segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Escrito por em 16.9.13 com 0 comentários

Parodius

Eu tive um computador MSX. Não sei bem o motivo que levou meu pai a comprar especificamente um MSX - e não um CP-500, um ZX Spectrum ou qualquer um dos outros computadores que existiam na época - mas me lembro nitidamente do dia em que ele o comprou. Também não foi uma coisa tão útil quanto nosso primeiro PC - ligado na televisão, era pouco mais que um videogame de luxo. Ainda assim, serviria para duas coisas muito importantes: primeiro, para que eu não fosse um completo analfabeto em computadores quando comprássemos nosso primeiro PC; segundo, para que eu pudesse jogar todos os jogos maravilhosos que a Konami lançou para o MSX.

Sim, eu não sei o porquê da preferência, mas a Konami lançava muito títulos para o MSX. Alguns eram versões de seus jogos de arcade, alguns logo ganhavam versões para outros sistemas, e alguns até mesmo se tornavam exclusivos do MSX. Eram tantos títulos diferentes que a Konami decidiria lançar um crossover, um único jogo que reunisse personagens e características de vários outros jogos seus. Tudo bem que isso hoje nem é tão novidade assim, mas, na época, deve ter sido uma decisão ousada, surpreendente e emocionante.

Talvez por isso mesmo, a Konami optaria por não fazer desse crossover um jogo sério, e sim uma espécie de paródia de seus próprios jogos. E, como bem sabemos, os norte-americanos não eram muito chegados a jogos humorísticos na época: assim como todos os demais games cômicos, o crossover da Konami jamais seria lançado nos Estados Unidos. Como muitos dos jogos de MSX que chegavam ao Brasil eram japoneses, isso não impediu que eu o jogasse. E, mesmo sem entender muitas das piadas - que deviam ser bem específicas da cultura pop japonesa, outro motivo pelo qual jogos desse tipo raramente ganhavam versões americanas - sempre gostei muito desse jogo. Outro dia, me lembrei dele, e hoje decidi fazer um post sobre ele. Seu nome? Parodius. O que até faz muito sentido.

O nome completo do jogo, na verdade, era Parodius: Tako wa Chikyuu no Sukuu, o que pode ser traduzido como "Parodius: O Polvo que Salvou a Terra", mas como "Parodius" era a única palavra do título que não estava escrita em caracteres japoneses, foi por esse nome que ele se popularizou fora do Japão. E no Japão também, porque, até Harry Potter e Percy Jackson surgirem, ninguém dava muita bola para subtítulos.

Parodius Da!O principal jogo parodiado por Parodius é Gradius - até no nome, aliás. Gradius, conhecido como Nemesis na Europa, é um dos maiores sucessos da Konami, um shoot 'em up ("jogo de navezinha") com scroll horizontal (os inimigos vêm da direita para a esquerda) cuja fama vem do sistema de armas: destruindo certos grupos de inimigos, surge na tela um power up; ao invés de esse power up fornecer uma nova arma ou habilidade imediatamente para a nave, ele ilumina uma das opções de uma barra na parte inferior da tela. A qualquer momento, o jogador pode pressionar o segundo botão do controle do MSX (que só tinha dois, sendo o primeiro usado para atirar) para ativar essa opção; em outras palavras, era o jogador quem escolhia em qual momento queria ganhar a arma ou habilidade fornecida pelo power up. Parodius usava esse mesmo sistema, com as mais ou menos as mesmas opções de armas e habilidades de Gradius, como o aumento na velocidade, o escudo, o disparo de bombas em direção ao solo, o aumento do número de tiros disparados por vez e o famoso options, duas navezinhas que circundavam sua nave atirando junto com ela e atuando como escudos fracos.

No início do jogo, o jogador podia escolher dentre cinco personagens: Vic Viper, a nave de Gradius; Goemon, ninja protagonista do jogo Mystical Ninja; Popolon, cavaleiro medieval protagonista de Knightmare; Penta, o pinguim protagonista de Antarctic Adventure; e o polvo Takosuke, personagem original criado especialmente para Parodius. Independentemente do personagem escolhido, todos se comportam como se fossem uma nave, voando pelo espaço, disparando tiros e recolhendo power ups, sendo que os tiros e power ups são temáticos de acordo com o personagem escolhido - os de Penta, por exemplo, são peixes.

