domingo, 25 de junho de 2023

Escrito por em 25.6.23 com 0 comentários

Hope Sandoval

Ultimamente eu tenho tido muita vontade de escrever posts para a categoria Música, então decidi aproveitar para falar sobre cantores e bandas dos quais eu gosto mas que ainda não tinha abordado. Hoje, por exemplo, é dia de Hope Sandoval no átomo!

Hope Sandoval é filha de imigrantes mexicanos, e nasceu em 24 de junho de 1966 em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos. Seu pai era um açougueiro e sua mãe trabalhava em uma fábrica de batatas fritas; eles se separaram quando ela tinha 3 anos, e, desde então, ela foi criada pela mãe. Hope sempre teve muita dificuldade de socialização, principalmente por ser muito tímida, e detestava ir à escola. Aos 13 anos, ela decidiria que queria ser música, e aprenderia a tocar violão sozinha. Se interessando pela escola cada vez menos, ela decidiria abandonar os estudos no Ensino Médio; a escola ainda tentaria fazer com que sua mãe aceitasse que ela recebesse aulas em casa de um professor particular, mas Hope não aceitou de jeito nenhum, somente restando a seus pais se conformarem que ela não se formaria. Como ambos seus pais também não tinham o ensino médio, ficaram temerosos de que ela também só conseguiria empregos que pagassem pouco, mas o destino tinha outros planos para ela.

Após largar a escola, Hope formaria um dueto chamado Going Home com sua melhor amiga, Sylvia Gomez. Elas começariam a se apresentar em casas noturnas de Los Angeles, e conseguiriam um relativo sucesso, conseguindo abrir shows para o Sonic Youth e os Minutemen. Em busca de uma gravadora, as duas gravariam uma fita demo, e, em 1983, quando Hope tinha 17 anos, aproveitariam que tocaram na mesma noite que a banda The Dream Syndicate, uma de suas favoritas, para entregá-la à vocalista e baixista, Kendra Smith, uma de seus ídolos. Quem recebeu as meninas no camarim foi o namorado de Kendra, o guitarrista David Roback, então na banda Rain Parade. Roback ouviu a fita, adorou, e se ofereceu para fazer mais do que apresentar as meninas à gravadora: ele as convidaria para uma sessão de gravações em um estúdio profissional, atuando ele mesmo como guitarrista e chamando seu amigo Keith Mitchell para ser o baterista. Com sua "nova formação" contando com Hope, Sylvia, Mitchell e Roback, o Going Home gravaria seu primeiro e único álbum, que, infelizmente, jamais seria lançado, permanecendo inédito até hoje.

No final de 1983, Roback sairia da Rain Parade, Kendra sairia da The Dream Syndicate e, junto com Mitchell, formariam uma nova banda, chamada Clay Allison, que mudaria de nome em 1984 para Opal. Hope e Sylvia seguiriam fazendo shows em casas noturnas de Los Angeles enquanto a Opal viajava em turnê, até que, em dezembro de 1987, Kendra e Roback se desentenderiam, ela sairia no meio de um show (após quebrar seu baixo no palco) e desapareceria. Roback convenceria Hope a assumir os vocais da Opal, e ela faria os dois shows seguintes da turnê antes que Kendra voltasse e a expulsasse. Roback, que já não namorava mais Kendra e estava a fim de Hope (mesmo sendo 8 anos mais velho que ela), decidiria expulsar Kendra da banda e mandar Mitchell até a casa de Hope, para convencê-la a voltar. Hope seguiria em turnê com a Opal, e ela e Roback começariam a namorar.

Roback conseguiu expulsar Kendra porque, por assim dizer, ele era o "dono da banda", com o contrato da Opal com a gravadora Rough Trade tendo sido feito em nome dele. Esse contrato foi mantido após Kendra ser substituída por Hope, e previa o lançamento de um segundo álbum da Opal, cujas gravações já haviam começado quando Kendra saiu. Roback, então, colocou Hope para regravar as faixas já gravadas por Kendra, que haviam sido todas escritas por Roback e Kendra. Hope ficaria extremamente insatisfeita com esse arranjo, e diria a Roback que não ficaria na banda a menos que eles pudessem recomeçar e fazer um trabalho totalmente novo. Eles escreveriam sete faixas juntos, as apresentariam à gravadora e, em 1989, a Opal mudaria de nome para Mazzy Star, tendo em sua primeira formação Hope, Roback, Mitchell, a tecladista Suki Ewers, o violoncelista e violinista William Cooper (ambos também da Opal) e o baixista Paul Olguin.

