segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Escrito por em 1.11.10 com 2 comentários

A Pequena Loja dos Horrores

Outro dia eu li em algum lugar, não sei se é verdade, que estão planejando fazer um Gremlins 3, no qual os gremlins seriam não bonecos, mas feitos de computação gráfica. Após um nostálgico pensamento tipo "não vai ficar tão legal" passar pela minha mente, me pus a pensar que talvez nunca mais tenhamos filmes com bonecos, o que de certa forma me entristece. É lógico que eu compreendo os motivos que levaram Hollywood a substituir os marionetes pela CG, como menor custo e maior realismo, mas filmes com bonecos foram uma parte importante da minha infância, de forma que constatar que eles jamais voltarão a existir é algo meio deprimente.

Enquanto pensava em tudo isso, um outro filme com bonecos me veio à lembrança, um filme que eu absolutamente adorava, mesmo talvez não sendo apropriado para alguém da minha idade quando o assisti pela primeira vez. Esse filme se chamava A Pequena Loja dos Horrores, e o boneco em questão era uma planta carnívora. Junto com a lembrança, me veio a vontade de escrever um post, e o resultado são essas linhas que vocês agora leem.

É lógico que a versão de A Pequena Loja dos Horrores à qual eu estou me referindo é a da década de 1980, com Rick Moranis e Steve Martin. Essa não é, porém, a primeira versão do filme: a original é em preto e branco, foi filmada em 1959, e dirigida por Roger Corman, o rei dos filmes B, responsável por "clássicos" como O Emissário de Outro Mundo, A Mulher Vespa e O Homem dos Olhos de Raio-X. Bem ao estilo Corman, a ideia para o filme surgiu quando o diretor teve acesso a estúdios que estavam sendo utilizados para outros filmes, os quais seriam desmontados em breve. Como economizaria com cenografia se os utilizasse para um filme seu, Corman imediatamente chamou seu amigo roteirista Charles B. Griffith, e os dois começaram a trabalhar em um roteiro que pudesse ser filmado rapidamente, usando os cenários que já estavam prontos.

Inicialmente, Corman queria fazer um filme policial, sobre um detetive particular. Griffith, por outro lado, queria escrever uma comédia de humor negro, e apresentou ao diretor o esboço de Cardula, filme sobre um crítico de música que também era vampiro. Corman rejeitou a ideia, e Griffith lhe apresentou Gluttony, sobre um cozinheiro dono de um restaurante que matava clientes e os adicionava como ingredientes em seus pratos. Corman gostou da ideia, mas jamais conseguiria permissão para filmar uma história como essa. Griffith, que, segundo ele mesmo, já estava bêbado a essa altura das negociações, sugeriu, então, trocar o cozinheiro por uma planta carnívora, e o restaurante por uma loja de flores. Corman, que não precisava estar bêbado para gostar de uma bizarrice dessas, aceitou.

Querendo economizar ao máximo, Corman chamou para o filme apenas atores que já conhecia, que já tivessem trabalhado em outros filmes seus - assim não precisaria gastar dinheiro com testes. O próprio Griffith interpretou um ladrão e participou como figurante em várias outras cenas, e o pai e a avó do roteirista também foram escalados, para papéis pequenos. Para economizar com figurantes, na hora de filmar as externas Corman abordava crianças e mendigos que estivessem por ali e lhes oferecia cinco centavos apenas para ficar andando para lá e para cá na rua, sair correndo ou efetuar qualquer outra ação que não demandasse muito empenho artístico - mendigos e bêbados, aliás, eram "contratados" até mesmo para funções técnicas, como segurar o microfone ou transportar os equipamentos. Até mesmo objetos de cena eram reaproveitados dos demais filmes que usaram o estúdio ou emprestados por conhecidos de Corman e Griffith, como a dona de uma funerária, que emprestou um caixão - dizem as lendas, com um corpo dentro. O mais curioso foi a filmagem de parte do filme em um pátio da companhia de trens de Los Angeles: os funcionários que tomavam conta do local foram "convencidos" a permitir as filmagens após ganhar de Corman duas garrafas de uísque. Uma das cenas gravadas no pátio de trens envolvia um atropelamento, filmado de forma revolucionária para a época: a locomotiva foi filmada andando para trás, se afastando do personagem atropelado, e, na hora da edição, o filme foi passado de trás para a frente, fazendo com que o trem viajasse na direção do atropelado.

