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domingo, 6 de dezembro de 2020

Escrito por em 6.12.20 com 0 comentários

Frescobol / Tamburello

Hoje, mais uma vez, vou abordar dois esportes sobre os quais quero falar faz tempo, e que talvez tenham pouco em comum, mas que me agradam mais em um mesmo post do que em dois posts curtos separados.

Assim como da última vez, vamos começar por um esporte inventado no Brasil, o frescobol. Ou quase, já que, nesse caso, há uma certa controvérsia. Eu penso em falar sobre frescobol aqui no átomo desde pelo menos 2013, e, da última vez, desisti porque, ao pesquisar sobre ele, descobri que existem dezenas de esportes parecidos, alguns até mais antigos do que ele, e eu não estava com vontade de falar sobre todos. Hoje, decidi que, se não estou com vontade, não vou falar, simples assim; vou me concentrar no frescobol.


Segundo a versão oficial, o frescobol foi inventado em 1945, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, por Lian Pontes de Carvalho, que nasceu no Pará e era dono de uma fábrica de móveis de piscina, pranchas e esquadrias de madeira. Lian costumava se encontrar com os amigos na praia para jogar tênis - o comum, não o tênis de praia - mas tinha um problema inusitado: por causa da maresia, suas raquetes se estragavam com frequência, e em pouco tempo já não serviam mais para jogar. Um dia, ele decidiu fabricar raquetes de madeira, que teriam maior durabilidade. O plano de Lian tinha uma falha que não foi prevista, porém: a bola se comportava de maneira totalmente diferente quando atingida pelas raquetes de madeira, em relação à forma como se comportava ao ser atingida pelas raquetes de tênis tradicionais. Já que não podia jogar tênis com elas, Lian e seus amigos decidiram criar um novo esporte, no qual o intuito não é colocar a bola fora do alcance do adversário, e sim passar o maior tempo possível sem deixar ela cair.

Isso mesmo, muita gente não sabe, mas o frescobol é um esporte cooperativo: os dois jogadores não são adversários, mas parceiros, tendo como objetivo passar a bola de um para o outro sem deixá-la cair no chão. De acordo com as regras oficiais, a distância entre os jogadores deve ser de 8 m, e cada dupla tem direito a 5 minutos de jogo, sendo que o cronômetro para toda vez que a bola cai no chão, sendo reiniciado quando o jogador que a recolheu bate nela com a raquete. Ao final dos 5 minutos, a dupla receberá uma pontuação de acordo com o número de sequências que realizou, sendo que, cada vez que a bola é recolhida do chão, se inicia uma nova sequência - como o objetivo é evitar que a bola caia, quanto menos sequências, mais pontos: uma dupla que encerre os 5 minutos sem deixar a bola cair nenhuma vez, ou seja, com uma única sequência, ganha 150 pontos; cada sequência a mais representa nove pontos a menos (141 pontos por duas sequências, 132 por três, e assim por diante), até 17 sequências, que valem 6 pontos, e, a partir daí, 18 sequências valem 2 pontos, 19 valem 1, e, com 20 ou mais sequências, a dupla termina com 0 pontos - embora ainda possa ganhar pontos de bônus normalmente.

Cada jogador só pode dar um toque na bola antes de passá-la para seu adversário, e a dupla ganha pontos de bônus se, ao devolver a bola, o jogador o faça com um "ataque", caracterizado pelo fato de que a bola saiu da raquete com mais velocidade do que entrou. Cada ataque vale 1 ponto de bônus, sendo que, se o ataque for feito "de mão trocada", ou seja, com a raquete na mão do jogador que não é a dominante, ele será considerado um ataque não-preferencial (também chamado de revés ou destreza revés), e valerá 3 pontos de bônus a mais (ou seja, 4 no total), e, se o ataque for feito enquanto a bola estava acima da linha dos ombros do jogador, será considerado como um ataque alto (ou destreza alta), e valerá 2 pontos a mais (3 no total); um ataque feito com a mão dominante do jogador se chama ataque preferencial, e vale apenas 1 ponto mesmo. Embora não haja um número máximo de ataques que uma dupla pode realizar, há um máximo para os pontos de bônus que ela pode ganhar: apenas os 290 primeiros ataques pontuam, sendo que apenas os 12 primeiros ataques não-preferenciais e apenas os 7 primeiros ataques altos valem pontos extras; a partir desses números-limite, eles passam a ser considerados ataques preferenciais, valendo apenas 1 ponto cada. Para que os pontos de bônus sejam computados, a bola deve tocar na raquete do parceiro após o ataque, não podendo ir direto para o chão; é permitido pelas regras que um dos jogadores "prepare" a bola para o outro, colocando-a de propósito em posição fácil de ser atacada de revés ou com um ataque alto.

Além de pontos de bônus pelos ataques, os jogadores ganham pontos de bônus por equilíbrio e intensidade. O equilíbrio avalia se ambos os jogadores atacaram e defenderam na mesma medida, e existe para evitar que apenas um dos jogadores ataque, enquanto o outro apenas prepara. Segundo as regras, a diferença entre o número de ataques dos dois jogadores deve ser igual ou maior que 30% - ou seja, se um jogador efetuou 100 ataques, o outro tem que ter efetuado 30 ou mais. Caso a diferença seja menor que 30%, a dupla ganhará apenas 1 ponto de bônus, mas, caso seja igual ou maior que 30%, ganhará uma pontuação determinada pelo número de ataques realizados pela dupla, somando os ataques de ambos os jogadores: uma dupla que realize menos de 100 ataques ganha 50 pontos de bônus, e uma que realize 145 ou mais ganha 100 pontos de bônus, com pontos proporcionais sendo conferidos às que realizaram entre 100 e 145.

A bonificação por intensidade também leva em conta o número de ataques de cada dupla, mesmo que ela não tenha cumprido a regra dos 30%: uma dupla que realize entre 220 e 225 ataques ganha 35 pontos de bônus, enquanto uma que realize entre 285 e 290 ataques ganha 100 pontos de bônus, com pontos proporcionais conferidos por realizar entre 225 e 285 ataques. A bonificação por intensidade, como o nome sugere, busca fazer com que o jogo fique mais intenso, com muitos ataques, sem que os jogadores fiquem apenas passando a bola de um para o outro. Com esses pontos de bônus todos, a pontuação máxima que uma dupla pode fazer é de 740 pontos: 150 pela sequência, 290 pelos ataques, 72 pelos ataques não-preferenciais, 28 pelos ataques altos, 100 pelo equilíbrio e 100 pela intensidade.  

As primeiras competições oficiais de frescobol só surgiriam no Brasil na década de 1980, e, mesmo assim, eram regionais e espalhadas pelo litoral, sem intercâmbio de jogadores - ou seja, cada jogador só participava dos torneios de sua própria cidade. O primeiro Campeonato Brasileiro de Frescobol, que contaria com a participação de jogadores de nove estados diferentes, seria realizado apenas em 1994; a atual competição mais importante do frescobol brasileiro é o Circuito Brasileiro de Frescobol, disputado anualmente desde 2013, que conta com várias etapas em diferentes estados do Brasil, cada uma valendo pontos para as duplas de acordo com suas classificações finais, com a dupla com o maior número de pontos após a última etapa (sempre realizada em Copacabana) sendo declarada a campeã daquele ano.

O frescobol não possui uma federação internacional; no momento, quem faz esse papel é a Confederação Brasileira de Frescobol (CBraF), fundada em 2015 e atual responsável pelo Circuito Brasileiro. A CBraF não é a única entidade a regular o frescobol no Brasil, com duas outras também organizando torneios a nível nacional, ambas chamadas Associação Brasileira de Frescobol, com a mais antiga, fundada em 2003, usando a sigla ABF, e a mais recente, fundada em 2012, usando a sigla ABRAF. A principal competição do frescobol mundial é o Campenato Mundial de Frescobol, realizado pela primeira vez em 2015, pela ABRAF, em Playa del Carmen, México, e então em 2017, pela CBraF, em Macaé, no Rio de Janeiro, ambas com a participação de duplas de 20 países, mas duplas brasileiras sendo campeãs em todas as modalidades; uma terceira edição estava prevista para 2020 na Espanha, mas foi cancelada devido à pandemia global.

O frescobol, porém, é muito mais praticado na praia como passatempo do que em torneios como esporte competitivo. Além da modalidade de duplas jogada profissionalmente (em duplas masculinas, duplas femininas ou duplas mistas), o frescobol pode ser disputado na modalidade estilo livre, na qual ganha a dupla que conseguir dar mais toques contínuos na bola antes de ela cair no chão; na modalidade contra o relógio, na qual ganha a dupla que realizar mais toques na bola durante um determinado período de tempo, sendo que o relógio não para quando a bola cai no chão; e na modalidade trincas, disputada por três jogadores que se alternam passando a bola um para o outro.

Faltou falar sobre o equipamento: a raquete originalmente era uma peça de madeira inteira e sólida, mas hoje, além de madeira, também utiliza materiais como fibra de vidro, carbono e aramida, além de uma proteção de borracha no cabo para maior firmeza na pegada. A raquete pode ser oca ou maciça, e deve ter no máximo 50 cm de comprimento por 25 cm de largura, sendo o tamanho "padrão" o de 45 cm de comprimento por 21 cm de largura; o peso fica entre 300 e 400 g. Originalmente, eram usadas bolas de tênis descascadas, mas, a partir da década de 1980, começaram a ser usadas bolas de raquetebol, que hoje podem ser encontradas no comércio vendidas como bolas de frescobol; a bola é feita de borracha, é oca e pressurizada, tendo 5,7 cm de diâmetro e pesando em torno de 40 g. Tanto as raquetes quanto a bola podem ser de qualquer cor, à escolha dos jogadores. Em torneios oficiais, o uniforme consiste de uma camiseta branca com a identificação do jogador (nome ou número), mais uma sunga para os homens e um biquíni ou maiô para as mulheres, que podem ser de qualquer cor; é obrigatório jogar descalço, e o uso de boné, viseira ou óculos escuros é opcional.

Pois bem, o motivo pelo qual há uma certa controvérsia quanto ao fato de o frescobol ter sido inventado no Brasil é o fato de que, como já foi dito, existem dezenas de esportes muito parecidos com ele - os jogadores estrangeiros que participaram do Mundial de Frescobol, aliás, eram jogadores desses outros esportes, e não de frescobol. Dois desses esportes, o italiano racchettoni e o israelense matkot, são comprovadamente mais antigos que o frescobol, com o matkot sendo o mais antigo de todos: há registros de que o matkot já era jogado no então Mandato Britânico da Palestina na década de 1920, e fotografias que mostram banhistas jogando matkot em Tel Aviv em 1932. O matkot seria levado por imigrantes para os Estados Unidos, onde se tornaria popular após a Segunda Guerra Mundial, e Europa, onde daria origem a vários outros esportes, e, hoje, é considerado o esporte nacional de Israel - país no qual se considera que o frescobol também é um derivado dele. O nome matkot vem da palavra matka, "raquete" em hebraico, e, há até bem pouco tempo, era usado em inglês para chamar também o frescobol - com o nome frescoball tendo surgido apenas recentemente. Assim como o frescobol, o matkot não possui uma federação internacional, sendo regulado internacionalmente pela Federação Israelense, e seu principal campeonato é o Campeonato Israelense, que conta com a participação de jogadores de outros países, mas é dominado pelas duplas israelenses. O matkot é jogado como o frescobol estilo livre, sendo campeã a dupla que conseguir o maior número de toques seguidos na bola; suas raquetes se parecem com raquetes de tênis de mesa gigantes, com cabos curtos e cabeças quase redondas, de 30 cm de largura, e possuem uma camada de plástico do lado que acerta a bola, que é a mesma do squash.

Vamos agora passar para o segundo e último esporte de hoje, o tamburello, que eu descobri quando escrevia o post sobre pallapugno, e, desde então, penso em falar também sobre ele. Diferentemente do pallapugno, que é um jogo de pelota, o tamburello é um parente do tênis, mas muito mais antigo: segundo algumas fontes, o tamburello já seria jogado no Império Romano, e os soldados de Júlio César, ao invadir a Gália, teriam montado quadras de tamburello para se divertir, o que acabaria ensinando o esporte também aos franceses. Lenda ou não, Itália e França são hoje as duas maiores potências do tamburello, que também é levemente popular em outros países da Europa, mas praticamente desconhecido no restante do planeta.


