domingo, 31 de julho de 2022

Escrito por em 31.7.22 com 0 comentários

A Família Addams

Faz muito tempo já, coisa de uns dez ou doze anos, que eu penso em fazer um post sobre a Família Addams, da qual eu gosto desde criança, mas sempre acabo desistindo por um motivo ou outro. Depois de escrever o post sobre o Super Mouse, decidi que dessa vez não desistiria. Graças a isso, hoje é dia de A Família Addams no átomo!

A Família Addams foi uma criação do cartunista Charles Samuel Addams, que assinava Chas Addams. Nascido em 7 de janeiro de 1912 em Westfield, Nova Jérsei, Estados Unidos, Addams começaria a desenhar ainda no ensino médio, sendo responsável pelas charges do jornalzinho da Westfield High School, a escola onde estudava, chamado Weathervane. Ele começaria a faculdade de belas artes na Universidade de Colgate em 1929, mas, no ano seguinte, conseguiria uma transferência para a Universidade da Pensilvânia, e, em 1931, decidiria largar tudo e ir estudar desenho na Grand Central School of Art, em Nova Iorque. Em 1932, ele enviaria um cartum para avaliação da revista The New Yorker, que gostaria, publicaria, e perguntaria se ele tinha mais. Ele então se tornaria um colaborador frequente da revista, que publicaria mais de 1300 de seus cartuns, até sua morte, aos 76 anos, em 29 de setembro de 1988, após sofrer um infarto enquanto estacionava seu carro. Addams jamais seria contratado pela New Yorker, sendo freelancer toda sua vida, e também trabalharia fazendo ilustrações para capas e páginas internas de livros e revistas de várias editoras.

A criação mais famosa de Addams apareceria pela primeira vez em na edição 711, de julho de 1938, da New Yorker. Nos Estados Unidos, até hoje, embora a partir da década de 1990 essa prática tenha perdido popularidade, é comum revistas trazerem esse tipo de cartum, composto por um único quadro, normalmente no canto inferior de uma página; alguns desses cartuns são "mudos", e os que têm falas não usam balões, mas o texto escrito abaixo do desenho, usando aspas ou travessões. Esses cartuns também não costumam ter título; quando muito, usam o nome de seu criador. Todos os 58 cartuns estrelados pela Família Addams publicados pela New Yorker entre 1938 e 1964 teriam esse formato, e, por causa disso, uma peculiaridade: não somente a família não tinha nome, como nenhum de seus membros tinha; "Família Addams" seria um apelido dado pelos leitores devido ao simples fato de que os cartuns eram assinados por Chas Addams.

Addams sempre gostou de histórias com humor negro e temática macabra, e criaria a Família Addams como uma sátira às famílias aristocráticas norte-americanas: extremamente ricas, levemente excêntricas, antigas ao ponto de se considerarem um clã, vivendo em casas vitorianas decrépitas do tamanho de palácios, e incompreendidas pelo restante da população, não se importando ou não percebendo que eram consideradas estranhas. É claro que ele daria um toque levemente exagerado a isso, fazendo dos Addams amantes do macabro e cheios de hábitos soturnos, como o costume de sempre vestir preto e o de adotar estranhos animais de estimação. Chas Addams se inspiraria nas famílias aristocráticas de sua própria Westfield natal, cheia de mansões vitorianas e cemitérios barrocos; a inspiração para a casa da Família teria vindo do College Hall, prédio em estilo vitoriano da Universidade da Pensilvânia.

Parêntese. De uns tempos pra cá, surgiu a "explicação" de que a Família Addams seria uma sátira à forma como as famílias norte-americanas imaginavam que seria uma família latina; dentre as "evidências", o fato de que o pai se chama Gomez, ele e Mortícia dançam tango, e que eles vivem no esquema que, nos Estados Unidos, é conhecido como "família estendida", com um tio e uma avó morando na mesma casa, característica comum nas famílias latinas, mas rara nas norte-americanas. Não há nenhum indício de que Chas Addams conhecesse qualquer família latina na qual se inspirar; pelo contrário, em entrevistas, sua posição oficial sempre foi a de que ele estava satirizando uma família aristocrática norte-americana, tendo declarado por mais de uma vez que "eles pertencem a um ramo pouco conhecido do clã Addams". Há indícios, inclusive, de que a família originalmente podia ter origens judaicas, já que Mortícia frequentemente chamava Gomez de bubbeleh, palavra de origem ídiche. Fecha parêntese.

