segunda-feira, 23 de maio de 2011

Escrito por em 23.5.11 com 1 comentário

Vôlei

Desde janeiro que eu não faço um post sobre esportes - os sobre os jogos esportivos de Mario não contam, antes que alguém decida comentar. Essa semana, pensando nisso, cheguei à conclusão de que seria legal falar mais uma vez sobre um esporte conhecido, como fiz ano passado com o futebol, do que prosseguir com os esportes mais exóticos. Assim, decidi escrever sobre vôlei, na minha opinião o único esporte hoje capaz de rivalizar em popularidade com o futebol aqui no Brasil, graças, principalmente, aos bons resultados que nossas seleções vêm obtendo já há alguns anos.

Aliás, aqueles que hoje reclamam que o beisebol e o futebol americano vêm se popularizando no Brasil, com bons índices de audiência e surgimento de times e campeonatos, deveriam ter em mente que o vôlei também foi inventado nos Estados Unidos (assim como o basquete, outro esporte extremamente popular por aqui), ou seja, essa história de que tal esporte é "americano" e que sua prática é "americanização" é tudo papo furado. O Brasil é hoje referência no vôlei, e uma das maiores potências mundiais nesse esporte, algo que jamais teria acontecido se, quando ele começou a ser praticado e a se popularizar por aqui, tivesse havido uma gritaria contra a americanização do nosso esporte.

O vôlei, que já tem um nome bastante curioso, foi criado com um diferente e ainda mais bizarro, mintonete, por um professor de educação física, William G. Morgan, na cidade de Holyoke, Massachusetts, em 1895. Morgan era um professor da Associação Cristã de Moços (ACM, também conhecida por aqui pela sua sigla em inglês, YMCA) daquela cidade, e desejava criar um esporte que pudesse ser jogado em ambientes fechados, por qualquer número de jogadores. Mais que isso, visando tornar esse esporte atraente para os alunos mais velhos, Morgan tentava criar um esporte no qual o contato e a força física não tivessem um papel fundamental, mas que oferecesse um nível satisfatório de atividade física. Sua solução foi colocar uma rede separando os dois times, consequentemente adaptando regras do tênis para que o esporte fosse jogado por equipes e sem raquetes.

Em sua origem, o mintonete era bastante diferente do vôlei, com uma quadra menor, uma rede mais baixa, sem número máximo de jogadores em cada time nem limite de número de toques na bola antes de passá-la para o outro lado, e dividido em nove entradas compostas de três saques para cada time cada. Foi somente no final de 1896, quando um dos diretores da ACM decidiu adotar o esporte para a prática em todas as filiais norte-americanas da associação, que as regras foram modificadas e se tornaram mais semelhantes às usadas hoje. Já a mudança de nome ocorreu logo após o primeiro jogo oficial, quando um outro professor da ACM, Alfred Halstead, comentou que o jogo era composto basicamente de voleios (volleys), e que, por causa disso, deveria se chamar volleyball. Talvez para infelicidade de Morgan, o nome pegou imediatamente, e a própria ACM passou a se referir ao esporte como voleibol ao divulgá-lo.

Em 1900, o vôlei chegou também ao Canadá, levado por professores e alunos da ACM. Nos anos seguintes, esses mesmos professores e alunos levariam o esporte a Cuba, Porto Rico, Uruguai e ao Sudeste Asiático, com o vôlei sendo incluído no programa oficial da primeira edição, em 1913, dos Jogos do Extremo Oriente - competição multiesportiva que seria precursora dos Jogos Asiáticos de hoje. Curiosamente, após esse evento o vôlei se tornaria extremamente popular nas Filipinas, que modificaria suas regras para tornar o jogo mais ofensivo, praticamente criando os levantamentos, parte fundamental do jogo moderno. O vôlei chegaria ao Brasil, também trazido pela ACM, em 1917, e, a partir de 1919, se espalharia de vez pelo mundo, com os militares norte-americanos designando mais de 16 mil bolas para suas bases no mundo inteiro, e ensinando o esporte às tropas aliadas.

Um pouco antes disso, em 1916, a ACM e a NCAA, entidade que regula o esporte universitário norte-americano, trabalharam em conjunto para que o vôlei fizesse parte do currículo esportivo dos colégios e universidades dos Estados Unidos. Em 1922, a ACM organizou o primeiro torneio norte-americano de vôlei, com a participação de 27 times de 11 estados diferentes. Em 1928 o vôlei já era um esporte amplamente difundido, e já sofria do mesmo problema que acometia todos os esportes novos: cada torneio era realizado com sua própria versão das regras, muitas vezes bastante diferentes das regras oficiais da ACM. Para tentar unificar as regras de vez, naquele ano seria fundada a USA Volleyball, órgão máximo do vôlei nos Estados Unidos, que publicou sua versão oficial das regras e passou a realizar torneios entre equipes e jogadores que não tivessem ligação com a ACM ou a NCAA.

