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domingo, 25 de outubro de 2020

Escrito por em 25.10.20 com 0 comentários

Canoagem (II)

Em mais um exemplo de posts em cascata, quando eu estava escrevendo o post dos esportes a cavalo, me lembrei de que, quando eu escrevi o do surfe, deixei o stand up paddle para uma próxima ocasião. Ao pesquisar sobre stand up paddle, entretanto, descobri que a Federação Internacional de Canoagem (ICF) resolveu fazer com a Associação Internacional de Surfe (ISA) a mesma coisa que ela faz com a Federação Internacional de Barcos-Dragão (IDBF), ou seja, brigar. Em outras palavras, a ICF decidiu também regular o stand up paddle, o que fez com que esse esporte também tivesse duas federações internacionais diferentes publicando regras e organizando campeonatos. Mais que isso, através do site da ICF, eu descobri várias novidades, de forma que, ao invés de um post sobre stand up paddle, decidi fazer mais um sobre canoagem.

Vamos mais uma vez tirar logo o elefante da sala e falar sobre o stand up paddle (SUP, pra facilitar). Stand up significa "de pé", e paddle é um tipo de remo, então o SUP consiste em remar de pé sobre uma prancha. Existem registros, através de pinturas e gravuras, de pessoas remando de pé em uma prancha desde pelo menos o ano 3.000 a.C., na África, no Peru e na China, mas o SUP como o esporte que conhecemos hoje foi inventado no Havaí, na década de 1940, quando o surfista John Ah Choy, que já estava idoso, viu que não conseguia mais fazer o movimento característico de levar a prancha até as ondas, ou seja, deitar de bruços nela, remar com os braços, e se colocar de pé rapidamente para começar a surfar; como alternativa, Choy decidiu pegar um remo e ir remando até a onda já de pé, surfando com o remo na mão. Seus filhos, Leroy e Bobby Ah Choy, que eram professores de surfe, gostaram da ideia, e passaram a usar o remo em suas aulas, como apoio aos surfistas iniciantes que ainda estavam aprendendo o movimento de se colocar de pé na prancha, e para que eles mesmos pudessem ficar dentro da água observando e tirando fotos enquanto os alunos surfavam.

Os irmãos Choy eram amigos de Duke Kahanamoku, um dos maiores surfistas da história, astro da natação, e considerado um dos responsáveis pela popularização do surfe fora do Havaí. Kahanamoku também se tornou adepto do uso do remo, e, conforme o surfe se espalhava pelo planeta, o SUP se espalhava junto. Após a Segunda Guerra Mundial, entretanto, o surfe teve uma imensa queda de popularidade, somente voltando a crescer na década de 1960, graças a campeonatos disputados na Califórnia; o SUP não teve a mesma sorte, porém, e permaneceu restrito ao Havaí até a década de 1990, quando outro surfista, Laird Hamilton, co-inventor do tow-in, modalidade do surfe no qual o surfista é "rebocado" até as ondas por um jet ski, decidiria fazer modificações na prancha e no remo, visando usá-las em competições de big wave, aquelas nas quais as ondas têm mais de 6 m de altura. O uso nas big waves não se concretizaria, mas logo o SUP teria um surto de popularidade, passando a ser considerado um esporte em separado em 2004, quando foi realizado seu primeiro campeonato internacional, com a participação de 49 surfistas, no Havaí.

A ISA reconheceria o SUP como esporte em 2008; a ICF o faria quase dez anos depois, em 2017, o que motivou a ISA a entrar com uma ação na Corte Arbitral do Esporte para ser reconhecida como a única competente para regular o SUP. A briga é tão feia que a ICF se valeu de seu prestígio junto ao Comitê Olímpico Internacional (afinal, a ICF é membro do COI há muito mais tempo que a ISA) para impedir que o SUP fizesse parte do programa dos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018 em Buenos Aires, já que as provas seriam organizadas pela ISA. A favor da ISA, além de regular o SUP há mais tempo, ela organiza o Campeonato Mundial de Stand Up Paddle e Paddleboard anualmente desde 2012, enquanto a ICF realizou seu primeiro e único Campeonato Mundial de Stand Up Paddle em 2019, com muito menos participantes. A favor da ICF, ela permite que provas de SUP sejam realizadas em praias, rios, lagos, represas ou qualquer outro lugar que tenha água, enquanto a ISA só organiza provas no mar.

O SUP possui duas modalidades, o stand up paddle surfing e o stand up paddle racing, ambas disputadas no masculino e no feminino, sendo que a ISA regula as duas, mas a ICF só regula o SUP racing, que é a "corrida" de SUP. Uma competição de SUP surfing é idêntica a uma competição de surfe, existindo, inclusive, competições separadas para pranchas tradicionais e para longboards; a única diferença é que os surfistas não somente podem como são encorajados a usar o remo durante as manobras, com manobras que façam uso do remo valendo pontos extras. As pranchas usadas no SUP surfing são idênticas a pranchas de surfe.

Os remos são os mesmos para o SUP surfing e o SUP racing, e são feitos de alumínio, plásticos e resinas, têm uma pá reta e arredondada apenas de um lado, e entre 1,80 e 2 m de comprimento, dependendo da altura do atleta. Já as pranchas do SUP racing são próprias para esse tipo de prova, não podendo ter mais de uma camada, não podendo ter concavidades na parte de baixo, não podendo ter leme, e, se tiverem barbatanas, elas devem ficar no terço final da prancha, e não podem criar suspensão hidrodinâmica. A ISA reconhece três tipos de prancha, com qual será usada a cada prova sendo determinado pela organização de cada torneio: a chamada Classe 12.6, com no máximo 3,81 m (ou 12 pés e 6 polegadas, daí o nome) de comprimento; a chamada Classe 14, com no máximo 4,28 m (ou 14 pés) de comprimento; e a chamada Classe Aberta, com mínimo de 4,28 m de comprimento. Todas as provas da ICF (exceto uma, como veremos) usam pranchas Classe 14.

Tanto ISA quanto ICF regulam três tipos de prova, chamadas sprint, técnica e longa distância. A sprint é igual para ambas, tendo distância de no máximo 400 m, que pode ser percorrida em linha reta ou com os competidores tendo de remar até uma boia, dar a volta nela e retornar até a linha de partida. Provas de sprint são realizadas em baterias com entre 3 e 5 competidores cada, com os melhores de cada bateria avançando para a fase seguinte, até a final, na qual o vencedor será o campeão. Diferentemente de uma prova de remo ou canoagem, uma prova de sprint do SUP não tem raias, embora, em provas que usem a boia, cada competidor tenha sua própria boia. Todas as provas de sprint da ISA usam pranchas Classe 12.6.

A prova técnica é a intermediária: para a ICF, ela tem entre 400 m e 5 km, enquanto para a ISA ela tem entre 5 e 6 km, e pode ser disputada na Classe 12.6 ou na Classe 14. Já a prova de longa distância, para a ICF, deve ter qualquer distância superior a 5 km, enquanto para a ISA deve ter entre 18 e 20 km, podendo ser disputada na Classe 12.6, na Classe 14 ou na Classe Aberta. Provas de técnica e de longa distância usam circuitos fechados demarcados com boias (sendo que uma boia verde representa uma curva para a esquerda, e uma boia azul, uma curva para a direita), com os competidores normalmente dando várias voltas ao redor do circuito para completar a distância da prova, e têm largada em massa, com todos os competidores participando da mesma prova, sem baterias. A ICF também regula uma quarta prova, chamada whitewater, disputada descendo um rio com águas bravas, em distância de no máximo 600 m e usando pranchas Classe 12, que têm no máximo 3,66 m (ou 12 pés) de comprimento.

Independentemente de se a prova é de sprint, técnica, longa distância ou whitewater, provas da ICF e da ISA podem ter dois tipos de largada, com o tipo usado em cada prova ficando a critério do organizador do torneio: na chamada largada na água, todos os competidores já começam a prova dentro da água, alinhados entre duas boias, com o nariz da prancha tocando uma linha imaginária; já na chamada largada na praia, os competidores começam fora da água, em um local especialmente demarcado, e, ao sinal de largada, correm para dentro da água, sobem em suas pranchas e começam a remar. A linha de chegada também pode ser na água, caso no qual basta cruzar uma linha imaginária para concluir a prova, ou "na praia", com os competidores tendo de sair da água e correr carregando suas pranchas e remos até uma linha de chegada demarcada fora da água. Provas técnicas costumam ter largada e chegada na praia, e provas de sprint costumam ter largada e chegada na água, mas isso é um padrão, não uma regra.

Para terminar essa parte, falta dizer que a ISA também regula, no masculino e no feminino, o paddleboard, variação do SUP na qual os surfistas ficam não de pé, mas ajoelhados ou deitados de bruços, criada para paratletas, mas que também é muito praticada por pessoas sem deficiência. O paddleboard é disputado apenas na versão racing, e sempre com a prancha Classe 12; como os atletas estão ajoelhados ou deitados, os remos também são menores, com entre 1 e 1,30 m de comprimento. As três provas oficiais da ISA (sprint, técnica e longa distância) também são disputadas no paddleboard, além da prova de revezamento, na qual cada equipe conta com dois atletas do SUP e dois do paddleboard; os quatro começam na praia, e cada um deve percorrer uma distância de 400 m, sendo que cada membro corre para dentro da água, rema 200 m até uma boia, a contorna, retorna para a areia e toca no membro seguinte, que só então começa sua parte da prova - o último membro deve correr até uma linha de chegada, sendo vencedora a equipe que cruzá-la primeiro. Provas de revezamento podem ser realizadas em baterias ou com largada em massa.

Pois bem, existem ainda alguns esportes que envolvem canoas e são regulados por outras federações internacionais, mas com as quais, ao invés de brigar, como faz com a ISA e a IDBF, a ICF decidiu fazer acordos. Os termos específicos de cada acordo são diferentes para cada federação, mas em todos eles a ICF atua como parceira na promoção dos esportes, para ajudar em sua popularização.

O mais antigo desses esportes é a canoa a vela. Canoas a vela existem desde a antiguidade, mas o inventor da canoa a vela usada em esportes hoje foi o escocês John MacGregor, que, na década de 1860, começou a experimentar a construção de canoas que pudessem ser usadas em regatas. MacGregor construiria um total de sete canoas diferentes, que chamaria de Rob Roys 1 a 7, e viajaria com elas pela Europa para promover sua invenção. Segundo MacGregor, as canoas a vela tinham vantagens em relação aos iates (pelo menos aos da época), já que eram mais leves e mais fáceis de transportar, e, caso não houvesse vento, o canoísta poderia remar para impulsioná-la. A primeira associação de canoa a vela do mundo seria fundada pelo próprio MacGregor em 1866, o British Royal Canoe Club (RCC), responsável por organizar as primeiras regatas do Reino Unido. Em 1872, seria fundado o New York Canoe Club, nos Estados Unidos, e, em 1880, a American Canoe Association (ACA), responsável por regular o esporte em todo o país. RCC e ACA se uniriam para realizar, em 1886, a primeira competição internacional de canoa a vela, que contaria com a participação de velejadores do Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha e Suécia. Apesar de se espalhar desde então pelo mundo, a canoa a vela jamais se tornaria tão popular quanto a vela (aquela que está nas Olimpíadas e também é conhecida como iatismo), e hoje é uma espécie de esporte de nicho, bastante difundido mas pouco praticado.

A canoa a vela é regulada desde 1960 por uma organização chamada International Canoe (IC), que foi reconhecida pela ICF já no ano seguinte, 1961 - pelos termos do acordo, a ICF cuida de absolutamente tudo, exceto das regras de competição e construção das canoas a vela. Assim como os iates da vela, as canoas a vela possuem classes, existindo dezenas de classes diferentes; a IC regula três classes, sendo a mais famosa a International Ten-Square Meter Sailing Canoe. Uma Ten-Square é feita principalmente de fibra de carbono, tem entre 4,9 e 5,2 m de comprimento, entre 75 e 110 cm de largura, e peso mínimo de 83,5 kg, contando com duas velas, a principal tendo área de exatamente 10 m2 (por isso o "Ten-Square Meter" no nome da classe), e uma secundária, chamada jib, menorzinha e virada para a parte traseira da canoa, que auxilia nas curvas e tem entre 3 e 4 m2. A principal característica dessa classe, porém, é uma "prancha" de 2 m de comprimento e 50 cm de largura, fixada à lateral da embarcação; ao invés de ir sentado na canoa, o velejador usa um assento deslizante nessa prancha, segurando uma vara presa ao leme e uma corda presa ao mastro que controla as velas. Embora esse sistema seja considerado mais difícil que o de manejar um iate (ou outras classes de canoa), ele também exige menos força física, e, segundo os adeptos da canoa a vela, proporciona uma maior sensação de liberdade ao velejar. Diferentemente dos iates, que costumam ser todos branquinhos, as canoas a vela são coloridas, normalmente com cores vivas como vermelho, laranja e azul.