O primeiro álbum da Mazzy Star, She Hangs Brightly, seria lançado pela Rough Trade em maio de 1990. Ele traria as únicas duas faixas originais da história da banda a não serem compostas por Hope e Roback, Ghost Highway, que seria o nome e a música de trabalho do cancelado segundo álbum da Opal, composta por Roback e Kendra e mantida no álbum por pressão da gravadora, e Give You My Lovin', composta por Sylvia e cantada em todas as apresentações do Going Home - Sylvia, inclusive, faz uma participação especial como violonista e backing vocal nessa faixa. As músicas de trabalho seriam Ghost Highway, Blue Flower (uma cover da banda Slapp Happy) e Halah. Blue Flower faria um relativo sucesso, alcançando a posição 29 na parada de música alternativa da Billboard, mas o álbum venderia apenas 70 mil cópias.

Pouco após o lançamento do álbum, a Rough Trade, que era britânica, decidiria encerrar todas as atividades de sua filial norte-americana, o que deixaria o Mazzy Star sem gravadora. Poucas semanas depois, entretanto, devido ao Mazzy Star ser presença recorrente nas rádios alternativas dos Estados Unidos, Roback seria abordado pela gravadora Capitol, que lhe ofereceria um contrato para três álbuns e mais o relançamento do primeiro. She Hangs Brightly seria relançado em novembro de 1990, mas, devido a dificuldades no processo criativo, o segundo álbum do Mazzy Star, So Tonight That I Might See, seria lançado apenas em setembro de 1993. Para o segundo álbum, a formação do Mazzy Star contaria com Hope, Roback, Michell, Cooper e o baixista Jason Yates.

So Tonight That I Might See teria duas músicas de trabalho, Into Dust e Fade Into You. Quase um ano após seu lançamento, Fade Into You faria um sucesso surpreendente e inesperado, alcançando a posição 44 no Top 100 da Billboard e a terceira posição na parada de música alternativa. O álbum venderia mais de um milhão de unidades, chegaria à posição 36 na lista dos mais vendidos, renderia um Disco de Platina e seria o responsável por apresentar a banda a quase todo mundo que conhece o Mazzy Star, inclusive eu. Após o sucesso de Fade Into You, Halah voltaria a ser pedida nas rádios e, de tanto tocar, alcançaria a posição 19 na parada de música alternativa.

Infelizmente, o Mazzy Star não conseguiria manter o sucesso em seu terceiro álbum, Among My Swan, lançado em outubro de 1996, que teve quatro músicas de trabalho: Flowers in December, Disappear, Happy e I've Been Let Down. A formação da banda para o terceiro álbum contaria com Hope, Roback, Mitchell, Cooper e a baixista Jill Emery. Among My Swan venderia apenas 214 mil cópias, mas isso seria suficiente para que ele entrasse para a lista dos mais vendidos, na posição 68; nenhuma de suas faixas entraria para a parada de sucessos nos Estados Unidos, mas Flowers in December chegaria à posição 40 no Top 100 britânico.

Após o lançamento de Among My Swan, o Mazzy Star sairia em uma turnê por Estados Unidos e Europa que duraria cinco meses, durante a qual Hope e Roback já começariam a trabalhar em canções para um quarto álbum, que estava previsto no contrato com a Capitol e sendo muito exigido pela gravadora, que não estava disposta a esperar mais três anos por ele. Hope mais uma vez ficaria extremamente insatisfeita com a situação, dizendo em entrevistas que bandas alternativas faziam as coisas em um ritmo próprio, mas as gravadoras, acostumadas com artistas que vendiam sete milhões de cópias por álbum, queriam aplicar a eles suas fórmulas mágicas, sem entender que isso não iria funcionar. Segundo funcionários da Capitol, Hope chegaria a "implorar" para que fosse liberada do contrato; como isso não acontecia, e como desde 1994 ela já não estava namorando Roback, ela decidiria sair da banda. Sem ela, Roback decidiria acabar com o Mazzy Star, e aproveitar a experiência que adquiriu produzindo os álbuns da banda para se tornar produtor.