Com a popularização do esporte na Europa, surgiu a necessidade também de uma Federação Internacional de Voleibol, algo que acabaria adiado por causa da Segunda Guerra Mundial. Somente em 1947 seria fundada a FIVB (da sigla em francês), através da união das federações da França, Itália, Bulgária, Bélgica, Tchecoslováquia, Hungria, União Soviética, Holanda, Polônia e Romênia. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos se filiariam à FIVB ainda em 1947. Hoje, a FIVB é a Federação Internacional esportiva com o maior número de membros, somando o impressionante total de 220, à frente de FIBA e FIA (213 cada), IAAF (212), FIFA (208) e FINA (202), e até do Comitê Olímpico Internacional (205) - e vale citar que, em um detalhe bizarro, todas essas organizações têm pelo menos dez membros a mais que a ONU, que tem 192.

Além de ser a maior, a FIVB é talvez a Federação Internacional mais atuante, sempre preocupada em tornar o vôlei atraente tanto para quem o pratica quanto para quem o assiste, tanto pessoalmente quanto pela televisão, visando sempre popularizar ainda mais o esporte, incentivando sua prática e sua torcida. O principal efeito dessa atuação toda é que as regras do vôlei estão sempre sendo revisadas e modificadas, algumas vezes segundo os interesses dos atletas, outras para manter vivo o interesse do público, e outras ainda para satisfazer as emissoras de TV - a regra da vantagem, que determinava que só podia pontuar o time que estivesse sacando, por exemplo, foi abolida porque os jogos estavam ficando muito compridos, e muitas emissoras não queriam mais exibi-los. As regras do vôlei que apresento hoje, portanto, são sua versão mais recente, já bastante diferente de quando conheci o esporte. E, se você estiver lendo isso certo tempo depois de eu ter escrito, pode ser que já tenha mudado mais uma coisa ou outra.

O vôlei é jogado em uma quadra que, para jogos oficiais, deve ter superfície obrigatoriamente de madeira ou Taraflex, um material sintético que minimiza o impacto dos atletas com a superfície da quadra; jogos amadores também costumam usar quadras de concreto, embora essas não sejam permitidas pela FIVB. Tradicionalmente, a área de jogo, onde a partida em si será disputada, que tem 9 metros de largura por 18 metros de comprimento, é de cor laranja, embora qualquer cor possa ser usada - no Jogo das Estrelas do Campeonato Italiano, por exemplo, a área de jogo é pintada como se fosse uma grande bandeira da Itália. Em volta da área de jogo deve ser reservada uma área de no mínimo 3 metros entre as linhas da área de jogo e qualquer outro elemento, como os bancos de reserva, placas de patrocínio ou a mesa de árbitros. Essa área é conhecida como zona livre, e, embora não faça parte da área de jogo, os atletas podem se movimentar por ela livremente - daí o nome e a razão pela qual não pode haver nenhum outro elemento nela. A zona livre normalmente é de cor azul, mas também pode ser verde, roxa ou qualquer outra cor suave que não se confunda com a cor da área de jogo.

As únicas marcações na quadra de vôlei são a linha central, que divide a área de jogo no meio, e a linha dos 3 metros, traçada de cada lado da área de jogo a três metros da linha central. Como a área de jogo tem 18 metros de comprimento, as linhas dos 3 metros efetivamente a dividem em três partes iguais - e é por isso que ela pode ser pintada que nem a bandeira da Itália, se alguém estivesse se perguntando. Sobre a linha central fica a rede, amarrada a dois postes fincados o mais próximo possível das linhas laterais da área de jogo. A rede tem 1 metro de altura, e é amarrada de forma que sua altura total em relação ao solo seja de 2,43 metros em jogos masculinos e 2,24 metros em jogos femininos. Exatamente sobre as linhas que delimitam a área de jogo, a rede possui uma antena de 30 cm. Essa antena define se a bola passou legalmente pela rede, ou seja, para que isso aconteça, a bola deve cruzar a rede "entre as antenas", considerando-se também prolongamentos imaginários destas que se estendem até o teto - ou seja, a bola não precisa passar a 30 cm da rede para que a jogada seja considerada válida, podendo passar a qualquer altura, desde que no espaço delimitado pelas antenas. A antena em si já é considerada "fora", ou seja, uma bola que toque a antena "saiu". As linhas que delimitam a área de jogo, por outro lado, são todas consideradas "dentro", ou seja, se a bola tocar um milímetro que seja da linha, ela não saiu.

