domingo, 14 de junho de 2020

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O Clone

Hoje teremos mais um post sobre novelas, dessa vez sobre uma um pouquinho mais recente que as outras três já abordadas. Depois de escrever sobre Renascer, eu resolvi ver de quais outras novelas das oito eu tinha gostado (porque já tinha falado sobre duas das sete), e essa foi a primeira que me veio á mente. Hoje é dia de O Clone no átomo.

O Clone
estreou dia 1 de outubro de 2001; escrita por Glória Perez, com direção de Jayme Monjardim, Marcos Schechtman, Mário Márcio Bandarra, Marcelo Travesso e Teresa Lampreia, e direção-geral de Monjardim, teve 221 capítulos, exibidos até 15 de junho de 2002. Como seu próprio nome atesta, seu principal tema era a clonagem (especificamente, a clonagem humana), mas a novela se destacou por trazer também a cultura muçulmana e a luta contra o vício em drogas, lícitas e ilícitas, em sua história.

A protagonista da novela é Jade (Giovanna Antonelli). Filha de marroquinos, mas nascida e criada no Brasil, Jade é forte e decidida, e não aceita o papel da mulher na cultura muçulmana, na qual foi criada até de forma bem frouxa por seus pais. Romântica, ela acaba se apaixonando por Lucas (Murilo Benício), mas a morte de sua mãe, Sálua (Walderez de Barros), acaba tornando seu romance proibido, já que Jade se vê obrigada a se mudar para a cidade de Fez, no Marrocos, onde vai morar com seu tio Ali (Stênio Garcia) e sua prima Latiffa (Letícia Sabatella). Ali é extremamente inteligente, sensível, culto e generoso, mas também é um fervoroso defensor das tradições muçulmanas, e planeja colocar Jade na linha, prometendo-a em casamento para Saïd (Dalton Vigh), irmão de Mohamed (Antonio Calloni), o prometido de Latiffa.

Um dos maiores amigos de Ali é o geneticista Augusto Albieri (Juca de Oliveira), com quem estudou em Oxford, na Inglaterra. O sonho de Albieri é ser o primeiro cientista a ser bem sucedido na clonagem humana, algo que Ali vê como um disparate, e como a prova de que o ocidente está cada vez mais se afastando de Deus. Albieri é ambicioso e vaidoso, mas também medroso, e não quer colocar sua reputação em risco com uma experiência que pode consagrá-lo ou destruir sua carreira para sempre, por isso, apesar de seus constantes estudos e testes, jamais chega a realizar verdadeiramente a experiência.

O destino acaba se intrometendo na vida de Albieri, porém, quando seu pupilo Diogo (Murilo Benício) vem a falecer, vítima de um acidente de helicóptero. Diogo é irmão gêmeo de Lucas, e ambos são filhos do empresário Leônidas Ferraz (Reginaldo Faria), dono de uma grande empresa de importação e exportação de alimentos, que conhece Albieri durante um projeto através do qual sua empresa passa a ser a primeira no Brasil a utilizar inseminação artificial de rebanhos. Leônidas é bem-humorado, irreverente, mas tem temperamento forte e personalidade dominadora, e comanda seus negócios e sua família com mão de ferro. A mãe dos gêmeos morreu no parto, e ele jamais cogitou se casar novamente, criando-os praticamente sozinho, contando apenas com a ajuda de sua fiel empregada Dalva (Neuza Borges).

Os irmãos gêmeos têm personalidades totalmente diferentes: enquanto Lucas é introvertido, romântico, disperso, pouco objetivo e sensível, Diogo é alegre, autoconfiante, cheio de iniciativa, exuberante e sedutor. Leônidas considera Diogo seu sucessor natural na empresa, e Albieri sonha em vê-lo à frente de seu laboratório. Após a morte de Diogo, Lucas passa a se sentir obrigado a ocupar o lugar deixado pelo irmão, mas não leva jeito para os negócios; após a partida de Jade para o Marrocos, ele inclusive passa a namorar a ambiciosa e egocêntrica Maysa (Daniela Escobar), originalmente namorada de Diogo, com quem acaba se casando. Infeliz no trabalho e no casamento, Lucas acaba se tornando uma pessoa dura e ressentida.

