No fim, acabei decidindo escrever só sobre os Clássicos mesmo, mas não fiquei plenamente satisfeito. Pensei até em fazer uma nova série, só sobre os filmes com animação, mas isso acabaria fazendo com que eu tivesse de escrever sobre filmes dos quais eu não gosto muito, nunca vi ou já nem me lembro mais. Pra falar a verdade, de todos os filmes Disney que misturam atores a animação, os únicos três que eu gosto são os que eu tinha vontade de falar.
Diante disso, hoje resolvi ressucitar a série dos Clássicos Disney só para falar sobre esses três filmes - três grandes Clássicos também, embora a Disney não se refira assim a eles para não confundir com os desenhos animados. Sem mais delongas, vamos a eles!
1964
Originalmente, Mary Poppins era a estrela de uma série de oito livros escrita pela australiana P.L. Travers, cujo primeiro livro da série, publicado em 1934, também se chamava Mary Poppins. Desde o sucesso de Branca de Neve e os Sete Anões, quando Disney começou a procurar histórias para seus próximos Clássicos, ele tentou conseguir os direitos de Mary Poppins, que considerava um dos melhores livros infantis já escritos, tendo feito sua primeira tentativa já em 1938. Travers, porém, não se interessou, pois achava que uma versão cinematrográfica de seu livro não atrairia a atenção das crianças da mesma forma que a versão escrita - definitivamente, os tempos eram outros.
Disney, entretanto, jamais se deu por vencido, e, após lançar O Dragão Relutante, seu primeiro filme que misturava atores de carne e osso a personagens de animação, em 1941, decidiu mudar de tática, tentando convencer Travers a vender-lhe os direitos para que o livro fosse adaptado para um filme, não para um desenho. Sob esse argumento, o agente de Travers é que foi contra, pois Disney era então conhecido como um produtor de desenhos, e não se acreditava que um de seus filmes pudesse conseguir o mesmo sucesso de seus Clássicos.
Foi preciso mais de vinte anos de troca de correspondências entre Disney e Travers - e o sucesso de muitos outros Clássicos e filmes Disney - para que ela finalmente se desse por vencida. Em 1961, Travers finalmente concordaria em ceder os direitos para que Disney fizesse um filme, com atores, de Mary Poppins, com uma condição: a de que ela tivesse a palavra final sobre o roteiro, vetando ou alterando qualquer coisa que julgasse inconsistente com seu livro.
Isso não significa, evidentemente, que Disney teve de fazer um filme exatamente fiel ao livro - o que talvez fosse até impossível, por questões de ritmo e duração. os roteiristas Bill Walsh e Don DaGradi fizeram uma série de mudanças, como diminuir o núemro de crianças para apenas duas (no livro, são quatro, sendo dois gêmeos), fazer com que o Sr. Banks fosse o responsável por entrevistar Mary Poppins ao invés da Sra. Banks, tornar a babá mais simpática com as crianças, contrastando com a frieza e intimidação com que ela os trata nos livros, e incluir o personagem Bert, um amálgama de diversos personagens masculinos dos quatro primeiros livros da série. Travers não se opôs a nenhuma dessas mudanças, apenas pediu para que não fosse feita nenhuma sugestão de que Mary e Bert tinham um envolvimento romântico - embora o filme sutilmente sugira que Bert é apaixonado por Mary, muitas cenas deixam bem claro que os dois são apenas amigos. Os roteiristas também amenizaram um pouco o clima do livro, considerado por eles satírico e misterioso demais para as crianças, o que deu origem, dentre a crítica, ao termo "disneyficação", usado até hoje para reclamar quando a Disney ameniza uma história para transformar em um de seus desenhos, como fez, por exemplo, com O Corcunda de Notre Dame.
