Aqui no Brasil, a enorme maioria das pessoas conhece O Senhor dos Anéis dos três filmes de Peter Jackson, que foram exibidos no cinema em 2001, 2002 e 2003. Eu não os culpo. Afinal, apesar de ser um dos maiores e mais importantes autores da língua inglesa, Tolkien era meio desconhecido no Brasil antes dos filmes - assim como C. S. Lewis, de quem eu mesmo confesso nunca ter ouvido falar antes do filme de Nárnia. Eu, porém, faço parte de um grupo que leu a versão em livro de O Senhor dos Anéis bem antes do primeiro filme ser lançado. Li emprestado de um colega do CEFET, já que, na época, era difícil encontrar livros de Tolkien nas livrarias (pois é, quem diria; aliás, também houve uma época em que era quase impossível encontrar livros de RPG nas livrarias, mas isso já não é assunto para este post). Confesso que, quando li, achei meio chato, apesar de muito interessante. Culpa talvez do estilo extremamente descritivo de Tolkien, ao qual demorei um pouco a me acostumar, mas hoje até acho legal. De qualquer forma, anos se passaram, até que, graças ao anúncio de que seriam feitos filmes, os três livros de O Senhor dos Anéis passaram a ser encontrados facilmente nas livrarias. Foi nesta época que eu adquiri os meus, e aproveitei também para comprar O Hobbit, primeiro livro de Tolkien, que eu nunca tinha lido, e O Silmarillion (que, na verdade, eu nem comprei, mas ganhei de aniversário), do qual eu já tinha ouvido falar, e que logo se transformou em um dos meus livros preferidos. Após essa segunda leitura, O Senhor dos Anéis também entrou definitivamente para a minha lista, ajudando a consolidar meu interesse e minha admiração pela obra de Tolkien.
Pois bem, vamos adiante. Eu já fiz aqui um post sobre Tolkien, que pode ser encontrado ali na coluna da esquerda, mas vamos a um pequeno resumo: John Ronald Reuel Tolkien, ou simplesmente J. R. R. Tolkien, nasceu em 1892 em Bloemfonteim, África do Sul, filho de um gerente de banco inglês. Aos 3 anos de idade, após o falecimento de seu pai, se mudou para a Inglaterra, acompanhado de sua mãe e irmão. Com o tempo, se tornou um apaixonado por lingüística, literatura e mitologia. Em 1916, se casou, e logo em seguida foi enviado para lutar na Primeira Guerra Mundial. Ao retornar, passou a trabalhar no Dicionário Oxford da Língua Inglesa, onde pesquisava a história e etmologia de palavras de origem germânica. Em 1920 se tornou pesquisador da língua inglesa na Universidade de Leeds, em 1924 foi promovido a professor, e em 1925 se tornou professor de anglo-saxão na Universidade de Pembroke, em Oxford. E aí chegamos ao ponto que interessa.
Tolkien adorava pesquisar sobre mitologia, principalmente a germânica e nórdica, e de certa forma se ressentia de que a Inglaterra, apesar de seu variado folclore, não tivesse uma mitologia semelhante. No intervalo de suas aulas, Tolkien pesquisava o folclore inglês, reunindo material para algo que ele chamava de "O Livro dos Contos Perdidos", uma tentativa de estabelecer uma "mitologia inglesa". Nas histórias deste livro, Tolkien reunia seres fantásticos, como elfos e dragões, usando como cenário a Terra-Média - em inglês, Middle-Earth, uma variação de Middelerd, a antiga palavra usada pelos ingleses para designar o mundo dos humanos, em contraposição ao mundo dos deuses e ao mundo dos mortos. A Terra-Média não era outro planeta ou outra dimensão, mas sim nosso próprio mundo em uma época muito remota, quase indefinida, exatamente como o cenário das lendas da mitologia grega. E, assim como a mitologia grega ocorre em um clima de Idade Antiga, a Terra-Média tem um clima de Idade Média, com reis, cavaleiros e lutas de espada, fato facilmente explicável quando se lembra que quase todas as lendas da Inglaterra se passam neste período.