Mas vamos ao que interessa, que é o clone: Albieri, mais do que todos, se vê inconformado com a morte de Diogo, e, como todo bom cientista de obras de ficção, decide tomar uma medida drástica: se aproveitando de que possui material genético de Lucas em seu laboratório, colhido de uma mancha na pele para uma biópsia, ele decide tentar clonar Lucas, para trazer Diogo de volta à vida. Para isso, ele usa um óvulo de Deusa (Adriana Lessa), mulher alegre, espevitada e de bem com a vida, que procura o cientista para uma inseminação artificial, já que não consegue engravidar de seu namorado, Edvaldo (Roberto Bomfim). Sem que Deusa saiba, Albieri a insemina com o clone, mantendo o que fez em absoluto segredo.

Dezoito anos se passam, e, em mais uma reviravolta do destino, Saïd, agora também um bem sucedido empresário, decide se mudar para o Brasil com Jade e com a filha do casal, Khadija (Carla Diaz), que adora as tradições muçulmanas, principalmente as joias de ouro que vive ganhando do pai. Mohammed e Latiffa, também decidem vir ao Brasil, para que Mohamed abra uma loja, e trazem junto seu casal de filhos, Samira (Sthefany Brito), que, diferentemente de Khadija, detesta as tradições muçulmanas e não está disposta a segui-las, para desespero de sua mãe; e Amin (Thiago de Oliveira), que é praticamente uma cópia em miniatura do pai em termos de personalidade e comportamento. Outros personagens muçulmanos que vêm ao Brasil são Zoraide (Jandira Martini), empregada de Ali e confidente de Jade, mulher sábia e astuciosa, que quer sempre o melhor para as sobrinhas de seu patrão; a irmã de Mohamed e Saïd, Nazira (Eliane Giardini), cujo maior sonho na vida é se casar, e, por ter tido de chegar à idade de solteirona sem um pretendente, se tornou amargurada e dissimulada, incapaz de aceitar a felicidade alheia e disposta a fazer intrigas para arruinar os casamentos dos irmãos; o tio Abdul (Sebastião Vasconcellos), tio dos três irmãos, extremamente conservador e defensor das tradições; e seu filho, o primo Mustafá (Perry Salles), que vem ajudar Mohammed na loja.

Quando Lucas e Jade se reencontram, evidentemente, seu antigo amor se reacende, e ambos passam a tentar driblar suas famílias e seus problemas para ficar juntos, para desespero de Maysa e extremo ciúme de Saïd, que passa a maltratar Jade diariamente - ele até mesmo se aproveita das leis marroquinas para se casar com uma segunda esposa, Ranya (Nívea Stelmann), jovem, bonita, alegre e totalmente incompetente nos serviços domésticos, sem amá-la, só para irritar Jade e sobrecarregá-la com mais trabalho; apesar de se mostrar um homem cruel e vingativo, Saïd ama Jade verdadeiramente, e não aceita a ideia de perdê-la. A situação se complica ainda mais com a chegada ao Brasil de Zain (Luciano Szafir), egípcio bonito e sedutor conhecido como "A Maldição do Faraó", por só gostar de conquistar mulheres comprometidas, e que se interessa por Jade.

Lucas também tem seus próprios problemas, com sua complicada esposa, sua falta de jeito na empresa, e com sua filha, Mel (Débora Falabella), uma menina doce, independente e cheia de vida, que vive um romance cheio de altos e baixos com Xande (Marcello Novaes), um preparador físico de luta livre que Lucas contrata para ser seu segurança. Cansada de entrar em conflito com os pais, por causa do autoritarismo de Lucas e da arrogância de Maysa, Mel acaba encontrando uma válvula de escape nas drogas, que lhe são apresentadas por Nando (Thiago Fragoso), melhor amigo de Cecéu (Sérgio Marone), irmão de Telminha (Taís Fersoza), que, por sua vez, é a melhor amiga de Mel. Advogados recém-formados, Nando e Cecéu compartilham o sonho de trabalhar na empresa de Leônidas, mas, quando somente Cecéu é escolhido, Nando se sente rejeitado e passa a usar drogas, formando um trio de viciados que se envolve em inúmeros problemas, incluindo pequenos crimes, com Mel e a perigosa Regininha (Viviane Victorette).