Até mesmo o equipamento usado nas filmagens foi o mais reduzido possível, tudo em nome da economia: o usado nas externas foi alugado a apenas 279 dólares, e cada estúdio só tinha duas câmeras, posicionadas em ângulos opostos. Muitas vezes isso fez com que ficasse difícil "juntar" as cenas na hora da edição, o que foi resolvido com um truque bizarro: o editor tinha em seus arquivos uma cena da lua, que ele mesmo filmara. Toda vez que uma cena não se encaixava com a seguinte, lá vinha a lua entre as duas, para suavizar a mudança. Mais bizarro que isso foi o artigo escrito por uma revista em 1960, que, alheia a esse truque, dedicou oito páginas a "o simbolismo da lua em A Pequena Loja dos Horrores".

Com toda essa economia, o orçamento oficial do filme ficou em apenas 30.000 dólares, baratinho até mesmo para uma época em que os filmes eram bem mais baratos que hoje em dia. Mas o mais curioso, acreditem, não foi o custo da produção, mas seu tempo de filmagem: apenas dois dias. O motivo oficial, lógico, foi que, depois desses dois dias, os estúdios nos quais ele estava sendo filmado seriam desmontados e remontados para outras produções; essa rapidez nas filmagens, porém, levou a várias lendas sobre o filme, como a de que Corman havia sido obrigado a filmá-lo em dois dias porque perdera uma aposta, ou a de que, já que em 1o de janeiro de 1960 entraria em vigor uma nova lei, que obrigava o pagamento de direitos conexos aos atores por cada exibição ou relançamento do filme (o que é verdade, até então os atores eram pagos pelo filme e acabou, não recebendo mais nada pelas exibições), Corman quis filmar correndo antes disso, para não precisar pagar mais nada a ninguém e economizar mais ainda.

A Pequena Loja dos Horrores do título é uma floricultura, localizada no bairro de Skid Row, na periferia de Los Angeles, de propriedade do ganancioso Gravis Mushnick (Mel Welles). Lá trabalham a bela Audrey Fulquard (Jackie Joseph) e o atrapalhado Seymour Krelboin (Jonathan Haze). A floricultura não tem muitos clientes, fora alguns fiéis, como a senhora judia Siddie Shiva (Leola Wendorff), que está sempre comprando flores para os vários funerais de seus muitos parentes, e o excêntrico Burson Fouch (Dick Miller), que compra plantas para comer. Um dia, a floricultura recebe uma importante encomenda de arranjo de flores do dentista Dr. Farb (John Shaner); como Seymour faz besteira e estraga o arranjo, Mushnick o despede. Seymour, porém, consegue convencê-lo a não mandá-lo embora, mostrando-o uma nova espécie de planta carnívora que ele mesmo criou, cruzando uma pinguícula (aquela que parece um jarrinho) com uma dioneia (o estereótipo da planta carnívora, popularizada pelos desenhos animados, aquela que parece uma armadilha de urso), a qual ele batizou de "Audrey Jr." em homenagem à sua colega de trabalho, por quem é apaixonado. Com a planta na vitrine, a floricultura passa a receber centenas de visitantes, que pagam apenas para vê-la.

Seymour, porém, tem um problema: Audrey Jr. parece não se interessar por comer insetos, e definha a cada dia, aparentemente em direção à morte. Um dia, ele se corta acidentalmente em um espinho, e descobre que sua planta se alimenta de sangue. Ao chupar o sangue de Seymour, Audrey Jr. cresce cada vez mais, e, um dia, começa a falar (com a voz de Griffith).