Tolkien também gostava de contar histórias recheadas de mitologia para seus filhos, que, um dia, lhe pediram que escrevesse um livro. Assim surgiu O Hobbit, a história de... bem, de um hobbit, chamado Bilbo Bolseiro, que um dia é levado pelo mago Gandalf para uma grande aventura, acompanhando um grupo de treze anões, que planejam derrotar o dragão Smaug, o Magnífico, e reaver um tesouro roubado dos anões pela fera. Todos os elementos da história - anões, magos, dragões, aranhas gigantes, artefatos mágicos - pertencem a alguma mitologia, exceto um: os hobbits. Pode-se dizer que Tolkien inventou os hobbits à sua imagem e semelhança: criaturas gentis, caseiras, amantes de cerveja e de fumar cachimbo, que não gostam de correr o mundo vivendo aventuras - Bilbo teve de ser convencido a participar da caça ao tesouro, ou continuaria em sua casinha redonda pelo resto da vida. Para torná-los mais "mitológicos", Tolkien ainda adicionou algumas características físicas aos hobbits: eles têm orelhas pontudas, pés grandes e cabeludos, e mais ou menos um metro de altura.
No início da década de 1930, uma amiga de Tolkien, Elaine Griffiths, estava lhe fazendo uma visita, quando viu seu rascunho de O Hobbit. Griffiths, que trabalhava na Editora Allen & Unwin, achou o trabalho muito interessante, e falou dele à editora Susan Dagnall. Dagnall perguntou a Tolkien se poderia dar uma olhada no rascunho, e o achou tão bom que prometeu mostrá-lo ao dono da editora se Tolkien terminasse de escrevê-lo. O livro ficou pronto em 1936, e foi mostrado a Stanley Unwin, que pediu que seu filho Rayner, de 10 anos, lesse e dissesse o que achou. Rayner adorou o livro, e, entusiasmado, Unwin decidiu publicá-lo.
O Hobbit foi publicado em setembro de 1937, e se tornou um grande sucesso - sua primeira tiragem, de 1.500 exemplares, se esgotou em dezembro do mesmo ano. Imediatamente, a Allen & Unwin começou a pressionar Tolkien por uma continuação. Tolkien começou a trabalhar nesta continuação ainda em 1937, aos 45 anos de idade. Mas ela ainda levaria anos para ser publicada, e mudaria muito até chegar ao que foi efetivamente publicado.
Antes de O Hobbit ser publicado, Tolkien já trabalhava em novas histórias para crianças, sendo Roverandom a mais famosa. Ele também voltou a se dedicar ao Livro dos Contos Perdidos, na esperança de que, se O Hobbit vendesse bem, ele receberia luz verde para publicá-lo. Uma seqüência para O Hobbit não estava em seus planos, mas, diante da pressão da editora, ele decidiu escrever alguma coisa, para ver no que ia dar. A princípio ele pensou em fazer com que Bilbo, tendo gastado todo o tesouro adquirido em sua primeira aventura, estivesse ávido à procura de uma nova. Enquanto pensava nisso, Tolkien teve a idéia que acabaria criando sua obra-prima: em um dos capítulos de O Hobbit, Bilbo se encontra com uma criatura de nome Gollum, que tem em sua posse um anel mágico, capaz de tornar seu portador invisível. Bilbo engana Gollum em uma disputa de charadas, e fica com o anel para si. Tolkien decidiu centrar o enredo de seu novo livro neste anel, que passou de um simples anel mágico ao artefato mais poderoso de toda a Terra-Média - conhecido como o Um Anel (The One Ring, no original). Tolkien pensou em usar Bilbo novamente como protagonista, mas ao mesmo tempo desejava criar uma história com um clima mais sombrio, e Bilbo era muito alegre. Ele também pensou em usar como protagonista o filho de Bilbo, mas isso implicaria em uma esposa para o hobbit, o que também traria alguns problemas. Sua escolha, então, foi fazer com que o herói fosse sobrinho de Bilbo, não por acaso como acontece em diversas lendas gregas, onde o herói de uma aventura é sobrinho de outro herói de uma aventura anterior.
Assim, começava a surgir a história que se tornaria a obra máxima de Tolkien. Tolkien de certa forma sabia disso enquanto escrevia, e não economizou tempo para fazê-lo: além de escrever com calma, reescrever várias passagens quando chegava lá na frente e tinha uma idéia melhor, e ainda aplicar a cada parágrafo seu já famoso preciosismo, Tolkien ainda tinha que freqüentemente interromper seu trabalho devido às suas obrigações como professor. Contam as lendas que o primeiro rascunho mostrado à editora só ficou pronto em 1943, e, depois, disso, Tolkien parou de escrever por um ano inteiro, só retomando o trabalho em 1944. Uma nova versão do rascunho foi apresentada em 1947, e, com a aprovação dos editores, Tolkien fecharia a história em 1948, após mais de dez anos de escrita. Mas se engana quem achou que ele o publicou depois disso: Tolkien ainda revisou e reescreveu várias passagens, só chegando a uma versão final, de seu gosto, no final de 1949.
