É claro que, nesse caso, especificamente, eu não seria tão dracônico. Prefiro o Wii, mas reconheço as virtudes de seus oponentes, nem que seja apenas porque eles rodam esses dois jogos que eu acabei de citar. Em outros casos, entretanto, não adianta querer me convencer: dizer que o Master System era melhor do que o NES, ou que o Game Gear era melhor que o Game Boy, é demais para a minha cabeça. Foi justamente essa discussão que eu tive com uma colega do trabalho essa semana. Fã da Sega, ela quis me convencer de todas as formas que o Game Gear era melhor, e ainda usou o argumento mais furado do mundo numa discussão dessas: o de que o Game Boy era em preto e branco.
Após tentar convencê-la de que Megaman e Castlevania em preto e branco são melhores do que qualquer jogo do Game Gear colorido, acabei chegando à conclusão de que gosto não se discute e que é melhor deixar pra lá. Mas, por alguma razão, acabei ficando com vontade de falar sobre o Game Boy aqui no átomo. Afinal, ele sempre foi um dos meus videogames preferidos, e eu não falo sobre um videogame aqui há um tempão. Hoje, portanto, será dia de Game Boy, o portátil original da Nintendo, no átomo.
A história da Nintendo com videogames portáteis é bem mais antiga que o próprio Game Boy. Antes mesmo de criar o Famicom, nome japonês do NES, seu primeiro console, a Nintendo já fabricava e vendia uma linha de jogos chamada Game & Watch. A ideia para esta linha partiu de Gunpei Yokoi, executivo da Nintendo que, durante uma viagem de trem em 1979, viu um homem entediado brincando com sua calculadora, apertando vários dos botões aparentemente sem ordem lógica, apenas para passar o tempo. Yokoi então imaginou como seria legal uma espécie de videogame portátil, que as pessoas pudessem levar em seus bolsos e usar para matar o tempo durante viagens ou em salas de espera.
Talvez para tornar sua invenção mais útil, Yokoi acrescentou um relógio - daí o nome Game & Watch - que podia ser consultado mesmo quando o jogo estivesse desligado. Devido a limitações tecnológicas da época, cada Game & Watch só possuía um jogo na memória - mais ou menos como uma máquina de arcade - e esse jogo era em preto e branco, já que o hardware utilizado era quase idêntico ao das calculadoras da época. O primeiro Game & Watch da história, Ball, seria lançado em 28 de abril de 1980, com uma mecânica bem simples: o personagem do jogador tinha de lançar três bolas para cima e então pegá-las novamente antes que elas tocassem o chão. Ball foi um grande sucesso, e depois dele seriam lançados mais 58 jogos, com gráficos cada vez mais avançados e jogabilidade cada vez mais complexa. Alguns traziam detalhes coloridos no cenário, outros apresentavam duas telas, como no Nintendo DS. Haviam os que traziam personagens licenciados, como Mickey e Snoopy, e os que eram versões de clássicos da Nintendo dos arcades, como Donkey Kong e Mario Bros. O sucesso dos Game & Watch garantiu sua produção até 1991, bem depois da popularização dos videogames, e também fez com que o sistema fosse copiado pelos concorrentes, como na série Tiger Games da Tiger Electronics.
Após o lançamento e o sucesso do Famicom, Yokoi teve uma nova ideia: lançar uma nova versão do Game & Watch, mas que, dessa vez, pudesse rodar vários jogos, bastando trocar o cartucho como ocorria com o console. Não era uma ideia totalmente nova: em 1979, antes mesmo do Game & Watch, a fabricante de brinquedos norte-americana Milton Bradley já havia lançado o Microvision, que era, justamente, um videogame portátil com sua própria tela. O Microvision, porém, era muito grande, consumia muitas pilhas, e não tinha jogos lá muito divertidos. Yokoi desejava que seu portátil reproduzisse o sucesso do Game & Watch, e para isso precisava fazê-lo o mais portátil possível.
Trabalhando em conjunto com a mesma equipe que havia trabalhado no Game & Watch e com a equipe responsável por vários jogos de sucesso do NES, Yokoi chegaria ao sistema que ele batizaria de Game Boy. Seu lançamento oficial no Japão seria em 21 de abril de 1989, chegando à América quatro meses depois com grande estardalhaço: o primeiro lote, de um milhão de unidades, seria totalmente vendido em apenas três semanas.
