domingo, 27 de abril de 2003

Escrito por em 27.4.03 com 0 comentários

Escrever é difícil

Escrever no átomo dá uma trabalheira danada. Afinal, são temas sérios, e não podemos escrever sobre temas sérios de forma leviana, pois de vez em quando eles influenciam a quem os lê. Só que tem outro problema: Encontrar um tema apropriado. Tudo bem que o mundo está cheio de temas sérios, mas aí a gente cai no primeiro problema: Adequar o que será escrito à seriedade do tema escolhido.

Eu adoro escrever, sempre gostei. Nunca fui intimidado por redações, seja em que língua fossem. Mesmo assim, tem dias em que eu olho pro meu Notepad (sim, eu escrevo no Notepad, faço até os layouts do BLOGuil nele, que que tem?) e simplesmente não sai nada. Tá ele lá, branquinho, branquinho, e eu aqui pensando no que eu vou falar essa semana. Normalmente dá um estalo, alguma coisa que eu vi na televisão, li no jornal ou aconteceu no BLOGuil, e aí eu acho meu tema. Às vezes não, aí eu fecho o Notepad e deixo pra escrever outro dia.

Por isso, em homenagem a este Notepad tão branquinho, desenvolverei hoje o seguinte tema: A dificuldade de escrever. Não a dificuldade de achar um tema, mas simplesmente a dificuldade de escrever, de pegar nossas idéias e tranmití-las para outras pessoas de forma escrita.

Ontem, durante o banho, mais uma vez eu pensava sobre o que escreveria para que as teias de aranha do átomo fossem varridas essa semana. Quando pensei "mas como é difícil achar sobre o que escrever", comecei a divagar sobre todas as dificuldades que as pessoas têm quando se trata de escrever.

Escrever sobre qualquer besteira é uma tarefa relativamente fácil. Escrever sobre um tema pré-determinado é outra história - mesmo que este tema tenha sido pré-determinado por nós mesmos, como é o meu caso aqui nesse blog. Não somos treinados desde pequenos para escrever. Somos treinados para ver televisão, talvez ler gibi, mas são poucos os que se acostumam a transferir seus pensamentos para uma folha de papel. Aí chega o vestibular, e a gente se depara com um tema do tipo "Na sua opinião, a discussão social presente no filme Carandiru reflete a verdadeira vida penitenciária brasileira, ou é apenas a fantasia cinematográfica dando tintas a uma situação ainda ignorada pela maior parte da sociedade? Discorra em 150 palavras, comparando os pontos principais de seu raciocínio com a atual situação nas favelas cariocas". E já que o suicídio não é uma opção, lá vai o pobre coitado do vestibulando quebrar a cabeça. Por um acaso, a redação mais difícil que eu já fiz na minha vida tinha a ver com o massacre do Carandiru (na época ainda fresquinho). Eu tinha 14 anos. Tudo bem, eu tinha visto do que se tratava na televisão, mas não havia lido os jornais, não sabia porque aqueles policiais tinham decidio sair matando todo mundo - e nem porque as pessoas protestavam, já que eles "eram bandidos mesmo". Quando comecei a escrever, tive medo de que meu texto parecesse meio nazista (desde aquela época já tinha aversão por frases do tipo "tem mais é que matar", embora eu mesmo as profira de vez em quando, em acessos de revolta contra a sociedade). Refiz o rascunho e fiquei com medo de que ele parecesse protecionista aos bandidos demais. Refiz uma terceira vez e achei uma porcaria. Aí misturei as três versões e seja o que Deus quiser, que o tempo tava acabando. Tirei nove sabe-se lá como.

Depois deste texto, nunca mais encarei temas polêmicos como esse. Isso foi bom , porque, depois deste texto, toda vez que eu escrevo alguma coisa, fico com a impressão de que serei mal-interpretado. É uma sensação incômoda, mas eu aprendi a lidar com ela depois que li em algum lugar que um texto não é bom se todo mundo concorda e ninguém contesta, e não adianta nada a gente escrever textos para quem tem opinião igual à nossa (o Dapieve falou algo parecido com essa segunda parte em sua coluna de sexta-feira no jornal O Globo - "ninguém troca idéias com quem tem idéias semelhantes". Concordo com ele em gênero, número e grau).

Enfim, minha motivação para escrever este texto foi a seguinte: Quantas pessoas devem ter, neste momento, a mesma dificuldade que eu tive naquela fatídica redação em 1992, ou a mesma que estou tendo agora, quando o responsável por escolher os temas não é outro senão eu mesmo?

Num segundo pensamento, escrever não é fácil. Nem quando se escreve sobre qualquer besteira, pois ainda assim corremos o risco de escrever um texto ruim, que não alcance nosso objetivo primeiro, aquele que traçamos quando decidimos escrever.

