segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Escrito por em 4.11.13 com 0 comentários

Shazam!

Quando eu era criança, a televisão passava um monte de seriados e desenhos velhos. Muito velhos, tipo lá da década de 1940. E a parte curiosa é que eu e meus amigos não tínhamos a menor noção disso. Tipo, para nós, os desenhos do Pica-Pau, de Tom & Jerry e dos Looney Tunes eram todos recentes, tendo sido produzidos aquele ano mesmo, ou, no máximo, um ou dois anos antes. Até porque não havia nenhuma razão para eles ficarem passando um bando de desenhos velhos se existiam novos, não é mesmo? Com esse pensamento, imaginem meu choque ao descobrir, quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, que não somente aqueles desenhos eram mais velhos do que eu como também mais velhos do que meus pais. Talvez tenha sido esse choque que me motivou a não ter preconceito contra filmes, músicas e programas de TV mais velhos do que eu - afinal, se eu gostava tanto, não podiam ser ruins só porque eram velhos. Infelizmente, as crianças de hoje parecem não ter a mesma opinião, achando que o mundo começou quando elas nasceram, e o que ficou para trás é ruim e não presta. Mas eu digressiono.

O fato é que, essa semana, me lembrei de um desenho e de um seriado muito velhos que passavam quando eu era criança, e que eu adorava. Ambos tinham o mesmo protagonista, o Capitão Marvel. Que foi responsável por outro choque da minha infância, quando descobri que ele era da DC, e não da Marvel como o nome sugeria. A lembrança foi motivada por eu ter visto à venda, em DVD, o seriado do Capitão Marvel de 1941, em preto e branco, que eu assistia na televisão quando criança. E essas boas memórias me motivaram a escrever um post sobre o Capitão Marvel para hoje. Então, sem mais delongas, Shazam!

Existe uma razão curiosa - ou melhor, duas - para o Capitão Marvel ser da DC, e não da Marvel - que até tem seu próprio Capitão Marvel, mas é um herói totalmente diferente: em primeiro lugar, originalmente o Capitão Marvel não pertencia à DC, mas a uma outra editora, a Fawcett Comics. Em segundo lugar, quando ele foi inventado, ainda não existia a Marvel Comics. E, acreditem ou não, marvel é uma palavra que existe na língua inglesa, e significa "maravilha" - embora hoje tenha caído em desuso e seja pouco usada.

A origem do Capitão Marvel está ligada diretamente ao sucesso do Super-Homem (que, agora, parece ter virado definitivamente Superman) e do Batman. Até o lançamento das revistas desses dois heróis, dominavam o mercado outros tipos de histórias em quadrinhos, como as de piratas e as de monstros. Conforme o Azulão e o Morcegão começaram a vender bem, porém, todas as editoras, evidentemente, começaram a querer uma fatia do bolo. Em 1939, a Fawcett Publications, fundada 20 anos antes e famosa por publicar a revista Captain Billy's Whiz Bang, que trazia charges, contos e anedotas, decidiria também entrar nesse barco, contratando o roteirista Bill Parker para criar super-heróis para sua recém-fundada subsidiária Fawcett Comics.

Parker criaria uma dúzia de super-heróis, incluindo o Invencível Íbis, o Arqueiro Dourado, o marinheiro Lance O'Casey, o repórter Scoop Smith e o detetive Dan Dare. Junto com esses heróis todos, Parker criaria uma equipe de seis membros, cada um com um poder relacionado a um deus ou figura mitológica da antiguidade. O diretor executivo da Fawcett, Ralph Daig, gostou da ideia, mas achou que uma equipe de seis era muito exagerada (imagine se ele visse os X-Men de hoje...), sugerindo que um único herói reunisse todos esses poderes. Parker gostou da sugestão e colocou todos os poderes em um único herói, o qual chamou de Capitão Trovão. Personagem criado, ele começou a trabalhar com o desenhista C.C. Beck, que sempre reclamava que as histórias de super-heróis eram mal-desenhadas. Usando um traço semelhante às tiras de jornal de maior sucesso na época, Beck criaria um visual extremamente característico para o personagem - e, talvez confundindo o que seria um trovão, colocou um raio em seu peito, como seu símbolo.

