Como eu disse naquele post, Fatal Fury foi criado por um dos criadores de Street Fighter - não de Street Fighter 2, e sim do primeirão, no qual só dava pra jogar com Ryu e Ken - Takashi Nishiyama, vulgo Piston Takashi, que trocou a Capcom pela SNK ao se sentir desprestigiado justamente porque o deixaram de fora da produção de Street Fighter 2. Nishiyama, porém, foi apenas um dos dois co-criadores do primeiro Street Fighter; o outro, Hiroshi Matsumoto, vulgo Finish Hiroshi, também foi deixado de fora da produção de Street Fighter 2, também se sentiu desprestigiado, também deixou a Capcom, e também foi contratado pela SNK. Nishiyama criaria Fatal Fury, Matsumoto criaria Art of Fighting.
É exatamente por isso, aliás, que tanto o primeiro Fatal Fury quanto o primeiro Art of Fighting se parecem tanto com o primeiro Street Fighter. Art of Fighting, aliás, mais do que Fatal Fury: nele, você só pode escolher entre dois personagens, Ryo Sakazaki e Robert Garcia, e deve vencer seis oponentes diferentes (dentre os quais Ryo e Robert jamais estarão) antes de conquistar o direito de enfrentar o vilão do jogo, Mr. Big.
Na história do jogo, Ryo e Robert são alunos do Kyokugen Karate Dojo. Ryo é o filho mais velho do criador do estilo Kyokugen, Takuma Sakazaki, e Robert é seu melhor amigo e filho de um milionário empresário italiano, que o enviou para os Estados Unidos para treinar caratê por considerá-lo teimoso e desobediente. Mr. Big, o chefão do crime local, tenta há anos, sem sucesso, convencer Ryo a ingressar em sua organização criminosa; em sua mais recente cartada, ele sequestra a irmã mais nova de Ryo, Yuri. Como Takuma está em local ignorado, Ryo e Robert tomam para si a tarefa de resgatá-la.
Antes de alcançar Mr. Big, porém, Ryo ou Robert terão de vencer seus seis subalternos, todos enfrentados sempre na mesma ordem. O primeiro é Ryuhaku Todoh, criador do estilo Todoh de caratê, proprietário do Todoh Karate Dojo e rival de Takuma. Em seguida, eles enfrentam Jack Turner, líder de uma das mais perigosas gangues da cidade. O terceiro é Lee Pai Long, chinês especialista em medicina herbal, amigo de Takuma, e que só aceita enfrentar Ryo ou Robert para testá-los. O seguinte é King, campeão local de muay thai e leão de chácara de um dos clubes noturnos de Mr. Big, que secretamente é uma mulher disfarçada de homem, já que, como mulher, ninguém levava suas habilidades de luta a sério. O quinto é Mickey Rogers, boxeador desonesto que acabou expulso do circuito profissional e agora trabalha como guarda-costas de Mr. Big. E o sexto é John Crawley, ex-militar instrutor de artes marciais brutal e sádico, inspirado no personagem John Kreese de Karate Kid. Após derrotar todos os seis, Ryo ou Robert enfrentam Mr. Big em pessoa, mas, ao derrotá-lo, ainda terão um último oponente pela frente, o misterioso Mr. Karate, cuja verdadeira identidade é desconhecida, e que luta usando uma máscara.
Art of Fighting é considerada a série-irmã de Fatal Fury não porque seus criadores tenham trabalhado juntos na Capcom, e sim porque ambas são ambientadas na mesma cidade, South Town. Art of Fighting, aliás, é uma espécie de "prequência" de Fatal Fury, com o primeiro Art of Fighting sendo ambientado vinte anos antes do primeiro Fatal Fury; como o primeiro Fatal Fury é ambientado na "época atual", ou seja, na década de 1990, Art of Fighting é ambientado na década de 1970, o que pode ser confirmado pelas roupas e cortes de cabelo dos personagens e pelos objetos presentes nos cenários - o que eu acho muito legal e que deveria ter sido feito outras vezes, com mais jogos de luta tendo sido ambientados no passado recente ao invés de no presente, futuro ou passado longínquo. Em Art of Fighting, inclusive, Mr. Big é o antecessor de Geese Howard como chefe do crime de South Town, e Takuma Sakazaki é amigo pessoal de Jeff Bogard, pai de Terry e Andy.
