"Não somente por ser um filme de Mortal Kombat", aliás, foi uma frase muito feliz, pois abre espaço para eu dizer que Mortal Kombat não teve só esse filme, mas dois, além de um desenho animado, uma série de TV e duas webséries. Nesse post, entretanto, eu só vou falar sobre o filme original, por razões bem simples: o segundo filme é uma aberração da natureza, o desenho animado é bem sem graça, a série de TV é esquisita e as webséries eu nunca assisti, então não estou a fim de perder meu tempo escrevendo sobre eles. Mas sobre o primeiro filme eu escrevo com o maior prazer.
Lançado em 1995, Mortal Kombat foi dirigido por Paul W. S. Anderson, talvez não por acaso o mesmo diretor de três dos cinco Resident Evil (e roteirista dos cinco, mas não de Mortal Kombat, que tem roteiro de Kevin Droney), e é baseado nos eventos do primeiro game (embora também pegue emprestado coisas do segundo): o deus do trovão Raiden (Christopher Lambert, também conhecido aqui em casa como "Highlander") reúne três valorosos guerreiros, o ex-monge shaolin Liu Kang (Robin Shou), o ator e mestre das artes marciais Johnny Cage (Linden Ashby) e a tenente das Forças Especiais do exército norte-americano Sonya Blade (Bridgette Wilson) para representar a Terra no Mortal Kombat, torneio realizado em uma misteriosa ilha que não consta de nenhum mapa, mas no qual será decidido o destino do planeta: realizado uma vez a cada geração, o torneio é, na verdade, a única forma que os deuses ancestrais encontraram para acalmar a sanha do imperador Shao Kahn (o megadublador Frank Welker), que buscava invadir a Terra de todas as formas. Segundo as regras criadas por esses deuses, caso a Terra vença o torneio dez vezes seguidas, Shao Kahn deve desistir de uma vez por todas da invasão, mas, caso seu lado, o Outworld, vença dez vezes seguidas, a Terra será seu prêmio.
Pois bem, justamente nesse torneio o Outworld terá a chance de conquistar a Terra, pois seu atual campeão, o homem-dragão Goro (um animatronic bastante bem-feito, dublado por Kevin Michael Richardson), já venceu os nove anteriores, completando a dezena caso vença esse também. A única chance que temos é um dos guerreiros escolhidos por Raiden derrotar Goro, o que dará à Terra pelo menos mais dez gerações de paz. Shao Kahn, entretanto, não parece muito disposto a perder essa chance, e manda seu principal assecla, o feiticeiro Shang Tsung (Cary-Hiroyuki Tagawa, desde então conhecido aqui em casa como "Shang Tsung") "supervisionar" o torneio, garantindo que o Outworld vença.
Além de lutar pelo destino da Terra, cada campeão escolhido por Raiden tem seus próprios motivos para participar do torneio: Liu Kang quer vingar seu irmão, morto quando ele era uma criança justamente por Shang Tsung; Cage quer provar ao mundo que não é uma farsa, e sim um verdadeiro mestre das artes marciais; e Sonya está no encalço do criminoso Kano (Trevor Goddard), que matou seu parceiro. Além desses quatro personagens e de Goro, também participam do torneio os ninjas Scorpion (Chris Casamassa, dublado por Ed Boon, um dos criadores do game) e Sub-Zero (François Petit), que pouco falam e não têm história própria, e mais um bando de coadjuvantes que não existe no game e morre após sua primeira luta, como um amigo de Cage, Art Lean (Kenneth Edwards), que comete o ato temerário de desafiar Goro. Outros personagens do game que aparecem no filme são a princesa Kitana (Talisa Soto), filha adotiva de Shao Kahn, que decide ajudar os representantes da Terra, e o ninja Reptile (Keith Cooke), enviado por Shang Tsung para ficar de olho em Kitana e evitar que ela consiga.
O filme surgiria em meio a uma grande onda de adaptações de games que assolou os anos 1990, produzindo pérolas como Double Dragon, Super Mario Bros. e, é claro, Street Fighter. Talvez não querendo um estúdio qualquer se metendo e estragando a história do seu game, a própria Midway, criadora do game original, decidiu produzi-lo, em parceria com o pequeno estúdio Threshold Entertainment. O filme seria distribuído pela New Line Cinema - hoje parte do conglomerado da Warner, que, coincidentemente, hoje também é dona da franquia Mortal Kombat - e receberia dinheiro de diversos investidores, já que os games eram um grande sucesso. Foi graças a esse dinheiro que o filme pôde contar com presenças ilustres como Christopher Lambert e Cary-Hiroyuki Tagawa, segundo os produtores, única escolha possível para o papel de Shang Tsung. Os produtores desejavam ainda mais estrelas no elenco, tendo convidado Tom Cruise, Johnny Depp, Jean-Claude Van Damme e Brandon Lee para o papel de Johnny Cage, Jason Scott Lee para o de Liu Kang e Cameron Diaz para o de Sonya - Brandon Lee e Cameron Diaz chegaram a assinar contrato, mas ele faleceu antes do início das gravações, e ela quebrou o pulso enquanto treinava para as cenas de luta. Anderson, que só havia dirigido um único filme em sua vida, Shopping, com Jude Law e Sadie Frost, seria uma aposta do estúdio, que desejava um diretor jovem e fã de artes marciais.