A mudança de nome se daria por razões de direitos autorais: Daigh planejava chamar a revista na qual o Capitão Trovão estrearia de Flash Comics, mas descobriria que esse nome já estava registrado. Ele então mudaria para Thrill Comics, outro nome que alguém já tinha pego antes. Para não correr um novo risco, ele optaria por Whiz Comics, nome inspirado na famosa revista da Fawcett. Aí descobriria que Captain Thunder, nome em inglês do herói, já estava registrado. Um outro desenhista da Fawcett, Pete Constanza, sugeriria o novo nome Captain Marvelous ("capitão maravilhoso"), mas Daigh acharia muito pomposo, e reduziria para apenas Capitain Marvel.

A "patente" do super-herói, aliás, não tem nada a ver com o sucesso do Capitão América - de fato, o Capitão América só surgiria oito meses depois. Parker decidiria chamar seu herói de Capitão como uma espécie de brincadeira com o dono da Fawcett, Wilford Fawcett, cujo apelido, conquistado na época em que ele serviu o exército, era "Capitão Billy" - daí o nome da principal revista da editora ser Captain Billy's Whiz Bang. O criador do Capitão América, Joe Simon, jamais confirmou qualquer influência do Capitão Marvel na sua escolha de nome, mas, seja como for, graças ao sucesso desses dois super-heróis, hoje "Capitão" é um termo intimamente ligado ao gênero, com mais de uma dezena deles ostentando tal título.

O Capitão Marvel faria sua estreia na revista Whiz Comics número 2, de fevereiro de 1940. Para todos os efeitos, ele era uma cópia do Super-Homem, usando todos os elementos que faziam dele um herói popular: superforça, supervelocidade, histórias ao estilo da ficção científica e uma identidade secreta acima de qualquer suspeita, ligada ao jornalismo. O diferencial era que o Capitão Marvel atendia às fantasias adolescentes da época: como muitos garotos queriam ser o Super-Homem, o diretor da editora, Roscoe Fawcett, pediu a Parker que a identidade secreta do Capitão Marvel fosse um garoto, de dez ou doze anos. E assim foi feito.

A identidade secreta do Capitão Marvel á a do jovem Billy Batson (outra homenagem ao Capitão Billy), de 12 anos. Billy é órfão e vende jornais nas ruas, até o dia em que é procurado pelo mago Shazam, de centenas de anos de idade. Próximo da morte, Shazam precisa de alguém com o coração puro para usar seus poderes em defesa da humanidade; após definir que Billy é essa pessoa, ele transfere seus poderes para ele, morrendo em seguida, mas deixando um braseiro mágico com o qual Billy pode se comunicar com seu espírito para se aconselhar. Após receber os poderes, toda vez que fala em voz alta o nome do feiticeiro (Shazam!), Billy é atingido por um raio, se tornando o adulto Capitão Marvel, que tem a sabedoria de Salomão, a força de Hércules, o vigor de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio - cujas iniciais, ora vejam só, formam a palavra Shazam. Dizer Shazam! enquanto está na forma de Capitão Marvel faz com que o herói seja atingido por um novo raio, perdendo seus poderes e voltando a ser Billy.

A revista seria um enorme sucesso, vendendo meio milhão de cópias, e garantindo que, um ano depois, o Capitão Marvel tivesse uma revista com seu nome, a Captain Marvel Adventures, além de continuar aparecendo na Whiz Comics e em outra revista da Fawcett, a Master Comics. Durante a década de 1940, o Capitão Marvel venderia mais revistas que qualquer herói da DC, incluindo o Super-Homem, chegando a uma média de 1,3 milhão de cópias por edição, número que hoje já seria bom, mas na época era absurdamente gigantesco.