O grande sucesso dos cartuns da New Yorker faria com que Addams conseguisse contratos para publicar seus desenhos em livros. O primeiro com a Família Addams seria seu oitavo, Dear Dead Days: A Family Album, lançado em 1959 pela G.P. Putnam & Sons, que, além de republicações de vários cartuns da New Yorker, trazia ilustrações inéditas, como se fosse um álbum de fotografias. Essa seria a primeira publicação a trazer a Família Addams na capa, e, apesar de seu sucesso, seria o único livro da Família lançado enquanto Addams era vivo.

Um dos motivos foi que o sucesso do livro levaria Nat Perrin, da produtora Filmways, a conseguir os direitos de adaptação da Família para uma série de TV, criada e produzida por David Levy e Donald Saltzman, filmada em preto e branco e exibida no canal ABC. O editor da New Yorker, William Shawn, que dizia acreditar que os leitores da revista eram "mais refinados do que quem assistia televisão", se recusaria a publicar quaisquer cartuns da Família Addams - embora ainda aceitasse publicar outros cartuns de Chas Addams - enquanto a série estivesse no ar; por isso, os últimos cartuns da Família Addams na New Yorker são do ano de 1964, o da estreia da série. Como estava ganhando dinheiro com os royalties da série - e de diversos outros produtos que viriam em sua esteira - Chas Addams não se opôs, e decidiu concentrar seu trabalho em outros personagens, deixando a Família de lado.

Os produtores também decidiriam dar uma amenizada na família, para que a série fosse apropriada para espectadores de todas as idades; por causa disso, na série os Addams são mais excêntricos do que macabros, e os episódios não têm piadas de humor negro, sendo centrados nos hábitos estranhos da família e nas reações dos que visitam sua mansão - localizada na Cemetery Lane, número 0001. Como seria impossível fazer uma série com personagens sem nome, em 1964 finalmente os membros da Família Addams seriam batizados; Chas Addams participaria da escolha dos nomes, e somente dois dos sugeridos por ele não seriam aceitos: para o pai da família ele queria Repelli, inspirado em "repelente", mas os produtores não gostaram e colocaram Gomez, nome que Addams achou "totalmente sem sentido"; já para o filho mais novo, Addams queria Pubert, mas os produtores tiveram medo de ter problemas com a censura, e acabaram optando por Pugsley, o qual Addams aceitou de bom grado. Também seria na série que ficaria estabelecido que o nome de solteira de Mortícia era Frump, e que o Tio Fester era irmão de sua mãe, o que fazia com seu sobrenome não fosse Fester Addams, o que seria alterado no futuro para que ele também pudesse ter o sobrenome da família.

A protagonista da série, aliás, aquela cujo nome aparecia primeiro na abertura, era Mortícia, interpretada pela lindíssima Carolyn Jones. Sofisticada e prendada, Mortícia tricota, borda, pinta, toca shamisen (aquele instrumento de cordas presente em canções tradicionais japonesas), cultiva rosas (embora corte fora as flores e faça arranjos com os caules espinhentos) e está sempre elegantemente vestida com seu justíssimo vestido longo negro cuja barra da saia se parece com tentáculos. Mortícia está sempre calmíssima, não importa por qual situação esteja passando, e possui uma paciência de Jó, no máximo achando graça quando algo não sai conforme o que ela esperava; na série ela também tem vários bichos de estimação, como uma planta carnívora, um casal de piranhas (chamadas Tristão e Isolda), um abutre, e o principal, o leão Kit Kat, que "não gosta de carne humana".