O Game Boy original media 14,8 cm de altura por 9 cm de largura e 3,2 cm de profundidade. Para tornar os jogos simples, possíveis de caber em cartuchos menores, a Nintendo optou por fazê-los, assim como os do Game & Watch, em preto e branco. O Game Boy era, entretanto, bem mais avançado que seu antecessor, sendo capaz de mostrar gráficos em quatro tons diferentes de cinza em sua tela de cristal líquido de 2,6 polegadas, com resolução de 160 por 144 pixels. Seu processador era um Z80 Sharp LR35902 customizado pela Nintendo. O Game Boy funcionava com quatro pilhas AA que duravam entre dez e doze horas, mas tinha saídas que permitiam ligá-lo a uma bateria recarregável ou a uma fonte DC externa. Outras saídas permitiam conectá-lo a fones de ouvido ou a outro Game Boy, para jogos de dois jogadores. O esquema de controle era o mesmo do NES, com um direcional e dois botões, A e B, mais o select e o start.
Apesar de seus gráficos em preto e branco - frequentemente zoados pela concorrência em suas propagandas - o Game Boy seria um imenso sucesso, e venceria seus dois principais competidores diretos, o Atari Lynx, lançado em setembro de 1989, e o Game Gear, da Sega, de outubro de 1990, ambos com gráficos coloridos. Há quem atribua a vitória do Game Boy ao fato de que ambos seus concorrentes, além de serem mais caros, usavam seis pilhas, que só duravam entre quatro e seis horas. O maior trunfo do Game Boy, entretanto, estava em seus jogos: todas as principais linhas do NES, como Mario, Megaman, Metroid e Castlevania, ganhariam jogos para o portátil, que também contaria, evidentemente, com jogos exclusivos de qualidade, sendo talvez Pokémon o maior exemplo.
O Game Boy manteria seu design e especificações inalterados até 1995, quando seria lançada a série Play it Loud. Originalmente disponível apenas na cor cinza, o portátil agora podia ser também encontrado nas cores vermelha, azul, amarela, verde, preta, branca e transparente, que possibilitava ver suas placas de circuito. A primeira mudança não-cosmética viria no ano seguinte, com o lançamento do Game Boy Pocket, uma versão 30% menor e mais leve que o Game Boy original, e que funcionava com apenas duas pilhas AAA, que duravam por volta de dez horas. O Game Boy Pocket estava disponível nas cores cinza, vermelha, azul, amarela, verde, preta, branca, transparente, roxa e rosa. Em 1998, seria lançada uma terceira versão do Game Boy, dessa vez exclusivamente no Japão, o Game Boy Light, cuja maior diferença era ter uma luz por detrás da tela que permitia que seus jogos fossem jogados em ambientes sem iluminação própria ("no escuro"). O Game Boy Light estava disponível nas cores cinza prateado e amarelo dourado, e suas duas pilhas AAA duravam por volta de 20 horas sem a luz ligada, ou 12 com a luz em uso.
Falando em luz, o Game Boy tinha uma série de acessórios lançados separadamente, como uma lâmpada que podia ser encaixada na parte superior do portátil para iluminar a tela, ou os já citados bateria recarregável que substituía as pilhas e cabo para ligar dois Game Boys e jogar junto - o famoso Cabo Link. Outros acessórios incluíam a Game Boy Camera, uma webcam rudimentar com a qual o jogador podia tirar fotos de si mesmo para colocar nos jogos; a Game Boy Printer, uma impressora cuja principal função era imprimir essas fotos; e o Mobile Adaptor, que permitia que o Game Boy se conectasse à rede de celulares japonesa para se comunicar com outros Game Boys, permitindo jogos entre vários jogadores de várias partes do país simultaneamente. Mas os dois acessórios mais interessantes eram o Transfer Pak, que permitia transmitir dados do Game Boy para o Nintendo 64, e o Super Game Boy. Lançado em 1994, o Super Game Boy não era exatamente um acessório para o Game Boy, mas uma espécie de cartucho de Super Nintendo que permitia que os jogos do Game Boy fossem jogados no SNES, usando a tela da televisão e o controle do console. Para "encaixar" o tamanho da tela do Game Boy na tela da TV, o Super Game Boy vinha com bordas próprias, que podiam ser selecionadas uma para cada jogo. Jogos lançados após o lançamento do acessório - como Megaman V - vinham com suas próprias bordas, e ainda se tornavam "coloridos" - na verdade, cada fase apresentava vários tons de uma mesma cor, assim como o Game Boy apresentava vários tons de cinza - ao serem jogados no Super Game Boy. Um acessório parecido, o Game Boy Player, seria lançado em 2003, e permitiria que jogos de Game Boy fossem jogados no GameCube.