Ainda na Whiz Comics número 2, Billy conseguiria um emprego como aprendiz de repórter em uma rádio, e o Capitão Marvel conheceria seu arqui-inimigo, o Dr. Silvana, primeiro estereótipo do cientista louco que cria invenções bizarras para dominar o mundo. Outros vilões introduzidos nas edições seguintes incluíam o Capitão Nazista, campeão do Terceiro Reich; o robô radioativo Sr. Átomo; Adão Negro, um egípcio escolhido por Shazam para receber seus poderes na antiguidade, mas que decidiu trilhar o caminho do mal (e, ao dizer Shazam!, recebia o vigor de Shu, a velocidade de Heru, a força de Amon, a sabedoria de Zehuti, o poder de Aton e a coragem de Mehen); e o Sr. Cérebro, um verme altamente inteligente do planeta Vênus que recrutaria os principais oponentes do Capitão Marvel para unir suas forças e destruí-lo, formando a Sociedade do Mal - a primeira vez nos quadrinhos na qual vilões de diferentes histórias de uniriam e enfrentariam o herói todos juntos.

O Capitão Marvel também seria o primeiro herói a ganhar uma "versão feminina", Mary Marvel, que estrearia na Captain Marvel Adventures 18, de dezembro de 1942 - para fins de comparação, a Supermoça só estrearia em 1959, e a Batmoça em 1961. Mary Marvel era, na verdade, a irmã gêmea desaparecida de Billy, que foi adotada e criada com o nome de Mary Bromfield - e que, aparentemente, ganha seus poderes ao dizer Shazam! pura e simplesmente por ser irmã gêmea de Billy. Se bem que essa explicação é melhor que a dos Tenentes Marvel, que estrearam na Whiz Comics 21, de setembro de 1941: três outros garotos também chamados Billy Batson, e que, por causa disso, ao dizerem Shazam!, também ganhavam os mesmos poderes do Capitão Marvel, mas em uma escala menor. Para se diferenciarem do Billy original, esses três eram conhecidos como Billy Alto, Billy Gordo e Billy Caipira. Três edições depois, em dezembro, estrearia o Capitão Marvel Jr, na verdade Freddy Freeman, adolescente que, após ser mortalmente ferido pelo Capitão Nazista, recebeu do próprio Capitão Marvel parte de seus poderes para se curar, e, desde então, sempre que diz "Capitão Marvel!" (e não Shazam! como os outros) se transforma no super-herói. Diferentemente do Capitão Marvel original, o Capitão Marvel Jr. permanecia um adolescente após a transformação, e, enquanto os outros Marvel tinham uniformes vermelhos, o seu era azul.

O Capitão Marvel Jr. logo se tornaria a estrela principal da Master Comics, assim como Mary logo se tornaria a estrela de outra publicação da Fawcett, a Wow Comics. Em 1945, o Capitão Marvel, Mary Marvel e o Capitão Marvel Jr. ganhariam uma revista na qual combateriam o crime todos juntos, chamada The Marvel Family, cuja primeira edição seria lançada em dezembro. Os Tenentes Marvel faziam participações especiais nesse título, assim como o Tio Marvel, um idoso trambiqueiro sem superpoderes, mas que vestia um uniforme igual ao do Capitão Marvel e se dizia empresário da Família Marvel. E ele nem era o membro mais esquisito da família: em 1942, querendo capitalizar sobre o sucesso do Capitão Marvel entre as crianças, a Fawcett criaria Hoppy, o Coelho Marvel, que era basicamente o que acontecia caso o Pernalonga gritasse Shazam! e ganhasse superpoderes. Menos mal, Hoppy não vivia suas aventuras no mesmo universo dos demais, mas na revista Funny Animals, na qual todos os personagens eram animais antropomórficos. Diferentemente de outro animal falante, Tawky Tawny, um tigre que a princípio era comum, mas bebeu um soro que lhe conferiu inteligência humana e a capacidade de andar sobre duas pernas. Tawny era um personagem recorrente das histórias principais do Capitão Marvel, e membro adotivo da Família Marvel.

