Depois de Megaman, Ninja Gaiden sempre havia sido minha série de jogos preferida, até eu começar a jogar Tomb Raider. Ninja Gaiden 2 foi o segundo jogo de NES que eu joguei na vida (o primeiro foi Double Dragon 2), e o desafio não-tão-difícil do jogo, aliado aos bons gráficos e às ótimas cut scenes (as famosas "historinhas" entre as fases), numa época em que 99% dos jogos nem tinham cut scenes, acabaram fazendo com que eu me cativasse pela saga do ninja Ryu Hayabusa. Como a série foi cancelada depois do terceiro jogo, o interesse acabou morrendo, mas até hoje Ninja Gaiden figura na minha galeria de jogos preferidos.
Ninja Gaiden foi criado pela softhouse japonesa Tecmo. Gaiden, em japonês, significa algo como "história paralela". Diferentemente do que muitos pensam, o primeiro jogo da série não foi "Ninja Gaiden 1" do NES (o famoso Nintendo 8-bits), mas sim um jogo para arcades, lançado em 1988 com o nome de Ninja Ryukenden no Japão e Ninja Gaiden nos EUA. Ryukenden significa "Lenda da Espada do Dragão", um título que eu considero mais apropriado. Seja como for, esta versão arcade pouco tinha a ver com suas sucessoras, sendo um jogo de "porrada com fase", no estilo Final Fight, Double Dragon ou Streets of Rage, para dois jogadores simultâneos, sendo que o primeiro controlava um Ryu azul, e o segundo um Ryu vermelho. O enredo era praticamente nenhum. Basicamente, o pai de Ryu Hayabusa, Ken Hayabusa, foi morto, e ele estava buscando vingança contra a gangue que o matou. Só. Para se vingar, Ryu contava com os próprios punhos, seqüências de golpes obtidas ao se pressonar os botões rapidamente, e um power up que permitia que ele usasse sua espada por um curto período de tempo. O jogo tem 8 fases, e é muito difícil, principalmente porque, ao morrer, você não retorna de onde estava, como na maioria dos jogos deste estilo, mas sim de um ponto pré-determinado da fase. É um bom jogo, mas não para se perder milhões de fichas nele em um fliperama.
Em 1989, a Tecmo decidiu lançar uma versão caseira de Ninja Gaiden, para o NES. Ao invés de lançar uma versão do jogo de arcades, a empresa decidiu lançar um jogo totalmente novo, mas com o mesmo nome, Ninja Gaiden. O jogo pouco tinha a ver com o anterior, sendo desta vez um jogo de plataforma, onde você controlava Ryu em diversas fases, tendo como arma principal sua espada. Somente um jogador podia jogar (nada de Ryu vermelho aqui). Além da espada, Ryu contava com várias "armas especiais", como shurikens e poderes ninja, de uso limitado. Os gráficos eram soberbos para a época, assim como as músicas, melhores e mais nítidas do que as da maioria dos jogos de NES. Mas o grande diferencial de Ninja Gaiden eram as cut scenes, uma pequena história que aparecia entre as fases, para explicar o que estava acontecendo. Em outras palavras, você sabia porque o ninja estava espadando todo mundo, e isso fazia uma grande diferença.
Quanto à história, era o seguinte: o pai de Ryu, Ken, foi morto em um duelo. Dias depois, Ryu encontrou uma carta, na qual seu pai pedia para que ele pegasse a espada da família (a Espada do Dragão) e a levasse até os EUA, para um amigo seu, o arqueólogo Walter Smith. No caminho, Ryu se envolve em uma trama de espionagem e misticismo, que enovolve um par de estátuas que, reunidas sob um eclipse da Lua, ressucitaria um demônio que destruiria o mundo. Foster, um agente da CIA, praticamente obriga Ryu a ir ao encontro de Jaquio, um misterioso feiticeiro que planeja ressucitar o demônio para controlá-lo e dominar o planeta. Durante a aventura, Ryu conhece a agente Irene Lew, que mais tarde se tornaria sua namorada.
Ninja Gaiden é um jogo difícil, principalmente porque os controles são meio "duros", mas é ótimo de se jogar, principalmente devido às reviravoltas da história. Foi o jogo que provou que jogos que não fossem de RPG também podiam ter boas histórias.
