domingo, 27 de novembro de 2022

Escrito por em 27.11.22 com 0 comentários

Parapan / Paracommonwealth

Lá no início do ano, quando eu fiz os posts sobre os Jogos Panamericanos e os Jogos da Commonwealth, pensei em falar também sobre suas versões voltadas aos atletas com deficiência, mas, como ambos os posts acabaram ficando grande demais, e eu já tinha pensado em fazer um no mesmo estilo sobre as Paralimpíadas, decidi que falaria sobre esses torneios quando falasse sobre as Paralimpíadas. Só que o post das Paralimpíadas também ficou grande demais, e eu decidi que faria um separado sobre as Paralimpíadas de Inverno; assim, os outros dois torneios paralímpicos ficariam faltando de novo a menos que eu resolvesse fazer posts separados pra eles também. Para economizar, resolvi juntar os dois em um post só. Que é esse que vocês lerão hoje.

Vamos começar por aquele que é mais antigo, e que hoje já não existe, os Jogos Paraplégicos da Commonwealth, versão paralímpica dos Jogos da Commonwealth, sobre os quais eu falei em março. Os Jogos Paraplégicos da Commonwealth foram criados pelo Dr. George Bedbrook, responsável pela ala de paraplégicos do Royal Perth Hospital, amigo do Dr. Ludwig Guttman, e responsável pela introdução do esporte paralímpico na Austrália. Quando Perth foi escolhida como sede dos Jogos da Commonwealth de 1962, o Dr. Bedbrook apresentou ao comitê organizador local o planejamento para um torneio nos mesmos moldes dos Jogos de Stoke Mandeville, mas apenas com a participação de países filiados à CGF, o órgão responsável pelos Jogos da Commonwealth. A proposta foi aceita, e os membros da CGF foram oficialmente convidados; para todos os efeitos, porém, o torneio não teria o envolvimento da CGF, ficando a cargo de uma comissão reunida pelo Dr. Bedbrook e do comitê organizador local.

O presidente dessa comissão seria Hugh Leslie, amputado de uma perna, membro do Parlamento australiano e defensor do esporte como forma de reabilitação para pessoas com deficiência. Para convencer os países a participar, ele faria uma lei segundo a qual o governo australiano pagaria todos os custos das delegações, incluindo as passagens aéreas e o transporte em solo australiano; essa lei seria controversa porque muitos acreditaram que ela poderia impactar a realização dos Jogos da Commonwealth, mas o público dos Jogos Paraplégicos da Commonwealth surpreendentemente seria tão bom que o evento daria lucro para o governo australiano, mesmo com a ajuda de custo. Infelizmente, como na época o esporte paralímpico ainda não era muito difundido, e a Austrália ficava muito longe, o que representava uma longa viagem mesmo com a ajuda de custo, apenas nove delegações se animaram a enviar atletas; por outro lado, Leslie conseguiria um contrato inédito para transmissão por rádio e TV de quase todo o programa, com australianos e neozelandeses podendo acompanhar as provas ao vivo, e os europeus tendo acesso a vários VTs.

Os I Jogos Paraplégicos da Commonwealth, nome também criado pelo Dr. Bedbrook, seriam realizados em Perth entre 10 e 17 de novembro de 1962, terminando cinco dias antes do início dos Jogos da Commonwealth. Participariam 93 atletas, sendo 21 mulheres, de 9 delegações, competindo em 88 provas de 10 esportes: atletismo, basquete em cadeira de rodas, dartchery, esgrima em cadeira de rodas, levantamento de peso, natação, pentatlo, sinuca, tênis de mesa e tiro com arco. Assim como nos Jogos de Stoke Mandeville e nas Paralimpíadas da época, todos os esportes foram disputados exclusivamente por cadeirantes. Muitos atletas competiriam em vários esportes diferentes, como o australiano Frank Ponta, que competiu na natação, esgrima, basquete e pentatlo (cujas cinco provas eram tiro com arco, natação 50 m Crawl, arremesso de bastão, arremesso de peso e lançamento de dardo); isso ocorreu porque as delegações priorizaram atletas que praticassem mais de um esporte, para que tivessem um tamanho reduzido. No quadro de medalhas, a Austrália anfitriã viria em primeiro, com a Inglaterra em segundo, e então Rodésia, Escócia, Nova Zelândia, País de Gales e Índia; somente Irlanda do Norte, que só enviou dois atletas, e Cingapura, que só enviou um, ficaram sem medalhas, com todos os outros conseguindo pelo menos uma medalha de ouro. O melhor desempenho seria o da Rodésia, que ganharia 23 medalhas, sendo 15 de ouro, com apenas 4 atletas.

