domingo, 23 de outubro de 2022

Escrito por em 23.10.22 com 0 comentários

Paralimpíadas de Inverno

Semana passada, eu fiz aqui um post sobre as Paralimpíadas. Quando eu o estava escrevendo, iria falar também sobre as Paralimpíadas de Inverno, mas acabei achando que o post estava ficando muito longo e confuso, então decidi separar as duas competições. Hoje, portanto, é dia de Paralimpíadas de Inverno no átomo!

O principal pioneiro do esporte de inverno para deficientes foi o esquiador austríaco Sepp Zwicknagel, ele mesmo um biamputado, que perdeu ambas as pernas na Segunda Guerra Mundial. Já sendo esquiador antes de se tornar deficiente, Zwicknagel passou a buscar formas de poder continuar praticando seu esporte preferido mesmo sem as pernas, começando pela mais óbvia, que era usar próteses, até começar a trabalhar em esquis especiais para amputados e outros cadeirantes, com a ajuda de outro esquiador, o alemão Franz Wendel, que havia perdido uma das pernas, também na Segunda Guerra Mundial, e não se adaptava às próteses da época. Os esforços de Zwicknagel e Wendel, muitos deles extremamente bem sucedidos, chamariam a atenção de outros esquiadores que haviam sofrido acidentes, bem como de clubes de esqui que desejavam que deficientes pudessem aproveitar o esporte junto ao demais membros, e começariam a organizar competições para deficientes já em 1947.

Ao longo dos anos seguintes, as técnicas e equipamentos criados por Zwicknagel e Wendel seriam aprimorados por muitos outros esquiadores, deficientes ou não, e fabricantes, até que, na década de 1960, clubes dos Estados Unidos começariam a oferecer o esqui para deficientes como opção para seus membros. Um desses membros não era cadeirante ou amputado, e sim um deficiente visual, Jean Eymore, um instrutor de esqui que havia perdido a visão em um acidente. Inspirado pelo sucesso do esqui para deficientes físicos, Eymore criaria as regras do esqui para deficientes visuais, que começaria a oferecer aos membros do clube onde trabalhava, em Aspen, Colorado, em 1969. Em meados da década de 1970, o esqui para deficientes já seria um grande sucesso, e representantes de vários países decidiriam tentar organizar uma competição internacional; para isso, eles procurariam a Federação Internacional de Esportes para Atletas com Necessidades Especiais (ISOD, da sigla em inglês), que concordaria em realizar o primeiro Campeonato Mundial de Esqui para Deficientes, na França, em 1974.

Como vimos semana passada, na época a ISMGF já havia realizado três Paralimpíadas (1960, 1964 e 1972) e estava prestes a realizar a quarta (em 1976). Como as Olimpíadas de Inverno eram realizadas desde 1924, já há algum tempo a ISMGF pensava em realizar, também, uma Paralimpíada de Inverno, já que, até esse Mundial de 1974, não havia nenhuma competição internacional da qual os atletas de esportes de inverno com deficiência pudessem participar. A principal dificuldade da ISMGF era que, na verdade, não havia esportes de inverno para deficientes, com o esqui sendo o único com uma base de atletas sólida e competições constantes; por causa disso, as cidades que sediavam Olimpíadas de Inverno não se interessavam em sediar também uma Paralimpíada, e outras cidades também não se animavam em assumir a responsabilidade. Após o Mundial de 1974, a ISMGF procuraria a ISOD, que concordaria em usar sua experiência na realização de eventos para organizar a primeira Paralimpíada de Inverno, e negociaria com a Suécia, principal país no esqui paralímpico da época, que aceitaria sediar o evento na pequena cidade de Örnsköldsvik, de 30 mil habitantes.

O nome oficial do evento seria Jogos Paralímpicos de Inverno (em sueco, Paralympiska Vinterspelen), mas, internacionalmente, a ISOD decidiria divulgá-lo como Jogos Olímpicos de Inverno para Deficientes. Seja como for, a I Paralimpíada de Inverno seria realizada entre 21 e 28 de fevereiro de 1976, contando com a participação de 16 nações, que enviariam 196 atletas para competir em 53 provas. Ao todo, nove dos 16 países participantes conquistariam pelo menos uma medalha (sendo que cada um desses nove, curiosamente, conquistaria pelo menos duas medalhas de ouro), com a Alemanha Ocidental terminando na primeira posição do quadro, com 10 ouros, 12 pratas e 6 bronzes, seguida da Suíça, que também teve 10 ouros, mas apenas 1 prata e 1 bronze; então teríamos Finlândia, Noruega, e a Suécia anfitriã viria na quinta posição, com 6 ouros, 7 pratas e 7 bronzes.