Lançado em setembro de 1992 com o título original de Ryuko no Ken ("o punho do tigre e do dragão"; uma referência aos dois protagonistas do jogo, com o apelido de Ryo sendo "o dragão invencível" e o de Robert "o tigre indomável"), Art of Fighting foi o primeiro título da SNK cujo visual dos personagens foi criado pelo artista Shinkiro, que depois trabalharia em praticamente todas as suas demais séries, incluindo Fatal Fury e King of Fighters - em outras palavras, aquele visual característico e facilmente identificável dos personagens da SNK é obra de Shinkiro. Diferentemente do que ocorria no primeiro Street Fighter, no modo para um jogador só estavam disponíveis Ryo e Robert, mas, no modo versus, Todoh, Jack, Lee, King, Mickey e John também podiam ser selecionados. Mr. Big e Mr. Karate podiam ser controlados pelo segundo jogador com um truque simples: se, quando o primeiro jogador chegasse a um dos chefes, o segundo adicionasse um crédito e pressionasse start, ao invés de ser levado à tela de escolha de personagens ele controlaria o chefe em questão. Na versão Neo Geo, os chefes eram selecionáveis no modo versus através de um truque.
Assim como todos os jogos de Neo Geo, Art of Fighting usava apenas quatro botões; no caso, eram um para socos, um para chutes, um para arremessos e um para provocar o oponente. Cada personagem, evidentemente, também tinha dois ou três golpes especiais. Apesar de ter um sistema simples, com apenas um soco e um chute, Art of Fighting trouxe várias novidades para os jogos de luta; aquela pela qual o jogo é mais lembrado é também a mais simples, o zoom - quando os personagens estão próximos um do outro, ficam maiores, ocupando mais espaço na tela; quando se afastam, diminuem de tamanho, o que possibilita cenários bem maiores que em um jogo de luta sem zoom. Outra novidade estética curiosa era que, conforme eram atingidos, os personagens iam ficando cheios de cortes, hematomas e contusões, ao invés de terminarem a luta "limpinhos" como em Street Fighter 2.
Art of Fighting também foi o primeiro jogo a trazer a "barra de espírito", uma segunda barra localizada logo abaixo da barra de energia; conforme o personagem usava especiais, a barra diminuía, e, quanto menor a barra, menos dano os especiais causavam, ficando o personagem incapaz de usar especiais se ela estivesse vazia. A barra de espírito enchia sozinha ao longo do tempo, e era possível diminuir a barra do oponente de propósito provocando-o. Outra novidade introduzida pelo jogo era o super death blow, uma espécie de super especial, que só podia ser usado com a barra de espírito totalmente cheia, e tinha um comando bastante complicado. Ainda por cima, o super death blow não estava disponível desde o início do jogo, precisando ser "aprendido" - veja adiante. Outro golpe superpoderoso, mas disponível desde o início, era o desperation attack, que só podia ser usado quando a energia do personagem estivesse em 20% do total ou menos.