Conforme a planta cresce, Seymour se torna incapaz de alimentá-la - ele já está anêmico, e não tem sangue suficiente para suprir as necessidades da já enorme Audrey Jr. A planta, faminta, fala com ele em um tom agressivo, e praticamente o obriga a lhe conseguir comida. Andando pela cidade sem saber o que fazer, Seymour vai para no pátio de trens, onde arremessa longe uma pedra para aplacar sua frustração. A pedra, porém, acerta acidentalmente um homem, que cai nos trilhos e é atropelado. Seymour, então decide levar os pedaços do homem para a loja e dá-los para Audrey Jr.

Mas, como qualquer ser vivo a planta precisa ser alimentada regularmente, o que colocará Seymour em uma grande enrascada - principalmente quando ela começa a florescer, e a Sociedade dos Observadores Silenciosos de Flores da Califórnia do Sul decide lhe dar um importante prêmio por ter criado uma nova espécie vegetal, em uma solenidade onde Audrey Jr. será exibida à alta sociedade. Esse dia acaba se transformando em um escândalo quando os botões de Audrey Jr, ao abrir, possuem os rostos das pessoas que ela comeu ao longo do filme. Disposto a acabar com sua ameaça de uma vez por todas, Seymour a ataca. Ele consegue matar a planta, mas acaba também devorado, com seu rosto aparecendo em um dos botões.

Corman encontrou alguns problemas para arrumar um distribuidor para o filme, não somente por causa do humor negro, mas também porque alguns distribuidores, como a American International Pictures, o consideraram anti-semita, por causa de personagens caricatos como Gravis Mushnick, Siddie Shiva e a mãe de Seymour, uma judia hipocondríaca. Corman acabou ele mesmo distribuindo o filme através de sua companhia The Filmgroup Inc, mas apenas quase um ano após concluir as filmagens. Com o título original de The Little Shop of Horrors, o filme, de apenas 70 minutos, seria lançado em 14 de setembro de 1960, sem muito alarde, mesmo após ter sido exibido fora de competição no Festival de Cannes daquele ano.

O filme até foi motivo de certo comentário após passar a ser exibido em sessão dupla junto com A Máscara do Demônio, de Mario Bava, mas nunca chegaria a ser um sucesso. Para tentar espremer mais algum dinheiro dele, em 1961 Corman lançaria seu filme seguinte, A Última Mulher da Terra, em sessão dupla com A Pequena Loja dos Horrores. Por não acreditar que um dia ele lhe renderia um dinheiro que compensasse o incômodo, Corman jamais oficializou seu copyright, o que fez com que o filme passasse a ser considerado de domínio público.

A Pequena Loja dos Horrores ficou mais ou menos esquecida até o início dos anos 1980, quando o compositor Alan Menken e o escritor Howard Ashman decidiram adaptar o filme para, acreditem ou não, um musical. Para torná-lo mais palatável, eles removeram alguns personagens, como Siddie Shiva, Burson Fouch, a mãe de Seymour - que passa a ser um órfão criado pelo dono da floricultura - e dois policiais que passam a investigar Seymour após desconfiar dos vários assassinatos na região. Três novas personagens, Crystal, Chiffon e Ronnette, atuam como "narradoras", cantando entre os atos, e o dentista, agora chamado Orin Scrivello, é sádico e namora Audrey, o que faz com que Seymour tenha raiva dele. A planta protagonista também passou por alterações: agora chamada Audrey II, ela é um ser do espaço sideral, que chegou à Terra durante um eclipse, disposta a dominar o mundo através de sua prole - e o pior é que ela consegue, já que o musical tem um final diferente, no qual Audrey II come não somente Seymour, mas também Audrey e o Sr. Mushnik, e então espalha seus botões pelo mundo, para que eles devorem a humanidade. Finalmente, apesar do bairro onde se localiza a floricultura também se chamar Skid Row, o musical é ambientado não em Los Angeles, mas em Nova Iorque, onde o espetáculo estrearia.