Curiosamente, o roteiro original era bem mais violento, tendo sido escrito propositalmente para que o filme fosse classificado como impróprio para menores de 18 anos. Ao ser submetido à classificação do órgão competente (a MPAA), entretanto, o filme saiu classificado como PG-13 - menores de 13 anos somente acompanhados dos pais. Aproveitando a oportunidade de atingir a um público maior, Droney daria uma amenizada na versão final. Alguns personagens do segundo jogo, como Jade e Kung Lao, assim como um envolvimento amoroso entre Liu Kang e Kitana, seriam removidos dessa segunda versão para dar mais ritmo ao filme. Curiosamente, Reptile, um dos personagens mais famosos do primeiro game, não constava do roteiro original, tendo sido incluído na versão final a pedidos dos grupos de discussão formados pela produção.
Mortal Kombat contaria com uma grande campanha de marketing, que incluiu até mesmo o lançamento de um longa de animação direto para video, chamado Mortal Kombat: A Jornada Começa. Nele, Liu Kang, Johnny Cage e Sonya viajam para a ilha onde será realizado o torneio, enquanto Raiden lhes explica a história do Mortal Kombat e as origens de Shang Tsung, Scorpion, Sub-Zero, Goro e de Kung Lao, o monge que originalmente frustrou os planos de invasão de Shao Kahn.
Usando criatividade nos efeitos especiais e locações alternativas em Los Angeles e na Tailândia, Mortal Kombat, conseguiu manter um orçamento enxuto, de apenas 18 milhões de dólares. Lançado em 18 de agosto de 1995, se pagou já no primeiro fim de semana, no qual arrecadaria 23 milhões. No total, o filme arrecadaria mais de 70 milhões apenas nos Estados Unidos, e 122 milhões no mundo todo, sendo bastante elogiado pelos fãs do game e por fãs de filmes de ação em geral. A crítica se dividiu, com alguns falando mal do enredo, outros elogiando a ação - o que, de qualquer forma, foi excelente se comparado ao que acontece com outros filmes baseados em games, aos quais a crítica costuma espancar sem dó.
O sucesso de Mortal Kombat levaria às já citadas série animada, Mortal Kombat: Defensores da Terra, de 1996; à continuação, Mortal Kombat: A Aniquilação, de 1997; e à série de TV, Mortal Kombat: A Conquista, de 1998, as quais, como eu já disse, me absterei de comentar. Atualmente, a Warner, atual dona da franquia, pensa em fazer um reboot, que seria lançado em meados desse ano. Até agora, entretanto, tudo o que existe é especulação, sem elenco, diretor nem roteiro definidos. O que se comenta é que esse novo filme seguiria a história do mais recente jogo, lançado em 2011.
Aliás, já que eu estou por aqui mesmo, vou aproveitar e falar desse jogo, lançado em 2011 para Playstation 3 e Xbox 360, e que se chama, simplesmente, Mortal Kombat. Antes disso, cabe explicar rapidinho por que a Warner é agora dona da franquia: o Mortal Kombat original foi criado por Ed Boon e John Tobias, que, na época, trabalhavam para a Midway, empresa famosa no mundo dos arcades por ter distribuído o Space Invaders nos Estados Unidos e lançado Ms. Pac Man, Spy Hunter e Rampage, dentre outros. Com Mortal Kombat, a Midway esperava conseguir um pedaço do mercado dos jogos de luta, que se tornou imensamente lucrativo alguns anos antes com o lançamento de Street Fighter II. O plano seria tão bem sucedido que, até hoje, Mortal Kombat é considerado o maior rival de Street Fighter.
Infelizmente, entretanto, a popularidade de Mortal Kombat não significaria para a Midway o mesmo que a popularidade de Street Fighter significaria para a Capcom, sua criadora. O jogo realmente rendeu rios de dinheiro, que possibilitaram à Midway comprar, por exemplo, os catálogos da Atari e da Williams quando essas abriram falência, mas parece que a empresa acreditava que Mortal Kombat a sustentaria para sempre: a maior parte dos jogos lançados pela Midway após Mortal Kombat consistiria de licenciamentos, como os jogos de esportes NBA Jam e NFL Blitz e o jogo de tiro Revolution X, que contava com a banda Aerosmith, sem que houvesse investimento na criação de novos jogos originais. No final da década de 1990, quando os jogos de luta para arcades começaram a entrar em uma curva descendente, a Midway começou a ter prejuízo - o que levou Tobias, inclusive a se demitir da empresa e fundar a sua própria.