A bola, falando nisso, pode ser feita de couro ou material sintético, deve ter entre 65 e 67 cm de circunferência, pesar entre 260 e 280 g, e ter uma pressão interna entre 0,3 e 0,325 kg/cm2, o que faz com que ela seja meio murcha de propósito. Essa última parte foi inventada pela FIVB pouco antes das Olimpíadas de 2008, e visava aumentar as chances de se defender um ataque rápido, já que a bola mais murcha viaja mais lentamente. No início, essa "despressurização" foi alvo de protestos de muitos jogadores, mas hoje parece que todos já se acostumaram.

Um time de vôlei é composto de seis jogadores, com direito a seis reservas. Cada time pode fazer seis substituições por set, sendo que as substituições só podem ser feitas quando a bola não estiver em jogo, devem ser autorizadas pelo árbitro, e um jogador só pode voltar à quadra no lugar de um que o tenha substituído. O líbero (veja adiante) segue regras especiais para a substituição, não contando para o limite de seis e não precisando ser autorizado para sair ou voltar, mas só pode substituir um jogador das posições 1, 5 ou 6 (veja adiante também), que só poderá voltar à quadra no lugar do líbero.

No início do jogo, os seis jogadores se distribuem pela quadra fazendo mais ou menos um círculo. O jogador que ficar mais próximo do canto inferior direito (ou superior esquerdo) da quadra será o posição 1; as demais posições seguem em sentido anti-horário, com os posições 2, 3 e 4 começando em frente à rede, o posição 5 começando no canto oposto ao posição 1, e o posição 6 entre o 1 e o 5. Cada vez que um time recupera a posse de bola - ou seja, quando pontua no saque do adversário - acontece o rodízio, com os jogadores mudando de posição no sentido horário - o posição 1 vai para a posição 6, o 2 vai para a 1, o 3 vai para a 2, e assim por diante. Enquanto a bola está em jogo, os jogadores não precisam ficar fixos em suas posições, podendo se movimentar pela quadra livremente.

Os jogadores de vôlei são especializados, divididos em cinco categorias diferentes: o levantador é o cérebro do time, o jogador que armará as jogadas de ataque, posicionando a bola após uma recepção para que ela seja atacada em direção à quadra adversária. O central ou meio de rede é um jogador capaz tanto de bloqueios precisos quanto de ataques rápidos, e normalmente fica ao lado do levantador. O ponta ou ponteiro é um jogador de boa recepção, responsável por receber a bola vinda da quadra oponente e passá-la para o levantador, mas também de ataque forte, sendo normalmente o responsável pela maior parte dos pontos do time. Já o oposto é um jogador especializado em todos os tipos de ataque, embora também deva saber armar bem o bloqueio. Finalmente, o líbero é um jogador especial, que tem função puramente defensiva, não podendo sacar, atacar nem bloquear, apenas receber, passar e levantar. Por ter uma série de regras especiais, o líbero deve jogar com um uniforme de cor diferente dos demais jogadores do time, para que os árbitros possam identificá-lo mais facilmente. Normalmente, no início de uma partida, um time tem um levantador, um oposto, dois centrais e dois pontas, com o líbero entrando no decorrer do jogo no lugar de um dos centrais.

Os doze jogadores do time só podem usar números no intervalo de 1 a 20, e um deles deve ser escolhido antes da partida como o capitão, marcado com uma linha cheia sob seu número no uniforme. O capitão é o único jogador autorizado a falar com os árbitros durante a partida, e também o responsável pela lisura e esportividade de seu time.

Uma partida de vôlei é disputada em melhor de cinco sets, sendo vencedor o time que primeiro ganhar três deles. Nos quatro primeiros sets, isso acontece quando um time alcança 25 pontos, com pelo menos dois pontos de vantagem sobre o adversário - ou seja, se empatar 24 a 24, o jogo vai a 26; 25 a 25 vai a 27, e assim por diante. O último set, conhecido como tie break, teoricamente termina quando um time alcança os 15 pontos, mas também deve existir a vantagem de dois pontos, o que significa que um tie break pode acabar sendo tão comprido quanto qualquer outro set. Em cada set, toda vez que uma equipe alcança primeiro os 8 ou 16 pontos há uma parada técnica, na qual os técnicos podem conversar com os jogadores; no tie break, durante a parada técnica dos 8 pontos os times também trocam de lado. Além das paradas técnicas, cada treinador tem o direito a dois pedidos de tempo por set. E, desnecessário dizer, no início de cada set as equipes mudam de lado - ou seja, se o time A jogou o primeiro set do lado direito, jogará o segundo do lado esquerdo da quadra.