O único outro ator a ser creditado na abertura era John Astin, que interpretava o marido de Mortícia e patriarca da família, Gomez Addams. Advogado aposentado descendente de espanhóis (o que pode ter dado força ao mito que eu citei há pouco), Gomez é riquíssimo, sendo dono de empresas e ações do mundo inteiro - as quais acompanha através de um computador especial instalado no meio da sala - e sempre tendo uma enorme reserva de dinheiro vivo em casa, mas, ao contrário de outros personagens ricos da ficção (como, por exemplo, o Tio Patinhas), também é muito altruísta, frequentemente dando dinheiro a quem precisa ou a instituições de caridade. Gomez é completamente apaixonado por Mortícia, e faz questão de demonstrar seu amor sempre que possível; ele costuma chamá-la de querida (em espanhol) ou cara mía, e fica enlouquecido de paixão se ela responde em francês - absolutamente qualquer frase em francês, sendo essa uma das piadas recorrentes da série. Gomez também é extremamente proficiente em vários esportes, tem como hobby construir e criar acidentes com modelos de trens no estilo Ferrorama, gosta de ler o jornal de cabeça para baixo (ele, não o jornal), e está sempre impecavelmente vestido com um terno risca-de-giz e gravata, quase sempre com um charuto na mão ou na boca - Astin sugeriria esse traço por ser ele mesmo fumante, mas, após o cancelamento da série, decidiria parar de fumar.

Mortícia e Gomez têm dois filhos, cujas idades na série são trocadas em relação aos cartuns. A mais nova é a menina Vandinha (Wednesday, "quarta-feira" em inglês, no original), interpretada por Lisa Loring, que tem por volta de 6 anos e é uma versão-mirim de Mortícia, de hábitos estranhos mas coração doce, que tem como bichos de estimação uma tarântula e um lagarto, e como brinquedo preferido uma boneca decapitada chamada Maria Antonieta. Já o mais velho é o menino Feioso (Pugsley no original), interpretado por Ken Weatherwax, que tem por volta de dez anos, é gorduchinho, bastante esperto, e não segue a maioria das excentricidades da família, gostando de passatempos mais normais - fazendo parte, inclusive, dos Escoteiros, para desgosto de Gomez. Feioso tem dois bichos de estimação, o jaguar Fang e o polvo Aristóteles, que era o único presente nos cartuns, mas lá era o animal de estimação de Vandinha.

Completam a família o Tio Fester (também chamado no Brasil de Tio Chico ou Tio Funéreo), interpretado por Jackie Coogan, totalmente careca e sempre vestido com um sobretudo preto, apaixonado por dinamite e por explodir coisas, que gosta de dormir numa cama de pregos e aplicar aparelhos de tortura em si mesmo por diversão, e consegue fazer acender uma lâmpada a colocando na boca; a Vovó (Grandmama Addams no original), mãe de Gomez, interpretada por Blossom Rock, uma bruxa com caldeirão, poções e bola de cristal, apaixonada por armas brancas e mestra no arremesso de facas; o mordomo Tropeço (Lurch no original), interpretado por Ted Cassidy, que não é da família mas é tão estranho quanto eles, que se comunica principalmente através de grunhidos (you rang?, "você chamou?", uma das poucas frases que ele fala, quando Gomez ou Mortícia puxam a cordinha que toca um sino para chamá-lo, se tornou um bordão da TV norte-americana), toca piano e vive passando um espanador na casa; e Mãozinha (Thing, "coisa", no original), uma mão sem corpo que costuma sair de uma caixa ao lado do sofá da sala, mas pode sair de qualquer recipiente ou buraco, normalmente para entregar alguma coisa da qual algum membro da família esteja precisando, que, segundo Gomez, é "seu amigo de infância" - Cassidy também "interpretaria" Mãozinha, exceto nas cenas em que ele e Tropeço contracenavam, quando o "papel" ficaria com o diretor-assistente Jack Voglin; nos créditos, Mãozinha era creditado como Itself ("ele mesmo"). Os principais personagens criados especificamente para a série eram o Primo Itt (Felix Silla), primo de Gomez, um monte de cabelo usando óculos e um chapéu-coco, que fala em um ritmo super-rápido que só os Addams conseguem compreender; Ophelia Frump (também interpretada por Carolyn Jones), irmã mais velha de Mortícia, hippie e avessa às excentricidades da família; e Hester Frump (Margaret Hamilton), mãe de Mortícia e Ophelia.

