Acho que já mencionei aqui que Double Dragon 2 foi o primeiro jogo de NES que eu joguei na vida, na casa do meu primo. Curiosamente, ao contrário de outras séries, como Ninja Gaiden ou até Contra, Double Dragon jamais despertou em mim nenhuma afeição especial. Ainda assim, após fazer aquele post sobre Guilty Gear, achei que um sobre Double Dragon também seria legal. E hoje, finalmente, resolvi materializá-lo.
Produzido pela softhouse japonesa Technos, o primeiro Double Dragon, originalmente, seria uma espécie de sequência de outro jogo de porrada com fase, chamado Renegade (conhecido no Japão pelo bizarro nome de Nekketsu Kouha Kunio-kun, algo como "Kunio, o jovem durão de sangue quente"). Em Renegade, lançado para arcades em 1986, o jogador assume o papel de Mr. K (Kunio no original japonês), que luta contra uma gangue de rua para salvar sua namorada. Renegade foi um jogo revolucionário por ser o primeiro a trazer os elementos característicos dos jogos de porrada com fase (que, oficialmente, se chamam beat'em up games, algo como "jogos de acabar com eles na base da porrada"), como a possibilidade de mover o personagem do jogador em oito direções; botões para pulo, soco e chute; inimigos de fase que precisavam ser acertados múltiplas vezes para serem derrotados; e um chefe a cada fase, bem maior e mais forte que os demais personagens do jogo. As cinco fases de Renegade, entretanto, consistiam de uma única tela cada uma, na qual os inimigos iam "entrando" pelos lados e o jogador os ia enfrentando - ao invés de o jogador ir andando pela fase como se tornaria o padrão nos jogos subsequentes - até que, derrotado um número pré-determinado de inimigos, surgia o chefe. Renegade também não tinha um final "verdadeiro"; apesar de a namorada do herói ser salva ao final da quinta fase, o jogo recomeçava da primeira, com inimigos mais difíceis, toda vez que isso ocorria, só se encerrando quando as vidas do protagonista se esgotavam.
Renegade fez um enorme sucesso nos arcades, e ganhou versões para NES, Master System, Amiga, Amstrad CPC, Apple II, Atari ST, Commodore 64, MS-DOS e ZX Spectrum. Esse sucesso todo motivou a Technos a fazer uma continuação, com mais novidades. Durante a produção, essa continuação acabaria se transformando em um jogo totalmente novo. E assim surgiu Double Dragon.
Lançado em 1987 também para os arcades, Double Dragon realmente era cheio de novidades. Para começar, dois jogadores podiam jogar simultaneamente, controlando os irmãos gêmeos Billy e Jimmy Lee. A história é mais ou menos a mesma de Renegade: a jovem Marian, interesse amoroso de ambos os irmãos, foi sequestrada pela gangue Black Warriors, porque seu líder, Willy, também é apaixonado por ela - aparentemente, a mãe da Marian não tinha talco e teve que usar açúcar. Billy e Jimmy partem para resgatá-la, e Willy, achando isso um acinte, ordena que toda a gangue impeça os irmãos. E ninguém pergunta a Marian o que ela acha disso.
Além de poder mover Billy e Jimmy nas oito direções, os jogadores contam com três botões, um para pulo, um para soco e um para chute. Em outra novidade do jogo, esses botões podem ser combinados para uma variedade de novos golpes, desde chutes rotativos e voadoras até joelhadas na barriga e arremessos. Billy e Jimmy também podem pegar objetos que os oponentes deixaram cair - como barras de ferro, chicotes, facas e bananas de dinamite - e usar contra eles, assim como arremessar ou chutar contra os oponentes objetos do cenário como caixas, latões e pedras. Com dois jogando ao mesmo tempo, Billy e Jimmy também podem lançar um ao outro, aumentando a potência das voadoras.
