domingo, 12 de junho de 2022

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Godzilla (Extra)

Em 2013 e 2014, eu fiz aqui uma série de posts sobre os filmes do Godzilla, os originais japoneses, produzidos pela Toho. De lá pra cá, a Toho só lançou mais um filme de Godzilla, de forma que eu não tive motivos para dar continuidade a essa série. Essa semana, entretanto, eu estava pensando que, de 2014 pra cá, já foram lançados três filmes norte-americanos de Godzilla, produzidos com autorização da Toho, e achei que seria uma boa falar sobre eles também. Assim, hoje Godzilla volta ao átomo, mas em uma encarnação um pouco diferente.

Godzilla
2014

A primeira tentativa de se fazer um filme norte-americano de Godzilla ocorreria na década de 1990, com aquele dirigido por Roland Emmerich e protagonizado por Matthew Broderick, lançado pela TriStar Pictures em 1998. Apesar de ter contado com a autorização da Toho, e de ter se saído bastante bem nas bilheterias, o filme seria imensamente criticado, especialmente pela forma como retratava Godzilla - que, inclusive, era fêmea e tinha filhotes. Com o passar do tempo, ele ganharia o selo de filme ruim, e a TriStar não voltaria a investir em filmes de Godzilla, deixando seus direitos expirarem em 2003, quando eles seriam adquiridos pela AAP, que planejava fazer um filme em 3D de Godzilla para lançamento nos Estados Unidos. A pré-produção começaria em 2004 e se arrastaria por cinco anos, durante os quais a AAP abriria falência e a Kerner Optical, que não era um estúdio de cinema, e sim uma empresa de efeitos especiais, assumiria os direitos.

Em 2009, com a Kerner também passando por dificuldades financeiras, os então produtores Brian Rogers e Peter Anderson convenceriam o então diretor, Keith Melton, a negociar a produção do filme com a Legendary Pictures, que havia sido fundada em 2000 e estava buscando produções de peso para seu catálogo. A Legendary daria luz verde em 2010, com a data prevista de lançamento do filme sendo estipulada para 2012. A Legendary também anunciaria uma parceria com a Toho, para que Godzilla fosse o mais fiel possível a seu original japonês, e com a Warner Bros, que co-produziria e co-financiaria o filme, tendo, também, os direitos de distribuição mundial - exceto no Japão, onde o filme seria distribuído pela Toho. A Warner, entretanto, não tinha interesse em manter Anderson, Rogers e Melton - embora Rogers ainda tenha sido creditado como produtor, por sua participação no projeto até então - e, após designar novos produtores dentre seu pessoal de confiança, começaria a procurar um novo diretor.

Boatos dariam conta de que Guillermo del Toro seria convidado, mas ele logo negaria; em 2011, seria anunciado Gareth Edwards, que era praticamente um estreante, somente tendo dirigido um longa-metragem até então, Monsters, lançado em 2010. Edwards se mostraria extremamente empolgado com o filme, se declararia fã de Godzilla, diria que sua principal inspiração seria o original de 1954, e ainda daria a ideia para que Godzilla enfrentasse outros monstros ao invés de apenas os militares - segundo ele, era importante que esse fosse um filme que atendesse aos desejos dos fãs, sem ser simplesmente uma refilmagem ou continuação dos originais japoneses.

