segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Escrito por em 5.10.15 com 2 comentários

Neil Gaiman

De vez em quando, eu me surpreendo com o fato de que, mesmo já estando chegando aos 650 posts, eu ainda acho um assunto ou outro do qual eu gosto muito e jamais falei. Hoje, por exemplo, me dei conta de que nunca falei sobre Neil Gaiman, um dos meus autores preferidos. Antes tarde do que nunca, eu acho.

Neil Richard Gaiman nasceu na pequena cidade de Portchester, Inglaterra, em 10 de novembro de 1960. Sua família descende de judeus poloneses, e se estabeleceu na Inglaterra por volta de 1914, quando seu bisavô, nascido na Bélgica, decidiu imigrar para lá. Seu pai era dono de uma loja de doces, que herdou de seu avô, e sua mãe, também de família judia, era farmacêutica. Além de judeus, os pais de Gaiman eram adeptos da cientologia (hoje talvez mais conhecida como "a religião do Tom Cruise"), e, por isso, quando Gaiman tinha 5 anos de idade, a família, que também incluía suas duas irmãs mais novas, se mudaria para uma cidade um pouco maior, East Grinstead, onde seus pais poderiam estudar e trabalhar no centro de cientologia local.

Gaiman aprendeu a ler com quatro anos de idade, e, desde cedo, demonstrou grande interesse e apreço pela leitura. Aos sete anos, ele ganharia de presente a coleção completa de As Crônicas de Nárnia, e seria através de sua leitura que ele decidiria se tornar, também, um autor. Outros de seus livros preferidos na infância eram Alice no País das Maravilhas, que leu até decorar todo o texto, e O Senhor dos Anéis, que leu aos dez anos, alugado da biblioteca da escola, que, infelizmente, só possuía os dois primeiros volumes. Curioso para saber como a história terminava, ele pegaria um pequeno dinheiro que ganharia por ser o melhor aluno da escola em língua inglesa e compraria o terceiro.

Após terminar a escola, sem saber como fazer para se tornar um autor, Gaiman decidiria estudar jornalismo, se especializando em crítica literária, segundo ele, para aprender como funcionava o mundo dos livros. Aos 19 anos, ele também escreveria uma carta para seu autor favorito, R.A. Lafferty, especializado em ficção científica, pedindo dicas sobre como se tornar um autor bem sucedido, e incluindo um conto ao estilo de Lafferty que havia escrito. Lafferty responderia pessoalmente, o encorajando a seguir carreira e incluindo, de fato, várias dicas sobre como fazê-lo.

Gaiman começaria sua carreira naquele mesmo ano, enviando contos para várias revistas de fantasia e ficção científica; a primeira a ser publicada seria Featherquest, na edição de maio de 1984 da Imagine Magazine. Ainda em 1984, ele escreveria seus dois primeiros livros, ambos de não-ficção: uma biografia não-autorizada da banda Duran Duran e um livro de citações, Ghastly Beyond Belief (algo como "tão medonho que você não vai acreditar"), escrito em parceria com Kim Newman. Gaiman não gostaria de seu trabalho em Ghastly Beyond Belief, acreditando que tinha sido relaxado na escolha e na arrumação das citações, mas o livro seria um grande sucesso, com a primeira tiragem se esgotando rapidamente. Infelizmente, quando foi buscar seus direitos autorais, ele descobriria que a editora havia falido, e jamais receberia um tostão além do adiantamento para escrever o livro.

O trabalho de Gaiman nesses dois livros, porém, chamaria a atenção de duas revistas de grande circulação, que o convidariam para ser colaborador regular: a Penthouse, espécie de rival da Playboy, mas com as mulheres se deixando fotografar em poses mais explícitas, da qual o convite ele não aceitou; e a Knave, também voltada para o público adulto, mas com mais contos e entrevistas que ensaios fotográficos. Gaiman trabalharia para a Knave durante quatro anos, e sairia justamente porque a revista, após uma mudança de editor, decidiria investir mais em conteúdo pornográfico, ficando até mais pesada que a Penthouse. Entretanto, graças ao trabalho na Knave, onde escrevia usando o pseudônimo Richard Grey, ele conseguiria que seus contos e artigos fossem publicados em diversas outras revistas publicadas em todo o Reino Unido, nas quais usava diferentes pseudônimos.