Diferentemente das Paralimpíadas de 1960, os Jogos Paraplégicos da Commonwealth de 1962 não usariam as mesmas instalações dos Jogos da Commonwealth do mesmo ano, exceto pela natação, já que o Beatty Park, construído para os Jogos da Commonwealth, era o único local da cidade adequado para a realização das provas. A ideia inicial era que as demais provas fossem realizadas no Shenton Park, um anexo do Ryal Perth Hospital, mas ela logo seria abandonada por falta de locais próximos para acomodação dos atletas. Todas as competições, exceto a já citada natação, acabariam sendo realizadas no Royal Agricultural Showground, no subúrbio de Claremont, que contava com duas vantagens: locais para acomodação de todos os atletas e todos os locais de competição sendo planos, sem a necessidade de que os atletas subissem rampas ou escadas. O Royal Agriculture Showground não contava com uma quadra de basquete, o que foi resolvido com a montagem de uma quadra completa, com piso de madeira profissional, sobre a areia de uma das arenas de exibição, em frente a uma gigantesca arquibancada. A prefeitura de Perth faria um acordo com as companhias de táxi e de carros de aluguel da cidade, para que eles transportassem gratuitamente os atletas que fossem competir no Beatty Park; o trajeto entre o aeroporto e os locais de acomodação seria feito por ônibus do Royal Perth Hospital e da Cruz Vermelha, com um caminhão sendo alugado apenas para levar as cadeiras de rodas.

A primeira edição dos Jogos Paraplégicos da Commonwealth foi considerada um grande sucesso, responsável por mudar a forma como o público australiano via não somente os atletas com deficiência, mas as pessoas com deficiência em geral. O público superaria até o dos tradicionais Jogos de Stoke Mandeville, surpreendendo o Dr. Guttman, que esteve presente em todos os dias de competição. O evento também seria apontado como fundamental para o desenvolvimento do esporte paralímpico australiano, e faria com que o Dr. Bedbrook se tornasse membro da ISMGF, a organização que, na época, era responsável pelos Jogos de Stoke Mandeville e pelas Paralimpíadas; em 1964, logo após as Paralimpíadas de Tóquio, ocorreria uma reunião na qual o número de membros da ISGF aumentaria bastante, com o Dr. Bedbrook conseguindo convencer quatro outras nações, além da Austrália, a se filiar.

O sucesso da primeira edição motivaria a CGF a ela mesma organizar uma segunda, em Kingston, capital da Jamaica. Os II Jogos Paraplégicos da Commonwealth começariam exatamente no dia seguinte ao encerramento dos Jogos da Commonwealth de 1966, também realizados em Kingston, ocorrendo entre 14 e 20 de agosto; o atletismo e a natação seriam disputados nas mesmas instalações dos Jogos, o Estádio Nacional e a Universidade das Índias Ocidentais, mas os demais esportes não, com inclusive a esgrima, o levantamento de peso e o tênis de mesa sendo disputados no mesmo complexo onde os atletas ficaram hospedados, em Mona. Participariam 94 atletas, sendo 22 mulheres, de 10 delegações, que competiriam em 120 provas de 10 esportes, os mesmos da edição anterior, e, mais uma vez, exclusivamente para cadeirantes. No quadro de medalhas, a primeira seria a Inglaterra, e depois, na ordem, viriam Austrália, Escócia, Jamaica, Irlanda do Norte, Nova Zelândia, Fiji, País de Gales, Trinidad e Tobago e Canadá; dessa vez, todos os participantes ganhariam pelo menos uma medalha, mas somente os sete primeiros ganhariam pelo menos um ouro.