O pivô da separação de Hope e Roback foi William Reid, da banda escocesa The Jesus and Mary Chain, a quem Hope conheceu durante a turnê de So Tonight That I Might See. Reid convidaria Hope para um dueto na faixa Sometimes Always, do álbum Stoned & Dethroned, de 1994, e, em troca, ela o convidaria para ser segundo guitarrista na faixa Take Everything, que entraria em Among My Swan; ela ainda gravaria uma segunda faixa com o The Jesus and Mary Chain, Perfume, do álbum Munki, de 1998. Curiosamente, Hope e Reid começariam a namorar pouco após o lançamento de Stoned & Dethroned, e terminariam pouco após o lançamento de Munki.

Enquanto namorava Reid, Hope viajava com frequência para o Reino Unido e, assim, conheceu Colm Ó Cíosóig, baterista da banda My Bloody Valentine. Hope e Colm ficaram amigos e começaram a escrever juntos várias canções, que ela planejava gravar com o Mazzy Star. Com o fim do Mazzy Star, eles começaram a discutir, meio que de brincadeira, a criação de uma nova banda, para que eles pudessem gravar essas canções. Hope não queria uma nova banda - ela é absurdamente tímida, ao ponto de, nas turnês, ao invés de ficar à frente da banda, cantar sentada em um cantinho, quase no escuro - mas queria muito gravar as novas canções; isso faria com que ela concordasse em sair em uma mini-turnê pela Europa com o Mazzy Star em 2000, na qual eles cantariam sucessos dos três primeiros álbuns e sete novas canções, dentre composições de Hope com Roback e de Hope com Colm.

Sempre que apresentava uma dessas novas canções, Hope dizia à plateia que elas estariam no quarto álbum do Mazzy Star, a ser lançado em breve. Conforme a turnê prosseguia, porém, ela veria que era impossível se reconciliar com Roback e com os termos da Capitol para gravar esse quarto álbum, e, ao final da turnê, conversaria a sério com Colm sobre a criação da nova banda. Para tentar convencê-la definitivamente, ele criaria o nome Hope Sandoval & The Warm Inventions. A rigor, a "banda" era formada apenas por Hope e Colm, embora o baixista Alan Browne também participasse de todas as músicas, inclusive co-escrevendo algumas; os demais músicos seriam contratados para gravações ou shows.

O primeiro lançamento da Hope Sandoval & The Warm Inventions seria um EP, At the Doorway Again, em outubro de 2000, produzido pela própria banda, contendo quatro faixas e lançado exclusivamente no Reino Unido e Irlanda pela Rough Trade, que ficou mais do que satisfeita em ter Hope de volta em seu catálogo. O lançamento limitado faria com que as vendas fossem baixas, mas a crítica especializada ficaria encantada com o EP, principalmente porque ele não se distanciaria do estilo que havia consagrado Hope na Mazzy Star.

O primeiro álbum de Hope Sandoval & The Warm Inventions, Bavarian Fruit Bread, seria lançado pela Rough Trade na Europa e pela Sanctuary nos Estados Unidos um ano depois, em outubro de 2001, e, curiosamente, não agradaria à crítica por ser muito diferente do que Hope fazia no Mazzy Star. O álbum estrearia na posição 39 da parada de novidades da Billboard, mas só ficaria lá uma semana. Uma das faixas, Drop, seria um cover do Jesus and Mary Chain, e várias delas seriam composições de Hope de antes de ela entrar para o Mazzy Star, incluindo Suzanne, única música de trabalho do álbum. Suzanne também seria o título de um segundo EP, de setembro de 2002, mais uma vez lançado pela Rough Trade exclusivamente no Reino Unido e Irlanda, que continha a faixa-título e mais quatro inéditas.

O pouco sucesso do álbum faria com que Hope decidisse por dar um tempo da banda, durante o qual ela se dedicaria a parcerias com outros artistas, nos moldes das duas faixas que gravou com o Jesus and Mary Chain e de Asleep from Day, que ela gravaria com os Chemical Brothers em 1999. Após o lançamento de Suzanne, ela estaria em Killing Smile e Help Yourself, do Death in Vegas; All This Remains, de Bert Jansch (que foi guitarrista convidado em duas faixas de Bavarian Fruit Bread); Cherry Blossom Girl, do Air; Angels' Share, do Vetiver; e Harmony e Papillon de Nuit, do Le Volume Courbe.

Em 2007, ela e Colm decidiriam se reunir novamente para trabalhar em um segundo álbum, Through the Devil Softly, que seria lançado pela gravadora Nettwerk em setembro de 2009. O som do álbum seria descrito como "sombrio", "complexo" e "intrincado", e faria bastante sucesso junto à crítica, embora as vendas não tenham sido tão boas. O álbum mais uma vez teria apenas uma música de trabalho, Wild Roses, e seu lançamento seria seguido de uma turnê pelo Reino Unido e Irlanda.

