A carreira de He-Man começou há exatos 25 anos, em 1981, quando a fabricante de brinquedos Mattel decidiu lançar uma linha de brinquedos do Conan, para aproveitar o sucesso do filme estrelado por Arnold Schwarzenegger. Após uma pesquisa de mercado, porém, a fábrica chegou à conclusão de que Conan estava muito associado a sexo e violência, principalmente devido à revista em quadrinhos A Espada Selvagem de Conan, uma referência muito mais forte ao bárbaro que o filme do cinema. Como a maioria dos brinquedos já estava em pré-produção, a Mattel optou por apenas mudar umas coisinhas aqui e ali, e transformou a série em uma nova, com personagens totalmente inéditos, à qual deu o nome de He-Man e os Mestres do Universo. Curiosamente, o nome "Mestres do Universo" se referia aos vilões, mas como isso nunca foi explicado em lugar nenhum, os fãs assumiram que os tais Mestres do Universo eram os aliados de He-Man, e acabou que o nome ficou para os heróis mesmo. Também curiosamente, devido a esta origem meio conturbada, He-Man não tem um criador oficial. O designer Roger Sweet, responsável pela linha de brinquedos durante toda sua produção, alega ter sido ele o inventor dos personagens, mas a Mattel, detentora dos direitos, não o reconhece ou credita como tal. O próprio nome He-Man (algo como "Ele-Homem") não tem uma origem muito clara, embora o boato mais famoso seja de que o herói se chamaria He-Ro ("He-Rói"), e foi mudado para He-Man de última hora para combinar com outros super-heróis como Superman e Batman.
Pois bem, lançar uma linha de brinquedos totalmente nova era um pouco arriscado, já que as crianças não saberiam do que se tratava, e poderiam não ter interesse em comprar. Para diminuir este risco, a Mattel firmou um contrato com a DC Comics, que produziu revistas em quadrinhos de He-Man, que acompanhariam os personagens da linha. Nestes quadrinhos, a história de He-Man era um pouco diferente daquela do desenho: o mundo de Etérnia - que então não era um planeta, mas apenas um "mundo", como a Terra-Média de Tolkien ou a Era Hiboriana de Conan - havia acabado de passar por uma grande guerra, que devastara todas as suas civilizações. Aproveitando o caos e o processo de reconstrução, um demônio de outra dimensão, chamado Esqueleto, invadiu Etérnia, e planeja reunir as duas metades da Espada do Poder, o que o permitiria entrar no Castelo de Grayskull, a maior fonte de poder e sabedoria de Etérnia, e dominar todo o mundo. Para impedir Esqueleto, a Feiticeira, guardiã do Castelo de Grayskull, pede a ajuda de He-Man, um bárbaro errante, e em troca lhe confere armas mágicas e força sobre-humana. A missão de He-Man, então, passa a ser a de impedir Esqueleto de obter a tal Espada do Poder a qualquer custo.
A série de brinquedos vendeu bem, e foi garantida uma segunda série em 1982. Os quadrinhos desta segunda série revelaram que Etérnia era na verdade um reino, governado pelo Rei Randor e pela Rainha Marlena. Na terceira série de brinquedos, em 1983, ficou determinado que He-Man possuía uma identidade secreta, a de Príncipe Adam, filho dos governantes de Etérnia.
Com o sucesso dos brinquedos, a DC Comics decidiu produzir uma série regular em quadrinhos, a partir de 1982. O sucesso dos quadrinhos, por conseguinte, levou à produção de uma série animada, pelos estúdios Filmation, que durou duas temporadas e teve 130 episódios. O desenho de He-Man foi um grande sucesso, apesar de contar com sérias restrições orçamentárias: apenas cinco dubladores faziam as vozes de todos os personagens (Linda Gary, por exemplo, fazia a voz de todas as personagens femininas), e a animação era considerada pobre e precária em comparação com outros desenhos da época. Ainda assim, He-Man foi um divisor de águas ao enfrentar as Associações de Pais da época e colocar como personagem principal um bárbaro seminu que resolve seus problemas na base da porrada (embora, para não criar ainda mais problemas, He-Man nunca mate ninguém com sua espada), e também por ter sido a primeira série animada a ter uma linha de brinquedos à venda simultaneamente. Este último fato gerou muitos protestos no Reino Unido, onde uma lei proibiu a veiculação de comerciais dos brinquedos de He-Man durante o desenho, para que as crianças não fossem "influenciadas". Para contrabalançar o uso de violência e o consumismo causado pelos brinquedos, a Filmation decidiu, ao final de cada episódio, colocar um pequeno segmento tipo "moral da história", onde os heróis mostravam às crianças o que era certo ou errado, e quais as conseqüências dos atos de quem fazia o mal.