O resultado foi que o livro, já batizado como O Senhor dos Anéis, ficou com mais de 1800 páginas, incluindo a história em si e um apêndice enorme com curiosidades da Terra-Média. Tolkien ainda criou caso com a editora, pois desejava que seu Livro dos Contos Perdidos, a esta altura já renomeado para O Silmarillion - se vocês quiserem saber o porquê, também tem um post sobre ele na coluna da esquerda - fosse publicado junto com O Senhor dos Anéis. Como O Silmarillion ainda estava inacabado, e ainda iria passar pela minuciosa revisão de Tolkien depois disso, os editores não concordaram, e Tolkien chegou a ameaçar abandonar a Allen & Unwin e apresentar seu livro à Editora Collins. Com o tempo, Tolkien e a Allen & Unwin chegaram a um acordo, o que garantiu a impressão de uma segunda edição de O Hobbit, revisada para se adequar mais aos eventos de O Senhor dos Anéis em 1951, e à promessa de que o novo livro seria impresso em 1952. Mas, como publicar um livro de 1800 páginas era algo impraticável no pós-guerra, a editora pediu que ele revisasse e cortasse algumas passagens do livro. Tolkien também não concordou com isso, e um novo acordo para a publicação só seria alcançado em 1954.
A solução encontrada pela editora foi dividir o livro em três volumes. Ao escrevê-lo, Tolkien já o havia separado em seis tomos; desta forma, o volume 1 ficaria com os tomos I e II, o volume 2 com os tomos III e IV, e o volume 3 com os tomos V, VI e os apêndices. Assim, o primeiro volume, batizado pela editora de A Sociedade do Anel, foi lançado em julho de 1954, e o segundo, As Duas Torres, em novembro daquele mesmo ano. Problemas com os apêndices - que continham muitos quadros e mapas - levaram a um atraso na publicação do terceiro volume, O Retorno do Rei, que só saiu da editora em outubro de 1955. Tolkien ainda tentou mudar o nome do livro, que, na sua opinião, revelava o final da história, para A Guerra do Anel, mas não foi bem sucedido.
Em seu primeiro tomo, A Sociedade do Anel mostra Bilbo bem depois dos eventos de O Hobbit, em seu aniversário de "onzenta e um" (111) anos. Cansado de sua vida pacata e anseando por novas aventuras, ele decide abandonar tudo e viajar pelo mundo, deixando o anel mágico que conseguiu durante sua última aventura com seu sobrinho Frodo. Gandalf, que visitava Bilbo na ocasião, acabou descobrindo que o anel, na verdade, era um artefato maligno de grande poder, pertencente ao feiticeiro Sauron, que no passado criou vários anéis mágicos e os deu aos reis dos homens, elfos e anões; tais "presentes", no entanto, eram um engodo, e com este Anel que agora está com Frodo ele poderia controlá-los e dominar toda a Terra-Média. Sauron foi derrotado pelo humano Isildur, que não teve coragem de destruir o Anel, que, após uma série de eventos, foi parar com Gollum, e então com Bilbo. Após anos se regenerando, Sauron finalmente está próximo de alcançar seu poder total, o que lançará a Terra-Média em uma Era de Trevas, e só precisa do Anel para isso. Para descobrir onde o artefato se encontra, ele capturou e torturou Gollum, e agora seus asseclas, os Espectros do Anel, rumam para o Condado, onde vivem os hobbits. Para não correr perigo, Frodo precisa levar o Anel até Valfenda, lar dos elfos, onde Elrond, que estava presente quando Sauron foi derrotado, decidirá o que fazer com ele. Três amigos de Frodo, os hobbits Sam, Merry e Pippin, acabam envolvidos na história, e rumam com ele para a cidade vizinha de Bree, onde deverão se encontrar com Gandalf, que se aconselhará com seu amigo e também mago Saruman antes disso. Saruman, porém, se voltou para o mal, e Gandalf acaba se tornando seu prisioneiro. Os hobbits, após passarem por muitos perigos, sendo salvos na floresta por um misterioso homem chamado Tom Bombadil, chegam a Bree; lá não há sinal de Gandalf, mas os quatro acabam conhecendo um amigo seu, Passolargo. Acidentalmente, Frodo acaba usando o Anel, o que chama a atenção dos Espectros. Passolargo então os ajuda a fugir, mas Frodo é ferido por um dos Espectros. Para que ele não morra, é levado a Valfenda o mais rápido possível pelo elfo Glorfindel.