O sucesso do Capitão Marvel incomodou a DC, que, ainda em 1941, decidiu processar a Fawcett, alegando que o Capitão Marvel era uma cópia do Super-Homem. A Fawcett decidiu comprar a briga, alegando que, apesar de ambos serem invulneráveis e terem superforça e supervelocidade, os heróis eram bastante diferentes - o Super-Homem era um alienígena do planeta Krypton, enquanto o Capitão Marvel era um menino que ganhou poderes mágicos. A Fawcett, inclusive, alegava que a DC também a estava copiando: originalmente, o Super-Homem não voava (apenas pulava muito alto e muito longe), mas, como o Capitão Marvel voava, em 1940 o Super-Homem começou a voar também; e Lex Luthor, o arqui-inimigo do Super-Homem, também criado depois do Capitão Marvel, era um cientista careca, justamente como o Dr. Silvana. Além disso, em 1949, no auge da popularidade do Capitão Marvel Jr, a DC lançaria a revista Superboy, que mostrava as aventuras do Super-Homem na época em que ele ainda era um adolescente.

O processo durou nada menos que dez anos, durante os quais a Fawcett teve permissão para continuar publicando o Capitão Marvel, criando todos os personagens que vimos até agora e transformando-o no super-herói mais popular dos Estados Unidos - ou, pelo menos, no que vendia mais. Em 1951, a Fawcett ganharia o processo devido a um detalhe técnico - o copyright do Super-Homem jamais havia sido registrado - mas a DC entraria com um recurso, e, na segunda instância, o juiz consideraria que a falta do copyright não era entrave para que a Fawcett fosse processada, dando prosseguimento à ação. Em 1953, como as vendas dos quadrinhos de super-heróis, inclusive as do Capitão Marvel, haviam caído drasticamente, a Fawcett optaria por entrar em um acordo com a DC, ao invés de gastar mais dinheiro nos tribunais. Com o julgamento suspenso, a Fawcett concordaria em pagar uma indenização à DC, e suspender imediatamente a publicação de todas as histórias da Família Marvel.

Após o processo, e com a queda nas vendas dos quadrinhos se acentuando a cada mês, a Fawcett Publications decidiria cancelar toda a sua linha de super-heróis, fechar a Fawcett Comics e publicar apenas livros e revistas para adultos. A editora ainda permaneceria no mercado até 1977, quando seria comprada pela CBS Publications.

Por uma dessas voltas que o mundo dá, na década de 1960, graças, principalmente, ao surgimento da Marvel Comics, as histórias de super-heróis voltariam a ser populares. No início da década de 1970, a DC já estava vendo novamente seus principais heróis ficarem para trás em vendas, dessa vez batidos pelo Homem-Aranha, pelos Vingadores e pelos X-Men. Lembrando-se da popularidade do Capitão Marvel, a DC, então, tomaria uma decisão digna do Bizarro, inimigo do Super-Homem: procuraria a Fawcett e ofereceria uma boa quantia em dinheiro pelos direitos sobre o personagem. A Fawcett não quis vender o personagem, mas concordou em licenciá-lo, cobrando da DC uma taxa toda vez que o Capitão Marvel - ou algum membro da sua Família - aparecesse em uma revista da DC.

Aí surgiu outro problema: por coincidência, a principal rival da DC agora se chamava Marvel, e, como o Capitão Marvel da Fawcett havia sido "cancelado" pela ação judicial movida pela DC, a Marvel Comics conseguiria registrar o nome Capitão Marvel em 1967, usando-o para batizar um de seus próprios personagens, que estrearia na revista Marvel Super Heroes número 12, de dezembro daquele ano, migrando para sua própria revista, Captain Marvel, em maio de 1968. Isso significava que, embora ainda pudesse brigar com a Marvel pelos direitos do nome do personagem, a DC não poderia lançar uma revista chamada Captain Marvel, sob o risco de os leitores acharem que ambas eram uma mesma publicação.

