Como eu disse no meu post anterior (Céus, como tem tempo!), Megaman foi criado em 1987 por Keiji Inafune, com o nome de Rockman, a mando da Capcom (mesma que viria a fabricar, anos mais tarde, Street Fighter), para o console Famicon, o equivalente japonês do Nintendo 8-Bits (ou NES). Foi um jogo revolucionário, não apenas por seus gráficos, bem melhores que os dos demais jogos de plataforma da época, mas também por permitir que o jogador escolhesse a ordem das fases que iria jogar. Ao derrotar cada inimigo, Megaman ganha uma arma especial, que o dará vantagem contra o próximo. Após derrotar uma quantidade pré-determinada de robôs (normalmente 8), Megaman tem acesso ao laboratório de seu arqui-inimigo Dr. Wily, onde não poderá mais escolher a ordem das fases, mas ainda terá que enfrentar alguns bosses, até o combate final contra o cientista.
Segundo o site oficial da Capcom, atualmente Megaman já tem 87 jogos diferentes, para diversos sistemas (incluindo as versões em japonês e as em inglês), divididos em cinco séries. Neste post, trataremos da chamada Série Clássica, que começou com o primeiro jogo de Megaman, e anda meio esquecida. Embora eu não deseje fazer disso um hábito, reconheço que, mais uma vez, o post ficou grande demais. Como prefiro "perder" duas semanas falando sobre o mesmo assunto do que fazer com que vocês fiquem de saco cheio com um post grande demais, hoje falarei dos jogos de 1987 até 1994, e na semana que vem voltarei com os jogos de 1995 em diante.
Em sua primeira aventura, Megaman tem que enfrentar 6 robôs criados pelo Dr. Wily em parceria com o Dr. Light, inventor de Megaman, para melhorar as condições de vida da humanidade. Dr. Wily roubou os robôs (trocadilho não-intencional) e alterou sua programação para dominar o mundo. Dr. Light criou um robô guerreiro, Protoman, que não aceitou seu papel e fugiu. Sua alternativa, portanto, foi modificar o robô-faxineiro Rock, transformando-o em Megaman, para que ele pudesse salvar a humanidade (como curiosidade, Rock possui uma "irmã", outra robô-faxineira chamada Roll). Assim, Megaman parte para enfrentar Cutman, Gutsman, Iceman, Bombman, Fireman e Elecman, e deter os planos do cientista. No final, Dr. Wily pede perdão, e Megaman, com sua imensa bondade, permite que ele parta. Uma curiosidade: Megaman 1 é o único jogo da série com score, e possui até itens que não fazem nada além de conferir pontos.
Apesar de revolucionário, Megaman não foi um sucesso muito estrondoso. O verdadeiro boom da série viria um ano mais tarde, com o lançamento de Megaman 2, também para NES. Irritado com sua derrota prévia, Dr. Wily decide ele mesmo criar oito robôs, Bubbleman, Airman, Quickman, Heatman, Woodman, Metalman, Flashman e Crashman, e atacar a cidade para atrair Megaman para sua destruição. Megaman 2 trouxe várias inovações para a série, como as passwords, que permitiam ao jogador parar de jogar e retornar alguns dias depois, sem ter que jogar tudo de novo; os E-Tanks, que permitiam que Megaman recuperasse totalmente sua energia ao utilizar um deles, e o modelo de oito robôs antes do laboratório, que acabou se tornando o padrão. Megaman 2 ainda tem duas opções de dificuldade (é o único até agora com esta característica), e possui o último chefe mais memorável de todos: Dr. Wily se transforma em um ET para dar cabo do robozinho. Ao ser derrotado, porém, o ET se revela um holograma, controlado pelo cientista!
O sucesso de Megaman 2 abriu as portas para inúmeras continuações. A primeira delas, evidentemente, foi Megaman 3, de 1990, mais uma vez para o NES. Neste jogo, Dr. Wily se redime de seus atos, e volta a trabalhar em parceria com o Dr. Light, na mineração de cristais energéticos e construção de um enorme robô chamado Gamma. Para esta finalidade, a dupla de cientistas cria oito robôs, Sparkman, Snakeman, Needleman, Hardman, Topman, Geminiman, Magnetman e Shadowman. Tudo era um embuste, porém, e o Dr. Wily muda a programação destes robôs para dominar o mundo! Dr. Light não tem outra alternativa a não ser pedir para que Megaman destrua suas próprias criações. Megaman 3 também introduziu muitas novidades na série, como o cão-robô Rush, capaz de se transformar em um trampolim, jato ou submarino para auxiliar Megaman; o infame Doc Robot, capaz de assumir os poderes dos robôs de Megaman 2, a quem Megaman deve enfrentar em quatro fases entre os oito robôs e o laboratório; e o aparecimento de Protoman, disfarçado como Breakman, que de vez em quando enfrenta Megaman para testá-lo. Esse comportamento fez com que até hoje nos EUA, principalmente na (horrível) série animada, Protoman seja considerado "do mal", ao invés de simplesmente rebelde e incompreendido.
