Eu não faço ideia de quantas lutas tradicionais turcas existam - a Wikipédia lista 16, embora de 14 só cite o nome - mas, nesse post, eu vou falar de seis - não por acaso, as seis que são atualmente reguladas pela Federação Turca de Lutas Tradicionais (TGGF, da sigla em turco). Duas delas são disputadas em âmbito nacional e, até 2021, eram reguladas pela Federação Turca de Luta (TGF), mesmo órgão que regula a luta olímpica (luta livre e luta greco-romana) na Turquia; as outras quatro são disputadas somente a nível regional, e até 2021 eram reguladas pela Federação Turca de Esportes Tradicionais (GSDF), que regula vários esportes tradicionais da Turquia, como o okçuluk (tiro com arco tradicional turco) e o kizak (trenó tradicional turco). Todas as seis possuem praticantes fora da Turquia, mas não são populares internacionalmente a ponto de permitir a realização de campeonatos mundiais, de forma que a maior parte de seus campeonatos ocorre na Turquia, com a participação ou não de estrangeiros.
Todas as seis lutas que veremos hoje compartilham algumas características em comum. Pra começar, todas são exclusivamente masculinas e disputadas sobre grama natural, que ocupa um quadrado de 30 x 30 m, que pode ser delimitado por estacas e cordas, como se fosse um ringue de boxe, ou por uma linha branca pintada no chão, como as de um campo de futebol. Cada luta conta com apenas um árbitro, que acompanha os lutadores de perto, mas costuma ter também uma mesa, para contabilizar pontos, cronometrar o tempo, e, em alguns casos, chamar a atenção do árbitro para alguma falta ou conduta inadequada que ele deixou passar. Cada uma das lutas possui rituais que são realizados antes de os lutadores começarem a lutar, com esses rituais sendo diferentes dependendo da luta.
Outra coisa: "luta", em turco, é güreşi, por isso os nomes de todas as seis vão ter essa palavra no final; como nem sempre é possível escrever um ş, ela também costuma ser grafada gures, guresi ou gureshi. Eu vou usar gureshi porque é a grafia usada pela World Ethnogames Confederation (WEC), co-organizadora dos Jogos Mundiais Nômades, sendo, portanto, a grafia com a qual eu estou mais acostumado. Finalmente, no idioma turco existe i com pingo e i sem pingo, cada um com um som diferente; a WEC substitui todos os i sem pingo nos nomes das lutas e de alguns termos relacionados a elas por y, então eu vou fazer isso também - mas fiquem sabendo que, ao procurar por essas lutas na internet, vocês podem encontrar seus nomes escritos com i, com ou sem pingo, ao invés de y.
Tudo isso esclarecido, vamos começar por uma das duas lutas nacionais, que também é a mais conhecida fora da Turquia. Essa luta se chama yagli gureshi, nome que pode ser traduzido para "luta do óleo" - e que vem do fato de que os lutadores se lambuzam de óleo (na verdade, de azeite) antes da luta. Vale citar como curiosidade que, segundo a Capcom, esse é o estilo de luta praticado por Hakan, de Street Fighter IV.
A luta do óleo é considerada uma das formas de luta mais antigas do mundo, com registros históricos mostrando que ela era praticada na Suméria e na Babilônia. Ao longo dos anos, ela teria chegado à Grécia, e no século III a.C. teria um surto de popularidade no Império Romano. Segundo conta a história, mais ou menos nessa época ela seria extremamente popular nos Balcãs, que seriam invadidos pelo Império Otomano. Ao invés de como esporte, entretanto, os otomanos, antepassados dos atuais turcos, usavam a luta de forma cerimonial, durante festivais. Seria apenas por volta do século XIII, já na atual Turquia, que a yagli gureshi ganharia regras para poder ser disputada de forma competitiva.