A história do desenho é diferente da dos quadrinhos originais, mas bastante parecida com a dos quadrinhos da DC. Nele, um misterioso feiticeiro de nome Esqueleto reúne um bando de vilões e decide que irá invadir o Castelo de Grayskull, o que lhe dará poder infinito e possibilitará que ele domine Etérnia. O Castelo é protegido pela Feiticeira, um ser místico de poder infinito, mas que só pode utilizá-lo dentro dos muros do castelo, e só consegue sair dele se estiver transformada em falcão. Para impedir que o Esqueleto consiga dominar o mundo, a Feiticeira confere poderes mágicos ao Príncipe Adam, filho dos governantes de Etérnia, ativados por sua Espada do Poder: ao erguê-la e dizer as palavras mágicas ("Pelos poderes de Grayskull!"), ele se transforma em He-Man, o homem mais forte do Universo. A identidade de He-Man é secreta e, além da Feiticeira, apenas três outros personagens a conhecem: o Mentor, comandante do exército de Etérnia, inventor e consertador de aparelhos de alta tecnologia, e treinador de combate de Adam (curiosidade: o brinquedo de Mentor não tem bigode, ele ganhou um bigode no desenho para parecer mais velho); Gorpo, um poderoso feiticeiro do mundo de Trolla, cujos poderes não funcionam muito bem em Etérnia, e acabou sendo adotado como bobo-da-corte; e Pacato, uma espécie de tigre falante e medroso, que atua como companheiro e animal de estimação de Adam, e que o Poder de Grayskull transforma no Gato Guerreiro, valoroso companheiro e montaria de He-Man.
Sendo o homem mais poderoso do Universo, He-man possui uma força incomparável, capaz até de levantar o próprio Castelo de Grayskull (sim, ele fez isso em um episódio). Ele pode causar terremotos socando o chão, vendavais com seu sopro, nunca se cansa, e dificilmente se deixa abater por coisas simples como descargas elétrica, raios mágicos, lava ou sopro de dragão. Aliás, sua Espada do Poder pode defletir qualquer coisa que esteja vindo em sua direção - até sopro de dragão. He-Man é muito ágil, pode pular incrivelmente longe, correr incrivelmente rápido, e girar sua espada tão rapidamente que cria ciclones com ela. Apesar de tanto poder, He-Man prefere derrotar seus oponentes através da inteligência ou usando suas próprias maldades contra eles, ao invés de espancando-os até a morte. He-Man tem um bom coração, e sempre ajudará aos que precisam, mesmo que isso cause a fuga dos vilões.
Sendo um desenho inspirado em uma linha de brinquedos, He-Man tem muitos aliados e uma quantidade ainda maior de inimigos. Entre seus aliados se destacam Teela, filha de Mentor, e a melhor guerreira do exército de Etérnia (e, na verdade, filha também da Feiticeira, embora somente Mentor saiba disso); Aríete, uma espécie de anão com uma armadura especial que transforma suas pernas em molas e sua cabeça em um poderoso aríete (e que, curiosamente, nos quadrinhos originais era um vilão, embora no desenho seja o herói mais atuante depois de He-Man, Mentor e Teela); Multifaces, um ciborgue que pode mudar sua face para a de um robô, se tornando mais inteligente porém mais fraco, ou para um monstro, se tornando mais forte e mais estúpido; Stratos, da raça do reino de Avion, capaz de voar e lançar raios pelas mãos; Abelhão, um homem-abelha da raça dos Andrenides; Mekanek, que tem um pescoço robótico que pode se esticar a qualquer distância, e atua como uma espécie de batedor; o Homem-Musgo, capaz de controlar plantas telepaticamente; Fisto, que possui um enorme punho de ferro, e só não é mais forte que He-Man; Roboto, um robô guerreiro; Ciclone, que pode gerar tufões girando sua cintura ou braços; e Zodak, uma espécie de policial espacial que toma conta do quadrante de Etérnia (que também era vilão nos quadrinhos originais, mas mudou de lado no desenho).