Anos antes, em 2003, Hope e Colm participariam de um concerto especial pelos 60 anos de Jansch, para o qual Roback também seria convidado. Hope e Roback voltariam a conversar, acreditando ser possível lançar mais um álbum do Mazzy Star em um futuro próximo. Durante a turnê de Through the Devil Softly, Hope anunciaria a volta do Mazzy Star, e, após a turnê, ela e Roback se reuniriam para lançar um single inédito, Common Burn / Lay Myself Down. Em 2012, com uma formação que contava com Hope, Roback, Mitchell, Colm (no baixo), Suki e os guitarristas Josh Yenne e Paul Mitchell (filho de Keith), o Mazzy Star sairia em sua primeira turnê em mais de dez anos, fazendo shows na Califórnia, Reino Unido e Irlanda.

Ao fim dessa turnê, eles lançariam seu quarto álbum, Seasons of Your Day, que contava com a participação especial de Jansch, Olguin e do guitarista Stephen McCarthy. Lançado pela pequena gravadora independente Rhymes of An Hour em setembro de 2013, o álbum teria uma única música de trabalho, California, mas contaria com Common Burn e Lay Myself Down, e duas outras faixas, Seasons of Your Day e Sparrow, seriam lançadas em um single de edição limitada, exclusivamente em vinil. O álbum seria um grande sucesso de crítica, com elogios sendo feitos especialmente à qualidade das letras, e venderia bem, alcançando a posição 42 no Top 100 da Billboard e a posição 24 na parada de álbuns britânicos, além de figurar entre os dez primeiros em outras duas listas da Billboard (quinta posição na de álbuns independentes, oitava na de álbuns alternativos).

Após a turnê de lançamento de Seasons of Your Day, Hope e Colm retornariam ao Warm Inventions, que também lançaria um single edição limitada em vinil, Isn't It True, em abril de 2016, com participação especial do guitarista Jim Putnam, da banda Radar Bros. O terceiro álbum de Hope Sandoval & The Warm Inventions, Until the Hunter, também contaria com a participação de Putnam, além dos multi-instrumentistas Kurt Vile e Michael Masley e da cantora folk Mariee Sioux. Lançado pela gravadora independente Tendril Tales em novembro de 2016, o álbum teria mais uma vez apenas uma música de trabalho, Let Me Get There, e alcançaria a posição 14 tanto na lista dos álbuns independentes quanto na dos álbuns alternativos mais vendidos da Billboard. Em setembro de 2017, a banda lançaria seu terceiro EP, Son of a Lady, exclusivamente em vinil, mas com todas as suas quatro faixas estando disponíveis para download digital.

Após a turnê de lançamento de Until the Hunter, Hope voltaria a conversar com Roback, sobre o lançamento de um quinto álbum do Mazzy Star. Os planos seriam interrompidos pela morte de Keith Mitchell, em maio de 2017. Em junho de 2018, eles aceitariam tocar no festival Vivid Live, em Sydney, Austrália, no que acabaria sendo o último show do Mazzy Star; no mesmo mês, haveria o último lançamento da banda, o EP Still, dedicado a Mitchell, que trazia três faixas inéditas e uma nova versão de So Tonight I Might See. Depois disso, Roback descobriria um câncer, e, muito debilitado, não conseguiria mais fazer shows e diminuiria seu trabalho como compositor. Roback faleceria em fevereiro de 2020; sem ele e sem Mitchell, Hope decidiria aposentar de vez o nome Mazzy Star, jamais voltando a usá-lo em um show.

Além de estar em duas bandas, Hope seguiria com suas colaborações, estando em Paradise Circus, Four Walls e The Spoils, do Massive Attack; Not at All, do Dirt Blue Gene; I Don't Mind, do Psychic Ills; Big Boss, do Mercury Rev; e I'll Walk With You, de Elizabeth Hart, por enquanto seu último trabalho lançado. Ela e Colm seguem amigos, mas ela não tem planos para lançar um novo álbum ou sair em uma nova turnê com os Warm Inventions. Aos 57 anos, vive em quase isolamento na cidade de Berkeley, Califórnia, e se considera parcialmente aposentada, mas, sendo uma pessoa que faz tudo em seu próprio ritmo e leva anos entre um lançamento e outro, não podemos descartar que de repente ela decida voltar à ativa.

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