Também merecem destaque as fases de bônus de Art of Fighting, que, ao invés de apenas render pontos, como as de Street Fighter 2, resultavam em verdadeiros prêmios para o jogador dependendo de seu desempenho. Toda vez que vencia uma das seis primeiras lutas, exceto a primeira, sem perder um round, o jogador podia escolher dentre três fases de bônus diferentes. Na primeira, o objetivo era apertar o botão A quando uma barra especial estivesse o mais próximo possível do máximo, para que Ryo ou Robert quebrassem uma série de garrafas; quebrando garrafas suficientes, o tamanho da barra de espírito do jogador era aumentado até o final do jogo. Na segunda, o objetivo era , dentro de um tempo limite, apertar o botão A rapidamente para encher uma barra especial e adquirir força para que Ryo ou Robert quebrassem uma pilha de barras de gelo; quebrando barras suficientes, o tamanho da barra de energia do jogador era aumentado até o final do jogo. Na terceira, o objetivo era, dentro de um tempo limite, executar corretamente o super death blow para destruir uma série de alvos; conseguindo, Ryo ou Robert "aprendiam" o super death blow e passavam a poder utilizá-lo até o final do jogo. A fase de aprender o super death blow só podia ser escolhida uma vez (mesmo que você falhasse), mas as demais podiam ser escolhidas quantas vezes o jogador quisesse.
Além da versão neo Geo, Art of Fighting ganharia versões caseiras para o PC Engine (conhecido nos Estados Unidos como Turbografx-16), Super Nintendo e Mega Drive. A versão PC Engine, lançada exclusivamente no Japão, é a única fiel ao jogo; a versão Mega Drive não possui zoom, e alguns golpes dos oponentes foram modificados para causar menos dano ou serem mais fáceis de bloquear; a pior versão, porém, é a do Super Nintendo, que foi simplesmente censurada pela Nintendo: todas as cenas de personagens dirigindo veículos, fumando ou bebendo foram removidas, o letreiro "Mac's Bar" foi trocado por "Mac's Cafe", um símbolo de proibido fumar no cenário de Todoh foi removido, e uma, digamos, característica controversa foi alterada: já foi dito aqui que King é mulher, mas se veste como e finge ser um homem; os jogadores descobriam isso porque, ao fim da luta contra ela, sua blusa se rompia, revelando seu sutiã. Alguém da Nintendo deve ter achado que eram melhor esconder isso, mas, ao invés de remover, fez com que o segredo de King só fosse revelado se o último golpe da luta fosse um especial. O final da versão Super Nintendo também é diferente, conectando o jogo diretamente à sua sequência.
Sim, sequência, porque, mesmo sem Art of Fighting ter feito lá muito sucesso - uma injustiça, tendo em vista todas as novidades legais que o jogo trazia - a SNK decidiu não desistir da franquia, e lançar um Art of Fighting 2. Assim como ocorreu com Fatal Fury, entretanto, ela concluiria que um dos motivos para o insucesso era que o jogo tinha apenas dois personagens selecionáveis; para o segundo, portanto, 12 personagens estavam disponíveis desde o início para o jogador, o que deixava o jogo mais parecido com Street Fighter 2. Além disso, agora cada personagem tinha dois socos e dois chutes, um forte e um fraco de cada, com o mesmo botão de soco forte sendo usado para arremessos e a provocação sendo executada ao se pressionar dois botões juntos.
Quase todos os personagens do primeiro jogo estão presentes, retornando Ryo, Robert, Jack, Lee, King, Mickey, John e Mr. Big. Os quatro novos são Yuri Sakazaki, irmã mais nova de Ryo; Takuma Sakazaki, pai de Ryo e Yuri e criador do estilo de caratê Kyokugen; Eiji Kisaragi, ninja do respeitável clã Kisaragi; e Temujin, estivador imigrante da Mongólia que deseja melhorar de vida. Na história, ambientada um ano após os eventos do jogo anterior, um misterioso personagem realiza um torneio de luta em South Town, com a promessa de muitas glórias para o vencedor. A família Sakazaki e Robert se inscrevem no torneio para divulgar seu dojo e provar que o Kyokugen é superior a todas as formas de luta; os demais se inscrevem cada um com seu próprio propósito pessoal. Após escolher seu personagem, o jogador deverá enfrentar todos os doze, incluindo um "clone" seu. A ordem na qual os lutadores são enfrentados pode ser escolhida, exceto por Mr. Big, que é sempre o último. Ou quase. Se o jogador conseguir derrotar todos os oponentes sem perder nenhum round, ganhará o direito de enfrentar, após Mr. Big, o misterioso realizador do torneio: ninguém menos que Geese Howard, principal vilão de Fatal Fury, em uma versão vinte anos mais jovem e que ainda não é um chefão do crime, e sim um policial corrupto que deseja usar as artes marciais para dominar toda a cidade.