Ao todo, a produção do filme levou dois anos. Desde o início, Disney havia decidido que queria um musical, então contratou os Sherman Brothers, com quem já havia trabalhado em A Espada era a Lei (e com quem viria a trabalhar em Mogli e Os Aristogatas) para escrever a trilha sonora. Por sugestão dos Sherman Brothers, Disney mudaria a ambientação da história da década de 1930 para a década entre 1900 e 1910, conhecido como Era Eduardiana. Curiosamente, Travers não se opôs à mudança de época, mas exigiu que todas as músicas da trilha sonora, ao invés de compostas pelos Sherman Borthers, fossem sucessos da Era Eduardiana. Ao descobrir que Disney planejava misturar sequências de animação ao filme, ela também se opôs, exigindo que o filme fosse inteiramente feito com atores. Felizmente, Disney era esperto: ele a havia dado poder de veto no roteiro, mas não em questões técnicas do filme, deixando, inclusive, bem claro no contrato que cabia a ele tais decisões. Assim, Travers acabou tendo de aceitar as canções originais e as sequências de animação.
Para o papel de Mary Poppins, Disney escolheria Julie Andrews, que faria sua estreia no cinema após uma bem sucedida carreira no teatro. Curiosamente, Andrews não estava a princípio disponível para o papel, já que faria a versão cinematográfica de Minha Querida Dama, musical que ela, durante anos, protagonizou na Broadway. O presidente da Warner Bros. na época, Jack Warner, porém, não queria Andrews no papel, e acabou convidando Audrey Hepburn. Ironicamente, Andrews e Hepburn concorreriam ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Atriz por seus respectivos papéis, com Andrews ganhando ambos os prêmios - embora Minha Querida Dama tenha ganhado o Oscar de Melhor Filme.
Para o papel de Bert, seria escolhido o comediante Dick Van Dyke, por sua atuação no seriado The Dick Van Dyke Show. Dick foi bastante elogiado por sua performance, mas extretamente criticado por seu sotaque - fato pelo qual ele botou a culpa em seu professor de sotaques - e acabou virando um exemplo do que um ator não deve fazer ao tentar imitar um sotaque. Completariam o elenco atores pouco conhecidos, escolhidos através de testes.
O filme começa quando a família Banks, composta pelo pai, George (David Tomlinson), um banqueiro, pela mãe, Winifred (Glynis Johns), membro de uma organização que luta pelos direitos das mulheres, e pelos dois filhos, Jane (Karen Dotrice) e Michael (Matthew Garber) perde mais uma babá - aparentemente, as crianças são pestinhas tão grandes que nenhuma consegue ficar mais que poucos meses no cargo. Como a família precisa de uma nova babá, as crianças se propõem a escrever o anúncio, pedindo uma divertida e permissiva. O pai, evidentemente, não concorda, joga fora o anúncio escrito pelas crianças e escreve um novo.
O anúncio jogado fora pelo pai, porém, vai parar nas mãos de Mary Poppins (Julie Andrews), uma misteriosa babá que parece ter poderes mágicos. Mary se oferece para o cargo, e acaba convencendo o Sr. Banks a contratá-la. A partir de então, ela acaba dando um jeito nos pestinhas, ensinando-os o valor da amizade e da família, sempre através de incríveis aventuras vividas pelo trio junto com um amigo de Mary, Bert (Dick Van Dyke), um faz-tudo que vive nas ruas e conhece todo mundo.
Lançado em 27 de agosto de 1964, Mary Poppins foi um grande sucesso, mesmo com uma duração exagerada para um filme infantil, nada menos que duas horas e 19 minutos. Com orçamento de 6 milhões de dólares, rendeu 28,5 milhões apenas nos Estados Unidos, se tornando o filme número um das bilheterias a frente de três concorrentes de peso: A Noviça Rebelde, 007 contra Goldfinger e Minha Querida Dama. O filme seria relançado nos cinemas em 1973, rendendo mais 9 milhões de dólares. Estima-se que, até hoje, no mundo inteiro, Mary Poppins já tenha rendido à Disney mais de 100 milhões.