A série estrearia em 18 de setembro de 1964, com uma temporada de 34 episódios de meia hora cada, o último exibido em 21 de maio de 1965, e seria renovada para uma segunda temporada, de mais 30 episódios, que estrearia em 17 de setembro de 1965. Um declínio na audiência da segunda temporada faria com que a ABC não se interessasse em renovar para uma terceira, com o último episódio indo ao ar em 8 de abril de 1966. A música de abertura da série, chamada simplesmente The Addams Family Theme, criada pelo compositor de Hollywood Vic Mizzy, se tornaria um dos maiores sucessos da TV norte-americana, principalmente pelo estalar de dedos que a acompanhava. A música ficou tão famosa que a ABC decidiu lançá-la em formato single, pela gravadora RCA Victor, imaginando que teria boas vendas; infelizmente, ela não vendeu tanto quanto o esperado.

Após o cancelamento da série, como os cartuns não estavam mais sendo publicados, a Família Addams ficaria sumida até 1972, quando a ABC decidiria gravar o piloto para uma nova série, chamada The Addams Family Fun-House. Curiosamente, essa nova série seria um musical, e traria seus próprios criadores, Jack Riley e Liz Torres, como Gomez e Mortícia - além de, no papel de Feioso, Butch Patrick, que tinha interpretado Eddie Munster na série Os Monstros, que, para muitos, foi inspirada na Família Addams, mas que, na verdade, era inspirada nos monstros clássicos da Universal, e estreou uma semana depois, na CBS. O piloto chegou a ir ao ar, mas não fez sucesso, e a série não chegou a ser gravada.

Também em 1972, a Hanna-Barbera decidiria incluir a Família Addams no terceiro episódio, exibido em 23 de setembro pela CBS, de The New Scooby-Doo Movies, cuja característica era ter um "convidado especial" resolvendo mistérios junto com a turma do Scooby-Doo em cada episódio. Os personagens da Família Addams seriam desenhados seguindo instruções do próprio Chas Addams, para que ficassem parecidos com os dos cartuns, e não com os atores da série. Jones, Astin, Coogan e Cassidy retornariam a seus papéis, a convite da Hanna-Barbera, que sempre tentava usar os atores ou dubladores originais de cada convidado especial. Após a exibição do episódio, a Hanna-Barbera começaria a receber várias cartas de fãs pedindo por mais aventuras animadas da Família Addams, e negociaria a produção uma série animada estrelando os personagens.

Assim surgiria o primeiro desenho da Família Addams, que estrearia na NBC (o que faria com que eles tivessem tido programas nos três principais canais dos Estados Unidos) em 8 de setembro de 1973, com um total de 16 episódios de meia hora cada, o último indo ao ar em 22 de dezembro. Os personagens tinham a mesma aparência do desenho do Scooby-Doo, mas apenas Coogan e Cassidy aceitariam repetir seus papéis, com Gomez e Mortícia sendo dublados por dois veteranos da Hanna-Barbera, Lennie Weinrib e Janet Waldo - vale citar também a presença no elenco da hoje consagrada atriz Jodie Foster, na época com dez anos de idade, no papel de Feioso (é normal nos Estados Unidos mulheres e meninas dublarem personagens meninos; Bart Simpson, por exemplo, é dublado por uma mulher, Nancy Cartwright). Bizarramente (se é que algo pode ser considerado bizarro em se tratando de Família Addams), o desenho não trazia os Addams em sua mansão, e sim viajando pelos Estados Unidos, em um motorhome de aparência vitoriana. Seria para esse desenho que o parentesco do Tio Fester mudaria para irmão de Gomez, sendo também alterado o parentesco da Vovó, que passaria a ser a mãe de Mortícia.

Em 1977, a NBC decidiria fazer um Especial de Halloween, chamado Halloween with the New Addams Family, que iria ao ar dia 30 de outubro, com todo o elenco original da série de 1964, exceto Rock, que, apesar de ainda viva, estava muito doente, e foi substituída por Jane Rose. No especial, a família está recebendo a visita do irmão de Gomez, Pancho (Vito Scotti), e recordando histórias de Halloweens passados; enquanto isso, um criminoso (Parley Baer) tenta invadir a casa e roubar a fortuna dos Addams.

