sábado, 21 de dezembro de 2024

Escrito por em 21.12.24 com 0 comentários

The Wire

Antes que o ano acabe, eu vou falar sobre uma das melhores séries da história da TV. Hoje é dia de The Wire no átomo!


The Wire, que até tem um título em português que ninguém usa, A Escuta, foi uma criação de David Simon, originalmente um jornalista que trabalhou para o jornal The Baltimore Sun entre 1982 e 1995. Durante esse tempo, ele escreveria dois livros; o primeiro, Homicide: A Year on the Killing Streets (algo como "homicídio: um ano nas ruas assassinas"), lançado em 1991, para o qual acompanhou durante um ano os detetives da divisão de homicídios da polícia de Baltimore. O livro seria um grande sucesso, e Simon tentaria convencer o produtor Barry Levinson, nascido e criado em Baltimore, a adaptar o filme para o cinema. Levinson leria o livro e acharia que seria melhor adaptar para uma série, pela maior possibilidade de contar histórias, e apresentaria essa ideia ao roteirista Paul Attanasio, que compraria os direitos sobre o livro e criaria uma série, chamada Homicide: Life on the Street (simplesmente Homicídio aqui no Brasil), que seria exibida pela NBC durante 7 temporadas, entre 1993 e 1999, com um total de 122 episódios, mais um filme para a TV (Homicide: The Movie) que estrearia em 2000 e seria o encerramento da série. Simon atuaria apenas como consultor, com Attanasio sendo creditado como o criador da série.

Durante o tempo em que passou com a polícia para escrever Homicide, Simon conheceria o detetive Ed Burns, e os dois escreveriam juntos The Corner: A Year in the Life of an Inner-City Neighborhood (algo como "a esquina: um ano na vida de uma vizinhança da parte pobre da cidade"), lançado em 1997. O livro acompanhava a vida de dois viciados em drogas que moravam num bairro próximo ao centro de Baltimore, onde ficam as comunidades mais pobres, e sua relação com os traficantes e a polícia, e seria adaptado para uma minissérie em seis episódios, também chamada The Corner, exibida pela HBO em 2000, que ganharia três Emmys, de Melhor Minissérie, Melhor Direção para uma Minissérie, Filme para a TV ou Especial, e Melhor Roteiro para uma Minissérie ou Filme para a TV.

Após a estreia da minissérie, Simon pensaria em escrever uma série policial baseada nas experiências que viveu ao lado de Burns nesses anos que levaram ao lançamento de seus dois livros. Burns trabalhava investigando traficantes de drogas que se envolviam em violentas guerras de gangues, e planejava usar modernos equipamentos de vigilância eletrônica em suas investigações, sempre sendo prejudicado pela burocracia da polícia; Simon pensaria que esse poderia ser o ponto de partida perfeito, mostrando em sua série que o combate ao crime na cidade era prejudicado pela burocracia e pela incompetência das pessoas nas posições de comando. No início dos anos 2000, as escutas telefônicas autorizadas pela justiça também começavam a se popularizar, e ele pensaria em fazer com que esse fosse o objeto central da história, que, então, chamaria de The Wire.

Enquanto Homicídio estava no ar, a NBC diversas vezes se queixaria com Simon sobre o "tom pessimista" da série, e ele sempre respondia que não podia fazer nada, primeiro porque o tom do livro era pessimista mesmo, segundo porque ele era apenas um consultor, ficando as histórias a cargo de Attanasio e sua equipe. Após criar sua nova série, portanto, Simon decidiria oferecê-la à HBO, com quem teve uma experiência mais agradável durante a produção de The Corner, da qual foi roteirista, junto com David Mills. A HBO a princípio não gostaria da ideia de exibir uma série policial, algo que já existia aos montes na TV aberta, mas seria convencida após Simon conseguir autorização do Prefeito de Baltimore para retratar a cidade e suas instituições da forma como quisesse, mesmo que ela fosse pessimista e desagradável - na opinião do prefeito, isso não mudaria a opinião dos moradores da cidade sobre ela, nem teria impacto sobre a forma como a polícia faz seu trabalho. Além de criador da série e um de seus roteiristas, Simon seria um dos produtores da série, ao lado de Robert F. Colesberry e Nina Kostroff Noble, também co-produtores de The Corner.