O principal oponente de He-Man é o Esqueleto, um feiticeiro aparentemente invulnerável, e capaz de fazer vários efeitos mágicos com seu cetro. O poder de Esqueleto, porém, não era tão vasto quanto o da Feiticeira, e para suprir suas deficiências ele recrutou um bando de vilões. Os mais notáveis eram a feiticeira Maligna, com toda uma gama de feitiçarias muito úteis aos propósitos do mal, e também a mais inteligente dos vilões; o Homem-Fera, capaz de controlar qualquer animal selvagem; Triclope, que tinha três olhos, cada um com um tipo de visão, e era especialista em alta tecnologia (e que, em contrapartida, nos quadrinhos originais era um dos heróis, mas foi feito vilão no desenho porque os produtores o achavam muito parecido com He-Man); Mandíbula, um ciborgue especialista em armas, com um braço mecânico que podia substituir por diferentes tipos de armamentos, e uma boca mecânica capaz de mastigar qualquer coisa; Aquático, um ser submarino capaz de respirar sob a água e controlar a vida marinha; Lagartauro, uma criatura reptiliana de cauda superforte; Multi-Garras, uma espécie de homem-caranguejo; Kobra Khan, um homem-cobra capaz de cuspir gás sonífero; Mal-em-Dobro, um vilão de duas cabeças que nem sempre concordam entre si; Spikor, cujo corpo é coberto de espinhos; Webstor, que tem poderes de aranha, como escalar paredes e lançar teias; e Lança-Língua, um homem-lagarto que usa sua língua como chicote; além de outros menos cotados, como o homem-morcego Batros, o homem de gelo Gelão, o homem-dragão Garras Aduncas (?) e o superforte Violento. Esqueleto ainda tinha seu próprio tigre de estimação, Panthor. A base dos vilões era a Montanha da Serpente, uma antiga construção no Hemisfério Negro de Etérnia.
Muita coisa do desenho de He-Man era claramente inspirada em Conan, como a própria Montanha da Serpente. Um fato curioso é que Etérnia aparentemente é um mundo de tecnologia avançada, mas ainda assim a magia é muito presente, e grande parte do mundo permanece inexplorada. No desenho, Etérnia é claramente um outro planeta, e provavelmente as histórias se passam em nosso futuro, já que a Rainha Marlena veio da Terra em uma nave espacial que caiu lá por acidente. Outra curiosidade é que o desenho não se preocupa muito com questões importantes como por que a Feiticeira escolheu Adam para ser He-Man, de onde veio o Esqueleto, ou o que tem dentro do Castelo de Grayskull. Mas talvez a maior curiosidade do desenho seja que dentre seus roteiristas estavam J. Michael Straczynski, que viria a ser criador de Babylon 5; e Paul Dini, que se tornaria produtor do desenho do Batman da década de 90.
O desenho de He-Man foi cancelado em 1985, mas os quadrinhos continuaram a ser publicados até 1987. Muitos fatos novos foram revelados nestes novos quadrinhos, como o fato de Esqueleto ter tido um mestre, Hordak, que foi derrotado e banido de Etérnia; a Montanha da Serpente ter sido construída sobre um antigo local de culto do Povo-Serpente, uma raça que tentou dominar Etérnia há muitos anos; e até mesmo a possibilidade do Esqueleto vir a ser Keldor, o irmão mais novo do Rei Randor, desaparecido em combate. A maior parte dos segredos de Etérnia seria revelada na minissérie em três partes The Power of Grayskull, onde He-Man foi transportado para antes da Guerra que devastou o planeta. Infelizmente, só a primeira parte desta minissérie foi lançada antes do cancelamento, então continuou tudo na mesma. A última série de brinquedos de He-Man foi lançada em 1988, quando o herói entrou em um longo hiato.
Por enquanto eu vou pular este hiato e ir direto a 2002, quando o Cartoon Network decidiu fazer uma nova série de He-Man. Diferentemente das demais "atualizações" de desenhos dos anos 80 (como os das Tartarugas Ninja ou o dos Transformers), este eu até achei muito bom. Os produtores quiseram fazer o desenho o "mais oficial" possível, então, apesar de mudar bastante coisa, mantiveram-no extremamente fiel aos quadrinhos e ao desenho original, aproveitando para preencher alguns buracos. Nesta nova série, o Esqueleto é Keldor, um feiticeiro renegado (que não é irmão de Randor), que se transforma em Esqueleto após sofrer um acidente; o Príncipe Adam e Teela são adolescentes e rivais; Adam não é simplesmente um He-Man menos moreno, o que torna menos provável que alguém descubra sua identidade, e foi escolhido para ser He-Man por uma profecia dos Anciãos, antigos governantes de Etérnia; Pacato não fala; Aríete não é um anão, mas um homem grande e gordo; Kobra Khan não é aliado de Esqueleto, mas sim um espião do Povo-Serpente, e cospe ácido ao invés de sonífero; e os poderes de Gorpo pararam de funcionar satisfatoriamente porque ele perdeu sua varinha. E dentro do Castelo de Grayskull está armazenada a energia dos Anciãos, e é por isso que Esqueleto quer invadi-lo, já que esta energia elevaria seu poder a um nível inimaginável.