Que bom seria se todos nós nos acostumássemos a treinar pegar os pensamentos dispersos que flutuam em nosso cérebro e colocá-los arrumadinhos em uma folha de papel. Melhor ainda se o fizéssemos quando criancas, pré-adolescentes, quando temos menos preocupações fazendo companhia a estes pensamentos dentro do cérebro, mais tempo para ordená-los, mais folhas de papel para preencher.

Afinal, isso não serve apenas para redações obrigatórias cascudas, mas também para desenvolver o raciocínio, nos proporcionar uma vantagem na hora de expormos nossas idéias. Se elas vierem arrumadas, será mais fácil para os outros as entenderem do que se vierem todas bagunçadas.
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quinta-feira, 17 de abril de 2003

Escrito por em 17.4.03 com 0 comentários

Consumismo

Incrível como temos a péssima mania de nos divertirmos consumindo. E não estou falando só de comer.

Um amigo me contou que seu pai tem a mania de colecionar coisas. Até aí, tudo bem, eu também tenho. Mas meu amigo se mostrava preocupado com o fato de que seu pai já estava apresentando sintomas de obsessão compulsiva, comprando só por comprar coisas que nunca iria usar.

Será mesmo isso patológico? Outro dia eu me perguntava para que eu continuo comprando CDs se nem ao menos os ouço. Se comparar os CDs da minha adolescência com os atuais, descubro que, dos primeiros, sei cantar todas as músicas de cor, enquanto alguns dos últimos eu só ouvi uma única vez. Todos nós estamos vivendo dessa forma, comprando coisas das quais não precisamos, apenas para satisfazer pequenos desejos internos, seja para sufocar frustrações, ganhar auto-confiança ("eu te-nho, você não te-em!") ou aproveitar a moda. Afinal, qual a diferença entre um Ovo de Páscoa de 300g e um chocolate grande de 300g, a não ser o formato? Aposto que todo mundo acha o Ovo mais legal.

Não estou dizendo que todos devamos adotar um comportamento ascético, mas temos que tomar cuidado com o consumismo exagerado, tão presente nos nossos dias. Por que comprar uma calça jeans de grife que custa 200 Reais se ela veste igual a uma da C&A que custa muito menos? Conheço diversas pessoas que não possuem um tostão furado, mas só vestem roupas de grife. Um deles chegou a jogar fora uma camisa que ganhou de sua madrinha quando descobriu que fora comprada na Rua da Alfândega (nota para os não-cariocas: a Rua da Alfândega é um mercado popular, também conhecido como Saara, composta de várias lojas que vendem produtos baratos, alguns bons, outros de qualidade duvidosa).

O consumismo parece nos dar alegrias, mas está nos escravizando. Tal como viciados, não conseguiremos ser felizes se não conseguirmos comprar os itens que nos satisfazem, mesmo que depois eles fiquem encostados na estante pegando poeira, sem mais servir para coisa alguma. Quando o dinheiro aplicado "não fará falta" (entre aspas porque qualquer dinheiro sempre faz falta) é uma coisa, mas quando precisamos abrir mão de coisas mais necessárias ao nosso bem-estar, temos um problema.

Se livrar desse consumismo não é fácil. Eu mesmo continuo comprando CDs que só ouvirei uma única vez. Mas estou me disciplinando a juntar dinheiro pacientemente, sem tirar do necessário para minha subsistência, e a não me desesperar se não conseguir comprar algo que quero. Por enquanto estou conseguindo. Espero que não parem de vender o que eu quero comprar antes de eu juntar todo o dinheiro.

E sabem por que a calça de grife custa 200 Reais? Porque as pessoas pagam. Se ela ficar encalhada na loja um ano, o preço vai baixar.
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quarta-feira, 9 de abril de 2003

Escrito por em 9.4.03 com 0 comentários

Infância anos 80

Atenção: O post de hoje é bem pessoal.

No meu último post no BLOGuil, eu inventei uma nova seção, a Seção Exumação. Antes que alguém se assuste com o nome, trata-se de fotos de coisas dos anos 80, como a caneta Kilométrica, que inaugurou a seção, seguida de uma pequena descrição do que seria aquela coisa, para quem não sabe ou não se lembra. Eu tenho várias coisas dos anos 80 aqui em casa, e esse foi um dos motivos pelos quais eu decidi criar essa seção. O outro motivo é mais pessoal: Eu tenho muita saudade dessa época.

Eu não escondo isso de ninguém, e todo mundo sabe que eu sou fanático pelos anos 80, mas um comentário da Angelrose me fez refletir e escrever este post mais sério. Ela disse algo do tipo "tão novinhos e tão saudosos".

