segunda-feira, 20 de junho de 2016

Escrito por em 20.6.16 com 0 comentários

Tiro com Arco (I)

Hoje prosseguirei em meu intuito jamais declarado de falar sobre todos os esportes do programa das Olimpíadas, falando sobre o tiro com arco.

O arco é uma das armas mais antigas inventadas pelo homem, existindo registros de que ele teria sido criado no período Paleolítico. Originalmente usado para caça, logo se tornaria também uma arma de guerra, importante para atingir os inimigos à distância. Como a precisão é uma parte fundamental no uso do arco, logo começaram a surgir treinamentos específicos para melhorar a pontaria dos arqueiros, assim como concursos para determinar aquele que era mais preciso. Com o surgimento das armas de fogo, porém, o arco foi aos poucos caindo em desuso, tanto na caça quanto na guerra, e, no século XVI, os treinamentos e competições de precisão já haviam desaparecido quase que por completo.

No final do século XVIII, entretanto, as competições de tiro com arco voltariam à moda dentre a nobreza europeia, que sempre manteve o hábito de treinar seus membros mais jovens no manejo do arco, ainda que isso não tivesse muita utilidade prática. Concursos de arqueria que tentavam imitar o clima de feiras medievais eram comuns em vários países, especialmente Inglaterra, Escócia e França, nos quais homens e mulheres disputavam quem tinha a melhor mira, recebendo como prêmio coroas de louros e belos cálices decorados. Mais que concursos de arqueria, essas feiras eram verdadeiros eventos sociais, nos quais os nobres podiam se encontrar, se confraternizar e fazer política; por causa disso, apenas as mais altas classes aristocráticas podiam participar.

Após as Guerras Napoleônicas, devido, principalmente, à popularidade do romance Ivanhoé, escrito por Sir Walter Scott e publicado em 1819, a prática do tiro com arco se popularizaria também dentre as demais camadas da população, e logo começariam a surgir clubes de arqueria e torneios abertos a arqueiros de qualquer classe social. Os primeiros esforços para a transformação do tiro com arco em esporte começariam em 1840, com a fundação da Grande Sociedade Nacional de Arqueria, que, em 1844, em sua sede na cidade de York, criaria a primeira versão de um conjunto de regras apelidado de York Round, com o intuito de que esse formato fosse adotado em todas as competições de tiro com arco realizadas na Inglaterra. Em 1889, já havia mais de 50 clubes de arqueria na Inglaterra, e a moda do tiro com arco já havia se espalhado para França, Bélgica e Estados Unidos, o que garantiria a inclusão do esporte logo nas primeiras edições dos Jogos Olímpicos.

Cada país, porém, acabava inventando suas próprias regras de competição - o York Round podia ser popular na Inglaterra, mas nos Estados Unidos eles preferiam o Columbia Round, por exemplo - o que tornava competições internacionais um tanto difíceis. Para tentar padronizar o esporte no mundo todo, em 1931 as federações nacionais de França, Tchecoslováquia, Suécia, Polônia, Hungria, Itália e Estados Unidos se reuniram e fundaram a Federação Internacional de Tiro ao Arco (FITA, da sigla em francês), que, em 2011, mudaria de nome para World Archery (WA), e que hoje conta com 156 membros, incluindo o Brasil. Curiosamente, embora todos os membros da WA organizem campeonatos segundo suas regras, ainda existem vários tipos de provas (como os já citados York Round e Columbia Round) e até mesmo de arcos que ainda são usados em campeonatos nacionais, embora não façam parte dos conjuntos de regras padrão da WA.