Ao todo, Parodius tinha seis fases, recheadas de inimigos baseados em diversos jogos da Konami - como os moais de Gradius e os dragões de Knightmare - e mais alguns criados especificamente para ele, em sua maioria animais caricatos e voadores, principalmente pinguins e polvos. A trilha sonora chamava atenção, pois, ao invés de ser composta de músicas de jogos da Konami, como era de se esperar, trazia versões em 8 bits de músicas clássicas de compostiores famosos, como Beethoven, Tchaikovsky, Chopin, Wagner, Bizet, Dvorak e Liszt.

Parodius seria lançado em 1988, exclusivamente no Japão, e, durante uma década, seria exclusivo do MSX, até ser lançado como parte das coletâneas Konami Antiques MSX Collection Vol. 3 para PlayStation e Konami Antiques MSX Collection Ultra Pack para Saturn, ambas de 1998. Em 2006, o jogo também ganharia versões para telefones celulares, mais uma vez exclusivas do mercado japonês, e, em 2010, chegaria ao Virtual Console do Wii - mais uma vez, apenas no Japão.

O jogo foi um grande sucesso de crítica, sendo eleito um dos melhores jogos do MSX e "Melhor Jogo Jamais Lançado nos Estados Unidos" pela renomada publicação Electronic Gaming Monthly. Esse sucesso motivaria a Konami a não somente lançar uma sequência, mas também a fazer com que ela não fosse exclusiva do MSX.

Parodius Da! - Shinwa kara Owarai e ("É Parodius! - Do Mito à Gargalhada", paródia do subtítulo de Gradius III, "Da Lenda ao Mito") seria lançado em 1990 para arcades, ganhando, ao longo dos seis anos seguintes, versões para Famicom (o NES japonês), Game Boy, PC Engine (conhecido fora do Japão como Turbografx-16), computadores Sharp X68000, Super Famicom (o SNES japonês), Playstation e Saturn - o MSX, já em final de carreira, ficaria de fora. Assim como o original, em 2006 o jogo também seria lançado para telefones celulares. As versões arcade, Sharp X68000, PC Engine e de celulares seriam exclusivas do Japão; as versões NES, SNES, Game Boy, Playstation e Saturn seriam lançadas também na Europa - mais uma vez, nada de versão americana - fato que seria responsável por uma grande confusão: todas as versões europeias, exceto a SNES, se chamam apenas Parodius (a versão SNES possui o subtítulo Non-Sense Fantasy), o que faz com que muita gente pense que esses jogos são versões para consoles do primeiro Parodius, e não do segundo - ou, em uma confusão ainda maior, achem que o Parodius do MSX é apenas mais uma versão caseira do arcade de Parodius Da!.

Parodius Da! era bastante parecido com seu antecessor, mas, graças à maior potência do arcade, seus gráficos possuíam um estilo anime que logo se tornaria a marca registrada da série. Esses gráficos também possibilitaram a introdução de outra marca registrada, as moças em poses sexy e parcamente vestidas, que atuavam como inimigos de fase e até mesmo chefes. Ao todo, a versão arcade de Parodius Da! tinha 10 fases, com as versões caseiras tendo entre 6 e 12, omitindo algumas e incluindo outras novas. A trilha sonora, além de músicas clássicas, incluía outras criadas especialmente para o jogo, lançadas no Japão em um CD.

ParodiusDessa vez, o jogador pode escolher dentre quatro personagens, e cada um deles tem à disposição um conjunto de armas e habilidades diferentes, baseado em um dos jogos de nave da Konami: Vic Viper, evidentemente, usa as mesmas armas e habilidades que tinha à disposição em Gradius; Takosuke, o polvo, usa as armas e habilidades de Salamander; Pentaro, filho de Penta e novo pinguim do jogo, usa as armas e habilidades de Gradius III; e TwinBee, nave do jogo de mesmo nome, usa as armas e habilidades que possuía nele. Parodius Da!, aliás, pega muitos inimigos emprestados de TwinBee, assim como seus mais famosos power ups, os sinos coloridos, que fornecem um ataque de uso único ao serem coletados; esse ataque dependia da cor do sino, e podia ser um grande laser, destruir todos os inimigos da tela, invencibilidade momentânea ou qualquer outra coisa de grande impacto.

