Eu me lembrava vagamente de ter lido alguma coisa nos jornais sobre seu autor, e sabia que, há pouco, havia sido lançado um filme, protagonizado por Daniel Craig. Da história, porém, eu não sabia absolutamente nada, nem do enredo, nem do estilo. Quando tive a oportunidade de ler, o fiz mais por curiosidade, despretensiosamente. Acabei gostando mais do que achei que fosse gostar, e, assim que tive a oportunidade, comprei pra mim não somente esse, mas também os dois volumes seguintes da trilogia da qual ele faz parte, conhecida como Trilogia Millennium. E também todos os filmes baseados nesses três livros.
Já faz um tempo que eu penso em escrever sobre esses livros, mas acabava sempre preferindo falar sobre outra coisa no lugar. Hoje, acabei decidindo levar o projeto adiante, e o resultado é o post que vocês lerão a partir de agora.
A Trilogia Millennium é de autoria de Stieg Larsson, que nasceu Karl Stig Erland Larsson, na cidade de Skelleftehamn, Suécia, em 15 de agosto de 1954. Filho de uma dona de casa e de um operário de uma indústria de alumínio, ele começaria a escrever aos 12 anos, após ganhar uma máquina de escrever de presente de seus pais. Na época, a família havia se mudado para Estocolmo, após o pai ser diagnosticado com envenenamento por arsênico e aposentado por invalidez; com mais acesso a livros e revistas na capital que no interior do país, Larsson logo se tornaria grande fã de ficção científica, gênero que também adotava ao escrever suas histórias. Na adolescência, ele seria membro de vários fanzines, e publicaria vários contos de forma amadora ao longo da década de 1970. Em 1980, ele se tornaria presidente da Sociedade de Ficção Científica da Escandinávia, e foi nessa época que ele decidiria mudar a grafia de seu nome: originalmente, ele publicava seus contos como Stig Larsson, mas, depois que outro Stig Larsson começou a fazer sucesso como escritor profissional, ele decidiria mudar para Stieg porque, imaginando que logo também alcançaria o sucesso, não desejava que ambos fossem confundidos um com o outro. A pronúncia de Stig e Stieg, aliás, é a mesma.
Mas Larsson não seguiria carreira como escritor de ficção científica. No final da década de 1970, ele se envolveria com movimentos de extrema esquerda, se tornando membro da Liga Comunista dos Trabalhadores e editor de um jornal trotskista. Essas experiências fariam com que ele se tornasse fotógrafo, designer gráfico e, por fim, jornalista. Seu trabalho como jornalista o afastaria cada vez mais dos contos de ficção científica, até que, em meados da década de 1980, ele os abandonaria por completo.
Após anos trabalhando para a agência de notícias sueca Tidningarnas Telegrambyrå - durante os quais ele escreveria seu primeiro livro, a não-ficção Extremhögern, sobre os movimentos de extrema direita na Suécia - ele decidiria fundar, com um grupo de amigos, a Fundação Expo, com a missão de conter o crescimento da extrema direita nas escolas e dentre os jovens. Em 1995, a Fundação lançaria sua própria revista, também chamada Expo, da qual Larsson seria editor nos primeiros anos. Em suas matérias, a Expo denunciava grupos anti-democráticos, neo-nazistas e ações envolvendo racismo, xenofobia e violações de direitos humanos. Evidentemente, grupos que se sentiam ameaçados pela publicação fizeram de tudo para fechá-la, inclusive ameaçar diretamente as gráficas que a imprimiam. Mesmo com todas as ameaças, ações na justiça e sérias dificuldades financeiras, a Expo conseguiria se manter de pé - embora, em 1998, para cortar custos, tenha sido transformada em um tabloide, e, em 1999, em uma seção da revista Svartvitt, voltando a ser publicada como uma revista independente em 2003.
Larsson seria jornalista da Expo desde sua fundação até sua morte, em 2004. Aos 50 anos, ele teve um ataque cardíaco fulminante, logo após subir sete andares de escada até o escritório da Expo, porque o elevador não estava funcionando. Na época, houve a desconfiança de que ele teria sido assassinado, já que recebia inúmeras ameaças de morte devido a suas investigações; essas desconfianças foram afastadas pela editora da revista, Eva Gedin, que o socorreu, e pela polícia, que não encontrou nenhuma evidência de crime.
Pouco após a morte de Larsson, sua companheira, Eva Gabrielsson, revelou três manuscritos de histórias completas escritas por ele, mas jamais publicadas. Larsson teria escrito essas histórias em seu tempo livre, à noite, após voltar do trabalho, para sua própria distração, sem intenção de publicá-las. Ironicamente, semanas antes de sua morte, Gabrielsson o havia convencido a submetê-los para publicação, e ele os teria oferecido a várias editoras, com apenas a Norstedts Förlag os tendo aceitado. Com a morte de Larsson, a Norstedts planejava não lançá-los mais, mas o ato de Gabrielsson fez com que o interesse pelas histórias fosse despertado no público, de forma que a editora voltou atrás.