Audrey II, aliás, era um dos maiores atrativos da peça: dublada por um ator que ficava fora do palco, ao longo do espetáculo ela era representada por quatro bonecos diferentes. O primeiro, menorzinho, era manipulado por Seymour quando estava em suas mãos, e por uma mão de um cenografista estrategicamente colocado quando estava sobre a bancada; o segundo, um pouco maior, ficava sempre nas mãos de Seymour, e contava com um braço falso do personagem segurando seu vaso, enquanto o braço do ator estava na verdade dentro do boneco, manipulando-o; o terceiro, já bem maior, tinha um ator dentro, que usava os braços para manipular sua boca; e o quarto, gigantesco, precisava de duas pessoas para ser manipulado, uma para a boca e uma para as vinhas, e ainda tinha uma abertura especial por onde Audrey II "engolia" alguns atores da peça. Durante o espetáculo, algumas vinhas também pendiam do teto e eram recolhidas, como se Audrey II estivesse ameaçando comer a plateia.

Diferentemente do filme, o musical, que se chamava apenas Little Shop of Horrors (sem o "The") foi um enorme sucesso. Estreando em 6 de maio de 1982 no teatro do Workshop of the Players' Art e depois passando para o Orpheum Theatre, o musical foi aclamado pela crítica, ganhando o New York Drama Critics Circle Award, o Drama Desk Award e o Outer Critics Circle Award de 1982. Little Shop of Horrors só não foi indicado ao Tony, o mais famoso prêmio dos musicais norte-americanos, porque não era exibido na Broadway, mas é opinião quase unânime que, se tivesse sido indicado, teria ganhado. O musical ficou em cartaz até 1o de novembro de 1987, após nada menos que 2.209 apresentações, se tornando o terceiro musical off-Broadway com maior número de apresentações e o terceiro com o maior tempo em cartaz, além de o de maior renda da história. Em 1985, os produtores até receberam um convite para levar Little Shop of Horrors para a Broadway, mas acreditaram que seria melhor deixá-lo onde estava. Além da versão novaiorquina, em 1o de janeiro de 1983 estrearia uma versão do espetáculo em Londres, no West End Theatre, que ficaria em cartaz durante 813 apresentações, ganhando o Evening Standard Award.

A trilha do espetáculo, composta por Alan Menken e musicada por Edie Cowan, tentava ambientar o musical na mesma época do filme, com canções de rock no estilo anos 1960, doo-wop e canções no estilo dos primeiros sucessos da Motown, inclusive com as narradoras atuando como um dos famosos girl groups da gravadora. A trilha foi lançada em LP e cassete fazendo grande sucesso, e até hoje canções como Skid Row, Somewhere That's Green e Suddenly, Seymour são bastante conhecidas do público norte-americano.

O sucesso do musical rendeu a Menken e Ashman um convite da Warner Bros, que desejava adaptá-lo para o cinema. A princípio, Steven Spielberg seria o produtor e Martin Scorcese o diretor, mas dificuldades nas negociações - a principal delas que Scorcese pretendia fazer o filme em 3D - acabaram fazendo com que a produção ficasse a cargo de David Geffen, dono da gravadora Geffen, que também era um dos produtores do espetáculo, e a direção a cargo de Frank Oz. Com orçamento de 30 milhões de dólares, mil vezes maior que o do filme original, o novo filme - que manteve em inglês o mesmo nome da peça, Little Shop of Horrors, mas, em português, ficou com o mesmo nome do original, A Pequena Loja dos Horrores - seria lançado em 19 de dezembro de 1986, se tornando um grande sucesso de público e crítica, indicado aos Oscars de Melhores Efeitos Visuais e Melhor Canção, e aos Globos de Ouro de Melhor Filme Musical ou Comédia e Melhor Trilha Sonora. A Pequena Loja dos Horrores seria o único roteiro escrito por Ashman, que faleceu em 1991, para o cinema.