A crítica também foi extremamente favorável, com o filme sendo universalmente aclamado, considerado até hoje por muitos críticos como um dos melhores filmes infantis de todos os tempos, e sendo indicado a nada menos que 13 Oscars, ocupando a segunda posição ao lado de ...E O Vento Levou, Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, A Um Passo da Eternidade, Forrest Gump: O Contador de Histórias, Shakespeare Apaixonado, O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, Chicago e O Curioso Caso de Benjamin Button - somente A Malvada e Titanic, com 14 cada, têm mais indicações. Dos 13 prêmios aos quais foi indicado, Mary Poppins ganharia cinco: Melhor Atriz (Julie Andrews), Melhor Canção Original (Chim Chim Cher-ee), Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Edição e Melhores Efeitos Visuais - perderia Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Diretor, Melhor Tratamento de Trilha Sonora, Melhor Edição de Som e Melhor Filme, todos para Minha Querida Dama, e Melhor Roteiro Adaptado para Becket. Até hoje, Mary Poppins é a produção Disney não só com o maior número de indicações, mas também com o maior número de Oscars.
A trilha sonora de Mary Poppins também seria extremamente elogiada, contendo clássicos como Chim Chim Cher-ee, Jolly Holiday, A Spoonful of Sugar, Feed the Birds e, é claro, Supercalifragilisticexpialidocious. Aproveitando a imortalidade das canções, em 2004 a Disney lançaria uma versão musical para o teatro, que em 2006 passaria a ser exibida na Broadway. O musical ficaria em cartaz até 3 de março desse ano, quando encerrou sua temporada após 2.619 apresentações ao longo de seis anos.
Who Framed Roger Rabbit
1988
Em 1981, o escritor Gary K. Wolf lançou Who Censored Roger Rabbit?, um romance policial diferente. Ambientado em um mundo no qual personagens de tiras em quadrinhos convivem com os seres humanos, ele tinha como protagonista o detetive Eddie Valiant, contratado por um desses personagens, o coelho Roger Rabbit, para descobrir por que seus patrões, os Irmãos DeGreasy, se recusavam a dar-lhe sua própria tira. Durante a investigação, Roger aparece morto, e Valiant decide levar a fundo a investigação de por que ele teria sido "censurado". A lista de suspeitos, além dos irmãos DeGreasy, incluíam a esposa de Roger, Jessica Rabbit, e seu antigo parceiro de comédias, Baby Herman. Além desses personagens novos, o romance trazia participações especiais de vários personagens famosos das tirinhas, como Dick Tracy, Snoopy, Belinda, o Recruta Zero e Hägar, o Horrível.
Assim que tomou conhecimento do livro, o então presidente da Disney, Ron W. Miller, se apressou em conseguir seus direitos, acreditando que a história era perfeita para um novo sucesso do estúdio. Os roteiristas contratados para a primeria versão do roteiro, Jeffrey Price e Peter S. Seaman, decidiriam que, já que era um desenho, seria melhor se os personagens que faziam participações especiais fossem de desenhos clássicos ao invés de tirinhas. Price e Seaman comentaram sobre o projeto com o diretor Robert Zemeckis, que procurou a Disney e se ofereceu para dirigir. Infelizmente, os filmes de Zemeckis até então, Febre da Juventude e Carros Usados, foram dois imensos fracassos de bilheteria, o que fez com que a Disney recusasse seu pedido. O uso de personagens de desenhos que não fossem da Disney também representaria um alto custo em licenciamentos, com o qual o estúdio não podia arcar na época. Assim, o projeto foi engavetado.
Em 1985, o novo presidente da Disney, Michael Eisner, decidiu desengavetar o projeto. Por sugestão do executivo Jeffrey Katzenberg, a Disney faria um filme não de animação, mas mesclando atores de carne e osso a personagens animados - segundo Katenberg, justamente o que a Disney precisava para sair do buraco financeiro em que se encontrava. O projeto era ambicioso, e a Disney precisaria de um parceiro caso fosse mesmo executá-lo. Eisner, então, decidiu procurar a Amblin Entertainment, de propriedade de Steven Spielberg, que adorou a ideia, mas estimou o orçamento em 50 milhões de dólares, cifra surreal para a época.