Tamburello, em italiano, significa "tamborim", aquele instrumento musical, e o esporte ganhou esse nome por causa do objeto que os jogadores usam para rebater a bola, que se parece com um tamborim ou pandeiro. Também chamado tamburello, originalmente ele era feito de madeira com uma superfície de couro de cavalo esticado e uma alça de tecido natural; hoje, a armação é feita de fibra de carbono ou polímeros sintéticos, a superfície é feita de borracha ou lona, e a alça é feita de tecidos sintéticos que não machuquem a pele dos jogadores. Ao contrário do que se imagina, os jogadores não seguram o tamburello pela alça, ela serve para passar pelo punho e impedir que ele caia ou voe longe durante o jogo; os jogadores devem segurar no próprio tamburelo, sendo a pegada tradicional obtida com o polegar na parte de cima, sobre a lona, e os outros quatro dedos por baixo, segurando a armação. Um tamburello profissional possui entre 26 e 28 cm de diâmetro, e faz um barulho bastante característico quando acerta a bola.

Não há registros de que materiais eram usados para fazer a bola na época do Império Romano, mas, no século XVI, quando uma verdadeira febre do tamburello tomou conta do noroeste da Itália, principalmente da cidade de Turim - que ganhou um bairro chamado Balon, em homenagem ao jogo - as bolas eram feitas de couro, recheadas, acreditem ou não, com cabelos de mulher, que, segundo os jogadores, era o material que fazia com que elas quicassem melhor. Hoje, a bola é feita de borracha, sendo oca e inflada; a bola usada no profissional tem 6 cm de diâmetro, enquanto a usada no amador tem 8 cm de diâmetro, mas ambas pesam 88 g, o que significa que a bola do amador possui menos borracha e pressão menor, sendo mais lenta e mais fácil de controlar. Um detalhe interessante é que os jogadores podem acertar a bola não somente com a superfície do tamburello, mas também com o antebraço, até a dobra do cotovelo; acertá-la com qualquer outra parte do corpo resulta em ponto para o adversário.

O tamburello é jogado em uma área própria, conhecida em italiano como sferisterio. Se alguém reconheceu o nome, é porque esse é o mesmo campo usado para o pallapugno e para o pallone col bracciale, esporte antigo que, segundo alguns, deu origem tanto ao pallapugno quanto ao tamburello, e sobre o qual eu falei no post sobre pallapugno. O sferisterio tem superfície de terra batida, sendo que, no profissional, é usado saibro, mesmo material das quadras de tênis. Para o tamburello tradicional, o sferisterio deve ter 80 m de comprimento por 20 m de largura, sendo dividido no meio por uma linha chamada corda, embora não haja nenhuma corda ou rede, apenas a linha. A 3 m da corda, em cada uma das metades, há uma linha de falta; nenhum jogador pode acertar a bola "direto", sem deixar ela quicar no chão antes, quando estiver no espaço entre as duas linhas de falta, ou será ponto para o adversário. Finalmente, a 5 m de cada linha de fundo há a linha de saque, com o jogador devendo se posicionar entre a linha de fundo e a linha de saque para sacar. Como não há rede dividindo a quadra, os jogadores precisam tomar muito cuidado para não se empolgarem e invadirem o lado oponente; passar para o lado adversário da quadra, mesmo que pelo lado de fora, resulta em interrupção da jogada e ponto para o oponente, não importando onde estava a bola.

A pontuação no tamburello é contada de forma semelhante a no tênis, com as equipes fazendo 15, 30, 40 e então gioco, mas sem deuce, ou seja, se estiver 40 a 40, a próxima a pontuar leva o gioco. Originalmente, o jogo era disputado até que uma das equipes marcasse 13 giochi (mesmo que estivesse 12 a 12), mas, desde 2000, um novo sistema de disputa se tornou mais popular, e quase todos os torneios o tem utilizado: são disputados dois sets, sendo que ganha o set a equipe que primeiro marcar 6 giochi (mesmo que esteja 5 a 5); se uma mesma equipe ganhar ambos os sets, vence o jogo, mas, se cada uma ganhar um, é disputado um tie break, no qual a pontuação, ao invés de 15, 30, 40, é contada 1, 2, 3, sendo vencedor quem primeiro alcançar 8 pontos, com dois pontos de vantagem sobre o oponente (ou seja, se estiver 7 a 7, quem primeiro fizer 9, e assim por diante). Esse novo sistema de disputa se tornou mais popular porque, além de permitir aos jogadores um descanso entre os sets, ainda torna o jogo mais rápido do que o sistema tradicional de 13 giochi, com o qual uma partida levava em média sete horas para terminar - atualmente, leva entre 3 e 4 horas.

Eu usei "equipes" no parágrafo anterior porque o tamburello não é um esporte individual, sendo disputado por equipes de cinco jogadores cada, mais quatro reservas, sendo que as substituições podem ser feitas entre um gioco e outro. Os jogadores não ficam correndo pra lá e pra cá na quadra, se posicionando de forma que cada um fique responsável por um setor; não é permitido aos jogadores trocar bolas como no vôlei, devendo cada jogador, ao bater na bola, devolvê-la para a quadra adversária. Também diferentemente do que ocorre no vôlei, no tamburello os jogadores não "rodam", ocupando sempre as mesmas posições na quadra do início ao fim do jogo, embora se alternem no saque seguindo uma ordem pré-determinada. Torneios profissionais podem contar com um jogador chamado battuta, que conta para o limite de nove do time mas nunca joga propriamente, só entrando em quadra para sacar e então retornando ao banco antes que a bola seja devolvida pelo adversário; o battuta usa um tamburello especial, que tem um cabo bem comprido e se parece com um banjo, que permite que a bola viaje mais longe.

Também é importante registrar que, no sistema tradicional de 13 giochi, as equipes mudam de lado na quadra a cada três giochi, e, no sistema de dois sets, a cada dois giochi; assim como no vôlei, começa sacando no gioco seguinte a equipe que pontuou no gioco atual. Para uma partida de tamburello só é obrigatório um arbitro, que pode se sentar em uma cadeira alta como no tênis ou caminhar ao lado da linha lateral da quadra; torneios profissionais usam um árbitro sentado e um segundo árbitro em pé, em lados opostos, além de vários auxiliares para ver se a bola quicou dentro ou fora da quadra ou se os jogadores cometeram faltas. Finalmente, vale citar como curiosidade que, além de os árbitros terem cartões amarelos e vermelhos para mostrar aos jogadores quando estes têm conduta antidesportiva - um cartão amarelo resulta em um ponto para o adversário, um cartão vermelho significa que o jogador deve ser substituído e não pode mais jogar naquela partida, sendo que o segundo amarelo para um mesmo jogador vem sempre acompanhado de um vermelho - os técnicos de cada time também possuem cartões que podem mostrar ao árbitro, nas cores verde e azul: o cartão azul é usado para indicar que o time quer fazer uma substituição ao final daquele gioco, enquanto o verde é um pedido de tempo. A duração de cada pedido de tempo fica a cargo de cada técnico, mas cada time tem apenas 3 minutos de tempo técnico por jogo - ou seja, pode pedir 3 tempos de 1 minuto cada, 6 tempos de 30 segundos cada, ou qualquer outra combinação que não ultrapasse 3 minutos.

Além de ser um esporte muito antigo, o tamburello também foi regulado muito cedo: o primeiro campeonato italiano de tamburello foi disputado no mesmo ano em que a primeira Olimpíada, 1896; em 1920 seria fundada a Federazione Italiana Palla Tamburello; e, em 1930, seria realizado o primeiro campeonato profissional. Internacionalmente, ele é regulado pela Federação Internacional de Tamburello, fundada em 1987 pela união das federações italiana e francesa, e que hoje conta com 20 membros, sendo 17 europeus e mais Cuba, Japão e o Brasil, representado pela Federação Paulista de Tamburéu. Curiosamente, a Federação Internacional de Tamburello é conhecida internacionalmente pela sigla de seu nome em francês, FIBT, e não pela do italiano (FIPT). O principal campeonato da FIBT não é de seleções, mas de clubes, a Coppa Europa, disputada anualmente desde 1996 no masculino e 2001 no feminino; dentre as seleções, o torneio mais importante é o Campeonato Mundial de Tamburello, disputado a cada quatro anos, no masculino e no feminino, desde 2012 - o Brasil foi medalha de bronze no masculino na primeira edição.

Além do tamburello tradicional, com cinco de cada lado, a FIBT também regula outras cinco variedades do tamburello. Atualmente, a mais popular de todas, com mais praticantes até do que o tradicional, se chama tamburello a tre, pelo fato de que há apenas três jogadores de cada lado. O tamburello a 3 não é disputado no sferisterio, e sim em uma quadra coberta, e, por isso, também é conhecido internacionalmente como tamburello indoor; foi inventado em 1934 por jogadores de tamburello que queriam continuar jogando durante o inverno, e teve seu primeiro campeonato profissional disputado em 1987 - hoje, o campeonato italiano de tamburello a 3 possui média de público e audiência maior que o do tradicional, e muitas escolas já contam com o tamburello a 3 em suas aulas de educação física. No âmbito da FIBT, o principal campeonato também é a Coppa Europa de clubes, disputada no masculino e no feminino desde 1993, ou seja, desde antes da Coppa do tamburello tradicional; para as seleções, o principal é o Campeonato Mundial de Tamburello a 3, disputado no masculino e no feminino a cada três anos desde 2013 - o Brasil também foi medalha de bronze no masculino na primeira edição.

O tamburello a 3 é disputado em uma quadra coberta de 34 m de comprimento por 16 m de largura; para dividi-la ao meio, há uma peça de madeira de 5 cm de altura, que se prolonga 5 cm de cada lado para fora da quadra, que serve para facilitar a vida do árbitro quanto a se invasões ocorreram ou não, já que, com a quadra menor, o jogo é muito mais veloz - caso a bola bata na madeira, é ponto para o adversário. As linhas de falta e de saque são nas mesmas posições, a 3 m da madeira e a 5 m da linha de fundo, respectivamente. Cada time é composto por 8 jogadores, sendo três em quadra e cinco reservas, não sendo permitido battuta. A bola do tamburello tradicional seria muito veloz e perigosa, então, em jogos profissionais, são usadas bolas de borracha sólida, com 6,7 cm de diâmetro e que pesam 40 g; em jogos amadores e nas escolas, são usadas bolas de tênis. As demais regras são idênticas às do tamburello tradicional, com a diferença de que o tamburello e 3 é sempre jogado no sistema de que ganha quem fizer 13 giochi primeiro, com a curiosidade de que, se o jogo estiver 12 a 12, termina empatado - exceto se for um jogo eliminatório, quando é necessário abrir uma vantagem de dois giochi para vencer o jogo.

Até a década de 1980, o tamburello tradicional era o mais popular, e o segundo mais popular era o tamburello a muro, que, segundo as histórias, surgiu na Idade Média, quando os jogadores do Vale d'Aosta, da Lombardia e do Vêneto jogavam tamburello ao lado dos inúmeros castelos que existiam no local, usando o muro do castelo como parte da área de jogo. Também conhecido como tambass, nome pelo qual é chamado na região do Piemonte, o tamburello a muro era bastante popular em cidades do interior, até que, em 1976, um grupo de jogadores da cidade de Monferratto decidiu regulá-lo, e os primeiros campeonatos profissionais, contando com a presença de jogadores de tamburello tradicional, começaram a surgir. O campeonato italiano é disputado desde 2002; a FIBT ainda não organiza competições internacionais. As regras do tamburello a muro são as mesmas do tamburello tradicional, exceto pela presença do muro, que ocupa somente um lado do sferisterio, e tem no mínimo 5 m de altura. Cada equipe saca sempre com o muro à sua direita, e, por isso, cada equipe saca em três giochi seguidos antes de mudar de lado, independentemente de quem pontuou nesses três giochi. Exceto após um saque, é permitido que a bola quique uma vez no muro antes de quicar na quadra adversária, o que adiciona imprevisibilidade ao jogo. Uma partida de tamburello a muro dura até que uma das equipes marque 19 giochi, terminando empatada caso esteja 18 a 18 - e com cada torneio tendo regras próprias para definir o desempate caso seja um jogo eliminatório.