Embora a Família Addams tenha ficado fora da TV por toda a década de 1980, eles já haviam se tornado parte da cultura pop norte-americana, estando presentes nos mais diversos objetos de merchandising, como roupas, material escolar, brinquedos, e até mesmo caixas de cereal; vários canais regionais também exibiam regularmente tanto a série de 1964 quanto a animada em reprises, o que fazia com que os personagens ainda fossem bastante conhecidos pelo público em geral. No final da década de 1980, a Orion Pictures começaria negociações para fazer um reboot da série de TV, que foram interrompidas pela morte repentina de Chas Addams. A 20th Century Fox tinha planos de adaptar a Família para o cinema, mas esbarrava no problema dos direitos, que, então, estavam parte com a Orion, parte com a viúva de Addams.

Em 1990, a Orion finalmente conseguiria o total dos direitos, mas, em dificuldades financeiras, ao invés de fazer a série, decidiria embarcar na ideia da Fox e fazer um filme. A produção seria extremamente tumultuada, com o roteiro sendo reescrito diversas vezes, vários membros da equipe de produção ficando doentes, a maquiagem de Mortícia e da Vovó levando horas para ser aplicada e causando desconforto nas atrizes, e o orçamento do filme estourando em 5 milhões de dólares o que a Orion havia reservado. Para tentar fazer um pouco de caixa, no meio da produção a Orion venderia os direitos de distribuição internacional para a Columbia; como nem isso adiantou, ela venderia toda a produção do filme para a Paramount, que ficaria responsável também pela distribuição nos Estados Unidos. A equipe de produção sequer ficaria sabendo da venda, que ocorreria faltando poucos dias para o final das filmagens, descobrindo através de um jornalista durante uma sessão de entrevistas.

O filme seria a estreia na direção de Barry Sonnenfeld, que, até então, era diretor de fotografia, e assumiria após Tim Burton, o preferido da Orion, desistir por estar envolvido com as filmagens de Batman Returns; durante a conturbada produção de A Família Addams, o diretor de fotografia original, Owen Roizman, pediria demissão, e seria substituído por Gale Tattersall, que seria hospitalizado após poucas semanas, com Sonnenfeld tendo de acumular as funções de diretor e diretor de fotografia. O roteiro seria creditado a Caroline Thompson e Larry Wilson, que escreveriam sua primeira versão, mais tarde reescrita por pelo menos cinco outras pessoas, incluindo o produtor Scott Rudin e o roteirista Paul Rudnick. Os efeitos especiais, todos à moda antiga, com maquiagem, truques de câmera e animatronics, ficariam a cargo de Tony Gardner. A música-tema, chamada Addams Groove, seria gravada por MC Hammer, que estava na crista da onda na época - mas seria muito criticada pelos fãs da série e pelo público em geral.

O elenco conta com um trio estelar da época: Raul Julia como Gomez, Anjelica Huston como Mortícia, e Christopher Lloyd como Fester; Christina Ricci, em início de carreira, faria Vandinha, que, assim como nos cartuns, é mais velha que Feioso, interpretado por Jimmy Workman. A família se completaria com Judith Malina como a Vovó, Carel Struycken como Tropeço, John Franklin como o Primo Itt, e o mágico Christopher Hart como Mãozinha - que, diferentemente da série, não aparecia apenas dentro de objetos, andando para lá e para cá, algumas vezes como um efeito especial, outras como um animatronic. Na história, Fester está desaparecido há 25 anos, e Gomez não se conforma. Ao saberem disso, seu advogado, Tully Alford (Dan Hedaya) e sua esposa Margaret (Dana Ivey), que estão devendo dinheiro à agiota Abigail Craven (Elizabeth Wilson), bolam um plano: como o filho da agiota, Gordon, é parecido com Fester, ele vai fingir que é o Addams desaparecido, enquanto ela finge que é uma psicóloga que precisa acompanhá-lo em todos os momentos, pois apenas recentemente ele recuperou a memória; com isso, eles pretendem roubar a fortuna dos Addams. Vale citar também a presença de Paul Benedict como um juiz e de Mercedes McNab (que mais tarde faria as séries Buffy, a Caça-Vampiros e Angel) como uma Bandeirante que tenta vender biscoitos para os Addams.