No final dos anos 1980, Gaiman escreveria Don't Panic: The Official Hitchhiker's Guide to the Galaxy Companion, título publicado em janeiro de 1988 pela Simon & Schuester, que era uma espécie de manual para a leitura da série O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams. Em seguida, ele escreveria Boas Maldições, livro de comédia publicado em 1990 sobre um anjo e um demônio que se unem para tentar evitar o fim do mundo, em parceria com Terry Pratchett, criador da série Discworld e um dos mais famosos autores britânicos de fantasia, de quem era amigo desde 1985. Boas Maldições seria o trabalho mais famoso de Gaiman até então, indicado para o World Fantasy Award e para o Locus Award de Melhor Romance de 1991, sem ganhar, infelizmente, nenhum dos dois prêmios.

Ao longo das décadas de 1980 e 1990, porém, o nome de Gaiman seria muito mais associado à indústria dos quadrinhos do que aos livros. Gaiman já gostava de quadrinhos na infância, tendo como preferidos os do Batman, mas seria fisgado de vez pelo meio quando, em 1984, enquanto esperava por um trem na Victoria Station de Londres, encontraria abandonada uma edição da Swamp Thing (Monstro do Pântano), escrita por Alan Moore. O estilo de Moore, de abordagem séria e detalhista, diferente dos quadrinhos com os quais Gaiman estava acostumado, o impressionaria tanto que ele decidiria escrever para o autor. Nos anos seguintes, após Gaiman começar sua carreira nas revistas, os dois se tornariam amigos.

Gaiman também começaria a procurar emprego em editoras de quadrinhos, e acabaria contratado pela 2000 AD (a editora de Judge Dredd) para escrever algumas tiras, ao estilo das de jornal, para a série Future Shocks, em 1986 e 1987. Seu trabalho agradaria, e ele seria chamado para escrever uma das histórias da Judge Dredd Annual '88, além de conseguir emprego como roteirista em outra editora, a Knockabout. Entre 1987 e 1988, tanto para a Knockabout quanto para a 2000 AD, Gaiman escreveria várias graphic novels e one-shots (histórias com início, meio e fim, que não fazem parte de uma série regular), a maioria em parceria com outros roteiristas, dentre elas Violent Cases, ilustrada por Dave McKean.

Violent Cases chamaria a atenção de Karen Berger, então editora-chefe da DC Comics, que contrataria Gaiman e McKean para escrever a minissérie Black Orchid, publicada em 1988. Na época, motivada pelo sucesso de Alan Moore à frente do Monstro do Pântano, personagem originalmente criado por Len Wein em 1972, a DC pensava em relançar mais de seus personagens da década de 1970. Gaiman queria o Sandman, super-herói criado por Joe Simon e Jack Kirby, criadores do Capitão América, que vivia no mundo dos sonhos e protegia as crianças de pesadelos, mas Berger deu a ele a Orquídea Negra, uma mestra dos disfarces que vivia histórias no estilo detetive. Com o sucesso de Black Orchid, porém, Berger não somente permitiria que Gaiman assumisse o Sandman como também pediria para que ele não o fizesse igual ao que era antes, dando seu próprio estilo ao personagem.

Talvez Gaiman tenha exagerado, pois seu Sandman não tem absolutamente nada a ver com o de Simon e Kirby, sendo uma personificação antropomórfica do Sonho, um ser imortal conhecido ao longo dos anos e das culturas por muitos nomes, incluindo o famoso Morfeu. Lançada em janeiro de 1989, Sandman era uma mistura de fantasia, horror e humor jamais vista nos quadrinhos, e logo se tornaria um imenso sucesso, chegando a ser, durante a década de 1990, o título mais vendido da DC, à frente até mesmo de Batman e Superman.

