Tendo os robôs em tão alta conta, também não é de se estranhar que um dos meus filmes preferidos de quando eu era criança fosse Um Robô em Curto Circuito. Vendo que era uma comédia familiar com um robô, meu pai o alugou para que eu assistisse; e realmente eu assisti, umas cem vezes. Tudo bem, foram só umas três, mas para uma criança isso foi um monte. Depois eu ainda o assiti mais algumas vezes na Sessão da Tarde, vi a tenebrosa parte 2, e aí o filme sumiu. O 2 ainda chegou a passar mais algumas vezes recentemente, mas o 1 eu nunca mais tinha visto.
Felizmente, quando eu resolvi começar minha coleção de DVDs dos anos 80, esse foi um dos primeiros que eu achei. Como eu sempre digo, é impossível encontrar um padrão em relação à qualidade de filmes dos anos 80 em DVD. Este, que curiosamente mudou de nome para Short Circuit, O Incrível Robô, é em widescreen e tem uma penca de extras, incluindo um making of - e custou R$ 9,90. Vai entender.
Bom, melhor pra mim. E, para aqueles que não sabem do que este filme se trata, aí vai o tradicional resumo: o exército dos Estados Unidos contrata os Laboratórios Nova para criar robôs, que substituiriam os soldados humanos em algumas missões militares, inclusive na guerra, onde poderiam se infiltrar nas linhas inimigas e atacar os oponentes sem que fosse necessário ferir os soldados americanos. Durante uma demonstração do poderio bélico dos robôs, um deles, o de número cinco, é atingido por um raio. O raio faz com que Número Cinco ganhe consciência, se tornando um robô capaz de tomar suas próprias decisões e agir por conta própria. Se isso fosse um filme B, ele se revoltaria contra a humanidade, mataria seus criadores, e partiria em uma cruzada sangrenta para dizimar todos os seres humanos que encontrasse.
Mas não é, então o robô do filme cujo título original é Short Circuit, lançado em 1986 e dirigido por John Badham (do sucesso Jogos de Guerra), renega seu passado militar e se torna um robô bonzinho, mais interessado em aprender sobre a vida na Terra e a bondade entre os seres humanos do que em explodir alvos militares. Ele consegue escapar dos laboratórios Nova, e acaba chegando até a casa de Stephanie Speck (Ally Sheedy), uma jovem apaixonada por animais. A princípio, Stephanie acha que Número Cinco é um alienígena, e prontamente atende a todos os seus pedidos. Curiosamente, quanto mais informação de livros, filme e revistas Número Cinco absorve, mais "humano" ele se torna, chegando a desenvolver o temor de ser recapturado pela Nova, já que não quer ser reprogramado nem desmontado, o que, no seu entendimento, corresponderia à morte.
Evidentemente, a Nova e o Exército não vão deixar um robô secreto militar andando por aí, então Número Cinco começa a ser perseguido por três oponentes: o Capitão Skroeder (G. W. Bailey), chefe da segurança da Nova, o cientista Newton Crosby (Steve Guttenberg) e seu assistente Ben Jabituya (Fisher Stevens). Evidentemente, nenhum dos três acredita que Número Cinco tenha "ganhado vida", preferindo acreditar que ele está com defeito, e precisando ser reprogramado. Stephanie, quando descobre que o robô não é um alienígena, mas um produto da Nova, também não acredita que ele seja senciente, preferindo acreditar que alguém está pregando uma peça nela, e ameaça devolvê-lo à Nova, apesar dos muitos protestos do robô. Para a sorte do Número Cinco, Crosby nunca foi muito fã do exército, e preferiria estar trabalhando com robôs mais pacíficos do que com máquinas de guerra; assim, quando Stephanie e o cientista são finalmente convencidos pelo robô de que ele consegue pensar por conta própria, os dois, com a ajuda de Ben, decidem fugir com ele, para que a Nova não o destrua. No final, graças a uma idéia de Número Cinco, a Nova fica achando que o destruiu, e ele consegue partir com seus amigos para viver uma vida normal, adotando o nome de Johnny Cinco.
Como se vê, uma comédia com elementos de ficção científica típica dos anos 80. Curiosamente, porém, o filme não foi concebido para ser assim: quando eu falei que Número Cinco se revoltaria contra a humanidade e sairia matando todo mundo, não fui só eu que tive esta idéia, mas os produtores também. O intuito era fazer um filme sombrio de ficção científica, mas com uma abordagem diferente: Badham reparara que, em todos os filmes onde robôs criavam vida e saíam matando todo mundo, as pessoas simplesmente acreditavam que o robô estava vivo e pronto, o que não parecia lá muito verídico. O diretor, então, planejava criar um filme onde ninguém acreditasse que o robô estava vivo, preferindo achar que alguém o controlava à distância, algo que realmente acontece no filme, e que é mais condizente com a realidade. Após muitas revisões de roteiro, a idéia do filme sombrio de robô assassino foi abandonada, e os produtores optaram por uma comédia familiar baseada no conto Robot AL-76 Goes Astray, escrito em 1941 por Isaac Asimov, onde um robô se perde e acaba se vendo em um ambiente que desconhece e não consegue compreender.