A classe Ten-Square é dividida em três "subclasses", a mais popular chamada New Rules ou Development, na qual os competidores têm, dentro dos limites das regras da IC, liberdade para fazer modificações à canoa em nome da velocidade ou estabilidade; cada criador tem o direito a batizar sua criação, que pode inclusive ser usada por outros velejadores em competições futuras. Já na chamada One Design, também conhecida como Classic ou Nethercott, todas as canoas devem ser idênticas, seguindo o projeto criado pelo sueco Peter Nethercott e adotado como oficial pela IC em 1971. A mais recente é a subclasse Slurp, que usa um projeto criado pelo britânico Tony Marston em 2007, de fácil construção e baixo preço, que visava atrair novos praticantes para a canoa a vela. Todas as três subclasses participam juntas das mesmas provas, com as canoas da Nethercott e da Slurp recebendo um handicap, ou seja, já começando com uma vantagem na pontuação, já que as New Rules são mais velozes e conseguirão resultados melhores - mesmo com o handicap, desde a introdução das New Rules, em 2008, os principais campeonatos internacionais foram dominados por elas.

As outras duas classes reguladas pela IC são a Asymmetric Canoe e a Taifun. Uma Asymmetric nada mais é que uma canoa da subclasse Nethercott com a adição de uma terceira vela, chamada spinnaker, que infla quando recebe vento, com área entre 18 e 23 m2, que pode ser facilmente aberta ou recolhida através de um sistema hidráulico, e que aumenta a velocidade da canoa quando aberta - o asymmetric do nome vem do fato de que, diferentemente da vela principal, a spinnaker é assimétrica. Já a Taifun, apesar do nome, foi inventada na Alemanha em 1964, tem um casco arredondado e bem mais leve - com por volta de 50 kg - e não conta com a prancha, com o velejador se sentando na lateral da canoa e controlando as velas como se ela fosse um iate. Além dessas três classes, podemos citar a American Class, regulada pela ACA, que se parece com uma canoa indígena e conta com dois velejadores, e a Cruising Class, usada principalmente para longas distâncias, que tem uma vela enorme, e na qual o velejador vai sentado dentro da canoa.

Uma competição de canoa a vela é composta de uma série de regatas, disputadas em um circuito fechado, demarcado com boias, no qual as canoas darão uma quantidade determinada de voltas. Pelas regras da IC, uma competição oficial deve ter no mínimo cinco regatas, com o pior resultado de cada canoa sendo descartado, e o número mínimo de canoas por regata é de seis, embora não haja máximo. A cada regata, as canoas ganham pontos de acordo com sua posição final (o vencedor ganha 1 ponto, o segundo colocado ganha 2, e assim por diante), e, ao final da última regata, o vencedor será aquele que tiver somado menos pontos. A principal competição de canoa a vela é o Campeonato Mundial de Canoa a Vela, organizado pela ICF desde 1961, originalmente a cada quatro anos, mas desde 1969 a cada três. Nas três primeiras edições o projeto da canoa era livre, mas, entre 1972 e 2008, todas deviam ser da classe Nethercott; em 2011 houve provas separadas para New Rules e One Design, e, em 2014, estreou a Slurp e as três subclasses da Ten-Square passaram a competir juntas. A classe Asymmetric estrearia em 2002, e a Taifun em 2017. O Mundial é um campeonato misto, com homens e mulheres disputando as mesmas provas, mas outros campeonatos podem ter provas separadas masculinas e femininas para diferentes classes.

Outro esporte reconhecido pela ICF é o waveski, regulado desde 1983 pela Associação Mundial de Surfe em Waveski (WWSA), que hoje conta com 85 membros, incluindo o Brasil, e que tem um acordo com a ICF desde 1997. Um waveski é uma mistura de prancha de surfe com caiaque, inventado na década de 1970 por Danny Broadhurst, um surfista de Nova Iorque; na época, alguns praticantes de caiaque treinavam no mar, e, ao ver os surfistas pegando ondas, decidiram se arriscar e pegar ondas com os caiaques. Broadhurst achou a ideia interessante, e, após algumas tentativas com um caiaque de verdade, começou a trabalhar em um modelo de caiaque que fosse mais parecido com uma prancha de surfe, para facilitar as manobras. O auge da popularidade do waveski seria na década de 1980, quando ele se espalharia pelos Estados Unidos, Austrália e Europa; um aumento na popularidade do surfe na década de 1990, entretanto, levaria a um declínio do waveski e à falência de vários fabricantes de waveskis. Após quase sumir na década de 2000, o waveski vem crescendo novamente em popularidade, principalmente graças a seu uso por paratletas.

Feito de epóxi e poliestireno, com comprimento máximo de 3,66 m e pesando entre 6 e 8 kg, um waveski é praticamente uma prancha de surfe, mas mais grosso e com a frente levemente elevada; sua principal característica, porém, é um assento, com cinto de segurança, e duas presilhas, para que o surfista se posicione não de pé, mas sentado na mesma posição em que estaria se estivesse em um caiaque, com os joelhos levemente dobrados e os pés presos às presilhas. Um waveski conta com duas barbatanas na parte inferior, e cada surfista usa também um remo, igual ao do caiaque mas mais curto, com por volta de 1 m de comprimento, usado não somente para levar o waveski até as ondas, mas também para ajudar nas manobras. Várias das manobras inventadas para o waveski mais tarde migrariam para o surfe, menos aquela que é considerada sua marca registrada, o eskimo roll, um movimento com o qual o caiaque gira em torno de seu próprio eixo, com o surfista passando por dentro da água - que é até impossível de fazer de pé em uma prancha, pra falar a verdade.

Uma competição de waveski é igual a uma competição de surfe: os surfistas vão para a água em baterias, realizam manobras, recebem notas dos jurados, e os mais bem colocados de cada bateria avançam para a fase seguinte, até a final, quando o que obtiver as melhores notas será o vencedor. Normalmente as baterias são compostas de quatro surfistas cada, mas, se isso não for possível, todas devem ter o mesmo número de surfistas. Competições oficiais da WWSA têm no máximo 64 surfistas, quatro fases, dez surfistas na final, e repescagem - ou seja, quem não avança pra fase seguinte por nota tem uma segunda chance. Além das competições individuais masculina e feminina, a WWSA regula uma competição por equipes chamada tag team, com equipes masculinas ou femininas de 4 ou 6 surfistas cada. Cada bateria conta com quatro equipes, e apenas um dos membros da equipe pode ir para a água de cada vez; cada membro da equipe surfa duas ondas e dá lugar ao seguinte, seguindo a ordem de uma lista entregue à organização antes da bateria. As notas de todos os membros da equipe são somadas, e são feitos descontos por surfar fora da vez ou surfar mais de duas ondas, dentre outras infrações, para se determinar a nota final de cada equipe.

Também é importante dizer que, desde 2012, a WWSA regula o adaptive waveski, a versão paralímpica do waveski, que segue exatamente as mesmas regras das competições individuais, mas é destinada a atletas com pouca ou nenhuma mobilidade das pernas, como paraplégicos. Entre 2015 e 2018, o waveski era usado por surfistas da classe AS-3 nas competições de adaptive surfing da ISA, mas, após muitas reclamações da WWSA, no final de 2019 as duas entidades chegaram a um acordo que levou à reformulação das classes paralímpicas da ISA (AS-1UL virou Stand 1, AS-1LL virou Stand 2, AS-2 virou Stand 3, AS-4 virou Prone 1, AS-VIB1 virou Vision Impairment 1, AS-VIB2 e AS-VIB3 foram fundidas na Vision Impairment 2, foram criadas as novas Kneel, para atletas que surfam ajoelhados, e Prone 2, para atletas que surfam deitados de bruços e precisam de ajuda para chegar nas ondas, e as AS-3 e AS-5 foram extintas). No Campeonato Mundial de Adaptive Surfing de 2020, o adaptive waveski fez parte do programa como "esporte convidado".

Assim como no surfe, existe um Circuito Mundial de Waveski, disputado anualmente desde 1984, que atualmente conta com quatro etapas, na Austrália, África do Sul, Estados Unidos e França, e um ranking mundial, para o qual os surfistas vão ganhando pontos de acordo com sua participação nas etapas, sendo campeão do Circuito o que terminar o ano com mais pontos. A cada dois anos desde 2014, após uma primeira edição em 2011, também é realizado o World Waveski Surfing Titles, o equivalente a um campeonato mundial, em uma única etapa. Tanto no Circuito Mundial quanto no World Waveski Surfing Titles são disputadas as provas individual masculina, individual feminina e individual adaptive mista, na mesma sede e durante a mesma competição; o World Waveski Surfing Titles também conta com as provas de tag team masculina e feminina.

O mais recente esporte reconhecido pela ICF é o rafting, aquele no qual um grupo de pessoas desce águas bravas em um bote. O acordo da ICF com a Federação Mundial de Rafting (WRF), firmado em 2018, é o mais curioso de todos, pois basicamente a ICF reconhece que o rafting existe e promete se esforçar para que ele seja incluído em eventos como os World Games e as Olimpíadas, ficando todo o resto, como a definição das regras e organização dos campeonatos, a cargo da WRF.

O rafting surgiu nos Estados Unidos no século XIX, com aquele que é considerado o primeiro evento de rafting da história tendo ocorrido em 1811, quando uma expedição tentou navegar o Rio Snake, no Wyoming, que tinha o apelido de "Rio Louco" por causa de suas águas bravas, correnteza e pedras. Essa expedição não foi bem sucedida, e, durante anos, exploradores se dedicaram a criar novos equipamentos para navegação em águas bravas, testando-os em outros rios do país. Os primeiros botes de borracha surgiriam na década de 1930, e, em 1940, finalmente uma expedição, comandada por Clyde Smith, conseguiria navegar o Rio Snake.

Durante muitos anos, porém, o rafting seria um esporte restrito a pequenos grupos com muito dinheiro, que organizavam expedições apenas para desbravar os rios da América, mais ou menos como as expedições de montanhismo que visavam escalar as montanhas mais altas do mundo. Em 1984, o rafting chegaria à França, levado por uma empresa chamada French Aventure Nouvelle, que o vendia a preços acessíveis como uma nova opção de turismo de aventura no país, o que logo se tornaria um grande sucesso e se espalharia para outros países, inclusive os próprios Estados Unidos. Em 1989, a organização Peace Foundation negociaria com empresas que vendiam passeios de rafting como turismo de aventura nos Estados Unidos e na União Soviética para realizar a primeira prova internacional de rafting da história, com a intenção de estreitar as relações de amizade entre esses dois países. Essa competição teria duas etapas, a primeira disputada em 1989 no Rio Chuya, na Sibéria, e a segunda em 1990 no Rio Nantahala, na Carolina do Norte, contando com a participação de 50 equipes representando 25 países. O sucesso dessas provas levaria à realização de mais duas, na Costa Rica em 1991 e na Turquia em 1993, e a uma série de provas disputadas apenas por países europeus na Europa entre 1990 e 1994, que culminaram com o primeiro Campeonato Mundial de Rafting, realizado em 1994 na Itália.

Vendo que era necessária uma organização para que o rafting fosse disputado com as mesmas regras no mundo inteiro, representantes dos cerca de 30 países que praticavam o rafting na época se reuniriam na Alemanha em 1997 e fundariam a Federação Internacional de Rafting (IRF), que hoje conta com 54 membros. Em 2017, um grupo de oito desses membros, liderados pela Espanha e insatisfeitos com a IRF, se desligaria e fundaria a WRF, que firmaria o acordo com a ICF no ano seguinte. Minha desconfiança é a de que a ICF já estava querendo mesmo regular o rafting e brigar com a IRF, mas, por causa da fundação da WRF, decidiu que firmar um acordo com ela seria menos desgastante. De qualquer forma, a WRF hoje conta com 38 membros, sendo que 26 também são membros da IRF - o Brasil, por exemplo, é membro das duas. Em termos de regras, as diferenças entre as duas são pouquíssimas, de forma que o que eu falar aqui serve para ambas, exceto quando especificamente indicado.