Em 1998, o Game Boy finalmente passaria a ter um display colorido, capaz de exibir 32 mil cores, 56 delas simultaneamente, sendo renomeado para Game Boy Color. O lançamento do Game Boy Color se deu mais por pressão dos desenvolvedores de jogos, que consideravam a plataforma do Game Boy obsoleta e pediam por um portátil mais moderno, do que por vontade da Nintendo, que ainda creditava ser possível desenvolver jogos de qualidade para seu Game Boy original. O resultado é que o Game Boy Color é até bastante parecido com o Game Boy, usando, inclusive, o mesmo processador, mas com mais modificações, que o tornariam, por exemplo, mais rápido. Graças à tecnologia mais avançada, o Game Boy Color também consumia menos energia, garantindo por volta de 30 horas de jogo com apenas duas pilhas AAA. O Game Boy Color estava disponível nas cores cereja (chamada, oficialmente, de Berry), roxo (Grape), verde claro (Kiwi), amarelo (Dandelion), ciano (Teal) e lilás transparente (Atomic Purple).
Para a Nintendo, o Game Boy Color não é um novo portátil, mas uma nova versão do Game Boy, assim como o Game Boy Pocket e o Game Boy Light. Graças a essa posição, o Game Boy Color seria o primeiro videogame da história com compatibilidade reversa, sendo capaz de rodar qualquer jogo de seu antecessor, e ainda deixando-os "coloridos" como fazia o Super Game Boy. A maioria dos jogos do Game Boy Color também funcionava normalmente no Game Boy, sendo exibidos, entretanto e evidentemente, em preto e branco, mas alguns, desenvolvidos especificamente para o novo portátil, não rodavam no Game Boy tradicional, exibindo uma mensagem de que deveriam ser utilizados exclusivamente no Game Boy Color. Como efeito colateral, esses jogos também não funcionavam no Super Game Boy.
O reinado do Game Boy duraria até 2003, quando o Game Boy Color deixaria de ser fabricado. Em 2001, entretanto, a família ganharia um novo membro, o Game Boy Advance. Esse sim seria um novo portátil, totalmente diferente de seus antecessores, mas, talvez para manter a mística, com a Nintendo decidindo dar a ele o mesmo nome. O que até fazia um certo sentido, já que o Game Boy Advance era totalmente compatível com todos os jogos do Game Boy e do Game Boy Color.
Enquanto o Game Boy e o Game Boy Color possuíam um processador de 8 bits, o Game Boy Advance vinha equipado com um processador de 32 bits, o ARM7-TDMI. Com design "deitado", e não "de pé" como os anteriores, o portátil tinha 14,45 cm de largura, 8,2 cm de altura e 2,45 cm de profundidade. Sua tela widescreen de 2,9 polegadas podia exibir 32 mil cores, sendo 512 simultâneas. Alimentado por duas pilhas AA, o Game Boy Advance garantia por volta de 15 horas de seus próprios jogos ou 30 horas de jogos do Game Boy ou Game Boy Color. Seu controle, além do direcional, dos botões A, B, select e start, também contava com os botões L e R, na parte superior do portátil, mais ou menos na mesma posição que em um controle de Super Nintendo. O Game Boy advance contaca com saídas para alimentação externa, bateria recarregável, cabo link, e para um cabo especial que encaixava na entrada dos controles do GameCube, permitindo que ambos os consoles interagissem em alguns jogos. Inicialmente, o Game Boy Color estava disponível nas cores gelo, preta, laranja, fúcsia, índigo e lilás transparente com detalhes em azul; mais tarde, seriam lançadas também as cores vermelha, prateada, dourada, branca, rosa e laranja transparente com detalhes em preto.