Simon apostaria no realismo para o sucesso da série; embora todos os personagens principais fossem fictícios, assim como as situações enfrentadas por eles, alguns dos personagens secundários eram inspirados em moradores reais de Baltimore, e vários atores amadores seriam escalados para pequenos papéis, com Simon dizendo que isso "contribuía para a sensação de pertencimento". Os procedimentos da polícia eram mostrados de forma tão realista que criminosos presos na Baltimore real confessaram assistir à série para aprender como enganar a polícia; da mesma forma, moradores das comunidades pobres declarariam reconhecer várias das situações enfrentadas pelos personagens, de uma forma que jamais havia sido mostrada na TV. O jornal The Baltimore Sun, no qual Simon trabalhou, também é mostrado na série, e jornalistas diriam ter visto a representação mais realística de uma redação de jornal em toda a história da televisão norte-americana.

Cada episódio seguia uma estrutura própria, que começava com uma cena muitas vezes de pouca importância para o episódio em questão, mas que fazia andar a história como um todo. Em seguida vinha a abertura, composta por várias cenas de episódios daquela temporada ou das anteriores, com cada temporada contando com cenas diferentes, enquanto os nomes do elenco e da equipe apareciam escritos. Após a abertura, vinha uma tela preta com uma frase falada por algum personagem ao longo daquele episódio, e que tinha a ver com a história central daquele episódio. Apesar de todos os episódios fazerem parte de um mesmo arco de história - com cada temporada tendo seu próprio arco, mas existindo um arco maior que permeia toda a série - cada episódio tinha também uma história central própria, e, por isso, raramente os episódios acabavam em cliffhangers, com cada um tendo uma espécie de final próprio, terminando com a tela escurecendo e os créditos sendo mostrados ao som da música-tema da série.

The Wire seria descrita por muitos críticos como um "romance visual", no sentido de que, assim como em um livro, muitas histórias paralelas acontecem ao mesmo tempo, e é preciso que o espectador preste atenção em todos os diálogos para compreender a história central. Eventos que ocorrem "fora de tela" são subentendidos pelos diálogos dos personagens, sem uso de narração ou de flashbacks, com a única exceção sendo um flashback no piloto. A série chamaria atenção por ser muito mais densa e cheia de detalhes do que outras séries policiais da época, e os temas abordados também seriam mais profundos e de maior relevância social até mesmo em relação ao que os espectadores da HBO estavam acostumados. Subvertendo os clichês dos seriados dessa temática, muitos dos policiais eram movidos não pelo "desejo de proteger e servir", mas porque queriam provar ser mais espertos que os criminosos, ou porque precisavam de dinheiro; da mesma forma, nem todos os criminosos tinham como objetivo ganhar dinheiro ou causar o mal a outras pessoas, com alguns estando presos à vida de crimes sem conseguir uma saída, às vezes até tentando conseguir um emprego honesto, mas mantendo a vida de crimes ao seu alcance como Plano B. Também chama atenção a forma como os problemas da cidade são mostrados como sendo interligados e sem fácil solução - apesar de haver a gratificação tradicional dos seriados policiais, como a prisão ou morte dos bandidos, fica sempre no ar a impressão de que os problemas enfrentados pelos policiais jamais serão solucionados.

A trilha sonora da série também chamaria atenção por ser no estilo diegético - exceto em montagens, como as que ocorriam nos últimos episódios de cada temporada, todas as músicas que tocavam nos episódios eram escutadas também pelos personagens, através de um rádio do carro, rádio portátil ou jukebox, por exemplo, nunca sendo músicas inseridas apenas para que a audiência ouvisse. A música da abertura seria Way Down in the Hole, gravada por Tom Waits em 1987; cada temporada, além de imagens diferentes na abertura, teria uma versão diferente da música, com um arranjo diferente e interpretada por um artista diferente - The Blind Boys of Alabama, Waits, The Neville Brothers, DoMaJe e Steve Earle, respectivamente. A música tocada nos créditos, considerada a música-tema da série, se chama The Fall, é instrumental, e foi composta por Blake Leyh, o diretor musical da série. Dois álbuns de trilha sonora da série seriam lançados em 2008, The Wire: And All the Pieces Matter - Five Years of Music from The Wire, somente com canções que tocaram durante os episódios, e Beyond Hamsterdam, somente com canções de artistas e bandas iniciantes, todos originários da Grande Baltimore - a primeira música desse álbum seria a versão de Way Down in the Hole de DoMaJe, um coral de cinco adolescentes de 15 anos estudantes de escolas públicas de Baltimore, criado especificamente para gravar a abertura da quarta temporada.