Infelizmente, a segunda edição dos Jogos Paraplégicos da Commonwealth não seria um sucesso como a primeira. Sem a ajuda de custo, a Rodésia, maior sensação da primeira edição, decidiria não participar; os atletas tiveram dificuldade para sair dos alojamentos e chegar aos locais de competição; não houve cobertura de rádio ou TV, e a cobertura da imprensa escrita foi mínima; e o público não se animou, sendo baixo em todas as competições. Ainda assim, o evento já estava estabelecido no calendário da CGF, de forma que os III Jogos Paraplégicos da Commonwealth foram programados para 1970, em Edimburgo, Escócia. Assim como a edição anterior, essa começaria exatamente no dia seguinte ao encerramento dos Jogos da Commonwealth, ocorrendo entre 26 de julho e 1 de agosto.

Em termos de participação, a terceira edição ganharia mais de uma centena de atletas: ao todo, seriam 197, incluindo 52 mulheres, mais uma vez todos cadeirantes, representando 14 delegações em 150 provas de 11 esportes - o levantamento de peso ficaria de fora, mas estreariam o tiro esportivo e os lawn bowls. Os atletas seriam acomodados em alojamentos do Ministério da Defesa no subúrbio de Turnhouse, e contariam com 14 ônibus adaptados dirigidos por voluntários para pegá-los e levá-los aos locais de competição e ao aeroporto. Quase todos os esportes usariam instalações dos Jogos da Commonwealth, como a Royal Commonwealth Pool, da natação, a Redcraig Shooting Range, do tiro esportivo, o Lochend Bowling Green, dos lawn bowls, e o complexo do Meadowbank Stadium, onde seriam disputados todos os outros; somente o dartchery e a prova de lançamento de dardo em precisão do atletismo seriam disputados no próprio local dos alojamentos dos atletas. No quadro de medalhas, o Top 6 seria composto por Inglaterra, Austrália, Escócia, Jamaica, Nova Zelândia e País de Gales; Irlanda do Norte, Uganda, Índia e Trinidad e Tobago ganhariam pelo menos uma medalha de ouro cada; Malta e Malásia, ambas em sua primeira participação, ganhariam pelo menos uma prata, e somente o Canadá (que na edição anterior só ganhou um bronze) e Hong Kong ficariam sem medalhas.

Apesar de todo o esmero da organização e do aumento no número de atletas e de delegações, mais uma vez o interesse do público seria baixo, com várias provas contando com enormes "buracos" nas arquibancadas. A BBC e a ITV ficariam responsáveis pela transmissão em rádio e TV, mas seriam criticadas pelo baixo número de eventos transmitidos ao vivo e pela falta de boletins diários dos resultados das competições. Mas o pior, na opinião da CGF, foi que o evento ganhou o apelido, na boca do povo e mais tarde na imprensa britânica, de The Little Games ("Os Pequenos Jogos"), algo que o órgão considerava inconcebível; após muitos protestos, a imprensa deixaria de usar o apelido, mas, talvez porque Jogos Paraplégicos da Commonwealth era um nome muito comprido, passaria a chamar o evento de Wheelchair Games, os "Jogos em Cadeira de Rodas".

O golpe de misericórdia para os Jogos Paraplégicos da Commonwealth ocorreria na edição de 1974: nesse ano, os Jogos da Commonwealth ocorreriam em Christchurch, na Nova Zelândia, que alegou não ser capaz de sediar ambos os eventos. Após muita negociação, a CGF conseguiria que os Jogos Paraplégicos fossem sediadas por outra cidade neozelandesa, Dunedin, mas, por motivos de logística, assim como na primeira edição, os Jogos Paraplégicos seriam realizados antes dos Jogos da Commonwealth. Esse seria o evento mais esvaziado de todos, com baixíssimo público e praticamente sem cobertura nenhuma da imprensa; a prefeitura de Dunedin, pelo menos, se esforçaria para diminuir as dificuldades de transporte dos atletas, alojando-os na Universidade de Otago, onde ocorreriam grande parte das competições, e fornecendo ônibus adaptados para transportá-los para os demais locais, como o Caledonian Sports Ground, a Moana Pool e o Logan Park. Paralelamente às competições, ocorreria uma mostra de artes e artesanato dos participantes no Otago Museum.