A modalidade do tamburello que mais cresce no mundo hoje é o tambeach, o "tamburello de praia". Criado por jogadores de tamburello da cidade de Cava d'Aliga em 1975, ele rapidamente se popularizou como um passatempo, e não demorou para surgirem os jogadores profissionais; o campeonato italiano de tambeach é disputado desde 1996. O tambeach pode ser disputado em simples ou duplas, sendo que a área de jogo tem sempre 24 m de comprimento, mas larguras diferentes dependendo do evento: 8 m para as simples masculinas, 7 m para as simples femininas, e 12 m para as duplas. A quadra é dividida por uma rede, semelhante à do vôlei de praia, com entre 2,05 e 2,15 m de altura, presa a postes que devem ficar a no mínimo 50 cm das linhas laterais. Não há linhas de falta ou de saque, e as linhas que delimitam a quadra devem ser claramente visíveis e ter entre 5 e 8 cm de largura. O tambeach é disputado em melhor de três ou de cinco sets, sendo que um jogador ou dupla ganha um set quando faz 12 giochi, sempre com dois giochi de vantagem (ou seja, se estiver 11 a 11, ganha quem fizer 13). São usadas bolas de tênis, que devem sempre ser rebatidas "direto"; caso a bola toque o chão, é ponto para o oponente. Assim como no tamburello tradicional, saca quem pontuou, e a cada três giochi os jogadores mudam de lado; no jogo de duplas mistas, o jogador homem deve sempre sacar na direção do adversário homem, e a mulher sempre na direção da mulher, ou será falta. O principal torneio da FIBT é a Copa Intercontinental, disputada anualmente desde 2010.

A modalidade mais recente do tamburello é o tambutennis, que surgiu no início dos anos 2000. Assim como o tambeach, ele é disputado em simples ou duplas, mas em uma quadra de 20 m de comprimento por 10 m de largura, com uma rede semelhante à do tênis, de 60 cm de altura, no meio, sem linhas de falta ou de saque. O tambutennis usa bolas de tênis, e é disputado em melhor de três ou cinco sets, sendo que ganha um set quem fizer 10 giochi, com vantagem de dois sobre o oponente. A FIBT ainda não organiza campeonatos internacionais de tambutennis.

Finalmente, temos o tambumuro, a "versão squash" do tamburello, jogado somente em simples, em uma quadra que tem 10,6 m de comprimento por 6,1 m de largura e um muro de 4,9 m de altura em uma das extremidades. Ambos os jogadores ficam de frente com o muro e se alternam na hora de rebater a bola, que pode quicar uma vez no chão antes de ser rebatida; cada jogador saca três vezes seguidas, então passa o saque para o adversário. Os pontos não são contados 15, 30, 40, mas direto, 1, 2, 3; o jogo é disputado em dois sets, ganhando cada set quem primeiro fizer 11 pontos (mesmo que esteja 10 a 10). Se cada um dos jogadores ganhar um set, são somados os pontos de ambos os sets, e quem fez mais vence; se essa soma der empate, é disputado um terceiro set, cujo vencedor será aquele que fizer 5 pontos primeiro, com 2 de vantagem sobre o oponente. Originalmente, a bola usada era a mesma do tamburello tradicional, mas, desde 1991, é usada a mesma bola do tamburello a 3. Segundo registros, o tambumuro é disputado desde o século XIX, e começou como uma série de desafios entre jogadores de tamburello; o campeonato profissional italiano é disputado desde 1991, e o principal torneio da FIBT é a Liga Tambumuro.

Para terminar, vale citar que ainda existem, na Itália, duas outras variações do tamburello que não são reconhecidas pela FIBT nem disputadas no âmbito profissional. A primeira é a palloncina, disputada em um sferisterio de 60 m de comprimento por 14,5 m de largura com uma rede de 50 cm de altura no meio e um muro de 4 m de altura do lado direito, por times de cinco jogadores cada usando uma bola de borracha inflada com 6,6 cm de diâmetro e 60 g de peso. Bizarramente, a palloncina é disputada em dois sets, sendo que o primeiro usa as regras do tamburello tradicional, e o segundo usa as regras do tamburello a muro. Se cada equipe ganhar um set, termina empatado.

A segunda é a pelota italiana, que ganhou esse nome por ser parecida com a pelota valenciana - com a óbvia diferença de que os jogadores batem na bola com o tamburello, e não com a mão. A pelota italiana é disputada em duplas, em um sferisterio de 54 m de comprimento por 10 m de largura, com um muro de no mínimo 5 m de altura do lado direito; ao sacar, a bola, que é feita de borracha inflada, com 6,6 cm de diâmetro e entre 70 e 77 g de peso, deve obrigatoriamente bater no muro e depois em uma área própria demarcada na quadra por um quadrado de 50 cm de lado. A pontuação é contada direto, 1, 2, 3, e ganha a dupla que fizer 41 pontos primeiro, mesmo que esteja 40 a 40; cada dupla faz três saques antes de trocar de lado. Recentemente, surgiu uma versão chamada minipelota, jogada com as mesmas regras, mas usando uma bola de tênis, tendo uma rede de 1,2 m de altura dividindo a quadra, e sendo vencedora a dupla que primeiro fizer 21 pontos. A pelota italiana vem ganhando muita popularidade no sul da Itália, especialmente na Calábria, e já há uma campanha para que ela entre para o rol dos esportes regulados pela FIBT.
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domingo, 5 de janeiro de 2020

Escrito por em 5.1.20 com 0 comentários

Pádel

Já faz um bom tempo que eu penso em fazer um post sobre um esporte chamado pádel, que é bem parecido com o tênis, e foi um dos que eu selecionei para um post no qual eu falaria de um monte de esportes parecidos com o tênis mas depois acabei descartando e fazendo um pra cada um. Sempre que eu decidia escrever esse post, entretanto, alguma coisa acontecia e eu acabava desistindo. Essa semana, porém, eu achei, sem querer, um jogo de pádel sendo transmitido na TV - algo que eu nunca tinha visto - e decidi que de hoje não passaria. Assim sendo, hoje é dia de pádel no átomo!

O pádel deriva não diretamente do tênis, mas de uma outra variação, pouco popular, conhecida como tênis de plataforma. No ano de 1969, na cidade de Acapulco, no México, um jogador amador de squash chamado Enrique Corcuera decidiu adaptar uma quadra de squash que tinha em casa para poder jogar nela tênis de plataforma, esporte pelo qual estava começando a se interessar. Corcuera não conseguiu criar uma quadra de tênis de plataforma de acordo com as especificações originais, então decidiu adaptar também as regras, criando um esporte que chamou de Paddle Corcuera - sendo paddle o nome pelo qual as raquetes do tipo usado no tênis de plataforma são conhecidas em inglês, e Corcuera, evidentemente, seu próprio sobrenome. Outros jogadores de Acapulco logo gostaram da novidade, e começaram não só a jogar, mas a construir novas quadras. Enquanto se espalhava pelo México, o esporte mudaria de nome para pádel, que é a forma como os mexicanos costumam pronunciar paddle.

Em 1974, um amigo de Corcuera, o espanhol Alfonso de Hohenlohe-Langenburg, o visitou no México, jogou o novo esporte e se apaixonou, convencendo seu clube de tênis em Marbella, Espanha, a construir duas quadras de pádel lá. No ano seguinte, o argentino Julio Menditeguy, sócio do clube de tênis de Marbella, também se apaixonaria, e decidiria construir uma quadra em Buenos Aires para introduzir o esporte na Argentina. Logo o esporte criado por Corcuera se espalharia por toda a Europa e América Latina, com novas quadras e clubes de pádel sendo inaugurados a cada ano, e muitos hotéis da Espanha até oferecendo quadras de pádel como opção de lazer a seus hóspedes. Conforme chegava a países onde o idioma não era o espanhol, o pádel ficaria conhecido como padel-tennis, mas isso geraria uma certa confusão, já que, nos Estados Unidos e Canadá - onde ficou conhecido por seu nome com sua grafia original, paddle - existe um outro esporte, mais antigo e bem diferente, chamado paddle tennis.

Mas isso não vem ao caso agora; o que importa é que, na década de 1980, começariam a surgir os primeiros campeonatos, e, com eles, as primeiras federações nacionais. Em 1991, em Madrid, as federações nacionais de Espanha, Argentina e Uruguai se uniriam para fundar a Federação Internacional de Pádel (IPF), que hoje conta com 40 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil. Por alguma razão, porém, mesmo sendo famoso entre nossos vizinhos, o pádel nunca conseguiu se tornar popular por aqui.

Assim como o squash, o pádel é jogado em uma quadra totalmente fechada. Os muros das linhas de fundo têm 3 m de altura e são feitos de acrílico transparente; acima deles, há mais 1 m de altura de telas metálicas. Nas laterais, a partir de cada linha de fundo, há um muro de acrílico transparente de de 4 m de comprimento, sendo que os primeiros 2 m têm 3 m de altura e os outros 2 m têm 2 m de altura; todo o restante da quadra, incluindo o espaço para completar os 4 m de altura dos muros da linha de fundo, é cercado por telas metálicas, com uma porta na lateral direita, próxima à rede, para entrada e saída dos jogadores. Se a quadra for interna, a altura mínima do teto em relação à quadra é de 6 m - ou seja, deve haver um espaço mínimo de 2 m entre o final dos muros e o teto. Não há problema nenhum em se jogar sem teto, ou seja, ao ar livre, em uma quadra externa.

A rede fica bem no meio da quadra, e tem 88 cm de altura no centro e 92 cm nas pontas, com 0,5 cm para mais ou para menos de tolerância. As únicas marcações na quadra são as linhas de saque, que ficam a 3 m de cada linha de fundo, e uma linha que divide a quadra no meio no sentido do comprimento; as linhas de fundo, das laterais e a linha do meio são imaginárias, demarcadas pelos muros e pela rede. Cada linha deve ter 5 cm de largura e ser facilmente visível pelos espectadores. Uma quadra de pádel tem 10 m de largura por 20 m de comprimento; diferentemente do que ocorre no tênis, não há marcações na quadra para o jogo de simples, que usa uma quadra própria, de apenas 6 m de largura - quase todos os jogos de pádel são em duplas, porém, sendo quadras de simples muito raras.

A raquete do pádel é sólida, feita de fibra de vidro ou fibra de carbono - as primeiras eram feitas de madeira, mas hoje essas raramente são usadas. Uma raquete de pádel tem por volta de 45,5 cm de comprimento, por volta de 26,5 cm de largura na parte mais larga, entre 30 e 38 mm de espessura, e pesa entre 320 e 400 g. A cabeça pode ser perfurada, com até 87 furos de no máximo 9,5 mm de diâmetro cada, para diminuir a resistência do ar e facilitar seu manuseio. As bolas usadas são as mesmas do tênis; em campeonatos profissionais são usadas bolas próprias com um pouquinho menos de pressão, que hoje também já podem ser compradas por jogadores amadores em lojas selecionadas.

Ao sacar, um jogador deve se posicionar atrás da linha de saque, e acertar a bola obrigatoriamente por baixo - nunca por cima, como no tênis. No jogo de duplas, os saques são feitos dois a dois - dois pelo jogador A, então dois pelo jogador B, então dois pelo A, e assim por diante. Assim como no tênis, cada jogador ou dupla saca durante um game inteiro, passando o saque ao outro jogador ou dupla no game seguinte; a cada dois games, troca-se de lado. A pontuação é contada da mesma forma que no tênis: 15, 30, 40 e então game, com um jogador ou dupla precisando da vantagem caso esteja empatado em 40 a 40. Ganha o set o jogador ou dupla que ganhar 6 games primeiro, com dois games de diferença; em torneios profissionais, se um set empatar 6 a 6, é disputado um tie break com a mesma regra do tênis. Ganha o jogo o jogador ou dupla que ganhar 2 sets primeiro.

A maior diferença do pádel em relação ao tênis - além da raquete - é que a bola pode bater nos muros sem problema nenhum. Assim como no tênis, a bola só pode quicar no chão uma única vez antes que seja marcado ponto para o adversário, mas ela pode bater em quantos muros quiser - desde que apenas uma vez em cada um - antes ou depois de quicar no chão - ou seja, uma bola que quique no chão e então bata em um muro não é ponto, já que um jogador ainda pode rebatê-la. Isso, aliado ao fato de que a quadra é menor que a do tênis, faz do pádel um esporte muito veloz e dinâmico.