Assim, em 2005, seria publicado o primeiro livro, Os Homens que Não Amavam as Mulheres (em sueco, Män som Hatar Kvinnor, "homens que odeiam mulheres"), um romance policial protagonizado por um casal com pouco em comum: Lisbeth Salander, hacker bissexual cheia de tatuagens e piercings, que, após uma infância e uma adolescência sofridas, decide usar suas habilidades trabalhando como "espiã" para uma firma de segurança, a Milton Security; e Mikael Blomqvist, jornalista de meia-idade da revista Millennium, dedicada a denunicar os abusos da extrema direita e do capitalismo. Qualquer semelhança não é mera coincidência, já que Larsson pretendia fazer de Blomqvist uma espécie de alter ego seu.
No início do romance, Blomqvist está em maus lençóis: uma de suas reportagens, que visava denunciar lavagem de dinheiro feita pelo milionário Hans-Erik Wennerström, se mostra fundada em fatos que não podem ser provados - ou seja, a fonte mentiu - o que faz com que o jornalista seja condenado a três meses de prisão por calúnia e difamação. Antes que chegue o dia de cumprir sua pena, porém, Blomqvist é investigado por Salander, contratada por outro milionário, Henrik Vanger, que decide contratar o jornalista para elucidar um caso complicado: em 1966, sua sobrinha Harriet desapareceu sem deixar vestígios. A polícia nunca chegou a nenhuma conclusão, embora Vanger acredite que ela foi assassinada. E esse não é um caso de desaparecimento comum: Harriet desapareceu enquanto toda a família estava reunida em sua ilha particular, da qual só há uma entrada e saída, que estava bloqueada por um acidente - ou seja, ela não tinha como sair da ilha, e, embora seu corpo nunca tenha sido encontrado, se ela foi mesmo assassinada, o assassino é alguém da família. Durante a investigação, Blomqvist se envolverá com Salander, e ambos descobrirão que o caso faz parte de algo aparentemente muito maior: o assassinato, na década de 1960, de várias mulheres por toda a Suécia, aparentemente todos obra de um mesmo criminoso.
Em uma entrevista que deu pouco antes de morrer, Larsson declarou que, aos 15 anos de idade, testemunhou uma amiga ser estuprada por um grupo de três homens, e não teve coragem de intervir; depois, ele pediria que ela o perdoasse, mas ela se negou. Segundo ele, o episódio teria marcado sua vida, e ele teria escrito Os Homens que Não Amavam as Mulheres como uma forma de expurgar seus fantasmas, criando uma protagonista feminina forte, independente e bem resolvida, apesar de sua infância e adolescência sofridas - Salander era maltratada pelo pai, passou a maior parte da adolescência internada em uma clínica psiquiátrica, é declarada mentalmente incapaz de gerir as próprias finanças e ainda foi vítima de estupro. O caso investigado por Blomqvist também é a chance que Salander tem de punir um criminoso que maltratou mulheres mas nunca foi condenado por isso. Além da violência contra a mulher, Larsson usa temas que costumava abordar na Expo, como o neo-nazismo, o poder do capital e a influência do meio sobre o homem, todos, segundo ele, permeados, mas pouco discutidos, na sociedade sueca contemporânea.
Os Homens que Não Amavam as Mulheres foi um imenso sucesso de público e crítica na Suécia, ganhando o prêmio de Melhor Livro do Ano em 2006. Esse sucesso levaria à publicação do livro no Reino Unido em 2008; curiosamente, porém, seu título foi considerado "inapropriado para a língua inglesa", e trocado para The Girl With The Dragon Tattoo ("a garota com a tatuagem de dragão", uma referência a Salander). A versão em inglês renderia dois prêmios póstumos a Larsson, o de Melhor Autor de Romance Policial e o de Melhor Primeiro Romance. O sucesso do livro no Reino Unido levou ao lançamento de várias outras versões europeias, fazendo com que o livro se tornasse um grande sucesso em toda a Europa; curiosamente, porém, nos Estados Unidos o livro dividiu a crítica, com alguns elogiando, outros detestando - sendo que alguns colocariam a culpa no tradutor.