Após muitos ajustes, e graças ao desenvolvimento de novas tecnologias, o orçamento previsto do filme chegou a 29,9 milhões, número que ainda faria dele o mais caro filme envolvendo animação de todos os tempos, mas que acabou considerado aceitável pela Disney, que acendeu a luz verde para o projeto. No fechamento do contrato com a Amblin, ficaria estabelecido que Spielberg teria o controle criativo, enquanto a Disney ficaria com todos os direitos de merchandising. O próprio Spielberg entraria em negociações com Warner Bros, Fleischer Studios, King Features Syndicate, Felix the Cat Productions, Turner Entertainment, Universal Pictures e Walter Lantz Productions para cuidar do licenciamento para que personagens como os Looney Tunes, o Pica-Pau, Betty Boop, Droopy e o Gato Félix pudessem aparecer no filme - embora nem todas as negociações tenham sido bem sucedidas, já que Spielberg não conseguiu licenças para Gasparzinho, Luluzinha, Tom e Jerry, nem para a turma do Popeye. A maioria dos licenciamentos previa algum tipo de condição, como a de que os Looney Tunes não deviam aparecer como inferiores aos personagens Disney - razão pela qual a batalha de pianistas entre Donald e Patolino termina sem um vencedor.
Para a direção, a Disney chamaria Terry Gilliam, que recusaria por considerar o projeto muito complexo - decisão da qual ele depois confessaria se arrepender. A Disney então se lembraria de Zemeckis, que aí já era um diretor famoso e bem sucedido graças a Tudo por Uma Esmeralda e De Volta para o Futuro; sem guardar rancor, Zemeckis aceitaria o convite quando procurado, mas preferiria não ter de cuidar também das cenas de animação, para as quais a Disney contrataria o canadense Richard Williams - diretor de The Thief and the Cobbler, um dos longas de animação de história mais conturbada de todos os tempos, cuja produção duraria de 1964 a 1993, e acabaria resultando em um processo contra a Disney, já que Williams achava que Aladdin era um plágio de sua obra.
Price e Seaman foram chamados para escrever a versão final do roteiro, e decidiram se inspirar nos desenhos clássicos da Disney, da Warner Bros, de Tex Avery e Bob Clampett, ambientando o filme na década de 1940, a Era de Ouro dos desenhos animados. Os roteiristas tiveram muita dificuldade para definir um vilão - chegaram a pensar em colocar Jessica ou Baby Herman como tal - e acabariam criando um personagem inédito para esse papel, o Juiz Doom, descobridor de um composto químico, chamado Caldo, capaz de matar desenhos animados - que, para todos os efeitos, são imortais, não envelhecendo e capazes de resistir às mais violentas situações, como quedas, atropelamentos, tiros e explosões. Inicialmente, o Juiz Doom teria um abutre animado pousado em seu ombro, o que foi descartado por razões técnicas; depois, ele seria acompanhado de um júri de cangurus cujos filhotes sairiam das bolsas para levantar plaquinhas que formavam a palavra "culpado", o que foi considerado pouco prático. No fim, o Juiz acabou ganhando cinco doninhas capangas - que, originalmente, seriam sete, para parodiar os sete anões da Branca de Neve, mas acabaram reduzidas por contenção de despesas. Os roteiristas também haviam definido que o Juiz Doom seria o caçador que matou a mãe de Bambi, mas a Disney não gostou da ideia e pediu que a referência fosse retirada da versão final.
No filme, Roger Rabbit (voz de Charles Fleischer) é uma estrela do cinema, tendo participado de vários desenhos produzidos pela Maroon Cartoons, sempre em parceria com Baby Herman (voz de Lou Hirsch). Um dia, R.K. Maroon (Alan Tilvern), presidente da Maroon Cartoons, contrata o detetive Eddie Valiant (Bob Hoskins), por acreditar que a esposa de Roger, Jessica (voz de Kathleen Turner), está tendo um caso extraconjugal. Valiant segue Jessica e tira fotos comprometedoras dela com Marvin Acme (Stubby Kaye), presidente das indústrias ACME e dono de Toontown, bairro de desenho animado no qual moram os desenhos. Graças a essas fotos, Roger passa a ser o principal suspeito quando Acme aparece morto, e é perseguido pelo Juiz Doom (Christopher Lloyd), que planeja provar que desenhos são degenerados e usar o Caldo para acabar com eles e com Toontown. Como Baby Herman insiste que o testamento de Acme deixaria Toontown para os desenhos - e, sem ele, o bairro cairá nas mãos das misteriosas Indústrias Trevo - Valiant decide investigar o caso e provar a inocência de Roger.