O primeiro rascunho do roteiro seria feito por David Callaham ainda em 2010. Após a contratação de Edwards, David S. Goyer seria contratado para reescrevê-lo, mas faria apenas uma revisão, sequer sendo creditado; a versão final do roteiro ficaria a cargo de Max Borenstein, o único a ser creditado, embora o texto ainda tenha passado por duas revisões após ele entregá-lo, uma por Drew Pearce, que adequou as idades dos personagens aos atores que a Legendary havia selecionado - no roteiro original, os personagens eram muito mais jovens - e uma por Frank Darabont, contratado para dar mais carga emocional à história e solucionar alguns problemas detectados durante as filmagens - era pouco crível, por exemplo, que Godzilla tivesse passado todos esses anos sem ser detectado por nenhum governo até aparecer de repente, então Darabont reescreveu cenas para que ficasse claro que os governos sabiam de sua existência, mas encobriram o fato para a maioria da população. Edwards também pediria para que, na versão final do roteiro, Godzilla fosse não o herói ou o vilão, e sim uma força da natureza, um evento que segue seus próprios planos sem ligar para o que está acontecendo a seu redor. O diretor também faria questão de que fosse um filme fechado, com começo, meio e fim, sem um final aberto apontando para uma sequência; segundo ele, as sequências poderiam ser feitas, mas sem passar a impressão de que eram obrigatórias.

Ao licenciar o personagem para a Legendary, a Toho, talvez decepcionada com o filme de 1998, faria duas exigências: que a aparição de Godzilla fosse resultado de um acidente nuclear e que o filme fosse ambientado no Japão. Durante a pré-produção, com isso em mente, o produtor Thomas Tull fincaria o pé para que Godzilla fosse o mais parecido possível com o dos filmes japoneses - ele chegaria a declarar, em uma reunião da equipe de efeitos visuais, "temos de ter certeza de que Godzilla se parece com Godzilla". A equipe, então, trabalharia para que Godzilla se parecesse com uma criatura possível de existir no mundo real, mas mantendo todas as similaridades possíveis com uma roupa de dinossauro de borracha vestida por um ator. As principais concessões seriam quanto à altura do monstro - que, no original japonês, tem cerca de 60 metros de altura, mas nesse filme tem por volta de 108 metros - e ao rugido, baseado no original japonês, mas que levou seis meses para ser produzido pela equipe de som, que também queria que ele se parecesse com um rugido possível de ser emitido por uma criatura viva. Os movimentos de Godzilla seriam produzidos através de captura de movimentos do dublê T.J. Storm, com o ator Andy Serkis, um especialista nessa técnica, atuando como consultor especial, e foram inspirados nos movimentos de animais reais, em especial o urso e o dragão de Komodo.

As dificuldades com o roteiro e com os efeitos visuais fariam com que as filmagens demorassem para começar e com que a data de estreia de 2012 não pudesse ser cumprida, com a Legendary em 2013, quando as filmagens finalmente começariam, anunciando uma nova tentativa para 2014. As filmagens ocorreriam na costa oeste do Canadá, que seria usada para representar São Francisco, Tóquio e as Filipinas; cenas adicionais seriam filmadas em Honolulu, Havaí, e as cenas em estúdio seriam filmadas em Vancouver e Nova Iorque. Surpreendentemente para uma produção nesse estilo e desse tamanho, as equipes de filmagem eram pequenas, e a maioria das cenas eram externas, com pouco uso de chroma key. Seriam usadas câmeras digitais Arri Alexa, com os efeitos em 3D sendo adicionados por computação gráfica na pós-produção. Ao todo, 12 empresas de efeitos visuais atuariam na pós-produção, incluindo a Weta Digital e a Amalgamated Dynamics.

No filme, fica estabelecido que Godzilla é uma espécie de protetor da Terra, entrando em ação toda vez que algo ameaça o equilíbrio do planeta. No caso, esse algo são dois monstros, que recebem o nome de MUTOs (da sigla em inglês para "organismo terrestre gigantesco não-identificado"), que despertam de um sono de milênios após um tremor de terra, e parecem atraídos por fontes de energia nuclear, causando acidentes. O principal personagem humano do filme é Ford Brody (Aaron Taylor-Johnson), um tenente da Marinha dos Estados Unidos cujo pai, o cientista Joe Brody (Bryan Cranston), é obcecado por um acidente que, em 1999, destruiu a usina nuclear de Janjira, no Japão, matando a mãe de Ford. Por insistência de Joe, Ford o acompanha na investigação do que teria causado o acidente, o que faz com que ambos se envolvam com a Monarch, uma organização secreta que monitora criaturas como Godzilla e os MUTOs, e tem como principal cientista o Dr. Ishiro Serizawa (Ken Watanabe). Outros personagens de destaque são Ellie (Elizabeth Olsen), a esposa de Brody; a Dra. Vivienne Graham (Sally Hawkins), parceira de Serizawa no Monarch; o Almirante William Stenz (David Strathairn), chefe da força-tarefa encarregada de deter os MUTOs; e Sandra Brody (Juliette Binoche), a falecida mãe de Ford.