O segundo livro, A Menina que Brincava com Fogo (e dessa vez o mesmo título em sueco, Flickan som Lekte med Elden, foi mantido em inglês, The Girl Who Played With Fire - mas, por alguma razão bizarra, em Portugal decidiram traduzir para A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo) seria lançado em 2006 na Suécia e 2009 no restante da Europa. Nesse livro, o jovem jornalista Dag Svensson procura a Millenium, oferecendo uma pesquisa que fez sobre a máfia russa e o tráfico de mulheres, para que esta se torne uma reportagem da revista. Infelizmente, devido ao grande número de figurões envolvidos, e da possibilidade de um segredo de estado vir à tona, Svensson é morto antes que consiga concluir a reportagem. Mikael Blomqvist, incansável na busca por justiça, decide investigar sua morte, e acaba encontrando uma relação entre a matéria que Svensson escrevia e o passado de Lisbeth Salander - que sumiu no mundo após os eventos do livro anterior, estando, atualmente, em local desconhecido de Blomqvist. O segundo livro seria mais um gigantesco sucesso em toda a Europa - se tornando, inclusive, o primeiro e até hoje único livro da história não escrito originalmente em língua inglesa (ou seja, traduzido) a chegar ao primeiro lugar da lista dos mais vendidos no Reino Unido.
A trilogia se concluiria com A Rainha do Castelo de Ar (em sueco, Luftslottet som Sprängdes, "o castelo de ar que explodiu"), lançado em 2007 na Suécia e 2009 na Europa (tendo ganhado, em inglês, o curioso título de The Girl Who Kicked the Hornet's Nest, algo como "a garota que chutou o vespeiro"). Continuação direta do anterior, ele lida com o passado de Salander, sua infância e a época em que passou internada, enquanto ela é julgada por um crime que não cometeu. Enquanto o julgamento ocorre, Blomqvist e sua irmã, Annika Giannini (Giannini por parte de casamento), que atua como advogada de Salander, buscam encontrar provas de sua inocência, e o Dr. Peter Teleborian, psiquiatra que internou Salander na adolescência, tenta provar que ela ainda é louca e precisa voltar ao sanatório. Vários personagens do livro, como o psiquiatra Svante Branden e o médico Anders Jonasson, são figuras da vida real, conhecidas de Larsson - repetindo um expediente que ele já havia usado no livro anterior, no qual incluiu o boxeador Paolo Roberto, uma celebridade da Suécia, como se fosse amigo de Salander.
O terceiro livro seria mais uma vez um sucesso, entrando para a lista dos mais vendidos nos Estados Unidos enquanto ainda estava na pré-venda. Após seu lançamento, os três livros ficariam conhecidos como "Trilogia Millennium", devido ao nome da revista na qual Blomqvist trabalha, e seriam frequentemente relançados todos juntos, em embalagens especiais.
Em 2009, o estúdio sueco Yellow Bird, em parceria com a gigante dinamarquesa do cinema Nordisk Film, assegurou os direitos para transformar os três livros em filmes. A intenção original da Yellow Bird era lançar apenas Os Homens que Não Amavam as Mulheres nos cinemas, produzindo os outros dois para a TV, mas o enorme sucesso do primeiro filme e a pressão do Svenska Filminstitutet, o instituto de cinema sueco, acabariam levando ao lançamento dos outros dois nos cinemas também.
Os Homens que Não Amavam as Mulheres seria filmado primeiro, e estrearia em 27 de fevereiro de 2009. Dirigido por Niels Arden Oplev, ele trazia o veterano Michael Nyqvist como Mikael Blomqvist, e a relativamente pouco conhecida Noomi Rapace como Lisbeth Salander - em uma interpretação tão contundente e elogiada que faria com que ela se tornasse, desde então, bastante cotada em Hollywood. O filme seria bastante fiel ao livro, e cairia nas graças da crítica sueca e internacional, ganhando um Bafta (o Oscar britânico) de Melhor Filme Estrangeiro. O retorno financeiro também não foi nada mal: com orçamento equivalente a 13 milhões de dólares, renderia 104 milhões no mundo inteiro, sendo 10 milhões apenas nos Estados Unidos, uma proeza para um filme falado em sueco.
Os outros dois filmes seriam filmados simultaneamente, ambos dirigidos por Daniel Alfredson, com A Menina que Brincava com Fogo sendo lançado em 18 de setembro e A Rainha do Castelo de Ar em 27 de novembro de 2009. Esses filme não fariam tanto sucesso de público ou crítica quanto o primeiro, mas mesmo assim seriam considerados extremamente bem-sucedidos pela Nordisk, pois alcançariam cifras internacionais bem acima do usual para produções escandinavas.
Em 2010, a Yellow Bird, em parceria com a SVT, o principal canal de televisão da Suécia, decidiria lançar edições estendidas dos filmes - usando cenas originalmente gravadas para eles, mas removidas na edição para que não ficassem compridos demais - mas na forma de uma minissérie. Chamada simplesmente Millennium, a minissérie teria seis episódios de 90 minutos cada - o que resulta, no total, em 110 minutos a mais que os filmes, o equivalente um filme inteiro - sendo cada dois episódios correspondentes a um dos filmes originais. Exibida entre 20 de março e 24 de abril de 2010 na SVT1, a minissérie seria extremamente elogiada pela crítica, principalmente por incorporar aos filmes elementos dos livros que não haviam sido abordados nas versões originais. Em 2011, a minissérie seria novamente reeditada como três filmes, para o lançamento em DVD e Blu-ray das versões estendidas.