Os IV Jogos Paraplégicos da Commonwealth seriam realizados em Dunedin entre 13 e 19 de janeiro, se encerrando cinco dias antes do início dos Jogos da Commonwealth em Christchurch. Competiriam 229 atletas, sendo 54 mulheres, mais uma vez todos cadeirantes, representando 13 delegações em 150 provas de 12 esportes - com o levantamento de peso retornando ao programa. Essa seria a primeira e única edição a contar com a presença de Participantes Independentes, três atletas nascidos em países que não eram da Commonwealth, mas moravam e treinavam na Nova Zelândia, e competiram sob a bandeira da CGF a convite do comitê organizador local. Como era comum nos Jogos Paraplégicos da Commonwealth, a maioria dos atletas competiu em mais de um esporte; dessa vez, o maior destaque foi a inglesa Caz Bryant, que competiu no atletismo, pentatlo, tênis de mesa e esgrima, e, sozinha, ganhou 5 ouros, uma prata e um bronze. A Austrália voltaria ao topo do quadro de medalhas, mas teria apenas um ouro a mais que a Inglaterra, segunda colocada. A Nova Zelândia anfitriã viria em terceiro, seguida por Jamaica, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, todos esses ganhando pelo menos um ouro. Os participantes independentes ganhariam duas pratas e um bronze; Hong Kong, Quênia e Malásia ganhariam pelo menos uma prata, Cingapura ganharia só um bronze, e Fiji e Índia ficariam sem medalhas - curiosamente, no quadro de medalhas geral, considerando as quatro edições do evento, não há delegação sem medalha nenhuma.

Após a edição de 1974, Bedbrook, que era presidente do comitê da CGF responsável pelos Jogos Paraplégicos da Commonwealth, recomendaria seu cancelamento, alegando falta de interesse do público e da imprensa, e temendo que, no futuro, as cidades-sede dos Jogos da Commonwealth fizessem como Christchurch e não quisessem sediar Jogos Paraplégicos, o que faria com que o evento fosse cada vez mais esvaziado - um dos fatores que motivou esse temor foi que os Jogos da Commonwealth de 1978 seriam realizados no Canadá, país que nunca teve bons resultados nos Jogos Paraplégicos.

Após o cancelamento dos Jogos Paraplégicos da Commonwealth, Bedbrook passaria a defender a inclusão de provas paralímpicas nos Jogos da Commonwealth; ele faleceria em 1991, aos 70 anos, e não veria isso acontecer: em 1994, seis provas, sendo duas do atletismo, duas da natação e duas dos lawn bowls, seriam incluídas como esportes de demonstração nos Jogos da Commonwealth, e, em, 2002, provas do atletismo, natação e tênis de mesa seriam incluídas como parte do programa, com os atletas com deficiência dividindo alojamentos e locais de competição com atletas sem deficiência, e suas medalhas contando para o quadro normalmente, o que se tornaria praxe nas edições seguintes. Na última edição dos Jogos da Commonwealth, em 2022, fizeram parte do programa provas paralímpicas do atletismo, natação, lawn bowls, powerlifting, ciclismo, tênis de mesa e triatlo, o que faz com que os Jogos da Commonwealth sejam considerados o torneio multiesportivo mais inclusivo do planeta.

Vamos passar agora para os Jogos Parapanamericanos. A primeira vez em que se realizou um torneio multiesportivo para atletas com deficiência com a participação de vários países das Américas foi em 1967, em Winnipeg, no Canadá, quando, entre 8 e 12 de agosto, 161 atletas cadeirantes de 7 países (Canadá, Estados Unidos, México, Argentina, Jamaica, Peru e Trinidad e Tobago) competiram em 38 provas de 10 esportes: atletismo, basquete em cadeira de rodas, dartchery, levantamento de peso, natação, sinuca, tênis de mesa, tiro com arco, tiro esportivo e vôlei sentado. Esse torneio ficaria conhecido como Jogos Paraplégicos Panamericanos, e seria organizado pela Associação Canadense de Esportes para Cadeirantes (CPA), que, inspirada nas Paralimpíadas e nos Jogos Paraplégicos da Commonwealth, que já haviam tido duas edições cada, planejava criar uma competição panamericana para cadeirantes, que seria realizada a cada quatro anos, sempre junto com os Jogos Panamericanos.