As filmagens começariam em 1986, mas a produção sofreria com muitos problemas de atraso, principalmente devido à complexidade das cenas - vários robôs, animatronics e modelos de borracha tinham de ser usados para criar as cenas nas quais os personagens animados que seriam inseridos posteriormente interagiam com os atores. Williams também se recusaria a trabalhar em Los Angeles, o que faria com que todas as cenas de animação fossem produzidas nos Elstree Studios de Hertfordshire, Inglaterra. A pós-produção, na qual os personagens de animação foram inseridos no filme, duraria mais de um ano, e encontraria como principal dificuldade o estilo de filmagem de Zemeckis, no qual a câmera se movia muito - o que fazia com que os animadores tivessem de ter especial cuidado para que os personagens não ficassem "deslizando" pela tela. Por tudo isso, Uma Cilada para Roger Rabbit estouraria, e muito, seu orçamento previsto, custando mais de 70 milhões de dólares para ficar pronto - quando os gastos chegaram a 40 milhões, Eisner chegou a considerar suspender as filmagens e encerrar o projeto, sendo convencido do contrário por Katzenberg.
Para coroar as dificuldades de produção, Eisner e Roy E. Disney acharam que o filme tinha muitos elementos sexuais e piadas que as crianças não entenderiam, e desejavam que Zemeckis editasse o filme para que ele ficasse mais infantil. O contrato de Zemeckis, entretanto, previa que ele tinha o direito de escolher a versão final, e, alegando isso, ele se recusou a editá-lo. Eisner decidiu apostar, mas lançaria o filme sob a bandeira da Touchstone Pictures, afiliada da Disney, e não da Walt Disney Pictures.
A aposta daria certo. Agradando tanto a crianças quanto a adultos, Uma Cilada para Roger Rabbit, que estrearia em 22 de junho de 1988, renderia mais de 156 milhões de dólares apenas nos Estados Unidos, sendo mais de 11 milhões apenas no primeiro fim de semana, se tornando o segundo filme de maior bilheteria do ano, atrás apenas de Rain Man. A crítica também recebeu o filme de forma extremamente favorável. Uma Cilada para Roger Rabbit seria indicado a seis Oscars, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Som, Melhor Edição de Som, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Edição, ganhando os três últimos, além de um especial para Richard Williams pela maestria com que dirigiu as cenas de animação.
Roger Rabbit ainda seria a estrela de três curtas de animação lançados pela Disney, Problemas de Estômago (Tummy Trouble), Roger na Montanha Russa (Roller Coaster Rabbit) e A Confusão de Pistas (Trail Mix-Up), exibidos antes de Querida, Encolhi as Crianças, Dick Tracy e Viagem ao Grande Deserto, em 1989, 1990 e 1993, respectivamente. Apesar de não terem a presença de atores, esses curtas também contam com muitas participações de personagens de desenhos animados, especialmente de personagens Disney.
Desde 1990, a Disney pensa em fazer um novo filme com Roger Rabbit, já tendo até encomendado um roteiro para uma prequência que contaria como Roger conheceu Jessica. De vez em quando a Disney faz um estudo de viabilidade, e Zemeckis e Hoskins se dizem interessados no projeto, mas, até hoje, a ideia ainda não saiu do papel - e parece que, se sair, não contará com a presença de Hoskins, que se aposentou ano passado após ser diagnosticado com Mal de Parkinson.
Enchanted
2007
No mágico reino de Andalasia, vive uma jovem moça de nome Giselle (Amy Adams). De família pobre e morando em uma casa na floresta com seus amigos animaizinhos, ela sonha com o dia em que um príncipe surgirá e lhe dará o Beijo do Amor Verdadeiro. Um dia, durante um ataque de um troll, ela é salva pelo galante Príncipe Edward (James Marsden), e os dois se apaixonam perdidamente. Mas a Rainha Narissa (Susan Sarandon), madrasta do Príncipe, não deixará que uma camponesa qualquer assuma o trono: no dia do casamento, ela usa seus poderes mágicos para enviar Giselle para um mundo cruel, no qual ela ficará aprisionada até o fim de seus dias.