Art of Fighting 2 (Ryuko no Ken 2, em japonês) foi lançado em fevereiro de 1994, e manteve todas as novidades de seu antecessor, como o zoom, a barra de espírito (renomeada para barra de fúria), o desperation attack, o super death blow e as fases bônus, que foram alteradas: ao invés de quebrar garrafas, o personagem deve derrubar uma árvore com um só golpe (usando o mesmo sistema de apertar o botão no momento certo), e, ao invés de quebrar as barras de gelo, deve derrotar uma gangue de punks (sendo que cada punk é vencido com um só golpe); o bônus de aprender o super death blow continua o mesmo, mas agora com pequenas alterações nas posições dos alvos dependendo das caratcerísticas do golpe de cada personagem.
Art of Fighting 2 fez ainda menos sucesso que o jogo anterior, tanto que só ganhou uma versão caseira (sem contar a do Neo Geo), lançada para o Super Nintendo exclusivamente no Japão - mas, pelo menos, sem censura. Ainda assim, a SNK tentaria um canto do cisne, e, em março de 1996, lançaria Art of Fighting 3: Path of the Warrior (Ryuko no Ken Gaiden no Japão, sendo que gaiden significa algo como "história alternativa"). Esse título japonês, aliás, não era à toa, já que o jogo era bastante diferente dos dois anteriores - para começar, ele era ambientado no início dos anos 1980, e não em South Town, mas no México. Na história, Robert vai ao México atrás de uma antiga amiga, Freia, que conseguiu criar uma poção tipo a do livro O Médico e o Monstro, e agora está ameaçada por um chefe do crime local, Wyler, que quer a poção para se tornar invencível; para que o amigo não vá sozinho, Ryo decide acompanhá-lo.
Ryo e Robert, aliás, são os únicos dos oito personagens disponíveis para o jogador vindos dos jogos anteriores da série, com os outros seis sendo novos: Kasumi Todoh é a filha de Ryuhaku Todoh, que quer vingança contra Ryo por ele ter derrotado seu pai quando ela era criança; Jin Fu-Ha é um ninja ex-discípulo de Eiji, que agora planeja matar seu antigo mestre, mas, antes, quer provar que é forte o suficiente para isso derrotando Ryo; Karman Cole é um empregado dos Garcia que conhece Robert desde pequeno, e é enviado por seu pai para trazê-lo de volta, pois ele considera que a procura de Robert por Freia é uma aventura desnecessária; Rody Birts e Lenny Creston (que, apesar do nome, é mulher) são dois detetives particulares contratados por Wyler para encontrar Freia e levá-la até ele; e Wang Koh-San é um amigo de Lee que está atrás da poção de Freia para acrescentá-la a seu laboratório. O jogo possui dois chefes, Sinclair, uma mulher indiana que finge ser aliada de Wyler, mas que, na verdade, deseja assassiná-lo por vingança; e Wyler, que, quando é alcançado pelo jogador, já está de posse da poção e a toma, se transformando em um homem enorme, monstruoso e demente. Sinclair é a penúltima oponente e Wyler o último para quase todos os jogadores, exceto para Kasumi e Jin (que têm Sinclair como antepenúltima, Wyler como penúltimo e Ryo como último) e para Cole (que tem Sinclair como antepenúltima, Wyler como penúltimo e Robert como último). Diferentemente do que ocorre nos dois jogos anteriores, em Art of Fighting 3 a ordem dos oponentes (exceto a dos dois ou três últimos) é decidida pelo computador, mas aleatória. Sinclair e Wyler podem ser selecionados através de um truque, e, como o jogo faz com que você enfrente "seu clone", também têm Sinclair e Wyler como os dois últimos oponentes - mas, curiosamente, nenhum dos dois tem um final próprio, diferentemente dos outros oito personagens.