O principal torneio profissional do pádel é a World Padel Tour, disputada anualmente desde 2013. A cada ano, são disputadas diversas etapas, classificadas como Open (abertas a todos os jogadores), Challenger (apenas para os jogadores de menor ranqueamento), Master (apenas para os de maior ranqueamento) e Exhibition (normalmente realizadas em países onde o pádel não é muito popular, sem valer pontuação para o ranking). Desde 2019, o Brasil sedia uma etapa, o São Paulo Open. Cada etapa confere, além de prêmios em dinheiro, pontos para o ranking, que não elege um campeão, valendo mais como prestígio, como no tênis. Em todas as etapas do World Padel Tour são disputados apenas jogos de duplas; algumas etapas contam apenas com um torneio masculino, algumas apenas com um torneio feminino, algumas contam com ambos, e, muito raramente, uma etapa conta com um torneio de duplas mistas.

Além da World Padel Tour, desde 1992 é disputado, a cada três anos, o Campeonato Mundial de Pádel. No início eram disputados somente os torneios de equipes masculinas, equipes femininas e duplas masculinas, com o torneio de duplas femininas estreando apenas em 2012. No torneio de equipes, são disputados três jogos, com a primeira equipe que ganhar dois sendo vencedora daquele embate; todos os membros da equipe devem ser da mesma nacionalidade, o que não é obrigatório no torneio de duplas (onde cada membro de uma dupla pode ser de uma nacionalidade diferente). Além disso, o torneio de duplas é eliminatório (mata-mata) desde o primeiro jogo, enquanto o de equipes possui uma primeira fase de grupos seguida por um torneio eliminatório. O Brasil nunca sediou o Mundial, mas já conseguiu uma prata (em 2006) e 7 bronzes nas equipes masculinas, uma prata (em 2012) e 5 bronzes nas equipes femininas, duas pratas e dois bronzes nas duplas masculinas e um bronze nas duplas femininas.

Pois bem, eu falei aqui que o pádel nasceu quando Corcuera tentou transformar uma quadra de squash em uma quadra de tênis de plataforma. O tênis de plataforma foi criado nos Estados Unidos em 1928, mais precisamente na cidade de Scarsdale, Nova Iorque, pelos jogadores de vôlei James Cogswell e Fessenden Blanchard. Os dois não estavam tentando inventar uma variação do tênis, e sim criar uma plataforma aquecida sobre a qual o vôlei pudesse ser jogado no inverno; seu primeiro protótipo seria construído na propriedade de Cogswell, mas, por causa do terreno acidentado e de uma pedra enorme, os amigos só poderiam fazer uma plataforma de 15 m de comprimento por 6,1 m de largura, muito menor do que uma quadra de vôlei. Para não perder o que já tinham feito, eles pensaram em transformar a plataforma em uma quadra de badminton, mas, como havia muitas árvores em volta, acharam que seria melhor transformá-la em uma quadra de tênis. Cogswell tentou comprar equipamento de tênis em uma loja próxima, mas eles só tinham de paddle tennis, e ele acabou comprando assim mesmo. Nos dias que se seguiram, os amigos jogaram várias partidas, e, ao perceber que a bola frequentemente sumia no meio do mato, decidiram cercar sua plataforma com uma tela. Vendo que aquilo tudo já estava muito diferente do tênis, eles decidiram que inventariam um novo esporte, e, após estabelecer as regras, levaram a ideia ao Fox Meadows Tennis Club, que a adorou, construindo duas plataformas para que seus sócios pudessem jogar. As regras sofreriam uma reformulação em 1932, com a ajuda dos jogadores do Fox Meadows, e o primeiro campeonato do novo esporte, já conhecido pelo nome de tênis de plataforma, seria disputado em 1935.

Atualmente, a quadra do tênis de plataforma é do mesmo tamanho de uma quadra de badminton, 13,4 m de comprimento por 6,1 m de largura. Toda a área de jogo fica sobre uma plataforma de 18 m de comprimento por 9,1 m de largura, com altura mínima de 1 m; sob essa plataforma é instalado um equipamento de aquecimento, que evita que a neve se acumule sobre a plataforma e permite que o esporte seja disputado ao ar livre mesmo no inverno. A plataforma e, portanto, a quadra, são feitas de madeira, usando tábuas corridas como uma quadra de basquete. Ao redor da plataforma, existe uma tela de 3,7 m de altura, que lembra a de um galinheiro. A rede que divide a quadra tem 86 cm de altura no centro e 94 cm nas pontas. As raquetes são as mesmas do pádel, mas a bola é feita de borracha sólida com uma cobertura de esponja, e tem 64 mm de diâmetro. As regras são a mesma do tênis, podendo ser usado, inclusive, saque por cima, com as únicas diferenças sendo que a bola pode quicar em uma das telas que circundam a quadra após quicar no chão, e que não é permitido devolver a bola direto, sem ela ter quicado no chão primeiro. O tênis de plataforma pode ser disputado em simples ou em duplas, mas, assim como o pádel, o jogo de simples é bem raro; a quadra de simples tem apenas 4,87 m de largura.

O tênis de plataforma jamais se popularizou fora dos Estados Unidos, e, por isso, jamais ganhou uma federação internacional. Hoje, seu órgão mais importante é a Associação Americana de Tênis de Plataforma (APTA), que regula o esporte nos Estados Unidos e Canadá. O tênis de plataforma é um esporte totalmente amador, que não conta com torneios profissionais.

Pois bem de novo, eu falei que o pádel ser conhecido como padel-tennis o confunde com o paddle tennis, e que Cogswell comprou equipamento de paddle tennis quando tentava comprar de tênis, então acho que vale a pena explicar o que é esse tal de paddle tennis. O paddle tennis foi inventado em 1915 pelo Reverendo Frank Peer Beal, em Nova Iorque, que queria criar novas opções de lazer para as crianças pobres, e obteve autorização da prefeitura para usar uma área do Washington Square Park para construir quadras de tênis. Visando aproveitar melhor o espaço, Beal faria quadras menores, de 10 m de comprimento por 4 m de largura, reaproveitaria bolas de tênis já usadas, que têm menos pressão, e, para não precisar comprar raquetes, faria as suas próprias, de madeira. Na década de 1950, o ex-jogador Murray Geller, eleito presidente da Associação de Paddle Tennis dos Estados Unidos (USPTA), quis tornar o paddle tennis mais atraente para jogadores adultos, e decidiu publicar suas regras oficiais, que contaram com várias alterações em relação às de Beal, especialmente uma quadra maior.

Hoje, o paddle tennis é jogado em uma quadra de 15,24 m de comprimento por 6 m de largura, cuja superfície pode ser de concreto, gramada ou de areia de praia, com uma rede de 78 cm de altura no meio. As raquetes e as bolas são as mesmas do pádel, mas s regras são as mesmas do tênis, embora o saque obrigatoriamente seja feito por baixo, e, no evento de um segundo saque, a bola não pode ser devolvida antes de quicar no chão. Todas as partidas, inclusive no feminino, são disputadas em melhor de cinco sets, ou seja, vence quem primeiro ganhar três. O paddle tennis pode ser disputado em simples ou em duplas, usando a mesma quadra, mas o jogo de duplas é muito mais comum. Diferentemente do que ocorre com o pádel e o tênis de plataforma, se houver muros ou telas em volta da quadra, eles não podem ser usados, ou seja, se a bola bater em um deles, a disputa do ponto termina. Uma curiosidade é que existem dois tipos de quadra, a do Estilo Leste, originais, e as do Estilo Oeste, criadas na Califórnia na década de 1940, quando o paddle tennis começou a se popularizar por lá; ambos os estilos possuem uma linha de saque traçada a 91 cm da linha de fundo, atrás da qual o jogador que está sacando deve se posicionar, mas as quadras do Estilo Oeste também possuem uma linha traçada a 3,65 m da rede, atrás da qual os jogadores adversários devem se posicionar durante o saque até que a raquete do sacador toque a bola.

Durante muito tempo, assim como o tênis de plataforma, o paddle tennis foi um esporte amador restrito aos Estados Unidos; ainda hoje, ele não tem uma federação internacional ou torneios profissionais, sendo regulado nos Estados Unidos e Canadá pela USPTA. A partir do ano 2000, entretanto, a versão disputada na areia do paddle tennis começou a se popularizar em Dubai e no Egito, e, hoje, já conta com ligas profissionais nesses dois países.

Antes de terminar por hoje, eu gostaria de falar sobre mais dois esportes que não têm muito a ver com o pádel, mas têm a ver com o tênis, e acho que seria melhor aproveitar esse espaço do que fazer um post só pra eles. O primeiro é o pickleball, inventado em 1965, na cidade de Bainbridge Island, Washington, Estados Unidos, por Joel Pritchard, Bill Bell e Barney McCallum. Num sábado pela manhã, eles foram para a casa de Pritchard após um jogo de golfe, e viram que seus filhos estavam entediados, sem nada pra fazer. Pritchard, então, teve a ideia de construir raquetes de madeira improvisadas, pegar algumas bolas de plástico que as crianças usavam para jogar beisebol, estender uma rede de badminton ao nível do chão, e os três inventaram as regras de um novo esporte. O nome foi dado pela esposa de Pritchard, que se inspirou na expressão pickle boat, que significa algo como "mulher do padre" em português, um demérito para quem fica por último; curiosamente, a versão que entraria para a história seria a de que o esporte seria batizado em homenagem ao cachorro da família, chamado Pickles, mas esse cachorro só seria adotado pelos Pritchard em 1967. Seja como for, as crianças envolvidas no jogo o ensinariam a seus colegas, que o espalhariam, e, na década de 1970, vários adultos já estavam jogando pickleball.

Apesar disso, o pickleball demorou para se tornar um esporte competitivo, com seu primeiro campeonato, aberto a amadores e profissionais, sendo disputado em 2009. Antes disso, em 2005, seria fundada a Associação Americana de Pickleball Amador (USAPA), que lutaria para unificar as regras e promover o esporte em todo o planeta. Sob a liderança da USAPA, em 2010 seria fundada a Federação internacional de Pickleball (IFP), que hoje conta com 19 membros da América do Norte, Europa, Ásia e Oceania. O principal torneio da IFP é a Bainbridge Cup, disputada anualmente desde 2017, e que é uma competição por equipes, com um jogo de simples masculina, um de simples feminina, um de duplas masculinas, um de duplas femininas e um de duplas mistas sendo disputado a cada embate, e o vencedor do embate sendo a equipe que vencer três desses jogos. A Bainbridge Cup é a única competição de nível mundial do pickleball, sendo todas as outras continentais, nacionais ou regionais.

A quadra do pickleball tem 13,4 m de comprimento por 6 m de largura; a rede a divide ao meio, e tem 86 cm de altura no meio e 92 cm nas pontas. A 2,13 m da rede, de cada lado da quadra, é traçada uma linha chamada linha de voleio; entre a linha de voleio e a linha de fundo, a quadra é dividida por uma linha no sentido do comprimento. O espaço entre a linha de voleio e a rede é chamado "zona sem voleio", e é proibido para os jogadores devolver a bola sem ela quicar no chão antes se eles estiverem pisando nessa zona; para facilitar a aplicação dessa regra, a zona sem voleio costuma ser de cor diferente do restante da quadra. É usada a mesma quadra para simples e duplas, sem qualquer alteração no tamanho. Todos os saques no pickleball são feitos de baixo para cima, sendo que a raquete tem de acertar a bola abaixo da linha do umbigo do jogador que está sacando. Uma partida de pickleball não é disputada em sets, e sim até uma pontuação fixa, normalmente 11 pontos - na Bainbridge Cup, até 21 pontos - sendo que o vencedor deve ter dois pontos de vantagem sobre o adversário - se o jogo empatar 10 a 10, o vencedor deve fazer 12, por exemplo. Cada jogador ou dupla saca duas vezes seguidas antes de passar o saque para o adversário, e a mudança de lado ocorre quando um dos jogadores ou duplas ultrapassar mais da metade dos pontos necessários para a vitória - normalmente 6 pontos, na Bainbridge Cup, 11 pontos. Todas as demais regras são idênticas às do tênis.