Assim, Giselle vem parar na Nova Iorque dos dias atuais, onde, após passar por muitas dificuldades de adaptação, conhece o advogado Robert (Patrick Dempsey), noivo da estilista Nancy (Idina Menzel) e pai da menina Morgan (Rachel Covey), que fica encantada ao descobrir que Giselle é - ou melhor, será, depois do casamento - uma verdadeira princesa de conto de fadas. Robert a princípio não acredita na história de Giselle, e até acha que ela é maluca, mas decide acolhê-la, e, aos poucos, vai se apaixonando por ela.
Mas nem tudo são flores para o casal: quando Edward decide ele também ir até Nova Iorque para resgatar sua amada, a Rainha decide matar Giselle, e incumbe o valete do Príncipe, Nathaniel (Timothy Spall), de acompanhá-lo e realizar a missão. Junto com eles, vem a Nova Iorque o esquilinho Pip (Jeff Bennett), amigo de Giselle que planeja alertá-la sobre os planos da vilã. O problema é que em Andalasia ele era capaz de falar, mas em nosos mundo se torna um esquilo comum, o que faz com que sua missão se torne um tanto complicada.
Diferentemente de Mary Poppins e Roger Rabbit, que misturam atores de carne e osso a desenhos animados nas mesmas cenas, em Encantada as sequências ambientadas em Andalasia são de desenho animado, se tornando um filme com atores quando a ambientação passa para Nova Iorque. Tal ideia partiu do roteirista Bill Kelly, que escreveu o roteiro em 1997, vendendo-o para a Touchstone Pictures ainda naquele ano. A Disney, dona da Touchstone, porém, não gostou muito do que leu, já que, originalmente, Encantada era uma comédia proibida para menores, com várias insinuações de sexo.
Ainda assim, a Disney gostou muito da ideia, e contratou os roteiristas Rita Hsiao e Todd Alcott para reescrever o roteiro, transformando o filme em um entretenimento próprio para toda a família - o que não gradou nem um pouco a Kelly, evidentemente. Com Barry Sonnenfeld e Barry Josephson (respectivamente diretor e produtor de Homens de Preto) como produtores, a Disney escolheria Rob Marshall (de Chicago e Memórias de uma Gueixa) como diretor, e definiria o ano de 2002 como o de lançamento do filme. Ainda na pré-produção, porém, Marshall alegou "diferenças criativas" entre ele e os produtores, e deixou o projeto.
A Disney então convidou Jon Turteltaub para dirigir, mas, após apenas algumas semanas à frente do projeto, ele decidiu abandoná-lo em prol de A Lenda do Tesouro Perdido. A escolha seguinte foi Adam Shankman (que, até então, era mais conhecido como coreógrafo, tendo apenas um filme, O Casamento dos Meus Sonhos, em seu currículo de diretor), que não gostou do roteiro, pedindo mudanças que seriam feitas por Bob Schooley e Mark McCorkle. Parecia que, dessa vez, o filme finalmente sairia do papel, e a Disney chegou a convidar Kate Hudson e Reese Witherspoon para interpretar Giselle. Ainda durante a pré-produção, porém, tudo foi cancelado novamente. Desiludida, a Disney decidiria engavetá-lo de vez.
Mas, em 2005, Kevin Lima, diretor do Tarzan da Disney, decidiu assumir o projeto, chamando Bill Kelly para escrever uma nova versão do roteiro. A ideia de Lima era transformar o filme em uma grande homenagem aos Clássicos Disney, enchendo-o de referências a todos os que conseguisse. Lima e Kelly passaram meses trabalhando em um gigantesco storyboard do filme, que mostraram ao presidente da Disney, Dick Cook, para convencê-lo a ressucitar o projeto. A ideia deu certo, e Cook deu a luz verde.
Lima introduziu várias ideias para que o filme se tornasse único, como, por exemplo, o fato de que as cenas em animação são exibidas em widescreen 1,85:1 - o formato mais comum para longas de animação - enquanto as sequências com atores são em cinemawide 2,35:1 - o mais usado pela indústria cinematográfica hoje. As sequências em animação foram todas feitas do jeito tradicional, com células pintadas, e não em computação, para que o Estilo Disney fosse ainda mais bem identificável. Como a maioria dos animadores em células havia deixado a Disney no início dos anos 1990, Lima teve de terceirizar a produção, deixando-a a cargo da James Baxter Animation, de propriedade de um antigo animador da Disney. Vale citar que somente as cenas de Andalasia foram feitas com animação tradicional - Pip, em nosso mundo, é um esquilo de computação gráfica.