Godzilla estrearia em 8 de maio de 2014 nos Estados Unidos, com lançamento mundial em 16 de maio - exceto para a China, onde estrearia em 13 de junho, e no Japão, em 25 de julho. Com orçamento de 160 milhões de dólares, renderia 200,7 milhões nos Estados Unidos, sendo considerado um fracasso de bilheteria; no resto do planeta, porém, ele renderia outros 329 milhões, o suficiente para que a Legendary tivesse lucro - que, atualmente, no cinema, não é apenas uma questão de render mais do que custou - e declarasse que ele foi um sucesso. A crítica foi extremamente positiva, elogiando principalmente o tom sério do filme e a direção de Edwards; os pontos mais criticados foram a falta de desenvolvimento dos personagens e o pouco tempo de tela de Godzilla. Com o sucesso de público e crítica, a Legendary planejaria realizar uma trilogia dirigida por Edwards, mas, em 2016, após dirigir Rogue One: Uma História Star Wars, ele deixaria o projeto, alegando querer se envolver em outros de menor escala.

Godzilla: Rei dos Monstros
2019

A Legendary anunciaria que Godzilla ganharia uma sequência ainda com o filme em cartaz, em agosto de 2014; um mês antes, ela negociaria com a Toho a presença de três outros monstros clássicos do estúdio: Rodan, Mothra e King Ghiidorah. Edwards assinaria como diretor, Borestein começaria a escrever o roteiro, e, baseando-se no tempo que levou entre o início da pré-produção e o lançamento do primeiro filme, foi estabelecida a data de lançamento para junho de 2018.

Em 2015, porém, as coisas começariam a desandar. Primeiro, Aaron Taylor-Johnson anunciaria não ter certeza de que desejava fazer a sequência, e que sua presença dependeria da vontade de Edwards. Então, inspirada pelo sucesso do Universo Cinematográfico Marvel, a Legendary decidiria fazer um Monsterverse, com vários filmes de monstros ambientados no mesmo universo, tendo como elo de ligação a Monarch; ela decidiria que seu filme seguinte nesse projeto seria Kong: A Ilha da Caveira, que acabaria sendo lançado em 2017, e abriria caminho para o projeto mais ambicioso da trilogia de Godzilla, Godzilla vs. Kong, que teria data de estreia marcada para 2020. Então, em 2016, alegando não aguentar mais a Legendary só ficar planejando e não começar a executar nunca, Edwards abriria mão da direção para se dedicar a projetos menores. Pouco após a saída de Edwards, Borestein também desistiria, e a Legendary revisaria a data de estreia, adiando o filme para março de 2019.

Em outubro de 2016, a Legendary anunciaria que Michael Dougherty e Zach Shields estavam escrevendo o roteiro do segundo filme, que seria filmado em Qingdao, China, simultaneamente a Círculo de Fogo: A Revolta. Em dezembro, seria anunciado que o segundo filme iria se chamar, no original, Godzilla: King of the Monsters, e, no mês seguinte, que Dougherty seria também o diretor. Ele declararia desejar que seu filme fosse Aliens: O Resgate em relação ao Alien: O Oitavo Passageiro de Edwards, em uma alegoria de que o segundo filme teria muito mais ação e um ritmo mais frenético que o primeiro, de ritmo lento e revelações programadas. Ele também decidiria que o segundo filme seria muito mais centrado na Monarch, cujos membros atuariam como heróis, diferentemente do primeiro, no qual ela é uma organização secreta que age em segundo plano. No estilo dos primeiros filmes japoneses de Godzilla, Dougherty também tentou fazer com que esse passasse uma mensagem ecológica, um alerta de que devemos proteger o planeta antes que seja tarde demais.