A raquete do pickleball se chama paddle (então aparentemente tem algo a ver com o pádel sim), é feita de madeira, fibra de carbono ou fibra de vidro, deve ter no máximo 43,18 cm de comprimento, e área total, incluindo o cabo, de no máximo 60,96 cm2. Curiosamente, as regras da IFP não fazem restrição quanto à largura, espessura ou peso da raquete. A superfície da raquete que entra em contato com a bola pode ser pintada, mas não pode ser reflexiva, anti-derrapante, conter traços de areia ou borracha, nem ser revestida com borracha, plástico ou papel; a raquete deve ser feita de uma única peça, sem partes móveis, destacáveis ou removíveis - exceto no caso de proteção para a palma das mãos no cabo. A bola se chama pickle ball, é feita de plástico duro, é oca, tem entre 7,3 e 7,55 cm de diâmetro, pesa entre 22,1 e 26,5 g, e deve quicar entre 76,2 e 86,4 cm quando derrubada de uma altura de 2 m; sua principal característica, porém, é que ela possui entre 26 e 40 "buracos" em sua superfície, com o diâmetro e o espaçamento desses buracos sendo livre - bolas usadas em partidas em ambientes fechados costumam ter menos buracos de diâmetro maior, enquanto as de partidas disputadas ao ar livre têm mais buracos de diâmetro maior.

Desde 2016, a IFP regula também o pickleball em cadeira de rodas. As regras são as mesmas, com as seguintes diferenças: qualquer parte da cadeira é considerada como parte do corpo do jogador; o jogador deve permanecer parado durante o saque, mas tem direito a um impulso para a frente imediatamente antes de a raquete acertar a bola; as rodas da cadeira não podem estar tocando nenhuma das linhas da quadra quando a raquete de um jogador faz contato com a bola; e os jogadores podem deixar a bola quicar duas vezes no chão ao invés de apenas uma antes de devolvê-la. Uma curiosidade é que a IFP permite também jogos mistos, nos quais atletas cadeirantes enfrentam andantes, ou até mesmo duplas mistas formadas por um cadeirante e um andante; nessa caso, os andantes devem obedecer as regras do pickleball, e os cadeirantes as do pickleball em cadeira de rodas. Não existem torneios internacionais de pickleball em cadeira de rodas, apenas jogos de exibição.

Para terminar de vez, vamos falar sobre o soft tennis, esporte que surgiu no Japão no final do século XIX, quando missionários introduziram o tênis no país, mas, como os japoneses não se interessavam, fizeram uma importante modificação para que o jogo ficasse mais do seu agrado: soft, em inglês, significa "macio", e o soft tennis tem esse nome porque a bola usada é muito mais macia do que a do tênis, sendo feita inteiramente de borracha e oca. A bola tem 6,6 cm de diâmetro, com 0,1 cm de tolerância para mais ou para menos, deve pesar entre 30 e 31 g, e quicar entre 70 e 80 cm quando derrubada de uma altura de 1,5 m. Uma bola mais macia e leve é menos veloz e mais fácil de ser controlada, o que torna o soft tennis um esporte muito menos "atlético" do que o tênis, sendo bastante popular, no Japão, entre idosos. Inicialmente, o soft tennis usava as mesmas raquetes do tênis, mas, em meados do século XX, começaram s ser fabricadas raquetes próprias para ele, mais leves e com menos tensão nas cordas. Exceto pela bola e pelas raquetes, as regras do soft tennis são exatamente as mesmas do tênis. Seu campeonato mais importante é o Campeonato Mundial, disputado a cada quatro anos desde 1959, com competições de simples masculinas e femininas, duplas masculinas e femininas, e duplas mistas.

O soft tennis é regulado pela Federação Internacional de Soft Tennis (ISTF), fundada em 1952 pelas federações nacionais de Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Índia, Tailândia e Filipinas. Hoje, a ISTF conta com 27 membros, quase todos da Ásia e da Europa, o que dificulta um pouco sua pretensão de incluir o esporte nos Jogos Olímpicos; por enquanto, a ISTF é membro da AIMS, uma espécie de confederação das federações internacionais dos esportes que ainda não são reconhecidos pelo COI.
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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Escrito por em 25.2.13 com 0 comentários

Tênis de Praia / em Cadeira de Rodas

Eu já contei essa história aqui mais de uma vez: em fevereiro de 2009, eu escrevi aqui um post sobre tênis. Na ocasião, pensei em, na semana seguinte, fazer um "Tênis (II)", falando de mais esportes que usam raquetes. Depois, achando que essa não era uma ideia tão boa, desisti. Mais tarde, acabei fazendo os posts sobre os esportes que usam raquetes, mas separadamente.

O que eu (acho que) nunca revelei até agora foi que, quando pensei em fazer o "Tênis (II)", separei sete esportes que usam raquetes para abordar nele. Nos posts que vieram a seguir, falei sobre seis deles. Ficou faltando um, o tênis de praia. O principal motivo pelo qual o tênis de praia jamais ganhou um post só dele foi porque não existe muita coisa para se falar sobre ele, de forma que o post sairia bem curtinho, e, não sei se vocês já repararam, eu não gosto de escrever posts curtinhos para o átomo. Até pensei em fazer com ele um post duplo, como quando eu falei sobre squash/raquetebol e sobre tênis de mesa/real, emparelhando o tênis de praia com o frescobol, já que ambos são disputados na praia. O problema é que eu não tinha muita vontade de falar sobre frescobol, e essa vontade diminuiu ainda mais quando, pesquisando sobre ele, descobri que existem uns seis milhões de esportes parecidos, e que, para chegar no frescobol, eu acabaria tendo de falar um pouquinho sobre todos. Também pensei em emparelhar o tênis de praia com o soft tennis, mas soft tennis é praticamente tênis com uma bola mole, então também não tinha muito assunto para ele.

Assim, o coitado do tênis de praia - sobre o qual eu realmente tinha vontade de falar, diferentemente do frescobol - acabou ficando sem um lugar ao sol - não, eu não resisto a um trocadilho - até o dia em que eu resolvi falar sobre o futebol paralímpico, quando eu tive uma ideia. A ideia de falar também sobre o tênis paralímpico. Finalmente o tênis de praia ganharia um parceiro, e a oportunidade de aparecer nesse post que vocês estão lendo hoje.


O tênis de praia possui não uma, mas duas origens. A primeira delas pode ser traçada até o matkot, esporte israelense que deu origem ao frescobol, no qual o objetivo é rebater uma bola de borracha com uma raquete de madeira não para forçar o adversário ao erro, mas para tentar mantê-la no ar o maior tempo possível. Na década de 1970, este esporte chegou à Itália, onde se tornou extremamente popular na região da Romagna, especialmente nas cidades de Ravenna e Rimini.

Em 1996, um jogador chamado Giandomenico Bellettini decidiu adaptar suas regras para transformar o esporte de cooperativo para competitivo. Se inspirando no tênis e no badminton, mas usando as raquetes e a bola do matkot, ele criaria um esporte que chamaria de tênis de praia, escrevendo um livro com suas regras oficiais. No ano seguinte, ele fundaria a Federação Italiana de Tênis de Praia, que começaria a organizar os primeiros torneios no país. O esporte acabaria chamando a atenção de turistas, e, em 1998, Bellettini receberia pedidos de jogadores de outros países para participar de seus torneios, decidindo criar o primeiro torneio internacional da modalidade e, para não perder tempo, fundar a Federação Internacional de Tênis de Praia (IFBT na sigla em inglês), que teve como primeiros membros 13 países europeus: Itália, Eslovênia, Portugal, Croácia, Holanda, Inglaterra, Suíça, Alemanha, Áustria, Polônia, Espanha, República Tcheca e San Marino.

Paralelamente a isso, aqui do outro lado do mundo, jogadores de tênis profissionais e amadores levavam suas raquetes e bolas para a praia e jogavam uma partidinha enquanto aproveitavam o sol e o mar. Como o que não falta no Caribe é sol e mar, e como jogadores profissionais costumam tirar férias no Caribe, por lá logo a prática do tênis na praia se tornaria uma febre, com muitas quadras demarcadas na areia - algumas até cobrando por hora dos interessados. Um dos lugares onde o tênis na praia mais se desenvolveu foi Aruba, para onde foi levado por turistas holandeses. Em 2003, o norte-americano Marc Altheim, de férias em Aruba, descobriu o passatempo, se interessou e, ao retornar para Nova Iorque, decidiu transformá-lo em esporte. Em 2005, Altheim e alguns amigos fundariam a Beach Tennis USA (BTUSA), organização devotada à prática e difusão do esporte que ele batizaria como tênis de praia nos Estados Unidos. O tênis de praia de Altheim, porém, era bem diferente do de Bellettini, já que usava as mesmas raquetes, bola e quadra do tênis, mas na areia.

Apesar de todos os esforços da BTUSA em organizar torneios e convidar ex-jogadores de tênis para ajudar a difundi-los, o tênis de praia ainda seria visto por muitos como apenas um passatempo até 2007, quando novos ventos soprariam a seu favor: naquele ano, ninguém menos que Andre Agassi e Steffi Graf decidiriam formar uma dupla para participar de um torneio em Miami, o que chamaria a atenção das emissoras de TV. Não das grandes, mas já era um começo: graças à presença dos ídolos, a BTUSA conseguiria um contrato com a SNY, canal de esportes regional baseado em Nova Iorque, onde também ficava a sede da BTUSA, e outro com o Tennis Channel, canal a cabo especializado em transmitir partidas de tênis e programas que versem sobre o esporte. O contrato com o Tennis Channel, aliás, previa a transmissão não somente do torneio de Miami, mas também de outros dois torneios organizados pela BTUSA naquele ano.

Com a nova exposição, a BTUSA descobriria que não era a única tentando regular o tênis de praia nos Estados Unidos. Duas outras organizações, a National Beach Tennis Association e a National Beach Paddle Ball Association, também tinham objetivos parecidos. O esporte da National Beach Paddle Ball Association, entretanto, era mais parecido com o frescobol, enquanto o da National Beach Tennis Association era o criado por Bellettini, já que o órgão era o representante dos Estados Unidos na IFBT.

Através do contato com as duas outras organizações, a BTUSA começaria a introduzir aos poucos mudanças em seu esporte, como a rede alta e o uso de raquetes de madeira, até que ambos os esportes ficassem parecidíssimos - praticamente a única diferença atualmente é a bola, já que um usa uma bola de frescobol e o outro uma bola de tênis com pressão menor. Essas mudanças tornariam os torneios da BTUSA extremamente populares nos Estados Unidos, ao ponto de, no final de 2008, a Federação Internacional de Tênis (ITF) entrar em um acordo com a BTUSA para praticamente assumir o esporte - hoje, a BTUSA só cuida da organização dos torneios em solo norte-americano. Sob o manto da ITF, o tênis de praia teve um crescimento assustador, chegando a todo o planeta rapidamente, e contando hoje com diversos campeonatos nacionais, regionais e mundiais.

Só quem não ficou satisfeito foi a IFBT, que ainda existe, hoje conta com 71 países membros (Brasil incluído) e continua organizando seus próprios torneios. Seu site, aliás, diz que ela é a "única federação mundial de tênis de praia", identifica Bellettini como o inventor de todas as regras, chama seu esporte de "o verdadeiro", e pede para que qualquer um que queira organizar um torneio ou saber qualquer coisa sobre o esporte entre em contato com eles. Parece que a história do futsal está se repetindo, já que de fato Bellettini inventou o esporte primeiro, mas agora vai ser difícil convencer os jogadores de alto nível a disputar os torneios da IFBT ao invés dos da ITF. Eu até acho isso injusto, mas as regras que vou apresentar são da versão da ITF, a que mais vem crescendo no mundo - se bem que, como eu falei, as da IFBT são praticamente idênticas.

O tênis de praia é jogado em uma quadra de 16 metros de comprimento por 8 de largura - não por acaso, mas para facilitar a prática desse esporte, é a mesma quadra usada no vôlei de praia. O piso deve ser, evidentemente, areia, mas, como outros esportes de praia, não é obrigatório que o tênis de praia seja jogado numa praia, podendo ser construída uma quadra "artificial" em um local qualquer. Como é meio difícil fazer marcações na areia, as únicas marcações da quadra são as linhas que a delimitam e uma linha que a divide ao meio; as linhas que delimitam a quadra no sentido do comprimento e no meio devem ter entre 2,5 e 5 cm de largura, enquanto as linhas que a delimitam no sentido da largura - as linhas de fundo - devem ter 10 cm de largura. Todas as linhas devem ser da mesma cor, e de uma cor que contraste com a areia. As linhas fazem parte da quadra, ou seja, bola que toque a linha é bola dentro.