O jogo conta ao todo com quatro fases - cidade, fábrica, floresta e esconderijo do vilão - pelas quais Billy e Jimmy vão avançando como se fosse um jogo de plataforma - uma grande novidade para a época. Os inimigos vão aparecendo em grupos, até que, ao fim da fase, surge um chefe - o da primeira fase, Abobo, um gigante musculoso, se tornaria um dos mais famosos personagens da série, mais até do que o último chefe Willy, que se parecia com um gângster e usava como arma uma metralhadora, algo meio desleal em um jogo de artes marciais. Após derrotar Willy, se dois estiverem jogando, os irmãos lutam pelo amor de Marian, devendo enfrentar um ao outro para que só haja um vencedor. É interessante notar que, assim como os inimigos de fase e chefes precisam de vários golpes para serem derrotados - alguns mais, outros menos - Billy e Jimmy também possuem uma energia, perdendo uma vida se ela se esgotar, e perdendo o jogo ao ficar sem vidas. Além disso, cada fase possui um tempo limite para ser concluída, que resulta no Game Over se chegar a zero.
Uma curiosidade sobre Double Dragon é que ele usa múltiplos processadores Hitachi HD6309 de 8 bits funcionando em paralelo, além de um co-processador Hitachi HD63701. A razão para isso é que a Technos desenvolveu o jogo para rodar em um processador de 16 bits, mas o custo seria muito elevado, o que inibiria a produção em massa e a presença do jogo em uma quantidade satisfatória de fliperamas. A solução foi fazer uma "gambiarra" que permitisse que o jogo rodasse mesmo com processadores de 8 bits. Outra curiosidade era que a tela do jogo era na vertical, como jogos de shoot'em up (de "navezinha", como Galaxian, e cujo nome faria mais sentido se fosse "shoot'em down"), e não na horizontal, o que funcionaria melhor para o jogo; a razão é que, como existiam, na época, muito mais máquinas de arcade com tela na vertical, Double Dragon não precisaria de uma máquina própria, o que também ajudaria a cortar custos.
Double Dragon fez um sucesso ainda maior que Renegade, e, assim como ele, ganhou muitas versões caseiras. A mais fiel de todas ao original era a do Master System, produzida pela Sega. As produzidas por diversas empresas para Amstrad CPC, Amiga, Atari 2600, Atari 7800, Atari Lynx, Atari ST, Commodore 64, MS-DOS, Mega Drive e ZX Spectrum procuravam ser fiéis, mas, devido a limitações dos sistemas, tinham falhas, algumas até compreensíveis (como as do Atari 2600, que não tinha mesmo como ser lá muito fiel). Mas a mais vergonhosa de todas foi a versão NES, produzida pela própria Technos. Para começar, só era possível jogar com Billy, não havendo a opção de dois jogadores simultâneos. Além disso, o jogo só comportava dois inimigos de cada vez na tela, e, se algum deles deixasse cair uma arma, essa arma sumia das mãos de Billy quando o inimigo fosse derrotado. Billy também só começava o jogo com socos e chutes, "aprendendo" os demais golpes conforme somava pontos. Algumas fases foram redesenhadas, ficando bastante diferentes das originais do arcade, e a fase 2 ganhou um novo chefe, Chin Taimei, no lugar do original, Jeff. As cores do jogo também são meio esquisitas, com alguns inimigos tendo a pele amarela ou verde. Finalmente, o último chefe do jogo não era Willy, mas Jimmy, que surgia para enfrentar o irmão após Marian ser salva - algo que não acontecia no arcade no modo de um jogador. Talvez para compensar a ausência do modo de dois jogadores simultâneos, a Technos incluiu um modo de dois jogadores tipo Street Fighter, no qual era possível escolher entre Billy e cinco inimigos de fase; mesmo assim, era obrigatório que ambos os jogadores usassem o mesmo personagem, e não havia "torneio", com o jogo acabando após uma única luta. Em 1990, a Technos também lançaria uma versão para o Game Boy, parecida com essa vergonhosa versão NES, mas com fases redesenhadas, todos os golpes disponíveis desde o início e sem Jimmy como último chefe. O modo para dois jogadores estilo Street Fighter seria mantido, mas, nele, o primeiro jogador só pode jogar com Billy, e o segundo, com Jimmy.