A série possui seis instituições principais: o departamento de polícia, a prefeitura, o sistema escolar público, o sindicato dos estivadores, o jornal The Baltimore Sun e a operação de tráfico de drogas comandada pelos criminosos. Simon diria que essas instituições eram comparáveis umas às outras, no sentido de que todas eram disfuncionais e tinham problemas com os quais seus integrantes tinham de se acostumar para conseguir realizar seu trabalho - muitos deles sendo traídos por elas quando estavam prestes a alcançar algum resultado de importância. Também segundo Simon, uma das principais mensagens da série era a de que nem sempre o trabalho duro é recompensado. O conflito entre os objetivos individuais dos personagens e os objetivos gerais das instituições às quais eles serviam também estava sempre presente.

Simon seria o principal roteirista da série, co-escrevendo a maioria dos roteiros com Burns, que também seria produtor nas duas últimas temporadas. Três aclamados escritores de roteiros policiais de fora de Baltimore também fariam parte da equipe: Richard Price, de Nova Iorque, Dennis Lehane, de Boston, e George Pelecanos, de Washington, que também seria um dos produtores da terceira temporada. Colesberry não seria roteirista, mas, segundo a equipe, contribuiria de forma inestimável com as histórias das duas primeiras temporadas; ele também interpretaria o policial Ray Cole e seria o diretor do último episódio da segunda temporada, mas infelizmente faleceria de complicações após uma cirurgia cardíaca antes de começarem as gravações da terceira. Um jornalista colega de Simon no Baltimore Sun, Rafael Alvarez, também contribuiria com roteiros, além de escrever um livro sobre a série, The Wire: Truth Be Told (algo como "que a verdade seja contada"); outro jornalista, William F. Zorzi, especialista em política, se uniria à equipe de roteiristas na terceira temporada. Mills, co-roteista de The Corner, se uniria à equipe na quarta temporada.

Ao escolher o elenco, Simon rejeitaria nomes famosos, preferindo escolher atores que achava que combinavam com os personagens; Baltimore é uma das cidades dos Estados Unidos de maior população negra, então ele também fez questão de que isso se refletisse na série, com a maior parte do elenco sendo de atores negros. A maioria dos atores viria da série Oz, também da HBO, ou de The Corner, através da qual Simon conheceria seus trabalhos. Dentre os atores amadores, podem ser citados o policial Ed Norris, que interpretou uma versão ficcional de si mesmo; Little Melvin Williams, ex-traficante que foi preso por Burns na década de 1980, que interpreta um diácono; e o ex-delegado de polícia Gary D'Addario, que serviu como consultor nas duas primeiras temporadas, e interpretava o escrivão Gary DiPasquale. Pela própria natureza da série, o elenco mudaria bastante de uma temporada para a outra, mantendo um punhado de personagens principais mas removendo os que não teriam destaque na nova história e adicionando outros que poderiam seguir ou não.

A primeira temporada teria 13 episódios, exibidos entre 2 de junho e 8 de setembro de 2002. As duas principais instituições retratadas são o departamento de polícia de Baltimore e a Família Barksdale, responsável pelo controle do tráfico de drogas na zona oeste da cidade. O protagonista é o detetive Jimmy McNulty (Dominic West), conhecido por ser insubordinado, levemente alcoólatra e um tanto irresponsável, que está cansado de prender traficantes ligados a Barksdale e eles serem soltos durante o julgamento por falta de provas. Um dia, conversando casualmente com o Juiz Daniel Phelan (Peter Gerety), ele dá a entender que ninguém está investigando Avon Barksdale (Wood Harris), o cabeça da organização, e que ninguém na polícia nem sabe qual é a aparência dele. Revoltado, o juiz ordena que a polícia crie uma equipe especial voltada apenas para investigar Barksdale, o que irrita o vice-comissário de polícia, Ervin Burrell (Frankie Faison), mais preocupado com a imagem da polícia junto à população do que em efetivamente resolver crimes. Burrell passa a tarefa ao chefe de McNulty, o major William Rawls (John Doman), que decide montar uma unidade só pra mostrar serviço, com uma equipe formada em sua maioria por policiais incompetentes ou que caíram em desgraça junto aos chefes, apenas para prestar satisfação ao juiz, sem nenhuma intenção real de investigar ou prender Barksdale.