O bote usado no rafting é feito de nylon, kevlar, PVC e poliuretano, é inflável, e deve ser capaz de esvaziar sozinho, sem que os competidores precisem ficar apertando ou usar qualquer mecanismo; para inflar os botes é usada uma máquina específica, mas normalmente eles já são levados para o local de competição inflados. Cada bote deve ter uma corda de segurança em volta, que passa por dentro de oito anéis afixados no corpo do bote, e no mínimo uma presilha no fundo do bote para cada integrante da equipe, na qual ele prenderá um de seus pés. Os remos são feitos de madeira, plástico, fibra de carbono e alumínio, e têm cerca de 1,5 m de comprimento, um pouco mais ou um pouco menos dependendo da altura do atleta. Cada remo só tem uma pá, que costuma ter cada lado de uma cor, e é totalmente reta. O bote não pode ter qualquer local para apoio do remo quando o atleta estiver remando. Cada bote costuma levar um remo extra para cada integrante da equipe, preso ao fundo do bote por um velcro, para caso seu remo se quebre durante a prova. Um bote que vire pode continuar na prova normalmente caso seus ocupantes consigam desvirá-lo.

Tanto a IRF quanto a WRF regulam botes de quatro e de seis integrantes, chamados, respectivamente, de R4 e R6. Um R4 deve ter no mínimo 3,40 m de comprimento, 1,70 m de largura, e pesar no mínimo 40 kg; um R6 deve ter no mínimo 4,20 m de comprimento, 2 m de largura, e pesar no mínimo 50 kg. A WRF também regula o chamado packraft, que leva um único ocupante, deve ter no mínimo 1,80 m de comprimento, 90 cm de largura, e pesar no mínimo 2 kg; o packraft não precisa ter a presilha para os pés, e seu remo possui pás ligeiramente curvas de ambos os lados, como o de um caiaque. Para melhor visualização, botes usados no rafting costumam ter cores chamativas como amarelo ou laranja. Todos os competidores devem usar capacetes de proteção e coletes salva-vidas, também em cores chamativas.

Existem três tipos de prova, a RX (chamada pela IRF de head to head ou H2H), o slalom e o downriver. O downriver é a prova mais simples: cada bote desce um trecho de rio, sendo vencedor o que completá-lo em menos tempo. Esse trecho obviamente deve ser o mesmo para todos os botes, e ter no mínimo 3 e no máximo 7 km de extensão. A largada pode ser individual, com cada bote largando um minuto após a largada do anterior, os tempos sendo registrados, e o menor tempo sendo o vencedor; em baterias, com grupos de botes largando juntos, cada grupo largando dois minutos após a largada do anterior, e o vencedor sendo o que completar o percurso em menos tempo, independentemente de em qual bateria estava; ou em massa, com todos os botes da prova largando juntos e aquele que cruzar a linha de chegada primeiro sendo o vencedor. A IRF também regula um tipo de prova de downriver chamado sprint, no qual a distância é de apenas 600 m.

A RX ou H2H é uma competição entre dois botes, que descem o mesmo trecho de rio simultaneamente, sendo vencedor aquele que cruzar a linha de chegada primeiro. Uma prova de RX tem duas etapas, a classificatória e a eliminatória. Na classificatória (que, na IRF, é uma prova de sprint com largada individual) os botes descem o rio um a um, e seu tempo é registrado; na eliminatória eles são pareados de acordo com esses tempos (o melhor com o pior, o segundo melhor com o segundo pior etc.), com o de melhor tempo podendo escolher de qual lado do rio quer ficar, e aí os vencedores de cada embate vão avançando e os perdedores vão sendo eliminados, até a final, na qual o vencedor será o campeão - não costuma haver "disputa do bronze", com os dois perdedores das semifinais terminando em terceiro. A distância máxima do trecho que os botes vão descer é de 600 m; na fase classificatória, cada bote larga 2 minutos após a largada do anterior, e na fase eliminatória cada dupla larga 4 minutos após a largada da dupla anterior. Na fase eliminatória, cada prova conta com quatro boias cônicas de 1,50 m de altura e 1 m de diâmetro na base, presas duas à margem esquerda e duas à direita; cada bote deve tocar, com a mão ou com o remo, em uma boia de cada lado antes de cruzar a linha de chegada, podendo escolher quais duas vai usar. Penalidades em segundos podem ser aplicadas ao tempo final dos botes por não tocar nas boias, tocar nelas incorretamente (em duas do mesmo lado ou fazendo com que saiam do lugar, por exemplo), ou por atrapalhar o outro bote de propósito.

Já a prova do slalom se parece com uma competição de canoagem slalom: em um trecho de rio de no máximo 600 m são instalados portais, sendo que os portais verdes têm de ser vencidos no sentido da descida, e os vermelhos no sentido da subida - em outras palavras, basta passar por dentro de um portal verde quando ele aparece, mas nos vermelhos é preciso passar por fora dele, dar meia volta, e passar por dentro dele remando contra a correnteza. Os portais são compostos por dois postes cada, mas não são fincados no fundo do rio, e sim suspensos por cabos de aço; esses postes são feitos de madeira ou PVC, têm 2 m de altura e entre 5 e 7 cm de diâmetro, são listrados de branco e da cor do portal, e numerados, com uma placa amarela com número preto acima de cada um deles. Cada prova deve ter entre 8 e 14 portais, sendo que 25% deles, arredondado para baixo, devem ser vermelhos. Encostar nos portais, deixá-los passar ou passar por eles no sentido errado resulta em acréscimo de segundos ao tempo final. Os botes passam pelo circuito um por um, com o seguinte largando entre 2 e 5 minutos após a largada do anterior; cada bote faz duas descidas, sendo que a segunda é na ordem do pior para o melhor da primeira, mas apenas a melhor das duas de cada bote é considerada para se determinar as posições finais - ou seja, se o tempo da segunda descida for pior que o da primeira, vale o tempo da primeira.

O campeonato mais importante do rafitng é o Campeonato Mundial de Rafting, que tem três versões. O Mundial de R6 da IRF foi disputado anualmente de 1998 a 2001, e o é a cada dois anos desde então; desde o começo, ele conta com provas masculinas e femininas de sprint, downriver, slalom e overall (que na verdade não é uma prova, e sim a soma dos resultados de cada país nas outras provas, para determinar o "campeão geral"), com o H2H masculino e feminino tendo estreado em 2001. Já o Mundial de R4 da IRF foi disputado pela primeira vez em 2010, e então a cada dois anos desde 2014, sempre contando com provas masculinas e femininas de sprint, downriver, H2H, slalom e overall; o Brasil sediou o Mundial de R4 em 2014, em Foz do Iguaçu, e já ganhou 9 ouros, 4 pratas e 5 bronzes no R4 e 21 ouros, 6 pratas e 2 bronzes no R6, todas no masculino, exceto uma prata no R6 sprint feminino em 2015. Finalmente, o Mundial de R4 da WRF é disputado anualmente desde 2018, com provas masculinas e femininas de RX, slalom e downriver, e mistas de RX; o Brasil tem 3 ouros, todos no masculino.

Com a ajuda da ICF, a WRF também passou a regular a versão paralímpica do rafting, chamada para-rafting, em 2018. Os paratletas são divididos em várias classes de acordo com o tipo e gravidade de sua deficiência: os amputados são classificados como A1 (somente possuem uso dos braços), A2 (uso de braços e tronco) e A3 (uso de braços, pernas e tronco); os deficientes visuais de B1 a B3, de acordo com o prejuízo à visão (sendo os B1 os mais prejudicados); os paralisados cerebrais como CP1 a CP6, dependendo do grau de comprometimento dos movimentos (sendo os CP1 os que têm os movimentos mais comprometidos); e os paratletas com lesão na coluna vertebral como SC1 (nenhum movimento nas pernas) e SC2 (algum movimento nas pernas). O Campeonato Mundial de Pararafting foi disputado pela primeira vez em 2019, com provas mistas R4 de downriver, RX e slalom.

Para terminar, vamos falar da va'a, que eu citei no primeiro post sobre canoagem, mas sem me aprofundar. Também conhecida aqui no Brasil como canoa polinésia ou canoa havaiana, a va'a é uma canoa na qual o atleta rema sentado, com os joelhos dobrados, sem poder levantar as nádegas enquanto está remando, e usando um remo de uma única pá, com todas as remadas devendo ser dadas do mesmo lado da canoa; a principal característica da va'a, porém, é que ela possui um "apoio" preso por duas barras à sua lateral, como se fosse o sidecar de uma moto, que se chama ama, mas é conhecido em inglês como outrigger, e cuja função não é levar um passageiro extra, e sim ajudar a canoa a manter seu equilíbrio. A va'a é regulada pela Federação Internacional de Va'a (IVF), com quem a ICF tem um acordo para que as va'a sejam usadas apenas nas provas de paracanoagem, sendo que, em duas classes, os paratletas devem remar na posição stride, a mesma das canoas canadenses, e não sentados - ou seja, para a ICF, a va'a é uma substituta das canoas canadenses para os paratletas. Já a IVF organiza provas de va'a de sprint e de longa distância também para atletas sem deficiência, algo que, pelos termos do acordo, firmado em 2012, a ICF não pode fazer.

A IVF reconhece canoas de um, dois, três, seis e doze ocupantes, simbolizadas pela letra V seguida pelo número de ocupantes (ou seja, V1, V2, V3, V6 e V12). As regras da IVF não determinam comprimento ou peso máximo ou mínimo para cada tipo de canoa, apenas determinando que, em uma mesma prova, todas as canoas devem ser "feitas do mesmo molde", tendo o mesmo comprimento, altura e peso, e que lastros podem ser usados para que todas tenham o mesmo peso. Desde 2002, a IVF também organiza provas paralímpicas (chamadas de parava'a) para V1, V6 e V12; como parte do acordo com a ICF, atletas da parava'a usam as mesmas classificações da paracanoagem: L1 para os que possuem mobilidade plena dos braços, mas pouca mobilidade no tronco, o que dificulta seu ato de remar; L2 para os que possuem boa mobilidade no tronco e braços, mas pouca ou nenhuma nas pernas, como paraplégicos; e L3 para os que possuem boa mobilidade do tronco, braços e pernas, mas alguma condição que os desfavoreça nas competições com os atletas sem deficiência, como amputados que competem com próteses. Essas classificações são combinadas ao V e ao número para o código da prova, o que resulta em códigos como V1L2 ou V6L3.

As provas de sprint são realizadas em raias, e podem ser feitas em linha reta ou com as canoas tendo de chegar até uma bandeira, dar a volta nela e retornar até a linha de partida. Uma competição oficial deve ter no mínimo 6 e no máximo 8 raias, e cada raia deve ter entre 12 e 17 m de largura caso a prova seja em linha reta e entre 25 e 35 m de largura caso tenha a curva. As raias são demarcada por boias coloridas, devendo haver uma boia a cada 10 ou 15 metros. As provas oficiais de sprint da IVF são V1 500 m, V2 500 m, V6 500 m, V6 1.000 m, V6 1.500 m e V12 500 m, masculinas e femininas; na parava'a, são V1 250 m e V1 500 m masculinas e femininas, e V6 500 m, V6 1.000 m e V12 500 m mistas.

Já as provas de longa distância têm distância mínima de 5 km, e, teoricamente, não têm distância máxima; são realizadas com largada em massa, sem raias, com algumas boias para guiar os atletas quanto ao percurso, e com várias canoas disputando o mesmo espaço, com regras que preveem penalidades em tempo caso uma canoa atrapalhe outra propositalmente. Como é praticamente impossível fazer um percurso de mais de 5 km em linha reta, provas de longa distância contam com curvas, que põem à prova a habilidade dos remadores; para facilitar a vida dos V1 e V2, elas podem ter um leme, controlado pelos pés do atleta, que auxilia na hora de fazer as curvas - provas que usam canoas com leme são disputadas em separado das que não permitem leme, e são identificadas pela letra R (de rudder, leme em inglês) após o número (ou seja, V1R ou V2R). As provas oficiais de longa distância da IVF são as de V1, V1R, V2R, V3 e V6, masculinas e femininas; na parava'a são disputadas as V1 masculina e feminina e V6 mista.