O desenho de 2002 tem uma continuidade bem amarrada, e a maioria dos heróis vai se unindo a He-Man após ele ajudá-los com algum problema pessoal. Além disso, muitos episódios contam fatos do passado de Etérnia, como a derrota de Hordak e a criação do Hemisfério Negro. O desenho teve duas temporadas, a primeira com 26 episódios e a segunda com 13, sendo que na segunda os vilões principais eram o Povo-Serpente. O desenho parou de ser produzido em 2003, e não há previsão de que retorne. Acompanhando o desenho, duas novas séries de brinquedos da Mattel foram lançadas, uma em 2002 e uma em 2003. Um fato curioso é que, por razões de marketing envolvendo os brinquedos, a versão brasileira do desenho manteve os nomes de todos os personagens, exceto da Feiticeira, em inglês. A Image Comics também lançou uma nova série em quadrinhos inspirada no novo desenho, cancelada em 2004.
He-Man também teve dois spin-offs. O primeiro, de 1985, foi o desenho da She-Ra. She-Ra, na verdade, era a Princesa Adora, irmã gêmea do Príncipe Adam, que vivia no Planeta Etéria, vizinho de Etérnia. Após Hordak ser derrotado em Etérnia, ele foi banido para Etéria, onde reuniu alguns vilões e dominou o lugar. Adora faz parte de uma Resistência, que tenta livrar o mundo do governo do vilão. Para auxiliá-la, a Feiticeira lhe deu poderes mágicos semelhantes aos de He-Man. O desenho de She-Ra era claramente direcionado às meninas, sendo mais infantil, colorido e miguxinho que o de He-Man. Evidentemente, She-Ra também tinha uma linha de brinquedos relacionada ao desenho. O desenho teve duas temporadas, em 1985 e 1986, e um total de 93 episódios, sendo que alguns deles tiveram a participação especial de He-Man.
O segundo spin-off de He-Man estreou em 1989, e foi ainda mais bizarro. Produzido pela DIC, As Novas Aventuras de He-Man colocaram o herói no planeta Primus, governado pelo Mestre Sebrian, e sob perigo de ser invadido pelo Carrasco e seus Mutantes. Apesar de teoricamente ser uma continuação do desenho original, a história se passa milhares de anos no futuro. He-Man foi levado até lá porque o Esqueleto também viajou para o futuro e se uniu ao Carrasco. Após chegar a Primus, He-Man se une aos Guardiães da Galáxia, e passa a combater os vilões. A qualidade do desenho era melhor que a do original, mas era cômico demais, praticamente todo passado no espaço, e com elementos de ficção científica, ao invés de magia e fantasia, e os únicos personagens do desenho original eram He-Man, a Feiticeira e Esqueleto, e assim mesmo com visuais bem diferentes dos originais. A série teve três temporadas e três linhas de brinquedos, entre 1989 e 1991, e foi relativamente bem-sucedido, embora os fãs do original torcessem um pouco o nariz.
E, já que estamos falando em bizarrices, He-Man teve um filme, Mestres do Universo, lançado em 1987, com Dolph Lundgreen no papel principal. Mas, se vocês não se importam, eu vou me abster de comentar.
Violentos? E o que dizer desse desenhos de hj em dia? Os desenhos dos anos 80 foram os melhores que ja vi na vida. Inocentes, educativos e que guardam uma lembranca maravilhosa da minha infancia.
ResponderExcluirMas é justamente o que eu acho. Quem reclama que He-Man e ThunderCats, por exemplo, eram violentos, ou nunca os assistiu ou não assiste aos de hoje em dia.
ResponderExcluirÓtima matéria amigo! Estou em uma onda de revival de He-Man e os Mestres do Universo (tenho 34 anos e assisti às três séries animadas, além de ter colecionado os quadrinhos da Marvel, publicados por aqui pela Editora Abril), e seu post veio bem a calhar, sanando várias curiosidades minhas. Parabéns!
ResponderExcluirVale lembrar que o He-man, ainda passa em alguns canais de desenhos. E sempre, no final dos episódios, os personagens, He-man(Adam), Gorpo, Tila ou Mentor, apresentam alguma lição pra vida, direcionada para crianças. Na She-ra também tem. Observem.
ResponderExcluirVale lembrar que o He-man, ainda passa em alguns canais de desenhos. E sempre, no final dos episódios, os personagens, He-man(Adam), Gorpo, Tila ou Mentor, apresentam alguma lição pra vida, direcionada para crianças. Na She-ra também tem. Observem.
ResponderExcluirEu falei dessa mensagem final às crianças, a famosa "moral da história". Na She-ra, era sempre o Geninho quem falava :)
ResponderExcluirAmo muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito! Até hoje assisto nos meus dvds especiais lançados pela focus! He-man é o melhor de todos!
ResponderExcluirO desenho original tinha uma violência contida,seus idealizadores evitavam por ser feito para crianças. Na época isso não importava, mas já adulto, isso chamava minha atenção. Adoraria ver o He-man socar o esqueleto, tal qual fazia com paredes ou rochas, felizmente isso aconteceu no desenhor de 2002.
ResponderExcluir