McNulty, porém, é ardiloso, e decide usar até mesmo métodos pouco convencionais, como passar por cima da hierarquia ou fingir não estar interessado em um determinado policial apenas para que Rawls o coloque na equipe, para não somente montar a melhor equipe possível como também fechar o cerco em volta de Barksdale sem que seus superiores sequer percebam que ele está fazendo isso. Através da procuradora Ronnie Perlman (Deirdre Lovejoy), com quem teve um caso no passado, ele também consegue convencer o juiz a autorizar vigilância eletrônica, incluindo escutas nos telefones públicos usados pelos traficantes dos Barksdale, o que dá nome à série e acaba por fim levando à prisão do criminoso.

A equipe montada pela polícia, da qual McNulty também faz parte, é comandada pelo Tenente Cedric Daniels (Lance Reddick), policial honesto que está pensando em pedir demissão por nunca conseguir fazer as coisas do jeito correto, de quem Burrell não vai com a cara, e dá a ele o comando da unidade como uma espécie de castigo. Originalmente, Daniels era da delegacia de narcóticos, e, de lá, traz com ele três outros policiais: a tenente Shakima Greggs, apelido Kima (Sonja Sohn), que, assim como McNulty, tem problemas com álcool e infidelidade, mas é uma espécie de contraponto a ele, sendo extremamente focada, determinada, e sempre querendo fazer as coisas conforme o regulamento; Ellis Carver (Seth Gilliam), que é honesto e competente, mas se ressente de nunca conseguir um caso que valha a pena, passando seus dias prendendo menores de idade que trabalham para o tráfico; e Thomas Hauk, apelido Herc (Domenick Lombardozzi), que se diverte sendo policial, intimidando os bandidos, e nem sempre está exatamente dentro da lei.

Outra figura-chave da unidade é Lester Freamon (Clarke Peters), detetive extremamente inteligente, metódico e paciente, que tem como hobby criar móveis para casinhas de bonecas, mas estava subaproveitado na unidade de penhores por ter irritado um superior. O único policial que o comando considera competente e vai parar na unidade é Leander Sydnor (Corey Parker Robinson), que McNulty consegue cobrando um favor; do integrante restante da unidade, Roland Pryzbylewski, apelido Prez (Jim True-Frost), já não se pode dizer o mesmo, já que ele não leva o menor jeito para policial, só está empregado por ser genro de um major, e a unidade pareceu ser o lugar perfeito para ele não atrapalhar ninguém. Completam o "time dos mocinhos" o melhor amigo de McNulty e detetive de homicídios, o bonachão Bunk Moreland (Wendell Pierce), que, apesar de estar sempre fazendo piada, leva seu trabalho muito a sério, e não quer nem saber de ser arrastado para uma unidade montada só para agradar um juiz; o agente do FBI Terrance Fitzhugh, apelido Fitz (Doug Olear), amigo de longa data de McNulty, que dá a ele a ideia de usar as escutas; e Reginald Cousins, apelido Bubbles (Andre Royo), viciado em heroína que mora nas ruas e atua como informante para Greggs.

Do lado dos bandidos, Avon Barksdale é o chefe da operação, mas raramente dá as caras, tanto que a polícia realmente sequer conhece sua aparência. A face da organização é seu melhor amigo e braço-direito, Russell Bell, apelido Stringer (Idris Elba), extremamente inteligente, que faz faculdade de administração e sonha criar uma empresa de fachada para acobertar todos os crimes da organização. Também merecem destaque D'Angelo Barksdale (Lawrence Gilliard, Jr.), sobrinho de Avon, que tem bom coração e nem sempre está confortável com os atos da organização, mas que não conhece outra vida além do crime e é da opinião de que tem de fazer de tudo para proteger sua família; Roland Brice, apelido Wee-Bay (Hassan Johnson), mais confiável soldado de Avon; e os adolescentes Preston Broadus, apelido Broadie (J.D. Williams), Malik Carr, apelido Poot (Tray Chaney), e Wallace (Michael B. Jordan), que vendem drogas para Avon em um conjunto habitacional pobre. Outro bandido de grande importância para a história é Joseph Stewart, apelido Proposition Joe (Robert F. Chew), rival de Avon que controla o tráfico da zona leste, tem esse apelido (o "zé da proposta") por ter fama de apaziguador, sempre fazendo propostas para selar a paz entre rivais, e sonha liderar uma cooperativa que reuniria todos os traficantes da cidade, acabando de vez com as guerras pelas drogas.