A IVF foi fundada em 1982, na Califórnia, e hoje conta com 40 membros, incluindo o Brasil, e três curiosidades: assim como no surfe, o Havaí é um membro separado dos Estados Unidos, com os havaianos competindo separadamente dos norte-americanos; por questão de tradição, a Califórnia também é, com os californianos também competindo separados dos norte-americanos e havaianos; e a Ilha de Páscoa, com o nome de Rapa Nui, também é um membro em separado, com os atletas de lá competindo separados dos chilenos. Também vale citar que um dos membros da IVF é as Ilhas Wallis e Futuna, um território da França na Polinésia que não costuma ter destaque em outros esportes.

O campeonato mais importante da IVF é o Campeonato Mundial de Sprints, disputado a cada dois anos desde 1984, com a parava'a tendo estreado em 2008; o Brasil já foi sede do Mundial, em 2014. Como o nome sugere, o Mundial conta apenas com provas de sprint; as provas de longa distância são disputadas no Campeonato Mundial de Distância, que é bem mais recente, disputado a cada dois anos desde 2017. No Mundial de Distância são disputadas sempre três provas para cada tipo de canoa, uma com entre 5 e 9 km, uma com entre 15 e 18 km e uma com entre 25 e 30 km, ficando as exatas distâncias a critério da organização.
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Escrito por em 25.1.16 com 0 comentários

Canoagem (I)

Hoje eu darei mais um passo rumo ao objetivo não-declarado de falar sobre todos os esportes do programa das Olimpíadas, falando sobre canoagem. Porque eu gosto de fazer esses posts que falam de um monte de esportes de uma vez só, e descobri que a canoagem proporcionaria um desse estilo. Então vamos lá.

Canoas de vários formatos e tamanhos eram usadas por diversos povos indígenas, de forma que é impossível determinar quem as teria inventado. Esses povos as usavam não somente para locomoção, mas também para pesca, comércio, e, evidentemente, para competições esportivas, para determinar quem seria o mais hábil no manejo da canoa. A canoagem como conhecemos hoje, entretanto, é um esporte recente, tendo surgido no final do século XIX no norte da Europa, especialmente na Holanda e na Dinamarca, onde várias cidades realizavam corridas de canoas durante festivais. Conforme essas corridas se popularizavam, começariam a surgir os primeiros clubes de canoagem, nos quais os amantes das canoas poderiam não somente apostar corridas, mas também usar suas canoas para remar um pouco e relaxar.

O foco, entretanto, era nas corridas, com as competições entre os clubes se tornando bastante comuns no início do século XX. Como de costume, cada clube determinava suas próprias regras, e, para pôr um fim nessa bagunça, começaram a surgir as federações nacionais, que estabeleciam regras unificadas para todo o país. O próximo passo, como vocês já sabem, era a criação de uma federação internacional, para que o mundo inteiro usasse as mesmas regras. Esse passo seria dado em 1924, quando as federações nacionais de Alemanha, Áustria, Dinamarca e Suécia se uniram e fundaram a Internationalen Repräsentantenschaft Kanusport, que, em 1946, com a adição de muitos novos membros, dentre eles os Estados Unidos, mudaria de nome para Federação Internacional de Canoagem (ICF, na sigla em inglês), sendo até hoje o órgão máximo da canoagem esportiva.

Hoje, a ICF conta com 157 membros, incluindo o Brasil, e regula um total de nove esportes que usam canoas. Sobre um deles, o polo a canoa, eu já falei, lá no post sobre polo. Os outros oito nós veremos a partir de agora.

Vamos começar pela canoagem sprint, também conhecida como canoagem de velocidade, o mais básico dos esportes de canoagem, descendente direto das corridas de canoas. Uma prova de canoagem sprint se parece bastante com uma prova de remo: na água, são demarcadas, usando boias, nove raias (ou oito, no caso das Olimpíadas). Em cada uma dessas raias se posicionará uma canoa, que pode ter um ou mais ocupantes, tocando, com sua frente, uma linha de largada imaginária, que cruza a primeira coluna de boias. A um sinal sonoro, os participantes começam a remar, e seu objetivo, sempre se mantendo em sua própria raia, é tocar com a frente da canoa antes dos demais uma linha de chegada imaginária, que cruza a última coluna de boias. Evidentemente, quem cruzar essa linha de chegada primeiro será o vencedor. Caso haja mais participantes do que raias, são realizadas provas classificatórias, com os competidores com os melhores tempos nestas se classificando para a final. As distâncias oficiais da ICF são 200, 500, 1.000 e 5.000 metros.

Competições de canoagem sprint reguladas pela ICF usam dois tipos de canoa. O mais conhecido do público é o caiaque, uma canoa fechada de origem esquimó, na qual o competidor se posiciona sentado. As principais características do caiaque são a de que ele possui um leme, com o qual é possível alterar a direção na qual ele está navegando, controlado pelos pés do competidor dentro do caiaque, e a de que seu remo possui duas pás, uma de cada lado, com o competidor remando alternadamente de um lado e do outro. Curiosamente, as pás do remo do caiaque não são retas, e sim possuem um formato semelhante ao de uma colher, para ajudar no deslocamento da água. Nas competições, as provas de caiaque são simbolizadas pela letra K, seguida do número de ocupantes do caiaque: K1 (um ocupante), K2 (dois ocupantes) ou K4 (quatro ocupantes). Caiaques são feitos de fibra de carbono e resina, e possuem comprimento máximo de 5,2 m (K1), 6,5 m (K2) ou 11 m (K4), largura mínima de 60 cm, e peso mínimo, sem o competidor, de 12 Kg (K1), 18 Kg (K2) ou 30 Kg (K4). Os remos são feitos de fibra de carbono ou fibra de vidro. O design geral do caiaque deve seguir normas estabelecidas pela ICF, existindo pouca variação entre um caiaque e outro em uma mesma competição.

O segundo tipo de canoa usado nas competições da ICF é bem mais curioso, e conhecido como canoa canadense. Criada, evidentemente, no Canadá, a a canoa canadense (que costuma ser chamada só de canoa para simplificar) é aberta, feita de kevlar e resina, e, ao remar, o competidor assume uma posição curiosa, chamada stride, com uma das pernas ajoelhada sobre a canoa e a outra posta à frente, dobrada de forma que o joelho aponte para o bico da canoa e a sola do pé toque totalmente sua superfície. O remo da canoa, feito de fibra de carbono ou fibra de vidro, só possui pá de um dos lados, sua pá é bem mais reta que a do remo do caiaque, e, durante toda a competição, o remador deverá remar do mesmo lado da canoa, podendo, porém, escolher o lado de sua preferência. A canoa não possui leme, devendo sua direção ser controlada com o próprio remo. Provas de canoa são simbolizadas pela letra C, existindo provas de C1, C2 e C4. O comprimento máximo da canoa é de 5,2 m (C1), 6,5 m (C2) ou 9 m (C4) e o peso mínimo é de 16 Kg (C1), 20 Kg (C2) ou 30 Kg (C4). Até o ano 2000, existiam normas gerais para as canoas (que, inclusive, determinavam largura mínima de 75 cm), mas hoje o design é livre, o que permitiu várias inovações que levaram a maior velocidade.

A canoagem sprint participou pela primeira vez das Olimpíadas em 1924, em Paris, quando foi esporte de demonstração. Na ocasião, participaram apenas duas equipes, a seleção canadense e o Clube de Canoa de Washington, dos Estados Unidos, em provas de C1, C2, C4, K1, K2 e K4 masculinas, na distância de 1.000 metros, em raias montadas no Rio Sena. O esporte passaria a fazer parte do programa oficial doze anos depois, em 1936, em Berlim, com provas de C1 e K1 1.000 m e de C2 e K2 1.000 m e 10.000 m, além de curiosas provas de K1 e K2 "dobrável" (usando caiaques feitos de material que podia ser dobrado para transporte) na distância de 10.000 m, também todas masculinas. As mulheres começariam a competir já na edição seguinte, em 1948, em Londres, com provas de K1 500 m. Até hoje, aliás, as mulheres só competem nas Olimpíadas em provas de caiaque, o que é motivo de muitos protestos por parte das praticantes de canoa. O programa atual das Olimpíadas tem provas masculinas de C1, K1 e K2 200 m, C1, C2, K1, K2 e K4 1.000 m, e femininas de K1 200 m, K1 e K2 500 m e K4 1.000 m.

Além de fazer parte das Olimpíadas, a canoagem sprint possui seu próprio Mundial, o Campeonato Mundial de Canoagem Sprint, realizado pela primeira vez em 1938, e então em intervalos irregulares até 1970, quando passou a ser realizado anualmente, exceto em ano de Olimpíada. Atualmente são disputadas no Mundial provas masculinas de C1, C2, K1 e K2 200 m e 500 m; C1, C2, C4, K1, K2 e K4 1.000 m; C1 e K1 5.000 m; e as curiosas provas de revezamento C1 e K1 4 x 200 m. No feminino, são disputadas provas de C1, K1 e K2 200 m; C2, K1, K2 e K4 500 m; K1 e K2 1.000 m; e K1 5.000 m; além do revezamento K1 4 x 200 m.

A ICF também regula a paracanoagem, que é, essencialmente, a canoagem sprint disputada por paratletas. As regras são as mesmas, com apenas duas diferenças: todas as competições são individuais (ou seja, apenas um competidor por canoa) e, ao invés de caiaque e canoa canadense, os dois tipos de canoa usados são o caiaque e a va'a, uma canoa de origem polinésia semelhante à canadense, mas que possui uma quilha lateral, presa a seu casco por dois suportes, que auxilia no equilíbrio da canoa e do atleta dentro dela. Assim como na canoa canadense, o remo da va'a só possui pá de um lado, e todas as remadas são feitas do mesmo lado; os atletas podem se posicionar na posição stride ou sentados, de acordo com sua classificação. Tanto no caiaque quanto na va'a, todas as provas oficiais de paracanoagem da ICF são disputadas na distância de 200 metros.

Assim como os demais esportes paralímpicos, a paracanoagem conta com um sistema de classificação para dividir os competidores, garantindo que todos possam competir em igualdade de condições. Os atletas da paracanoagem podem ser classificados em três níveis: L1, para os que possuem mobilidade plena dos braços, mas pouca mobilidade no tronco, o que dificulta seu ato de remar; L2, para os que possuem boa mobilidade no tronco e braços, mas pouca ou nenhuma nas pernas, como paraplégicos; e L3, para os que possuem boa mobilidade do tronco, braços e pernas, mas alguma condição que os desfavoreça nas competições com os atletas sem deficiência, como amputados que competem com próteses. Essa classificação é combinada com as letras K ou V para se determinar o código das provas de caiaque ou va'a, respectivamente, criando os códigos KL1, KL2, KL3, VL1, VL2 e VL3. Atletas da VL2, falando nisso, são aqueles que podem competir sentados ao invés de na posição stride.

A paracanoagem fará sua estreia nas Paralimpíadas no Rio de Janeiro, em 2016. Suas provas fazem parte, entretanto, do Campeonato Mundial de Canoagem Sprint, desde 2010. Atualmente, são disputadas no Mundial todas as 12 provas possíveis (KL1, KL2, KL3, VL1, VL2 e VL3 200 m masculinas e femininas); para as Paralimpíadas, entretanto, estão previstas apenas as seis provas de caiaque.

Vale citar, aliás, que existem provas de va'a sprint para atletas sem deficiência, que não são reguladas pela ICF, e sim pela Federação Internacional de Va'a (IVF), que possui 35 membros, incluindo o Brasil. A IVF possui um acordo com a ICF, segundo o qual a ICF pode organizar competições de va'a sprint paralímpicas, para ajudar no desenvolvimento do esporte, desde que não organize competições que não sejam paralímpicas. Não seria possível incluir provas de va'a nas Paralimpíadas, entretanto, porque a IVF ainda é considerada o órgão máximo das provas de va'a, e a IVF não é filiada ao Comitê Paralímpico Internacional.