O novo filme é, também, um musical, bastante fiel à peça. No tocante às canções, apenas quatro ficaram de fora, para diminuir a duração e não quebrar o ritmo do filme, mas, em compensação, uma totalmente nova - a indicada ao Oscar Mean Green Mother From Outer Space - foi composta por Ashman e Menken especialmente para o filme. Além disso, a música de abertura ganhou mais uma estrofe, para que todos os créditos do filme pudessem ser exibidos. No tocante ao roteiro, alguns personagens eliminados da peça, como os policiais que investigam os assassinatos, retornaram, e o final foi mais uma vez alterado: agora Seymour e Audrey não são mais devorados, e Seymour consegue matar a planta, realizando o sonho de Audrey de ir morar com ela em uma casinha do subúrbio. Esse não era o final original previsto para o filme, no qual Seymour e Audrey morriam e Audrey II continuaria crescendo até destruir a cidade de Nova Iorque em um momento meio Godzilla, enquanto seus botões se espalham pelo mundo e devoram a humanidade. Embora esse final tenha custado 5 milhões de dólares para ser filmado, e fosse o preferido do roteirista, do diretor e do elenco, ele não foi bem recebido pelos grupos de teste, e, temendo um fracasso do filme, Ashman decidiu alterá-lo.

cena do musicalOs bonecos de Audrey II do novo filme foram feitos por Lyle Conway, e considerados entre os mais modernos e realísticos da época. Operá-los era especialmente difícil - uma equipe de 60 técnicos era necessária para movimentar o boneco do estágio final da planta, que pesava uma tonelada - especialmente nas sequências nas quais Audrey II cantava, pois nelas o boneco teria de se mover extremamente rápido. Como isso se mostrou impossível, Oz se utilizou de um truque: filmar o boneco se movendo em 16 quadros por segundo, e, na hora da edição, acelerar a cena para os tradicionais 24 quadros por segundo - o que fazia com que os técnicos pudessem movimentá-lo mais devagar. Para que isso funcionasse direito, sem que a planta se movesse sem sincronia com a música, foram utilizados vários cortes de cena, e diminuída ao máximo a interação do boneco com os demais atores nesses momentos - e, quando a interação era absolutamente necessária, os atores se moviam em câmera lenta, inclusive suas bocas, com suas falas tendo de ser redubladas na edição. Surpreendentemente, o resultado ficou extremamente realístico, tanto que muitos acreditam que esse truque seja apenas uma lenda, embora os próprios Oz e Moranis confirmem tê-lo usado.

O elenco do filme conta com Rick Moranis como Seymour, Ellen Greene como Audrey, Vincent Gardenia como o Sr. Mushnik e Steve Martin como Orin Scrivello; além de Levi Stubbs, vocalista do grupo Four Tops, como a voz de Audrey II; e Tichina Arnold, Michelle Weeks e Tisha Campbell como Crystal, Ronette e Chiffon. Quatro comediantes famosos da época também fazem participações especiais: Christopher Guest como o primeiro cliente a pagar para ver Audrey II na floricultura, John Candy como o apresentador de um programa de rádio ao qual Seymour leva a planta, Bill Murray como um paciente masoquista de Scrivello, e James Belushi como um representante da World Botanical Enterprises, que planeja vender mudas de Audrey II por todo o país.

Com o sucesso do filme de Oz, o filme de Corman acabaria relançado em 1987, desta vez colorizado. Como o filme é de domínio público, ele também acabou lançado diversas vezes, tanto na versão preto e branco quanto na colorizada, por diversas distribuidoras, em VHS e DVD. Curiosamente, esses lançamentos alardeiam a presença de Jack Nicholson no filme como se ele fosse o astro principal, quando na verdade ele tem um papel bem pequeno, o do paciente masoquista do Dr. Farb - o mesmo interpretado no filme de 1986 por Bill Murray, e que não existe no musical original. Também em 1987, o filme de Oz foi adaptado para os quadrinhos, em uma edição especial lançada pela DC Comics.