Cecéu e Telminha, que, ao contrário de Mel, não é popular com os rapazes e se sente rejeitada, principalmente por se comparar com a mãe, Lidiane (Beth Goulart), a melhor amiga e confidente de Maysa, mulher extremamente vaidosa, viciada em tratamentos de beleza, e igualmente ciumenta, que usa de artimanhas para manter o marido sempre atento a ela, são filhos de Tavinho Valverde (Victor Fasano), um dos diretores da empresa de Leônidas e um dos melhores amigos de Lucas, homem vaidoso, charmoso e que faz muito sucesso com as mulheres. O casal Tavinho e Lidiane acaba se envolvendo em duas enrascadas: ele, quando Karla (Juliana Paes), ex-namorada de Xande, que quer subir na vida sem fazer esforço, usando como armas sua aparência e seus atributos físicos, segue um plano mirabolante para engravidar do empresário e viver o resto de sua vida recebendo pensão, criado por sua mãe, Odete (Mara Manzan), mulher fofoqueira e dada ao luxo, que foi engolidora de espadas num circo antes de se casar com Edvaldo, que trocou Deusa por ela por não gostar da história da inseminação artificial; ela ao se envolver com a perigosa Alicinha (Cristiana Oliveira), moça aparentemente bondosa e altruísta que vai trabalhar na empresa de Leônidas, mas que na verdade é uma mulher fria e ambiciosa, capaz de tudo para subir na vida, inclusive tratar o namorado, Miro (Raul Gazolla), como um brinquedo.

Já Nando, que, antes de se envolver com as drogas, namorava Carolina (Thalma de Freitas), sobrinha de Dalva e secretária na empresa de Leônidas, é o único filho de Clarice (Cissa Guimarães), mulher batalhadora que sofre para se reinserir no mercado de trabalho ao viver um casamento sem amor com Escobar (Marcos Frota), que foi aluno de Albieri e tem o cientista como ídolo, mas é opositor ferrenho das experiências com clonagem, e se preocupa com a ética de seu antigo professor; quando Nando se envolve com as drogas, o casamento de Escobar e Clarice desmorona, e ele começa a ter um caso com Anita (Myrian Rios), assistente de Albieri. Outra personagem importante do laboratório é Edna (Nívea Maria), secretária de Albieri, totalmente apaixonada por ele, que abriu mão de sua vida para se dedicar ao chefe, e que aceita se casar com ele mesmo sabendo que ele não a ama - pois Albieri teve uma noiva que morreu precocemente e ele jamais conseguiu superar esse fato, outro motivo que o leva a não aceitar a morte de Diogo.

Além de Mel, a questão das drogas também é abordada com o personagem Lobato (Osmar Prado), advogado de Leônidas, alcoólatra que chegou a ser abandonado pela família mas encontrou no espiritismo uma forma de se livrar do vício em álcool e em drogas ilícitas. Lobato frequenta reuniões dos Alcoólicos Anônimos e faz o possível para se manter longe da bebida, mas, depois que Mel se envolve com drogas, ele tem uma severa recaída. Outro personagem importante do núcleo de Leônidas é Yvete (Vera Fischer), mulher bonita, alegre, espontânea e levemente vulgar, que vivia basicamente de bicos como modelo, recepcionista e vendedora, e, com seu temperamento explosivo, perdeu muitos namorados e pretendentes, até conhecer Leônidas, que ficou totalmente apaixonado por ela e sustenta todas as suas vontades - mesmo sob os protestos de Lucas. Apesar da cabeça de vento, Yvete é verdadeiramente apaixonada pelo empresário - a quem ela chama de Leãozinho - e está disposta a enfrentar a tudo e a todos para se casar com ele.

Mas o personagem mais popular da novela foi Jurema Cordeiro (Solange Couto), a Dona Jura, mãe de criação de Xande e dona de um bar localizado em frente à loja de Mohamed, frequentado pelos personagens da novela e por várias celebridades da vida real, onde trabalhavam o esperto e curioso Basílio (Sílvio Guindane) e a mal-humorada Aninha (Kika Kalache). Sempre com bons conselhos, observadora sagaz da vida alheia, e com seu famoso bordão "não é brinquedo não" - criado pela atriz, durante um improviso - Dona Jura namorava Tião (Antônio Pitanga), que todo mundo via que era um vigarista, menos ela. Outros personagens cômicos da novela são Neuza (Elizângela), fogosa massagista a domicílio que procura um príncipe encantado e se torna confidente de Latiffa; e Raposão (Guilherme Karam), vigarista e estelionatário que vive de pequenos golpes, é dono de um ferro-velho, que gerencia em parceria com o igualmente mau-caráter Ligeiro (Eri Johnson), e decide enriquecer criando uma nova religião baseada no final do milênio.