É claro que todas estas qualidades levariam o jogo a uma continuação, e ela veio em 1990, também para o NES: Ninja Gaiden 2: The Dark Sword of Chaos. A boa qualidade dos gráficos e das músicas foi mantida, assim como as cut scenes, e algumas coisas foram melhoradas, como a capacidade de Ryu de escalar paredes e novos poderes ninja, como a famosa "alma", que copiava os movimentos de Ryu. A dificuldade também foi atenuada, fazendo com que este fosse um jogo fácil, porém desafiador em algumas fases. Este é, provavelmente, um dos jogos mais bem feitos de toda a história do NES, não ficando nada a dever a clássicos como Castlevania 3 ou Super Mario Bros 3.
Ninja Gaiden 2 é uma continuação direta de Ninja Gaiden 1. Tudo começa quando um misterioso ser de nome Ashtar recebe a notícia de que Jaquio está morto. Sem se abalar, ele decide continuar com seu plano maligno, seja ele qual for, e, para isso, seqüestra Irene Lew. Enquanto tenta salvar sua namorada, Ryu enfrenta vários seres demoníacos, até se encontrar com um jovem de nome Robert, que se torna um importante aliado. Após encontrar Irene, Ryu descobre que Ashtar era o mestre de Jaquio, e agora estava levando adiante um plano que não havia sido interrompido pela derrota de seu pupilo. Ashtar é o Imperador de outra dimensão, o Reino das Trevas, e planeja abrir um portal para que seus servos dominem o planeta. Sua espada, a Espada Negra do Caos, é feita com um osso do demônio que Ryu derrotou na Amazônia. Cabe a Ryu mais uma vez frustrar os planos do vilão, em mais um enredo surpreendente e cheio de reviravoltas.
Em 1990 também foram lançadas versões de Ninja Gaiden para PC e para o Lynx, o videogame portátil da Atari. Curiosamente, são adaptações do jogo de arcade, e não do jogo de NES. O que teria levado a Tecmo a esta decisão, não se sabe, mas a versão Lynx é a única adaptação do Ninja Gaiden original para um console caseiro até hoje.
A terceira parte da saga Ninja Gaiden, Ninja Gaiden 3: The Ancient Ship of Doom, seria lançada em 1991, novamente para o NES. Infelizmente, este jogo não conseguiu manter o padrão dos outros dois, sendo fácil demais, feio demais e bobo demais. Para começar, agora Ryu conta com um power up para a espada, que dobra seu alcance e força. Com ele, o jogo fica muito fácil; sem ele, impossível. Assim como os inimigos do primeiro jogo eram humanos, e os do segundo demônios, os deste são robôs, o que faz com que o jogo pareça um pouco deslocado. Além disso, as cut scenes são feias, o enredo tem mais reviravoltas que o necessário, e os cenários, apesar de extremamente detalhados, são planos, sem os efeitos em perspectiva dos jogos anteriores.
Reclamações à parte, a história começa quando Irene é dada como desaparecida, e Ryu decide investigar. Aparentemente, ela está morta, e ele é o assassino. Sabendo que não a matou, Ryu decide refazer seus últimos passos, e se vê envolvido em uma trama de robótica, engenharia genética e clonagem. Aparentemente, quando Ryu derrotou o demônio na Amazônia, se abriu uma fenda dimensional que liberou uma grande quantidade de energia. Foster, o homem da CIA, auxiliado por um cientista de nome Clancy, se utilizou desta energia para criar os Bionóides, soldados perfeitos para uso militar. Irene descobriu sobre os Bionóides, e foi morta por um deles, que viria a ser um clone de Ryu. Agora, resta a Ryu derrotar os Bionóides, Clancy e Foster, antes que eles consigam seu plano principal: reativar uma antiga nave alienígena para destruir o mundo. Pois é, a história também não é das melhores.
Seja como for, acabou por aí. Ninja Gaiden 3 foi o último jogo dentro da cronologia até 2004, embora outros quatro tenham sido lançados. O primeiro foi Ninja Gaiden Shadow, para Game Boy, ainda em 1991. Sendo um jogo de Game Boy, é bem simples, com apenas um poder ninja (o escudo), e sem cut scenes, exceto o início e o final. Ryu conta, entretanto, com um gancho que o permite se pendurar no teto, uma excelente adição em algumas fases. É um jogo muito divertido (pelo menos para quem gosta de Game Boy, como eu) embora praticamente não tenha enredo. A história se passa três anos antes de Ninja Gaiden 1, e Ryu ainda está em treinamento. Como parte de seu treinamento, ele deve viajar até Nova York e derrotar um vilão de nome Garuda, que se alimenta do medo, ódio e tristeza das pessoas.