A Familia Addams estrearia em 22 de novembro de 1991; com orçamento de 30 milhões de dólares, renderia 113 milhões apenas nos Estados Unidos e 191,5 milhões considerando a bilheteria do mundo inteiro, se tornando um dos maiores sucessos do ano - se a Orion soubesse, talvez não o tivesse vendido, pois isso seria mais do que suficiente para ela equilibrar seu caixa. Curiosamente, a crítica não ficaria tão empolgada quanto o público, considerando o roteiro confuso e as piadas fracas. O filme seria indicado para o Oscar de Melhor Figurino, e renderia a Huston uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em um Filme Musical ou de Comédia.

O sucesso do filme levaria à criação de um novo desenho da Hanna-Barbera, inspirado na série de 1964, com os Addams estando sempre em casa, vivendo situações inusitadas e recebendo visitas, mas mantendo as características do filme (Fester é irmão de Gomez, a Vovó é mãe de Mortícia, Vandinha é mais velha que Feioso); os personagens seriam redesenhados para ganhar um visual mais moderno, mas ainda lembrariam os originais de Chas Addams. Astin aceitaria dublar Gomez, mas seria o único ator da série a retornar; Fester e a Vovó seriam dublados por dois atores famosos, Rip Torn e Carol Channing, com os demais tendo vozes de dubladores recorrentes da Hanna-Barbera. Duas curiosidades desse desenho são que os Addams possuem apenas um bicho de estimação, o crocodilo Snappy, que frequentemente tenta comer Fester, e têm vizinhos, a Família Normanmeyer, uma típica família de classe alta norte-americana, que se revolta por ter vizinhos tão estranhos e quer expulsá-los do bairro. O desenho seria exibido pela ABC, e teria duas temporadas: a primeira teria 13 episódios exibidos entre 14 de setembro e 22 de dezembro de 1992, a segunda teria 8, exibidos entre 18 de setembro e 6 de novembro de 1993. Os episódios tinham meia hora cada, mas alguns eram compostos por três histórias independentes de 10 minutos cada.

O sucesso do primeiro filme também levaria a uma continuação, dessa vez produzida e distribuída pela Paramount, chamada The Addams Family Values (simplesmente A Família Addams 2 no Brasil), título que fazia uma piada com um discurso feito em 1992 pelo então candidato a vice-presidente Dan Quayle, que culpou a "falta de valores familiares" por uma série de revoltas que ocorreu em Los Angeles naquele ano. Sonnenfeld retornou à direção, o roteiro ficou a cargo de Rudnick, e quase todo o elenco principal retornou, com Julia, Huston, Lloyd, Ricci, Workman, Struycken, Franklin e Hart repetindo seus papéis; McNab também está no filme, dessa vez como uma menina popular que odeia Vandinha, assim como Ivey, que volta a interpretar Margaret, que se separou do advogado e se casou com o Primo Itt. O papel da Vovó ficaria com Carol Kane, pois Malina, revoltada por ter de ficar 12 horas se maquiando por dia, não aceitaria voltar ao papel. Esse seria o último filme lançado enquanto Julia ainda estava vivo; o ator faleceria menos de um ano após seu lançamento.

Mais uma vez, Fester é o centro das atenções, agora porque decide se casar com Debbie Jellinsky (Joan Cusack), que, na verdade, é uma aproveitadora que planeja matá-lo e ficar com a fortuna dos Addams. Fester leva Debbie para morar na mansão, e ela logo vira a vida da família de pernas para o ar, inclusive mandando Vandinha, que descobre seus planos, e Feioso para um acampamento de verão, comandado pelos superalegres Gary (Peter MacNicol) e Becky (Christine Baranski), onde Vandinha conhecerá Joel (David Krumholtz), menino tímido e meio nerd que se apaixona por ela. Enquanto isso, Gomez e Mortícia estão envolvidos com o nascimento de seu terceiro filho, Pubert, e não percebem as reais intenções de Debbie. O filme conta com vários atores famosos em pequenas pontas, como Cynthia Nixon como uma candidata a babá de Pubert, e Tony Shalhoub como um marinheiro para quem Debbie conta seus planos em um bar.