Além do bar da Dona Jura, um dos locais mais animados da novela era a Estudantina, onde Deusa adorava dançar, e onde conheceu Edvaldo. Outros personagens da Estudantina eram Laurinda (Totia Meirelles), amiga de Deusa e de Yvete, e Pitoco (Marcelo Brou), professor de dança amigo de Edvaldo. Completava esse núcleo a mãe de Deusa, Dona Mocinha (Ruth de Souza), que não entendia nada dessas coisas de inseminação artificial, e desconfiava que o pai de seu neto era Albieri.

Mas novamente estamos nos esquecendo dele: o clone. Albieri queria que Deusa colocasse o nome do menino de Diogo, mas ela, achando isso mórbido, não aceitou, batizando-o como Edvaldo Leandro - Edvaldo em homenagem ao "pai", Leandro por sugestão de Albieri. Detalhe: Deusa era negra, mas o menino, evidentemente, nasceu branco como Lucas, o que foi "explicado" por Dona Mocinha pelo fato de que Deusa tinha um avô holandês. Deusa sempre achou muito estranho o relacionamento de Albieri com o menino, a quem sempre chamou de Léo - com o cientista inclusive praticamente a obrigando a colocá-lo como seu padrinho de batismo - e, pouco antes de ele chegar à adolescência, o enviou para morar com uns parentes seus no nordeste. Léo só retornaria ao Rio de Janeiro após reencontrar Albieri acidentalmente durante uma viagem do cientista pelo Maranhão; ele então causaria grande confusão na trama, pois se apaixonaria por Jade, se torna rival de Lucas, e Leônidas, ao descobrir a verdade, decidiria brigar na justiça pela paternidade do rapaz.

Duas participações especiais emocionantes da novela foram as de Mário Lago e Beatriz Segall como os cientistas Dr. Molina e Miss Brown, que eles haviam interpretado em outra novela de Glória Perez, Barriga de Aluguel, de 1990, e que participavam de uma discussão ética e científica sobre a clonagem humana com Albieri. Esse seria o último papel na TV de Mário Lago, que já se encontrava doente em decorrência de uma enfizema pulmonar, e teve de receber oxigênio nos intervalos das gravações. O ator faleceria vítima de complicações dessa enfizema alguns meses após as gravações, aos 90 anos de idade.

Outra participação que se tornaria a última seria a de Oswaldo Sargentelli, que sofreu um enfarte enquanto gravava sua participação no bar da Dona Jura, foi socorrido e levado a um hospital, mas não resistiu; Solange Couto ficaria extremamente sentida, pois foi descoberta para o meio artístico pelo sambista, iniciando sua carreira como uma das famosas Mulatas do Sargentelli. Dentre as celebridades que gravaram participações como frequentadores do bar, se destacaram Nana Caymmi, Zeca Pagodinho, Pelé, Ronaldinho Gaúcho, Clodovil, Ana Maria Braga e seu Louro José, Benito di Paula, Alcione, Jorge Aragão, Neguinho da Beija Flor, Martinho da Vila, e os grupos Fundo de Quintal, Molejo e Falamansa. Diversos atletas também gravariam participações especiais contracenando com outros personagens, como Renato Gaúcho, que chegou a jogar futevôlei com Ligeiro; como era ano anterior ao de Copa do Mundo, os ex-jogadores Nilton Santos, Félix, Jairzinho, Carlos Alberto Torres, Branco, Ricardo Rocha, Bebeto e Dunga também gravariam participações exaltando a seleção brasileira e pedindo a torcida pelo penta. Outros atletas que fizeram participações foram a lenda do basquete Oscar Schmidt; o pugilista Acelino de Freitas, o Popó; os jogadores de futebol Roger e Petkovic; a ginasta Danielle Hypólito; e a windsurfista Dora Bria. Dentre os músicos, a cantora lírica Maria Lúcia Godoy cantou a Ave Maria no casamento de Lucas com Maysa; o cantor italiano Alessandro Safina fez uma participação na inauguração da loja de Yvete; o cantor americano Michael Bolton fez um show na boate Nefertiti, de propriedade de Zain; e a cantora belga Natacha Atlas, dançarina de dança do ventre, dançou no casamento do egípcio. O cantor Tony Mouzayek, um dos mais famosos artistas libaneses da atualidade, cantou no casamento de Latiffa, que teve apresentação de dança do ventre da bailarina Iriane Martins.