O programa oficial contaria com apenas dois esportes: o esqui alpino, que teria provas de slalom, slalom gigante e combinado, masculinas e femininas, e o esqui cross-country, que teria provas masculinas de 5 km, 10 km, 15 km, revezamento 3 x 5 km e revezamento 3 x 10 km, e femininas de 5 km, 10 km e revezamento 3 x 5 km. O programa contaria ainda com um esporte de demonstração, a corrida de trenós no gelo, tentativa da ISMGF de criar um equivalente paralímpico para a patinação em velocidade. A corrida de trenós no gelo não era um esporte organizado antes de ser incluída nas Paralimpíadas, e jamais teve uma federação internacional nem outras competições internacionais, mas chegou a fazer parte do programa principal paralímpico até 1998, quando, por falta de praticantes, foi abandonada até mesmo pelo IPC, que jamais conseguiu fazer dela um esporte verdadeiramente competitivo.

Embora, na época, ainda fosse usada no esporte paralímpico a classificação médica, que dividia os atletas em classes que dependiam do tipo de deficiência que cada um apresentava, nas Paralimpíadas de Inverno, desde a primeira edição, sempre foi usada a classificação funcional, adotada nas Paralimpíadas de Verão apenas a partir de 1996, e que divide os atletas em classes que dependem do impacto que sua deficiência tem em seu desempenho na prova. Assim, já em 1976, os amputados, paralisados cerebrais e cadeirantes competiriam todos juntos, em todas as provas, com apenas os deficientes visuais, que nessa primeira edição competiriam apenas no esqui cross-country, tendo provas específicas para eles.

A primeira Paralimpíada de Inverno seria um grande sucesso, e, pouco após seu término, a Noruega se ofereceria para sediar a segunda edição do evento, dali a quatro anos. Após alguma negociação entre ISMGF, ISOD e o Comitê Olímpico Norueguês, ficaria acertado que as Paralimpíadas de Inverno de 1980 seriam realizadas entre 1 e 7 de fevereiro na cidade de Geilo (que, se vocês me perguntarem, tem um nome excelente para sediar uma competição de inverno). Menor ainda que Örnsköldsvik, que pelo menos era uma cidade no verdadeiro significado da palavra, Geilo, de 2.500 habitantes e a 250 km de Oslo, a capital norueguesa, era praticamente um resort de esqui - de fato, o primeiro da Noruega, inaugurado em 1890. Principalmente por causa disso, todas as instalações já estavam prontas, a rede hoteleira da cidade pôde acomodar todos os participantes, e o público presente foi bem maior que o da primeira edição, o que contribuiu para que essa edição, cujo nome oficial foi, mais uma vez, Jogos Paralímpicos de Inverno (Paralympiske Vinterleker, em norueguês), mas, mais uma vez, internacionalmente fosse divulgado como II Jogos Olimpicos de Inverno para Deficientes, fosse um sucesso ainda maior que a anterior.

Ao todo, participariam 299 atletas, representando 18 nações em 64 provas de três esportes (esqui alpino, esqui cross-country e corrida de trenós no gelo, promovida para o programa principal), além de um esporte de demonstração, a corrida de trenós downhill, também inventada pela ISMGF e inexistente fora das Paralimpíadas. Os anfitriões noruegueses fariam a festa e terminariam no topo do quadro de medalhas, bem à frente da segunda colocada Finlândia, com Áustria, Suécia e Suíça completando o Top 5.