O sucesso de Double Dragon também levou a uma continuação, Double Dragon II: The Revenge, lançada nos arcades em 1988. Logo no início do jogo, Willy toma uma atitude "se eu não posso tê-la, ninguém terá", e mata Marian. Billy e Jimmy, então, partem para vingá-la, tendo de passar, novamente, por quatro fases - heliporto, madeireira, plantação de trigo e esconderijo do vilão - nas quais enfrentarão os membros da Black Warriors. Os inimigos são os mesmos do jogo anterior - incluindo Willy, novamente o último chefe - mas todos ganharam gráficos novos. Duas armas, a barra de ferro e a dinamite, foram substituídas pela pá e pela granada, respectivamente. Ao invés de um botão de soco e um de chute, Double Dragon 2 tem um curioso esquema de "ataque para o lado direito" e "ataque para o lado esquerdo": ao apertar o botão correpondente ao ataque para o lado que o personagem está virado (p.ex. o botão de ataque para o lado direito quando ele está virado para o lado direito), Billy ou Jimmy dão um soco para a frente; apertando o botão de ataque para o lado contrário, eles dão um chute para trás. Mais uma vez, os três botões - os dois de ataque e o de pulo - podem ser combinados para vários outros golpes, incluindo alguns novos, como o pulo com chute rotativo ao estilo do de Ryu e Ken em Street Fighter. Outra diferença entre este e o primeiro jogo é que, agora, após derrotar Willy, Billy ou Jimmy terão de enfrentar um clone maligno de si mesmos - no modo para um jogador, Billy enfrenta seu clone, enquanto no modo para dois, Billy e Jimmy enfrentam dois clones, o que significa que Billy não tem mais de enfrentar Jimmy.
Double Dragon II: The Revenge não foi tão bem sucedido quanto seu antecessor, mas mesmo assim ganhou versões caseiras, com diferentes graus de fidelidade, para Amstrad CPC, Amiga, Atari ST, MS-DOS, Commodore 64, ZX Spectrum e Mega Drive. Para tentar se redimir, a Technos também lançou uma versão NES, bem melhor que a do jogo anterior - e, para alguns, bem melhor que a própria versão arcade. A versão NES de Double Dragon 2 é praticamente um jogo novo, com nove fases ao invés de quatro, cut scenes (as famosas "historinhas") entre as fases, para ajudar a avançar a história, e até mesmo um novo último chefe, chamado simplesmente de Mysterious Warrior, o "guerreiro misterioso". Na versão NES, aliás, Marian não é assassinada, e sim sequestrada pelo Mysterious Warrior, que planeja usá-la como sacrifício em um ritual para ganhar incríveis poderes, sendo salva por Billy e Jimmy. A versão NES conta também com dois modos de jogo, um no qual Billy e Jimmy podem ferir um ao outro e um no qual os golpes de um não afetam ao outro; e com três níveis de dificuldade, sendo que a nona e última fase - e o verdadeiro final do jogo - só está disponível no nível mais difícil. Para poder realizar tudo o que a Technos desejava fazer, o cartucho de Double Dragon 2 vinha com um co-processador, o que fez com que ele se tornasse um dos jogos mais avançados do NES, quase equivalente a um jogo de 16 bits. Essa versão NES, em 1993, seria adaptada para outro console, o PC Engine (conhecido nos EUA como Turbografx-16). Lançada em CD-ROM exclusivamente no Japão, a versão PC Engine é praticamente idêntica à versão NES - exceto pela inversão da ordem das fases 4 e 5 e pelo fato de que a última fase está presente nas três dificuldades - mas com novos gráficos, nova trilha sonora e com cut scenes ao estilo anime, animadas e com diálogos falados - a da versão NES eram simplesmente figuras com o texto escrito embaixo.
Em 1990, a série ganharia mais um título nos arcades, Double Dragon III: The Rosetta Stone. Desta vez, Billy e Jimmy estão retornando de um treinamento quando são abordados pela vidente Hiruko. Ela os alerta que um grande perigo se aproxima, diante do qual os irmãos devem recolher três pedras Rosetta e rumar para o Egito, ou o mundo perecerá. Acreditando nas palavras da vidente, os irmãos fazem justamente isso, e enfrentam vários membros de um culto dedicado ao apocalipse enquanto tentam recuperar as pedras, que estão no Japão, China e Itália - somando com uma primeira fase nos Estados Unidos e uma última no Egito, o jogo possui um total de cinco.