O único uniforme que os lutadores da yagli guresh usam é uma calça feita de couro, com uma tira reforçada na cintura e pernas que acabam no meio das panturrilhas, de cor preta, chamada kisbet ou kispet. Originalmente, o kisbet era feito de couro de búfalo e podia pesar até 13 kg; atualmente, ele é feito de couro de boi, e pesa entre 1,8 e 2,5 kg quando untado - antes da luta, os lutadores untam todo o seu corpo, incluindo seus kisbets, com azeite de oliva, sendo que um lutador deve untar o outro, em sinal de respeito.
Um lutador é declarado vencedor caso alcance uma das seguintes condições de vitória: fazer com que o oponente se deite de costas no chão, com a barriga virada para cima; fazer com que o oponente se sente apoiando ambas as mãos no chão simultaneamente; fazer o oponente apoiar ambos os cotovelos no chão simultaneamente; fazer o oponente tocar o chão com o cotovelo e a mão do mesmo braço; levantar o oponente do chão e ou caminhar três passos ou fazer um giro de 360 graus. Curiosamente, as regras também dizem que, se um lutador conseguir abaixar o kisbet do oponente, expondo suas genitais, ele ganha a luta, embora atualmente essa prática seja desencorajada e já faça um bom tempo que ninguém ganha assim.
Existe ainda uma forma de ganhar a luta chamada paça kazyk, que seria equivalente a um nocaute ou ippon, e consiste em colocar os braços ao redor da cintura do adversário, em contato com a faixa do kisbet, durante três segundos, o que, como ambos estão lambuzados de óleo, é mais fácil de explicar do que de fazer. Originalmente, essa era a única forma de ganhar a luta, que não tinha duração pré-determinada, mas, em 1975, após uma luta que durou, acreditem ou não, dois dias, a TGF decidiu estabelecer novas condições de vitória e um limite de tempo para que a luta tenha um vencedor. A yagli gureshi é dividida em duas categorias, pehlivan ("lutadores", voltada aos iniciantes) e bashpehlivan ("mestres", voltada aos veteranos). Na categoria pehlivan, a duração máxima de uma luta é de 30 minutos, enquanto na bashpehlivan é de 40 minutos - ainda assim um tempo absurdo, se considerarmos que a maioria das lutas esportivas dura um décimo disso.
Assim como em qualquer luta esportiva, não basta o lutador chegar lá e querer agarrar oponente de qualquer jeito; há uma técnica própria para se fazer isso, com movimentos válidos e inválidos. Um lutador que insista em usar movimentos inválidos é advertido, e, dependendo do caso, desclassificado, sendo a desclassificação do oponente também uma forma de vencer a luta. Caso o tempo regulamentar termine sem vencedor, é feito um intervalo de cinco minutos após o qual começa uma prorrogação, de 10 minutos para pehlivan e 15 minutos para bashpehlivan. Durante essa prorrogação, os lutadores receberão pontos pela aplicação dos golpes, e, se nenhum dos lutadores alcançar uma condição de vitória, o lutador com mais pontos será o vencedor.
Torneios de yagli gureshi, amadores e profissionais, são disputados em toda a Turquia durante todo o ano, exceto durante o inverno, mas o mais famoso é o chamado Kyrkpynar, realizado anualmente no final de junho, durante três dias, na cidade de Edirne (antiga Adrianópolis). Com registros que comprovam que ele é disputado anualmente desde 1362, só não tendo sido realizado cerca de 70 vezes ao longo de 663 anos, o Kyrkpynar está no Livro Guinness dos Recordes como a competição esportiva mais antiga ainda continuamente realizada. Somente turcos podem participar, e, diferentemente de outras lutas esportivas, não há categorias de peso, sendo a divisão feita apenas entre pehlivan e bashpehlivan. O campeão da bashpehlivan recebe o título de "lutador chefe", que mantém até o torneio do ano seguinte, e quem ganha três anos seguidos recebe um cinturão de ouro 18 quilates.