1991 também foi o ano do lançamento de Ninja Gaiden do Game Gear, que nada tem a ver com os demais, sendo apenas mais um jogo de ninja. Os gráficos são diferentes, as armas são diferentes, enfim, só o nome é o mesmo. Como eu nunca tive um Game Gear, não posso dizer se era divertido ou não. Joguei uma vez num emulador, e não achei lá essas coisas. O enredo é mais uma vez inexistente, com Ryu matando quantos inimigos conseguir por fase, até derrotar uma espécie de demônio. Se alguém tiver um manual e souber o porquê, por favor me diga.
Em 1991 também foram lançadas versões para PC de Ninja Gaiden 2 e para Lynx de Ninja Gaiden 3, ambas adaptações dos jogos do NES. 1992 também começou com uma adaptação, Ninja Gaiden para o Turbografx-16 (também conhecido como PC-Engine), um videogame de 16 bits que chegou a vender por aqui na época em que saiu o Mega Drive, mas nunca se tornou muito popular. Esta versão era uma adaptação de Ninja Gaiden do NES, com gráficos melhorados, mas músicas piores.
1992 também reservou uma grata surpresa para os fãs, uma versão de Ninja Gaiden para o Master System. Embora eu nunca tenha sido fã do Master, e só tenha conhecido este título há uns poucos anos, este é um ótimo jogo, bem divertido, e com o clima dos originais, diferentemente da versão Game Gear. Existem algumas diferenças, como Ryu não poder escalar paredes, ou alguns poderes ninja diferentes, e eu acho aquele controle quadradinho do Master muito esquisito, mas ainda assim é um jogo do qual eu gostei bastante. No enredo, a vila onde Ryu morava foi atacada, seus amigos mortos, e um antigo pergaminho, que permite ao seu portador conjurar Poderes Ancestrais, foi roubado. Cabe a Ryu recuperar o pergaminho antes que o ladrão faça uso desses poderes. É um enredo bobo, mas tudo bem.
1992 também foi o ano de lançamento de Ninja Gaiden do Mega Drive, uma ofensa à série, na minha opinião. É mais um jogo de porrada com fase, sem nenhuma história, exceto o fato de Ryu ter sido enviado aos EUA por seu mestre para recuperar o Pergaminho Sagrado de Huma, roubado por um ninja que traiu seu clã. Eu só joguei uma vez, e não passei da fase 2. Depois dessa coisa horrível, a série ficou dormente até 1995, quando saiu Ninja Gaiden Trilogy para o Super Nintendo. Ao invés de ser um jogo novo, porém, este é simplesmente uma reunião dos três jogos do NES em um único cartucho. Os gráficos são os mesmos, mas as músicas, infelizmente, são piores. Só vale mesmo para quem não conhecia ou não teve oportunidade de jogar os originais.
Após Ninja Gaiden Trilogy, a série parecia encerrada, e Ryu condenado à aposentadoria (exceto por eventuais participações na série Dead or Alive). Em 2004, porém, saiu um novo Ninja Gaiden, desta vez para Xbox, em 3D, com gráficos poligonais e tudo o que um jogo novo tem direito. Como eu não tenho um Xbox, nem conheço alguém que tenha, não tenho como conferir pessoalmente, mas dizem que é um jogo muito bom. O clã Hayabusa agora é o responsável por tomar conta da Espada do Dragão Negro, um artefato místico de grande poder e maldade. Um dia, porém, todo o clã é dizimado, apenas restando Ryu, que deve ir atrás do vilão Lorde Doku (eles devem ter pedido um nome pro pessoal da Lucasfilm...), recuperar a espada antes que seus poderes sejam liberados. Perece um pouco com a história da versão Master System, mas melhor desenvolvida. Só espero que os gráficos de última geração não chamem mais atenção que a jogabilidade e o enredo - dois fatores que contribuíram decisivamente para que Ninja Gaiden figurasse entre meus jogos preferidos.
Pelo que eu sei, a versão Game Boy do Ninja Gaiden é, na verdade, uma "adaptação" de um outro jogo de ninja, por sua vez a versão GB de um jogo do NES 8 bits que ficou conhecido nos States como "Kage: Shadow of the Ninja".
ResponderExcluirO "Kage" para GB foi lançado como tal no Japão, e nos Estados Unidos teve os "sprites" e as "cutscenes" mudados para fazer os estadunidenses crerem que era mais uma aventura do Ryu Hayabusa.