Para Art of Fighting 3, o esquema de botões mudaria mais uma vez, com um botão sendo usado para socos fracos, um para chutes fracos, um para "ataques fortes" (que podem ser socos, chutes ou outro tipo de golpe, dependendo do personagem) e um para provocar. Combinando os botões com o direcional são realizados arremessos e sobrepassos, que fazem com que um oponente atacando perca o equilíbrio e caia no chão. Nesse jogo, aliás, personagens que caiam no chão, seja por arremesso, sobrepasso ou por efeito de um especial, demoram alguns instantes para se levantar, e podem ser atingidos enquanto caídos. O jogo manteve o zoom, a barra de fúria e o desperation attack, mas não tem mais as fases de bônus; todos os personagens já contam com o super death blow desde o início, mas ele foi renomeado para super attack, e é bem mais fraco que nos dois jogos anteriores - embora seja igualmente complicado de se realizar.
Art of Fighting 3 não fez sucesso nenhum, e nem ganhou uma versão caseira (mais uma vez, a do Neo Geo não conta). Somente em 2006, com o lançamento de Art of Fighting Anthology (Ryuko no Ken Tenchijin), coletânea que reunia os três jogos da série para o Playstation 2, é que ele seria adaptado para um console.
Além do pouco sucesso, a série seria interrompida por uma questão prática: desde o lançamento de The King of Fighters '94, o primeiro de sua série - o qual, segundo a lenda, teria sido criado a pedido de fãs que, animados com a presença de Ryo em Fatal Fury Special e de Geese em Art of Fighting 2, teriam pedido mais jogos que misturassem personagens de séries diferentes da SNK - os personagens de Art of Fighting lutam ao lado dos personagens de Fatal Fury, mas tendo a mesma aparência que tinham em Art of Fighting, o que não deveria ser o caso, pois, como Art of Fighting se passa vinte anos antes de Fatal Fury, eles deveriam estar vinte anos mais velhos. No início, isso foi resolvido com a explicação meia-boca de que The King of Fighters '94 era uma espécie de "dream match", um encontro fictício entre os maiores lutadores da SNK; mas, conforme a série se popularizou e ganhou um enredo próprio, essa explicação deixou de bastar, e a história de Art of Fighting foi retificada para que seus eventos não ocorressem vinte anos antes, e sim paralelamente aos eventos de Fatal Fury. Como os três jogos da série Art of Fighting existentes até então se tornaram anacrônicos com essa retificação, a SNK decidiu cancelar a série de vez, e usar seus personagens apenas em King of Fighters e em outros crossovers, como SNK vs. Capcom e Neo Geo Battle Coliseum.
Antes de terminar esse post, eu vou falar sobre um outro jogo que não faz parte da série Art of Fighting, mas é relacionado a ela, aparentemente sendo ambientado no mesmo universo: Buriki One: World Grapple Tournament '99 in Tokyo. Ou, simplesmente, Buriki One.
Lançado em maio de 1999, Buriki One foi o último jogo produzido para a placa Hyper Neo Geo 64 antes de a SNK desistir dela. Assim como outros cinco dos sete jogos lançados ao todo para o Hyper Neo Geo 64 (sendo Fatal Fury: Wild Ambition a única exceção), Buriki One também não ganhou nenhuma versão caseira, e o fato de ele ter sido o último, o que fez com que tivesse uma distribuição limitada e restrita ao Japão, teve como resultado que hoje ele é um jogo raríssimo, com poucas pessoas que já ouviram falar dele, e menos ainda que já o jogaram.