A DC optaria pela escolha mais óbvia, e chamaria sua nova revista de Shazam!. O primeiro número dessa nova revista seria lançado em fevereiro de 1973, e teria uma capa altamente emblemática: nela, não somente o próprio Super-Homem apresentava o "novo" herói da DC, apontando para Billy e descrevendo como funcionava a transformação, como também, abaixo do título, a DC escreveria "o verdadeiro Capitão Marvel". A primeira edição dava uma explicação meia-boca para o sumiço da Família Marvel (eles e o Dr. Silvana ficaram acidentalmente em animação suspensa durante 20 anos após um acidente no laboratório do vilão) e cada edição seguinte publicava tanto histórias novas quanto republicações das antigas. C.C. Beck, ilustrador das histórias originais, que, após o fim da Fawcett Comics, havia trabalhado para várias editoras nanicas, seria convidado para assumir o novo título, mas só desenharia as dez primeiras edições, alegando "divergências criativas" e se aposentando em seguida.

Nas mãos da DC, porém, o Capitão Marvel não faria nem sombra do sucesso que fazia na Fawcett. Muitas razões foram alegadas, como o hiato de 20 anos na publicação, o fato de que o público não identificava o personagem claramente como Capitão Marvel devido ao nome da revista e ao Capitão Marvel da Marvel, e o estilo diferente das histórias da Era de Prata dos Quadrinhos em relação às da Era de Ouro - quando o Capitão Marvel da Fawcett fez sua estreia. A DC optaria por atacar essa última hipótese, e, em abril de 1978, começaria a escrever histórias mais ao estilo da época para o personagem, cessando com as republicações. No mês seguinte, a DC decidiria descontinuar a revista Shazam!, que teve como último número o 35, e mover as histórias do personagem para a World's Finest Comics, começando na edição 253, em outubro. Em setembro de 1982, as histórias do Capitão Marvel passariam para a Adventure Comics, primeiro com histórias inéditas, e a partir de 1984 com republicações das histórias da Fawcett.

Até então, principalmente por causa do licenciamento, a DC não considerava que as aventuras da Família Marvel ocorriam no mesmo universo que seus demais personagens, e sim em um universo paralelo. Com o fim definitivo da Fawcett em 1977, porém, a DC negociou comprar os direitos sobre o personagem de vez, o que conseguiu em 1981. Em 1985, portanto, quando fez sua Crise nas Infinitas Terras, uma saga que visava sanar os problemas de continuidade dos títulos da editora e acabar com o monte de universos paralelos que haviam se criado, a DC aproveitaria que agora era dona do herói e, na continuidade pós-Crise, o colocaria no mesmo universo que o Super-Homem, o Batman, a Mulher Maravilha e todos os seus principais personagens.

Depois da Crise, o Capitão Marvel apareceria na minissérie Lendas, de 1986, e como membro da Liga da Justiça a partir de 1987. Naquele mesmo ano, a minissérie Shazam! O Novo Começo daria uma nova origem para o Capitão Marvel, Dr. Silvana e Adão Negro. A principal diferença desse Capitão Marvel, escrito por Roy e Dann Thomas, era que ele tinha a mesma personalidade com as identidades de Billy e do herói - ou seja, o Capitão Marvel era um adulto com a mente de um pré-adolescente - enquanto no Capitão Marvel criado pela Fawcett e usado pela DC até então coexistiam duas identidades diferentes, com uma assumindo sobre a outra quando a transformação ocorria. Esse novo Capitão Marvel também tinha histórias bem mais semelhantes às do Super-Homem, combatendo ameaças alienígenas e tecnológicas.