Uma participação especial bastante inusitada foi a da atriz Cynthia Falabella, irmã de Débora, que contraiu meningite e teve de se afastar das gravações justamente na semana em que seria gravada uma das cenas cruciais da novela, na qual Mel sofre uma fortíssima crise de abstinência. Como Débora não tinha previsão de retorno às filmagens, a equipe de direção decidiu se aproveitar da semelhança física entre as irmãs e colocar Cynthia para fazer a cena na qual Mel, em desespero, destrói seu próprio quarto, e outra na qual ela é carregada para fora de casa por enfermeiros. O truque daria tão certo que quase a totalidade do público não perceberia se tratar de outra atriz; como "recompensa", Cynthia continuaria na novela no papel de Monique, filha de Lobato. Ainda no núcleo das drogas, a atriz Viviane Victorette, intérprete de Regininha, seria escolhida através de um concurso no programa Caldeirão do Huck; apesar de surpreender com sua interpretação, ela não conseguiria construir uma carreira de sucesso na emissora, sendo pouco aproveitada depois.

Outras participações especiais incluíram Eloísa Mafalda com uma vizinha de Sálua; Samara Felippo como uma amiga de Diogo e Lucas; Françoise Fourton como Simone, uma antiga assistente de Albieri; Carolina Macieira como Sumaira, amiga de Samira; Caio Junqueira como Pedrinho, filho de Lobato; Carla Regina como Dora, ex-namorada de Xande; Andressa Koetz como Soninha, vendedora da loja de Yvete; Danielle Winits como Shirley, uma namorada de Escobar; Jayme Periard como Roger, um namorado de Clarice; Eduardo Martini como Cotia, o apresentador da Estudantina; Francisco Cuoco como o Padre Matioli; Murilo Grossi como Júlio, assistente de Albieri; Humberto Martins como Aurélio, ex-marido de Alicinha; Karina Bacchi como Muna, candidata a esposa de Saïd; Eduardo Canuto como o mecânico Gasolina; Nuno Leal Maia como o jornalista Jorge Luís; Paulo Betti como Armando, ex-namorado de Yvete; Sílvia Pfeiffer como Cinira, ex-namorada de Leônidas; Tânia Alves como Norma, amiga de Deusa; Sérgio Mamberti como o cientista Dr. Vilela; Joana Fomm como a médica Dra. Cecília; Paula Pereira como a doméstica Creuza; e a atriz portuguesa Maria João Bastos como a tradutora Amália. Tony Ramos também faria uma participação no último capítulo, como um namorado de Maysa.

O Clone foi apresentado por Glória Perez à Globo no ano 2000, mas, coincidentemente, teve sua estreia marcada para pouco menos de um mês após os atentados de 11 de setembro, o que causou grande preocupação na Globo devido ao núcleo de personagens muçulmanos; felizmente, o público não somente aceitou esse núcleo e transformou a novela em um grande sucesso, como também expressões em árabe ou típicas dos muçulmanos, como insh'allah, haram, maktub, habib, "arder no mármore do inferno", "mostrar a figura na medina" e "jogar palavras ao vento" se tornariam verdadeiros bordões, repetidos pelo povo nas ruas - fazendo companhia ao já citado "não é brinquedo não" de Dona Jura, ao "bom te ver" de Ligeiro, e ao "cada mergulho é um flash", repetido por Odete cada vez que dizia que ia mudar de vida.

Mais do que bordões, O Clone ajudaria a popularizar histórias e poesias árabes, e, principalmente, canções, onipresentes na trilha sonora da novela, e instrumentos típicos, como o tambor derbak, o pandeiro odaff e o snuj, dois pequeninos pratos de metal tocados com os dedos. Os estúdios de dança do ventre viram um expressivo aumento em suas turmas, e novos estúdios abririam em decorrência do sucesso da novela, transformando a dança do ventre em uma das atividades físicas mais procuradas pelas brasileiras. Não há como medir o impacto da novela na aceitação da comunidade e dos costumes muçulmanos no Brasil, nem como prever o quão diferente a reação do público em geral poderia ter sido a essa comunidade - em vista da onipresença de al-qaeda, talibãs e outros elementos mais sinistros do mundo árabe nos telejornais da época - sem o sucesso dos personagens muçulmanos da novela.