Atualmente, por exemplo, existem dezenas de tipos de arcos diferentes à disposição dos praticantes do esporte, mas, para uso em seus torneios oficiais, a WA só permite dois deles. O mais comum é o chamado arco recurvo, que tem esse nome porque suas pontas são curvas para fora, o que transmite mais energia para a flecha no momento em que o arqueiro solta a corda, resultando em mais velocidade. Criado na antiguidade e usado por povos como os persas e os chineses, os arcos recurvos modernos são compostos de três partes separadas, sendo uma parte central, feita de madeira, fibra de carbono, alumínio ou magnésio, onde fica a empunhadura e o descanso da flecha, e duas lâminas, onde a corda fica presa, feitas de múltiplas camadas de fibra de vidro, fibra de carbono, madeira, ou de uma combinação dos três sobre um núcleo de madeira leve ou espuma. A parte central conta ainda com uma espécie de régua na frente, que serve como mira, e pode ter acoplado um dispositivo conhecido como clicker, que faz um leve som quando a corda atinge o ponto ideal de tensão - com muitos arqueiros treinando para soltar a corda no exato momento em que ouvem este som. A corda costuma ser feita de uma combinação de polietilenos e polímeros sintéticos, conhecidos pelos nomes de suas marcas registradas, como Spectra, Dyneema, Vectran, Dacron e até mesmo o famoso Kevlar.

O segundo tipo é o chamado arco composto, que usa um sistema de roldanas e eixos giratórios para transferir a maior força possível da corda para as flechas - e que, graças a isso, se parece muito mais com uma arma bizarra inventada pelo diretor de arte de um filme de ação do que com algo que veríamos em uma competição esportiva. Assim como o arco recurvo, o composto possui uma parte central e duas lâminas, sendo que, nesse caso, a parte central costuma ser feita de uma liga de alumínio, zinco, magnésio e cobre criada para ser usada na construção de aeronaves, conhecida como alumínio-7075A; as lâminas e a corda são feitas do mesmo material que as do recurvo. Na ponta de cada lâmina há uma ou mais roldanas e eixos giratórios, feitos de fibra de carbono, alumínio ou magnésio, por onde passa a corda; no arco composto, é o movimento das roldanas e eixos que aumentará a tensão da corda, e não a curvatura do arco. Assim como o arco recurvo, o composto também tem uma mira na frente. O arco composto foi criado em 1966 pelo norte-americano H.W. Allen, Jr., inventor de profissão e caçador nas horas vagas, que achava o arco recurvo pouco eficiente; talvez por uma questão de nacionalismo, o arco composto é bem mais popular nos Estados Unidos que os demais modelos, sendo lá o único país no qual ele é mais popular que o recurvo.

A WA reconhece ainda um "tipo de arco" conhecido como barebow - entre aspas porque não é um tipo diferente, e sim um arco recurvo sem nenhuma "modernidade" adicionada, para fazer com que o arqueiro de hoje tenha uma experiência próxima das dos arqueiros do passado. Arcos barebow não podem ter estabilizadores, clickers, mira, marcas no arco para ajudar no posicionamento das mãos ou das flechas, ou qualquer adicional opcional - como o kisser, dispositivo que alguns arqueiros usam preso à corda e que encosta em sua boca quando eles a estendem ao máximo (por isso o nome, já que kiss, em inglês, significa "beijo"). Segundo os entusiastas do barebow, a remoção desses elementos faz com que o sucesso do arqueiro fique ainda mais vinculado à sua própria habilidade.

Seja qual for o tipo de arco, as exatas dimensões do mesmo dependerão de fatores como a altura e a envergadura do arqueiro, mas um arco de competição costuma ter entre 1,5 e 1,8 m de comprimento de uma ponta à outra. As flechas são as mesmas para todos os tipos de arco, feitas de um núcleo de alumínio coberto por uma camada de uma combinação de plástico e fibra de carbono, com uma pequena seta de alumínio em uma das pontas e, na outra, aletas feitas de finas cerdas de plástico, chamadas rêmiges, que dão sustentação ao voo da flecha. Flechas de competição costumam ter três rêmiges, para que nenhuma delas toque no arco quando a flecha é lançada, e uma delas pode ser de cor diferente, para auxiliar na mira. Flechas de competição têm entre 75 e 96 cm de comprimento, e, mais uma vez, seu comprimento ideal depende da envergadura do arqueiro - uma flecha muito curta, inclusive, pode fazer com que o arqueiro acerte a própria mão que está segurando o arco.

A WA reconhece cinco modalidades do tiro com arco, nenhuma delas, até onde eu saiba, com nome em português - em todos os lugares onde pesquisei, todas elas são chamadas simplesmente de "tiro com arco". A mais famosa é a chamada target archery, na qual os arqueiros devem atingir um alvo composto por círculos coloridos concêntricos. A target archery se subdivide em duas categorias, a indoor, disputada em ginásios cobertos, e a outdoor, disputada ao ar livre. Também são disputadas provas em separado para o recurvo e o composto - competições oficiais da WA não usam barebow.