A terceira edição das Paralimpíadas de Inverno seriam um marco para o evento: seria a primeira edição organizada pelo ICC, um comitê especial criado em 1982 com a participação de várias federações internacionais de esportes para deficientes, incluindo a ISOD, e que fazia parte da "família olímpica", o que garantia que as Paralimpíadas de Inverno seguissem todos os ideais olímpicos - a primeira edição das Paralimpíadas de Verão a ser disputada de acordo com a Carta Olímpica seria a de 1988, mas, antes disso, teríamos duas edições das Paralimpíadas de Inverno sancionadas pelo Comitê Olímpico Internacional. O COI, inclusive, tentaria fazer com que as Paralimpíadas de Inverno de 1984 fossem sediadas pela mesma cidade que as Olimpíadas de Inverno daquele ano, Sarajevo, mas não conseguiu porque o esqui paralímpico não era popular na Iugoslávia, onde a cidade ficava na época (hoje, é a capital da Bósnia-Herzegovina); Sarajevo concordaria, entretanto, em adicionar quatro provas paralímpicas ao programa das Olimpíadas de Inverno, todas no slalom gigante masculino do esqui alpino, como esporte de demonstração.

Com a recusa de Sarajevo, o ICC ofereceria as Paralimpíadas de Inverno de 1984 a Innsbruck, na Áustria, que havia sediado as Olimpíadas de Inverno de 1964 e 1976, e contava com instalações de primeiro nível. Mais uma vez, o nome oficial da competição seria Jogos Paralímpicos de Inverno (Paralympische Winterspiele, em alemão), mas, para manter o padrão, internacionalmente eles seriam promovidos como III Jogos Olimpicos de Inverno para Deficientes. O evento seria realizado entre 14 e 20 de janeiro, e contaria com 419 atletas de 21 nações competindo em 107 provas de 3 esportes - mais uma vez, esqui alpino, esqui cross-country e corrida de trenós no gelo. A Áustria anfitriã viria bem à frente no quadro de medalhas, com 34 ouros, 19 pratas e 17 bronzes, seguida da Finlândia, com 19 ouros, 9 pratas e 6 bronzes; Noruega, Alemanha Ocidental e Estados Unidos completariam o Top 5.

Por decisão do ICC, ficaria decidido que, retroativamente, as três edições já realizadas seriam conhecidas oficialmente como I, II e II Jogos Paralímpicos de Inverno, com a contagem seguindo a partir de 1988, quando seriam realizados os IV Jogos Paralímpicos de Inverno. O COI também havia negociado para que, a partir de 1988, as Olimpíadas de Inverno e Paralimpíadas de Inverno ocorressem sempre na mesma sede; infelizmente, Calgary, no Canadá, sede das Olimpíadas de Inverno daquele ano, teria de desistir em cima da hora devido a problemas financeiros que a impossibilitariam de sediar ambos os eventos - e só foi perdoada porque o acordo com o COI foi firmado após sua escolha como sede, ou seja, quando foi escolhida, Calgary não sabia que teria de sediar uma Olimpíada e uma Paralimpíada. Como plano B, o ICC recorreria novamente a Innsbruck, que se tornaria a primeira e única cidade a sediar duas edições seguidas das Paralimpíadas de Inverno.

As Paralimpíadas de Inverno de 1988 aconteceriam entre 17 e 24 de janeiro, e contariam com a participação de 377 atletas de 22 países, incluindo a União Soviética, que participaria pela primeira e última vez. O programa contaria com 96 provas de 4 esportes, sendo a novidade o biatlo, disputado nessa edição apenas no masculino e apenas por amputados; vale dizer também que essa seria a última edição na qual a corrida de trenós no gelo seria disputada ao ar livre. A Noruega ficaria com o topo do quadro de medalhas, seguida de perto pela Áustria; a terceira colocada, a Alemanha Ocidental, ficaria bem para trás, e Finlândia e Suíça completariam o Top 5.

Para 1992, finalmente o COI conseguiria que Olimpíadas de Inverno e Paralimpíadas de Inverno acontecessem na mesma cidade - ou quase. As Olimpíadas de Inverno daquele ano aconteceriam em Albertville, na França, que não se oporia a sediar também as Paralimpíadas de Inverno, mas com uma condição: a de que algumas provas pudessem ser realizadas na cidade vizinha, Tignes, que já contava com instalações de esqui de primeira linha, mas era pequena demais para sediar uma Olimpíada de Inverno; essa divisão faria com que Albertville não precisasse construir instalações específicas para a Paralimpíada de Inverno, reduzindo os custos de sediar ambas as competições. ICC e COI concordariam, e, oficialmente, a sede das Paralimpíadas de Inverno de 1992 ficaria registrada como Tignes-Albertville.