As referências aos Clássicos Disney são centenas, e vão desde as mais óbvias - Giselle vive em uma cabana na floresta que lembra a da Branca de Neve, sua versão animada só anda descalça como A Bela Adormecida, e os animaizinhos da floresta são seus melhores amigos - até as mais sutis - o sobrenome de Nancy é Tremaine, o mesmo da madrasta da Cinderela. Uma das melhores coisas do filme é que os personagens mantém suas características em nosso mundo - Giselle é irreparavelmente otimista, e Edward é ingênuo, impulsivo e perdidamente apaixonado - o que garante excelentes momentos.
A escolha do elenco coube ao próprio Lima, que praticamente exigiu Susan Sarandon no papel da Rainha, e convidou Patrick Dempsey devido a seu sucesso em Grey's Anatomy. Embora a Disney quisesse uma atriz de renome para Giselle, Lima os convenceu de que seria mehor uma de menor destaque, e, após testes, ficou com Amy Adams, primeiro porque, pequena, magra e ruiva, ela já se parecia com uma Princesa Disney, segundo porque ela simplesmente arrasou no teste, convencendo a todos de que não iriam encontrar uma Giselle mais perfeita. Aos 33 anos, Adams, que atuava desde 1999, só havia feitos pequenas participações em séries como Charmed e Smallvile e papéis menores em produções como Prenda-me se for Capaz e Ricky Bobby: A Toda Velocidade; Encantada alavancou sua carreira, rendendo a ela papéis de destaque em Uma Noite no Museu 2, Julie & Julia, Os Muppets, Dúvida, O Vencedor e O Mestre - esses três últimos lhe rendendo indicações ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Atualmente o prestígio da moça é tão grande que ela será Lois Lane em O Homem de Aço e Janis Joplin em um filme sobre a vida da roqueira.
A trilha sonora de Encantada ficaria a cargo de Alan Menken e Stephen Schwartz, responsáveis pelas trilhas de Pocahontas e O Corcunda de Notre Dame, e simplesmente dominaria a festa do Oscar, com três canções indicadas ao prêmio de Melhor Canção Original: Happy Working Song, So Close e That's How You Know. Infelizmente, nenhuma das três ganhou, ficando o prêmio com Falling Slowly, de Apenas Uma Vez. No Globo de Ouro, Adams foi indicada como Melhor Atriz em Musical ou Comédia, e That's How You Know para Melhor Canção Original, mas nenhum dos dois ganhou.
Lançado em 21 de novembro de 2007, Encantada foi um grande sucesso, rendendo quase 8 milhões de dólares apenas no primeiro dia, 34,4 milhões no primeiro fim de semana e quase 128 milhões apenas nos Estados Unidos - mais que suficiente para pagar seu orçamento de 75 milhões. O filme também foi extremamente bem sucedido entre a crítica, elogiando o humor, as canções e o clima Disney do filme, mas, principalmente, a performance de Adams.
Como de costume, praticamente desde a estreia do filme que rolam boatos sobre uma sequência. Adams e Marsden já se disseram favoráveis, e, segundo os rumores, já teriam até assinado o contrato. Até hoje, entretanto, nada de mais concreto surgiu - e, tendo em vista o final do filme, uma sequência provavelmente nem faria muito sentido.
Para finalizar, vale dizer que a Disney ficou tão satisfeita com o sucesso de Encantada que pensou em incluir Giselle em seu time oficial de Princesas Disney, usando-a em merchandisings da marca. Só não o fez porque, segundo as leis norte-americanas, como Giselle foi desenhada à imagem e semelhança de Adams, ela teria de receber direitos de imagem toda vez que a Disney ganhasse dinheiro com a Princesa. Tendo em vista que grande parte do sucesso do filme é mérito da moça, eu até acho que ela merecia.
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