Com A Família Addams 2 ocorreria o contrário do primeiro filme: a crítica seria extremamente positiva, elogiando o humor negro do filme, o entrosamento entre os atores e exaltando a atuação de Ricci, mas o público pareceria menos entusiasmado do que da primeira vez: com orçamento de 47 milhões de dólares, renderia 48,9 milhões nos Estados Unidos e 111 milhões quando considerada a bilheteria do mundo inteiro; isso, mas a morte repentina de Julia, enterrariam os planos da Paramount de fazer uma trilogia. O filme renderia mais uma indicação a Huston para o Globo de Ouro de Melhor Atriz em um Filme Musical ou de Comédia, e receberia uma indicação ao Oscar de Melhor Direção de Arte.

Em 1996, a Saban (dos Power Rangers) adquiriria os direitos sobre a Família Addams, e planejaria lançar uma nova série, mas voltada para crianças, sem qualquer traço de humor negro. Para tentar viabilizar essa série, ela encomendaria um novo filme, que acabaria sendo lançado diretamente em vídeo, pela Warner Bros., em 22 de setembro de 1998. Chamado The Addams Family Reunion (O Retorno da Família Addams no Brasil), o filme traz Tim Curry como Gomez, Daryl Hannah como Mortícia, Patrick Thomas como Fester, Nicole Fugere como Vandinha, Jerry Messing como Feioso, Alice Ghostley como a Vovó, Phil Fondcaro como o Primo Itt, e Struycken e Hart repetindo os papéis de Tropeço e Mãozinha. O intuito da Saban era fazer o filme baseado na série de 1964, mas Curry se inspiraria na atuação de Julia para interpretar Gomez, fazendo-o tão bem que muita gente achou que esse filme era uma continuação dos dois anteriores.

No enredo, os Addams recebem um convite para uma reunião de todos os membros da Família Adams em um hotel seis estrelas - não, eu não escrevi errado, o convite era para todos os membros da Família Adams, com um "d" só, e os Addams recebem o deles por engano. Evidentemente, seu jeito próprio de ser causará muita confusão. Ao ler a sinopse, o diretor Dave Payne viu várias oportunidades para fazer um filme ao melhor estilo Família Addams, mas a Saban fincou o pé em sua exigência de que o filme deveria ser para crianças, o que limitou muito as opções dos roteiristas Rob Kerchner e Scott Sandin, e fez com que o filme fosse universalmente criticado - com a atuação de Curry sendo considerada a única coisa que ele tem de bom.

Mesmo com o insucesso do filme, a Saban produziria a série, chamada The New Addams Family, que seria filmada em Vancouver, no Canadá, e estrearia no canal canadense YTV em 19 de outubro de 1998, mais tarde sendo também exibida nos Estados Unidos no canal a cabo Fox Family Channel. A maioria dos episódios seriam remakes dos da série de 1964, mas atenuados para que a série se tornasse apropriada para crianças; a única atriz do filme a repetir seu papel seria Fugere, com Glenn Taranto interpretando Gomez (imitando o estilo de Astin), Ellie Harvie como Mortícia, Michael Roberds como Fester, Betty Phillips como a Vovó (que voltaria a ser mãe de Gomez e Fester, e cujo nome seria Eudora), Brody Smith como Pugsley, John DeSantis como Tropeço, David Myrlea como o Primo Itt (cuja voz era feita por Paul Dobson) e Steven Fox como Mãozinha. Meredith Bain Woodward fazia participações especiais como Hester Frump, Lisa Calder como Ophelia Frump, e a série traria de volta o leão Kit Kat; mais para o final, Astin também passaria a fazer participações especiais como o Vovô, pai de Gomez e Fester. A série teria uma única temporada de 65 episódios, com o último indo ao ar em 28 de agosto de 1999.