Sandman seria publicado até março de 1996, contando com 75 edições - em respeito a Gaiman, a DC determinaria que nenhum outro roteirista assumisse o título - e levaria Gaiman ao estrelato: se hoje todo nerd do planeta conhece seu nome, é por culpa dessa série. Além disso, o título motivaria a criação de um selo da DC próprio para histórias de teor mais adulto, que não tinham espaço nos títulos regulares da editora. Chamado Vertigo, esse selo abrangeria, além de Sandman, sucessos como Hellblazer (a série estrelada por John Constantine), Preacher, Swamp Thing e The Books of Magic (Os Livros da Magia), série criada por Gaiman protagonizada por um menino inglês destinado a se tornar o maior mago da história. Além das séries regulares, o selo Vertigo estamparia a capa de várias minisséries, dentre elas a que o inaugurou, em março de 1993: Death: The High Cost of Living, protagonizada pela Morte, irmã mais velha de Morfeu, que estrearia na edição 8 de Sandman e logo se tornaria um dos personagens mais populares da DC.

Em 1990, Gaiman seria convidado por Moore para assumir Miracleman, título da Eclipse Comics que o próprio Moore havia revitalizado. Gaiman ficaria à fente do título até 1992, quando a Eclipse fecharia as portas. Em 1993, Gaiman seria convidado por Todd McFarlane para escrever a edição 9 de Spawn, para a qual ele criaria três personagens: Angela, Cogliostro e o Spawn Medieval. Esses três personagens seriam motivo de uma longa desavença entre Gaiman e McFarlane, pois McFarlane os usaria em várias outras histórias sem pagar nenhum direito autoral a Gaiman, alegando que, como eles não tinham acordo nenhum nesse sentido, os personagens o pertenciam para usar como quisesse. Gaiman recorreu à justiça, que entendeu diferente, e não somente lhe deu a propriedade dos três personagens como também ordenou que McFarlane pagasse direitos autorais toda vez que usasse outros três personagens, Tiffany, Domina e o Spawn da Idade das Trevas, considerados claramente plágio dos criados por Gaiman. Após recuperar a propriedade dos personagens, Gaiman decidiria vender Angela para a Marvel, que a introduziria em seu universo como uma irmã há muito perdida de Thor.

A decisão de Gaiman de vender Angela para a Marvel seria uma forma de agradecimento por ela tê-lo ajudado em outra questão: quando Miracleman foi cancelado, uma das histórias de Gaiman ficaria sem conclusão. Ele tentaria comprar os direitos do personagem para concluí-la, mas quem os acabaria comprando seria McFarlane, que, por causa da confusão com os personagens de Spawn, jamais voltaria a publicar Miracleman - e, por conseguinte, jamais deixaria Gaiman concluir sua história. Gaiman chegaria a usar todo o seu pagamento pelo roteiro de uma minissérie que escreveu para a Marvel, 1602, para fundar uma empresa, a Marvels & Miracles (nome motivado pelo fato de que o nome original de Miracleman, antes da Eclipse decidir mudar para não criar confusão com a Marvel, era Marvelman), voltada unicamente para tentar conseguir adquirir os direitos de Miracleman.

Seria a Marvel, porém, quem conseguiria ficar com os direitos, e devido a um detalhe técnico: em 2009, a Marvel descobriria que a Quality Communications, de quem McFarlane havia comprado os direitos de Miracleman, não os havia adquirido do criador do personagem, Mick Anglo, e sim da massa falida da Eclipse, que não era detentora desses direitos e, portanto, não podia vendê-los. A Marvel compraria os direitos de Anglo (que faleceria dois anos depois, em 2011, aos 95 anos) e conseguiria na justiça a anulação da venda para a Quality - e consequentemente, para McFarlane. Incorporando Miracleman a seu universo, a Marvel começaria a republicar suas histórias em janeiro de 2014, e a publicar material inédito em setembro - incluindo uma história escrita por Grant Morrison e jamais publicada em 1980, e, é lógico, a conclusão da história de Gaiman. Desnecessário dizer, enquanto esse episódio ajudou a estreitar a relação de Gaiman com a Marvel, ele azedou de vez sua relação com McFarlane.

Antes da Marvel comprar os direitos de Miracleman, Gaiman já havia feito duas bem sucedidas parcerias com a Casa das Ideias: além de 1602, aclamada minissérie em 8 edições publicada em 2003, que mostra como seria o mundo se os personagens clássicos da Marvel tivessem surgido na Era Elizabetana ao invés de na década de 1960, ele escreveria Eternals, minissérie em 7 edições de 2006 na qual recriaria os Eternos, personagens superpoderosos criados em 1976 por Jack Kirby, mas que, com algumas poucas exceções - como Sersi, que chegou a fazer parte dos Vingadores - estavam esquecidos desde a década de 1980.