No meio da quadra fica a rede, que deve ter 1,70 m de altura em seu ponto mais alto e no máximo 1 m de largura. A rede é presa a dois postes que ficam a 5 cm das laterais cada por uma corda ou cabo que deve ter no máximo 8 cm de diâmetro, deve ser feita de material sintético trançado de forma a ser impossível a bola passar por ela, e deve ter uma fita em sua parte superior.

As raquetes podem ser feitas de madeira, grafite ou fibra de vidro. Diferentemente das do tênis, são sólidas, exceto por furos em sua parte mais larga, que podem ter de 9 a 13 mm de diâmetro. As regras não especificam um número máximo ou mínimo de furos - o mais comum é que sejam doze deles - apenas que eles devem ficar a mais de 4 cm das bordas da raquete. O intuito dos furos é facilitar a movimentação da raquete e melhorar o efeito quando ela bate na bola; furos feitos especificamente para dar vantagens aos jogadores ao bater na bola, entretanto, são proibidos, ficando essa avaliação a cargo dos árbitros da partida. As raquetes devem ter no máximo 50 cm de comprimento, com uma "cabeça" de no máximo 30 cm, 26 cm de largura em sua parte mais larga e 38 mm de espessura. A cabeça pode ser lisa ou áspera, dependendo do estilo do jogador. As bolas usadas são as mesmas do tênis, mas com a metade da pressão: enquanto uma bola de tênis tem pressão de 12 bar, uma bola de tênis de praia tem apenas 6 bar, o que faz com que ela quique menos e ganhe menos velocidade nos golpes.

A pontuação no tênis de praia é bastante parecida com a utilizada no tênis: o primeiro ponto vale 15, o segundo 30, o terceiro 40, e então se ganha um game. A principal diferença é que não há a vantagem: mesmo que ambos os jogadores estejam empatados em 40 a 40, o próximo a marcar um ponto ganha o game. O primeiro a ganhar seis games vence um set, sendo que a partida pode ser disputada em melhor de três sets (quem vencer dois primeiro ganha o jogo) ou em melhor de cinco (quem vencer três primeiro ganha o jogo). A ITF permite que dois critérios diferentes de pontuação para vencer o set sejam utilizados, o chamado Advantage Set - no qual é necessária uma vantagem de dois games para se vencer o set; em caso de 6-5 ou 6-6 o set continua até que alguém abra dois games - e o chamado Tie Break Set - no qual, em caso de 6-6, é jogado um tie break, no mesmo estilo do tênis, com o primeiro a fazer sete pontos ou mais com dois de vantagem sobre o oponente vencendo. A decisão sobre quantos sets são necessários para vencer o jogo e sobre qual critério será adotado ficam a cargo do organizador do torneio, com a obrigação de deixar o método escolhido bem claro aos participantes com a devida antecedência. É possível que um torneio use o Advantage Set apenas no set de desempate, usando o Tie Break Set nos demais.

Uma partida de tênis de praia se desenvolve praticamente da mesma forma que uma do tênis comum: um dos jogadores saca, o outro recebe e devolve a bola, e assim segue até um dos dois não conseguir devolvê-la ou mandá-la para fora. A principal diferença é que, como a bola não quica na areia, não é permitido deixar a bola quicar antes de rebatê-la, o que, aliado à rede alta, torna o jogo parecido com o badminton. A rede alta também faz com que o estilo preferido de saque dos jogadores seja "por baixo" - batendo na bola de baixo para cima - ao invés de "por cima" como no tênis. Outra diferença é que não existe o let - se a bola tocar a fita ou a rede após um saque, a jogada continua valendo. Assim como no tênis, apenas um árbitro, que fica sentado em uma cadeira alta ao lado da rede, é obrigatório, embora a maioria dos torneios use também um juiz de linha, que fica em pé do outro lado da rede.

Na versão da ITF, o tênis de praia é disputado apenas na categoria duplas - duplas masculinas, duplas femininas e duplas mistas - embora a IFBT também organize campeonatos de simples masculinas e simples femininas. Os principais torneios organizados pela ITF são o Campeonato Mundial, disputado anualmente nas duplas masculinas e femininas desde 2009; o ITF Beach Tennis Tour, disputado desde 2008 em dez etapas ao redor do mundo, somando pontos para os participantes, com as duplas masculinas, femininas e mistas com mais pontos ao final da última etapa sendo consagradas campeãs; e o Campeonato Mundial por Equipes, disputado pela primeira vez no ano passado, em um sistema no qual cada equipe, composta por quatro homens e quatro mulheres, disputa uma melhor de três jogos contra outra equipe - um jogo de duplas masculinas, um de femininas e um de mistas - avançando para a etapa seguinte a equipe que vencer dois desses jogos. O Brasil já possui alguns jogadores se aventurando nos torneios da ITF, e até mesmo conseguiu uma medalha de prata no Mundial por Equipes, com uma equipe composta por Vinicius Font, Guilherme Prata, Samantha Barijan e Joana Cortez.

Visto o tênis de praia, vamos passar para o tênis paralímpico, conhecido oficialmente como tênis em cadeira de rodas, que também é regulado pela ITF. A criação do tênis em cadeira de rodas é atribuída ao norte-americano Brad Parks, que, originalmente, não praticava o tênis, mas o esqui. Durante um campeonato de esqui estilo livre para amadores em 1975, Parks, então com 18 anos, sofreu uma queda que o deixou paraplégico. Não querendo deixar de praticar esportes, ele tentaria o tênis, e se surpreenderia ao descobrir que ainda não existia material apropriado para cadeirantes nesse esporte - basicamente, quem quisesse jogar tênis em cadeira de rodas tinha de usar uma quadra comum, raquetes comuns, bolas comuns e uma cadeira comum.

A parte da quadra, da raquete e das bolas não incomodava os jogadores de então, mas jogar com a cadeira comum era bastante complicado. Parks e o tenista cadeirante Jeff Minnenbraker, então, desenvolveriam uma cadeira própria, mais leve, com rodas levemente inclinadas e com aquela parte onde ficam os pés móvel e giratória, que facilitaria bastante o trabalho dos tenistas cadeirantes, que podiam manobrá-la com menos esforço. Para apresentar sua cadeira ao mundo, Parks e Minnenbraker entraram em contato com alguns colegas tenistas cadeirantes e organizaram o primeiro torneio da modalidade - até então, tenistas cadeirantes só jogavam por recreação - em Orange County, na Califórnia, em 1977.

O torneio foi um grande sucesso, e logo o tênis em cadeira de rodas começou a se popularizar e se espalhar pelos Estados Unidos, com a cadeira de Parks se tornando cada vez mais o padrão entre os praticantes. O sucesso motivaria Parks a fundar, em 1980, a primeira federação do esporte, a National Foundation of Wheelchair Tennis (NFWT), que cuidaria da codificação das regras e da organização de torneios em todos os Estados Unidos. Naquele mesmo ano, a NFWT criaria um circuito de dez torneios ao redor dos Estados Unidos, incluindo o primeiro US Open em Cadeira de Rodas, disputado em Irvine, Califórnia, com a participação de 70 tenistas e o título sendo conquistado por Parks.

Ao final de 1980, a NFWT estimaria em mais de 300 o número de jogadores de tênis em cadeira de rodas nos Estados Unidos. Parks sabia que era só uma questão de tempo até outras entidades começarem a organizar campeonatos, e, para proteger os direitos dos atletas, ele fundaria também a Associação de Tenistas Profissionais em Cadeira de Rodas (WTPA na sigla em inglês), em 1981.

Nesse mesmo ano, o francês Jean-Pierre Limborg se tornaria o primeiro estrangeiro a competir no US Open da NFWT. Ao voltar à Europa, ele começaria a se dedicar à difusão e popularização do esporte por lá, fundando o primeiro clube exclusivamente voltado à prática do tênis em cadeira de rodas na cidade de Garches, França. Enquanto isso, em Sydney, Austrália, outro tenista cadeirante, Graeme Watts, após assistir a palestras de Parks e do tenista Jim Worth, decidiria criar por lá também um clube para tenistas em cadeiras de rodas. Em 1984, o esporte chegaria ao Japão, levado pro Masahiro Sato.

Em 1985, a NFWT atualizaria suas regras para permitir a participação em seus torneios de atletas tetraplégicos, conhecidos como quads. Como possuem ainda menos mobilidade que os paraplégicos, os quads possuem regras especiais; eles podem, por exemplo, usar cadeiras motorizadas, e podem prender as raquetes a seus braços usando uma fita especial, para que ela não caia durante a partida. Atletas quads não são divididos nas categorias masculina e feminina, participando todos juntos, tanto nas simples quanto nas duplas, que podem ter duplas masculinas, femininas ou mistas em um mesmo torneio.

O esporte se tornaria definitivamente internacional também em 1985, quando seria organizada nos Estados Unidos a World Team Cup, competição no mesmo estilo da Copa Davis, que contaria com equipes de Estados Unidos, França, Austrália, Japão, Israel e Canadá. Em 1986 seria disputado o primeiro Aberto da França, em Antony, Paris, e a World Team Cup, já contando também com equipes de Grã-Bretanha e Holanda, teria também um torneio feminino. Em 1987, o tênis em cadeira de rodas seria incluído no programa dos Wheelchair Games de Stoke Mandeville, Inglaterra, um dos torneios para cadeirantes de maior prestígio no mundo.

Com o crescimento cada vez maior - então, só nos Estados Unidos, já eram mais de 2.000 filiados à WTPA - e o tênis em cadeira de rodas chegando a cada vez mais países, Park recorreria à ITF para ajuda na criação de um órgão internacional que regulasse o esporte e cuidasse para que as mesmas regras de competição, participação e segurança fossem adotadas no mundo inteiro. Com a ajuda da ITF, ele fundaria, em 1988, a IWTF, a Federação Internacional do Tênis em Cadeira de Rodas, que seria o órgão máximo do esporte até 1998, quando a própria ITF assumiria o esporte. Graças aos esforços da IWTF, o tênis em cadeira de rodas seria incluído como esporte de demonstração no programa das Paralimpíadas de 1988, o que contribuiria ainda mais para seu crescimento e popularização.

Outros avanços importantes ocorreriam nos quatro anos seguintes: em 1989, seria disputado o primeiro Aberto da Austrália, em Flinders Park, Melbourne. Em 1990, ocorreria a primeira participação de tenistas andantes e cadeirantes no mesmo torneio (mas, evidentemente, em competições separadas, e não uns enfrentando aos outros), o Lipton Players Championships de Key Biscayne, Flórida, Estados Unidos. Em 1991, seria a vez de o US Open distribuir prêmios em dinheiro para os tenistas mais bem colocados, o que marcaria a profissionalização definitiva do esporte. E, em 1992, o tênis em cadeira de rodas seria incluído no programa principal das Paralimpíadas, de onde não mais sairia.

Dez anos depois, em 2002, o Aberto da Austrália para tenistas andantes incluiria em seu programa, pela primeira vez, um torneio para cadeirantes. Wimbledon - que se tornaria o primeiro torneio de tênis em cadeira de rodas disputado na grama - e o US Open fariam o mesmo em 2005, e Roland Garros se uniria a eles em 2007, quando todos os Grand Slams permitiriam a participação de cadeirantes.

Hoje, o tênis em cadeira de rodas é um dos esportes para deficientes mais desenvolvidos e bem estruturados do planeta, graças, principalmente, à ITF, que foi a primeira federação internacional de um esporte para atletas sem deficiência a regular também um esporte para deficientes. Assim como no tênis para andantes, os torneios do tênis para cadeirantes, conhecidos coletivamente como ITF Wheelchair Tennis Tour, são divididos em seis categorias, de acordo com sua importância, valor de seus prêmios e número de pontos conferidos para o ranking mundial. O nível mais alto é chamado ITF Masters Series, e reúne os quatro Grand Slams disputados paralelamente aos dos andantes (Aberto da Austrália em Melbourne, Wimbledon, Roland Garros e US Open em Flushing Meadows) mais o Wheelchair Tennis Masters, torneio disputado desde 1994 que reúne, no final de cada ano, os oito primeiros tenistas do ranking no masculino e as oito primeiras do feminino.