Como a França até hoje jamais sediou uma Paralimpíada de Verão, as Paralimpíadas de Inverno de 1992 seriam o primeiro e até agora mais importante evento esportivo paralímpico já realizado em solo francês. Essa também seria a primeira edição de uma Paralimpíada de Inverno a contar com um mascote, Alpy, que representava a Grande Motte, principal montanha da cidade de Tignes. Entre 25 de março e 1 de abril, 365 atletas de 24 nações competiriam em 78 provas de 3 esportes - por falta de um local de competição adequado, a corrida de trenós no gelo ficaria de fora. O biatlo mais uma vez seria disputado apenas no masculino, mas agora teria provas também para deficientes visuais; o esqui alpino e o esqui cross-country contariam com provas para deficientes intelectuais, mas essas seriam consideradas esportes de demonstração, sem que suas medalhas contassem para o total.

Falando nisso, o quadro de medalhas teria várias surpresas: pra começar, os Estados Unidos, que nas cinco edições anteriores jamais haviam tido grande destaque, em 1992 conseguiriam ficar em primeiro lugar, com 20 ouros, 16 pratas e 9 bronzes. Em segundo lugar viria a Alemanha, competindo pela primeira vez após a reunificação, com 12 ouros, 17 pratas e 9 bronzes. O terceiro lugar ficaria com a Equipe Unificada, composta por 12 das 15 ex-repúblicas soviéticas (só ficariam de fora Azerbaijão, Moldova e Turcomenistão, que não classificariam nenhum atleta), e que ganharia 10 ouros, 8 pratas e 3 bronzes. A França se tornaria o primeiro anfitrião a ficar de fora do Top 5, que se completaria com Áustria e Finlândia, vindo em sexto lugar com 6 ouros, 4 pratas e 9 bronzes.

A edição de 1992 seria a última organizada pelo ICC; a partir de 1994, assumiria as rédeas o Comitê Paralímpico Internacional (IPC), que seria fundado em 1989. Sim, 1994, porque, para que Olimpíadas de Inverno e Paralimpíadas de Inverno não ficassem descasadas, e pudessem continuar ocorrendo na mesma sede, o IPC seguiria o COI, que não queria mais que as Olimpíadas de Verão e as de Inverno acontecessem sempre no mesmo ano, e realizaria a sexta edição das Paralimpíadas de Inverno apenas dois anos após a quinta, voltando para o intervalo padrão de quatro anos a partir da sétima. Como agora já estava determinado que a sede das Paralimpíadas de Inverno seria a mesma das Olimpíadas de Inverno do mesmo ano, as Paralimpíadas de Inverno de 1994 aconteceriam em Lillehammer, Noruega, que se tornaria o primeiro país a sediar duas edições do evento em duas cidades diferentes (já que a Áustria havia sediado duas seguidas na mesma cidade).

As Paralimpíadas de Inverno de 1994 ocorreriam em Lillehammer entre 10 e 19 de março, começando uma semana e meia após o final das Olimpíadas de Inverno - em 1992, a distância entre a cerimônia de encerramento de uma e a de abertura da outra seria de mais de um mês. Participariam 471 atletas de 31 nações, competindo em 133 provas de 5 esportes. O estreante seria o hóquei sobre trenó, que teria um torneio misto, mas no qual a única participante mulher seria a norueguesa Britt Mjaasund Øyen, que já havia competido em edições anteriores na corrida de trenós no gelo - que, aliás, seria o quinto esporte do programa, retornando após ficar de fora em 1992, e dessa vez tendo suas provas realizadas no rinque onde, nas Olimpíadas de Inverno, foi disputada a patinação artística. Vale citar também que as mulheres estreariam no biatlo, no qual o torneio masculino contaria, pela primeira vez, com provas para atletas que tinham de esquiar sentados.