Essa nova versão do Capitão Marvel não fez sucesso entre os fãs, porém, e, em 1994, a DC optaria por um novo reboot do herói na edição especial The Power of Shazam!, escrita e desenhada por Jerry Ordway. Nessa edição, ficaria revelado que Adão Negro era o assassino dos pais de Billy, que originalmente eram arqueólogos, e que o Dr. Silvana era um rico empresário que financiou a expedição, visando ganhos pessoais. Mais no estilo das histórias originais da Fawcett, essa edição fez um grande sucesso, e foi seguida por uma revista mensal, também chamada The Power of Shazam!, publicada entre março de 1995 e março de 1999. Essa revista traria de volta Mary Marvel (com um novo uniforme branco), o Capitão Marvel Jr, vilões como Sr. Cérebro e Sr. Átomo, e até mesmo outros heróis da Fawcett, todos integrados ao Universo DC, como Íbis e o Homem-Bala. Durante o curso da nova revista, o Capitão Marvel foi um dos principais personagens da aclamada minissérie Kingdom Come: O Reino do Amanhã, escrita por Mark Waid e ilustrada por Alex Ross. Em 2000, a Família Marvel protagonizaria outra edição especial, Shazam! The Power of Hope, com roteiros de Paul Dini e arte de Ross.

Após o cancelamento de The Power of Shazam!, os personagens do universo do Capitão Marvel passaram a apenas fazer participações em outros títulos da DC - Adão Negro e o Capitão Marvel, por exemplo, se tornariam personagens recorrentas na revista da Sociedade da Justiça da América. Nessa época, algumas decisões controversas foram tomadas, como o Capitão Marvel assumir o lugar do mago Shazam, o Capitão Marvel Jr. perdendo o "Jr." no nome e se tornando o novo Capitão Marvel, e Mary Marvel recebendo os poderes do Adão Negro e se tornando uma vilã, com direito a uniforme preto e tudo. Tudo isso acabaria desfeito nas edições 23, 24, e 25 da JSA, na qual o mago Shazam ressucita e retorna tudo ao estado anterior.

Em 2011, quando a DC decidiu fazer um novo reboot de seu Universo, lançando o selo Os Novos 52, o roteirista Geoff Johns e o desenhista Gary Frank foram convidados para assumir as histórias do Capitão Marvel. A primeira providência de Johns foi mudar de vez o nome do personagem, que agora se chama, oficialmente, Shazam - o que evita a confusão entre os leitores e prováveis confusões com a Marvel. O Shazam de Johns tem histórias mais voltadas para a magia e o misticismo, quase como o Thor da Marvel, e, para combinar, Frank lhe daria um novo visual, com um rosto mais adulto e um capuz na mesma cor de sua capa, para que o super-herói ficasse meio parecido com um feiticeiro. O novo Billy Batson tem 15 anos, vive em um orfanato, é um adolescente problemático, e é escolhido por um mago sem nome para ser o novo campeão do Bem quando o Dr. Silvana acidentalmente liberta Adão Negro de uma prisão ancestral.

O novo Billy também possui cinco "irmãos adotivos", crianças e adolescentes que foram criados com ele no orfanato: sua irmã gêmea Mary Batson, Freddy Freeman, Eugene Choi, Pedro Peña e Darla Dudley (esses três últimos estrearam durante a saga Ponto de Ignição, ambientada em uma realidade alternativa, mas foram incorporados ao Universo DC principal após o reboot dos Novos 52). Se precisar, Shazam pode transferir parte de seus poderes para os cinco, que também se tornam super-heróis adultos ao receberem-nos. Além de seus irmãos, o melhor amigo de Billy é o tigre Tawny, que reside no zoológico local - e não possui a habilidade de falar nem caminha de pé.

Ainda é cedo para dizer se o novo Shazam será ou não um sucesso. Mas, infelizmente, parece que as antigas glórias da Fawcett jamais serão revividas. De super-herói mais popular do país, o Capitão Marvel parece ter passado definitivamente ao papel de coadjuvante.

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