domingo, 17 de dezembro de 2006

Escrito por em 17.12.06 com 1 comentário

Bust a Move

Eu gosto de muitas coisas antigas, como filmes, músicas, desenhos, e até mesmo jogos de videogame. Este fato acabou levando algumas pessoas que me conhecem a acreditar que eu não gosto de novidades. Não é bem assim: se for uma novidade boa e interessante, eu até gosto; o problema é que a maior parte das coisas que surgem como novidades me parecem extremamente sem graça e apelativas. Ainda assim, de vez em quando eu encontro uma coisa nova que me chama a atenção, e repidamente entra para a minha galeria de favoritos. O tema do post de hoje é uma novidade dessas; um jogo de videogame que, quando foi lançado, era diferente de todos os demais, e por incrível que pareça, jamais foi exatamente copiado (embora tenham surgido muitos parecidos, ainda não apareceu um igual). Um jogo chamado...

...bom, aí temos um problema. Como acontece com muitos jogos de videogame, este aqui também tem dois nomes, um com o qual foi lançado no Japão, outro pelo qual ficou conhecido no resto do mundo. Ao ser lançado em janeiro de 1998 para Playstation pela softhouse Enix (hoje parte da Square, de Final Fantasy), o jogo recebeu o nome de Bust a Move: Dance and Rhythm and Action. O problema é que, fora do Japão, já existia um jogo chamado Bust a Move, um jogo de puzzle bem parecido com o hoje famoso Frozen Bubble, mas que utilizava os personagens de Bubble Bobble (e que, por incrível que pareça, tinha sido lançado no Japão com o nome de Puzzle Bobble, que, pra mim, faz muito mais sentido). Sem poder lançar um segundo Bust a Move, a 989 Studios, responsável por lançar o jogo nos EUA, mudou seu nome para Bust a Groove. Eu, pessoalmente, prefiro Bust a Move, não somente por eu ter jogado muito mais o original japonês, mas também por eu achar que soa melhor. Então, para efeitos deste post, o jogo do qual falaremos se chama Bust a Move!

Certo, mas do que se trata? Simples: Bust a Move foi o primeiro jogo de dança lançado. Diferentemente de jogos de dança para arcade, onde o jogador tem que pisar em botões conforme eles aparecem na tela (efetivamente "dançando"), Bust a Move apresenta uma certa seqüência de botões na tela, que o jogador deve pressionar em um tempo pré-determinado. Pressionando corretamente, o personagem que está na tela dança, e o jogador ganha pontos. Pressionados de forma errada, o personagem fica parado ou tropeça, e o jogador não ganha pontos. Para passar de fase, basta fazer mais pontos que o computador, que também controla um personagem. Este sistema de jogo era bem parecido com o de um outro jogo lançado pela softhouse NanaOn-Sha dois anos antes, PaRappa the Rapper, onde o jogador tinha de pressionar uma seqüência de botões na ordem e tempo corretos para que o personagem cantasse um rap corretamente. Por causa disso, e também pelo surgimento de jogos de dança "verdadeiros", como Dance Dance Revolution, jogos como Bust a Move, Parappa, Guitar Freaks e outros acabaram realocados para uma nova categoria, os "jogos de ritmo". Mas, já que eu estou contrariando um monte de coisas nesse post, contrariarei mais uma e continuarei afirmando que Bust a Move é um jogo da dança, por um motivo muito simples: os personagens dançam. E não me venham com o argumento de que o jogador não dança ao jogar, porque em jogos de porrada como Street Fighter o jogador também não mete a porrada em ninguém, e nem por isso eles são chamados de "jogos de violência".