A pedido da Toho, os monstros do filme deixariam de ser chamados de MUTOs - que passaria a ser uma espécie de nome apenas dos dois monstros do primeiro filme - e passariam a ser chamados de Titãs, com Godzilla e Kong também recebendo essa classificação. Dougherty deixaria claro que os Titãs não deveriam ser "dinossauros gigantes" ou "monstros impossíveis", e sim animais colossais que inspirassem medo e reverência; assim como Godzilla, eles receberiam elementos de animais reais, para que ficassem mais verossímeis - o que deve ter sido um tanto complicado no caso de Ghidorah, que tem três cabeças. O design de Godzilla também seria alterado a pedido de Dougherty, com as placas dorsais se tornando mais semelhantes às dos filmes japoneses, e suas patas ficando maiores para demonstrar que ele era um predador poderoso. O rugido também seria levemente alterado, para ficar mais parecido com o do filme de 1954.

Rodan seria inspirado não em pteranodontes, mas em várias aves, como abutres, águias e falcões, com sua pele tendo uma aparência de rocha vulcânica, já que ele vivia dentro de um vulcão. Mothra manteria quase todas as características de sua versão original de 1961, incluindo sua paleta de cores, mas os "olhos" de suas asas seriam modificados para ficarem parecidos com os olhos de Godzilla, para demonstrar a estreita relação entre os dois. King Ghidorah, conforme esperado, seria o mais difícil, com um consultor da Toho atuando junto aos produtores do filme para que ele ficasse realístico mas ainda parecido com sua versão original de 1964; os principais animais usados em sua composição seriam cobras e lobos, com escamas de vários répteis diferentes sendo usadas para que ele não ficasse parecido demais com Godzilla - por ideia de Dougherty, a cabeça central seria a "principal", com as das pontas agindo como membros pouco independentes; ele também pediria que Ghidorah tivesse uma aparência semelhante à dos dragões orientais, para que ele não acabasse se transformando em "um dragão de Game of Thrones".

Dougherty também pediria para que o filme tivesse Titãs criados pela Legendary, como os MUTOs do primeiro, e diria se tratar de uma "tradição da Toho" adicionar novos monstros ao cânone de Godzilla a cada filme. Esses Titãs receberiam os nomes de Baphomet, Typhon, Abaddon, Bunyip, Methuselah, Behemoth, Scylla, Tiamat, Leviathan, Sargon e Mokele-Mbembe, mas acabariam aparecendo muito pouco, não tendo nenhuma cena de destaque. O diretor chegaria a pedir para que a Legendary adquirisse a licença de mais monstros da Toho, como Anguirus, Biollante e Gigan, mas o estúdio alegaria que isso estouraria o orçamento. Curiosamente, a Legendary tinha os direitos para MechaGodzilla, que estava na primeira versão do roteiro, escrita por Borestein, mas Dougherty acharia que ele tinha pouco a ver com o enredo do filme e o descartaria.

O filme teria um "elenco humano" muito maior que o do anterior; o primeiro nome anunciado seria o de Millie Bobby Brown, da série Stranger Things, que faria sua estreia no cinema. Os únicos atores do primeiro filme a retornar seriam Strathairn, Watanabe e Hawkins, nos mesmos papéis. A chinesa Zhang Ziyi seria escalada para viver as gêmeas Ilene e Ling Chen, que, segundo Dougherty, teriam um papel crucial no Monsterverse, uma versão moderna das Shobijin dos filmes originais de Mothra, mas acabariam aparecendo pouco e não retornando para o terceiro filme. Joe Morton apareceria como o Dr. Houston Brooks, um personagem originalmente de Kong: A Ilha da Caveira, onde era mais jovem e foi interpretado por Corey Hawkins. Assim como no primeiro filme, T.J. Storm "interpretaria" Godzilla através de captura de movimentos; Ghodorah teria três atores, um para cada cabeça: Richard Dorton, Alan Maxton e Jason Liles, com esse último também fazendo a captura de movimentos para Rodan. Mothra, assim como os MUTOs do primeiro filme, seria inteiramente criada por computação gráfica.