Outros personagens de destaque que estreiam na primeira temporada são Omar Little (Michael K. Williams), bandido que ataca somente traficantes, roubando suas drogas e seu dinheiro, jamais ameaçando a população; o senador estadual Clay Davis (Isiah Whitlock, Jr.), que tem fama de corrupto e de ter ligações com o crime organizado; o advogado Maurice Levy (Michael Kostroff), que defende a família Barksdale, Proposition Joe e todos os bandidos que possam pagar, estando mais preocupado com o dinheiro do que com sua reputação ou com a segurança da cidade; Brianna Barksdale (Michael Hyatt), irmã de Avon e mãe de D'Angelo; o major Howard Colvin, apelido Bunny (Robert Wisdom), antigo comandante de McNulty, que também é revoltado por não conseguir fazer as coisas da forma como deseja, mas prefere dançar conforme a música; o major Stan Valchek (Al Brown), sogro de Prez; e o sargento Jay Landsman (Delaney Williams), a quem McNulty e Bunk são subordinados, que prefere passar seus dias lendo Playboy e comendo do que resolvendo crimes.

Landsman tem o mesmo nome, mas não é inspirado, em um policial da Baltimore real também chamado Jay Landsman, que atuou como consultor na primeira temporada, e também é ator amador, tendo interpretado o tenente Dennis Mello, segundo em comando de Bunny Colvin. Outros personagens de menor destaque incluem os policiais Michael Santangelo, apelido Sanny (Michael Salconi), Vernon Holley (Brian Anthony Wilson), Augustus Polk (Nat Benchley), Patrick Mahon (Tom Quinn), Frank Barlow (Michael Stone Forrest) e Bobby Reed (Tony D. Head); o coronel Raymond Forester (Richard DeAngelis), que está prestes a se aposentar, com sua vaga sendo cobiçada por Rawls; a promotora Ilene Nathan (Susan Rome); a esposa de Daniels, Marla (Maria Broom); a esposa de Kima, Cheryl (Melanie Nicholls-King); o melhor amigo de Bubbles, Johnny Weeks (Leo Fitzpatrick); o padrinho de Bubbles nos Narcóticos Anônimos, Walon (Steve Earle); a esposa de D'Angelo, Donette (Shamyl Brown); Shardene Innes (Wendy Grantham), dançarina que trabalha na Orlando's, uma boate que é fachada para os negócios de Avon, e que se apaixona por Lester; Wendell Blocker (Clayton LeBouef), para todos os efeitos o dono da Orlando's; o Dr. Randall Frazier (Erik Dellums), médico-legista da polícia; a supervisora do FBI Amanda Reese (Benay Berger); e a ex-esposa de McNulty, Elena (Callie Thorne), que se separou dele por causa do álcool e dos casos extraconjugais, conseguindo a guarda de seus dois filhos, Michael (Antonio Cordova) e Sean (Eric G. Ryan).

Por causa dos números da audiência, Simon imaginou que The Wire não seria renovada para uma segunda temporada, e fez um episódio final para a primeira, que, apesar de deixar uma pequena margem para novas histórias, fechava todas as pontas da apresentada até então. Quando a HBO anunciou sua intenção de renovar a série, portanto, ele precisava de uma nova história, e decidiu abordar um problema conhecido dos moradores de Baltimore, mas sem relação com o tráfico de drogas: a decadência da região portuária e a dificuldade de alguns trabalhadores em continuar empregados na transição da sociedade industrial para a pós-industrial, na qual tudo é informatizado.

Assim, na segunda temporada, que teve 12 episódios, exibidos entre 1 de junho e 24 de agosto de 2003, entra em cena o sindicato dos estivadores, cujo presidente é Frank Sobotka (Chris Bauer). Como o trabalho de estivador já não é tão lucrativo como costumava ser, Sobotka decide fazer negócios com um homem conhecido como Vondas (Paul Ben-Victor), que traz contrabando da Europa: Vondas informa qual contêiner trará o contrabando e, se aproveitando de uma falha no sistema, recém-informatizado, os estivadores fazem com que ele "desapareça", sendo entregue aos homens de Vondas antes que seja processado, fiscalizado e pague os impostos; em troca, Sobotka fica com parte do lucro, que repassa aos estivadores. A história da segunda temporada começa quando um desses contêineres deveria trazer mulheres da Europa Oriental para se prostituírem nos Estados Unidos, mas algo dá errado, todas chegam mortas, e Vondas decide abandonar o contêiner no porto ao invés de retirá-lo.