Outro esporte regulado pela ICF é a maratona. As primeiras maratonas começaram a surgir na década de 1960, e consistiam em realizar um longo percurso, de mais de 100 Km, ao longo de vários dias, seguindo o curso de um rio. Muitas das provas criadas naquela época ainda existem, como a Maratona Internacional Devizes-Westminster, na Inglaterra, com 201 Km entre as cidades de Devizes e Westminster percorridos ao longo de quatro dias; a Maratona de Dusi, na África do Sul, com 120 Km percorridos em três dias, entre as cidades de Pietermaritzburg e Durban; e o Tour de Gudena, na Dinamarca, também com 120 Km, mas percorridos em dois dias, ao longo do Rio Gudena. Essas maratonas, entretanto, não são organizadas pela ICF, e sim por comitês locais.

A ICF passaria a reconhecer a maratona como um esporte de canoagem em 1975, após as federações nacionais de Grã-Bretanha, Irlanda, Holanda, Noruega e Dinamarca protocolarem um pedido para que ela passasse a regular a maratona internacionalmente. As primeiras competições da ICF, entretanto, só seriam realizadas em 1988, pois os membros de um comitê criado para definir as regras padronizadas da maratona passaria anos discutindo qual seria o melhor formato a ser adotado. Curiosamente, as regras adotadas pela ICF acabariam bastante diferentes daquelas das maratonas existentes até então, o que faria com que muitos praticantes passassem a se referir ao esporte regulado pela entidade como "maratona de canoas da ICF", para diferenciá-lo da maratona "clássica".

As maratonas da ICF podem ser realizadas com caiaques ou canoas canadenses, nas categorias K1, K2, C1 e C2, sendo que as provas das canoas canadenses são disputadas exclusivamente no masculino. Não há uma distância padrão a ser percorrida, mas a distância da prova deve ser sempre superior a 20 Km. A largada da maratona é em massa, ou seja, todas as canoas largam juntas, e o vencedor será aquele que cruzar a linha de chegada primeiro. Dependendo do número de participantes, várias classes podem competir juntas, cada uma com seu próprio vencedor - por exemplo, os K1 e K2 podem competir juntos, mas o primeiro K1 a chegar será o vencedor da classe K1 e o primeiro K2 a chegar será o vencedor da classe K2, não importa qual a posição de cada um na classificação geral da prova.

Para permitir que mais locais possam abrigar competições de maratona - afinal, nem todo mundo tem à disposição um rio de mais de 20 Km de extensão capaz de comportar várias canoas correndo simultaneamente - a ICF permite duas coisas que não existiam nas maratonas originais: primeiro, que o percurso seja em um circuito, com os participantes completando voltas - a Maratona de Crestuma, em Portugal, por exemplo, consiste em cinco voltas de 4,3 Km cada, totalizando 21,5 Km. Segundo, que a prova tenha as chamadas portages, trechos nos quais o competidor deve levar a canoa até terra firme, sair dela, correr carregando-a, e então colocá-la novamente na água, entrar nela e sair remando - a Maratona de Cesky Krumlov, na República Tcheca, tem 34 Km no total, mas nada menos que nove portages, algumas com trechos de mais de 100 metros. Essas duas "inovações" permitem que as maratonas da ICF sejam realizadas em lagos, represas, ou até pegando trechos de rios diferentes, o que, seguindo seu objetivo, aumenta o número de locais qualificados para receber uma maratona. A maioria das maratonas da ICF é realizada em um único dia, mas provas de mais de um dia, nos moldes das maratonas originais, também são permitidas pela entidade - a Descida de Avon, na Austrália, é realizada ao longo de dois dias, com 52 Km percorridos no primeiro e 72 Km no segundo.

Atualmente, a ICF luta para que a maratona seja incluída nas Olimpíadas, para tentar aumentar a popularidade do esporte. Com esse intuito, ela a incluiu como esporte convidado nos World Games de 2013, realizados em Cali, Colômbia, com seis provas de 20 Km (C1, C2, K1 e K2 masculino, K1 e K2 feminino) realizadas em uma represa, que, infelizmente, não atraíram muito público. Enquanto não entra nas Olimpíadas, a maratona da ICF possui dois campeonatos internacionais de renome, o Campeonato Mundial de Maratona, realizado a cada dois anos de 1988 a 1998 e anualmente desde então, e a ICF Classic Series, um conjunto de dez provas realizadas ao longo do ano nas quais os competidores vão somando pontos por sua classificação em cada uma, sendo coroado campeão de sua classe aquele que terminar a última com mais pontos. A Classic Series é um campeonato recente, tendo sido disputado pela primeira vez em 2015, e criado justamente para alavancar a popularidade da maratona e ajudá-la a ingressar no programa olímpico.

Parecida com a maratona é a canoagem oceânica, que, como o nome diz, não é realizada em rios, lagos ou represas, e sim no mar. A primeiras prova de canoagem oceânica da qual se tem registro foi pouco mais que uma maratona no mar, realizada em 1958 entre as cidades de Scottsburgh e Brighton, na África do Sul, com 46 Km de extensão. Embora essa prova tenha sido disputada anualmente (e o é até hoje), somente na década de 1970 é que o esporte começou a tomar projeção, com a estreia de mais duas provas anuais: uma entre Port Elizabeth e East London, também na África do Sul, com nada menos que 240 Km, realizada pela primeira vez em 1972; e a Molokai Race, disputada no Havaí desde 1976, em um percurso de 60 Km considerado o mais belo do mundo.

Um dos principais motivos para a alavancada na popularidade da canoagem oceânica foi a mudança no tipo de canoa utilizada: até a década de 1970, eram usados caiaques comuns, mas, desde então, são usados caiaques especiais conhecidos como surfskis. Criado na Austrália no início do Século XX para pescar ostras, e hoje feito de fibra de vidro e fibra de alumínio, o surfski é um caiaque mais estreito (com entre 40 e 50 cm de largura), mais longo (comprimento máximo de 6,5 m), bem mais leve (peso mínimo de 8 Kg), com um bico em forma de faca para furar as ondas e um "cockpit" aberto, o que faz com que o competidor pareça estar sentado sobre o caiaque, e não dentro dele. Devido a essas características, um surfski permite muito mais estabilidade nas águas agitadas do oceano, o que, por sua vez, permite que o competidor alcance maiores velocidades. O remo e o leme são iguais aos de um caiaque comum, assim como a técnica de remada. Competições da ICF são sempre realizadas de forma individual (ou seja, são todas K1).

Assim como a maratona, provas de canoagem oceânica não possuem distância padrão, mas devem sempre ter, no mínimo, 10 Km. A largada é em massa, e ocorre com todos os competidores na areia; a um sinal sonoro, todos correm para a água carregando seus surfskis, os colocam na água, entram neles e começam a remar. Na chegada, da mesma forma, o competidor deve levar o surfski até a areia, sair dele e correr carregando-o até um portal que determina a linha de chegada. Provas de canoagem oceânica são realizadas em um circuito demarcado com boias, e podem ter mais de uma volta em torno desse circuito.

A canoagem oceânica é regulada pela ICF somente desde 2010, o que faz dela o mais recente esporte regulado pela entidade. A maioria das provas ainda é organizada por federações nacionais, com poucas sendo organizadas pela ICF: o primeiro Campeonato Mundial de Canoagem Oceânica foi realizado apenas em 2015, e contou não somente com provas masculinas e femininas, mas também com uma prova paralímpica masculina, categoria L2 - na qual cada atleta contava com um "ajudante", que corria da areia até tocar em seu surfski, já posicionado na água, para que ele começasse a remar, e esperava o competidor chegar na areia e tocar nele para correr até a linha de chegada. Esse evento serviu como teste para que a canoagem oceânica também passasse a ser oficialmente uma modalidade da paracanoagem, mas até agora o comitê criado pela ICF não aprovou essa inclusão. A ICF também planeja criar uma Surfski World Series, campeonato com várias etapas nos moldes da Classic Series da maratona, mas ainda não há previsão de quando ele começaria a ser disputado.

Para terminar com os esportes de corrida, temos a curiosa corrida de barcos-dragão. Criados na China no Século III a.C., os barcos-dragão possuem esse nome porque são decorados na forma de um dragão, com uma cabeça de boca aberta na proa, uma cauda na popa, e escamas, garras e barbatanas pintadas ao longo do casco, sempre de forma bastante colorida. Originalmente, os barcos-dragão eram usados em festivais, participando de desfiles e de exibições de velocidade; aos poucos, esses festivais passaram a ter também corridas, e, quando visitantes dos países vizinhos passaram a criar seus próprios barcos-dragão para participar dessas corridas, um novo esporte surgiu.

A ICF só passaria a regular as corridas de barcos-dragão em 2000. Pelas regras da ICF, existem barcos de 10 e de 20 ocupantes, sendo que um dos ocupantes fica na popa, controlando o leme e sendo responsável pela direção do barco, e outro fica sentado na proa, tocando um tambor para marcar o ritmo das remadas; os demais (8 no barco de 10, 18 no barco de 20) serão os remadores, sentarão em duplas (4 remando de cada lado no de 10, 9 de cada lado no de 20) e remarão usando um remo de pá única, semelhante ao das canoas canadenses. Os barcos são construídos em madeira, fibra de carbono e resina. As distâncias oficiais da ICF são 200, 500, 1.000 e 2.000 metros. Assim como na canoagem sprint, os barcos-dragão competem em raias.

O Campeonato Mundial de Barcos-Dragão é organizado pela ICF a cada dois anos desde 2001, sendo que apenas os barcos de 20 ocupantes participam. Em 2005 e 2009, esse esporte fez parte dos World Games como esporte convidado, e, nesses anos, as provas disputadas nos World Games também contaram como Mundial - ou seja, o medalhista de ouro dos World Games foi também o campeão mundial em cada prova. A corrida de barcos-dragão é alvo de uma disputa entre a ICF e a Federação Internacional de Barcos-Dragão (IDBF), fundada em 1991, sediada na China, e que hoje conta com 74 membros, incluindo o Brasil. A IDBF, que é reconhecida pelo COI, se considera a única federação internacional reguladora das corridas de barcos-dragão, e luta para que a ICF deixe de organizar competições - como a ICF possui mais membros e mais prestígio junto ao COI, porém, essa luta tem se mostrado, até agora, infrutífera. A IDBF realiza seu próprio Campeonato Mundial a cada dois anos desde 1995, e não é raro que os mesmos competidores participem tanto do Mundial da ICF quanto do Mundial da IDBF.

Vamos começar agora os esportes de habilidade, com a canoagem slalom, criada na Suíça na década de 1940 para imitar as provas de esqui, só que usando canoas. Na canoagem slalom, o objetivo é descer um trecho de um rio com corredeiras, pedras e outros obstáculos, passando por dentro de portais durante o percurso - exatamente como se fosse um esquiador descendo a montanha em uma prova de slalom. Uma curiosidade interessante sobre a canoagem slalom é que, atualmente, quase todo os "rios" usados nas competições são artificiais, construídos usando muros de concreto e água canalizada. Essa prática teve início na década de 1970, e permitiu que países sem corredeiras naturais pudessem contar com locais capazes de abrigar treinos e até mesmo competições. Competições realizadas em rios naturais ainda existem, mas são cada vez mais raras, e a maioria delas conta apenas com atletas locais.

O percurso da canoagem slalom tem por volta de 1 Km de extensão, e conta com entre 18 e 25 portais (competições internacionais normalmente usam 18) espaçados no mínimo 2 metros entre si. Destes portais, 6 ou 7 são de cor vermelha, enquanto os demais são de cor verde. Os portais são feitos por dois postes cada, com o competidor devendo passar por entre eles, e não são fincados no fundo do rio, e sim presos a cabos de aço suspensos, que cruzam de uma margem à outra - ou seja, ficam "pendurados" sobre a cabeça dos competidores. Os competidores devem passar pelos portais na ordem em que eles são numerados, sendo que portais verdes devem ser vencidos no sentido da descida (o competidor vem descendo e passa pelo meio dos postes), enquanto portais vermelhos devem ser vencidos no sentido oposto (o competidor passa por fora do portal, faz a volta, passa por entre os postes subindo o rio e volta a descer passando por fora). Tocar um dos postes com o corpo, remo ou barco faz com que 2 segundos sejam adicionados ao tempo total do competidor, e vencer um portal no sentido errado ou deixar de passar por um dos portais faz com que 50 segundos sejam adicionados ao tempo total.