Voltando um pouco para antes dessa confusão toda, em 1996 Gaiman criaria uma série de TV, Neverwhere, na qual, abaixo de Londres, existe uma dimensão paralela chamada Londres-de-Baixo, onde coexistem pessoas de várias épocas e seres místicos com poderes mágicos. Invisível e inalcançável para os cidadãos comuns, a dimensão é descoberta por Richard Mayhew (Gary Bakewell), ao ajudar Door (Laura Fraser), jovem oriunda de Londres-de-Baixo que está perdida na nossa dimensão. Preso na dimensão paralela, Richard tenta encontrar uma saída ao mesmo tempo em que deve proteger Door, filha de uma aristocrática família de Londres-de-Baixo, de assassinos de aluguel enviados para matá-la. Neverwhere seria exibida pela BBC Two, e teria um total de 6 episódios, exibidos entre 12 de setembro e 17 de outubro de 1996. Outros trabalhos de Gaiman como roteirista de TV e cinema além de Neverwhere incluem um episódio da quinta temporada de Babylon 5, de 1998; um da sexta e um da sétima temporadas de Doctor Who, de 2011 e 2013 respectivamente; e o roteiro do filme Beowulf, de Robert Zemeckis, de 2007, escrito em parceria com Roger Avary.

A história de Neverwhere, com algumas diferenças, ganharia uma versão em livro (lançada no Brasil com o nome de Lugar Nenhum), lançado na Inglaterra em 16 de setembro de 1996 pela BBC Books, e que seria o primeiro romance de ficção escrito somente por Gaiman. Esse livro acabaria ganhando duas edições subsequentes, com algumas alterações no texto feitas pelo próprio Gaiman. A primeira dessas edições seria lançada ainda em 1996, e voltada para os leitores norte-americanos, que não estão acostumados com o intrincado metrô de Londres, que possui uma rede extremamente complexa; as alterações, portanto, visavam explicar ou simplificar elementos do metrô presentes na narrativa. A segunda versão seria lançada em 2006, com o subtítulo de Author's Preferred Text ("texto preferido pelo autor"), e trazia alterações em várias passagens com as quais Gaiman havia ficado insatisfeito quando da publicação do livro original.

Em 1997, Gaiman lançaria, pela DC, com ilustrações de Charles Vess, Stardust, uma minissérie em 4 edições que conta a história de um jovem camponês que encontra uma passagem mágica para uma terra de fantasia e acaba se apaixonando por uma estrela cadente em forma de mulher. Stardust (que, no Brasil, ganhou o subtítulo O Mistério da Estrela), porém, não era uma história em quadrinhos, e sim semelhante a um livro infantil, com belas ilustrações de página inteira acompanhando os fragmentos do texto. Gaiman e Vess haviam criado o projeto para ser publicado como uma edição única, e não ficaram satisfeitos com o resultado obtido pela minissérie; após muito insistir, eles conseguiriam que a DC publicasse um volume único em 1998. Ainda empolgado com a história, Gaiman decidiria ampliar o texto e lançá-lo como seu segundo romance, em 1999, pela Avon Books. Stardust também ganharia uma versão cinematográfica, lançada em 2007 e contando com Claire Danes, Michelle Pfeiffer e Robert De Niro no elenco.

1997 também seria o ano em que Gaiman lançaria seu primeiro livro infantil, O Dia em que Troquei meu Pai por Dois Peixinhos Dourados, ilustrado por Dave McKean e publicado pela editora White Wolf (dos RPGs Vampire e Werewolf). Ao longo dos anos seguintes, Gaiman publicaria outros 12 livros infantis, sempre ilustrados por artistas consagrados como Charles Vess e Chris Ridell, incluindo os aclamados Os Lobos Dentro das Paredes e Menina Iluminada, além de versões "ao estilo Gaiman" de João e Maria e A Bela Adormecida (esse último chamado The Sleeper and the Spindle, ainda sem título em português).