Assim como o Game Boy original, o Game Boy Advance também ganhou vários acessórios. Além do cabo para ligá-lo ao GameCube e de seu próprio Mobile Adaptor, esses acessórios incluíam o Wireless Adapter e o Infrared Adapter, dispositivos que possibilitavam que dois Game Boys Advance se conectassem sem a necessidade do cabo link - com a desvantagem de que nem todos os jogos eram compatíveis com eles, e um não conseguia se comunicar com o outro; o Play-Yan, que transformava o Game Boy Advance em um Mp4-Player, com direito a entrada para cartão SD; e o e-Reader, um curioso leitor de cartões que podiam ser "deslizados" nele como um cartão de crédito. Estes cartões, que incluíam cards promocionais e cards do card game do Pokémon, desbloqueavam conteúdo secreto nos jogos aos quais estivesem relacionados, ou permitiam que o jogador jogasse jogos clássicos como Donkey Kong e Excitebike sem a necessidade de comprar um cartucho. Além destes acessórios "oficiais", vários outros, que não eram fabricados pela Nintendo, também foram lançados, como um que permitia jogar jogos de NES no Game Boy Advance.
Em 2003, o Game Boy Advance ganharia uma nova versão. Batizado como Game Boy Advance SP, ele se parecia com um mini-notebook, podendo ser aberto e fechado, com a tela na metade de cima e os controles na metade de baixo quando aberto. Fechado, o Game Boy Adavnce SP media 8,2 cm de altura, 8,4 cm de largura e 2,44 cm de profundidade. O Game Boy Advance SP estava originalmente disponível nas cores vermelho, rosa, azul claro, verde esmeralda, cobalto, platina, ônix e grafite.
Um dos principais motivos para o lançamento do Game Boy Advance SP foram as críticas que a Nintendo recebeu de que o Game Boy Advance não era muito anatômico, e de que sua tela seria muito escura. O formato de mini-notebook, mais tarde adotado também para o DS, foi resultado de um estudo encomendado pela Nintendo sobre qual forma seria mais anatômica para um portátil. A tela do Game Boy Advance SP, além de ser mais iluminada que de seu antecessor, também possuía uma luz frontal que podia ser ligada e desligada. Mas a maior inovação dessa nova versão foi a substituição das pilhas por uma bateria de lítio recarregável, que durava 10 horas com a luz ligada ou 18 com ela desligada, e podia ser totalmente recarregada em apenas três horas.
O Game Boy Advance SP ainda ganharia uma nova versão em 2005, apelidada de Game Boy Advance SP2. Sua única diferença em relação ao original era que a luz frontal seria substituída por um botão que alternava entre a iluminação normal da tela do SP e uma iluminação ainda mais potente, equivalente à de uma televisão LCD.
2005 também seria o ano do lançamento do último membro da família Game Boy, o Game Boy Micro. Pouco mais que um controle de NES com uma tela no meio, o Game Boy Micro media 5 cm de altura, 10,1 cm de largura e apenas 1,72 cm de profundidade. Para ficar tão pequeno, ele teve de adquirir duas desvantagens: primeiro, sua tela tinha apenas duas polegadas; segundo, ele não era capaz de rodar jogos do Game Boy ou do Game Boy Color, apenas do Game Boy Advance - isso porque o Game Boy Advance e o Game Boy Advance SP tinham um coprocessador de 8 bits, responsável por rodar os jogos do Game Boy e do Game Boy Color, e esse coprocessador seria removido do Game Boy Micro para economizar espaço. O Game Boy Micro contava com vários níveis de iluminação em sua tela, vinha com a bateria recarregável, que podia durar entre cinco e oito horas dependendo da luminosidade, e estava disponível nas cores preta, prata, azul escuro, azul claro, rosa, verde, vermelha e roxa.
Pouco antes do lançamento do Game Boy Micro, a Nintendo lançaria seu novo console, o Nintendo DS. Oficialmente, entretanto, a família Game Boy jamais seria descontinuada: em uma recente entrevista, um dos executivos da Nintendo declararia que eles apenas estão focados demais no DS e no Wii para preparar novidades para o Game Boy, mas que a empresa não tem planos para encerrar uma série de tanto sucesso.
De fato, somados todos os seus integrantes, a família Game Boy já vendeu mais de dois milhões de unidades em todo o mundo. Mas, se ainda compensaria lançar um novo Game Boy nos dias de hoje apenas para aproveitar o nome, é algo que somente o tempo poderá dizer.
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