Competições oficiais da WA são compostas por duas etapas. Na primeira, cada arqueiro terá direito a disparar um determinado número de flechas (72 no outdoor, 60 no indoor), em grupos de três (cada arqueiro dispara três flechas, seus pontos são somados, elas são recolhidas, então eles disparam mais três, e assim sucessivamente até terem disparado todas), e, de acordo com sua pontuação, eles serão ranqueados; na segunda, os arqueiros se enfrentam dois a dois, com o melhor ranqueado enfrentando o pior (caso sejam 64 arqueiros, por exemplo, o 1 enfrentará o 64, o 2 enfrentará o 63, e assim por diante). Em cada confronto, aquele que somar mais pontos avançará para o confronto seguinte, enquanto o outro será eliminado. Quando só restarem quatro arqueiros competindo, os dois vencedores avançarão para a disputa da medalha de ouro, e os dois perdedores farão a disputa da medalha de bronze. Vale citar que, para competições que começam com muitos arqueiros, a WA estabelece um "teto" para se classificar para a segunda fase: em competições indoor, apenas os 32 melhores da primeira fase se classificam para a segunda; nas outdoor, se classificam os 104 melhores, com os 8 melhores começando direto na terceira rodada da segunda fase. Evidentemente, se houver menos competidores na primeira fase que o teto, se classificam todos - nas Olimpíadas, por exemplo, só participam 64 arqueiros, então todos se classificam para a segunda fase.

Nos confrontos da segunda fase, nas provas de arco composto, cada arqueiro terá direito a disparar 15 flechas, novamente em grupos de três, e aquele que tiver mais pontos ao final dos 15 disparos será o vencedor. Já no recurvo é usado um sistema de sets para se determinar o vencedor: a cada set, cada arqueiro dispara três flechas, e quem fizer a maior pontuação ganha 2 pontos, sendo que, se ambos empatarem, cada um ganha 1 ponto; quem fizer 6 pontos primeiro será o vencedor do confronto. Caso ambos os arqueiros estejam empatados em 5 pontos - e caso ambos terminem com a mesma pontuação total em uma prova do composto - é usada, para desempate, a "flecha de ouro": cada arqueiro dispara uma única flecha, e quem fizer a maior pontuação com ela vence. Caso ambos façam a mesma pontuação, cada um dispara mais uma flecha, até que haja um vencedor.

Os alvos da target archery são compostos de vários círculos concêntricos e coloridos. Nas provas outdoor de recurvo, ele fica posicionado a 70 metros do ponto de onde os arqueiros disparam suas flechas, tem 122 cm de diâmetro, e é formado por 10 círculos. De fora para dentro, cada um desses 10 círculos vale um ponto a mais (o círculo mais de fora vale 1 ponto, o seguinte 2, até o menorzinho do meio, que vale 10). Para melhor contraste, os círculos de valor 1 e 2 são brancos, 3 e 4 pretos, 5 e 6 azuis, 7 e 8 vermelhos, e 9 e 10 amarelos. Dentro do círculo 10 há ainda um "décimo-primeiro círculo", de 2 cm de diâmetro, também amarelo e demarcado com uma linha dourada (os demais são demarcados com linhas pretas), conhecido como X, que também vale 10 pontos, mas que serve como desempate - o número de X conseguidos por cada arqueiro é devidamente registrado, e, caso uma disputa termine empatada, quem conseguiu mais X será o vencedor, só sendo verdadeiramente empate se ambos tiverem o mesmo número de acertos no X. Vale citar também que, caso uma flecha acerte sobre a linha que separa um círculo do outro, ela marca sempre a pontuação maior.