2011 também seria o ano de lançamento da versão norte-americana de Os Homens que Não Amavam as Mulheres, dirigido por David Fincher (de Seven e Clube da Luta) e trazendo Daniel Craig (o 007 desde Cassino Royale) como Mikael Blomqvist e Rooney Mara (de A Rede Social) como Lisbeth Salander, além do veterano Christopher Plummer como Henrik Vanger. O filme seria produzido pela Sony, que começou a produzi-lo em 2009, e planejava lançá-lo até mesmo antes da versão sueca, mas demorou para conseguir os direitos de adaptação, para que Craig estivesse disponível e para escalar uma atriz para o papel de Salander. Diferentemente do que costuma ocorrer em versões norte-americanas de filmes europeus, a história não foi transferida para os Estados Unidos, com o filme ainda sendo ambientado na Suécia - de fato, nos mesmos locais do livro e do filme sueco; apesar disso, o filme possui algumas mudanças em relação ao material original, para ficar mais de acordo com o gosto do público norte-americano. Vale citar, como curiosidade, que o filme também tem uma abertura bem parecida com as dos filmes de 007, mas isso provavelmente não tem nada a ver com a presença de Craig, devendo ter sido apenas coincidência.
Lançado em 20 de dezembro de 2011, o filme foi considerado um sucesso de público - com orçamento de 90 milhões de dólares, rendeu pouco mais de 100 milhões nos Estados Unidos, mas 232 milhões se forem considerados os rendimentos internacionais - e de crítica, com a interpretação de Mara sendo especialmente elogiada - o que leva à conclusão de que Salander é uma boa personagem para fazer uma boa atriz se destacar. A Sony também tem os direitos para os outros dois filmes, e, desde 2012, planeja filmá-los simultaneamente, esbarrando em diversos problemas, como conflitos de agenda de Fincher e Craig, sucessivas mudanças no roteiro e cortes no orçamento. A nova tentativa é para que o segundo filme seja lançado em 2015, mas Mara, em recentes entrevistas, disse achar pouco provável que eles saiam do papel, apesar de toda a sua vontade em voltar a interpretar Salander.
Para terminar, mais um fato curioso: enquanto escrevia seus romances, Larsson não planejava criar uma trilogia, e sim uma série de nada menos que dez livros. Na ocasião de sua morte, apenas esses três estavam finalizados, mas o quarto estava bem próximo, e ele havia feito rascunhos para o quinto e o sexto. Esse material se encontra, atualmente, em posse de Gabrielsson, que não pode publicá-los por não ser a herdeira legal de seus direitos, e se recusa a negociá-los com o pai e o irmão de Larsson, que herdaram todos os direitos de exploração de sua obra após sua morte. Isso ocorreu porque Larsson e Gabrielsson nunca se casaram; como ele recebia inúmeras ameaças de morte devido às investigações que fazia para a Expo, era importante manter seu endereço, telefone e outros dados, como o número de suas identidades, em sigilo - de fato, Larsson até ingressou na justiça para tanto, ganhando o direito de esses dados não constarem de nenhum registro público. As leis suecas, porém, requerem que, quando um casal for se casar, seu endereço residencial seja exposto no cartório durante três meses - e a isenção dessa exigência não foi conseguida por Larsson em sua ação judicial. Diante do risco, Larsson e Gabrielsson preferiram apenas "morar juntos", sem oficializar a união - mas as leis da Suécia não consideram companheiros como herdeiros, apenas cônjuges. Para tentar contornar esse problema, Larsson fez um testamento, mas, novamente, as leis suecas se mostraram um entrave, já que elas requerem a presença de uma testemunha no momento em que o testamento está sendo escrito, e Gabrielsson, apesar de estar de posse do testamento, não serve como testemunha - afinal, é a principal interessada - e nunca foi capaz de apresentar uma.
Até hoje, Gabrielsson e o pai e o irmão de Larsson brigam na justiça pelos direitos; pelo menos, ela ainda tem direito a ficar com os manuscritos originais de todos os livros escritos por ele, publicados ou não. O pai e o irmão de Larsson, porém, parecem não querer que esse pequeno detalhe interrompa a série, e já contrataram um novo escritor, David Lagercrantz, para escrever o quarto livro - o qual Gabrielsson tenta barrar na justiça, alegando que a visão original de Larsson não será respeitada, já que Lagercrantz não terá acesso ao manuscrito.
Uma coisa é certa: se sair um quarto livro, dificilmente a obra continuará conhecida como Trilogia Millennium...
0 Comentários:
Postar um comentário