Os personagens principais do elenco são o Dr. Mark Russell (Kyle Chandler), especialista em comportamento e comunicação animal, e sua ex-esposa, a Dra. Emma Russell (Vera Farmiga), uma paleobióloga que trabalha para a Monarch; os dois são os pais de Madison (Brown) e de um menino que morreu durante o ataque de Godzilla a São Francisco, mostrado no primeiro filme e ocorrido cinco anos antes do início do segundo, o que levou Mark a abandonar a Monarch. Enquanto trabalhava com Mothra, Emma foi sequestrada pelo ecoterrorista Alan Jonah (Charles Dance), que busca usar uma das invenções dos Russell para despertar os Titãs adormecidos e causar caos e pânico no planeta. Mark, então, acompanha uma missão de resgate da qual também fazem parte Stenz, Serizawa, Graham, Ilene, a Coronel Diane Foster (Aisha Hinds), o Tenente Jackson Barnes (O'Shea Jackson Jr.), o diretor de tecnologia da Monarch, Sam Coleman (Thomas Middleditch), e o "criptosonógrafo" da Monarch, Dr. Rick Stanton (Bradley Whitford), que tentam deter o terrorista enquanto impedem o governo de atacar Godzilla, que passa a ser considerado uma ameaça após sua luta com Ghidorah.

Godzilla: King of the Monsters teria estreia mundial em 31 de maio de 2019, após uma pré-estreia em Pequim em 13 de maio e outra em Hollywood em 18 de maio; mais uma vez, o filme seria distribuído em todo o planeta pela Warner, exceto no Japão, onde foi distribuído pela Toho. Com orçamento não revelado, mas entre 170 e 200 milhões de dólares, renderia 110,5 milhões nos Estados Unidos e 386,6 milhões se for considerado o mundo inteiro; houve muita especulação sobre se o filme teria dado lucro, com especialistas alegando que a bilheteria mundial teria de ser de pelo menos 400 milhões, mas a Legendary jamais se pronunciou sobre o assunto. A crítica ficou dividida, tendendo mais para o negativo, com a maioria dos críticos dizendo que o filme não passava de uma batalha entre monstros, com a história dos humanos sendo um fiapo, mal desenvolvida e de pouco interesse. Mesmo assim, a Legendary manteria seu planejamento, e só não lançaria o terceiro filme de sua trilogia na data estipulada por causa da pandemia.

Godzilla vs. Kong
2021

Curiosamente, a pré-produção de Godzilla vs. Kong começaria pouco após a estreia de Kong: A Ilha da Caveira, em 2017, o que significava duas coisas: primeiro, que o segundo e o terceiro filmes de Godzilla seriam produzidos pela Legendary quase que simultaneamente; segundo, que eles precisariam de uma equipe diferente para cada um. Para dirigir o terceiro filme, a Legendary escolheria Adam Wingard, que havia sido cogitado por Peter Jackson para dirigir uma sequência do King Kong de 2005, que jamais sairia do papel. Wingard deixaria claro que iria fazer um filme completamente novo, sem relação com Godzilla vs. King Kong, de 1962, que ele seria uma continuação tanto de Kong: A Ilha da Caveira quanto de Godzilla: Rei dos Monstros, e que o filme teria um vencedor definitivo, sem acabar em "empate", mas sem que um dos dois morresse, com o perdedor passando a ter um "extremo respeito" pelo vencedor.