Já nas provas outdoor de composto, o alvo fica a 50 metros, tem 80 cm de diâmetro, e 6 círculos concêntricos, de valor 5 a 10, nas mesmas cores daquele usado no recurvo (azul, vermelho e amarelo, respectivamente), mais o círculo do X, que tem apenas 1 cm de diâmetro. Finalmente, nas provas indoor, o alvo fica a 18 metros, tem 40 cm de diâmetro e, assim como o do composto, 6 círculos concêntricos mais o X - sendo que, em provas de recurvo indoor, o X tem 2 cm de diâmetro, e em provas de composto indoor tem 1 cm. Provas indoor não usam um único alvo, e sim três, posicionados um acima do outro (como em um semáforo), sendo que, em cada grupo de três flechas, deve ser obrigatoriamente disparada uma em cada alvo. Esse sistema foi criado porque, como o alvo e a distância são menores, muitos arqueiros tentavam "imitar Robin Hood" e acertar uma flecha no meio da outra quando acertavam o X, danificando as flechas e arriscando ferir pessoas próximas com os estilhaços, e tentativas de proibir essa prática foram recebidas com reclamações de que isso diminuiria as pontuações.

Além das provas individuais, também existem provas de target archery por equipes, com provas por equipes masculinas e femininas sendo disputadas indoor e outdoor, e por equipes mistas apenas outdoor. Uma equipe masculina ou feminina é composta por três atletas, enquanto uma equipe mista é formada por dois. As regras são as mesmas das provas individuais, mas com direito a mais flechas, e as flechas sendo divididas pelos atletas da equipe - em uma prova de equipes usando arco recurvo, por exemplo, a cada set, ao invés das três flechas da prova individual, cada membro da equipe dispara duas flechas, para um total de seis (no caso de equipes masculinas e femininas) ou quatro (no caso de equipes mistas), enquanto nas provas de composto, equipes masculinas e femininas têm direito a 24 flechas em grupos de seis, e equipes mistas a 16 flechas em grupos de 4, ao invés das 15 flechas em grupos de 3 do individual.

A segunda modalidade mais popular do tiro com arco é a field archery, que, além de ser regulada pela WA, também tem uma federação internacional dedicada apenas a ela, a IFAA (sigla em inglês para Associação Internacional de Field Archery), sendo que os eventos da IFAA contam com muitas regras diferentes daquelas adotadas pela WA. Seja como for, a field archery busca emular uma caçada, com suas provas sendo disputadas sempre ao ar livre, em amplos espaços abertos, em um trajeto chamado de circuito, que conta com vários alvos de diversos tamanhos posicionados a diferentes distâncias. A principal característica da field archery, entretanto, é que, diferentemente da target archery, onde os arqueiros sempre estarão posicionados de frente e perpendiculares ao alvo, com uma boa visão deste, e tendo como único obstáculo o vento, na field archery os alvos podem estar em terreno elevado ou mais baixo, na sombra, encobertos ou em outras situações que demandarão não somente habilidade, mas também destreza e inteligência dos arqueiros para conseguirem a maior pontuação possível. Todos os três tipos de arco permitidos pela WA - recurvo, composto e barebow - são usados na field archery, com provas em separado para cada um deles.

Os alvos na field archery podem ter quatro diâmetros diferentes - 20, 40, 60 ou 80 cm - e não possuem uma distância padrão a partir do ponto de onde os arqueiros dispararão suas flechas, podendo ser posicionados até uma distância máxima de 60 metros - sendo que, quanto maior a distância, maior também o diâmetro do alvo. O local de onde o arqueiro deverá disparar suas flechas é demarcado com uma pequena placa, chamada peg, sendo que, para os arcos recurvo e composto, é usado um peg de cor vermelha, enquanto para o barebow é usado um de cor azul, e a distância da qual os arqueiros do barebow disparam é sempre menor que a dos outros dois - e os pegs de cor diferente servem para que o mesmo circuito possa ser usado nas três provas. Cada alvo é composto por seis círculos concêntricos, sendo os dois mais do centro de cor amarela e os demais de cor preta; de fora para dentro, cada um desses círculos vale de 1 a 6 pontos.