No segundo tomo, Passolargo e os hobbits, mais Gandalf, que conseguiu fugir de Saruman, se encontram com Frodo e Elrond em Valfenda. Lá é feita uma reunião com representantes dos elfos, anões e homens, os três povos livres da Terra-Média, para decidir sobre o destino do Anel. Nesta reunião ficamos sabendo que Passolargo é na verdade Aragorn, descendente de Isildur, e herdeiro do trono de Gondor, o reino dos homens, atualmente governado pelo Regente Denethor. Elrond revela que a única forma de destruir o Anel é jogando-o no fogo da Montanha da Perdição, em Mordor, o reino de Sauron, onde o inimigo está reunindo suas tropas para um grande ataque. Aquele que decidir levar o Anel até lá correrá grande perigo, pois o Anel tem inteligência própria, e quer voltar para o seu mestre. Em meio a uma confusão, Frodo se oferece para levar o Anel. Para que ele não vá sozinho, é criada uma comitiva, composta por Gandalf, Aragorn e os três hobbits, mais Legolas Verdefolha, príncipe dos elfos; Gimli, filho de Glóin, um dos anões que acompanharam Bilbo em sua aventura contada em O Hobbit; e Boromir, filho de Denethor. A comitiva, batizada de Sociedade do Anel, parte para o leste, rumo a Mordor. O ponto alto desta primeira parte da jornada é uma luta contra os orcs, servos de Sauron, nas minas de Moria, onde Gandalf enfrenta um balrog, um demônio do mundo antigo, e é dado como morto. Depois disso a Sociedade se recupera na floresta de Lothlórien, onde são recebidos por Galadriel, Rainha dos Elfos, que lhes dá vários presentes que serão muito úteis no futuro. Ao sair da floresta e enfrentar mais orcs, Frodo chega à conclusão de que, enquanto ele estiver com o Anel, seus amigos correrão perigo. Ele decide então abandoná-los e rumar sozinho para Mordor. Ou quase, já que Sam descobre e resolve ir com ele.
As Duas Torres, o livro do meio, é bastante singular: não só começa e termina abruptamente, sem início e sem final, em uma mostra de que O Senhor dos Anéis não foi concebido como uma série, mas sim como uma coisa inteira, mas também tem seus dois tomos bem definidos - o primeiro trata apenas dos eventos envolvendo o que restou da Sociedade do Anel, enquanto o segundo é totalmente focado em Frodo e Sam em sua jornada a Mordor.
Assim, no tomo III vemos que Boromir morre na luta contra os orcs, e que Merry e Pippin são capturados por engano, pois os orcs pensam que eles têm o Anel. Aragorn, Legolas e Gimli seguem os orcs, que acabam sendo mortos pelos cavaleiros de Rohan, fazendo com que Merry e Pippin fujam para a floresta de Fangorn, onde encontram Barbárvore, um ent, ser que lembra uma árvore, mas tem grande inteligência e é capaz de andar e falar. Entrando em Fangorn atrás dos hobbits, os três acabam se reencontrando com Gandalf, que não morreu na luta contra o balrog. Eles então deixam os hobbits sob a guarda de Barbárvore, e partem para conseguir a ajuda de Théoden, Rei de Rohan. Théoden, porém, está sob a influência maligna de seu conselheiro Gríma, na verdade um servo de Saruman, e chega até mesmo a expulsar seu sobrinho Éomer e todos os cavaleiros que o seguem, após a morte de seu filho Théodred em batalha. Gandalf consegue libertar Théoden do feitiço e expulsar Gríma, e parte para encontrar Éomer, enquanto o Rei, acompanhado de Aragorn, Legolas, Gimli e de Éowyn, irmã de Éomer, leva seu povo para a fortaleza do Abismo de Helm, para tentar resistir a um ataque maciço dos orcs. Após a batalha, Gandalf e os heróis partem ao encontro de Saruman, e descobrem que Barbárvore e outros ents destruíram sua cidade de Isengard, como punição por ele estar destruindo a floresta. Em meio aos destroços, Pippin encontra um palantír, uma espécie de bola de cristal conectada diretamente a Sauron, jogado do alto da torre de Saruman por Gríma. Gandalf então ruma para Minas Tirith, capital de Gondor, levando Pippin, para se preparar para a batalha que virá.