Um pouco antes da contratação de Wingard, a Legendary começaria a trabalhar no roteiro, e contrataria Terry Rossio, que havia escrito um dos primeiros rascunhos do Godzilla de 1998, para liderar uma equipe composta por Patrick McKay, J. D. Payne, Lindsey Beer, Cat Vasko, T.S. Nowlin, Jack Paglen e J. Michael Straczynski, que ofereceria várias ideias para que Rossio escrevesse o primeiro rascunho. Rossio faria essa primeira versão de forma que cada parte do filme fosse tendenciosa a favor de um dos monstros, fazendo com que o público sentisse vontade de torcer por um deles, mas sempre lembrando que ambos são perigosos e incompreendidos pela humanidade. Após ser aprovado por Wingard, esse roteiro seria entregue a Dougherty e Shields, que o reescreveriam para que ele ficasse de acordo com o que iria ocorrer em Godzilla: Rei dos Monstros. Após essa revisão, a Legendary consideraria que a história havia ficado confusa, e contratou Borestein e Eric Pearson para dar polimento ao roteiro. Borestein aproveitaria para incluir no filme MechaGodzilla, que ele havia colocado em Godzilla: Rei dos Monstros mas Dougherty havia removido. No fim, apenas Borestein e Pearson seriam creditados como roteiristas.

As filmagens ocorreriam no Havaí, na Austrália e em Hong Kong; assim como Edwards, Wingard faria questão de filmar externas sempre que possível, só recorrendo a filmagens em estúdio quando isso fosse absolutamente necessário. As filmagens em estúdio, aliás, seriam conturbadas, com poucos sets estando à disposição da equipe, que tinha de desmontá-los e remontá-los com frequência; durante as filmagens em estúdio, antes mesmo da pandemia, um surto viral acometeu 40% da equipe, que teve de ficar de molho por uma semana, um operador de câmera quebrou o pé e teve de ser substituído, e o diretor de fotografia Ben Seresin teve de ser hospitalizado após ser picado por uma aranha venenosa. A pós-produção também seria conturbada: inicialmente, a Legendary pensaria em colocar uma empresa de efeitos digitais a cargo de Godzilla e outra diferente a cargo de Kong, mas a co-produtora Tamara Kent se oporia ferozmente, dizendo que isso não fazia nenhum sentido, já que eles teriam de lutar; no fim, seriam usadas apenas três empresas diferentes, a MSC, a Weta e a Scanline VFX, e cada uma delas ficaria responsável por sequências específicas do filme - todas as sequências envolvendo a Terra Oca, por exemplo, ficariam com a Weta.

Antes do lançamento do filme, houve muita controvérsia envolvendo o tamanho de Kong - afinal, o Godzilla da Legendary tem mais de 100 metros de altura, e a imagem que todos têm de Kong é a dele escalando o Empire State Building, o que significa que ele não teria nem dez, e, portanto, seria uma luta um tanto desleal. A Legendary se apressaria em deixar claro que o Kong de Godzilla vs. Kong era o mesmo de Kong: A Ilha da Caveira, que estaria bem mais velho e, portanto, ainda maior e mais forte. Em 2020, a Legendary publicaria oficialmente a informação de que, em A Ilha da Caveira, Kong tinha 31 m de altura, mas, em Godzilla vs. Kong, teria 102,7 m, o que o deixaria apenas poucos centímetros menor que Godzilla. A controvérsia não acabou, com muitos fãs mais antigos reclamando que era um absurdo um Kong tão grande, mas pelo menos a luta ficou mais justa.