O mascote dessa edição seria um troll, ser mitológico bastante característico da mitologia nórdica. Ele seria escolhido através de um concurso do qual puderam participar alunos de escolas primárias de toda a Noruega, e foi criado por Janne Solem - que fez questão de que, como seria mascote das Paralimpíadas, ele fosse amputado de uma perna. Seu nome seria escolhido através de outro concurso, e acabaria sendo Sondre, em homenagem a um dos pioneiros do esqui esportivo, o norueguês Sondre Nordheim. No quadro de medalhas, a Noruega anfitriã viria em primeiro, seguida da Alemanha e dos Estados Unidos, com França e Rússia, em sua primeira participação, fechando o Top 5.

As Paralimpíadas de Inverno de 1998 seriam disputadas na cidade japonesa de Nagano, e seriam a primeira edição de uma Paralimpíada de Inverno realizada fora de Europa. Essa edição detém até hoje o recorde de maior número de participantes, 571, que representaram 32 nações em 122 provas de 5 esportes, os mesmos da edição anterior. O mascote seria o coelho Parabbit, e as competições ocorreriam entre 5 e 14 de março, começando cerca de duas semanas após as Olimpíadas de Inverno, o que se tornaria o padrão a partir de então. O Japão anfitrião terminaria no quadro de medalhas apenas em quarto lugar, com 12 ouros, 16 pratas e 13 bronzes, superando a quinta colocada Rússia no número de pratas, já que os russos tiveram 12 ouros, 10 pratas e 9 bronzes; os três primeiros seriam, mais uma vez, Noruega, Alemanha e Estados Unidos.

Em 2002, as Paralimpíadas de Inverno chegariam pela primeira vez aos Estados Unidos, sendo disputadas em Salt Lake City entre 7 e 16 de março. Participariam 36 nações, incluindo, pela primeira vez, a China, representadas por 416 atletas, dos quais o maior destaque seria a norueguesa Ragnhild Myklebust, que, em sua quinta e última participação, a primeira tendo sido em 1988, conquistaria cinco ouros no esqui cross-country e um no biatlo, se aposentando como a recordista de todos os tempos em Medalhas Paralímpicas de Inverno, com 22 ouros (sendo 16 no esqui cross-country, 4 na corrida de trenós no gelo e 2 no biatlo), 3 pratas (na corrida de trenós no gelo) e 2 bronzes (um na corrida de trenós no gelo e um no biatlo).

O programa de 2002 contaria com 92 provas de 4 esportes, com a corrida de trenós no gelo não estando presente. O mascote seria a lontra Otto (um trocadilho, já que lontra, em inglês, é otter), escolhida por seu caráter simbólico: devido à poluição, as lontras desapareceriam do Green River, principal rio do estado de Utah, onde se localiza Salt Lake City, mas, graças a um programa de despoluição criado especialmente para os Jogos, elas voltariam a aparecer. No quadro de medalhas, a Alemanha viria em primeiro lugar, seguida dos anfitriões Estados Unidos e da Noruega; o Top 5 contaria também com Áustria e Rússia.

Em 2006, as Paralimpíadas de Inverno voltariam à Europa, sendo realizadas, entre 10 e 19 de março, na cidade italiana de Turim. Participariam 486 atletas de 39 nações - ou 38, já que a Grécia, em sua segunda participação, conta como tendo enviado um atleta do esqui alpino, que participou da Cerimônia de Abertura, mas não apareceu para competir no dia de sua prova. O mascote seria Aster, que representava um floco de neve. A Itália anfitriã não iria bem e terminaria apenas na nona posição do quadro de medalhas, com 2 ouros, 2 pratas e 4 bronzes; o topo do quadro ficaria pela primeira vez com a Rússia, seguida da Alemanha, e o Top 5 se concluiria com Ucrânia, França e Estados Unidos.

O programa seria reformulado e bastante reduzido, contando com apenas 58 provas de 5 esportes; a partir dessa edição, no esqui alpino, esqui cross-country e biatlo, cada prova teria apenas três versões, uma para esquiadores que conseguissem esquiar em pé, uma para esquiadores que tivessem de esquiar sentados, e uma para deficientes visuais, ao invés de várias provas para diferentes classes; essa mudança visava aumentar o número de competidores em cada prova e o nível da competição, e foi considerada bem-sucedida pelo IPC. O quinto esporte do programa seria o curling em cadeira de rodas, esporte misto que faria sua estreia tendo como medalhistas Canadá com o ouro, Grã-Bretanha com a prata e Suécia com o bronze.