1990 também foi o ano de lançamento de um jogo de Megaman meio obscuro, meio esquisito, a versão de Megaman para PC. Com parcos 340Kb de tamanho, e produzido pela Hi-Tech Expressions em parceria com a Capcom, este desconhecido jogo possui apenas cinco (enormes, com exceção da primeira) fases. A primeira fase é obrigatória, e não tem chefe. Depois, Megaman tem que enfrentar três robôs, Sonicman, Voltman e Dynaman, podendo escolher sua ordem. A última fase é o laboratório do Dr. Wily. É um jogo muito tosco, sem passwords, sem som, com um final meio capenga, e não é considerado oficial.
O ano de 1991 começou com a primeira aventura de Megaman em outro console que não o NES: Megaman: Dr. Wily's Revenge (conhecido como Rockman World no Japão, e extra-oficialmente como Megaman I) para Game Boy. Neste jogo sem enredo, Dr. Wily tenta novamente se vingar de Megaman, e reconstrói oito de seus robôs, quatro de Megaman 1, quatro de Megaman 2: Cutman, Elecman, Fireman, Iceman, Heatman, Bubbleman, Flashman e Quickman. Os quatro últimos robôs não têm fases, e são enfrentados durante o laboratório. Após derrotar os oito, antes de enfrentar Dr. Wily, Megaman ainda tem um novo oponente a vencer, Enker, um robô exclusivo do Game Boy. Megaman até ganha a arma de Enker ao vencê-lo, assim como acontece com todos os demais robôs.
1991 também foi o ano de lançamento de Megaman 4 para o NES, que viria a consolidar um novo padrão nos jogos do robozinho. Neste jogo, a ameaça não é o Dr. Wily, mas sim o Dr. Cossack, um cientista russo que decide dominar o mundo. Ele manda seus oito robôs, Ringman, Diveman, Skullman, Pharaohman, Brightman, Toadman, Drillman e Dustman para destruir a cidade e Megaman. Após derrotar os oito robôs, Megaman parte para o laboratório do cientista, onde descobre que, na verdade, Dr. Wily havia sequestrado Kalinka, a filha de Cossack, e o obrigado a construir os robôs. Assim, Megaman parte para o laboratório do Dr. Wily, para pôr um fim aos planos do vilão. Esta fórmula de dois laboratórios foi repetida em Megaman 5 e 6, embora desagrade muitos fãs. Megaman 4 marcou a estréia de um novo personagem, Eddie, que aparece em fases aleatórias, e dá itens aleatórios para Megaman.
O ano de 1992 viu uma enxurrada de lançamentos, começando por Megaman II para Game Boy. Dr. Wily cria uma máquina para viajar no tempo, e traz de volta oito de seus robôs, quatro de Megaman 2 e quatro de Megaman 3: Airman, Metalman, Woodman, Crashman, Needleman, Hardman, Topman e Magnetman. Assim como no jogo anterior, os quatro últimos robôs são enfrentados no laboratório, mas agora eles têm fases. Após enfrentar os oito, Megaman ainda tem que dar cabo de Quint, um robô que o Dr. Wily trouxe do futuro, antes de finalmente enfrentar o cientista. Nos EUA, Quint é considerado como sendo o próprio Megaman, que foi capturado e reprogramado pelo Dr. Wily. No Japão, esta versão não é verdadeira.
Em 1992 também tivemos um novo jogo da Hi Tech Expressions para PC (desta vez sob licença, mas não em parceria com a Capcom), Megaman 3. Não me perguntem o que eles fizeram com o 2. Neste horroroso jogo de sete fases, Megaman tem que enfrentar seis robôs, Oilman, Bitman, Blademan, Sharkman, Waterman e Torchman, em fases enormes, dificílimas e intermináveis, antes de invadir o enorme, dificílimo e interminável laboratório do Dr. Wily, para ver um final idêntico ao jogo anterior para PC! Evidentemente, este jogo não é considerado oficial, e ainda tem um agravante: Megaman bóia na água! Céus, ele é um robô! Metal afunda!