A melhor coisa do filme é justamente o robô, extremamente realístico para a tecnologia da época. Na verdade, não foi criado um robô, mas vinte deles, cada um usado em um certo número de cenas, e capaz de fazer movimentos diferentes. Os robôs não eram manejados por controle remoto, mas sim por um complexo sistema batizado de "roupa telemétrica": o animador do robô vestia uma armadura composta de milhares de fios e sensores, e todos os movimentos que ele fazia com os braços, mãos, cintura e pescoço eram reproduzidos pelo robô em tempo real. Apenas os detalhes da cabeça do robô (como as "pálpebras", "sobrancelhas", ou sei lá o que era aquilo que ele tinha sobre os olhos) eram controlados remotamente, por outro animador. O animador que vestia a roupa telemétrica interpretava todas as falas do robô, para ajudar os atores que contracenavam com ele, mas mais tarde, na pós-produção, as falas foram redubladas pelo dublador Tim Blaney.
Short Circuit ainda possui uma característica curiosíssima: foi o primeiro filme da história a incluir cenas removidas (ou seja, que não foram aproveitadas na edição final do filme) durante seus créditos. Muitas destas cenas não estão completas, mas mesmo assim este pode ser considerado um feito visionário, que anteviu a moda das "versões do diretor" e das cenas inéditas incluídas em DVD que viriam vários anos depois. Short Circuit também foi um dos primeiros filmes a ganhar um jogo de videogame baseado nele - na verdade, um jogo para os computadores ZX Spectrum, Commodore 64 e Amstrad CPC. Tal jogo, porém, era impossível de se vencer, já que a fase 2 não tinha fim.
Short Circuit foi um filme extremamente bem sucedido para a época, e, como sempre, o estúdio, no caso a Tri Star, decidiu capitalizar em cima desse sucesso lançando uma continuação, Short Circuit 2, em 1988. A continuação, porém, pouco tinha a ver com o original. Dirigido por Kenneth Johnson, que já havia dirigido alguns filmes do Hulk para a televisão, o filme manda Johnny Cinco para Nova Iorque, enviado por Stephanie para morar com Ben, cujo sobrenome foi alterado para Jharvi (Ben Jabituya era um tipo de piada interna, e foi considerado um nome inapropriado para um protagonista). Ben e seu parceiro Fred Ritter (Michael McKean) montam uma fábrica de brinquedos de fundo de quintal que monta versões em brinquedo de Johnny Cinco. Fascinada pelos brinquedos, a vendedora Sandy Banatoni (Cynthia Gibb) encomenda mil unidades à dupla. Para poder montar tantos brinquedos a tempo, Ritter aluga um galpão, mas sem saber que dois bandidos contratados pelo caixa de banco Oscar Baldwin (Jack Weston) estão usando o mesmo galpão para cavar um túnel até o cofre do banco, onde ficarão guardadas jóias raríssimas que farão parte de uma exposição próxima. Para afastar Ritter e Ben, os ladrões quebram grande parte de seu equipamento, fazendo com que se torne impossível para a dupla cumprir o prazo do contrato.
Stephanie e Crosby, que sabiam dos negócios de Ben, decidem ajudar seu amigo de uma forma bem original: enviando Johnny Cinco pelo correio, para que ele ajude na montagem dos brinquedos. Ben então deixa Johnny ajudando Ritter, e recomenda que ele não deixe o robô saber que está em uma metrópole, ou ele irá querer absorver mais dados. Aí todos nós já sabemos que Ritter deixará escapar durante uma conversa com Johnny justamente a informação que ele não deveria de forma alguma deixar que chegasse ao robô, e que o robô, munido desta informação, se envolverá em mil e uma confusões, inclusive ficando amigo de Baldwin, que decide utilizá-lo para roubar as jóias.
Infelizmente, o filme é péssimo, se limitando a explorar muitas das piadas já usadas no filme anterior (como a de que ninguém acredita que o robô está vivo) e a depictar Johnny como uma criança inocente, facilmente manipulável pelos vilões. Se fosse um filme "solto", talvez passasse uma impresão melhor, mas como é uma continuação, a comparação com o primeiro filme é inevitável, e nesse ponto Short Circuit 2 perde feio.
Além do roteiro ruim, Short Circuit 2 ainda sofre de um problema geográfico: o filme é ambientado em Nova Iorque, mas foi filmado em Toronto, inclusive mostrando vários pontos turísticos da cidade. Isto fez com que muitos fãs novaiorquinos reclamassem do filme até não conseguir mais (e muitos canadenses também não devem ter ficado satisfeitos), o que contribuiu para que o filme fosse um fracasso de bilheteria. Outra incongruência citada pelos fãs é que Ben, no primeiro filme, havia nascido nos Estados Unidos, enquanto no segundo filme ele é um imigrante pleiteando a cidadania americana - na última cena, aliás, quando ele finalmente consegue, o prédio em frente do qual os imigrantes fazem o juramento é a Assembléia Legislativa de Ontário, no Canadá...
Short Circuit teria uma terceira continuação, mas o insucesso do segundo filme a cancelou. Mas até hoje, nos Estados Unidos, o filme é considerado cult, e tem uma legião de fãs, alguns dos quais até fazem abaixo-assinados pedindo action figures de Johnny aos fabricantes de brinquedos. Isso eu já acho exagero, mas também não precisava ser igual aqui no Brasil, onde o filme foi expulso até da Sessão da Tarde, ficando restrito a um DVD de R$ 9,90. E à minha memória afetiva, onde sempre terá um lugar especial.
pucha vida!eu amo esse filme tenho 14 anos eu vi ele quando eu tinha uns 6 ou 7 anos hoje se vc perguntar ninguem sabe mas os poucos que ainda gosta tenta manter vivo os melhores filmes de modo dificil pela concorrencia a atualidade me contate alessandrobordini2011@hotmail.com
ResponderExcluir