Quem descobre as moças mortas é a policial Beatrice Russell, apelido Beadie (Amy Ryan), que faz parte da autoridade portuária. McNulty, que mais para o final da temporada vai formar com ela um casal, esbarra sem querer no caso, e vê a oportunidade perfeita para que a unidade especial da polícia seja reativada - e, por consequência, ele volte a investigar crimes importantes, ao invés de ficar só fingindo que trabalha o dia inteiro, o que Rawls, promovido a coronel, lhe determinou como punição após suas estripulias da primeira temporada. Paralelamente à história dos estivadores, a história da família Barksdale avança mais um pouco, com Avon comandando os negócios de dentro da prisão, e Stringer, sem seu conhecimento, fazendo uma aliança com Proposition Joe - que também recebe suas drogas através do contrabando de Vondas - para garantir que o mercado se mantenha aquecido.

Novos personagens da segunda temporada incluem o filho de Sobotka, Ziggy (James Ransone), que é incompetente, mulherengo, só pensa em dinheiro e mais atrapalha do que ajuda o pai; o sobrinho de Sobotka e primo de Ziggy, Nick (Pablo Schreiber), que teve um filho com a namorada, Aimee (Kristin Proctor), mora com ela e os pais, Joan (Elizabeth Noone) e Louis (Robert Hogan), e quer de qualquer jeito uma participação maior no esquema criminoso, para ganhar mais dinheiro; Sergei Malatov (Chris Ashworth), que todo mundo insiste em chamar de Boris, algo que o irrita, ucraniano que faz parte da organização criminosa de Vondas, de vez em quando atuando como o motorista que tira do porto os contêineres com contrabando; Eton Ben-Eleazer (Lev Gorn), israelense que faz parte da organização de Vondas; George Glekas (Teddy Cañez), dono de uma loja que vende material contrabandeado pela organização de Vondas; o policial veterano amigo de McNulty Claude Diggins (Jeffrey Fugitt); Andy Krawczyk (Michael Wills), um empreendedor imobiliário picareta que se aproveita do fato de que Stringer Bell quer se tornar empresário para tirar dinheiro dele; Sean McGinty, apelido Shamrock (Richard Burton), braço-direito de Stringer; o traficante Melvin Wagstaff, apelido Cheese (o rapper Method Man), sobrinho de Proposition Joe, que não é muito inteligente mas é muito ambicioso, uma combinação perigosa no mundo do crime; Kimmy (Kelli R. Brown) e Tosha (Edwina Findley), duas mulheres que ajudam Omar em seus crimes; Butchie (S. Robert Morgan), cego dono de um bar que tem um passado criminoso em comum com Omar e o ajuda sempre que preciso; o Irmão Mouzone (Michael Potts), assassino de aluguel que Avon contrata para expulsar os homens de Proposition Joe de seu território, e seu assistente meio incompetente, Lamar (DeAndre McCullough); e os estivadores Johnny Fifty (Jeffrey Pat Gordon), Vernon Motley, apelido Ott (Bus Howard), Nat Coxson (Luray Cooper), rival político de Sobotka, e Thomas Pakusa, apelido Cara de Cavalo (Charley Scalles), braço-direito de Sobotka. Também vale citar um homem conhecido apenas como "O Grego" (Bill Raymond), o verdadeiro chefe da organização criminosa de Vondas.

Na terceira temporada, Simon decidiria retomar com força total a história da primeira, com Avon recebendo liberdade condicional e declarando guerra não somente a Proposition Joe, mas também ao novato Marlo Stanfield (Jamie Hector), que, com a ajuda de seus tenentes, Chris Partlow (Gbenga Akinnagbe) e Snoop (Felicia Pearson), decide impor um novo reinado de terror à cidade, se considerando o sangue novo que vai tomar o poder de todos os criminosos antigos já estabelecidos. A instituição que recebe os holofotes é a da prefeitura, com quatro novos personagens de peso: o prefeito, Clarence Royce (Glynn Turman); os vereadores Tommy Carcetti (Aidan Gillen) e Tony Gray (Christopher Mann), que pretendem se lançar candidatos a prefeito; e o deputado Odell Watkins (Frederick Strother), um dos mais influentes nas comunidades negras da cidade, com quem conseguir seu apoio tendo a vitória quase certa na eleição. Uma história paralela de destaque é a de Dennis Wise, apelido Cutty (Chad L. Coleman), ex-presidiário que tem dificuldades para voltar ao mercado de trabalho. Mas a história principal da terceira temporada envolve Bunny Colvin cansando de tomar atitudes inúteis para diminuir a venda de drogas e decidindo tomar uma medida drástica: inventar a Cracolândia - ele dá ordem para que os policiais não incomodem os traficantes e usuários que concordarem em ficar em apenas uma determinada parte da cidade, apelidada pelos bandidos de Hamsterdam, conseguindo reduzir a zero o tráfico e a violência nas demais, evidentemente sem que Burrell ou Royce possam ficar sabendo disso.