Além da Turquia, outros países que possuem campeonatos profissionais de yagli gureshi são Japão, Bulgária, Grécia e Holanda - esse último, por incrível que pareça, o mais desenvolvido no yagli gureshi após a Turquia. Desde 1997, a Holanda realiza, em Amsterdã, o Campeonato Europeu, considerado o segundo torneio mais importante da yagli gureshi após o Kyrkpynar. Como, em 2000, o campeão europeu foi proibido de participar do Kyrkpynar por não ser turco, desde 2001 o Campeonato Europeu é aberto a lutadores de todas as nacionalidades, inclusive não-europeus, mas exceto turcos. De forma semelhante a outros torneios de luta, o Campeonato Europeu divide os lutadores em categorias de peso, que atualmente são até 80 kg, até 95 kg, até 110 kg e acima de 110 kg. A yagli gureshi fez parte do programa dos Jogos Mundiais Nômades de 2022, disputados em Izmir, Turquia, com essas mesmas categorias de peso, e aberta a lutadores de todas as nacionalidades.
A segunda luta disputada em âmbito nacional é a karakucak gureshi, que surgiu dentre o povo oghuz, que se formou na Ásia Central por volta do século VIII e migrou para a Anatólia no século XIII; hoje, a maior parte da população da Turquia é descendente dos orghuz, que se converteram ao islamismo no século XI. Graças a uma revisão das regras feita pela TGF em 1975, atualmente a karakucak gureshi é bastante parecida com a yagli gureshi, com a principal diferença sendo que, na karakucak gureshi, não é usado qualquer tipo de óleo. O uniforme da karakucak gureshi também é diferente, embora semelhante: chamado pirpit, se parece com uma bermuda, é feito de lona, e normalmente são usadas as cores azul ou verde.
Outra diferença notável é que, na karakucak gureshi, não basta agarrar o pirpit do adversário (nem baixá-lo e deixar seu pirpit à mostra, desculpem o trocadilho), sendo essencial conseguir uma das seis outras condições de vitória. Uma luta da karakucak gureshi também é bem mais curta, durando apenas seis minutos, com uma prorrogação de três minutos caso não haja vencedor. Assim como na yagli gureshi, durante a prorrogação os lutadores ganham pontos, que também determinarão o resultado caso nenhum dos dois consiga uma condição de vitória. A karakucak gureshi possui categorias de peso, com a TGGF definindo nada menos que dez delas: até 48 kg, até 53 kg, até 57 kg, até 62 kg, até 68 kg, até 74 kg, até 82 kg, até 90 kg, até 100 kg e até 130 kg.
Campeonatos de karakucak gureshi são disputados em todas as regiões da Turquia, e servem como classificatórias para o Campeonato Nacional, disputado anualmente - mas cuja popularidade não chega nem perto da do Kyrkpynar. Falando nisso, embora ambas sejam reguladas pela mesma federação e disputadas nacionalmente, a yagli gureshi é infinitamente mais popular que a karakucak gureshi, tanto em termos de praticantes quanto de público, por ser considerada a verdadeira luta tradicional do povo turco. Além de na Turquia, a karakucak gureshi é disputada profissionalmente na Mongólia, Azerbaijão, Turcomenistão e na Rùssia, mais especificamente nas repúblicas autônomas da Iacútia, Tataristão e Crimeia. Diferentemente do que ocorre com a yagli gureshi, estrangeiros podem participar do Campeonato Nacional de karakucak gureshi, mas devem se classificar através de um regional turco antes, o que acaba desanimando a maioria dos lutadores, que prefere lutar somente em seus países de origem.
De uns tempos pra cá, a karakucak gureshi vem tendo uma relação de amor e ódio com a luta olímpica: muitos dos lutadores turcos mais bem sucedidos na luta livre e na luta greco-romana, incluindo campeões europeus, mundiais e medalhistas olímpicos, começaram suas carreiras na karakucak gureshi, passando depois para a luta olímpica, existindo inclusive quem defenda que o treinamento na karakucak gureshi dá alguma vantagem na luta olímpica; o fato de a karakucak gureshi ser disputada em um gramado, mais barato que um mat, também torna mais fácil a iniciação dos jovens nesse tipo de luta. O problema é que, justamente pelo sucesso dos turcos na luta olímpica, a maioria dos jovens quer iniciar já nela, com o número de iniciantes na karakucak gureshi diminuindo a cada ano, e a TGF já fazendo campanhas para que ela não desapareça.