O que provavelmente é uma pena, já que o jogo tem um sistema inovador: os botões são usados para movimento, enquanto o joystick é usado para os golpes. Apesar dos gráficos em 3D, os personagens podem se mover apenas para a frente, para trás e pular, sem poder girar livremente o cenário - embora ele gire sozinho conforme a luta se desenrola. Os quatro botões, portanto, servem para andar para a frente, andar para trás, pular e se abaixar; pressionando o de andar para frente ou para trás duas vezes rapidamente resulta em uma corrida, e pressionar quaisquer dois simultaneamente faz com que o personagem bloqueie. O joystick é usado para os golpes, com as quatro direções básicas (cima, direita, esquerda e baixo) usadas para socos e chutes fortes e fracos, e combinações de direções usadas para outros tipos de golpes - a "combinação do hadouken" (baixo, baixo-frente, frente), por exemplo, resulta em um golpe rapidíssimo, difícil de ser bloqueado, mas fraco. Os especiais são feitos da forma usual, com uma combinação de movimentos no joystick seguida de um botão. Curiosamente, o jogo não tem nenhum especial que acerta à distância (como magias e saltos), o que faz com que os personagens tenham de estar sempre próximos para se atacar.
Além do sistema de controles, Buriki One tem outras características bizarras. A barra de energia, por exemplo, não é exatamente uma barra, e sim uma espécie de monitor cardíaco, que passa de preto com uma ondinha verde para piscando vermelho e então totalmente vermelho com uma linha, quando o personagem é nocauteado - o que torna controlar quem está ganhando a luta muito mais difícil. A barra de super não é estática, e fica andando junto com os personagens, embora eu não tenha conseguido descobrir se isso influencia no jogo ou se é só um efeito estético. Mas o mais bizarro de tudo é que é possível jogar os oponentes para fora do ringue, mas isso não resulta em vitória automática como em outros jogos do tipo; a luta simplesmente é interrompida e recomeça com os dois personagens no centro do ringue. É possível atingir personagens caídos, e cada luta dura apenas um round.
E o que o jogo tem a ver com Art of Fighting? Nele, os maiores lutadores do mundo se reúnem no Tokyo Dome (uma arena que existe de verdade, e é usada de cenário para todas as lutas) para o torneio definitivo de artes marciais, que provará qual dos diversos estilos é superior a todos os demais. Um dos participantes é Ryo Sakazaki, mais velho que em Art of Fighting (mantendo a história original de que os eventos de Art of Fighting ocorrem na década de 1970, mais de vinte anos antes de Buriki One, ambientado em 1999), que luta representando o Kyokugen Karate Dojo. É essa versão de Ryo, aliás, que aparece como chefe secreto em fatal Fury: Wild Ambition e como personagem selecionável em Neo Geo Battle Coliseum, usando o nome de Mr. Karate.
Além de Ryo, dez outros personagens, todos novos, estão à disposição do jogador desde o início: Gai Tendo, um estudante adolescente japonês que criou seu próprio estilo de luta, o qual chama de Total Fighting; Rob Python, um boxeador peso-pesado norte-americano; Jacques Ducalis, francês medalhista olímpico de ouro no judô; Seo Yong Song, sul-coreano atual campeão mundial de taekwondo; Takato Saionji, adolescente japonês que vem de uma família de mestres de aikido; Payak Sitpitak, tailandês campeão mundial de muay thai; Song Xuandao, velhinho chinês que quer provar a superioridade do tai chi chuan sobre as demais artes marciais; Patrick Van Heyting, lutador holandês de luta livre; Ivan Sokolov, russo medalhista de ouro na luta olímpica; e Akatsuki-Maru, japonês lutador de sumô em ascensão. O último chefe, que pode ser selecionado através de um truque, se chama Silber, é alemão, e também criou seu próprio estilo de luta, mesclando os pontos principais de todos os demais. Silber participa pela primeira vez de um torneio oficial, mas, em todas as lutas das quais já participou, jamais foi derrotado. Cabe ao jogador provar que sempre existe uma primeira vez para tudo.
Apesar dos dois primeiros Art of Fighting se passarem nos anos 1970, Robert Garcia dirige, em ambos, uma Ferrari F40, carro lançado em 1987. Hehehehe, ótimo artigo, como sempre :)
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