A terceira temporada teria mais 12 episódios, exibidos entre 19 de setembro e 19 de dezembro de 2004. Novos personagens incluem Theresa D'Agostino (Brandy Burre), coordenadora da campanha de Carcetti; Coleman Parker (Cleo Reginald Pizna), chefe de gabinete do prefeito Royce; a esposa de Carcetti, Jen (Megan Anderson); os policiais Kenneth Dozerman, apelido Doze (Rick Otto), Caroline Massey (Joilet Harris), Michael Crutchfield (Gregory L. Williams), Anthony Colicchio (Benjamin Busch) e Lloyd Garrick, apelido Truck (Ryan Sands); Grace Sampson (Dravon James), ex-namorada de Cutty que agora é professora; Slim Charles (Anwan Glover), tenente de Avon que depois passa a ocupar a mesma posição para Proposition Joe; Bernard (Melvin Jackson Jr.) e sua namorada, Squeak (Mia Arnice Chambers), que têm a missão de comprar celulares pré-pagos para os Barksdale; o traficante Fruit (Brandon Fobbs), da equipe de Marlo; Jamal (Melvin T. Russell), adolescente que vende drogas para os Barksdale; Kenard (Thuniso Dingwall), menininho que ainda não tem nem dez anos e já está envolvido com o mundo do crime; Sherrod (Rashad Orange), adolescente que mora nas ruas e é meio que adotado por Bubbles; e Spider (Edward Bernard Green, Jr.) e Justin (Justin Burley), adolescentes que Cutty convence a largar o crime para praticar boxe.

Com a morte de Colesberry, as negociações com a HBO para que The Wire fosse renovada para uma quarta temporada se tornariam extremamente difíceis; para piorar as coisas, West pediria por um aumento salarial absurdo e seria cortado do elenco. A série quase seria cancelada, e Simon só conseguiria convencer os executivos do canal a renová-la depois que a terceira temporada já havia ido ao ar. Por causa disso, não haveria temporada nova em 2005, e a quarta temporada, que teria mais 13 episódios, seria exibida entre 10 de setembro e 10 de dezembro de 2006. Quando as gravações começaram, West mudou de ideia e perguntou se poderia estar na série, mesmo que em um papel reduzido, para que os roteiros não tivessem de ser reescritos; por essa razão, McNulty quase não apareceria na quarta temporada, com o maior protagonismo ficando com Prez.

A instituição em foco na quarta temporada é o sistema escolar público da cidade, com Prez decidindo deixar a polícia e se tornar professor de matemática, e enfrentando desafios com as crianças maiores dos que tinha com os criminosos. Paralelamente a isso, ocorre a campanha para prefeito, com Carcetti e Royce disputando os eleitores voto a voto e seus aliados políticos promessa a promessa, e Gray correndo por fora. Bubbles decide abandonar o vício, e, junto com Sherrod, monta um negócio de vendas ambulante, com produtos de procedência duvidosa em um carrinho de supermercado, mas abandonar as drogas e a antiga vida se mostrará mais difícil do que ele imaginava. E Marlo trabalha para consolidar sua posição como maior traficante da cidade, superando Barksdale e chegando a ameaçar Proposition Joe; apesar do reinado de terror que impõe, ele consegue criar com Chris e Snoop um método através do qual a polícia não consegue ter provas de que ele está atacando e assassinando seus rivais, o que faz com que ele fique quase intocável - e com que a equipe especial da polícia, que não consegue chegar a nenhum resultado em relação a ele, seja redirecionada para crimes sem importância, o que causa revolta em Lester e Kima.