O terceiro romance de Gaiman, Deuses Americanos, lida com a premissa de que deuses e criaturas mitológicas só existem se alguém acreditar neles, e acompanha um misterioso personagem durante uma viagem pelos Estados Unidos, durante a qual será revelado que os deuses da América de hoje representam facetas da fama, tecnologia e do dinheiro, dentre outros componentes da sociedade moderna. Lançado em junho de 2001 pela editora Headline, Deuses Americanos ganharia os dois mais importantes prêmios da literatura de ficção científica e fantasia, o Hugo Awards e o Nebula Awards. Assim como Lugar Nenhum, ele ganharia uma versão Author's Preferred Text, com modificações e adendos, lançada na Inglaterra em 2003 e no restante do mundo (como "edição especial") em 2011. Em 2014, o canal Starz anunciaria ter conseguido os direitos para transformar o livro em uma série, ainda sem data de estreia definida.

Após Deuses Americanos, Gaiman escreveria mais um livro com ilustrações de McKean, chamado Coraline. Voltado para o público infanto-juvenil, o livro mistura elementos de fantasia e terror, e acompanha uma menina de nome Coraline que se muda para uma casa enorme e antiga, e lá descobre uma porta secreta que é a passagem para um mundo paralelo. Lançado em janeiro de 2002 pela editora Bloomsbury, Coraline seria aclamado pelos críticos, que o comparariam com Alice no País das Maravilhas, e ganharia mais um Hugo. O livro seria adaptado para um filme, filmado com a técnica de stop motion (na qual bonecos são fotografados quadro a quadro, dando a impressão de que estão em movimento) e lançado em 2009 (aqui no Brasil como Coraline e o Mundo Secreto).

Em setembro de 2005, seria lançado, pela editora Morrow, Os Filhos de Anansi, livro ligado à história de Deuses Americanos. Nele, o deus Anansi morre, deixando dois filhos - um semideus, outro humano - que se conhecem no funeral e passam um tempo juntos para aprender mais sobre seu pai e sobre si mesmos. Os Filhos de Anansi estrearia no primeiro lugar da lista de best-sellers do The New York Times, e poderia ter ganhado mais um Hugo, ao qual só não concorreu porque Gaiman pediu, alegando que já tinha três, e preferia dar chance a novos autores (para quem não sabe, os vencedores do Hugo são determinados por votação popular, então um nome forte como o de Gaiman tem mais chances de ganhar que o de um novato).

Em 2007, Gaiman co-escreveria com Michael Reeves Entremundos, romance de ficção científica voltado para o público juvenil protagonizado pelo adolescente Joey, que, junto com diversos outros Joeys de várias Terras paralelas, tem de impedir as personificações da Magia (conhecida como Hex) e da ciência (conhecida como Binária) de conquistar todos os universos paralelos que existem. Lançado em junho pela editora EOS, Entremundos teria duas continuações, Sonho de Prata, de abril de 2013, no qual Joey enfrenta uma rival enquanto tenta se firmar na organização multidimensional Entremundos; e Eternity's Wheel (ainda sem título em português), de maio de 2015, no qual Joey assume o comando da Entremundos para enfrentar um inimigo imensamente poderoso. Ambas as continuações seriam escritas por Gaiman, Michael Reeves e Mallory Reeves, filha de Michael, e publicadas pela HarperTeen, uma subsidiária da Harper Collins.

Em 2008, Gaiman lançaria mais um livro voltado para o público infanto-juvenil, O Livro do Cemitério, que conta a história de Ninguém Owens, apelido Nin, que, após sua família ser brutalmente assassinada, é criado pelos fantasmas de um cemitério, que o ensinam sobre o perdão, a compaixão e a ética. Inspirado em O Livro da Selva, de Rudyard Kipling (mais conhecido como "o livro do Mogli"), O Livro do Cemitério seria lançado em setembro, simultaneamente pela Bloomsbury no Reino Unido e pela Harper Collins nos Estados Unidos, e renderia a Gaiman mais um Hugo, além da Carnegie Medal, mais importante honraria concedida aos autores de livros infanto-juvenis no Reino Unido.