Explicando melhor o sistema, funciona assim: na tela, surgirá um comando composto de setas direcionais, seguido do botão O ou X. Este comando ficará ali durante quatro "batidas" da música; o jogador deverá pressionar as setas durante este tempo, e, junto com a quarta e última batida, pressionar o botão. Se conseguir, surgirá uma nova seqüência, mais complexa, e, quanto mais perto da quarta batida o jogador tiver apertado o botão, mais pontos ganhará. Se não conseguir fazer a seqüência corretamente, ou se apertar o botão fora da hora, o comando será computado como "miss" (algo como "errou"), não valerá pontos, e levará o jogador de volta para a primeira seqüência da série. Cada série tem oito seqüências, sendo que se o jogador acertar todas as oito aparecerá na tela a palavra "freeze" ("congele"), e o personagem ficará parado em uma pose por alguns instantes, antes de começar a série seguinte. As séries também vão aumentando em dificuldade, sendo que, quanto mais difícil a seqüência, mais pontos ela vale. De vez em quando aparecem na tela duas seqüências diferentes, ocasião na qual o jogador poderá escolher fazer qualquer uma das duas, mas a de baixo normalmente é mais difícil e vale mais pontos. Durante a maior parte do tempo o jogador dança acompanhado de um personagem controlado pelo computador, mas em alguns momentos ele será submetido a um "solo", uma série de duas ou quatro seqüências onde dançará sozinho, uma boa ocasião para se recuperar se estiver atrás no placar - cada personagem, inclusive, possui um "solo secreto", quatro seqüências diferentes das que estão na tela durante um solo, mas que são aceitas mesmo assim e rendem muito mais pontos que a original. Cada personagem possui também um "ataque", com o qual pode derrubar o oponente e fazer com que ele perca duas seqüências, também muito bom para se recuperar no placar. Cada personagem pode atacar até duas vezes cada oponente. Evidentemente, o oponente também pode atacar você, e se você não quiser perder suas seqüências, deverá desviar do ataque (a má notícia é que os oponentes também podem desviar de seus ataques). O comando para atacar e desviar é simples: na hora de apertar o botão O ou X, ao invés disso você deve apertar o botão designado para atacar ou desviar - se estiver sendo atacado você deverá obrigatoriamente desviar; se tentar atacar de volta, será atingido pelo ataque do oponente e perderá as seqüências. Não é necessário fazer a seqüência de setas direcionais para atacar ou desviar, mas ainda é necessário apertar o botão na hora certa, ou o movimento será computado como "miss". Finalmente, se você se sair bem, errando poucas seqüências, poderá ganhar um Fever Time, um tempinho após o narrador declarar quem venceu o "combate" onde seu personagem se exibirá com seus melhores passos de dança, sem que você precise controlá-lo - uma boa forma de saber se você vai conseguir um Fever Time é prestar atenção no cenário: quanto melhor você dançar, mais loucuras acontecerão, como vendavais, explosões e luzes piscando.

Assim como em um jogo de porrada, em Bust a Move as fases acontecem na forma de combates. Existem dez personagens disponíveis; você escolhe um deles e enfrenta todos os dez (inclusive o próprio personagem que você escolheu), além de dois chefes. A história também se assemelha à de um jogo de porrada, sendo esquisita e meio sem pé nem cabeça: dois alienígenas, de nomes Kiki e Lala, mas conhecidos coletivamente como Capoeira, vieram à Terra para coletar outdoors e construir um ventilador gigante para seu planeta. Em sua nave, eles traziam o Groovetron, um dispositivo especial capaz de transformar qualquer ser em um exímio dançarino. Ao saber da presença dos alienígenas e de tal invento, uma companhia inescrupulosa conhecida como Secret X roubou o Groovetron, e o utilizou para construir Robo-Z, um robô dançarino de 15 metros de altura, com algum proósito desconhecido mas certamente maligno. Capoeira então corre o mundo para encontrar os melhores dançarinos, que se enfrentarão uns aos outros no torneio de dança definitivo, buscando escolher um campeão para derrotar Robo-Z e recuperar o Groovetron, com o qual poderão ficar como prêmio por ter vencido o torneio! Pois é, eu falei que era esquisito.

Como eu já disse, o joagor pode escolher entre dez personagens, cada um com um estilo de dança, um cenário e uma música diferentes (as músicas, inclusive, são a melhor coisa do jogo) e um ataque personalizado. Os personagens são Heat, um ex-piloto de Nascar que sofreu um acidente no qual quase morreu queimado, mas que acabou adquirindo o poder de controlar o fogo, e agora quer o Groovetron para voltar a ser o melhor nas pistas; Frida, uma artista plástica que quer o Groovetron para dar mais vida às suas pinturas; Strike, um presidiário que formou um grupo de dança de rua na cadeia, e quer o Groovetron para ajudá-lo a fugir de lá; Hamm, um ex-campeão de dança que ficou muito gordo devido ao seu amor por hambúrgueres - amor este tão forte que fez com que ele fosse trabalhar numa lanchonete de fast food - e agora quer o Groovetron para voltar a vencer na dança; Kelly, uma secretária obcecada por coisas relacionadas a bebês, como chocalhos e mamadeiras, e que quer o Groovetron para conseguir um namorado; Shorty, uma menininha rica filha de um diplomata e uma modelo de fama internacional, obcecada por músicas antigas e concursos de dança, e que quer o Groovetron para se tornar um ás do videogame; Hiro, um playboy narcisista obcecado pelos anos 70, e que se considera o único digno de conquistar o Groovetron; Pinky, stripper e cartomante com poderes divinatórios que deseja o Groovetron para maximizar seu dom; Gas-O, um químico obcecado por gases, que quer o Groovetron para desenvolver o gás perfeito; e Kitty-N, apresentadora de TV e cosplayer, que dança vestida de gatinha e quer o Groovetron para se tornar a maior estrela da TV do universo. Certo, as histórias individuais também não são lá essas coisas, os personagens são obcecados,e na minha opinião a maioria deles quer o Groovetron pelos motivos errados, mas acreditem em mim, o sistema de jogo e as músicas compensam.