No início dos anos 2000, a Midway tomaria duas decisões arriscadas: primeiro, fechar completamente seu departamento de arcades, passando a produzir apenas jogos para consoles. Segundo, investir na compra de pequenas softhouses independentes, ampliando e diversificando sua equipe de produtores e desenvolvedores. Mortal Kombat sobreviveria graças a Boon, que convenceria a empresa a continuar desenvolvendo títulos da franquia para consoles, mas o prejuízo seguiria aumentando ano após ano. Em 2008, em uma última cartada, a Midway tentaria uma parceria com a Warner Bros, que previa o lançamento de vários jogos, mas acabaria resultando em apenas um: Mortal Kombat vs. DC Universe. No ano seguinte, os prejuízos acumulados eram tantos que a Midway não teve outra alternativa senão pedir falência.
Até hoje, os ativos da empresa estão à venda para pagar suas muitas dívidas. Parte desses ativos - a divisão baseada em Chicago e uma das pequenas softhouses compradas pela Midway, a Surreal Software - foi comprada por Ed Boon e renomeada NetherRealm Studios. Outra parte - os direitos obre a franquia Mortal Kombat - acabaria sendo comprada pela Warner Bros. Como tanto a Warner quanto Boon tinham interesse em seguir com a franquia, logo eles negociaram o lançamento de um novo título para a série.
Esse novo título, entretanto, não seria uma continuação, mas uma espécie de reboot - por isso seu nome é apenas Mortal Kombat - uma oportunidade de usar todos os personagens clássicos sem a necessidade de uma história controversa - e de levar Mortal Kombat em uma nova direção após o Armageddon.
Assim como MKvsDC, o novo Mortal Kombat possui um modo Arcade (chamado Fight) e um Story Mode, no qual sua história será contada: após os eventos de Mortal Kombat: Armageddon, Shao Kahn se tornou todo-poderoso e matou todos os lutadores sobreviventes, dominando o universo. Pouco antes de morrer, Raiden decide enviar uma mensagem a si mesmo no passado, para evitar que isso ocorra. Essa mensagem é recebida quando está se iniciando o torneio mostrado no primeiro game, com os lutadores reunidos na ilha de Shang Tsung. O problema é que Raiden não compreende muito bem a mensagem, e, para complicar ainda mais, de vez em quando tem visões de eventos futuros. Enquanto as histórias de Mortal Kombat, Mortal Kombat II e Mortal Kombat 3 se desenrolam, Raiden tenta interpretar a mensagem e suas visões, buscando descobrir uma forma de derrotar Shao Kahn antes que seja tarde demais. O Story Mode conta com 16 capítulos, cada um composto de 4 ou 5 lutas, e em cada um deles o jogador deverá controlar um lutador diferente e pré-determinado. Entre as lutas, os eventos da trilogia original de Mortal Kombat serão recontados - e alterados, já que Raiden interfere diretamente em alguns deles buscando solucionar o enigma que seu eu do futuro o enviou.
Já o modo Arcade é o tradicional dos jogos de luta: você escolhe um lutador e enfrenta outros dez, um após o outro, vendo um final específico daquele lutador se conseguir derrotar todos. Isso pode ser feito no modo um-contra-um ou no modo Tag, popularizado pela Capcom, aquele no qual você escolhe dois lutadores e pode alternar livremente entre eles durante as lutas. Como o jogo é uma volta às origens, as lutas não acontecem em um ambiente 3D como nos mais recentes jogos da série, e sim em um ambiente 2D como nos mais antigos - em outras palavras, os gráficos são tridimensionais e de última geração, mas os lutadores só podem andar para a frente, para trás, pular e se abaixar, não podendo "girar" o cenário.