Uma competição de canoagem slalom consiste de três etapas. Na primeira, cada competidor tem direito a duas descidas, sendo que apenas o melhor dos dois tempos registrados valerá para sua classificação. Os 16 competidores com os melhores tempos se classificam para a segunda etapa, conhecida como semifinal, disputada em um percurso diferente, no qual cada competidor só terá direito a uma descida. Os oito com os melhores tempos passam para a final, disputada no mesmo percurso da semifinal, mais uma vez com apenas uma descida por competidor. Aquele que conseguir o melhor tempo na final será o vencedor. Atletas de ponta costumam conseguir concluir o percurso entre 80 e 120 segundos.

Assim como a canoagem sprint, a canoagem slalom usa dois tipos de canoa, o caiaque e a canoa canadense. A diferença é que, na canoagem slalom, a canoa canadense também é fechada, como o caiaque, para proteger melhor o competidor. Na canoa canadense, o competidor deve ficar ajoelhado (não em posição stride, e sim com ambos os joelhos tocando a superfície da canoa), enquanto no caiaque o competidor fica sentado. O remo da canoa canadense tem apenas uma pá, embora seja permitido ao competidor remar de ambos os lados da canoa, enquanto o remo do caiaque possui duas pás, uma de cada lado. O caiaque da canoagem slalom não possui leme, devendo todas as mudanças de direção serem feitas com o remo. As canoas e caiaques também são menores e mais leves que as da canoagem sprint, para facilitar as manobras: as C1 e K1 têm comprimento mínimo de 3,5 m, largura mínima de 60 cm e peso mínimo de 8 Kg, enquanto as C2 têm comprimento mínimo de 4,1 m, largura mínima de 75 cm e peso mínimo de 13 Kg - falando nisso, apenas C1, C2 e K1 competem no slalom. Tanto as canoas quanto os caiaques são feitos de kevlar, fibra de carbono e resina.

A canoagem slalom fez sua estreia nas Olimpíadas em Munique, 1972, mas ficou de fora das quatro edições seguintes, retornando apenas em Barcelona, 1992. À exceção do percurso de 1996, que usou um trecho do Rio Ocoee, próximo a Atlanta, cidade-sede daquela edição, todas as competições das Olimpíadas usaram percursos artificiais. Em todas as edições das Olimpíadas foram disputadas apenas provas de C1, K1 e C2 masculino e K1 feminino, mas a ICF já divulgou que, a partir de 2020, o C1 feminino substituirá o C2 masculino no programa olímpico, o que fará com que todas as provas da canoagem slalom olímpica sejam individuais - e finalmente dará chance às atletas do C1 feminino de lutar por uma medalha olímpica, algo que elas reivindicam há anos.

A canoagem slalom também possui outras duas competições internacionais organizadas pela ICF. A primeira é o Campeonato Mundial de Canoagem Slalom, disputado a cada dois anos de 1949 a 2005, e a partir de então anualmente, exceto em ano de Olimpíada. São disputadas no Mundial as provas de C1, C2 e K1 masculinas, C1 e K1 femininas e C2 mista, com cada canoa tendo um homem e uma mulher. Além das provas individuais (ou em duplas, no caso das C2) também são disputadas, exceto na C2 mista, provas por equipes, com os tempos dos três melhores participantes de cada país sendo somados para se determinar o vencedor - no total, portanto, são disputadas no Mundial 11 provas. A segunda competição internacional organizada pela ICF é a Copa do Mundo de Canoagem Slalom, realizada anualmente desde 1988, e que conta com cinco etapas, cada uma com cinco provas (C1, C2 e K1 masculina, C1 e K1 feminina), com os atletas somando pontos de acordo com sua colocação em cada etapa e aquele com mais pontos no final da última etapa sendo coroado campeão de sua prova.

Recentemente, a canoagem slalom ganhou uma variação batizada como extreme slalom, na qual, ao invés de cumprirem o circuito um por um, os competidores disputam baterias de quatro atletas cada, com o vencedor de cada bateria avançando para a fase seguinte, até a final, na qual o vencedor será o campeão. No início da prova, os atletas descem uma rampa de dois metros de comprimento, que conta com um portão automático como do esqui, e caem juntos na água, remando para tentar alcançar o primeiro portal antes dos outros; o extreme slalom é uma corrida, com o vencedor sendo quem cruzar a linha de chegada primeiro, e a preferência para passar em cada portal sendo de quem chegar nele primeiro. Além dos portais, o circuito conta com uma área na qual, ao passar por ela, cada um dos atletas deve fazer um eskimo roll, um movimento com o qual o caiaque gira em torno de seu próprio eixo, com o atleta passando por dentro da água. Contato físico e choques entre os caiaques são permitidos, mas penalidades em segundos são aplicadas em caso de abuso - assim como para os atletas que falharem em passar por um portal, passarem por um portal no sentido contrário, ou não fizerem o eskimo roll corretamente. O extreme slalom é disputado, no masculino e no feminino, apenas no K1. Os caiaques usados são menorezinhos e mais reforçados, com comprimento máximo de 2,75 m e peso mínimo de 18 kg. A estreia do extreme slalom ocorreu no Campeonato Mundial de Canoagem Slalom de 2015.

Outro esporte regulado pela ICF, parecido com a canoagem slalom, é a canoagem de águas vivas, também conhecido como canoagem de águas bravas. Assim como a canoagem slalom, a canoagem de águas vivas é disputada em corredeiras, sendo que a canoagem de águas vivas sempre é disputada em rios naturais e não possui portais; o objetivo de cada competidor, porém, é o mesmo: completar o percurso no menor tempo possível.

A canoagem de águas vivas usa os mesmos tipos de canoa da canagem slalom, C1, C2 e K1 (sendo as C2 exclusivamente masculinas), mas as canoas das águas vivas costumam ser mais resistentes, feitas com estruturas reforçadas, para aguentar a violência das águas e um eventual choque contra as pedras. A frente de todas as canoas e caiaques também é em forma de faca, como a frente do surfski, para ajudar a furar a água enquanto a canoa desce o rio. Essas características fazem com que as canoas sejam mais compridas e mais pesadas que as da canoagem slalom, com comprimento mínimo de 4,3 m (C1), 4,5 m (K1) ou 5 m (C2), largura mínima de 70 cm (C1), 60 cm (K1) ou 80 cm (C2), e peso mínimo de 10 Kg (C1 e K1) ou 15 Kg (C2).

Existem dois tipos de competição de canoagem de águas vivas, chamadas Classic e Sprint. As competições no estilo Classic tiveram início na década de 1940, usam percursos com de 6 a 10 Km de extensão, e cada descida leva por volta de 30 minutos. Já as competições Sprint foram inventadas na década de 1970, visando tornar o esporte mais atraente a novos competidores; os percursos usados são bem mais curtos, com entre 500 e 750 metros, e cada descida leva por volta de 2 minutos. Nas competições Classic, normalmente, cada atleta tem direito a uma única descida, com cada um entrando no percurso um minuto após a largada do anterior, e aquele que fizer o menor tempo será o vencedor. Já as competições Sprint seguem um formato parecido com as da canoagem slalom, com várias etapas que classificam os atletas com melhores tempos para a seguinte, cada competidor só entrando no percurso após o anterior concluí-lo, e o melhor tempo da final sendo declarado vencedor.

A principal competição internacional da canoagem de águas vivas é o Campeonato Mundial, realizado a cada dois anos de 1959 a 2001 e anualmente desde então. As provas de Sprint passaram a fazer parte do Mundial em 1973, e, em 2001, os campeonatos de Classic e de Sprint passaram a ser separados, com o de Classic ocorrendo sempre nos anos pares e o de Sprint sempre nos anos ímpares.

Para terminar, temos a canoagem estilo livre, na qual o objetivo é realizar manobras que valem pontos. Competições de canoagem estilo livre são realizadas em rios, em pontos conhecidos como playspots, que possuam ondas estacionárias. Cada competidor tem direito a três apresentações de 45 segundos cada, durante as quais deverá demonstrar três tipos de movimento: básicos (aqueles que todos os competidores devem conhecer), da competição (selecionados pela organização para aquela competição específica) e bônus (outros movimentos que o competidor queira adicionar à sua apresentação). Todos esses movimentos estão registrados em um documento da ICF, que, além de os listar por tipo, descreve como eles devem ser realizados para garantir a pontuação máxima. A apresentação é julgada por um painel de cinco árbitros, com a maior e a menor notas sendo descartadas; o vencedor será aquele que obtiver o maior somatório de notas após todos terem feito suas três apresentações.

Nas competições de canoagem estilo livre é utilizado um caiaque especial conhecido como playboat. O playboat é feito integralmente de plástico, o que faz com que ele seja a mais leve de todas as canoas usadas nas competições da ICF, com peso mínimo de apenas 5 Kg; isso, evidentemente, tem o propósito de garantir uma ampla gama de movimentos, alguns que, inclusive, arremessam o competidor no ar. O playboat também é bastante curto, com comprimento mínimo de 2 metros, e estreito, com largura mínima de 60 cm. O remo é idêntico ao do caiaque.

A canoagem estilo livre é regulada pela ICF desde 2006. Suas principais competições internacionais são o Campeonato Mundial, realizado a cada dois anos desde 2007, e a Copa do Mundo, realizada a cada dois anos desde 2008 - o que faz com que haja uma competição internacional de canoagem estilo livre organizada pela ICF por ano. A diferença entre o Mundial e a Copa do Mundo é que o Mundial possui uma única prova masculina e uma feminina, enquanto a Copa é composta de três etapas, com os competidores ganhando pontos de acordo com suas colocações e aquele com mais pontos ao final da terceira etapa sendo coroado campeão.
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Escrito por em 2.12.09 com 0 comentários

Polo

Embora eu nunca tenha estabelecido prazos para falar sobre assunto algum, na minha cabeça o átomo tem duas espécies de data-limite: o final do ano e os posts múltiplos de 50. Como eu comecei a escrever o blog no mês de março, e um ano tem por volta de 52 semanas, elas nunca se encontraram, mas o efeito que causam em mim é o mesmo: todo final de ano eu fico imaginando sobre quais assuntos eu gostaria de falar antes de o ano acabar, e sempre que um post múltiplo de 50 se aproxima, eu fico imaginando sobre quais assuntos eu gostaria de falar antes que ele chegasse. É psicológico, e eu não consigo evitar.

Este ano, por exemplo, eu decidi que, antes de o ano acabar, eu gostaria de falar de polo, aquele esporte que usa cavalos, e que também está na lista dos esportes nos quais o Brasil é muito bom, mas aparentemente ninguém sabe. Eu até já vi jogos de polo sendo transmitidos na ESPN, mas eram todos do campeonato argentino. Por que não se transmitem os jogos do campeonato brasileiro, ou jogos internacionais dos quais o Brasil participe, é uma incógnita. Já me disseram que é porque o polo é um "esporte de gente rica", mas o mesmo pode ser dito do hipismo, do golfe e da vela, e desses todo mundo gosta de falar. E olha que nem tem brasileiros de destaque no golfe.

Enfim, seja como for, vamos ao post do "jogo dos cavalinhos", como fala uma amiga minha - que também costuma trocar os nomes polo e hóquei, embora isso não venha ao caso - porque sempre se pode aprender coisas interessantes com posts sobre esportes. Aliás, com qualquer post. Mas isso também não vem ao caso.

O polo é disputado ao ar livre, em um campo gramado de 140 a 180 metros de largura por 275 metros de comprimento - que é provavelmente o maior campo de todos os esportes coletivos, equivalente a mais ou menos nove campos de futebol. Ao longo das linhas laterais, há uma mureta de madeira, de 15 a 28 cm de altura, que impede a bola de sair. Centralizados nas linhas de fundo ficam os gols, postes de 3 metros de altura, um a 7,3 metros do outro. Estes postes não são fixos, para evitar acidentes em caso de esbarrões dos cavalos neles. Também não há mureta ao longo da linha de fundo; se a bola sair por ela, o time que não tocou nela por último terá a posse, com a bola posicionada sobre a linha no local onde saiu. Para marcar um gol, basta que o jogador lance a bola por entre os postes do gol, a qualquer altura. Curiosamente, a cada gol os jogadores trocam de lado, para que fatores como sol e vento não influenciem o resultado da partida.

