decidiram começar um projeto diferente, ao qual deram o nome de Curve. Ao longo do ano de 1991, eles lançaram três EPs (um disco com poucas faixas, normalmente seis, ao contrário de um LP, que tem umas doze), todos de forma independente. Os discos foram extremamente bem recebidos pelo público e pela crítica, mas o Curve praticamente sofreu um boicote da imprensa britânica, que não os considerava membros genuínos da cena alternativa local.

Mesmo com toda esta propaganda negativa, o Curve chamou a atenção da gravadora Anxious Records, pela qual lançou, em 1992, seu primeiro álbum, Doppelganger, que chegou ao primeiro lugar da parada independente britânica. Ainda em 1992, o duo decidiu lançar mais um EP, de nome Pubic Fruit, que reunia várias das músicas lançadas em seus três primeiros EPs independentes. O som do Curve é meio gótico, com guitarras barulhentas e um clima meio aéreo, como se Toni estivese cantando em uma sala pequena. Uma ou outra faixa lembra Chemical Brothers, algumas lembram Garbage, mas a maioria não se parece com nada do que eu já tivesse ouvido. Nestes primeiros discos, o som era mais experimental, mas bom o suficiente para garantir uma boa vendagem, o que possibilitou à banda incluir, em seu álbum seguinte, Cuckoo, de 1993, dois guitarristas e um baterista, com Garcia passando para o baixo, o que resultou em faixas menos eletrônicas, mas com o mesmo clima do álbum anterior.

Cuckoo é mais barulhento que Doppelganger, e passa a impressão de que a banda estava tentando encontrar um estilo, pois tem faixas para todos os gostos, do pop ao experimental. Esta falta de identidade pode ter prejudicado o resultado final, já que o álbum não foi bem recebido, e não vendeu tanto quanto os anteriores, o que levou Garcia e Toni à decisão de pararem com o projeto durante alguns anos. Eles só voltariam a se reunir em 1997, com Come Clean, que conseguiu colocar três faixas nas rádios e nas paradas: a faixa-título, Coming Up Roses e Chinese Burn. Por um acaso, estas foram as três músicas que me despertaram o interesse pelo álbum.

Come Clean saiu pela gravadora Universal, que havia comprado a Anxious, o que gerou muitas discussões entre o duo e a gravadora, que exigia que eles cumprissem "obrigações contratuais", às quais eles não queriam se prender. Em 2000, eles chegaram a lançar um disco de MP3s durante um festival, o que não contribuiu muito para sua imagem perante a gravadora. Somente após muita discussão das tais obrigações contratuais é que eles decidiram lançar seu quarto álbum, Gift, de 2001. Com faixas mais trabalhadas, menos barulhentas, Gift não chegou a empolgar, e praticamente passou despercebido pela cena musical. Com um clima mais de paz entre os músicos e a gravadora, eles decidiram se retirar de cena mais uma vez, e ninguém sabe quando retornarão.

Como eu só tinha conhecido o Curve em 1997, não sabia dessa celeuma toda, nem desse longo espaço entre seus lançamentos. Seja como for, no ano passado a gravadora Virgin lançou uma coletânea em álbum duplo, com praticamente todas as suas músicas, chamado Way of the Curve. Pelo que eu pude descobrir, Garcia e Toni ainda lançaram mais um disco independente em 2002, mas esse foi vendido à boca-pequena, e eu nem sei o nome. Eles não tem planos de retornar a uma grande gravadora tão cedo, estando mais confortáveis sendo independentes.

Do jeito que andam as relações músicos-gravadoras atualmente, creio que fazem eles muito bem. Só é uma pena porque eu corro o risco de ficar sem material inédito de uma de minhas bandas preferidas.

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