Bem, deixando isso de lado, ainda em 1992 tivemos o lançamento de Megaman 5 para NES. Neste jogo, Protoman retorna, e sequestra o Dr. Light, o que absolutamente não fez bem à sua reputação nos EUA. Inconformado por seu "irmão" ter tomado o caminho do mal, Megaman parte para enfrentar os oito robôs que o acompanharam, Stoneman, Gravityman, Crystalman, Chargeman, Napalmman, Waveman, Starman e Gyroman, antes de invadir o laboratório de Protoman (?) e descobrir que, na verdade, não era Protoman, mas sim Darkman, um clone malvado inventado pelo Dr. Wily (na hora do combate final, o Protoman verdadeiro surge e revela a farsa). Segue o laboratório do Dr. Wily, com mais fases. Este jogo marca a estréia do pássaro-robô Beat, que ataca os inimigos enquanto Megaman avança na fase.
Finalmente, 1992 ainda teve o lançamento de um segundo jogo para Game Boy, Mega Man III. Dr. Wily descobre petóleo no meio do oceano, e começa a utilizá-lo para propósitos malignos. Seu primeiro ato foi reconstruir quatro robôs de Megaman 3 e quatro de Megaman 4 (isso já está cansando, não está não?): Geminiman, Sparkman, Snakeman, Shadowman, Skullman, Drillman, Diveman e Dustman. Inovadoramente, entre os quatro primeiros e os quatro últimos robôs temos uma subfase, e só depois dos quatro últimos robôs é que vem o laboratório. O robô exclusivo da vez é Punk, um dos mais difíceis de todos os jogos de Megaman.
1993 também foi um ano fértil para os fãs de Megaman. Logo no início do ano, a Capcom decidiu se aventurar por outros estilos de jogo, lançando Rock Board: That's Paradise, um jogo de tabuleiro para NES com os personagens de Megaman (estilo Mario Party). Este jogo, porém, jamais foi lançado nos EUA, sob a alegação de que era nocivo para as crianças (como curiosidade, esta é a razão pela qual Mario Party é naquele estilo gincana; Rock Board era no estilo Banco Imobiliário, e foi considerado nocivo devido ao dinheiro e às ações de compra e venda).
Ainda em 1993 foi lançado o primeiro jogo de Megaman para um console da Sega, Megaman: The Wily Wars, para o Sega Genesis, conhecido por aqui como Mega Drive. Por decisão da Sega dos EUA, o jogo também não foi lançado por lá, apenas na Europa e no Japão (com o nome de Rockman Mega World). Este jogo é tipo uma coletânea, contando com Megaman 1, 2 e 3 do NES, com gráficos e músicas melhorados. Zerando os três jogos, porém, se habilita um jogo exclusivo, onde Megaman terá que enfrentar três robôs, Buster Rod, Mega Water e Hyper Storm, entes de um laboratório inédito. Megaman não ganha armas por derrotar estes robôs, mas pode levar para este jogo exclusivo todas as armas dos três outros jogos!
Em 1993 também tivemos o lançamento do que seria o último jogo de Megaman para NES, Megaman 6, produzido pela Nintendo em parceria com a Capcom. Neste jogo, meio fraquinho se comparado aos demais, ocorre uma exposição de robôs, organizada pelo misterioso Mr. X, com direito a prêmios. Quando só restam oito finalistas, Blizzardman, Windman, Flameman, Plantman, Tomahawkman, Yamatoman, Knightman e Centaurman, Mr. X muda sua programação, e os utiliza para tentar dominar o mundo, cabendo a Megaman derrotá-lo. A principal inovação deste jogo é que Rush agora se transforma em duas armaduras para Megaman, a Power, capaz de quebrar blocos, e a Jetpack, capaz de voar por um curto espaço de tempo. Após derrotar Mr. X em sua mansão, Megaman descobre que ele era, na verdade, o Dr. Wily disfarçado, e parte para um novo laboratório, para dar cabo do cientista. No final deste jogo, Megaman não deixa o cientista fugir, levando-o para as autoridades competentes, para que pague por seus crimes.
No final de 1993 ainda tivemos mais um jogo para Game Boy, Megaman IV, considerado por muitos como o melhor da série (considerando todos os sistemas, acreditem ou não). Realmente este jogo é uma obra-prima, trazendo várias inovações que seriam utilizadas em títulos futuros. A mais notável delas é a Loja, onde Megaman poderá trocar P-Chips, que recolhe durante as fases, por variados itens, cada um com uma utilidade diferente. Cronologicamente, este jogo se passa entre Megaman 5 e 6 do NES, portanto, o Dr. Wily aqui ainda não está preso. Está acontecendo uma exposição de robôs na cidade, que é invadida pelo Dr. Wily, que reativa alguns de seus robôs antigos para tentar dominar o mundo. O arsenal do cientista inclui quatro robôs de Megaman 4 e quatro de Megaman 5, Ringman, Toadman, Pharaohman, Brightman, Stoneman, Chargeman, Crystalman e Napalmman, além do perigoso Wily Tank (que faz as vezes de laboratório), e do robô Ballade, que deve ser enfrentado duas vezes, uma na subfase entre os quatro primeiros e os quatro últimos robôs, e outra no Wily Tank. Este jogo tem até uma última fase posterior à derrota do Dr. Wily, onde Megaman deve escapar de um Wily Tank prestes a explodir!