As Paralimpíadas de Inverno de 2010 seriam realizadas em Vancouver, no Canadá, entre 12 e 21 de março. Essa seria a primeira ocasião na qual os mascotes das Olimpíadas e das Paralimpíadas do mesmo ano seriam revelados juntos, no mesmo evento, algo que se tornaria o padrão a partir de 2012; para 2010, o mascote das Paralimpíadas de Inverno seria Sumi, um "espírito guradião animal" composto de partes de vários animais nativos do oeste canadense, vestido com roupas tradicionais dos povos indígenas da região. 506 atletas de 44 nações competiriam em 64 provas de 5 esportes, os mesmos da edição anterior; a canadense Viviane Forest se tornaria a primeira atleta a ganhar medalhas de ouro tanto nas Paralimpíadas de Inverno quanto nas de Verão, conquistando o lugar mais alto do pódio no downhill do esqui alpino, após ter sido campeã em 2000 e 2004 no golbol. O topo do quadro de medalhas ficaria com a Alemanha, seguida da Rússia e do anfitrião Canadá - o surpreendente Top 5 se completaria com Eslováquia e Ucrânia.

Em 2014 seria a vez de a Rússia sediar uma Paralimpíada de Inverno, com a cidade de Sochi recebendo o evento entre 7 e 16 de março, em meio a muitos protestos contra a anexação da Crimeia, que ocorrera um mês antes. Pela primeira vez, uma Paralimpíada de Inverno teria dois mascotes, o menino Luchik, que representava um raio de sol, e a menina Snezhinka, que representava um floco de neve. 550 atletas de 45 nações competiriam em 72 provas de 6 esportes, com a nova adição sendo o snowboarding. Essa seria a primeira Paralimpíada de Inverno com a participação do Brasil, que classificaria dois atletas: André Pereira, que terminaria na 28a posição no snowboard cross classe LL, e Fernando Rocha, que competiria no esqui cross-country para atletas sentados, nas provas de 1 km, 10 km e 15 km, tendo como melhor resultado o 15o lugar nessa última. O russo Roman Petrushov, que competiria no esqui cross-country e no biatlo, ganharia seis medalhas de ouro, se tornando o recordista de medalhas douradas em uma única edição dos Jogos.

A Rússia terminaria em primeiro no quadro de medalhas com 30 de ouro, 28 de prata e 22 de bronze, recorde tanto no número de ouros quanto no número total de medalhas para um único país em uma mesma edição de Paralimpíada de Inverno - a diferença seria brutal para a segunda colocada, a Alemanha, que terminaria com 9 de ouro, 5 de prata e 1 de bronze. Em terceiro viria novamente o Canadá, seguido da Ucrânia, cuja participação foi dúvida até a cerimônia de abertura, devido à questão da Crimeia; a França completaria o Top 5. Infelizmente, cerca de um ano e meio após o encerramento dos Jogos, seria descoberto um esquema de doping governamental por parte da Rússia para as Olimpíadas de Inverno de 2014, que colocou em dúvida se o recorde de medalhas obtidas pelo país teria sido conquistado de forma legítima; como não foi possível provar se os paratletas russos também fizeram parte do esquema, todos os resultados da Rússia nas Paralimpíadas de Inverno de 2014 foram mantidos, mas o Comitê Paralímpico Russo seria suspenso, com os russos não podendo participar das Paralimpíadas de Verão de 2016 e tendo de competir nas Paralimpíadas de Inverno de 2018 sob o nome de Atletas Paralímpicos Neutros, usando a bandeira do IPC e ouvindo o hino do IPC cada vez que conquistavam uma medalha de ouro.

As Paralimpíadas de Inverno de 2018 ocorreriam em Pyeongchang, Coreia do Sul, entre 9 e 18 de março, e contariam com a participação de 569 atletas que representariam 49 delegações - incluindo os Atletas Paralímpicos Neutros. Essa seria a edição com o maior número de mulheres competindo, 133, e teria como mascote o urso Bandabi. O programa contaria com 80 provas de 6 esportes, os mesmos da edição anterior; o maior acréscimo seria no snowboarding, que passaria de duas provas em 2014 para 10 em 2018. O hóquei sobre trenó voltaria a ter uma mulher competindo, e mais uma vez seria uma norueguesa, Lena Schrøder.