Apesar do pouco tempo para organizar o evento, já que começaria seus preparativos apenas em setembro de 1966, a CPA seria extremamente bem sucedida, conseguindo autorização para usar as mesmas instalações do Pan, que ocorreu em 1967 também em Winnipeg, com os Jogos Paraplégicos Panamericanos começando dois dias após a cerimônia de encerramento do Pan. Essa primeira edição do evento foi considerada um grande sucesso em termos de público e participação dos atletas, mas, infelizmente, dois fatores contribuíram para que o plano de que os Jogos Paraplégicos Panamericanos ocorressem sempre junto aos Jogos Panamericanos falhasse: a falta de um órgão centralizado para organizá-lo e a falta de associações voltadas ao esporte para deficientes nas Américas - já a edição seguinte do Pan, por exemplo, seria realizada na Colômbia, país no qual o esporte para deficientes ainda estava em formação. Por causa disso, os torneios panamericanos para atletas com deficiência eram realizados "quando dava", sem nenhuma ligação com o Pan, e apenas em sedes dispostas a abrigá-los - entre 1968 e 1994, seriam realizados nove desses torneios, nenhum deles recebendo destaque na imprensa.

Com a fundação do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), em 1989, houve uma esperança de que a ideia dos Jogos Paraplégicos Panamericanos finalmente pudesse vingar, mas agora tendo em seu programa esportes voltados a atletas com diferentes tipos de deficiência, como ocorria com as Paralimpíadas. Mas essa ideia ainda esbarraria no fato de que, quase dez anos após a fundação do IPC, a maioria dos países das Américas ainda não tinha estabelecido seus comitês paralímpicos nacionais - quase todos eles, inclusive, só tinham federações esportivas que regulavam esportes para cadeirantes ou deficientes visuais, ficando os demais atletas com deficiência sem ter como competir. Uma das exceções era a Argentina, que, aproveitando que os Jogos Panamericanos de 1995 aconteceriam em seu solo, na cidade de Mar del Plata, aproveitaria para organizar também três torneios voltados para atletas com deficiência: os Jogos Panamericanos em Cadeira de Rodas, em setembro, e os Jogos Panamericanos para Cegos, em novembro, ambos em Buenos Aires, e os Jogos Panamericanos dos Deficientes, também em Mar del Plata, mas em dezembro, enquanto os Jogos Panamericanos haviam sido realizados em março.

Durante os Jogos Panamericanos dos Deficientes, dirigentes da Argentina, México e Estados Unidos decidiriam unir forças e convidariam os demais comitês paralímpicos já estabelecidos nas Américas, dentre eles o Brasil, para uma reunião na cidade de Atlanta, Estados Unidos, que ocorreria dois anos depois, em 1997. Nessa reunião seria fundado o Comitê Paralímpico das Américas (APC), que ficaria responsável por incentivar e auxiliar na fundação dos demais comitês paralímpicos nacionais das Américas. Trabalhando em conjunto com o IPC e a ODEPA, o APC também conseguiria marcar a primeira edição dos Jogos Parapanamericanos para dali a dois anos, em 1999, ano que também teria uma edição dos Jogos Panamericanos, ficando estabelecido que, assim como as Olimpíadas e Paralimpíadas, os Jogos Panamericanos e Jogos Parapanamericanos seriam realizados sempre no mesmo ano - finalmente cumprindo o que a CPA havia tentado realizar trinta anos antes.

Nessa mesma reunião também seria escolhido o primeiro Presidente do APC, o argentino José Luis Campo, que comandaria a entidade de 1997 a 2005, quando seria substituído pelo brasileiro Andrew Parsons. Parsons seria presidente do APC somente entre 2005 e 2009, quando decidiria se candidatar à presidência do Comitê Paralímpico Brasileiro, cargo que ocupou de 2009 a 2017, quando se elegeu presidente do IPC. No APC, Parsons seria sucedido pelo colombiano Octavio Londoño, que também ficaria apenas por quatro anos, com Campo assumindo o cargo novamente em 2013. Campo faleceria de repente em 2017, tendo um ataque cardíaco fulminante enquanto participava de uma caminhada para arrecadar fundos para organizações que auxiliavam crianças com câncer, e seria substituído interinamente pela norte-americana Julie Dussliere, que acabaria ficando no cargo até 2019, quando seria escolhido o atual presidente, o colombiano Julio César Ávila Sarria.