Double Dragon 3 tinha duas versões, uma para dois jogadores e uma para três, na qual o terceiro assumia o papel de Sonny, um amigo de Billy e Jimmy que mais parecia um irmão trigêmeo. O esquema de botões de ataque dependendo da direção foi abandonado, e o jogo voltou a utilizar o esquema de pulo, soco e chute do primeiro Double Dragon. Alguns golpes obtidos através de combinações de botões, como a cotovelada e o arremesso pelos cabelos, foram removidos, sendo substituídos por outros como o suplex e a cabeçada; em compensação, o jogo trazia uma gama de "golpes em dupla" bem maior, golpes que requeriam que dois ou mais jogadores agissem juntos. Os heróis agora também podiam atacar oponentes caídos, o que não é lá muito heroico, mas é muito eficiente. Um detalhe curiosíssimo é que o jogo contava com "lojas", nas quais podiam ser comprados novos golpes, mais energia, mais velocidade, as tradicionais armas - que agora não podiam mais ser "roubadas" dos inimigos - e até mesmo novos personagens para serem usados após um continue: os irmãos Urquidez, os irmãos Chin e os irmãos Oyama, cada grupo com golpes e características próprias. A curiosidade ficava por conta de que, como o jogo não tinha dinheiro próprio, as lojas usavam créditos como moeda - ou seja, o jogador realmente "comprava" o que desejava, com dinheiro de verdade. Esse esquema causou muita polêmica no Japão, onde o jogo acabou sendo relançado sem as lojas; no início do jogo o jogador já podia escolher se queria jogar com um dos irmãos Lee, Urquidez, Chin ou Oyama; os golpes novos já estavam disponíveis desde o começo; e as armas podiam ser encontradas dando sopa pelo chão - embora somente os irmãos Lee pudessem usá-las.
Double Dragon III: The Rosetta Stone foi o mais malsucedido da série. As principais críticas eram de que os gráficos eram pobres e a jogabilidade fraca se comparados ao seu principal rival, Final Fight, lançado pela Capcom um ano antes. Mesmo assim, o jogo ganhou versões caseiras para Mega Drive, Game Boy, ZX Spectrum, Amstrad CPC, Commodore 64, Amiga, Atari ST, MS-DOS e NES. A versão NES, mais uma vez, era um jogo totalmente novo - a começar pelo nome, Double Dragon III: The Sacred Stones - mas dessa vez considerado até pior que o dos arcades: nele, Billy e Jimmy lutam não para salvar o mundo, mas para salvar Marian, sequestrada por um culto para servir de hospedeira para um espirito ancestral - nos arcades, o último chefe era uma rainha egípcia ressucitada, enquanto no NES é Marian possuída pelo espírito dessa rainha. Os jogadores começam tendo apenas Billy e Jimmy à disposição, mas após derrotarem Chin Seimei (o chefe da China) e Yagyu Ranzou (o chefe do Japão), passam a poder alternar livremente entre eles e os irmãos Lee através de um menu. Cada personagem também possui uma arma personalizada, acessível através deste mesmo menu, e que pode ser usada em um número pré-determinado de golpes por fase. Além de ter gráficos fracos e jogabilidade pobre, o jogo foi considerado muito difícil, devido a um detalhe: cada personagem tem apenas uma vida, e, quando os quatro morrem, é Game Over.
Em 1991, a Acclaim lançaria nos Estados Unidos e Europa um Double Dragon II para o Game Boy. Apesar do nome, esta não é uma versão de Double Dragon II: The Revenge, mas sim uma adaptação do jogo Nekketsu Kouha Kunio-kun: Bangai Ranto Hen ("as brigas seguintes"), continuação de Renegade jamais lançada fora do Japão. Nela, Billy substitui Kunio, e tem de enfrentar uma gangue chamada Scorpions, que o persegue por acreditar que ele matou seu líder. Além de enfrentá-los, Billy deve encontrar e derrotar o verdadeiro assassino, chamado Anderson. As únicas mudanças no jogo são gráficas; na jogabilidade ele é idêntico a Kunio-kun, o que traz uma mudança curiosa: há um botão de soco e um de chute, e, ao pressionar os dois, ao invés de pular, Billy se agacha, se levantando com um gancho se o jogador apertar novamente um dos dois botões. Esse Double Dragon II tem um total de dez fases, sendo que as duas últimas só podem ser acessadas no nível de dificuldade mais elevado.