O Brasil enviaria três atletas: André Cintra competiria no snowboarding, classe LL-1, nas provas do snowboard cross e do banked slalom, enquanto Cristian Ribera e Aline Rocha competiriam no esqui cross-country para atletas sentados. Cristian conseguiria a melhor posição do Brasil, sexto lugar nos 15 km, competindo também nas provas de 1 km e 7,5 km; Aline competiria no 1 km, 5 km e 12 km, e os dois juntos participariam da prova do revezamento misto 4 x 2,5 km, terminando na 13a posição. No quadro de medalhas, os Estados Unidos terminariam em primeiro, com 13 ouros, 15 pratas e 8 bronzes, seguidos dos Atletas Paralímpicos Neutros (ou seja, da Rússia), com 8 ouros, 10 pratas e 6 bronzes, e então Canadá, França e Alemanha; a Coreia do Sul seria o pior anfitrião da história e terminaria em 16o lugar, empatada com Finlândia e Nova Zelândia, com apenas 1 ouro e 2 bronzes.

A mais recente edição das Paralimpíadas de Inverno foi a de 2022, em Pequim, China, que se tornaria a primeira cidade a sediar uma Paralimpíada de Verão (em 2008) e uma de Inverno. Entre 4 e 13 de março, 564 atletas de 46 nações competiriam em 78 provas de 6 esportes; a Rússia mais uma vez seria proibida de participar, agora por ter invadido a Ucrânia, assim como Belarus, considerada aliada da Rússia no conflito. Houve muita dúvida se os atletas ucranianos conseguiriam viajar para Pequim, mas não somente a Ucrânia participou como conseguiu seu melhor desempenho na história, terminando em segundo lugar no quadro de medalhas com 11 ouros, 10 pratas e 8 bronzes, que incluíam três pódios completos no biatlo, nas provas masculinas de 6 km e 10 km para deficientes visuais e na feminina de 10 km para esquiadores de pé. A China também conseguiria um pódio completo, no snowboard cross masculino, classe UL, e a chinesa Yu Jing se tornaria a primeira mulher a ganhar uma medalha no hóquei sobre trenó, e apenas a terceira a participar de uma Paralimpíada de Inverno. A China anfitriã, aliás, ficaria em primeiro no quadro de medalhas, com o melhor desempenho de um país asiático numa Paralimpíada de Inverno: 18 ouros, 20 pratas e 23 bronzes. O Top 5 também contaria com o Canadá em terceiro, e então França e Estados Unidos. O mascote da competição seria Shuey Rhon Rhon, inspirada nas famosas lanternas chinesas de papel.

O Brasil enviaria um total de 6 atletas: André Barbieri competiria no snowboarding, classe LL-1, nas provas do snowboard cross e do banked slalom, mas o esporte com mais brasileiros seria o esqui cross-country para atletas sentados, no qual Cristian Ribera, Guilherme Rocha, Robelson Lula e Wesley Vinicius dos Santos competiriam nas provas de 1,5 km, 10 km, 12,5 km e 18 km, e Aline Rocha nas provas de 1,5 km, 7,5 km e 15 km; Cristian, Aline, Guilherme e Robelson também competiriam no revezamento misto 4 x 2,5 km.

Para terminar, a lista dos esportes do programa paralímpico de inverno; entre parênteses, F significa que o esporte tem provas para deficientes físicos (cadeirantes, amputados e paralisados cerebrais), e V significa que o esporte tem provas para deficientes visuais. Atualmente fazem parte do programa biatlo (F, V), curling em cadeira de rodas (F), esqui alpino (F, V), esqui cross country (F, V), hóquei sobre trenó (F) e snowboarding (F). O único esporte que já fez parte do programa e não faz mais é a corrida de trenós no gelo (F); para o futuro, o IPC estuda a inclusão dos esportes de trenó (bobsled, luge e skeleton), mas esbarra no ainda pequeno número de praticantes.

0 Comentários:

Postar um comentário