No tomo IV, Frodo e Sam, em seu caminho para Mordor, acabam encontrando Gollum, que tenta reaver o Anel. Frodo acaba fazendo um pacto com ele, para que os leve até uma entrada secreta para a terra de Sauron. No meio do caminho, os três são capturados por Faramir, irmão de Boromir, que os leva até um posto avançado mas depois os deixa ir. Enganando os hobbits, Gollum os leva até o lar de Laracna, uma aranha gigante que pica Frodo. Imaginando que Frodo está morto, Sam decide ele mesmo levar o Anel a Mordor, mas depois de descobrir que Frodo está apenas insconsciente, retorna para salvá-lo.
E assim chegamos a O Retorno do Rei, clímax da história. No tomo V, Aragorn recebe Narsil, a espada de Isildur, reforjada e pronta para a batalha. Os exércitos de Gondor e Rohan então se reúnem para enfrentar as tropas de Sauron, em uma batalha que acaba com muitas baixas. Mesmo assim, Aragorn decide levar os sobreviventes para um ataque direto a Mordor, na verdade uma distração para que Frodo e Sam consigam destruir o Anel.
Finalmente, no tomo VI, Sam resgata Frodo dos orcs, e os dois se disfarçam de orcs para poder chegar à Montanha da Perdição. Mas, quando estão quase conseguindo destruir o Anel, primeiro são atacados por Gollum, e depois o Anel domina Frodo, fazendo com que ele se recuse a destruí-lo. De maneira surpreendente, porém, o Anel acaba mesmo sendo destruído, o que destrói Sauron de uma vez por todas, e faz com que seus exércitos debandem, levando os exércitos de Gondor e Rohan à vitória. Aragorn é coroado Rei de Gondor e, após longas despedidas, os hobbits retornam ao Condado. Ao chegar lá, porém, descobrem que Saruman, por vingança, dominou o lugar e escravizou todos os hobbits. Merry e Pippin, agora guerreiros experientes, lideram os hobbits contra o vilão, libertando sua terra. No fim, alguns anos se passam, e Frodo, que jamais conseguiu se recuperar totalmente de sua experiência como Portador do Anel, decide aceitar um convite de Gandalf para se unir a ele, a Bilbo e aos elfos em uma jornada de barco para as Terras Imortais.
O Retorno do Rei ainda traz seis apêndices, que contam a história dos Reis da Terra-Média, detalham uma linha do tempo dos principais acontecimentos, mostram árvores genealógicas das principais famílias hobbits, explicam o calendário do Condado, demonstram regras de escrita e pronúncia de palavras encontradas nos livros, e até mesmo falam dos idiomas e povos encontrados na Terra-Média, com detalhes sobre uma "tradução", como se Tolkien tivesse não escrito os livros, mas os traduzido de algum exemplar há muito perdido.
Desde seu lançamento, O Senhor dos Anéis foi um grande sucesso. Como os custos de impressão no pós-guerra eram altos, Tolkien concordou em só receber participação nas vendas após os livros se pagarem, mas isso ocorreu rapidamente. Desde então, O Senhor dos Anéis já teve diversas novas edições, em três volumes, seis volumes (um para cada tomo, com os apêndices junto com o último) e até mesmo em volume único, como Tolkien imaginou originalmente. O Senhor dos Anéis já foi traduzido para 38 idiomas, tendo os tradutores ampla liberdade para adaptar os nomes dos locais e personagens, para que os jogos de palavras, tão prezados por Tolkien, permaneçam (Bilbo Bolseiro, por exemplo, é Baggins em inglês, e Beutlin em alemão). O único problema com o lançamento em um país estrangeiro aconteceu justamente nos Estados Unidos, quando um editor picareta decidiu "considerar" que o texto não estava protegido pelas leis de direitos autorais norte-americanas, e publicá-lo sem pagar royalties a Tolkien. Curiosamente, a questão foi resolvida quando o próprio Tolkien publicou uma carta a seus fãs, pedindo que não comprassem esta edição. Esta edição foi um fracasso, mas uma "oficial", lançada pela Ballantine Books, foi um fenômeno de vendas. Apesar de todo este sucesso, de ter praticamente inventado a fantasia medieval, e de ter influenciado inúmeros autores pelo mundo afora (inclusive Gary Gygax e Dave Arneson, os criadores do RPG), de vez em quando O Senhor dos Anéis recebe uma crítica desfavorável, como de psicologicamente raso, complexo demais, e até mesmo "alegre demais", com os personagens bons sempre mantendo a ternura mesmo diante da pior das situações. Tolkien e seus fãs costumavam ignorar solenemente estas críticas, mas havia um tipo de comentário que irritava o escritor profundamente: quando algum "entendido" resolvia dizer que o livro era uma metáfora da Segunda Guerra Mundial, com a Sociedade do Anel sendo os Aliados, Mordor como a Alemanha nazista, Sauron no papel de Hitler e, acreditem ou não, o anel sendo a bomba atômica. Tolkien detestava metáforas de todo o tipo, mas principalmente estas, já que começou a escrever o livro bem antes do início da Guerra, e o Um Anel já existia desde bem antes do mundo descobrir que existia uma bomba atômica.