Vamos passar agora para as quatro lutas que eram antigamente reguladas pela GSDF. Como foi dito, essas são lutas regionais, e não são praticadas em todo o território da Turquia, embora duas delas sejam disputadas fora do país. A mais famosa das quatro é a ashyrtmaly aba gureshi, disputada nas regiões de Gaziantep, Adana e Osmaniye, além de no Azerbaijão, Turcomenistão, Tajiquistão e Rússia. Por causa disso, a ashyrtmaly aba gureshi seria a primeira das lutas tradicionais turcas a ser incluída no programa dos Jogos Mundiais Nômades, estando presente nas edições de 2016, 2018, 2022 e 2024. A ashyrtmaly aba gureshi é uma luta de cinturão, com muitas semelhanças com as que eu já abordei aqui no átomo; por causa disso, praticantes de outras lutas de cinturão às vezes se arriscam em torneios de ashyrtmaly aba gureshi.
O aba do nome da luta também é o nome do uniforme, que consiste em uma espécie de colete aberto na frente e uma bermuda, ambos feitos de couro e tradicionalmente de cor preta, embora possam ter detalhes em outras cores. Na ashyrtmaly aba gureshi, o colete é curto, terminando antes da cintura, e o cinturão é amarrado entre o colete e a bermuda. O colete e o cinturão, que possui uma forma própria para ser amarrado, não são fáceis de serem vestidos, e devem ser colocados e removidos à vista de todos, com cada lutador contando com um membro da arbitragem que o ajuda a se vestir antes da luta e se despir ao final.
Na ashyrtmaly aba gureshi só é permitido segurar o cinturão do adversário com a mão direita. No início da luta, um dos lutadores é sorteado, e já começa segurando o cinturão do adversário, mas com seu braço passando por cima do ombro esquerdo do outro. Cada lutador só pode usar as mãos para segurar o cinturão ou o colete do adversário, sendo proibido segurar braços, pernas, pescoço ou usar a mão para empurrar o oponente. A ashyrtmaly aba gureshi possui movimentos válidos tanto para a luta de pé quanto com os dois lutadores no solo, mas, se o árbitro decidir que a luta de solo está se prolongando sem que dela vá resultar um vencedor, ele pode interromper a luta e recomeçá-la com ambos os lutadores de pé. A luta de solo deve sempre começar em decorrência de um arremesso; um lutador se jogar no chão de propósito para forçá-la é considerado conduta antidesportiva.
Uma luta de ashyrtmaly aba gureshi é dividida em três sets de 10 minutos cada. O vencedor da luta será o lutador que vencer mais sets, mas não necessariamente dois, já que, caso o tempo se esgote sem que haja um vencedor, o set é considerado empatado - é possível vencer, portanto, com um set e dois empates. Caso todos os três sets terminem empatados, é disputada uma prorrogação sem limite de tempo, até sair um vencedor. Ainda é comum em alguns torneios da Turquia que a ashyrtmaly aba gureshi seja disputada sem limite de tempo; nesse caso, cada set só acaba quando um dos lutadores vence, e quem vencer dois sets primeiro ganha a luta. A ashyrtmaly aba gureshi possui categorias de peso, que, segundo a TGGF, são oito: até 55 kg, até 60 kg, até 65 kg, até 70 kg, até 75 kg, até 80 kg, até 90 kg e até 120 kg.