Competições oficiais da WA começam com uma fase de classificação, que dura dois dias. Em cada um deles, todos os arqueiros percorrerão o circuito, devendo atirar três flechas em cada um de 24 alvos espalhados pelo mesmo; a diferença é que, no primeiro dia, a distância dos alvos é "marcada", ou seja, está escrita, em metros, no peg, enquanto no segundo dia ela não é marcada, devendo ser calculada pelo arqueiro - e, evidentemente, os alvos do primeiro e do segundo dia são diferentes. A pontuação de todos os 48 alvos (24 de cada dia) de cada arqueiro é somada, todos são ranqueados, e os 16 com melhor pontuação avançam para as oitavas de final, onde percorrerão um circuito com 12 alvos marcados, novamente com 3 flechas para cada. Os oito melhores passam para as quartas de final, onde o circuito tem 8 alvos marcados. Os quatro melhores passam para as semifinais, onde aquele ranqueado como 1 enfrentará o 4 e o 2 enfrentará o 3, em um circuito de 4 alvos marcados. Os vencedores das semifinais disputam a medalha de ouro, enquanto os perdedores disputam o bronze, mais uma vez em um circuito de 4 alvos marcados. Se, em qualquer uma das etapas, um ou mais arqueiros estiverem empatados, de forma que seja preciso desempatá-los para definir quem avança à etapa seguinte, será sorteado um dos alvos e usado o mesmo método da "flecha de ouro" da target archery.

Assim como na target archery, existem provas de field archery por equipes. As equipes são sempre masculinas ou femininas (nunca mistas), e sempre compostas por três atletas cada. As regras são as mesmas das provas individuais, sendo que cada membro da equipe dispara uma única flecha por alvo - o que mantém, portanto, o total de três por alvo.

A terceira modalidade é a 3D archery, bastante semelhante à field archery, mas na qual são usadas como alvos réplicas em espuma de animais, como cervos, pumas e ursos. As regras são as mesmas da field archery, mas nenhum dos alvos é marcado. A pontuação depende da área atingida no "animal". Existem provas de 3D archery para arco composto e barebow, individuais ou por equipes, e um tipo de prova chamada "instintiva", na qual as posições para os tiros são mais complicados, e seu sucesso depende mais do instinto do arqueiro que de sua mira.

A quarta modalidade é a clout archery, na qual o objetivo é acertar a flecha o mais próximo possível de uma bandeira, semelhante àquelas usadas no golfe. A principal característica da clout archery é que a bandeira fica a uma distância bem grande, o que faz com que o arqueiro tenha de atirar levemente para cima, para que a flecha suba e então caia próxima a ela. As distâncias oficiais da WA são 185 m para o composto masculino, 165 m para o recurvo masculino e o composto feminino, e 125 m para o recurvo feminino; o barebow não é usado. A bandeira é feita de pano, deve ter no máximo 80 cm de altura por 30 cm de largura, e estar afixada a um poste de madeira de no mínimo 50 cm de altura. A proximidade do local onde a flecha caiu em relação à bandeira é que determina a pontuação do arqueiro: uma flecha que caia a até 1,5 m de distância da bandeira, em qualquer direção, marca 5 pontos, e, a partir daí, um ponto a menos para cada 1,5 m a mais - ou seja, 4 pontos para 3 m, 3 pontos para 4,5 m, 2 pontos para 6 m e 1 ponto para 7,5 m, com flechas que caiam mais longe que isso não pontuando. Competições internacionais costumam ter grandes círculos concêntricos pintados no chão ao redor da bandeira para facilitar na hora de determinar a pontuação. Cada arqueiro tem direito a 36 flechas, disparadas em grupos de seis; depois que todos tiverem disparado, aquele com mais pontos será o vencedor, sendo usada a "flecha de ouro" caso seja necessário um desempate.

Finalmente, temos a flight archery, na qual o vencedor é simplesmente aquele que dispara a flecha mais longe. Não há alvo, e precisão não é necessária, basta apontar o arco levemente para cima e fazer com que sua flecha caia mais longe que as dos demais competidores. A WA não organiza campeonatos de flight archery, mas sanciona recordes obtidos em outros campeonatos e em eventos de arqueria; além dos recordes para os arcos recurvo e composto, a WA reconhece recordes obtidos com outros cinco tipos de arco: o arco longo americano, o arco longo inglês, o arco de voo, o arco composto de voo, e o arco de pés - disparado, como o nome sugere, com os pés, e não com as mãos.