Também como em jogos de porrada, cada personagem tem um final personalizado, e após terminar o jogo você abre uma nova opção, o Dance View, onde você pode ver todos os passos de dança de um personagem com o qual tenha terminado o jogo. Terminando o jogo sob certas condições, você ainda libera quatro personagens secretos; dois deles são Capoeira e Robo-Z, os outros são Burger Dog, o mascote da lanchonete de Hamm, que dança com os mesmos passos que ele; e Columbo, o ratinho de estimação de Shorty, que dança com os mesmos passos que ela. Se você estiver jogando com Shorty, inclusive, poderá ver Columbo em seu bolso, e se estiver dançando bem ele pulará de lá e dançará com ela de forma sincronizada.

Bust a Move foi um grande sucesso no Japão, mas não causou alarde nos Estados Unidos, principalmente por ter sido lançado lá quatro meses depois de Dance Dance Revolution, jogo da Konami para arcades de agosto de 1998, que acabou definindo o que seria um "jogo de dança". A versão americana de Bust a Move foi editada para ser considerada "apropriada para todas as idades", removendo algumas partes das músicas em inglês consideradas politicamente incorretas (como uma parte da música de Hiro, "pois eu pareço uma celebridade / quando estou fumando meu cigarro", o que poderia induzir jovens ao fumo; ou uma parte da música de Hamm em que ele menciona McDonald's e Burger King, e foi considerada quebra de patente), e editando alguns gráficos (tirando o cigarro da boca de Hiro e uma garrafa de bebida da mão de Strike, por exemplo). Além disso, na versão americana as músicas de Kelly, Shorty, Kitty-N e Capoeira são cantadas em inglês (embora a de Frida, por alguma razão, ainda seja cantada em japonês) e muitas das seqüências são mais fáceis que as originais, o que torna o Fever Time muito mais frequente.

Bust a Move ganhou uma continuação em 2000, também para Playstation, chamado Bust a Move 2: Dance Tengoku Mix (e, evidentemente, Bust a Groove 2 fora do Japão). Além dos gráficos melhorados, o jogo passou por uma pequena reformulação em seu sistema, sendo o ponto mais significativo a inclusão de um placar, onde o jogador pode acompanhar quem está ganhando o combate - no primeiro Bust a Move os pontos existiam, mas não eram exibidos; em compensação, o jogo costumava destacar mais, inclusive com zoom, o personagem que estivesse ganhando, em Bust a Move 2 isto não acontece, tendo o jogador que olhar para o placar. Outra novidade interessante é que as setas direcionais já pressionadas se apagam, o que possibilita um melhor controle da seqüência; se você pressionar muitos botões ao mesmo tempo, a seqüência fica preta - o jogo acha que você está tentando enganá-lo - e você acaba ganhando um "miss". Falando nisso, somente se você apertar botões errados a seqüência contará como "miss"; se não apertar botão algum, não ganhará pontos, mas terá uma nova chance de fazer a seqüência sem quebrar a série. Uma curiosidade é que em Bust a Move 2 é possível fazer "combos de miss", errando uma série inteira, e ganhando um pontinho por isso.

Assim como no primeiro jogo, o máximo de seqüências em uma série é oito, mas, dependendo de seu desempenho na hora de apertar o botão do final da seqüência, a série pode vir a ter menos. Quanto mais perto do momento correto você apertar o botão, maior será a sua chance de que a série tenha as oito seqüências - e é fácil saber que você apertou o botão no momento exato, pois a indicação da tela "pula" na sua direção. Os ataques, esquivas, as loucuras do cenário, o Dance View e o Fever Time também estão presentes no segundo jogo, assim como os solos. Os solos secretos, porém, não existem mais, nem as duas opções diferentes de seqüências para você escolher. Uma novidade perversa é que, se você acertar o oponente com um ataque imediatamente antes de um solo começar, ele perderá o solo inteiro, e você terá direito a dois solos seguidos. Além disso, neste jogo é possível contra-atacar, atacando imediatamente antes do ataque do oponente atingir você (como se você fosse desviar), mas, para isso, é preciso apertar o botão de ataque exatamente junto com a quarta batida, nem um milésimo de segundo atrasado ou adiantado. Outra novidade complicada é o Lucky Meter, um medidor que fica entre os placares dos dois jogadores: toda vez que um jogador consegue um combo "Cool" (seis seqüências), "Chillin'" (sete) ou "Freeze" (oito) uma das colunas do marcador aumenta um ponto (verde, rosa e azul, respectivamente); se todas chegarem a três pontos, o jogador responsável pela proeza ganhará muitos pontos a mais por cada seqüência certa. É mais difícil do que parece, pois cada vez que uma das colunas já tem três pontos e você conseguir um novo combo daquele tipo, ela voltará para um ponto. Finalmente, o jogo traz três opções de dificuldade após você escolher o personagem, Easy, Normal e Mix. Em Normal, as seqüências são exatamente como no jogo anterior, uma seqüência de setas direcionais seguidas do botão O ou X. Em Easy, além da seqüência ser composta de setas direcionais, o botão final também é uma seta direcional. E o modo Mix é o mais complicado: outros botões que não sejam setas direcionais podem aparecer durante a seqüência, e o botão final tanto pode ser um botão quanto uma seta direcional.