Realmente eu nunca tinha pensado nisso. Para quem não sabe, eu fiz 25 anos mês passado. Não me considero velho, muito pelo contrário - apesar de sempre brincar dizendo coisas do tipo "quando eu era pequeno as crianças não sabiam o que era sexo, devo estar ficando velho", talvez em uma reflexão crítica inconsciente quanto ao rumo da sociedade. Não sendo tão velho, teoricamente, eu não teria tantos motivos para sentir saudade. Qual seria a razão, então, de eu sentir saudade de simplesmente tudo o que me aconteceu em minha não-tão-distante-assim infância?

Talvez fosse aquela uma época mais feliz. Tinha a Guerra Fria e um restinho da ditadura, é verdade, mas ninguém tinha medo de sair na rua, nem de ficar em casa desempregado pelo resto da vida. Eu costumava dizer, em minha adolescência, que as últimas pessoas que tiveram infâncias felizes foram as que nasceram em 1981. As demais já pegaram uma programação cheia de sexo, violência urbana e power rangers. E quando eu digo "programação", não estamos restritos às telinhas das tevês. Quando eu era pequeno, contava nos dedos os amigos que tinham pais separados: um. Hoje em dia, se você for a qualquer reunião de pais de escolas primárias, vai achar um montão. As músicas não tinham duplo sentido - e, quando o tinham, era político, não sexual. O dinheiro já era importante, é claro, mas não era justificativa para tudo - você sabe que alguma coisa está errada quando todos os brinquedos têm a cara do Gugu.

De uma forma geral, acho que era uma época mais inocente, não porque eu era criança, mas porque toda a sociedade, de forma geral, era menos preocupada com certos vícios, e mais agarrada a certos valores. Acho que eu tinha uns 10 anos quando descobri como as pessoas faziam sexo, e levei um susto - não, eu não vi uma demonstração prática - mas, hoje em dia, com a desculpa de que "precisamos ter crianças bem informadas", qualquer menininha de quatro anos já sabe até algumas posições. Eu jogava pac-man e banco imobiliário, hoje o sobrinho de um amigo meu só quer saber de ver raios enormes e gente explodindo no Dragon Ball, tanto na tv quanto no videogame. Eu só ouvia Xuxa e Balão Mágico, e nem tinha vontade de ouvir "música de adulto". Há uns anos atrás conheci uma menina de 3 anos que sabia todas as coreografias do É O Tchan.

Eu não vou dizer aqui que tudo isso está errado. A sociedade mudou, "evoluiu". Não é errado, apenas diferente. Mas isso me entristece. Fico pensando como será quando eu tiver que criar os meus filhos, se a coisa continuar caminhando dessa maneira. E toda vez que vejo meu astronautinha do Tente na estante, ouço Kayleigh ou assisto a um replay da TV Pirata no Video Show me dá saudade. Talvez não de ser criança, mas simplesmente de ter vivido nos anos 80.
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quinta-feira, 3 de abril de 2003

Escrito por em 3.4.03 com 0 comentários

Imediatismo

Primeiro, gostaria de pedir desculpas por não ter tido post aqui semana passada. Alguns compromissos impediram que eu me concentrasse para escrever, e Deus sabe o que sai desse teclado quando eu não me concentro. De qualquer forma, parece que o assunto anterior foi muito bem discutido nos comentários, e o assunto de hoje é o mesmo que eu iria expor semana passada, de forma que vocês não perderam nada.

Para aqueles que não sabem, eu sou formado em Direito. Durante minha estada na faculdade, convivi com alunos de todos os tipos - os que queriam mesmo exercer uma profissão jurídica, os que estavam fazendo Direito para não serem mais enganados por seus advogados (tá, eu também vou fazer medicina para não ser mais enganado pelo meu médico), e os que resolveram fazer Direito porque os pais obrigaram a fazer uma faculdade, e disseram para eles que direito era fácil.

Intervalo. Palavras de um professor meu do segundo grau: "Direito e Engenharia são profissões opostas. Engenharia é a faculdade mais difícil de se fazer, mas é a profissão mais fácil de se exercer, pois a matemática não muda. O Direito é a faculdade mais fácil de se fazer, mas é a profissão mais difícil de exercer, pois muda todo dia". Concordo com ele em parte (não acho que engenheiro seja uma "profissão fácil"). E quem acha que Direito é fácil deve tentar imaginar como estou me sentindo depois que o Código Civil TODO mudou 13 dias após meu último dia de aula.