O último romance solo de Gaiman, por enquanto, é O Oceano no Fim do Caminho, lançado pela William Morrow em junho de 2013. Seu protagonista é um homem sem nome, que, ao retornar a sua cidade natal para comparecer ao funeral de seu pai, se vê relembrando e revisitando fatos de sua infância e juventude. O livro, bem recebido pela crítica, aborda temas como a autopercepção da própria identidade e as coisas que perdemos na transição da infância para a vida adulta.

Além dos romances, Gaiman já escreveu vários contos, publicados ao longo dos anos em revistas, online ou em antologias compostas por contos de vários autores. Dentre esses contos podemos destacar A Study in Emerald, inspirado pelas histórias de Sherlock Holmes e responsável pelo terceiro Hugo da carreira de Gaiman, em 2004; I Cthulhu, baseado nas obras de Lovecraft; e The Monarch of the Glen, ambientado na Escócia e protagonizado pelo mesmo protagonista de Deuses Americanos.

Gaiman se casaria duas vezes, a primeira em 1985 com Mary McGrath, que estudava cientologia com seus pais. O casamento durou até 2007 e rendeu três filhos, Michael, Holly e Maddie - os filhos, aliás, foram uma das razões pelas quais eles se casaram, já que Mary engravidou de Michael quando eles ainda namoravam. Em 2011, Gaiman se casaria com a cantora, compositora e autora Amanda Palmer, com quem teria mais um filho, Anthony.

Para terminar, vale citar que Gaiman é amigo íntimo de Tori Amos. Os dois se conheceram por acaso, em 1991, na época em que ela morava na Inglaterra; ela era fã de Sandman e havia citado Gaiman em uma das músicas que havia colocado em sua fita demo, ele adorou a homenagem e os dois passaram a se corresponder, dando início à amizade. Tori faz referências a Gaiman em várias de suas músicas, como Tear in Your Hand (a tal da fita demo, no trecho "se você precisar de mim, eu e Neil estaremos por aí com o Rei dos Sonhos"), Spacedog ("onde está Neil quando você precisa dele?") e Carbon ("coloque Neil no telefone, não, eu não posso aguardar"), dentre outras. Por sua vez, ele fez um personagem de Stardust em homenagem a ela, uma árvore falante (referenciada em outra música de Tori, Horses, no trecho "mas você me encontraria se Neil me transformasse em uma árvore?"), escreveu contos que foram incluídos nos livretos das turnês de Boys for Pele e Scarlet's Walk, e um conto para cada uma das personagens de Strange Little Girls. Gaiman é padrinho de Tash, a filha de Tori, e escreveu Menina Iluminada em homenagem à afilhada.

Tori Amos também acabaria, de certa forma, ligada ao universo de Sandman: além de criar uma música, Sister Named Desire, cheia de referências a este universo - já que Desire, Desejo, é mais uma das irmãs de Morfeu - ela escreveria a introdução da edição encadernada de Death: The High Cost of Living e posaria para a capa, que tem arte de Dave McKean sobre sua foto. Além disso, por alguma razão, a imagem de Tori, com seus cabelos vermelhos e sorriso largo, seria associada pelos fãs a outra das irmãs de Morfeu, Delirium, ao ponto de muitos fãs acharem que ele criou a personagem em sua homenagem - o que não é verdade, já que Delirium seria criada anos antes de Gaiman conhecer Tori, e, segundo o autor, seria inspirada na autora Kathy Acker e na desenhista Jill Thompson, ambas também ruivas. A associação de Tori com Delirium é tão grande, porém, que, na década de 1990, quando começou a se falar na produção de um filme de Sandman, Tori era a mais cotada para interpretar a personagem.

2 comentários:

  1. Olá tudo bem? Há seis anos acompanho seu blog semanalmente, e posso afirmar com certeza que é um dos melhores de toda a internet. Graças a ele aprendi muito e ganhei muito conhecimento. À propósito, gostaria de elogiar suas habilidades de escrita e pesquisa.

    Aproveitando a deixa deste post, acho interessante sugerir: que tal um post a respeito da revista em quadrinhos Heavy Metal, originada da revista francesa Metal Hurlant? É um tema em alta, principalmente agora que Grant Morrison assumiu o comando da publicação.

    Obrigado e grande abraço.

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  2. Obrigado, Átila. Sugestão anotada. Abraços!

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