Os Jogos Panamericanos de 1999 ocorreriam em Winnipeg, Canadá, mas o APC decidiria realizar os I Jogos Parapanamericanos na Cidade do México, entre 4 e 14 de novembro, começando quase três meses depois do encerramento do Pan. Participariam por volta de mil atletas, representando 18 nações em 378 provas de 4 esportes: atletismo, basquete em cadeira de rodas, natação e tênis de mesa. O Brasil teria como maior destaque Ádria Santos, 3 ouros no atletismo, e se sairia muito bem, terminando na segunda posição do quadro de medalhas com 92 ouros, 55 pratas e 33 bronzes. O México anfitrião ficaria no topo, e o restante do Top 5 seria formado por Argentina, Estados Unidos e Cuba. Dos 18 países participantes, 15 ganhariam pelo menos uma medalha - e todos os 15 ganhariam pelo menos uma de ouro - somente voltando para casa de mãos vazias Barbados, Honduras e Panamá.

A edição seguinte dos Jogos Panamericanos, em 2003, ocorreria em Santo Domingo, República Dominicana, que foi procurada pelo APC para sediar também o Parapan, mas diria não ter interesse. Campo, então, arranjaria para que os II Jogos Parapanamericanos fossem realizados em Mar del Plata, inclusive usando algumas das instalações do Pan de 1995, reformadas especialmente para o evento. O Parapan de 2003 ocorreria entre 29 de novembro e 10 de dezembro, começando mais de três meses após o término do Pan, e mais uma vez contaria com a presença de cerca de mil atletas, que representariam 28 nações em 303 provas de 9 esportes - estreariam bocha, ciclismo, equitação, esgrima em cadeira de rodas, tênis em cadeira de rodas e vôlei sentado, mas o tênis de mesa ficaria de fora; curiosamente, o número de esportes aumentou, mas o de provas diminuiu, já que a primeira edição contou com muito mais provas de atletismo e natação que a segunda. O topo do quadro de medalhas ficaria mais uma vez com o México; o Brasil terminaria mais uma vez na segunda posição, com 81 ouros, 53 pratas e 31 bronzes, e o Top 5 se completaria com a anfitriã Argentina, Venezuela e Canadá, com os Estados Unidos vindo apenas em sexto. Ádria Santos conquistaria um ouro e uma prata, mas os dois maiores destaques do Brasil viriam da natação: Fabiana Sugimori ganharia 5 ouros, e Clodoaldo Silva, 4 ouros e 1 prata.

O Brasil sempre foi um grande incentivador dos esportes para deficientes, e, quando o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar os Jogos Panamericanos de 2007, Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Organizador, prontamente negociou com o APC um acordo para que não somente os III Jogos Parapanamericanos ocorressem também no Rio de Janeiro, mas também para que o Parapan usasse as mesmas instalações do Pan, inclusive com os atletas ficando hospedados na Vila Panamericana, que foi construída para ser totalmente acessível e inclusiva, e ambos os eventos fossem realizados em datas bem próximas, para manter o interesse do público - o Pan seria realizado entre 13 e 29 de julho, o Parapan entre 12 e 19 de agosto. Parsons, já em campanha para a presidência do APC, e Nuzman também costurariam um acordo entre o APC e a ODEPA, segundo o qual, a partir da edição de 2007, cada cidade escolhida para sediar o Pan automaticamente também se tornaria sede do Parapan, só podendo se candidatar se concordasse em sediar ambos os eventos.

O entusiasmo dos brasileiros era tanto que o comitê organizador do Parapan criou até mesmo o revezamento da Tocha Parapanamericana, que não aconteceu nem em 1999, nem em 2003 - o revezamento da Tocha Panamericana ocorre desde a primeira edição, em 1951, com o fogo sendo aceso em uma cerimônia azteca na Pirâmide do Sol, no México (exceto em 1963, quando o Pan foi realizado em São Paulo e o fogo foi aceso em Brasília por indígenas guaranis) e levado em revezamento até a cidade-sede. A primeira Tocha Parapanamericana foi acesa no Aterro do Flamengo, no próprio Rio de Janeiro, na Chama Eterna, um fogo que queima permanentemente no local representando o sacrifício dos combatentes que morreram durante a Segunda Guerra Mundial, no próprio dia da Cerimônia de Abertura do Parapan de 2007, e seu revezamento durou apenas 20 km; desde então, ficaria acertado que, ao contrário do que ocorre com a Tocha Panamericana (e com a Tocha Olímpica, que sempre é acesa na Grécia), cada país-sede pode escolher em qual lugar vai acender sua Tocha Parapanamericana, bem como definir livremente o trajeto de seu revezamento.