Bem, voltando à vaca fria, tinha também um quarto tipo de aluno, o que não sabia o que era o Direito, e só começou a descobrir depois da primeira prova do primeiro período. Na sociedade brasileira isso é mais comum do que se pensa - afinal, temos que escolher a profissão que exerceremos talvez pelo resto da vida entre os 15 e os 17 anos, idade na qual nossos únicos interesses são videogame, festas e mulher pelada. Aí o sujeito fala "quero ser advogado", achando que tudo é uma beleza e vai ficar milionário. Alguns resistem bravamente, gostam do que descobriram ser o Direito e se tornam excelentes advogados, juízes, promotores, etc. Outros se cansam, abandonam e vão fazer outra faculdade. Até aí tudo normal, nenhum desses procedimentos é condenável.

Meu pai é professor de Direito há 17 anos. 90% da minha escolha profissional foi devida à admiração por ele, de achar legal aquela profissão tão esquisita, onde você deve combater outro profissional igualzinho a você, na frente de outro que também estudou tudo aquilo que você sabe, e, dos dois combatentes, quem tem o melhor argumento ganha. No início de fevereiro, começaram as aulas na faculdade onde meu pai leciona, e ele me contou estar chateado com um fato que ocorria nos primeiros períodos: enquanto ele explicava como funcionavam determinadas leis, alguns alunos exaltados bradavam que quem é safado tem mais é que ficar preso, que é um absurdo o Rodrigo Silveirinha não estar preso ainda, o Beira-Mar ter direito a visita de advogado, não existir pena de morte no Brasil, enfim, todas essas coisas que todos nós falamos diariamente, às vezes resultado de nossa inconformação com a atual situação, às vezes de brincadeira, às vezes por realmente achar que algumas leis estão erradas. O que acontecia era que, quando meu pai explicava que não podia ser desse jeito, que tinha uma lei regulamentando isso, que essa lei tinha que ser cumprida, patati-patatá, muitos deles se levantaram e disseram: "ah, o Direito é assim, é? Quer dizer que a gente tem que ficar de braços cruzados sem fazer nada? Então não quero mais ser advogado!", e iam embora, abandonando o curso antes mesmo de ter um contato mais prolongado com a matéria.

Na minha opinião, desistir de ser advogado porque se "descobriu" que mandar o Beira-Mar para Alcatraz não é possível equivale a desistir de ser médico porque se descobriu que os hospitais públicos não possuem medicamentos.

As pessoas hoje em dia vivem na cultura do imediatismo. Todo mundo quer viver um Big Brother, ficar 79 dias na piscina e no fim ganhar 500 mil Reais. Ninguém mais tem paciência pra fazer nada, pra aprender nada, pra exercer corretamente nenhuma profissão. É como o Nachsieben disse em seu comentário ao meu post anterior, nem mesmo para salvar um casamento as pessoas têm paciência, se separam logo e vamos para outro.

É claro que ninguém é obrigado a terminar uma faculdade de 5 anos para descobrir que não gosta daquilo e ir fazer outra. É claro que ninguém tem que ficar casado com uma pessoa que não ama mais só pra manter um casamento sem prazer. O problema é que, do jeito que as coisas estão, tá esquisito, não existe outra palavra. Um aluno que abandona a faculdade após 16 dias de aula só porque não vai conseguir fazer com que as leis mudem ao seu bel-prazer, um casal que se separa após 2 meses de casado porque ele raspava a manteiga e ela cortava (sim, eu conheço esse casal) são exemplos de uma sociedade doente, que dá extrema importância ao imediato, ao prazer pessoal, ao dinheiro fácil, e não se importa com quem está à sua volta.

Aí vêm os argumentos de que, que que adianta viver infeliz se podemos um dia morrer de bala perdida, e essas coisas todas. Nenhum deles me convence de que a única saída é agir de modo impulsivo, irracional, e às vezes até mesmo egoísta.

Não existindo mais paciência, não existe mais respeito. Ninguém estará disposto a escutar o que um professor tem a dizer, os filhos não darão mais valor aos pais que trabalharam duro para que eles ficassem em situação confortável. É como o caso do garoto cujo pai só tinha estudado até a quarta série, era dono de um botequim e milionário. Ele abandonou a escola, não havia força no mundo que o fizesse voltar, e ele tinha até um bom argumento: "pra que eu vou estudar, se meu pai não estudou e é rico?"

Nenhum sucesso acontece repentinamente, como uma explosão. Todos são resultado de uma luta árdua, algumas vezes de muitos e muitos anos, várias ações interligadas que culminam em um resultado satisfatório. É como diz aquele ditado infame, "o dicionário é o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho".

Tenham paciência. Vocês têm um cérebro para pensar, analisar as situações e determinar qual curso de ação será o mais vantajoso para o seu futuro. Para que agir de impulso correndo o risco de se estrepar depois?
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