Não me lembro quantos anos eu tinha quando assisti Alien pela primeira vez, mas foi depois de ter assistido Predador. Por alguma razão, meus pais acharam que eu era muito criança para ver um filme de terror com um alienígena babento, mas não para um filme do Schwarzenegger com um alienígena sanguinário. Nojo por nojo, as mortes de Predador são bem mais nojentas, mas deixa isso pra lá. O que importa é que eu me tornei fã do alien e do Schwarzenegger, mas ao Predador eu nunca dei muita atenção. Principalmente porque ele só teve mais uma continuação, e ela foi tão ruim quanto Alien 3 e 4. Ou não, já que é difícil alguma coisa ser tão ruim quanto Alien 4.
Pois bem, digressões à parte, temos um filme de horror/ficção científica com um alienígena praticamente invencível, e um filme de ação/ficção científica com outro alienígena praticamente invencível. Já dá até para imaginar os nerds da época discutindo coisas como "em uma batalha entre um alien e um predador, quem será que venceria". Algum desses nerds deve ter chegado a um posto importante dentro da indústria de quadrinhos e, voilà, decidiu realizar seu sonho contando para o mundo inteiro como seria esta batalha.
A primeira vez que aliens e predadores se pegaram na porrada foi em uma minissérie em quadrinhos em cinco partes, publicada pela editora Dark Horse em 1989, dez anos após o lançamento do primeiro Alien, dois anos após o lançamento do primeiro Predador. O autor Chris Warner é tido como um dos pais da idéia, sugerindo-a durante uma reunião entre os demais autores, quando se discutia quais novos títulos poderiam ser lançados naquele ano. Como o copyright tanto do alien quanto do predador pertenciam à Fox, não deve ter sido tão difícil para a Dark Horse adquirir uma licença, tanto que ela a tem até hoje, e costuma usar os bichos inclusive em crossovers com heróis de outras editoras - Batman, por exemplo, já enfrentou ambos.
A história desta primeira minissérie se passava no planeta Ryushi, colonizado por humanos que desconheciam que predadores costumavam caçar ali. Um dia, os predadores retornam com uma nova caça, uma rainha alien, com a qual eles pretendem espalhar ovos pelo planeta e criar aliens para que os predadores que estão em seu rito de passagem possam caçá-los. Mas os predadores também desconhecem que os humanos colonizaram o planeta e, quando aportam para caçar, decidem matá-los também. A rainha alien, porém, consegue burlar seus guardas, e infectar um cargueiro que está deixando o planeta com uma larva que criará uma nova rainha. Quando descobrem isso, os predadores decidem se aliar aos humanos, para que as duas forças juntas consigam deter o cargueiro e exterminar todos os aliens, antes que eles se espalhem pelo universo. No final, apenas uma mulher humana sobrevive, e os predadores a aceitam como um dos seus por seu valor em combate.
A minissérie foi um grande sucesso de vendas, e acabou dando origem a um jogo de arcades, lançado pela Capcom em 1994, para sua placa CPS-2. Nele, a Califórnia está infestada de aliens, graças a um experimento mal-sucedido de uma corporação militar que os trouxe para cá, e dois predadores, que vieram passar um tempinho caçando, decidem se unir a dois soldados humanos para derrotar os bichos. Os quatro personagens que você pode escolher são o Major Dutch Schaefer (inspirado no personagem de Schwarzenegger no filme Predador), a Tenente Linn Kurosawa (inspirada na mulher que sobrevive nos quadrinhos), um predador caçador e um predador guerreiro. Ao longo de 7 fases, os quatro enfrentarão aliens das mais diferentes formas e tamanhos (afinal, um jogo onde todos os inimigos de fase fossem iguais seria meio sem graça), mais um predador infectado e até mesmo uma rainha alien. O jogo tem bons gráficos e segue a linha dos jogos de ação para arcade da época, onde mais e mais inimigos vão aparecendo na tela, e seu objetivo é massacrar a todos para poder continuar avançando.
O que poderia ter acabado por aí ganhou força com a decisão da Dark Horse de continuar investindo nos quadrinhos. Ao invés de publicar uma série regular, porém, a editora decidiu publicar várias minisséries, com intervalos entre elas. Até hoje, as minisséries publicadas foram: Aliens vs. Predator (5 partes, 1989/1990), Aliens/Predator: Deadliest of the Species (12 partes, 1993/94/95), Aliens/Predator: Duel (2 partes, 1995), Aliens/Predator: War (5 partes, 1995), Aliens vs. Predator: Booty (volume único, 1996), Dark Horses Classics: Aliens vs. Predator (6 partes, 1997), Aliens vs. Predator: Eternal (4 partes, 1998), Aliens vs. Predator Annual (volume único, 1999), Dark Horse Presents: AvP (volume único, 1999), Aliens vs. Predator: Xenogenesis (4 partes, 2000), Aliens/Predator: Mindhunter (3 partes, 2001), Aliens vs. Predator: Thrill of the Hunt (volume único, baseado no filme, 2004) e Aliens vs. Predator: Civilized Beasts (volume único, 2006).