Um lutador será vencedor de um set caso consiga fazer com que o oponente se deite de bruços, com sua barriga tocando totalmente o chão; fazer com que o oponente toque com ambos os ombros simultaneamente no chão; ou fazer com que o oponente se deite de lado no chão, tocando com o quadril e o ombro do mesmo lado no chão. Caso o lutador que começou com o oponente segurando seu cinturão consiga fazer com que o oponente solte antes de ele mesmo segurar o cinturão do oponente, ele também ganha o set. Um lutador que insista em usar movimentos inválidos pode perder o set automaticamente, ou, se esse comportamento colocar a vida ou a integridade física do oponente em risco, pode perder toda a luta, independentemente de em qual set estava e quantos ele tinha ganhado.
A ashyrtmaly aba gureshi possui uma "parente" chamada kapyshmaly aba gureshi, disputada principalmente na região de Hatay; ambas descendem da mesma luta original, mas, ao longo dos anos, foram se tornando bem diferentes. Chamada muitas vezes apenas de aba gureshi, a kapyshmaly aba gureshi, que também é uma luta de cinturão, possui muito menos praticantes dentro da Turquia do que a ashyrtmaly aba gureshi, e também é bem menos popular internacionalmente, não sendo especialmente popular em nenhum outro país. A kapyshmaly aba gureshi fez parte do programa dos Jogos Mundiais Nômades de 2022.
Na kapyshmaly aba gureshi, o colete é feito de feltro e lã, sendo mais macio e mais comprido, terminando na altura das nádegas do lutador, e o cinturão é amarrado para fechar o colete, que pode ser de várias cores - normalmente com cada um dos lutadores usando um colete de um cor. Os lutadores podem segurar o cinturão com as duas mãos, e a luta de solo, que começa assim que um dos lutadores toca com pelo menos um de seus joelhos no chão por qualquer motivo, tem duração máxima de 1 minuto, com a luta sendo interrompida e recomeçando com os lutadores de pé. Também é proibido segurar qualquer parte do oponente que não seja o colete ou o cinturão, bem como empurrá-lo. Para ganhar um set, o lutador tem que fazer com que o oponente toque o chão com ambos os ombros simultaneamente, ou com que ele caia de costas, com a barriga virada para cima. Ninguém perde o set por soltar a mão do adversário, mas pode perder o set ou a luta caso insista em conduta faltosa. As categorias de peso são as mesmas da ashyrtmaly aba gureshi, mas a duração padrão de uma luta é a metade: três sets de cinco minutos cada, com prorrogação sem limite de tempo caso todos os três terminem empatados.
A terceira luta regional que veremos é a shalvar gureshi, originária da região de Kahramanmarash, mas também praticada no Irã, Mongólia, Azerbaijão, Quirguistão, Turcomenistão e Rússia. O nome da luta também vem de seu uniforme, o shalvar, uma bermuda bem justa feita de pelo de cabra, tradicionalmente tingida na cor verde; se a luta não for na grama, os lutadores também usam meias e sapatilhas. Falando nisso, a shalvar gureshi é a única das lutas que veremos hoje que não precisa obrigatoriamente ser disputada na grama, com a TGGF permitindo que ela seja disputada em ambiente interno, com piso antiderrapante e não abrasivo, na areia, ou até mesmo na neve, o que faz com que ela possa ser disputada durante todo o ano. Também é a única que veremos hoje que já teve um campeonato mundial, disputado em 2020 em Kahramanmarash. A shalvar gureshi também fez parte do programa dos Jogos Mundiais Nômades de 2022.
A shalvar gureshi é uma luta de submissão, na qual os lutadores, que durante toda a luta ficarão meio curvados para a frente, tentarão utilizar os movimentos válidos para colocar os oponentes deitados no chão e imobilizá-los, ganhando pontos de acordo com o tipo de imobilização. Se um dos lutadores conseguir imobilizar o oponente deitado de costas, de barriga para cima, ele ganha a luta instantaneamente. Lutadores que infrinjam as regras recebem advertências e penalidades, que podem fazer com que eles percam pontos. Uma luta dura 10 minutos, ao fim dos quais quem tiver mais pontos vence; se, ao final do tempo, a luta estiver empatada, começa uma prorrogação que dura até um dos lutadores pontuar. É obrigatório lutar de pé; se os lutadores forem ao solo e uma imobilização não começar imediatamente, o árbitro interrompe a luta e manda eles recomeçarem de pé. As categorias de peso são as mesmas da karakucak gureshi.