O segundo nível é o chamado ITF Super Series, e conta atualmente com seis torneios: o Sydney International Wheelchair Open, na Austrália; o Florida Open, disputado na cidade de Boca Raton, Estados Unidos; o Aberto do Japão, disputado em Fukuoka; o Aberto da França, em Antony, Paris; o British Open, disputado na cidade de Nottingham, Inglaterra; e o USTA Wheelchair Tennis Championships, dispuado em St. Louis, Missouri, Estados Unidos. Os níveis subsequentes são chamados simplesmente de ITF 1, com 9 torneios, ITF 2, com 11 torneios, e ITF 3, com 40 torneios anuais. O último nível é o ITF Futures, que conta com nada menos que 534 torneios anuais, dedicados a jogadores jovens ou iniciantes.

Os dois principais torneios fora do ITF Wheelchair Tennis Tour são as Paralimpíadas, nas quais as categorias simples masculinas, duplas masculinas, simples femininas e duplas femininas fazem parte do programa desde 1992 (tendo sido disputadas com esporte de demonstração em 1988) e as simples quads e duplas quads desde 2004; e a World Team Cup, que ainda é disputada anualmente, atualmente nas categorias masculina, feminina, quads e jovens, e hoje já conta com a participação de 26 países em duas divisões, sendo que outros 29 disputam as classificatórias para a segunda divisão. O Brasil participa da World Team Cup, estando, atualmente, na segunda divisão, e já tendo sediado o evento em 2006, quando foi campeã da segunda divisão (que, por sua vez, foi criada em 2004). O Brasil disputou a primeira divisão de 1993 a 2005, em 2007, 2008, 2010 e 2011, e teve como melhor resultado um nono lugar em 2010.

Uma coisa importante a se dizer sobre o tênis em cadeira de rodas é que as regras são as mesmíssimas do tênis para andantes, com apenas uma diferença: a bola pode quicar duas vezes, inclusive se a segunda vez for fora da quadra, antes de o jogador rebatê-la - se ele quiser rebater depois da primeira quicada também vale, mas se a primeira quicada for fora, a bola é fora. Como a quadra é do mesmo tamanho, eu só tenho a elogiar a superação e a força de vontade desses atletas, pois, se jogar tênis tendo de correr para lá e para cá já é complicado o suficiente, imaginem tendo que usar os braços para girar e parar as rodas da cadeira.

Para terminar esse post, cabe dizer que o tênis em cadeira de rodas possui a atleta com a maior série invicta dentre todos os esportes, para deficientes ou não: a holandesa Esther Vergeer não perde um jogo de simples, acreditem ou não, desde janeiro de 2003. Isso mesmo, já são dez anos, ou 470 partidas seguidas sem derrotas. 470 vitórias seguidas, incluindo oito Abertos da Austrália, oito Roland Garros, sete US Open (no total ela tem 26 títulos de Grand Slams, já que também ganhou esses três torneios em 2002; vale dizer que em alguns anos ela optou por não participar de um desses três torneios, e nunca participou de Wimbledon nas simples), nove Wheelchair Tennis Masters (14 no total) e quatro Medalhas de Ouro Paralímpicas. Esther também tem em seu plantel 27 títulos de Grand Slams, 9 da Wheelchair Tennis Masters e três ouros e uma prata Paralímpicos na categoria duplas, além de vários títulos da Super Series e de torneios menores - no total, ela tem 162 títulos de simples e 134 de duplas apenas em torneios internacionais. Ela é a primeira do ranking desde 6 de abril de 1999, e, nas simples, possui um total de 687 vitórias e apenas 25 derrotas - nas duplas, embora tenha perdido com mais frequência, os números também são impressionantes, 440 vitórias e 35 derrotas. Com ela no time, a Holanda ganhou nada menos que 14 World Team Cups. E, só para terminar de cair o queixo, vale citar que, nas simples, desde março de 2001, ela só perdeu uma única partida, e entre agosto de 2004 e outubro de 2006 ela venceu 250 sets seguidos - isso mesmo, dois anos inteiros sem perder um set.

Apesar desse retrospecto, Vergeer, que tem 31 anos e perdeu os movimentos das pernas aos oito durante uma cirurgia de alto risco para estancar um sangramento na coluna que poderia levar à sua morte, não dá mole para o favoritismo, se preparando para cada torneio como se nunca tivesse ganhado nada. Ela diz que, embora na maior parte do tempo confie em suas habilidades, às vezes sente a pressão para manter a série invicta, mas que está preparada para quando a derrota finalmente vier - afinal, ela tem consciência de que não é imbatível, e de que há uma maneira de derrotá-la, embora ela não vá dizer qual é. E a cereja do bolo é que, além de quase imbatível, de ter boa cabeça e bom humor, Vergeer também é linda: é dela a foto que eu usei para ilustrar essa segunda metade do post.
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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Escrito por em 3.1.11 com 0 comentários

Badminton

Há dois anos, eu fiz aqui um post sobre tênis. Ano passado, eu fiz outro, sobre squash, no qual revelei que, à época, pensei em fazer um segundo post sobre tênis, que na verdade falaria sobre um bando de esportes que usam raquetes. A vontade de fazer esse post foi motivada pela vontade de falar sobre outros dois esportes, o próprio squash e o badminton. Hoje, dois anos depois, eu finalmente vou falar sobre badminton. Poderia ter falado antes, mas achei que seria mais legal poder fazer essa abertura emblemática.

Mentira, na verdade eu esqueci mesmo. Quer dizer, até lembrei, mas logo depois de fazer o post do polo aquático, e não quis fazer dois posts de esportes seguidos. De qualquer forma, antes tarde do que nunca, hoje é dia de badminton no átomo!

A principal característica do badminton é que, ao invés de uma bola, é usada uma espécie de peteca, chamada shuttlecock. A não ser por isso, é um jogo até muito parecido com o tênis, de modo que comparações entre esses dois esportes serão inevitáveis nesse post. Para provar, vamos começar já com uma: assim como o tênis, o badminton é atualmente disputado nas categorias simples masculinas, simples femininas, duplas masculinas, duplas femininas e duplas mistas.

O badminton é disputado em uma quadra, também chamada court, de 6,1 metros de largura por 13,4 metros de comprimento. Assim como no tênis, a quadra só é usada em sua totalidade no jogo de duplas; para o jogo de simples, a largura é de apenas 5,18 metros, delimitada por duas linhas, cada uma traçada a 46 cm da linha lateral. A quadra é dividida no meio, no sentido do comprimento, por uma linha que delimita as áreas de saque, e no sentido da largura pela linha central, sobre a qual é colocada a rede. Quatro outras linhas cortam a quadra no sentido da largura, sendo duas linhas de saque, a 1,98 m da linha central cada, e duas linhas de saque longas, usadas apenas no jogo de duplas, a 76 cm de cada linha de fundo. A rede não é rasteira como a do tênis, mas elevada como a do vôlei, com 2,284 m de altura. Como o vento tem grande influência sobre a trajetória do shuttlecock, quadras de badminton são normalmente fechadas, exceto em algumas escolas e clubes onde são disputados jogos casuais.

As raquetes do badminton também são bem diferentes das do tênis, a começar pelo fato de que são muito mais leves, pesando entre 75 e 95 gramas. Originalmente feitas de madeira, mais tarde de aço e alumínio, hoje elas utilizam materiais como fibra de carbono e fulereno, para permitir maior durabilidade. O cabo da raquete tem 40 cm de comprimento, e sua cabeça tem medidas máximas de 28 cm de comprimento por 22 cm de largura. Tradicionalmente, raquetes de badminton têm cabeças ovais, embora cabeças totalmente redondas (de 22 cm de diâmetro) venham se popularizando nos últimos anos. As cordas da raquete são mais finas que as do tênis, mas suportam maior tensão.

O shuttlecock é composto de meia esfera "espetada" por 16 penas, o que lhe dá uma forma cônica. As penas são amarradas com linha para que não se abram durante o jogo; cada uma delas deve ter entre 62 e 70 mm de comprimento, e a base deve ter entre 25 e 28 mm de diâmetro. Todo o conjunto deve pesar entre 4,74 e 5,5 gramas. Existem shuttlecocks "naturais" e "sintéticos"; os naturais são feitos com penas de verdade fixadas em uma base de cortiça, enquanto os sintéticos têm penas de nylon e base de plástico. Variações na densidade do material permitem a fabricação de três tipos diferentes de shuttlecocks sintéticos, cada um com uma velocidade diferente, indentificada por uma faixa em torno da base, que pode ser verde (baixa velocidade), azul (média velocidade) ou vermelha (alta velocidade). Os principais torneios profissionais do mundo usam shuttlecocks naturais, enquanto os sintéticos são usados em escolas, academias, torneios profissionais de menor relevância, torneios amadores ou por jogadores casuais. Isso não ocorre somente porque os naturais são mais caros, mas também porque sua durabilidade é bem menor que a dos sintéticos.

A principal diferença do shuttlecock para uma bola é que as penas fazem com que ele tenha muito mais arrasto, desacelerando bem mais depressa - o que faz com que caia "de repente", sendo difícil prever sua trajetória. Antes de cada saque, os jogadores também costumam abrir, fechar ou entortar as penas, para alterar a forma como o shuttlecock se comportará naquele ponto. Também é possível fazer o shuttlecock girar, mudando sua trajetória, com um golpe bem dado da raquete.

Além das raquetes e do shuttlecock, o badminton tem um outro equipamento próprio, os sapatos. Sapatos de badminton têm solas de borracha com pouquíssimo apoio lateral, já que o deslocamento lateral durante o jogo é bastante abrupto. Esse tipo de sola não somente permite que os jogadores tenham maior aderência quando parando repentinamente, mas também garante que seus tornozelos não torçam durante uma mudança de sentido de movimento. Por outro lado, sapatos de badminton não permitem que um jogador "escorregue" atrás do shuttlecock, como é comum acontecer no tênis.

Uma partida de badminton é disputada em melhor de três games, ou seja, quem ganha dois, ganha a partida. Cada game, por sua vez, termina quando um dos jogadores alcança 21 pontos, a menos que esteja empatado em 20 a 20, quando é necessário abrir dois pontos de diferença, até um máximo de 30 (ou seja, um jogador pode ganhar um game por 30 a 29). Não é necessário que um jogador esteja sacando para pontuar; assim como no vôlei, toda vez que um jogador deixa o shuttlecock cair no chão, ou o joga para fora da quadra, é ponto para o adversário.

No início de cada partida joga-se uma moeda, e o jogador vencedor poderá escolher começar sacando ou escolher um dos lados da quadra - em alguns torneios e em jogos casuais, o shuttlecock é que é jogado para cima, e o jogador para o qual sua base cai apontando é quem escolhe. No início do segundo game, os jogadores mudarão de lado. Caso seja necessário um terceiro game, eles começarão dos mesmos lados nos quais começaram o primeiro, e mudarão de lado assim que um deles completar 11 pontos.

O jogador que começará sacando deverá ficar na área de saque esquerda, ou seja, à esquerda da linha que divide a quadra no meio no sentido do comprimento. Da mesma forma, quem recebe deve ficar de seu lado esquerdo. Para um saque ser válido, ele deve ser feito abaixo da linha da cintura, e o shuttlecock deve passar totalmente da linha de saque do lado oposto da quadra, indo em direção à área na qual o jogador que irá receber se encontra. Não há segundo serviço no badminton: se o shuttlecock bater na rede e cair do lado de quam sacou, for na direção da área de saque errada, ou não ultrapassar a linha de saque, é ponto para o adversário. Em compensação, também não há let: mesmo que o shuttlecock bata na rede, se ele passar para o outro lado ultrapassando a linha de saque e indo na direção do recebedor, o ponto continua sendo disputado normalmente.

O jogador que recebe, então, deverá mandar o shuttlecock imediatamente para o outro lado, por cima da rede - evidentemente, não é permitido deixar o shuttlecock quicar antes de rebatê-lo, até porque ele não quica. O ponto, então, será disputado até que um dos jogadores não consiga devolver o shuttlecock para o outro lado, faça com que ele caia fora dos limites da quadra, ou deixe ele tocar o chão antes de rebatê-lo.