Assim como Godzilla: Rei dos Monstros é ambientado cinco anos após Godzilla, Godzilla vs. Kong é ambientado cinco anos após Godzilla: Rei dos Monstros - e uns 50 anos após Kong: A Ilha da Caveira. Ele começa com Kong, que é oficialmente considerado um dos Titãs, vivendo em um ambiente artificial controlado, para tentar protegê-lo de Godzilla, que voltou a fazer ataques aleatórios contra a humanidade, passando a ser considerado um perigo para os governos do mundo. De fato, quando Kong sai de lá, como parte de um projeto da Apex Corporation para tentar encontrar uma nova fonte de energia seguindo a teoria da Terra Oca, ele começa a ser seguido por Godzilla, que aparentemente pretende lutar com ele para determinar quem seria o mais forte de todos os Titãs. Sem que ninguém saiba, porém, a Apex também tem um plano para destruir ambos, livrando a Terra dos Titãs para sempre.

Os únicos personagens que retornam de Godzilla: Rei dos Monstros são Madison, que desconfia que a Apex possa estar por trás do comportamento errático de Godzilla, e decide investigar a empresa por conta própria, e o Dr. Mark Russell, que agora é Chefe da Divisão de Operações Especiais da Monarch; os dois mais uma vez são interpretados por Brown e Chandler. Novos personagens incluem o Dr. Nathan Lind (Alexander Skarsgård), geólogo e cartógrafo da Monarch que lidera a expedição em busca da Terra Oca; a Dra. Ilene Andrews (Rebecca Hall), antropóloga e linguista da Monarch que trabalha junto a Kong, tentando protegê-lo e se comunicar com ele; Jia (Kaylee Hottle), menina órfã e surda que se torna amiga de Kong; Bernie Hayes (Brian Tee Henry), funcionário do baixo escalão da Apex que tem um podcast sobre teorias da conspiração envolvendo Titãs, descobre acidentalmente o segredo da empresa, e se torna parceiro de Madison na investigação; Josh Valentine (Julian Dennison), amigo de Madison que é arrastado por ela para a investigação; Ren Serizawa (Shun Oguri), filho do Dr. Serizawa, que, ao contrário do pai, considera os Titãs uma ameaça, e trabalha no projeto secreto da Apex; e Maia Simmons (Eiza González), que também participa da expedição à Terra Oca, e é filha do dono da Apex, Walter Simmons (Demián Bichir), bilionário que acredita que a Monarch está equivocada e funda a Apex, que posa como uma empresa de tecnologia, para destruir os Titãs de uma vez por todas. Lance Reddick participa como o chefe da Monarch, que, na versão final do filme, aparece em apenas duas cenas curtas; T.J. Storm mais uma vez forneceu a captura de movimentos para Godzilla, e Eric Petey forneceu para Kong.

Godzilla vs. Kong seria lançado mundialmente em 24 de março de 2021, exceto nos Estados Unidos, onde estrearia em 31 de março, simultaneamente nos cinemas e no serviço de streaming HBO Max, o que também causou uma certa controvérsia, e no Japão, onde, por causa da pandemia, sua estreia seria sucessivamente adiada até finalmente ocorrer em 2 de julho - mais uma vez, no Japão o filme seria distribuído pela Toho, e, no resto do planeta, pela Warner. Seu orçamento novamente não seria divulgado, sendo estimado entre 155 e 200 milhões de dólares; nas bilheterias, ele renderia 100,9 milhões nos EUA e 468,2 milhões somando o mundo inteiro, resultado que a Legendary consideraria excepcional para um período de pandemia - dessa vez, aliás, eles divulgariam oficialmente que o filme deu lucro. Diferentemente do filme anterior, para esse a crítica foi bastante positiva, com o roteiro sendo considerado bem superior ao de Godzilla: Rei dos Monstros, embora ainda mal desenvolvido, e os efeitos visuais sendo bastante elogiados.

Após a estreia de Godzilla vs. Kong, a Legendary anunciaria que seu Monsterverse seguiria com duas séries de TV, uma de animação no estilo anime, chamada Skull Island, produzida pela Netflix, e uma live action (com atores, como os filmes), chamada The Titans, produzida pela Apple TV+; nenhuma das duas ainda possui data de estreia definida. No início de 2022 também seria anunciado que a série de filmes continuaria, e que o seguinte, que deve entrar em pré-produção em breve, será Son of Kong.

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