Estão à disposição do jogador quase todos os lutadores de Mortal Kombat Trilogy: Scorpion, Liu Kang, Kung Lao, Sub-Zero, Sindel, Ermac, Reptile, Kitana, Johnny Cage, Jade, Mileena, Nightwolf, Cyrax, Noob Saibot, Smoke, Sektor, Sonya, Jax, Kano, Stryker, Shang Tsung, Kabal, Baraka, Raiden e Sheeva. Outros dois, Cyber Sub-Zero e Quan Chi, podem ser liberados no Story Mode, e outros quatro, Rain, Kenshi, Skarlet (a única nova) e Freddy Krueger (ele mesmo, da série de filmes A Hora do Pesadelo) podem ser adquiridos como Downloadable Content (DLC). A versão para PS3 ainda traz mais um lutador, Kratos, da série God of War. Goro, Kintaro e Shao Kahn são os chefes, mas você nunca enfrenta Goro e Kintaro numa mesma sessão de jogo - uma partida completa do modo arcade, aliás, consiste de sete oponentes (ou duplas de oponentes, no modo Tag) aleatórios, então Shang Tsung, Goro ou Kintaro, e Shao Kahn por último. Além dos lutadores, os cenários também são os mesmos dos três primeiros jogos, refeitos com gráficos de última geração.
Uma grande novidade desse novo jogo é que ele traz, pela primeira vez, uma Barra de Super - outros jogos da série já tinham coisas parecidas, como a barra Agressor de Mortal Kombat Trilogy, mas essa é a primeira em que ela funciona como uma Barra de Super de verdade: conforme o jogador acerta ou leva golpes, a Barra de Super, que tem três níveis, vai enchendo. Gastando um de seus níveis, o jogador pode lançar um Super (na linguagem do jogo, um Enhanced, "aprimorado"), um especial que causa bem mais dano que um especial comum. Gastando dois níveis, ele pode efetuar um Breaker, uma defesa que interrompe combos e até mesmo especiais que já tenham conectado. E, gastando os três níveis, o jogador tem à sua disposição um X-Ray Move, um golpe superpoderoso capaz de mudar o rumo de uma luta, e que tem esse nome porque, quando o oponente é atingido, suas entranhas se desfacelando são visualizadas em câmera lenta.
Além do Arcade e do Story Mode, o jogo também traz um modo para jogar online; a já famosa Krypt, com os segredos como roupas alternativas e novos Fatalities, que podem ser comprados com moedas conquistadas ao longo do jogo; o modo Test Your Luck, no qual o oponente e as condições da luta são sorteados aleatoriamente; e a Challenge Tower, composta por 300 desafios, alguns deles lutas com condições especiais - derrotar o oponente em menos de 30 segundos, com bolas de fogo caindo dos céus ou sem poder usar especiais, por exemplo - e alguns bonus stages, como o famoso jogo de descobrir a bolinha debaixo do copo - aqui, o olho debaixo do crânio, mas a ideia é a mesma. Cada desafio vale moedas, e, se o jogador cumprir todos os 300, ganha um prêmio especial. E, além dos quatro personagens novos, foram lançados como DLC conjuntos de "roupas clássicas", iguais às de MK1 para Scorpion, Sub-Zero, Reptile e Ermac, iguais às de MK2 para Noob Saibot, Smoke, Kitana e Jade, iguais às de MK3 para Sektor, Cyrax, Sub-Zero e Cyber Sub-Zero (igual a Cyrax/Sektor, mas azul), e iguais às de Ultimate Mortal Kombat 3 para Kitana, Jade e Mileena.
Em 2012, foi lançada uma nova versão do jogo, chamada Mortal Kombat Komplete Edition. Essa nova versão já vinha com todos os DLC (os quatro personagens novos e as roupas clássicas) e com todos os elementos que podiam ser liberados ao longo do jogo (roupas alternativas, novos Fatalities, Quan Chi e Cyber Sub-Zero) disponíveis desde o início, mas seria criticada por não incluir nenhuma novidade. As novidades ficariam para a versão lançada em seguida para o Playstation Vita, que, além de todo o conteúdo disponível desde o início como na Komplete Edition, ainda trazia uma segunda Challenge Tower, com 150 novos desafios, alguns deles usando as funções exclusivas do PSVita, como a touchscreen e o acelerômetro. Nessa nova Challenge Tower podiam ser liberadas mais roupas clássicas, iguais às de MK2 para Scorpion, Sub-Zero, Reptile, Ermac, Mileena e Skarlet (igual a Kitana/Jade/Mileena, mas vermelha); iguais às de UMK3 para Scorpion, Sub-Zero, Reptile, Ermac, Noob Saibot, Smoke, Rain e Skarlet; e igual à de Mortal Kombat: Deadly Alliance para Kenshi (o que fez com que Freddy Krueger se tornasse o único personagem do jogo sem nenhuma roupa alternativa).
Pode ser a nostalgia falando, mas, pra mim, esse é o melhor de todos os Mortal Kombat. Aparentemente, uma sequência já está a caminho. Se seguir a lógica, recontará a história de Mortal Kombat 4. Resta saber como vai se chamar.
Mortal Kombat |
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Parte 4 |
Olha, não é por nada não... Mas nada como a web série.
ResponderExcluirAssista. Vale MUITO a pena.