sábado, 3 de maio de 2025

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Contos de Fadas BLOGuil (V)

E hoje veremos mais um dos Contos de Fadas BLOGuil, dessa vez com um que eu revisei para o Crônicas de Categoria mas acabou não sendo publicado lá.





A Bela Adormecida

Era uma vez, há muito, muito tempo, um reino mágico, onde tudo era alegria e felicidade. Bem, nem tudo. Havia a Floresta do Terror Eterno, onde morava a Bruxa Malvada, e ninguém se atrevia a entrar. Fora isso, era um reino de paz e prosperidade, com um Rei adorado por seu povo.

Um dia, o Rei e a Rainha tiveram uma linda filha, que nasceu ao raiar da manhã. Eles decidiram chamá-la Aurora, e fizeram um imenso banquete para comemorar seu nascimento, para o qual todo o povo do reino estava convidado. Arautos reais iam de casa em casa, entregando um pequeno convite que solicitava sua presença em tão suntuosa comemoração. Traje esporte fino.

No dia do banquete, porém, ocorreu um acontecimento inesperado. A Bruxa Malvada, furiosa por não ter sido convidada, irrompeu castelo adentro, praguejando e transformando quem cruzasse seu caminho em sapos. Chegando ao Salão Central, onde estavam o Rei, a Rainha e a Princesa, ela expressou seu descontentamento por ter sido excluída, já que, como todos os outros, também era uma súdita daquele monarca.

De nada adiantou o Rei explicar que os três arautos que enviara para a Floresta do Terror Eterno desapareceram sem deixar vestígios. A Bruxa Malvada estava irredutível. Para se vingar da falta de consideração Real, a Bruxa decidiu rogar uma praga sobre a Princesa: um dia, ela espetaria o dedo em um fuso, e morreria.

Após explicarem para o Rei o que era um fuso, ele ficou indignado. Afinal de contas, era uma medida muito drástica por um simples esquecimento e, afinal de contas, a Bruxa Malvada estava ali comendo e bebendo como se convidada fosse. Sem ter a quem mais recorrer, ele ingressou na Justiça Real, e conseguiu uma liminar suspendendo a morte da Princesa até que o caso fosse julgado. No dia da audiência, a Bruxa Malvada apresentou uma nova proposta: a Princesa Aurora não morreria ao espetar seu dedo em um fuso, mas sim dormiria para sempre. Achando que a Bruxa estava a fim de engambelá-lo, já que morrer e dormir para sempre é praticamente a mesma coisa, o Rei não aceitou. Após uma breve conciliação, ficou decidido que ela espetaria o dedo no fuso e dormiria, mas apenas até um Príncipe apaixonado beijá-la nos lábios, o que quebraria o encanto.

Querendo dar uma volta na Bruxa, já na saída da audiência o Rei começou a pôr seu plano em prática: ordenou a destruição imediata de todos os fusos do reino, e proibiu a importação e fabricação de fusos em todo o Território Nacional. Simultaneamente, como Plano B, Aurora foi criada para ser a Princesa mais bela e prendada da História, para que não faltassem pretendentes apaixonados. Infelizmente, esta parte não saiu tão bem quanto se previa: na adolescência, a Princesa teve um sério problema de acne, desenvolveu oito graus de miopia, e as dietas às quais ela fora submetida durante toda a sua vida para que fosse sempre esbelta acabaram por conferi-la o apelido de Princesa Caniço. Nenhum Príncipe jamais se interessou por ela, mas o Rei estava tranqüilo, pois não havia um único fuso em um raio de mil quilômetros.

Mas a Bruxa Malvada não iria desistir tão fácil. Prevendo que o Rei poderia fazer algo para impedir sua praga de pegar, ela montou um esquema de contrabando de fusos, que eram espalhados pelo Reino em locais estratégicos.

No dia de seu aniversário de dezoito anos, a Princesa estava passeando feliz pelo bosque. Graças a um tratamento com cremes importados, sua pele já estava bem melhor. Ela também havia passado a usar lentes de contato, e estava começando a ganhar peso novamente. Era só uma questão de tempo até aparecer um belo Príncipe que iria pedi-la em casamento. Afinal, ela era a única Princesa encalhada do Reinado, e algum outro Reino devia ter um filho homem precisando se casar.

Durante seu passeio, Aurora encontrou uma construção abandonada. Lá dentro, havia um objeto que ela nunca havia visto em sua vida: uma roda de madeira enorme, com uma coisa pontuda na frente. Querendo vê-lo com as mãos, como é típico dos curiosos, Aurora acabou por espetar um dedo na coisa pontuda. Para desgraça de Vossa Alteza, era um fuso. Aurora caiu desmaiada, mergulhada em sono eterno. A Guarda Real encontrou seu corpo inerte após três dias de buscas, e o levou para o palácio. Uma procura desesperada por um Príncipe apaixonado teve início, mas não havia nenhum disponível. Só restava ao Rei e à Rainha aguardar, enquanto a Bruxa Malvada se desfazia em gargalhadas.

Mil anos se passaram, até que, durante uma escavação arqueológica, uma equipe descobriu o corpo da Princesa. Pensando tratar-se da mais bem conservada múmia jamais encontrada, eles a levaram para o acampamento. Após uma imensa festa, para comemorar a descoberta e imaginar os milhões de dólares que ela valeria, o chefe da missão voltou meio bêbado para a tenda onde a Princesa havia sido depositada e, sem conseguir conter sua felicidade, beijou-lhe os lábios.

Por uma dessas coincidências que só ocorrem nos contos de fadas, o chefe da missão era justamente um Príncipe, e estava apaixonado por sua descoberta arqueológica - no caso, a Princesa Aurora. Isso fez com que a Princesa despertasse de seu longo sono, e com que vários trabalhadores fugissem sob gritos de ritual demoníaco.

Após ser situada sobre o que estava acontecendo, Aurora contou sua triste história para o Príncipe. Os dois se apaixonaram perdidamente, se casaram e foram morar nos Estados Unidos, onde Aurora se tornou uma celebridade instantânea, e dá entrevistas em vários programas de televisão. Sua história é contestada por muitos céticos, que acham que ela e o Príncipe inventaram isso só para aparecer. Aurora nem liga: outrora esquálida, está se fartando após ter descoberto os cheeseburgers e milk shakes da América.

E todos viveram felizes para sempre.

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