Em 1994, seria lançado o terceiro jogo da série, Gokujou Parodius: Kako no Eikou o Motomete ("Parodius Fantástico: Em Busca da Glória do Passado"), que teria versões para arcades, Super Famicom, Playstation e Saturn. Todas essas versões seriam lançadas também na Europa, com o nome de Fantastic Journey; exclusivas do Japão, dessa vez, somente as versões para celulares, lançadas em 2007.

Em termos de gráficos, o jogo era praticamente idêntico a Parodius Da!, mas a jogabilidade contava com algumas novidades, como a possibilidade de dois jogadores simultaneamente na tela (exceto na versão Super Famicom) - para que isso fosse menos confuso, a barra de armas e habilidades foi modificada, se tornando menor e trazendo ícones das armas e habilidades disponíveis, ao invés de seus nomes como ocorria até então. Outra novidade era que, no início do jogo, o jogador podia escolher entre os modos Auto (que escolhia automaticamente as armas e habilidades adquiridas conforme o jogador recolhia os power ups), Semi-Auto (que escolhia automaticamente, mas permitia que o jogador "forçasse a escolha" pressionando o botão) ou Manual (igual ao dos jogos anteriores).

Agora estavam disponíveis nada menos que oito personagens para a escolha do jogador: Vic Viper (mais uma vez com as armas de Gradius), Pentaro (agora com armas próprias, inspiradas em Penguin Adventure, a sequência de Antarctic Adventure), Takosuke (mais uma vez com as armas de Salamander), TwinBee (com as armas do jogo de mesmo nome) e os novatos Hikaru, uma moça com roupa de coelhinha montada em um foguete que usa as armas de Thunder Cross; Mambo, um enorme peixe baseado na nave de Space Manbow, que usa as armas desse jogo; Michael, um porco-anjo que era inimigo de fase em Parodius Da!, e usa armas baseadas no jogo Darius, da Taito; e Koitsu, um boneco-palito voando em um avião de papel, que usava um conjunto de armas e habilidades próprio. Curiosamente, o segundo jogador não escolhia dentre esses personagens, e sim dentre novas versões, em sua maior parte femininas, deles: ao invés de Vic Viper, a nave Lord British (de Life Force, um spin-off de Gradius); ao invés de Pentaro, a pinguim Hanako; ao invés de Takosuke, a polva Belial; ao invés de TwinBee, a nave rosa e feminina WinBee; ao invés de Hikaru, a também coelhinha Akane; ao invés de Mambo, a peixe Samba; ao invés de Michael, outro porco-anjo, Gabriel; e, ao invés de Koitsu, seu clone Aitsu. Para compensar a ausência dos dois jogadores simultâneos, a versão Super Famicom incluía três personagens novos: Goemon, Dracula-Kun (protagonista de Kid Dracula) e Upa (o bebê superforte protagonista de Bio Miracle Bokutte Upa). Suas versões para o segundo jogador eram Ebisumaru, Kid Dracula e Rupa, respectivamente.

Gokujou Parodius contava com sete fases, mais uma "fase secreta" após você terminar o jogo. Seus chefes, exceto o último, possuíam uma bizarrice: se você conseguisse sobreviver por tempo suficiente sem destruí-lo nem ser destruído, ele morria sozinho, sem que você precisasse acabar com sua energia. O penúltimo chefe, inclusive, é indestrutível, e essa é a única forma de vencê-lo.

O próximo jogo da série seria lançado no ano seguinte, 1995, com o bizarro nome de Jikkyou Oshaberi Parodius (que pode ser traduzido para algo como "Parodius Realmente Tagarela"), que fazia referência ao grande número de vozes digitalizadas do jogo - praticamente tudo nesse jogo fala, até as pedras. As vozes digitalizadas são tantas que o jogo possui até uma narração de Takosuke, que vai contando a história e tecendo comentários sobre os inimigos enfrentados conforme as 8 fases se desenrolam. A trilha sonora é composta de remixes de músicas clássicas, de clássicos dos anos 1970 e de músicas de jogos da Konami.

Nos gráficos e na jogabilidade, pouco mudou em relação a Gokujou Parodius; a maior novidade do jogo é a imensa quantidade de personagens à disposição dos jogadores - sendo que, agora, ambos podem escolher qualquer personagem: Vic Viper e Lord British de Gradius, TwinBee e WinBee de TwinBee, os pinguins Pentaro e Hanako, os polvos Belial e Takohiko (filho de Takosuke), os bonecos-palito Soitsu e Doitsu (que, para efeitos de jogo, são idênticos a Koitsu e Aitsu), os superbebês Upa e Rupa, de Bio Miracle Bokutte Upa (que usam armas e habilidades inspiradas no jogo Raiden, da Seibu Kaihatsu), as fadinhas Sue e Memim (que usam armas e habilidades inspiradas no jogo Truxton II, da Toaplan) e os gatinhos castrados (fato que pode ser comprovado pelo curativo em suas partes íntimas) Mike e Ran (cujas armas e habilidades são inspirados em R-Type Leo, da Irem).

