Assim como todos os títulos do Mundo das Trevas original, Changeling também já foi cancelado. Na verdade, ele foi cancelado um ano antes do "final oficial" da série, sem nem ter direito a uma edição revisada, como seus três primos mais famosos tiveram. Isto porque o jogo tinha três problemas que o afastavam dos fãs tradicionais do Mundo das Trevas: era considerado muito complicado, muito infantil e "muito colorido" se comparado aos demais. Jogadores menos radicais não se incomodaram com estas três "desvantagens", e Changeling até ganhou uma numerosa legião de fãs, mas não teve jeito: vendeu pouco e acabou assim mesmo. Changeling será atualizado para o novo Mundo das Trevas, como já aconteceu com Vampire, Werewolf e Mage, no ano que vem, mas ninguém sabe ainda como ele ficará se alguém decidir "resolver" esses três problemas.
Certo, mas do que se trata o livro? Todo mundo sabe o que é um vampiro, um lobisomem e um mago, mas o que pipocas é um changeling? Bem, no folclore europeu, principalmente no escandinavo, um changeling é um bebê de uma criatura fantástica, como um troll ou elfo, que foi trocado de lugar com um bebê humano. Os motivos que levariam o troll, elfo ou coisa que o valha a fazer isso são obscuros, mas provavelmente seria porque ele quer um escravo humano. Acredita-se que as lendas sobre changelings surgiram para explicar porque algumas mulheres, mesmo sendo "saudáveis", tinham filhos com deformidades físicas ou doenças como a Síndrome de Down. Como ainda não haviam explicações científicas, era perfeitamente plausível que um troll tivesse passado por ali, deixado o filho dele e levado o meu.
No cenário de Changeling, os jogadores fazem o papel justamente de changelings. Mas, assim como os lobisomens de Werewolf são diferentes daqueles das lendas de antigamente, estes são changelings diferentes, pessoas comuns com alma de trolls, sátiros ou outros seres aqui coletivamente conhecidos como fadas. As fadas são criaturas feitas de magia, e tiram sua vitalidade de uma força conhecida como Glamour, algo como a inocência dos seres humanos. As fadas não são originárias da Terra, mas de uma "outra dimensão" conhecida como Sonhar (o tal Dreaming do título), onde o Glamour abunda e seus poderes são mais fortes. Antigamente, quando a humanidade era pura de coração, existiam muitas áreas selvagens, e a magia era presente, as fadas transitavam livremente entre a Terra e o Sonhar, mas a partir da Renascença, quando tudo começou a ter uma explicação científica, surgiu em nosso mundo uma poderosa força, a Banalidade, oposta ao Glamour, e capaz até de matar as fadas. Conforme o nível de banalidade foi crescendo, mais e mais fadas passaram a abandonar a Terra, morando definitivamente no Sonhar. Mas nem todas puderam fazer a viagem, e é aí que entram os personagens jogadores.
Resumindo de forma simplista, as fadas "nobres" fugiram para o Sonhar, enquanto a "plebe" não conseguiu, ou não teve como. Para não serem extintas, as fadas que ficaram para trás arranjaram um jeito para que seus descendentes sobrevivessem em meio à Banalidade: de vez em quando, um humano nasce com alma de fada. Em sua infância, ele será um humano normal, mas, pouco antes da adolescência, passará por uma transformação conhecida como Crisálida, e a partir daí passará a existir simultaneamente na Terra e no Sonhar, se tornando um changeling. Basicamente, isto significa que humanos continuarão a vê-lo como humano, mas criaturas sobrenaturais o verão como fada. Essa dualidade é um dos pontos mais criticados do jogo. Afinal, quando um lobisomem se transforma, ele existe no mundo normal como lobisomem. Um changeling, por outro lado, só existe como changeling para outras fadas, e é difícil para alguém que está conhecendo o jogo encontrar alguma vantagem nisso. Outro ponto criticado é a ausência de um "vilão": enquanto lobisomens combatem a Wyrm, e magos têm de fugir da Tecnocracia, o principal inimigo das fadas é uma força invisível que aumenta de poder conforme as pessoas perdem a inocência - algo não muito fácil de ser combatido.
Mas uma coisa legal do jogo é que ele oferece diversas opções de fadas para o jogador interpretar. Assim como os lobisomens estão divididos em tribos e os magos em tradições, as fadas de changeling são divididas em kiths, sendo cada kith um tipo de fada de alguma mitologia. O livro básico traz nove kiths diferentes: os Boggans, semelhantes aos gnomos, fadas do lar ligadas ao trabalho e companheirismo; os Eshu, viajantes e contadores de histórias da mitologia iorubá; os Nockers, semelhantes aos kobolds do folclore alemão, especialistas em construir máquinas fantásticas e dados a sair consertando tudo o que vêem quebrado pela frente; os brincalhões Pooka, criaturas com traços animais originárias do folclore celta, que adoram mentir e pregar peças, embora não façam isso por maldade; os violentos Redcaps, baseados nos hobgoblins, e que parecem estar sempre de mau humor; os Sátiros da mitologia grega, que se apaixonam facilmente e adoram cantar, dançar e beber; os nobres Sidhe, do folclore irlandês, lindíssimos e de aura nobre, que lembram os elfos dos jogos de fantasia medieval; os reclusos, esquálidos e sussurrantes Sluagh, baseados nas lendas do bicho-papão; e os Trolls da mitologia nórdica, com sua grande força, igualmente grande lealdade e maior ainda teimosia. Cada fada tem poderes, vantagens e desvantagens diferentes, que afetam inclusive a interpretação do jogador, e este é o principal argumento dos fãs: você não precisa se parecer com uma fada para agir como uma, portanto, não interessa se, no jogo, outros humanos o verão como humano; por dentro, você é fada e pronto.