A WA também é a responsável por regular o tiro com arco paralímpico, o qual ela chama de para archery. As provas do tiro com arco paralímpico seguem as mesmas regras da target archery, mas apenas com provas outdoor.

Assim como nos demais esportes paralímpicos, no tiro com arco os atletas são classificados de acordo com sua deficiência, para que todos possam competir em igualdade de condições. Atualmente, a WA reconhece quatro classes para o tiro com arco paralímpico: Aberta, W1, V1 e V2/3. Nas categorias V1 e V2/3 competem os deficientes visuais, sendo que, quanto mais alto o número após o V, maior o grau de deficiência. Atletas dessa categoria competem usando o arco recurvo, e podem contar com um assistente, posicionado de pé ou sentado um metro atrás da posição do atleta, que deve informá-lo do resultado de cada tiro e recolher as flechas após cada série. Atletas da classe V1 devem competir vendados. Como não podem ver o alvo, atletas das classes V1 e V2/3 contam com um aparelho chamado tactile sight, uma espécie de tripé apontado para o alvo, tocando no qual podem calcular a direção do tiro.

A classe W1 é destinadas aos cadeirantes, incluindo paraplégicos, tetraplégicos, biamputados e atletas com má formação dos membros inferiores. Esses atletas podem competir com o arco recurvo ou com o composto, com provas em separado para cada tipo de arco, sendo que é usado um arco especialmente adaptado para uso sentado. Finalmente, na categoria Aberta competem atletas que tenham dificuldades de equilíbrio, amputados que usem próteses, e outros cujas deficiências lhes permitam competir normalmente de pé ou apoiados em um banquinho. Esses atletas também podem competir com o arco recurvo ou com o composto, com provas em separado para cada tipo de arco.

O tiro com arco estreou no programa das Olimpíadas em 1900, e lá ficou até 1920 (não tendo sido disputado em 1912), quando foi removido. A razão para a remoção foi que, como na época o esporte não tinha uma federação internacional, a escolha das provas ficava a cargo do comitê organizador, que, evidentemente, escolhia sempre as provas nas quais os arqueiros da casa se dariam melhor - em 1904, em Saint Louis, Estados Unidos, por exemplo, todos os participantes seriam norte-americanos, pois não havia competidores estrangeiros presentes familiarizados o suficiente com as regras para se animar a participar da competição. No total, em 1900 seriam disputadas 6 provas, todas masculinas; em 1904, outras 6, sendo 3 masculinas e 3 femininas; em 1908 seriam 3 provas, duas masculinas e uma feminina; e em 1920 seriam 10 provas, todas masculinas - com a característica curiosa de que nenhuma dessas provas se repetiu, ou seja, tivemos 25 provas diferentes em quatro edições.

Apesar de a WA ter sido fundada em 1931, apenas em 1972 o tiro com arco conseguiria retornar ao programa das Olimpíadas, com as provas individuais masculina e feminina. As provas por equipe masculina e feminina estreariam em 1988, completando as quatro provas desse esporte que fazem parte do Programa Olímpico hoje. Desde esse retorno, todas as provas nas Olimpíadas são disputadas com o arco recurvo, na modalidade target archery outdoor. O país que tem o maior domínio no tiro com arco olímpico é a Coreia do Sul, especialmente no feminino, onde, desde 1984, as sul-coreanas conquistaram 14 dos 15 ouros possíveis - só tendo deixado escapulir o ouro do individual feminino de 2008, conquistado em casa pela China.

Já o tiro com arco paralímpico estrearia nas Paralimpíadas em 1960. Embora no passado tenham sido disputadas no Torneio Paralímpico vários tipos de prova - algumas, inclusive, bem diferentes daquelas organizadas pela WA - atualmente fazem parte do Programa Paralímpico nove provas: arco composto W1 masculino, arco composto Aberta masculino, arco recurvo Aberta masculino, arco composto W1 feminino, arco composto Aberta feminino, arco recurvo Aberta feminino, arco composto W1 equipes mistas, arco composto Aberta equipes mistas, e arco recurvo Aberta equipes mistas. Vale citar ainda que jamais houve provas de tiro com arco destinadas a deficientes visuais nas Paralimpíadas.