Aliás, não só no Brasil: O Clone se tornaria a novela mais vendida da Globo até então, sendo negociada para mais de 90 países ao redor do mundo. Uma das primeiras negociações seria com a Telemundo, emissora voltada para a comunidade hispânica dos Estados Unidos, que a exibiu dublada em espanhol com o nome de El Clón, e viu sua audiência aumentar em 60% no horário da novela. Milhares de bebês seriam registrados nos Estados Unidos em 2002 com o nome de Jade, e novas academias de dança do ventre abririam pelo país em velocidade jamais vista. Além de nos Estados Unidos, a novela seria um grande sucesso também em Portugal, Argentina, Chile, Colômbia, El Salvador, Moçambique, Peru, Romênia, Rússia, Sérvia, Kosovo e Albânia - esses dois últimos, países cuja maioria da população é muçulmana. Antonio Calloni, um dos atores mais populares na Albânia, chegou a dar uma entrevista para um famoso jornal albanês, que a publicou em sua primeira página. Segundo o diretor artístico da área internacional da Globo na época, Geraldo Casé, nunca uma novela influenciou tanto os costumes dos países onde foi exibida.

Para retratar a cultura muçulmana com fidelidade, Glória Perez contaria com uma assessoria de respeito, formada pelo sheik Jihad Hassan Hammadeh, presidente do Conselho de Ética da União Nacional das Entidades Islâmicas e vice-presidente da Assembleia Mundial para a Juventude Muçulmana (WAMY), pelo sudanês Abdelbagi Sidahmed Osman, presidente e iman (teólogo e condutor das orações, equivalente a um padre, pastor ou rabino) da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro, e pelos irmãos marroquinos Karima e Ahmed Elmaataoui, que acabariam fazendo participações especiais como empregados de Ali. A consultoria sobre a parte da clonagem ficaria por conta dos geneticistas Walter Pinto, Aline Chaves Alexandrino e Sérgio Simões. Um mês após a estreia da novela, em novembro de 2001, o médico italiano Severino Antinori anunciou que faria o primeiro clone humano. Apesar da semelhança entre os nomes Antinori e Albieri, tratou-se de uma grande coincidência, que também acabou contribuindo para o interesse do público - jornais do mundo inteiro, ao citar a experiência de Antinori, fizeram menção à novela. Vale dizer que a clonagem não era uma novidade, pois o primeiro clone do mundo, a ovelha Dolly, nasceu em 1997, mas a clonagem humana até hoje é fruto apenas de boatos e especulações, principalmente porque muitos países, preocupados com as repercussões éticas e morais, decidiriam proibi-la.

Além de contribuir para a desmistificação da cultura muçulmana, O Clone foi considerado de vital importância para a humanização dos usuários de drogas, e teve papel importante para que muitos dependentes procurassem ajuda - estima-se que houve um aumento de 30% no número de pessoas que procuraram ajuda especializada em 2002 em relação à média anual anterior. Além de mostrar o drama de Mel, Nando e Lobato, a novela trazia regularmente depoimentos reais de pessoas que conseguiram derrotar o vício, não só anônimos, mas também celebridades como o ator Carlos Vereza e a cantora Nana Caymmi. Por esse trabalho, Glória Perez seria homenageada pela Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas (ABRAD) e recebeu o prêmio Personalidade do Ano em 2001 e 2002, concedido pelo Conselho Estadual Antidrogas do Rio de Janeiro. Em 2003, Glória e o diretor Jayme Monjardim receberam um prêmio especial concedido pelo FBI e pelo DEA, os dois principais órgãos do governo norte-americano responsáveis pelo controle do tráfico de drogas nos Estados Unidos, pois a exibição da novela pela Telemundo surtiu naquele país efeito semelhante ao visto no Brasil.