Oshaberi Parodius não teve uma versão arcade; sua versão original foi lançada para o Super Famicom, e impressionou à crítica e aos jogadores por seus gráficos, até então considerados acima do que o console podia produzir, e possíveis apenas graças ao uso do chip SA-1 (o mesmo de Super Mario RPG), que acelerava o processamento gráfico e permitia gráficos poligonais. No ano seguinte, seriam lançadas versões para Playstation e Saturn, que incluíam o modo de dois jogadores simultâneos (mais uma vez ausente da versão Super Famicom), dois minigames, sendo um jogo de corrida e um no qual o objetivo era recolher moedas e destruir brinquedos, e a adição de pequenas fadinhas escondidas nas fases; recolhendo todas, o jogador liberava mais dois personagens, Kid Dracula e Dracula-Kun, de Kid Dracula, que tinham armas e habilidades inspiradas no jogo Axelay, mas temáticas do jogo Castlevania, como velas e cruzes. Todas as três versões do jogo foram lançadas exclusivamente no Japão.

O último jogo inédito da série se chama Sexy Parodius, foi lançado em 1996 e é a paródia da paródia, abusando das moças em poses sexy e parcamente vestidas como inimigos de fase e chefes - e, como se trata de um jogo humorístico, também temos pinguins, polvas e outras animais antropomórficas em poses sexy e parcamente vestidas. Lançado para arcades, Playstation e Saturn, exclusivamente no Japão, o jogo possui seis fases regulares e duas secretas - sendo que as versões Playstation e Saturn possuem também cinco fases supersecretas, acessíveis apenas através de um Stage Select, que deve ser liberado vencendo o jogo cumprindo certas condições.

Sexy ParodiusA maior novidade de Sexy Parodius é que cada fase possui uma "missão", como recolher um determinado número de moedas ou destruir um determinado número de inimigos; ao final de cada fase, você só enfrentará o chefe se tiver cumprido essa missão. Para estimular o jogo cooperativo entre dois jogadores, a Konami introduziu uma novidade que já havia testado em seu jogo Trigon: se os jogadores estiverem bem próximos, além de seus tiros regulares será disparado um tiro especial, que, dependendo das armas que os jogadores estiverem usando, pode ser giratório, teleguiado ou de grande poder destrutivo.

Ao todo, 16 personagens estão à disposição dos jogadores: Vic Viper e Lord British fazem mais uma aparição; Michael, Gabriel, Hikaru, Akane, Koitsu, Aitsu, Mambo e Samba retornam após algum tempo sumidos; e fazem sua estreia os pinguins mercenários Ivan e Toby; a Shooting Star, originalmente uma nave inimiga de TwinBee Yahho!; a Black Viper, nave criada especialmente para Sexy Parodius; e as bolotinhas Option e Multiple, que, originalmente, eram options de Vic Viper e Lord British, mas aqui parecem ter adquirido consciência própria, tanto que possuem olhos e boca - e, curiosamente, usam pequeninas Vic Vipers e Lord Britishes como suas próprias options. Assim como em Gokujou Parodius, os personagens principais (Vic Viper, Michael, Hikaru, Ivan, Mambo, Koitsu, Shooting Star e Option) só podem ser escolhidos pelo primeiro jogador, enquanto suas contrapartes (Lord British, Gabriel, Akane, Toby, Samba, Aitsu, Black Viper e Multiple) só podem ser escolhidos pelo jogador 2.

Sexy Parodius foi o menos bem sucedido jogo da série, e algumas publicações especializadas chegaram a dizer que a fórmula estava gasta. Talvez por isso a Konami não tenha mais se arriscado a lançar um novo Parodius depois dele. O máximo que fizeram foi lançar uma coletânea, Parodius Portable, contendo os cinco jogos, tendo o Parodius original novos gráficos, para o PSP, em 2007. Uma pena. Pinguins e polvos ainda têm muito o que contribuir para a defesa da Terra.

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