Em 1991, foi a vez de A Pequena Loja dos Horrores virar um desenho animado, chamado, simplesmente Little Shop. Criado por Frank Oz e exibido na Fox Kids, o desenho transformava Seymour e Audrey em adolescentes; ele trabalhava na loja do Sr. Mushnik e era apaixonado por ela, que era filha do Sr. Mushnik e não dava muita bola pra ele. O melhor amigo de Seymour era Junior, uma planta carnívora falante que brotou de uma semente pré-histórica encontrada pelo garoto. Ao contrário do que ocorre no filme, Junior é uma planta do bem, não tendo o desejo de matar ninguém nem consumir a humanidade, embora, sendo uma planta carnívora pré-histórica, se alimente de carne. Junior também possui poderes telepáticos, hipnóticos, e é capaz de mover carne com o poder de seu pensamento. No lugar do dentista, o rival de Seymour era o valentão Paine Driller, que usava aparelho, também gostava de Audrey, e estava sempre tiranizando o pobre protagonista. Chiffon, Ronette e Crystal também estavam presentes no desenho, mas, ao invés de humanas, eram três flores cantoras.

Falando nisso, Little Shop era, também, um musical, embora a maior parte de suas músicas, talvez refletindo o período no qual foi realizado, eram raps, cantados por Junior - que, quando não estava cantando, usava várias gírias ao estilo hip hop. Embora se possa argumentar que o desenho era criativo, ele não fez muito sucesso, e teve apenas 13 episódios.

Em 2003, os produtores decidiram tentar um revival do musical, desta vez na Broadway. Como teste, eles montaram uma nova versão, que estreou em 16 de março daquele ano no Miracle Theatre de Coral Gables, Flórida, com novos bonecos criados pela Jim Henson Company. Essa versão, entretanto, foi muito mal recebida pela crítica, que considerou que, apesar de todos os avanços tecnológicos, levar Little Shop of Horrors para um teatro maior tirava seu charme, além de criticar bastante o elenco, considerado pouco inspirado e aquém do esperado.

Devido a essa reação, a estreia na Broadway foi adiada até que novos testes para o elenco e concepções de cenografia fossem feitos. A nova versão do musical só estrearia no maior palco do teatro novaiorquino em 2 de outubro, atraindo boas críticas e conseguindo uma indicação para o Tony de Melhor Ator para Hunter Foster, que interpretava Seymour. A maior novidade dessa nova versão era o novo boneco gigante de Audrey II, capaz de se projetar para a frente para tentar comer a plateia. Essa nova versão ficou em cartaz até 22 de agosto de 2004, quando, após 412 apresentações, partiu para uma turnê por diversas cidades dos Estados Unidos, encerrada em 16 de abril de 2006 em Columbus, Ohio. Em 17 de novembro daquele mesmo ano estrearia uma nova versão do espetáculo londrino, que saiu em turnê por diversas cidades do Reino Unido em 2008, estando em cartaz até hoje.

Em 2009, o diretor Declan O'Brien anunciou seus planos de fazer uma refilmagem de A Pequena Loja dos Horrores, desta vez como um filme de horror mesmo, em um estilo totalmente diferente dos usados até então. Enquanto ele não concretiza seus planos, eu fico com a planta alienígena e cantante. Memórias de infância não morrem assim tão fácil.

2 comentários:

  1. Rafael Netto21:06:00

    É bom lembrar que o musical teve também uma versão brasileira nos fim dos anos 80 na qual Eduardo Dusek fazia o dentista. Não faço ideia de como representaram a planta.

    Entendi que você usou a palavra "vinhas" para traduzir "vines", mas o termo não é adequado. Em inglês, essa palavra é usada para denominar trepadeiras e troncos/galhos flexíveis de plantas como cipós. No caso da Audrey II seriam seus "tentáculos". Acho que não existe uma boa tradução pra isso.

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  2. Confesso que eu usei "vinhas" porque é assim que nossos estimados tradutores de filmes e desenhos traduzem "vines" (até no desenho do Pokémon eu já ouvi). Até agora, eu não fazia a menor ideia de que "vinha" é sinônimo de "vinhedo" :P

    Segundo o meu dicionário Oxford, a melhor tradução para "vines" é "videiras".

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