A preparação do elenco e da equipe da novela contou com palestras, textos e filmes sobre clonagem, cultura muçulmana e dependência química. Os atores visitaram clínicas de fertilização e laboratórios de clonagem, e tiveram aulas de dança do ventre e dança árabe masculina com a professora Claudia Cenci, que faria uma participação como a dançarina Aisha. As danças da Estudantina seriam coreografadas por Sandra Regina, e todo o elenco teria aulas de dramaturgia com a instrutora Rossela Terranova. Uma vasta pesquisa sobre drogas também seria apresentada ao elenco envolvido com essa subtrama; Osmar Prado frequentaria reuniões dos Alcoólicos Anônimos e chegaria a implementar em sua vida a Teoria dos 12 Passos.

A equipe de produção gravou em cinco cidades do Marrocos - Marrakesch, El Jadida, Erfoud, Ouarzazate e Fez - antes de construir uma pequena réplica de Fez nos estúdios da Globo no Projac, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Produtores e figurinistas contratados no Marrocos deram suporte à equipe brasileira para que tudo ficasse o mais fiel possível. Embora tenha rendido cenas belíssimas, como a de uma caravana de beduínos que seria considerada uma das mais marcantes da novela, as gravações no Marrocos também tiveram momentos de muita tensão: praticamente todo o elenco teve de comprar sandálias locais com solas de couro, pois o calor do deserto derretia as solas de borracha dos calçados levados do Brasil; durante as gravações em Erfoud, o calor de 53 graus fez com que duas câmeras pifassem, com as gravações tendo de ser interrompidas até que duas novas chegassem do Rio de Janeiro; e um escorpião cujo veneno mata em duas horas foi encontrado pela equipe marroquina zanzando a menos de dez passos do local onde estava sendo gravada uma cena com Murilo Benício, Giovanna Antonelli e Stênio Garcia.

Cerca de 700 peças de figurino foram trazidas do Marrocos, incluindo túnicas masculinas e femininas, sapatos e sandálias, lenços de cabeça, véus, bolsas, chapéus, colares, pulseiras, brincos e anéis, de prata ou banhados a ouro. Uma das peças mais impressionantes foi o vestido de casamento de Latiffa, comprado em Fez, que se tornou um dos maiores destaques das gravações. Os figurinos da primeira fase da novela ficariam a cargo de Paulo Lois, e os da segunda fase com Marília Carneiro.

Com Murilo Benício interpretando primeiro gêmeos e depois seu próprio clone, e a computação gráfica na TV ainda em estágio inicial, a equipe da novela teria bastante trabalho. Sempre que contracenava "consigo mesmo", o ator tinha de gravar a mesma cena duas vezes, no mesmo cenário, se utilizando de marcações no chão, primeiro como um dos personagens, depois como o outro; com a ajuda de um software canadense, bizarramente chamado Inferno, a equipe de pós-produção tinha de "recortar e colar" as cenas uma a uma, para parecer que ambos os personagens estavam juntos - o que realmente deveria ser um verdadeiro inferno. Nas poucas sequências em que os dois personagens interagiam fisicamente, a solução era usar um dublê. Outra sequência que deu muito trabalho para a equipe de efeitos visuais foi na primeira fase, quando Lucas, Diogo e Albieri viajaram ao Egito; como não houve gravações naquele país, os atores tiveram de filmar em frente a um chroma key - duas vezes a mesma cena, uma com Murilo interpretando Lucas, outra com ele interpretando Diogo - para que o cenário fosse incluído digitalmente.

A abertura, mais uma vez a cargo de Hans Donner, trazia o bailarino Floriano Nogueira, que criou sua própria coreografia, se movimentando como se estivesse solto no espaço - ou, segundo Donner, como um embrião dentro do útero. A abertura foi filmada em frente a um chroma key, com efeitos de computação gráfica sendo adicionados posteriormente; uma das partes mais complicadas foi quando o bailarino teve de ficar equilibrado sobre uma espécie de selim, sem qualquer apoio, durante meia hora. No final da abertura, um efeito de computação duplicava o bailarino, que se dividia antes de caminhar em direção à tela. O título da novela imitava uma cadeia de DNA. A música de abertura, Sob o Sol, seria interpretada pela banda Sagrado Coração da Terra.