O tiro com arco também faz parte do programa dos World Games, onde estreou em 1985. Até 2009, todas as provas disputadas nos World Games eram de field archery, com as provas de arco recurvo e barebow masculinas e femininas tendo estreado já em 1985, e as provas de arco composto masculina e feminina estreando em 1993; em 2013, porém, seriam incluída também provas de target archery outdoor com arco composto, no masculino, feminino e por equipes mistas, que substituiriam as provas de arco composto da field archery. Atualmente, portanto, o programa do tiro com arco nos World Games conta com 7 provas: field archery recurvo masculino, field archery recurvo feminino, field archery barebow masculino, field archery barebow feminino, target archery composto masculino, target archery composto feminino e target archery composto equipes mistas.

Além de fazer parte desses importantes torneios multiesportivos, o tiro com arco também possui seus campeonatos mundiais. O principal é o Campeonato Mundial de Tiro com Arco (World Archery Championships), destinado à modalidade target archery. Esse Mundial possui duas versões, uma outdoor, disputada pela primeira vez em 1931, a princípio anualmente, mas desde 1959 a cada dois anos (com direito a oito edições canceladas entre 1931 e 1959, cinco delas devido à Segunda Guerra Mundial); e uma indoor, disputada desde 1991 a cada dois anos, mas que teve um intervalo de três depois da de 2009 para que passasse a ser disputada nos anos pares, enquanto a outdoor ficou com os anos ímpares, o que, na prática, fez com que tenhamos Mundial de Tiro com Arco todo ano (ano passado teve Mundial outdoor, esse ano tem Mundial indoor, ano que vem tem outdoor, e assim por diante). O Mundial outdoor conta com provas de arco recurvo individuais masculinas e por equipes masculinas desde 1931, individuais femininas e por equipes femininas desde 1933, e por equipes mistas desde 2011, e com provas de arco composto individuais masculinas e femininas e por equipes masculinas e femininas desde 1995, e por equipes mistas também desde 2011. Já o Mundial indoor possui provas de arco recurvo e arco composto individuais masculinas e femininas desde 1991, e por equipes masculinas e femininas desde 1995.

A modalidade field archery possui seu próprio Campeonato Mundial (o World Field Archery Championships), disputado pela primeira vez em 1969, então em 1971, e a cada dois anos desde 1972. As provas de arco recurvo e barebow individuais masculinas e femininas são disputadas desde 1969, as de arco recurvo por equipes masculinas e femininas desde 1986, e as de arco composto individuais masculina e feminina desde 1990.

O tiro com arco paralímpico também possui um Mundial próprio (o World Para Archery Championships), disputado pela primeira vez em 1998, e então a cada dois anos desde 1999. Desde a primeira edição são disputadas as provas de arco recurvo individual masculino e feminino das classes Aberta e W1, de arco recurvo por equipes masculinas e femininas da classe Aberta, de arco composto individual masculino das classes Aberta e W1, e feminino da classe Aberta; em 2001 estrearam as equipes masculinas do arco composto classe Aberta, em 2003 as da classe W1, em 2005 as provas individuais mistas das classes V1 e V2/3, em 2007 as equipes femininas de arco composto classe Aberta, e, em 2011, as equipes mistas de arco recurvo e composto classe Aberta.

O mais recente Mundial organizado pela WA é o da 3D archery (o World 3D Archery Championships), disputado a cada dois anos desde 2003, com provas de barebow individual e por equipes e de arco composto individual, todas masculinas e femininas, desde a primeira edição, e com provas instintivas masculinas e femininas desde 2007.

Para finalizar, existe também a Copa do Mundo de Tiro com Arco, disputada anualmente desde 2006 e composta por cinco etapas. Os arqueiros mais bem colocados no ranking da WA participam das quatro primeiras etapas, nas quais somam pontos de acordo com sua posição final em cada uma delas; apenas os oito com a melhor pontuação, porém, disputam a última etapa, conhecida como Final, na qual todos entram zerados e o vencedor é declarado campeão da Copa do Mundo. A Copa do Mundo tem provas individuais masculinas e femininas e por equipes mistas de arco recurvo e composto (seis provas no total), e é sempre disputada na modalidade target archery outdoor.

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