O Parapan de 2007 contou com a participação de 1115 atletas representando 25 nações em 254 provas de 10 esportes - bocha, ciclismo, equitação e esgrima em cadeira de rodas seriam removidos, mas o tênis de mesa retornaria, e estreariam futebol de cinco, futebol de sete, judô e powerlifting. O Brasil chegaria o topo do quadro de medalhas para não mais sair, com 83 ouros, 68 pratas e 77 bronzes, mais que o dobro de pódios do segundo colocado Canadá, 228 a 112; o restante do Top 5 contaria com Estados Unidos, México e Cuba. Os maiores destaques do Brasil viriam mais uma vez da natação: Daniel Dias, oito ouros em oito provas disputadas, e Clodoaldo Silva, sete ouros e sete recordes mundiais, além de uma prata. Ainda na natação, André Brasil ganharia seis ouros, uma prata e um bronze, e Fabiana Sugimori ficaria com dois ouros, uma prata e um bronze. No atletismo, Yohansson Nascimento, Lucas Prado e Odair Santos ganhariam três ouros cada, enquanto Ariosvaldo Fernandes e Terezinha Guilhermino ficariam com dois ouros e uma prata cada. No judô, Antônio Tenório seria ouro na categoria até 100 kg; Karla Cardoso, na até 48 kg; e Daniele Silva, na até 63 kg; no powerlifting, Alexander Whitaker seria ouro na até 67 kg; Maurício Pômme e Carlos Santos seriam ouro nas duplas do tênis em cadeira de rodas; e as seleções de futebol de cinco, futebol de sete e vôlei sentado masculino também conquistariam a medalha de ouro. Vale citar também o tênis de mesa, 11 ouros em 24 provas, além de 7 pratas e 8 bronzes.

Em 2011, o Parapan retornaria ao México, sendo realizado na cidade de Guadalajara, mesma sede do Pan, e disputado entre 12 e 20 de novembro, começando cerca de 15 dias após o fim do Pan. Participariam 1355 atletas de 24 nações, competindo em 276 provas de 13 esportes - o futebol de sete sairia, bocha e ciclismo retornariam, e golbol e tiro com arco estreariam. O Brasil ficaria pela segunda vez no topo do quadro de medalhas, com 81 ouros, 61 pratas e 55 bronzes; os Estados Unidos viriam em segundo, e o anfitrião México em terceiro, com Cuba e Argentina fechando o Top 5. Daniel Dias, da natação, seria mais uma vez o maior destaque brasileiro, com 11 medalhas de ouro em 11 provas disputadas. Também na natação, André Brasil teria 6 ouros, Vanilton Filho 4 ouros e 1 bronze, e Joana Silva conquistaria 4 ouros; reclassificado da S4 para a S5, Clodoaldo Silva conquistaria 2 ouros e 4 pratas. No atletismo, o destaque seriam as mulheres, com Terezinha Guilhermino conquistando 3 ouros, Shirlene Coelho 2 ouros e 1 prata, e Jenifer Santos 2 ouros; Edson Pinheiro, Ariosvaldo Fernandes e Thierb Siqueira conquistariam 2 ouros e 1 prata cada, e Yohansson Nascimento conseguiria 2 ouros e 1 bronze. Soelito Gohr conseguiria 2 ouros, 1 prata e 1 bronze no ciclismo, e Karla Ferreira repetiria seu ouro no judô, mas Antônio Tenório acabaria ficando com a prata. O vôlei sentado masculino, golbol masculino e futebol de cinco também subiriam ao lugar mais alto do pódio, e o tênis de mesa somaria 12 ouros, 6 pratas e 6 bronzes, vencendo metade das provas em disputa.