Os jogos de videogame também seguiram a todo vapor, migrando para os consoles. No mesmo ano de 1994 em que foi lançada a versão arcade, saíram versões para Game Boy e Super Nintendo, produzidas pela Activision, no mesmo estilo do arcade, mas com história, fases e personagens diferentes, e afetados pelas limitações gráficas dos consoles em questão. Ainda em 1994 foi lançada uma versão para o Jaguar, o videogame de 32 bits da Atari. Diferentemente dos demais, este era um jogo de tiro em primeira pessoa, estilo Doom, produzido pela Midway (de Mortal Kombat), e onde o jogador podia escolher jogar como um alien, um predador ou um fuzileiro naval humano. O jogo não era lá essas coisas, mas acabou sendo considerado um dos melhores jogos do Jaguar, e dando a idéia para a versão PC, lançada em 1999 pela Sierra. Com gráficos de última geração, o jogo permitia mais uma vez que se escolhesse jogar como alien, predador ou humano, proporcionando experiências jamais vistas em jogos de tiro em primeira pessoa (o predador pode ficar invisível e ver em infravermelho, e o alien pode subir pelas paredes e ferir os oponentes com seu sangue ácido quando leva tiros, por exemplo). A versão PC de AvP acabou se tornando um grande sucesso, foi adaptada para MAC, e ganhou uma continuação ainda melhor em 2001, produzido pela Monolith, no mesmo estilo do anterior, mas onde cada um dos três personagens tinha um enredo próprio. Avp2 ainda ganhou um pacote de expansão (com mais fases) chamado Primal Hunt em 2002, e uma versão Gold, com ainda mais novidades, em 2003, para PC e MAC. No mesmo ano de 2003, a Electronic Arts lançou Aliens vs. Predator: Extinction, um jogo de estratégia (tipo Diablo) para Playstation2 e Xbox, e a Ubisoft lançou um no estilo ação, até parecido com o original dos arcades, para Game Boy Advance.
Além dos quadrinhos e jogos de videogame, a franquia AvP também ganhou um card game, produzido pela HarperPrism, e lançado em 1997. Neste jogo, você poderia escolher entre "interpretar" humanos, predadores ou aliens, sendo que cada raça tinha seu próprio deck para começar a jogar, e os boosters de expansão traziam cartas de todas as três. A expansão básica tinha 370 cartas, divididas em personagens, equipamentos, coadjuvantes, locais e eventos. Basicamente, cada jogador tinha um objetivo, e o primeiro a cumpri-lo ganharia o jogo, podendo atrapalhar os demais para que eles não conseguissem. O card game de AvP teve apenas uma expansão, Alien Resurrection, de 1998, que trouxe mais 112 cartas, baseadas nos filmes da série Alien. Uma nova expansão chamada Atmosphere, com 115 cartas baseadas nos filmes da série Predador, seria lançada em 1999, mas o jogo foi cancelado antes disso. Ainda assim, como muitas cartas foram impressas antes do cancelamento, algumas podem ser encontradas por quem quiser pagar uma fortuna em sites como o ebay.
Pois bem, quadrinhos, games, cards, só faltava mesmo um filme, que foi onde os dois personagens tiveram suas origens. E ele veio em 2004, dirigido por Paul W. S. Anderson (de Mortal Kombat e Resident Evil). No filme, uma estranha pirâmide é descoberta na Antártida pelas indústrias Weyland (que provavelmente se tornarão a corporação Weyland-Yutani da série Alien), e uma equipe de especialistas é enviada até lá para documentar esta importante descoberta arqueológica. A pirâmide, porém, é uma espécie de arena onde predadores em rito de passagem enfrentam aliens criados por uma rainha cativa, usando humanos que são atraídos até lá como hospedeiros. Evidentemente, a tal equipe de especialistas é quem terá esta função desta vez. Os pobres humanos, portanto, tem de escapar de se tornar hospedeiros de aliens e caça de predadores, enquanto as duas raças alienígenas se matam. Não é um roteiro digno de Oscar, mas é uma ótima diversão sem compromisso.
Finalmente, existe uma versão de AvP que não é oficial, mas que não pode deixar de ser citada: a webcomic Alien Loves Predator, onde um alien de nome Abe e um predador de nome Preston dividem um apartamento na cidade de Nova Iorque. Eles não se comportam como alienígenas assassinos, mas sim como novaiorquinos típicos, em uma verdadeira sitcom. Aliás, parece que ninguém repara que ambos não são humanos. ALP é feito com fotos de bonequinhos sobrepostas em paisagens reais da cidade. O resultado, assim como os diálogos dos personagens, é engraçadíssimo.
E assim chegamos ao final com uma conclusão: algumas idéias são tão esquisitas que acabam dando certo. AvP é uma delas. E ainda conta com uma curiosidade: nem "alien" nem "predador" são os nomes dos personagens, nem de suas raças, apenas adjetivos que os criadores dos filmes originais decidiram ligar a eles. Mas a essa altura ninguém mais se importa.
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