Cada time de polo conta com quatro jogadores, que vestem camisetas numeradas de 1 a 4, com esta numeração podendo ser em algarismos arábicos (1, 2, 3, 4) ou romanos (I, II, III, IV). O polo é um esporte misto, que pode ser disputado simultaneamente por homens e mulheres, em equipes só de homens, só de mulheres, de três mulheres e um homem, de três homens e uma mulher, ou de dois homens e duas mulheres. Para assegurar que os times sejam o mais equilibrados possível, o polo utiliza um esquema de handicap: cada jogador recebe uma nota entre -2 e 10, baseada em sua habilidade como cavaleiro, habilidade como jogador de polo, conhecimento das regras do jogo, capacidade de trabalho em equipe e capacidade de estratégia - ou seja, quanto mais valioso um jogador for para seu time, mais alto será seu handicap. Antes de cada partida, os handicaps de todos os jogadores de um time são somados, para se determinar o handicap do time, e o time com menor handicap recebe uma vantagem em gols, calculada através de uma fórmula, com resultados quebrados sendo arrendodados para "meio gol" - assim, é possível uma partida já começar 0,5 x 0, 1 x 0, ou até mesmo 1,5 x 0 para um dos times. A maioria dos torneios também possui handicaps mínimo e máximo, com jogadores abaixo ou acima desses valores sendo impedidos de participar. Quase todos os jogadores em atividade no mundo hoje têm handicap entre -2 e 2, com valores mais altos que isso sendo extremamente raros.

Jogadores de polo também são altamente especializados, pois suas funções no campo são bem específicas de acordo com a posição em que jogam. O jogador que veste o número 1 é o de maior atuação ofensiva, responsável por marcar a maioria dos gols, embora isso não queira dizer que ele seja considerado o melhor do time. O número 2 também tem veia ofensiva, e costuma marcar gols, embora suas principais funções sejam roubar a bola do adversário e passá-la para o 1, e marcar o número 3 do time adversário. Se o time tiver outro jogador forte, pode colocar o melhor para jogar como número 2, mas o normal é que o melhor jogador do time atue como número 3. O número 3 é responsável pela estratégia do time, por passar as bolas para o número 2 e o número 1, e por impedir que os números 1 e 2 do adversário concluam suas jogadas ofensivas. Finalmente, o número 4 é o jogador mais defensivo do time, responsável por marcar o número 1 adversário, dar cobertura ao número 3 durante um ataque do oponente, e tentar evitar os gols.

Os cavalos utilizados para a prática do polo podem ser de qualquer raça e ter qualquer altura, mas devem enxergar perfeitamente com os dois olhos, e não podem apresentar comportamento que possa resultar em perigo para os jogadores durante o jogo - como empinar de repente se assustado. Cavalos de polo são treinados desde os três anos de idade, para responder suavemente não somente ao comando nas rédeas, mas também a movimentos dos pés e até do corpo do jogador. Um bom treinamento é fundamental, pois o cavalo representa de 60 a 75% da importância do conjunto para o time. Cavalos de polo costumam ter vida esportiva longa; se não sofrerem nenhum acidente, podem jogar dos 6 aos 20 anos de idade. Como o esporte é muito desgastante para eles, porém, é inviável que um jogador passe toda a partida com o mesmo cavalo, sendo o normal que cada jogador leve para o jogo entre 4 e 8 montarias, o que cria uma situação curiosa: no polo, é proibido substituir um jogador, mas um cavalo pode ser substituído a qualquer momento.

Além do cavalo, o equipamento do polo inclui botas de montaria, calças de montaria na cor branca, uma camisa colorida com o número do jogador bem visível às costas e opcionalmente nas mangas, e um capacete de montaria, além de luvas, munhequeiras, joelheiras e máscara protetora opcionais. O único equipamento obrigatório para os cavalos são caneleiras, normalmente na mesma cor das camisas do time, e ferraduras especiais, mas há uma série de itens proibidos, desde antolhos a ferraduras com anel externo. Cada jogador também porta uma marreta, feita de madeira, com cabo entre 1,22 e 1,37 m de comprimento e peso entre 160 e 240 gramas, com uma alça na ponta que fica em volta do punho do jogador, e cabeça cilíndrica de 24 cm de comprimento e 4,5 cm de diâmetro. Antigamente, o polo era jogado com bastões cilíndricos ou tacos semelhantes aos do hóquei, mas a marreta permite um maior controle da bola com menos esforço por parte do jogador. Existe uma enorme variedade de marretas disponíveis, com diferentes comprimentos, pesos, formatos de cabeça e até mesmo flexibilidade do cabo; cada jogador é livre para escolher a marreta que melhor lhe serve, e pode até trocar de marreta durante o jogo, embora apenas possa fazer isso nos intervalos ou quando troca de cavalo. Alguns jogadores preferem usar marretas de comprimentos diferentes de acordo com a altura do cavalo que estão montando, enquanto outros preferem usar marretas sempre do mesmo comprimento, inclinando mais o corpo se o cavalo for mais alto. Duas curiosidades envolvem o uso das marretas de polo: em primeiro lugar, os jogadores não batem na bola com a parte "redonda" da cabeça da marreta, mas sim com sua lateral, o que, por incrível que pareça, proporciona maior controle da bola - além de menor desgaste da cabeça da marreta. Em segundo lugar, desde 1975 é obrigatório que todos os jogadores segurem a marreta com a mão direita e as rédeas com a mão esquerda, para evitar acidentes. Esta regra fez com que o número de jogadores de polo canhotos caísse assustadoramente, com uma estimativa de que, de todas as centenas de jogadores profissionais registrados na FIP, apenas três sejam canhotos. A bola do polo é branca, feita de plástico duro, tem entre 76 e 89 mm de diâmetro, e pesa de 120 a 135 gramas.

Um jogo de polo dura seis tempos, chamados chukkers, de sete minutos cada. Entre um chukker e outro, há um intervalo de três minutos, exceto entre o terceiro e o quarto chukker, quando há um intervalo de dez minutos. Quando falta um minuto para cada chukker começar, e trinta segundos para cada chukker acabar, soa um sino, e no início e final de cada chukker soa uma sirene. O relógio não para, exceto em caso de quebra de equipamento ou lesão de jogador ou cavalo. É possível um jogo de polo terminar empatado, mas, se for um jogo que não puder terminar empatado, como a final de um campeonato, após o tempo normal é jogado um chukker extra; persistindo o empate, são jogados sucessivos chukkers extras, mas com os postes dos gols agora espaçados 14,6 metros e morte súbita, ou seja, o time que marcar primeiro vence a partida. Uma partida de polo é oficiada por três árbitros, sendo dois a cavalo e um a pé, acompanhando o jogo da linha lateral. Um dos árbitros a cavalo é considerado o principal, e tem a palavra final em todas as marcações.

O polo é um dos esportes cujos registros são mais antigos. Ele se originou na Pérsia, por volta do Século VI a.C., como um treinamento para as cavalarias do exército persa. Na época, como de costume, o esporte era praticado por times de mais de cem pessoas de cada lado, em campos que abrangiam cidades inteiras. Curiosamente, há registros tanto de homens quanto de mulheres jogando polo, em times mistos ou não. O polo permaneceu como um esporte persa até as conquistas árabes, quando então se espalhou por todo o Oriente Médio. Para os árabes, inclusive, o polo se tornou tão famoso e tão importante que seus bastões foram escolhidos para representar um dos naipes do baralho.

Do Oriente Médio, o polo foi levado para a Índia e China, onde também se tornou extremamente popular, com várias pinturas da Idade Média retratando partidas entre nobres locais. Foi lá, inclusive, que ele ganhou seu nome: "polo" é uma corruptela de pulu, palavra tibetana que significa "bola". Embora o jogo na Índia, mais precisamente em Manipur, fosse conhecido como Sagol Kangjei, o nome pulu também era muito utilizado, e foi esse, talvez por ser mais fácil, que acabou pegando entre os soldados britânicos que começaram a praticá-lo na época da colonização.

O jogo que os soldados britânicos encontraram em Manipur ainda não era o polo como praticado hoje, mas já era bem diferente do praticado na Pérsia em tempos imemoriais, com menos gente e campos menores. Também já não era, como no início, um esporte restrito aos militares ou aos nobres; qualquer um que possuísse um cavalo podia disputar as partidas. Quando o esporte já estava bastante popular dentre os britânicos, eles decidiram fundar o primeiro clube de polo do mundo, o Calcutta Polo Club, de 1862, e usá-lo para "exportar" o jogo para o Reino Unido. Sendo apaixonados por esportes e por cavalos, não é de se surpreender que os britânicos tenham adorado o polo, ajudado a espalhá-lo pelo resto do mundo, e codificado suas regras, em 1875, através da Hurlingham Polo Association, que até hoje é o órgão máximo do polo no Reino Unido e na Irlanda.

Quando os britânicos começaram a disputar o polo, fizeram mais algumas alterações em suas regras, não somente para deixar o jogo mais a seu gosto, mas também para torná-lo mais seguro e menos desgastante para os cavalos - o polo disputado em Manipur, por exemplo, tinha sete de cada lado, e permitia trombadas entre os jogadores, que podiam levar a bola nas mãos, além de conduzi-la pelo chão com os bastões. De 1875 para cá, as regras permaneceram basicamente as mesmas, sofrendo algumas alterações de tempos em tempos, sempre visando a segurança e a integridade física dos jogadores e de seus animais. Hoje, o órgão máximo do polo é a Federação Internacional de Polo (FIP), que foi fundada apenas em 1983, surpreendentemente tarde para um esporte tão antigo. Além de organizar torneios internacionais, a FIP promove eventos para incentivar a prática do polo entre pessoas de todas as idades, treina árbitros e técnicos do esporte, e é responsável pela versão mais atualizada das International Rules of Polo, a versão oficial das regras do esporte. Devido à tradição, sempre que as regras são alteradas, deve haver consenso entre a FIP, a Hurlingham Polo Association, a Asociación Argentina de Polo e a United States Polo Association. A FIP conta hoje com 80 membros, dentre eles o Brasil, que é considerado uma das potências do esporte, junto à Argentina, Estados Unidos e Inglaterra.

A competição mais importante do polo internacional é o Campeonato Mundial, disputado desde 1987, primeiro a cada dois anos, depois a cada três, e atualmente a cada quatro. O Brasil é tricampeão mundial, e atualmente detém o vice-campeonato, após ter perdido para o Chile a final do torneio de 2008. Nosso país possui ainda outro vice-campeonato, em 1998, e foi terceiro lugar na edição inaugural do evento. Além do Brasil e do Chile, apenas dois outros países já subiram ao local mais alto do pódio, a Argentina, que também tem três títulos, e os Estados Unidos, que têm unzinho só. O polo também já foi esporte olímpico, tendo sido disputado nas Olimpíadas de 1900, 1908, 1920, 1924 e 1936. Dois dos ouros foram conquistados pela Argentina, dois pela Grã-Bretanha, e o de 1900 por uma equipe mista de jogadores da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, algo permitido na época. O polo ainda está na lista dos esportes reconhecidos pelo COI, que podem pleitear um lugar em uma futura Olimpíada, mas não tem feito muita campanha neste sentido recentemente.

De uns tempos para cá, o polo começou a ser jogado também em arenas, em uma variedade que atualmente é chamda de arena polo ou polo indoor. O polo indoor segue basicamente as mesmas regras do polo tradicional, mas o campo de jogo é menor (90 por 45 metros), assim como o gol (3 metros de largura por 3,65 de altura), o jogo é mais curto (quatro chukkers), tem menos gente (três jogadores de cada lado), e uma regra de que nenhum cavalo pode jogar dois chukkers seguidos. A bola também é diferente, sendo feita de couro e inflada, com 11,4 cm de diâmetro. O polo indoor não é regulado pela FIP, e apresenta algumas variações entre as regras das versões jogadas nos Estados Unidos e na Europa.

Como o traço mais característico do polo é que seus jogadores atuam montados em cavalos, todo tipo de esportes onde os jogadores atuam montados em animais ou veículos acabou ganhando também um nome com "polo" - o que, por sua vez, fez com que algumas pessoas passassem a chamar o polo de "polo a cavalo", nome que eu, particularmente, acho meio esquisito. Assim, temos o polo a elefante, disputado no Nepal, Sri Lanka, Tailândia e Rajastão; o polo a iaque, muito popular na Mongólia; o Segway polo, que usa aquele meio de transporte elétrico de duas rodas que prometeu revolucionar a forma como nos locomovemos; e dois outros, dos quais eu vou falar aqui.