Os V Jogos Parapanamericanos seriam realizados em Toronto, Canadá, entre 7 e 15 de agosto de 2015, mais uma vez começando cerca de 15 dias após o Pan. Essa seria a primeira edição do Parapan a contar com um mascote, mas ele seria o mesmo do Pan, o porco-espinho Pachi. O revezamento da Tocha Panamericana contaria não com uma, mas com duas tochas: a primeira seria acesa nas Cataratas do Niágara e a segunda na capital canadense, Ottawa, e cada uma percorreria diferentes cidades da província de Ontário, onde se localiza Toronto, até ambas se encontrarem na Cerimônia de Abertura e serem usadas de forma conjunta para acender a pira. Ao todo, 1651 atletas de 28 nações competiriam em 317 provas de 15 esportes - o futebol de sete retornaria, e a novidade seria o rugby em cadeira de rodas.

O Brasil, que levou a maior delegação dentre todas as nações participantes, seria mais uma vez o primeiro colocado do quadro de medalhas, com 109 ouros, 74 pratas e 74 bronzes, conquistando mais que o dobro de ouros do Canadá anfitrião, que viria em segundo com 50; o Top 5 se completaria com Estados Unidos, México e Colômbia. Aliás, se não fosse pelo rugby em cadeira de rodas ter perdido a disputa da medalha de bronze para a Colômbia, o Brasil conseguiria a proeza de ter ganhado medalhas em todas as modalidades do programa. A natação seria mais uma vez o maior destaque do país, com 104 medalhas, sendo 38 de ouros, incluindo triunfos de Clodoaldo Silva, em sua última participação em Parapans, Daniel Dias, André Brasil, Vanilton Nascimento e Talisson Glock; o atletismo faria 80 pódios, incluindo 34 medalhas de ouro, com destaque para Yohansson Nascimento, Alan Fonteles, Petrúcio Ferreira, Yeltsin Jacques, Terezinha Guilhermino e Verônica Hipólito. O futebol de cinco, o golbol masculino e feminino e o vôlei sentado masculino também conquistariam medalhas de ouro, e a maior surpresa do Brasil seria o ouro de Natália Mayara no tênis em cadeira de rodas.

A mais recente edição do Parapan, os VI Jogos Parapanamericanos, ocorreu em Lima, capital do Peru, entre 23 de agosto e 1 de setembro de 2019, começando 12 dias após o encerramento do Pan. Participaram 1878 atletas de 30 nações, competindo em 370 provas de 17 esportes - o tiro com arco sairia, mas estreariam tiro esportivo, badminton e taekwondo. O Brasil mais uma vez teria a maior delegação dentre todos os participantes, e conseguiria o melhor desempenho de sua história, ficando no topo do quadro de medalhas com nada menos que 123 ouros, 99 pratas e 85 bronzes, 307 medalhas no total - em segundo viriam os Estados Unidos, com 58 ouros, 62 pratas e 65 bronzes, 185 no total. O Top 5 se completaria com México, Colômbia e Argentina, e o Peru anfitrião viria apenas em décimo. Mantendo a tradição, a natação seria o esporte que mais traria medalhas ao Brasil, com 127, sendo 53 ouros; dentre os destaques, Daniel Dias, em sua última participação, Vanilton Nascimento, Phelipe Rodrigues, Joana Neves, Cecília Araújo e Maria Carolina Santiago. Em segundo viria novamente o atletismo, com 82 medalhas, sendo 33 ouros, e tendo como destaques Petrúcio Ferreira, Ariosvaldo Fernandes, Claudiney Batista e Jerusa Geber. Evelyn de Oliveira, Maciel Santos e Antônio Leme conquistariam três ouros na bocha; Lauro Cesar Chaman ganharia dois ouros e uma prata no ciclismo; e o powerlifting conseguiria 6 ouros, 3 pratas e 7 bronzes. Futebol de cinco, futebol de sete, golbol masculino e feminino e o vôlei sentado masculino também seriam ouro.

A próxima edição do Parapan também já está confirmada, para 2023, em Santiago, capital do Chile, mais uma vez programada para começar 12 dias após o encerramento do Pan. O programa contará mais uma vez com 17 esportes, mas o tiro com arco entrará no lugar do vôlei sentado, o que causou uma certa controvérsia; o APC alegou que "já há algum tempo" vinha pensando em mudanças no programa, analisou uma lista de 23 esportes, e escolheu apenas "os que fossem mais populares nas Américas".

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