Marcus Viana, vocalista do Sagrado Coração da Terra, seria o responsável pela trilha sonora incidental - aquelas músicas instrumentais que pontuam as cenas - além de interpretar mais duas da trilha sonora nacional, A Miragem, tema romântico de Jade e Lucas, e Maktub, expressão árabe que significa "estava escrito". Outros destaques da trilha nacional incluíam Meu Grande Amor, de Lara Fabian, Escândalo, de Caetano Veloso, e Alto Lá, de Zeca Pagodinho. Como era costume, além de uma trilha nacional, composta por canções em português, a novela teve uma internacional, composta por canções interpretadas por artistas estrangeiros, cheia de músicas árabes - Adarghal, de Abdelli, Bir Gunah Gibi, de Ajda Pekkan, Urga, de Badema, El Alem Alah e Nour El Ain, de Amr Diab, Alez Alaya, de Tony Mouzayek - ou de sonoridade árabe - Desert Rose, de Sting, Whenever Wherever, de Shakira, Marcas de Ayer, de Adriana Mezzadri. Outros destaques da trilha internacional foram Luna, de Alessandro Safina, My Lover's Gone, de Dido, Dans la Nuit, de Sarah Brightman, e All For Love, de Michael Bolton, tema romântico de Jade e Lucas, cujo início lembrava muito o refrão de A Miragem - mas, ao contrário do que muita gente pensa, foi Bolton quem fez uma versão da música de Viana, e não o contrário, a pedido da Globo e especialmente para sua inclusão na novela.

Além das trilhas sonoras nacional e internacional, outros três álbuns seriam lançados contendo canções que apareceram na novela: O Clone: O Melhor da Dança do Ventre, posteriormente relançado como Danças do Ventre de O Clone, trazia algumas músicas árabes presentes na trilha internacional e mais outras, para pegar carona no sucesso que o estilo estava fazendo no Brasil; O Melhor do Bar da Dona Jura trazia canções interpretadas pelos convidados do bar, incluindo Em Busca do Penta, de Pelé; e Músicas da Boate Nefertiti - Ísis Lounge, Temple Of Dance trazia músicas dançantes selecionadas por Viana, com algumas delas tendo tocado na boate de Zain. Com autorização da Globo, Viana também lançaria o álbum Maktub - Trilhas e Temas de O Clone, com as músicas que ele compôs para a novela e mais algumas inspiradas em seus acontecimentos. Durante a exibição pela Telemundo, seria lançada também uma trilha sonora própria, apenas com canções em espanhol, interpretadas por artistas latino-americanos - incluindo versões em espanhol de A Miragem (El Miraje) e Luna.

O Clone conquistaria três prêmios INTE, o Emmy da televisão de língua espanhola, de Melhor Novela, Melhor Autora e Melhor Atriz (Giovanna Antonelli); Giovanna e Murilo Benício também seriam eleitos o casal mais famoso do mundo em 2002 pela revista People. No Brasil, além de a obra ganhar o Troféu Imprensa de Melhor Novela de 2002, Eliane Giardini ganharia o prêmio de Melhor Atriz, e Sthefany Brito o de Revelação do Ano, da Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 2013, o instituto WIT, sediado em Cannes, França, e especializado em pesquisar tendências de conteúdo televisivo e programação digital pelo mundo, listaria as obras televisivas mais importantes dos últimos 50 anos; O Clone seria a única produção brasileira da lista.

Grande sucesso significa reprises, e, nesse quesito, até que O Clone demoraria para ser reprisado. Sua exibição no Vale a Pena Ver de Novo ocorreria entre 10 de janeiro e 9 de setembro de 2011, quase dez anos após sua exibição original, em versão condensada em 175 capítulos. Na íntegra, a novela vem sendo exibida pelo canal Viva, a partir de 9 de dezembro de 2019 - curiosamente, eu não sabia disso, descobri agora enquanto estava pesquisando pra escrever esse texto.

Em 2008, a Telemundo negociaria com a Globo a produção de sua própria versão de El Clón - ao invés de dublar a novela brasileira, eles produziriam uma nova, com um novo roteiro inspirado no original, atores hispânicos e gravações na Colômbia, Estados Unidos e Marrocos, para exibição exclusiva nos Estados Unidos. A Globo participaria ativamente da adaptação, conceituação e pré-produção, com o projeto inclusive contando com o envolvimento de Glória Perez e Jayme Monjardim, para garantir a máxima fidelidade ao original, mas total adequação à nova época e à cultura da comunidade hispânica nos Estados Unidos. Essa foi a única vez em que uma obra da Globo foi totalmente refeita para um mercado estrangeiro, e El Clón se tornaria o maior sucesso de audiência de todos os tempos da Telemundo.

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