1994 começou com o lançamento de mais uma obra-prima para Game Boy, Megaman V, compatível com Super Game Boy (um acessório do Super Nintendo que rodava jogos de Game Boy e os tornava coloridos). Fugindo do esquema tradicional de Game Boy, este jogo traz nove robôs inéditos, os StarDroids, que possuem os nomes dos planetas do Sistema Solar. O canhão de Megaman é inútil contra eles, então o Dr. Light inventa uma nova arma, a Mega Arm, que permite que Megaman dispare seu próprio punho. Com os adaptadores certos (comprados na Loja, também presente neste jogo), a Mega Arm pode agarrar itens, e até espancar inimigos. O jogo também marca a estréia de mais um animal de Megaman, o gato Tango (que, por alguma razão, nunca mais apareceu), que quica pela tela destruindo os inimigos. Megaman enfrenta os quatro primeiros StarDroids, Mercury, Venus, Mars e Neptune em nosso planeta, depois passa por uma subfase e, com a juda de Rush, transformado em nave espacial, parte para o espaço para enfrentar os demais, Jupiter, Saturn, Uranus e Pluto. Após os oito, Megaman enfrenta seu líder, Terra (é, Terra, não "Earth"), para descobrir que, na verdade, quem estava por trás de tudo era... o Dr. Wily! Megaman então invade a fortaleza espacial do cientista. Este jogo é o único oficial onde o Dr. Wily não é o último chefe, pois, após derrotá-lo, Megaman ainda tem que dar cabo de Sunstar, um robô alienígena poderosíssimo.
Talvez tomados pela euforia da Copa do Mundo dos EUA, em 1994 a Capcom também lançou Megaman's Soccer, para o Super Nintendo. Neste jogo sui generis, você começa com um time de nove Megamans, jogando futebol contra oito times de nove de cada robô. Temos times de Cutman, Elecman, Fireman, Woodman, Needleman, Dustman, Pharaohman e Skullman. Ao derrotar cada time, Megaman ganha o direito de trocar um dos jogadores de seu time por um dos jogadores do time que acabou de derrotar, fazendo um time mais forte. Cada robô possui um "super chute", equivalente a uma arma especial dos jogos de plataforma. Após derrotar estes oito times, Megaman ganha acesso ao laboratório do Dr. Wily, onde serão disputadas as finais. Lá, ele deverá enfrentar os times de Enker, Protoman e do próprio cientista, pilotando um robô, já que ele não é besta. Além deste modo Story, Megaman's Soccer ainda conta com os modos Exhibition, onde você poderá jogar um amistoso, e o famoso modo "para dois". Nestes dois últimos modos, você poderá escolher para formar seu time robôs que não estão presentes no Story, como Bombman, Iceman, Airman, Flashman, Bubbleman, Topman, Snakeman, Geminiman e Toadman. É um jogo legalzinho, mas com um problema sério: não tem final! Quando você derrota o Dr. Wily, o jogo retorna para a tela de abertura! Que absurdo!
No final de 1994 foi lançado o primeiro jogo de Megaman para Game Gear, produzido pela US Gold em parceria com a Capcom. Este jogo não tem qualquer enredo, as fases são idênticas às suas correspondentes do NES, e a tela é bem menor, ou seja, você não vê a parte de baixo a não ser que decida pular lá para descobrir da pior maneira. Na primeira parte, Megaman enfrenta três robôs de Megaman 5 e um de Megaman 4, Stoneman, Starman, Napalmman e Brightman. Depois vem o laboratório, onde, sem poder escolher a ordem, Megaman enfrentará Waveman (de Megaman 5) e Toadman (de Megaman 4), ainda ganhando suas armas. A última fase é idêntica à de Quickman (de Megaman 2), mas o chefe é Dr. Wily, com a mesma nave que usou em Megaman 5. E não tem final. Sabe-se lá porque fizeram este jogo assim.
E aqui vamos terminar a primeira parte deste post gigante. Semana que vem tem mais, começando pela estréia efetiva de Megaman no Super Nintendo. Aguardem!
Série Megaman |
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Série Clássica |
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