No ano seguinte, 1992, a Technos lançaria o primeiro jogo da série diretamente para um console, Super Double Dragon, para o Super Nintendo. Com jogabilidade bastante semelhante à do primeiro Double Dragon, o jogo põe Billy e Jimmy enfrentando uma nova gangue, os Shadow Warriors, responsáveis pelo desaparecimento de diversos estudantes de artes marciais - que, secretamente, estão recrutando para suas fileiras. Billy e Jimmy terão de passar por sete fases até confrontar o líder da gangue, Duke, que, para afrontar os irmãos, ainda decide sequestrar Marian. Originalmente, o jogo teria fases muito mais elaboradas que a versão final, e contaria com cut scenes para explicar a história, mas a Technos teve de trabalhar com um prazo apertado, então acabou lançando o jogo, de certa forma, incompleto. Curiosamente, entretanto, vários gráficos da versão originalmente imaginada podem ser encontrados dentro do código do jogo, como os rostos de Billy e Jimmy que apareceriam nas cut scenes.
Mais uma vez, Billy e Jimmy contam com um botão de pulo, um de soco e um de chute, mas agora contam também com um botão de bloqueio; bloqueando no tempo certo, eles prendem a mão ou o pé do oponente, e podem proceder com uma sequência de golpes ou um arremesso. Pela primeira vez, as animações para os golpes de Jimmy são diferentes das dos golpes de Billy. O jogo conta ainda com uma barra de especial, que enche quando o jogador mantém os botões L ou R pressionados e dá acesso a alguns golpes novos que fazem com que ela esvazie; quando está totalmente cheia, a força de todos os golpes do personagem é ampliada por um curto período de tempo. A versão japonesa do jogo, chamada Return of Double Dragon, possui algumas diferenças em relação à americana, como algumas músicas e o local onde alguns inimigos atacam; as diferenças mais curiosas, entretanto, estão no comportamento de algumas armas - o bumerangue pode ser pego para ser arremessado de novo, as facas de arremesso e bombas incendiárias causam menos dano - de alguns golpes - é possível acertar um mesmo inimigo múltiplas vezes com um chute rotativo aéreo - e no fato de que a última fase é muito mais longa. Além disso, a versão japonesa possui três níveis de dificuldade.
Em 1993, Double Dragon ganharia uma série animada produzida pela DiC, que duraria apenas uma temporada de 26 episódios. Entre as razões do fracasso, estava o fato de que ela tinha muito pouco a ver com os jogos. A série daria origem, porém, a seu próprio jogo, Double Dragon V: The Shadow Falls, produzida pela Leland Interactive Media sob licença da Technos e lançado em 1994 para Super Nintendo e Mega Drive. No ano seguinte seria lançada também uma versão, com algumas diferenças, para o Atari Jaguar.
Diferentemente de seus antecessores, Double Dragon 5 não era um jogo de porrada com fase, mas um jogo de luta, tentando capitalizar sobre o sucesso de Street Fighter II. Até o esquema dos botões era o mesmo, com três socos e três chutes. Ao todo, 12 personagens participam do jogo, sendo dez à disposição do jogador e dois chefes; contando com Billy e Jimmy, nove desses 12 são personagens da série animada, enquanto os outros três foram criados especificamente para o jogo. Se for jogar sozinho, o jogador pode escolher entre dois modos, o Tournament Mode, que segue o padrão normal de um jogo de luta, com o jogador tendo de enfrentar os demais em ordem aleatória até chegar nos chefes, e o Quest Mode, que tenta dar uma história para o jogo: no Quest Mode, se o jogador escolher Billy oy Jimmy, deverá derrotar os Shadow Warriors, vilões da série animada; já se escolher um dos Shadow Warriors, eles estarão competindo entre si para decidir quem será o segundo em comando da organização.