A quarta temporada tem muitos personagens novos, a começar pelos alunos da escola onde Prez vai trabalhar: o filho de Wee-Bay, Namond Brice (Julito McCullum), extremamente inteligente, que não quer seguir a vida de crimes do pai, apesar da insistência da mãe, De'Londa (Sandi McCree), mas também não vê outra alternativa para progredir; Michael Lee (Tristan Mack Wilds), que mora com uma mãe drogada (Shamika Cotton) e um irmão mais novo, Bug (Keenon Brice), é revoltado com a vida e quer ascender financeiramente a qualquer custo; Duquan Weems, apelido Dukie (Jermaine Crawford), que vem de uma família miserável e sofre bullying por estar sempre com as roupas sujas; Randy Wagstaff (Maestro Harrell), que mora com Anna (Denise Hart), uma mãe adotiva (no esquema que nos Estados Unidos é conhecido como foster parenting), e ganha dinheiro vendendo biscoitos e chocolates para os outros alunos; e Donut (Nathan Corbett), que rouba carros quando não está na escola.

Um personagem novo de extrema importância é Norman Wilson (Reg E. Cathey), conselheiro político de Carcetti. Outros personagens novos incluem Michael Steintorf (Neal Huff), chefe de gabinete de Carcetti; a vereadora Nerese Campbell (Marlyne Barrett), que se via como sucessora natural de Royce, e, portanto, passa a ser adversária política de Carcetti, mesmo sem estar concorrendo; o procurador do estado, Rupert Bond (Dion Graham); o Dr. David Parenti (Dan de Luca), que tenta implementar na escola uma classe especial somente com alunos problemáticos; o Tenente linha-dura Charles Marimow (Boris McGiver); o policial corrupto Eddie Walker (Jonnie Brown); o namorado de Omar, Renaldo (Ramón Rodríguez); Monk Metcalf (Kwame Patterson), traficante ligado a Marlo; o traficante Little Kelvin (Tyrell Baker), amigo de Bodie; e a vice-diretora da escola, Marcia Donnelly (Susan Duvall).

Mais uma vez, a HBO quis cancelar a série após a quarta temporada, e somente depois que todos os episódios haviam ido ao ar Simon conseguiu convencer os executivos a fazer uma última, apenas para fechar as pontas que ainda estavam soltas na história. Isso levaria mais uma vez a um ano sabático, e com que a quinta temporada, que teria apenas 10 episódios, fosse exibida entre 6 de janeiro e 9 de março de 2008. Enquanto a temporada estava no ar, Simon ainda tentaria convencer a HBO a renovar a série para uma sexta, mas, sem sucesso, escreveria um episódio final, de uma hora e meia, que encerraria The Wire definitivamente.

McNulty voltaria ao protagonismo na quinta temporada, determinado a não medir esforços para fazer com que os muitos cortes feitos pela prefeitura no orçamento da polícia impeçam que Marlo seja preso. A nova instituição retratada é uma versão ficcional da redação do jornal The Baltimore Sun, com novos personagens incluindo o editor Augustus Haynes, apelido Gus (Clark Johnson, que foi diretor de alguns episódios da série, incluindo o piloto e o final); o repórter Scott Templeton (Tom McCarthy), que tem o hábito de florear suas histórias; a repórter novata Alma Gutierrez (Michelle Paress); o editor-chefe, Thomas Klebanow (David Costabile); o editor executivo, James C. Whiting III (Sam Freed); e os jornalistas Mike Fletcher (Brandon Young), Roger Twigg (Bruce Kirkpatrick), Tim Phelps (Thomas J. McCarthty), Steve Luxenberg (Robert Poletick), Rebecca Corbett (Kara Lee Duncan) e Jay Spry (Donald Neal).

Enquanto estava no ar, The Wire teve audiência nunca melhor que mediana, e jamais ganhou nenhum prêmio de importância, tendo sido indicada ao Emmy apenas duas vezes, ambas por Melhor Roteiro em Uma Série de Drama, uma na terceira temporada, outra pelo episódio final. A crítica, por outro lado, sempre a definiu como uma das melhores séries da história da televisão norte-americana, com as temporadas a partir da segunda sendo especialmente aclamadas. Nos anos seguintes ao seu término, várias universidades dos Estados Unidos, como Johns Hopkins, Brown e Harvard, passaram a usar seus episódios em aulas de seus cursos de sociologia, serviço social e direito, com um dos motivos sendo que, ao contrário dos livros, que abordam um assunto de cada vez, a série conseguia unir, por exemplo, desemprego, educação pública e sistema carcerário em um único episódio, mostrando que tudo estava interligado e seria difícil solucionar um problema sem apresentar soluções para os demais. Atualmente, vários estudos científicos no mundo inteiro são escritos e publicados partindo de premissas estabelecidas pelos episódios da série, com alguns sendo considerados mais efetivos do que estudos caros conduzidos com moradores de cidades com altos índices de criminalidade.

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