Aliás, exceto por alguns movimentos que são válidos em uma das lutas mas não são na outra, pelo fato de haver pontuação desde o início, e por só haver uma condição de vitória instantânea, a shalvar gureshi é bem parecida com a karakucak gureshi, o que é apontado como principal entrave à sua popularização no restante da Turquia; recentemente, entretanto, devido ao fato de poder ser praticada em ambiente fechado, a shalvar gureshi vem se popularizando no restante da Europa, principalmente em países com muitos imigrantes turcos, como a Alemanha, o que pode levar à curiosa situação de a luta ter mais praticantes fora da Turquia do que dentro dela. Apesar das semelhanças entre os estilos, lutadores turcos de shalvar gureshi não costumam migrar nem para a karakucak gureshi, nem para a luta olímpica, se orgulhando de defender uma luta tradicional turca com raízes culturais em sua região.
A última luta que veremos hoje é a kushak gureshi, que, de certa forma é a mais diferente: enquanto as outras três lutas regionais se originaram e hoje são praticadas em regiões do sul da Turquia, próximas à fronteira com a Síria e o Iraque, a kushak gureshi é praticada na região de Eskishehir, no norte, próxima à porção europeia da Turquia. A kushak gureshi teria nascido na Crimeia e sido levada por imigrantes da etnia tatar para a Turquia; por causa disso, na Turquia, fora de Eskishehir, ela também é conhecida como tatar gureshi. Ela também é praticada no Turcomenistão, na Romênia, onde por alguma razão é bastante popular, e nas repúblicas autônomas russas da Iacútia e do Tataristão.
A kushak gureshi é uma luta de cinturão; o uniforme dos lutadores consiste de um camisão de mangas curtas e gola em V, uma calça do mesmo tecido, ambos levemente folgados, e uma faixa do mesmo tecido, o cinturão, amarrado na cintura. No início da luta, um lutador segura o cinturão do outro com ambas as mãos, posicionando a mão direita pelo lado de dentro da faixa e a mão esquerda pelo lado de fora. Um lutador que solte qualquer uma das mãos, exceto se em decorrência de uma ordem do árbitro, é imediatamente desclassificado, com a vitória indo para o outro. Mas o objetivo principal da luta não é desclassificar o oponente, e sim derrubá-lo. Derrubar o oponente de forma que ambos os seus ombros toquem o chão simultaneamente resulta em vitória automática, mas derrubá-lo de forma com que ele caia de costas, de lado ou sentado também vale pontos. A luta dura três minutos, ao fim dos quais quem tiver mais pontos vence. Caso não haja um vencedor, é disputada uma prorrogação que dura até alguém pontuar. As categorias de peso são as mesmas da ashyrtmaly aba gureshi.
De todas as lutas tradicionais turcas da TGGF, a kushak gureshi é a mais ameaçada. Devido ao grande número de lutas de cinturão populares na Ásia, como o kurash, o alysh, o koresh e o guresh, muitos lutadores de kushak gureshi preferem participar de torneios internacionais dessas lutas ao invés de dos torneios regionais e nacional turcos, que, ano após ano, se veem esvaziados. Os maiores investimentos da TGGF, atualmente, são voltados à yagli gureshi, à ashyrtmaly aba gureshi e à shalvar gureshi, talvez por eles considerarem essas lutas mais legitimamente turcas que as demais. Muitos pedem para que, assim como a shalvar gureshi, a kushak gureshi possa ser disputada oficialmente em ambiente fechado, mas os puristas argumentam que ela então se tornaria muito parecida com as lutas de cinturão da Ásia Central, perdendo sua identidade. Talvez a inesperada popularidade da luta na Romênia seja boa para sua preservação.
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