Assim como seu antecessor, Bust a Move 2 também traz dez personagens para você escolher. Heat, Shorty, Strike, Capoeira, Hiro, Kitty-N e Kelly estão de volta - embora agora Kelly seja uma policial e Capoeira possa ser escolhido desde o início. A eles se unem três novos dançarinos: Comet, uma garçonete de patins; Tsutomo, um estudante japonês; e Bi-O, o falecido pai de Gas-O, acidentalmente trazido de volta à vida como um zumbi. Cada personagem tem duas opções de vestimenta, uma comum e uma meio cômica, ativada se você escolher o personagem com o botão select pressionado - no primeiro Bust a Move isto também era possível, mas o máximo que acontecia era trocar a cor da roupa do personagem. A história, sinto muito, eu desconheço, mas considerando que tem o Capoeira no meio, deve ter algo a ver com o Groovetron, e levando em conta o alto nível da história do anterior, acho que não vai fazer falta.

Diferentemente do primeiro jogo, em Bust a Move 2 você só precisa enfrentar oito oponentes, sendo que o último é sempre Robo-Z Gold, uma versão dourada e voadora de Robo-Z. Também diferente do que ocorria no primeiro jogo, aparentemente você nunca enfrenta seu próprio personagem. E também de forma diferente, agora você tem a opção de três "caminhos" para seguir, exibidos antes de cada combate; qual caminho você pegará depende de seu desempenho: dançando bem, você irá progressivamente pegando o caminho mais de cima, dançando mal, você vai pegando o mais de baixo. Se conseguir chegar até o final do caminho mais de cima, após enfrentar Robo-Z Gold você terá o direito a enfrentar um chefe secreto, Pander, uma criatura esquisita com um estilo de dança mais esquisito ainda, e em um cenário totalmente esquisito onde toca uma música esquisita. Sobrevivendo a esta esquisitice toda, você vê o final do jogo. Falando em final, o versão americana, por incrível que pareça, não traz os finais individuais dos personagens, apenas os créditos, o que é o absurdo dos absurdos em um jogo onde você pode escolher vários personagens diferentes. A versão americana também tirou o cigarro de Hiro e traduziu para o inglês as músicas de Kelly, Shorty e Kitty-N.

Bust a Move 2 também tem personagens secretos - oito no total. Três deles são Robo-Z Gold, Pander e Columbo; os demais são McLoad, um dinossauro que dança com os mesmos passos de Kelly; Sushi Boy, um robozinho feio que dança com os passos de Comet; Hustle Kong, um gorila com luvas de boxe que dança igual a Hiro; Chichi & Sally, dois bichinhos alienígenas linguarudos que dançam igual a capoeira; e Michael Doi, um estereótipo de homossexual que dança igual a Kitty-N. Todos eles são liberáveis ao se terminar o jogo cumprindo certos requisitos, e alguns até podem ser enfrentados nas fases 4 ou 5 dependendo de seu desempenho.

Enfim, Bust a Move é um jogo divertidíssimo, com personagens carismáticos e excelentes músicas de variados estilos. Infelizmente, com a popularidade de Dance Dance Revolution e assemelhados, foi esquecido, e acabou nem sendo copiado. Um jogo semelhante chegou a ser lançado para Playstation 2 em 2001, também pela Enix, chamado Dance Summit 2001; este jogo, porém, não trazia nenhum dos personagens de Bust a Move, e tinha um sistema um pouco diferente, mais parecido com o de PaRappa, onde cada botão tinha de ser pressionado em um tempo específico. Bust a Move mesmo, não mais. Mas ele sempre terá um lugar garantido no coração dos fãs.

Um comentário:

  1. Muito bom á sua materia !
    Bust a move sempre será uns dos melhores jogos de dança que fizeram,pena que a Squarenix, só pensa em remake de RPG agora...

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