Se o jogador que estava sacando fizer o ponto, ele sacará novamente, mas dessa vez de sua área de saque à direita da linha que divide a quadra. Se o jogador que não estava sacando fizer o ponto, será então sua vez de sacar, seguindo as mesmas regras. O primeiro jogador a sacar em um game que não seja o primeiro é sempre o que venceu o game anterior - ou seja, no segundo começa sacando quem venceu o primeiro, e no terceiro começa sacando quem venceu o segundo.

No jogo de duplas, no primeiro ponto de cada game cada dupla pode escolher qual jogador vai sacar e qual vai receber, e a partir de então eles devem se revezar nessas funções. O jogador que não vai sacar nem receber não precisa ficar na área de saque oposta à do que vai, podendo ficar em qualquer lugar em que não atrapalhe o sacador nem o recebedor. No jogo de duplas, a área de saque também é delimitada pela linha de saque longa, aquela mais próxima do fundo da quadra.

As origens do badminton remontam a um jogo antiquíssimo, conhecido na França como jeu de volantis, no Japão como hanetsuki e na Inglaterra como battledore and shuttlecock. Tradicional passatempo de crianças, o jogo consistia em acertar uma peteca - o shuttlecock - com uma raquete - o battledore. Não havia número certo de participantes, e o objetivo era simplesmente que um passasse a peteca para o outro, com quem a deixasse cair saindo do jogo ou perdendo um ponto. Não se sabe ao certo quando esse passatempo teria sido inventado, mas acredita-se que o jogo já fosse conhecido na Grécia Antiga, de onde saiu em direção ao oriente, tornando-se o hanetsuki, e ao ocidente, tornando-se o jeu de volantis. Como curiosidade, vale registrar que, embora o battledore and shuttlecock não exista mais, o hanetsuki ainda é praticado, com kits de raquetes e petecas sendo encontrados com facilidade nas lojas japonesas.

Em meados do século XVIII, o battledore and shuttlecock era bastante popular entre os soldados britânicos que serviam na Índia. Um dia, um grupo de soldados na cidade de Poona decidiu aumentar a dificuldade do jogo adicionando a ele uma rede alta, sendo obrigatório que o shuttlecock passasse por cima da mesma antes de ser acertada por um novo jogador. Rapidamente, o novo esporte se popularizou em toda a Índia, e, por volta de 1800, começaria a chegar à Inglaterra, levado por oficiais da reserva.

O novo esporte continuaria conhecido como "battledore" até 1873, quando ganharia seu novo nome. Nesse ano, o Duque de Beaufort, grande entusiasta do jogo, deu uma festa em sua mansão, na cidade de Gloucestershire, na qual o principal atrativo era um torneio de battledore. O nome da mansão, adivinhem, era Badminton House. Vários dos convidados, que não conheciam o esporte até então, ajudaram a espalhá-lo, e se referiam a ele como "o jogo de Badminton". O nome pegou, e logo vários clubes de battledore começaram a mudar de nome para clubes de badminton, para atrair mais jogadores. Infelizmente, essa manobra não deu muito certo, e o ritmo de surgimento de novos jogadores continuou o mesmo.

Isso porque, como todo esporte novo, o badminton era jogado da forma como os jogadores bem entendessem, embora sempre respeitando as regras básicas estabelecidas pelos soldados de Poona. Em 1887, o clube de badminton da cidade de Bath decidiu que era hora de codificar o esporte, não somente criando um conjunto de regras padrão, mas também adequando-o ao gosto dos ingleses - dizem as más línguas, tornando-o mais parecido com o tênis - para, adivinhem, atrair novos jogadores. As novas regras, praticamente idênticas às atuais, foram publicadas em 1893 pela Associação Inglesa de Badminton, com direito a uma grande festa em Portsmouth, que serviu também como "lançamento" do esporte. Em 1899, a Associação organizou a primeira edição do All England Open Badminton Championships, primeiro campeonato de badminton do mundo, disputado até hoje.

Aos poucos, o esporte foi se popularizando, ganhando novos jogadores e chegando a novos países. Em 1934, o número de países praticantes de badminton já justificava a criação de uma entidade reguladora internacional, portanto, as associações de Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda, França, Holanda, Dinamarca, Canadá e Nova Zelândia se reuniram e fundaram a Federação Internacional de Badminton, responsável por regular o esporte e ajudar em seu desenvolvimento. Em 2006, a entidade decidiu mudar seu nome para Federação Mundial de Badminton (BWF, da sigla em inglês), e hoje conta com 160 membros dos cinco continentes, dentre eles o Brasil. As principais forças do badminton atualmente são os países do Sudeste Asiático, em especial China, Coreia do Sul, Indonésia e Malásia.

A BWF classifica os torneios internacionais de badminton em quatro níveis, de acordo com a qualidade dos jogadores participantes, sendo que os torneios de nível 1 são aqueles que reúnem os melhores jogadores do planeta. O principal torneio masculino de nível 1 é a Thomas Cup, batizada em homenagem a Sir George Alan Thomas, um dos principais jogadores ingleses do início do século XX, que idealizou um torneio de badminton nos mesmos moldes da Copa Davis do tênis. Sir Thomas pretendia que a primeira edição do torneio, batizado por ele como "The International Badminton Championship Challenge Cup", fosse realizada em 1941, mas, por causa da Segunda Guerra Mundial o torneio só pôde ter sua primeira edição, já com o nome de Thomas Cup, em 1949. Até 1984, a Thomas Cup seria realizada a cada três anos, mas a partir daquele ano passaria a sê-lo a cada dois anos, sempre nos anos pares.

Assim como a Copa Davis, a Thomas Cup não é uma competição entre indivíduos, mas entre seleções nacionais de jogadores de badminton. O torneio em si é composto de duas fases, uma fase classificatória e uma fase final, sendo que qualquer país filiado à BWF pode se inscrever para a fase classificatória, mas apenas 12 - incluindo o país-sede da fase final e o campeão da edição anterior - participam da fase final. Assim como na Copa do Mundo de futebol, a fase classificatória é disputada de forma continental, com torneios próprios para países da África, Ásia, Oceania, Europa e Américas. Diferentemente da Copa do Mundo de futebol, a fase classificatória não é disputada em jogos de ida e volta, mas em cidades-sede previamente escolhidas para cada continente - a cidade brasileira de Campinas, aliás, já sediou uma edição da fase classificatória das Américas, em 2008.

A fase final tem, por sua vez, duas outras fases, uma de grupos, na qual os 12 classificados são divididos em quatro grupos de três seleções cada, e uma fase eliminatória, para a qual se classificam as oito melhores seleções da fase de grupos. Cada "partida", tanto na fase classificatória quanto na final, é, na verdade, um conjunto de cinco jogos, sendo três de simples e dois de duplas. A primeira seleção a vencer três desses cinco jogos vence o confronto; na fase de grupos, todos os cinco jogos são sempre jogados, mas na fase eliminatória o confronto se encerra assim que alguém alcança as três vitórias. Até hoje, apenas três seleções já conseguiram conquistar o título da Tomas Cup, sendo a Indonésia a maior vencedora, com 13 títulos, seguida da China, com oito, e da Malásia, com cinco.

O equivalente feminino da Thomas Cup é a Uber Cup, batizada em homenagem a Betty Uber, jogadora inglesa que, desde a criação da Thomas Cup, lutou por uma versão feminina do evento. A primeira edição da Uber Cup foi realizada em 1957, e daí a cada três anos até 1984, quando passou a ser disputada a cada dois anos, simultaneamente com a Thomas Cup - e simultaneamente mesmo, no mesmo período e mesmas cidades-sede, tanto na fase classificatória quanto na final. Desde sua primeira edição, a Uber Cup também segue exatamente o mesmo regulamento da Thomas Cup. Até hoje, cinco seleções conquistaram seu título, com a China tendo 11 títulos, o Japão cinco, Indonésia e Estados Unidos três cada, e a Coreia do Sul um, o do ano passado.

Há ainda um torneio semelhante para duplas mistas, a Sudirman Cup, batizada em homenagem a Dick Sudirman, jogador indonésio que criou o torneio, disputado pela primeira vez em 1989 e daí a cada dois anos, sempre nos anos ímpares. Cada edição da Sudirman Cup conta com oito seleções participantes, divididas em dois grupos de quatro cada, com as duas primeiras de cada grupo se classificando para as semifinais. Diferentemente da Thomas e da Uber Cup, a Sudirman Cup não tem fase classificatória, mas um sistema de acesso e descenso semelhante ao da Copa Davis - ao todo, existem quatro "divisões", com a última seleção de cada grupo de cada divisão caindo para a imediatamente inferior, e a campeã de cada grupo subindo para a imediatamente superior. Cada "partida" na Sudirman Cup consiste de cinco jogos, sendo um de simples masculinas, um de duplas masculinas, um de simples femininas, um de duplas femininas e um de duplas mistas. Mais uma vez, a seleção que ganhar três desses cinco jogos vence a partida. Até hoje, somente três seleções conseguiram vencer o torneio, a China sete vezes, a Coreia do Sul três vezes e a Indonésia, que venceu a edição inaugural.

Além de todos esses torneios entre seleções, há o Campeonato Mundial (oficialmente chamado BWF World Championships), disputado a cada três anos desde 1977, a cada dois desde 1983, e anualmente desde 2005. O Mundial é disputado em todas as cinco categorias existentes, ou seja, simples e duplas masculinas, simples e duplas femininas e duplas mistas. De cada um desses torneios podem participar os 64 jogadores (ou duplas) mais bem colocados do ranking mundial no início do ano, com uma limitação de um máximo de três jogadores (ou duplas) de cada país. A China é mais uma vez o país mais bem sucedido, com um total de 48 medalhas no Mundial (tendo ganhado todas as cinco em 1987 e no ano passado), seguida da Indonésia com 18, Dinamarca com 10, Coreia do Sul com nove, Inglaterra com três, Suécia com duas, e Japão e Estados Unidos com uma cada.

As Olimpíadas também são consideradas um torneio de nível 1 pela BWF. O badminton foi esporte de demonstração em 1972 e 1988 e entrou definitivamente para o programa em 1992. Nas primeiras edições, somente os torneios de simples e duplas masculinas e femininas eram disputados, com o de duplas mistas entrando para o programa em 1996. Até hoje, somente quatro países já conseguiram conquistar o Ouro Olímpico: a China ganhou 11 medalhas, Coreia do Sul e Indonésia seis cada, e Dinamarca uma.

O único torneio de nível 2 que ainda faz parte do calendário é o BWF Super Series, que substituiu a Copa do Mundo, disputada pela última vez em 1997, e o Grand Prix, disputado pela última vez em 2000. Disputado pela primeira vez em 2007, o BWF Super Series consiste de 12 torneios (All England, China Masters, China Open, Dinamarca, França, Hong Kong, Indonésia, Japão, Coreia do Sul, Malásia, Cingapura e Suíça), cada um com a participação de 32 jogadores (ou duplas) em cada uma das cinco categorias do badminton. Assim como no tênis, esses jogadores acumulam pontos em cada etapa, que contam para o ranking mundial (que, como já vimos, serve como classificação para o Mundial) e para a "BWF Super Series Masters Finals", torneio disputado ao final de cada ano, do qual participam os oito jogadores (ou duplas) de cada categoria que acumularam mais pontos durante as 12 etapas daquele ano.

A classificação para o BWF Super Series é feita através de pontos conquistados nos torneios de nível 3, que também rendem pontos para o ranking mundial. São de nível 3 os cinco campeonatos continentais - asiático, africano, europeu, oceânico e pan-americano - e mais o BWF Grand Prix Gold, torneio disputado nos mesmos moldes do BWF Super Series, mas com 15 etapas, 64 vagas para as simples masculinas, sem etapa final e com classificação mais fácil, para permitir a participação de jogadores que normalmente não participam dos torneios de nível 1 e 2.

Finalmente, temos os torneios de nível 4, que, apesar de também renderem pontos para o ranking mundial, destinam-se a jogadores iniciantes e de menor prestígio, sem ter a presença dos jogadores de elite. São de nível 4 o International Challenge, o International Series e o Future Series. Abaixo deles, temos os torneios nacionais, que não são organizados pela BWF, mas pela entidade reguladora do badminton em cada país.
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