O primeiro é o polo a canoa, um dos esportes mais divertidos que eu já assisti - no YouTube, porque, infelizmente e como sempre, nenhum canal daqui se interessa em transmitir esses esportes mais diferentes. Eu descobri o polo a canoa quando descobri os World Games, e até já falei um pouco sobre ele no BLOGuil. Em comum com o polo, ele só tem o nome, mas, como eu disse, basta que se esteja montado em alguma coisa para que um esporte seja chamado de polo.

O polo a canoa pode ser jogado em piscinas ou em corpos d'água ao ar livre, como lagoas e represas, em uma área demarcada por boias e raias. Esta área possui 35 metros de comprimento por 23 de largura, e um "gol" em cada extremidade, centralizado com a linha de fundo. Boias marcam também o meio da área de jogo e duas linhas imaginárias, uma a 4,5 m do gol, outra a 6 m. Cada gol é um quadrado de 1 por 1,5 metro, suspenso a 2 metros de altura; para marcar um gol, o jogador deve jogar a bola por dentro deste quadrado, que é vazado. A bola é amarela, feita de nylon revestido com borracha, mede 70 cm de circunferência, pesa entre 400 e 450 gramas, e é inflada a entre 5 e 7 PSI, o que permite que ela flutue facilmente, sem afundar, e possa ser manuseada com apenas uma das mãos sem dificuldades.

Cada time de polo a canoa conta com cinco jogadores, cada um sentadinho em um caiaque, sendo que, normalmente, cada time usa caiaques de uma mesma cor. A posição de goleiro não é fixa, podendo atuar como goleiro qualquer jogador que estiver próximo do gol, desde que a popa de seu caiaque esteja tocando ou ultrapassando a linha de fundo - e, evidentemente, apenas um jogador pode atuar como goleiro de cada vez. Cada time também conta com três reservas, que podem entrar no jogo a qualquer momento, desde que seu caiaque só cruze a linha lateral depois que o caiaque do jogador que está sendo substituído tiver saído totalmente da área de jogo. Além do caiaque, o equipamento de jogo inclui calças de neoprene, coletes salva-vidas, luvas, um capacete com grade e, logicamente, um remo, de 1,7 metro de comprimento e lâmina de um único lado. Os remos são reforçados, feitos de fibra de carbono e kevlar, pois são muito exigidos durante o jogo. Os caiaques também costumam ter estrutura reforçada, para aguentar os inúmeros esbarrões da partida.

Cada partida dura dois tempos de 10 minutos cada, separados por um intervalo de 3 minutos, com troca de lado dos jogadores no início de cada tempo. No início de cada tempo, todos os jogadores ficam com os caiaques sobre suas respectivas linhas de fundo, até um dos árbitros jogar a bola no meio da área de jogo. Todos os jogadores saem então remando desesperados em sua direção, e, quem conseguir pegá-la primeiro, ficará com ela. No polo a canoa os jogadores conduzem a bola com as mãos ou com os remos, com uma regra que impede que a bola seja carregada com as mãos por mais de cinco segundos, quando deve ser arremessada a pelo menos um metro de distância do jogador que a carregava. Qualquer contato físico é proibido - especialmente bater com o remo em outro jogador ou em seu caiaque - e qualquer contato entre dois caiaques também, exceto no espaço entre a linha de 6 metros e o gol, quando os caiaques podem se tocar sem problemas. O jogador que está atuando como goleiro pode usar seu remo para tentar impedir a bola de passar pelo gol, e ele, seu remo e seu caiaque não podem ser tocados por nenhum outro jogador enquanto ele estiver como goleiro. Uma bola que saia da área de jogo pertencerá ao time que não tocou nela por último, com a posse no local onde ela saiu, não importando se foi pela linha de lado ou de fundo.

Uma partida de polo a canoa conta com dois árbitros, que acompanham o jogo do lado de fora, caminhando ao longo das linhas laterais. Ambos têm a mesma autoridade para marcar faltas e anotar gols, que são registrados por uma mesa, que cuida do placar e do tempo de jogo. Faltas normalmente são punidas com arremessos livres para o gol do local onde a falta ocorreu, mas faltas mais graves podem ser punidas com um pênalti, arremessado da linha de 4,5 m, com direito a goleiro para tentar defender; com um cartão amarelo, que remove o jogador por dois minutos, durante os quais o time fica com um a menos; ou com um cartão vermelho, que remove o jogador do jogo - outro pode entrar em seu lugar após dois minutos, mas ele não poderá mais voltar. Existe ainda o cartão verde, que serve como advertência. Ao final dos vinte minutos de jogo, o time com mais gols será o vencedor; empates teoricamente são possíveis, embora raros, e jogos que não possam terminar empatados são resolvidos com prorrogações sucessivas de 5 minutos cada e morte súbita.

O polo a canoa foi inventado em 1926, na Alemanha, como uma espécie de futebol com caiaques, com inclusive 11 de cada lado e uma área de jogo de 120 por 50 metros. Já no ano seguinte ele sofreu modificações para seu primeiro jogo oficial, e, ao longo do tempo, foi sofrendo mais e mais mudanças, até que, em 1991, chegou à forma como é disputado hoje. Desde 1989, o esporte é regulado pela Federação Internacional de Canoagem (ICF), mesmo órgão responsável pela canoagem em velocidade e canoagem slalom que fazem parte das Olimpíadas, o que, em teoria, permitiria que o polo a canoa fosse incluído como modalidade da canoagem, o que é muito menos complicado do que entrar como um esporte novo. Antes de colocá-lo nas Olimpíadas, porém, a ICF pretende espalhar o esporte pelo mundo e desenvolvê-lo, já que hoje ele é disputado apenas em pouco mais de 20 países, sendo os principais a Alemanha - que possui mais de 100 clubes de polo a canoa, e um forte campeonato nacional - Austrália, Grã-Bretanha, Holanda, França, Bélgica, Espanha e Suíça.

Enquanto aguarda seu lugar nas Olimpíadas, o polo a canoa participa dos World Games, tendo feito parte do programa das duas últimas edições, nas modalidades masculina e feminina. A mais importante competição do esporte, porém, é o Campeonato Mundial, disputado a cada dois anos desde 1994. No masculino, o maior vencedor é a Austrália, com três títulos, seguida de Grã-Bretanha e Holanda, com dois, e França, com um. No feminino, Alemanha e Grã-Bretanha têm três titulos cada, e a Austrália outros dois. O Brasil jamais conseguiu resultados expressivos no Mundial, mas já sediou o evento, em 2000, quando ele foi realizado em São Paulo.

O segundo "polo variante" do qual eu falarei hoje é o ciclopolo, o polo jogado com bicicletas. Curiosamente, eu conheço este esporte desde criança - vi uma figura em uma enciclopédia lá de casa quando tinha uns sete anos, e achei muito curioso um esporte onde cada jogador tinha uma bicicleta, por isso nunca mais o esqueci - mas, depois de adulto, descobri que ele não é tão famoso assim, e que, na verdade, pouca gente o conhece.

O ciclopolo foi inventado na Irlanda, em 1891, pelo ciclista aposentado Richard J. Mecredy. Da Irlanda, ele chegou à Grã-Bretanha e França, onde atingiu o ápice de sua popularidade na década de 1930. Depois da Segunda Guerra Mundial, o interesse pelo esporte foi caindo na Grã-Bretanha, mas se manteve forte na França, que possui um disputado campeonato nacional até hoje. Na década de 1960, o ciclopolo chegou à Índia, e mais tarde aos Estados Unidos e Canadá. Estes três países são considerados as maiores potências do esporte atualmente.

O ciclopolo é jogado em um campo gramado, parecido com o do futebol, de 120 a 150 metros de comprimento por 80 a 100 de largura. Os gols, centralizados nas linhas de fundo, são parecidos com os do polo, mas com 2,5 metros de altura, e espaçados apenas 4 metros. Cada time é composto de quatro jogadores em campo, com as mesmas funções do polo, e dois reservas, que podem entrar no jogo a qualquer momento, mas apenas depois que o jogador que está sendo substituído sair totalmente do campo. A bola é feita de boracha e inflada, com entre 30 e 38 cm de circunferência e 170 a 182 gramas de peso, e para conduzi-la os jogadores usam marretas idênticas às do polo, mas que podem ser feitas de alumínio e têm um cabo mais curto, com apenas 1 metro. Os jogadores também podem, opcionalmente, usar capacetes, do mesmo estilo usado pelos ciclistas, e luvas. As bicicletas, camisetas e marretas do ciclopolo costumam ser bastante coloridas, para melhor identificação dos jogadores; curiosamente, porém, os capacetes costumam ser brancos ou pretos. Também é interessante notar que todos os jogadores devem ter ambos os pés nos pedais em todos os momentos; um jogador pode até apoiar o pé no chão, mas não pode participar do jogo enquanto o estiver fazendo.

Uma partida de ciclopolo dura quatro chukkers de 7 minutos e 30 segundos cada, com um intervalo de três minutos entre o primeiro e o segundo e entre o terceiro e o quatro chukkers, e de 5 minutos entre o segundo e terceiro chukkers. O relógio para toda vez que a bola sai de jogo, em caso de cobrança de pênalti, e toda vez que um time marca um gol, voltando a correr quando o outro time der a saída. Caso o jogo não possa terminar empatado, o último chukker tem duração de 8 minutos, e, persistindo o empate, são jogados sucessivos chukkers extras de 7 minutos e meio cada, mas com os gols espaçados 8 metros e morte súbita. O ciclopolo também tem uma regra interessante segundo a qual, caso um jogador cometa uma falta deliberada ou perigosa para evitar um gol, o outro time ganha um gol automático, mesmo que a bola não tenha entrado. Assim como o polo, o ciclopolo é oficiado por três árbitros, dois montados em bicicletas e um a pé acompanhando o jogo das laterais.

O ciclopolo é regulado pela Federação Internacional de Polo a Bicicleta (IBPF), que é filiada à União Ciclística Internacional, o órgão máximo do ciclismo. A IBPF foi fundada em 1996 pela união das federações de ciclopolo dos Estados Unidos, Canadá e Índia, e se filiou à UCI em 2001, quando esta passou a considerar o ciclopolo como esporte ciclístico - e, dizem, tentou tirar da IBFP a autoridade sobre o jogo, para passar também a regulá-lo. Como o ciclopolo não é lá muito famoso, a IBPF tem apenas 24 membros, sendo que o Brasil não está entre eles.

A mais importante competição do ciclopolo é o Campeonato Mundial, disputado pela primeira vez em 1996, depois anualmente entre 1999 e 2004, e pela última vez em 2006 - por falta de interesse de países-sede e participantes, o Mundial se encontra em suspenso, embora outros campeonatos envolvendo seleções nacionais ainda sejam praticados. O maior vencedor dos Mundiais é a Índia, que ganhou as quatro primeiras edições, seguida do Canadá, que tem três títulos, e dos Estados Unidos, com um. Além deles, somente a França subiu ao pódio, com dois vice-campeonatos e três terceiros lugares. O ciclopolo também já quase foi esporte olímpico, já que uma partida entre Irlanda e Alemanha, com vitória da primeira, foi disputada durante as Olimpíadas de 1908, não sendo aceita como parte do programa dos Jogos pelo COI posteriormente. Chegar à Olimpíada hoje, porém, é um sonho distante, principalmente porque a IBPF ainda não é uma federação reconhecida pelo COI.

Da década de 2000 para cá, o ciclopolo vem sendo cada vez menos praticado, sendo o principal motivo alegado a falta de campos apropriados para disputá-lo. Em contrapartida, vem ganhando terreno uma variedade conhecida como hardcourt bike polo, algo como "polo a bicicleta em quadra dura". Esta variedade ainda não tem regras codificadas ou federação internacional, e é disputada por times de 3 a 5 jogadores, sem reservas, em quadras de tênis, poliesportivas, ou qualquer outro espaço disponível. Uma partida dura 10 minutos ou até que um time faça cinco gols, o que acontecer primeiro. Curiosamente, os gols só valem se a bola for acertada com a parte redonda da marreta. A ascenção do hardcourt bike polo é vista pela IBPF como um dos maiores entraves ao desenvolvimento do ciclopolo, mas suas ações buscando fazer os jogadores trocarem a nova versão pelo jogo original não vêm surtindo efeito.

Além desses polos todos, existe também o polo aquático, que não tem nada a ver com isso, já que ninguém atua montado em nada. E, por isso mesmo, não cabe neste post, e terá de esperar uma próxima ocasião.
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