O Senhor dos Anéis já foi adaptado para desenhos animados, peças de teatro e radionovelas, mas a adaptação mais famosa é a para o cinema, feita na forma de três filmes, lançados pela New Line Cinema em 2001, 2002 e 2003. Dirigidos por Peter Jackson e filmados na Nova Zelândia, os três filmes foram rodados simultaneamente, sendo editados mais tarde, o que leva muitos fãs a considerarem que não se trata de uma trilogia, mas de um único filme, assim como o livro é um único livro dividido em três volumes. Juntos, os três filmes arrecadaram mais de dois bilhões e meio de dólares, e levaram 17 Oscars, sendo que O Retorno do Rei ganhou todos os 11 para os quais foi indicado, incluindo o de melhor filme. Todos os três filmes possuem duas versões cada, uma igual à que passou ao cinema e uma "estendida", lançada apenas em DVD e apenas nos Estados Unidos. Vale dizer também que os três filmes são imensos, com em média três horas cada, as versões estendidas maiores ainda (a de O Retorno do Rei tem 4 horas e 12 minutos), e mesmo assim muita coisa dos livros ficou de fora (como Tom Bombadil) ou foi alterada (como a elfa Arwen salvando Frodo ao invés de Glorfindel) - motivo pelo qual os fãs mais radicais torceram o nariz para os filmes. O elenco conta com Elijah Wood (Frodo), Ian Holm (Bilbo), Sean Astin (Sam), Dominic Monaghan (Merry), Billy Boyd (Pippin), Ian McKellen (Gandalf), Christopher Lee (Saruman), Viggo Mortensen (Aragorn), Liv Tyler (Arwen, filha de Elrond e namorada de Aragorn, que tem no filme um papel muito maior do que no livro), Hugo Weaving (Elrond), John Rhys-Davies (o anão Gimli e a voz de Barbárvore), Orlando Bloom (Legolas), Sean Bean (Boromir), Cate Blanchett (Galadriel), Andy Serkis (Gollum), Bernard Hill (Rei Théoden), Brad Dourif (Gríma), Miranda Otto (Éowyn), Karl Urban (Éomer), David Wenham (Faramir) e John Noble (Denethor). E antes que alguém estranhe John Rhys-Davies interpretando um anão, cabe explicar que, através de um efeito especial, os atores que representam hobbits e anões foram "encolhidos". Gollum também é um "efeito especial", uma critura digital que substituiu Andy Serkis, que filmava com uma roupa de chroma key com sistema de captura de movimentos.
Após o lançamento de O Senhor dos Anéis, Tolkien ainda lançaria alguns livros, de contos ou didáticos, mas à Terra-Média ele não voltaria enquanto vivo. Tolkien faleceu em 1973, e somente após sua morte seu filho Christopher compilou seus trabalhos inacabados, publicando-os em forma de livros, a começar por O Silmarillion, lançado em 1977. Outro livro a visitar a Terra-Média, Contos Inacabados, foi lançado em 1980. Por fim, a série Histórias da Terra-Média, uma coleção de 12 volumes, com todos os textos restantes que falavam sobre o local (alguns até engraçados, de tão diferentes, se comparados com as demais obras), foi lançada entre 1983 e 1996.
Hoje em dia, O Senhor dos Anéis figura fácil em qualquer lista das mais importantes obras da língua inglesa. E Tolkien, com certeza, também conseguiu sua viagem para as Terras Imortais, onde deve estar fumando cachimbo, como todo bom hobbit.
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