Após o cancelamento de The New Addams Family, a Família Addams ficaria toda uma década na encolha. Em 2010, começariam negociações para que um filme de animação stop motion fosse produzido pela Universal, com Tim Burton como diretor, mas, após três anos de pré-produção, o projeto seria engavetado. Também em 2010, em março, estraria na Broadway um musical inspirado na série de 1964, que ficaria em cartaz até dezembro de 2011, com um total de 757 apresentações. E 2010 também seria o ano de lançamento do livro The Addams Family: An Evilution, pela Pomegranate Press, que continha mais de 200 cartuns, incluindo todos os anteriormente publicados, e texto originalmente escrito por Chas Addams, em sua maioria descrevendo os personagens para os produtores da série de TV; esse seria o quarto livro da Família Addams, sendo os outros dois romances, ambos lançados em 1965 pela Pyramid Books e inspirados na série de TV: o primeiro, chamado simplesmente The Addams Family, escrito por Jack Sharkley, conta o primeiro dia dos Addams em sua então nova mansão, tenta explicar a origem de Mãozinha e termina com a Família descobrindo que será tema de uma série de TV, enquanto o segundo, The Addams Family Strikes Back, de W.F. Miksch traz Gomez tentando entrar para o Conselho da escola onde estudam Vandinha e Feioso, para redimir a imagem do traidor Benedict Arnold.

O lançamento seguinte para os cinemas ocorreria apenas em 2019, um desenho em computação gráfica produzido pela MGM e distribuído pela Universal, dirigido por Conrad Vernon e Greg Tiernan, com roteiro de Matt Lieberman, que mostra os Addams às voltas com vizinhos enfurecidos que querem expulsá-los da cidade para construir uma comunidade-modelo. O filme estrearia em 11 de outubro, teria uma recepção morna da crítica, mas seria um gigantesco sucesso de público - com orçamento de 24 milhões de dólares, renderia quase 204 milhões, sendo 100 milhões apenas nos Estados Unidos - o que motivaria a MGM a produzir uma continuação, também dirigida por Vernon e Tiernan, com roteiro de Dan Hernandez, Benji Samit, Ben Queen e Susanna Fogel, chamada A Família Addams 2: Pé na Estrada (somente The Addams Family 2 no original), na qual a família decide sair em uma road trip pelos Estados Unidos, nos moldes da série animada de 1973. Com estreia em 1 de outubro de 2021, o filme seria massacrado pela crítica, mas se sairia relativamente bem nas bilheterias - com orçamento de 20 milhões de dólares, renderia 56,5 milhões nos Estados Unidos e quase 120 milhões no mundo inteiro - com a MGM considerando que a pandemia pode ter sido um fator para o filme ter rendido menos. Por enquanto, ainda é incerto se haverá um terceiro filme ou não.

Ambos os filmes contam com elencos estelares, e quase todos repetiriam seus papéis em ambos: Oscar Isaac como Gomez, Charlize Theron como Mortícia, Chloë Grace Moretz como Vandinha, Nick Kroll como Fester, o rapper Snoop Dogg como o Primo Itt, e a lenda do cinema Bette Midler como a Vovó, além de o diretor Vernon dublando Tropeço; somente Feioso teria dubladores diferentes em cada filme, com Finn Wolfhard fazendo sua voz no primeiro e Javon Wanna Walton no segundo. O primeiro filme conta ainda com Allison Janney como a repórter que inicia a campanha para expulsar os Addams e Martin Short como o pai de Mortícia, enquanto o segundo traz Bill Hader como um cientista que alega ser o verdadeiro pai de Vandinha e Wallace Shawn como seu advogado.

A mais recente produção envolvendo a Família Addams é Wednesday, série protagonizada por Vandinha, mas que conta com a participação de toda a família, anunciada em 2021 mas ainda sem data de estreia definida. Tim Burton fará sua estreia como diretor de uma série de TV e finalmente terá sua oportunidade de dirigir os Addams, e o elenco trará Jenna Ortega como Vandinha, Luis Guzmán como Gomez, Catherine Zeta-Jones como Mortícia, e Gwendolyne Christie em um papel ainda não divulgado; Ricci também foi confirmada na série como membro do elenco regular, mas também ainda não se sabe qual seria seu papel.

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