Além de Billy e Jimmy, os personagens que vieram do desenho são o gigante de dentes de aço Jawbreaker, o hacker Icepick, o assassino Sickle, o mercenário Trigger Happy, o ciborgue Countdown e Blade, um soldado inspirado nos soldados robóticos dos Shadow Warriors no desenho. Foram feitos exclusivamente para o jogo Bones, um esqueleto fã de rock, e Sekka, uma versão feminina de Blade. Os dois últimos chefes são Dominique, uma dominatrix também criada especialmente para o jogo, e Shadow Master, o líder dos Shadow Warriors. Curiosamente, cada personagem possui um golpe chamado Overkill, uma espécie de Fatality, que pode ser utilizado no final da luta para matar o oponente com uma animação violenta; mas, diferentemente dos Fatalities de Mortal Kombat, por exemplo, nos quais a animação depende do personagem realizando o Fatality, em Double Dragon 5 a animação dependia do personagem sofrendo o Overkill - ou seja, cada personagem morria sempre do mesmo jeito, não importava quem o estivesse matando.
Em 1994, Double Dragon viraria um filme, ainda mais horroroso que a série animada, também sem nada a ver com os jogos, dirigido por James Yukich e estrelando Scott Wolf como Billy, Mark Dacascos como Jimmy, Alyssa Milano como Marian, Nils Allen Stewart como Abobo e Robert Patrick como o vilão Koga Shuko, criado especialmente para o filme. E esse filme só está sendo citado nesse post porque aparentemente a Technos gostou da ideia da Leland e decidiu fazer um jogo de luta baseado nele. Esse jogo se chamaria simplesmente Double Dragon, e seria lançado para arcades e Neo Geo em 1995, e para Neo Geo CD e Playstation no ano seguinte. Por alguma razão, eu o achava superdivertido, e era um dos jogos de arcade que eu mais gostava de jogar.
Esse Double Dragon traria várias inovações, a começar pelos botões: como em todo jogo de Neo Geo, eram quatro, mas aqui eles não estavam ligados a golpes específicos. Dois botões representavam ataques fracos e dois ataques fortes, mas esses ataques podiam ser socos, chutes ou até outros tipos de ataque, dependendo do personagem e até mesmo de sua posição na tela em relação ao oponente. Outra inovação era que a barra de especial era sempre do mesmo tamanho da barra de energia do personagem, ou seja, quanto menos energia ele tivesse, mais rápido sua barra de especial encheria. O jogo só possui o modo tradicional de torneio, no qual o jogador deve enfrentar os demais personagens em ordem aleatória e depois os chefes.
Assim como em Double Dragon 5, são dez personagens à disposição do jogador e dois chefes, para um total de 12. À disposição do jogador estão Billy, Jimmy, Marian, Abobo, o obeso e incendiário Burnov (o chefe da primeira fase de Double Dragon II: The Revenge), o ninja Amon (inspirado no Yagyu Ranzou de Double Dragon III: The Sacred Stones) e quatro personagens novos: o lutador de rua italiano Patrick Dulton, a artista marcial holandesa Rebecca Brielle, o kickboxer venezuelano Eddie Jenkins e o mestre do estilo de luta bêbado de Hong Kong Cheng-Fu. Os chefes são Duke (também chefe de Super Double Dragon) e Koga Shuko. Todos os cenários são inspirados no filme, mas os lutadores não usam gráficos de imagens digitalizadas (como em Street Fighter: The Movie) e sim os sprites tradicionais dos jogos de Neo Geo.
O Double Dragon do Neo Geo seria o último jogo lançado pela Technos, que faliu em 1996. Diante disso, ele corria sério risco de ser o último da série. Em 2001, entretanto, a softhouse mexicana Evoga decidiu fazer uma continuação para ele, e tentou conseguir os direitos da série. Mas, para azar da Evoga, pouco antes alguns ex-funcionários da Technos haviam fundado uma nova companhia, chamada Million, e não quiseram ceder os direitos. A Evoga não se deu por vencida, e fez seu jogo assim mesmo. Chamado Rage of the Dragons, ele seria lançado em 2002, mais uma vez para arcades e Neo Geo.
Rage of the Dragons não é um jogo oficial de Double Dragon, mas é tão parecido que quase todo mundo o considera como se fosse. Assim como o Double Dragon do Neo Geo, é um jogo de luta, mas dessa vez em duplas, com o jogador podendo trocar livremente de personagem durante a luta, no mesmo estilo de Marvel vs. Capcom. Seus protagonistas são os irmãos Billy e Jimmy Lewis, que lutam pelo direito de enfrentar Johann, um lutador incrivelmente parecido com o último chefe de Double Dragon II: The Revenge, que não só tem um guarda-costas chamado Abubo como também assassinou a namorada de Jimmy, Mariah.