Changelings podem viajar livremente entre a Terra e o Sonhar - onde aparecem para todos em sua "forma de fada" - mas isso não quer dizer que lá eles estejam seguros. Por terem nascido como humanos, eles são naturalmente carregados de Banalidade, o que faz com que se tornem párias na sociedade das fadas "puras". Além disso, por serem forasteiros, não estão acostumados com os perigos de lá, como quimeras monstruosas, feitas de puro Glamour, e caminhos que mudam constantemente, sem estarem presos às leis da realidade, e que podem fazer com que um changeling fique perdido para sempre. Do lado de cá, as coisas não são mais fáceis: uma vez que passe pela Crisálida, um changeling não se sente mais humano, e só encontra conforto quando junto aos seus iguais. Além do mais, a Banalidade cresce a cada dia, e certas pessoas, como o Povo do Outono (tradução da minha cabeça, Autumn People no original), possuem um nível de Banalidade tão alta que sua simples presença é um perigo a qualquer changeling. O mote do jogo está justamente nesta dualidade, em viver em dois mundos sem pertencer a nenhum.
Assim como os demais títulos do Mundo das Trevas, antes de ser cancelado Changeling ganhou um caminhão de livros complementares. Para os que não estavam satisfeitos com apenas nove tipos de fadas, praticamente cada um deles traz fadas novas, totalizando quase 60 fadas diferentes à disposição dos jogadores - desde que o Mestre autorize seu uso, evidentemente. Um dos meus preferidos é o livro The Shadow Court ("a corte das sombras"), que, além de dicas para jogar com personagens, digamos, menos certinhos, ainda traz as fadas da pá virada, permitindo que se jogue com Beasties, Boggarts, Bogies, Goblins e Ogros, os "primos maus" dos Pooka, Boggans, Sluagh, Nockers e Trolls, respectivamente. O Player's Handbook ("livro do jogador") vai ainda mais longe e traz os Nunnehi, treze novos tipos de fada inspirados na mitologia indígena norte-americana; em Shadows on the Hill ("sombras na colina") você encontra os seis Menehune, do folclore do Havaí; e Denizens of the Dreaming ("cidadãos do Sonhar") traz os Adhene, sete tipos de fadas do folclore da Ilha de Man. Quem quiser jogar no estilo oriental pode encontrar os Shinma, o mais perto que se pode chegar de fadas do oriente, no livro Land of the Eight Million Dreams ("terra dos oito milhões de sonhos"), que traz os cinco Kamuii, ligados aos cinco elementos (fogo, terra, água, madeira e metal) e os cinco Hirayanu, ligados aos animais. Alguns livros trazem um único kith novo, como os Clurichauns em Court of All Kings ("corte de todos os reis"), um livro que fala sobre a Irlanda; os meio-focas Selkies em The Toybox ("a caixa de brinquedos"), ambientado na cidade de São Francisco; e as dríades Ghille Dhu em Isle of the Mighty ("ilha dos poderosos"), que fala da Grã-Bretanha. Sereias e seus primos maus Murduachas estão em Blood Dimmed Tides ("marés manchadas de sangue"); os nômades e cleptomaníacos Piskies e seus primos maus Spriggans em Fool's Luck ("sorte dos tolos"); os Oba, baseados nos gênios, e seus primos maus Aithu no livro dedicado aos Eshu; e temos até uma Bruxa do Lago no livro dedicado aos Redcaps. E não vamos nos esquecer dos Inanimae, sete fadas do livro de mesmo nome, cujas almas estão ligadas a seres inanimados como árvores e pedras, ao invés de a humanos.
Enfim, Changeling era colorido não só em suas páginas, mas por toda esta variedade, e rotulá-lo de infantil só porque tem fadas foi uma grande injustiça. Mas de qualquer forma o Mundo das Trevas foi todo cancelado mesmo, e eu não estou indo muito com a cara do novo, de forma que é melhor guardar o antigo na memória. E na estante para jogar se surgir uma oportunidade.
Parabens!!! Eu amo os changelings, sou viciada em Sl, onde minha raça é changeling... por todos os blogs que passei, esse foi o que mais me chamou a atenção.....
ResponderExcluirdeixo aki meus 2 blogs para voce passar e dar uma opinião, porem o blog que criei unica e exclusivamente para os changelings é fresquinho, fiz ontem e ainda sei pouco sobre a raça, quero saber mais... se possivel estou no orkut tambem.... Seu amor e empenho por RPG é admiravel!!!
ops esqueci os blogs ne? rsrsrr
ResponderExcluirago ra sim:
http://agapeincondicional.blogspot.com/
http://changellings.blogspot.com/
aguardo sua gentil visitinha.