O jogo possui todos os elementos de um jogo de luta em duplas, como os combos duplos, super especiais e o fato de que o lutador que está de fora recupera lentamente sua energia. Ao todo, 14 personagens estão à disposição do jogador; eles são arrumados em duplas fixas, mas, na verdade, a escolha é livre, não ficando o jogador limitado às duplas fixas - curiosamente, aliás, a dupla fixa de Billy não é com Jimmy, mas, se o jogador vencer Johann com essa dupla, verá um final secreto. Os dois últimos chefes - Abubo e Johann - não têm duplas, lutando sozinhos. Além de Billy e Jimmy, os outros 12 personagens à disposição do jogador são a artista marcial Lynn Baker, treinada pelo mesmo mestre que Billy e Jimmy (e dupla fixa de Billy); o órfão aparentemente possuído Oni; a também órfã Cassandra, que considera Oni seu protegido; a capoeirista brasileira Pupa Salgueiro; o adolescente mexicano apaixonado por esportes radicais Pepe; Mr. Jones, um lutador de rua apaixonado por tudo o que seja retrô; o grandalhão Kang; o caçador de seres sobrenaturais Radel; a garotinha com poderes paranormais Annie; a riquíssima ginasta Alice; o padre Elias; e a assassina russa Sonia (que, por alguma razão, é a dupla fixa de Jimmy).
Rage of the Dragons foi um dos últimos jogos lançados para o Neo Geo. Não fez lá muito sucesso porque essa é a sina dos jogos lançados para consoles à beira da morte, mas se tornou bastante popular entre os fãs de Double Dragon. Isso motivou a Million a aproveitar que tinha mesmo os direitos da série e lançar mais um jogo para ela, por enquanto o último: Double Dragon Advance, lançado em 2003, como o nome sugere, para o Game Boy Advance.
Para todos os efeitos, Double Dragon Advance é um remake do primeiro Double Dragon; ele pega emprestado, entretanto, muitos elementos de Double Dragon II: The Revenge, como inimigos de fase, golpes e até mesmo uma última fase inspirada na última da versão NES daquele jogo, com, inclusive, o mesmo último chefe, que dessa vez ganhou um nome, Raymond. Double Dragon Advance, aliás, possui oito fases: as quatro do jogo original, essa nova última, e três totalmente novas, sendo uma delas inspirada na fase do caminhão em movimento de Super Double Dragon. Finalmente, o jogo traz novas armas, como nunchakus e eskrimas, e novos chefes de fase, criados especialmente para ele. Double Dragon Advance pode ser jogado por dois jogadores simultâneos, usando o cabo link.
Além de na série Double Dragon, os irmãos Billy e Jimmy fizeram participações especiais em dois outros jogos da Technos: em Super Spike V'Ball, jogo de vôlei de praia lançado em 1988 para arcades e NES, eles formavam uma das duplas - aparentemente, enquanto não estavam treinando artes marciais ou salvando Marian, os irmãos competiam no Circuito Norte-Americano. Já em Battletoads & Double Dragon, lançado em 1993 para Mega Drive, NES, Super Nintendo e Game Boy, os irmão se uniam aos sapos mutantes de Battletoads para derrotar uma aliança maligna de Dark Queen, arqui-inimiga dos sapos, com os Shadow Warriors. Além disso, Billy, Lynn, Elias e Mr. Jones, de Rage of the Dragons são personagens secretos em Power Instinct Matrimelee, jogo de luta da Atlus lançado em 2003 para arcades e Neo Geo.
Para finalizar, uma curiosidade: além de dar origem à série Double Dragon, Nekketsu Kouha Kunio-kun também deu origem à sua própria série, que já conta com mais de 40 jogos para diversos consoles, alguns de porrada com fase, alguns de esportes, principalmente dodgeball (aquele que se parece com o nosso queimado). Um desses jogos, Downtown Nekketsu Monogatari, lançado em 1989 para o Famicom (o NES japonês), seria lançado nos Estados Unidos com o nome de River City Ransom.
muito legal seu post amigo
ResponderExcluirAdorei seu post
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