Cada ponto começa com o saque, o movimento que colocará a bola em jogo. O saque deve ser efetuado da área de saque, um espaço imaginário que se estende da linha de fundo imediatamente atrás da posição 1 até o final da zona livre, e só pode ser realizado após ser autorizado pelo árbitro. Os tipos mais comuns de saque são o saque por baixo, no qual o jogador joga a bola para cima com uma das mãos e a acerta de baixo para cima com o punho fechado; o saque por cima, no qual o jogador joga a bola para cima com uma das mãos e acerta de cima para baixo com a mão espalmada; e o "saque viagem", feito da mesma forma que o saque por cima, mas enquanto o jogador salta, o que confere mais velocidade à bola. Para o saque ser válido, a mão do jogador deve atingir a bola antes de ele pisar na quadra, e a bola deve ultrapassar a rede - ela pode até tocar na rede, desde que passe para o outro lado; se bater na rede e cair do próprio lado de quem está sacando, é ponto para o adversário. Se o saque for direto dentro da quadra adversária, sem nenhum jogador adversário tocar na bola, chama-se o ponto de ace; se um jogador adversário tiver tocado nela antes de ela cair dentro ou fora da quadra adversária, entretanto, é apenas um ponto de saque.

O saque é normalmente recepcionado com um movimento chamado manchete, que consiste no jogador unir as duas mãos fechadas, com os polegares para cima, esticando os braços para acertar a bola com os antebraços. A manchete possibilita melhor controle da bola diante da força do saque, e é usada para passar a bola para o levantador, que então a levantará para o atacante com um toque. O toque é o movimento mais traiçoeiro do vôlei, pois deve ser feito apenas com as pontas dos dedos, sem que a bola toque nas mãos do jogador ou seja conduzida por elas. O atacante, que já estará no meio de um salto, então, passará a bola para o outro lado com uma cortada, um movimento rápido do braço de cima para baixo, visando impulsionar a bola com força em direção à quadra adversária, ou com uma deixada, um movimento sutil que visa impulsionar a bola em direção a uma parte da quadra que não esteja guardada por jogadores adversários. Qualquer jogador, exceto o líbero e aquele que acabou de tocar na bola, pode atacar, mas os que estiverem nas posições 1, 5 e 6 só poderão fazê-lo se saltarem de antes da linha dos 3 metros.

Uma vez que ocorra o ataque, o time adversário tentará um bloqueio, um salto com os braços estendidos para cima e as mãos espalmadas. Somente os jogadores das posições 2, 3 e 4 podem bloquear - sozinhos, em dupla ou os três de uma vez - e o objetivo é fazer com que a bola bata no bloqueio e retorne para a quadra de quem atacou. Se isso não funcionar, o time que sofreu o ataque pode então tentar um novo passe, que, acreditem ou não, pode se feito legalmente de qualquer jeito: normalmente, é usado uma manchete ou toque, mas as regras também permitem um mergulho com apenas um dos braços estendidos, com a mão fechada ou espalmada, e até mesmo que a bola seja defendida com os pés, pernas ou cabeça, desde que o movimento seja defensivo, mesmo que a bola acabe passando por outro lado e a jogada resulte em um ponto.

Caso o time consiga defender, começa então um rali, com um novo levantamento e um novo ataque. Cada rali dura até que a bola toque na quadra - quando será ponto para o time jogando na quadra onde a bola não tocou - ou até que um jogador cometa uma falta - quando será ponto para o time que não cometeu a falta. Após cada ponto, será a vez de o time que pontuou sacar, após o rodízio, se necessário.

Esses movimentos todos são limitados por duas regras: primeiro, cada time só pode dar três toques na bola antes de ser obrigado a passá-la para o outro lado, sendo que o bloqueio não conta. Normalmente esses três toques são uma recepção, um levantamento e um ataque, mas, dependendo da jogada, a bola, pode ir "de graça", ou seja, sem ataque, para o outro lado. Dependendo do momento do jogo, um time pode optar também por passar a bola para o outro lado após apenas dois toques, para surpreender o adversário com o que se chama de "bola de segunda". A segunda regra é que um mesmo jogador não pode dar dois toques seguidos na bola, devendo, após tocá-la, obrigatoriamente passá-la para um companheiro - aqui, mais uma vez, o bloqueio é exceção, ou seja, um jogador que acabou de bloquear pode dar um novo toque na bola.

Por causa dessas duas regras, tanto o mesmo time tocar quatro vezes na bola quanto um mesmo jogador tocar duas vezes seguidas na bola são falta, e resultam em ponto para o adversário. "Conduzir a bola", ou seja, empurrá-la ou carregá-la com as mãos ao invés de impulsioná-la com toques breves, também é falta e também vale ponto para o adversário. O tipo de falta mais comum, entretanto, e não conseguir fazer com que a bola caia na quadra adversária: se, após um saque, levantamento, recepção, ataque ou bloqueio a bola cair dentro de sua própria quadra ou fora dos limites da área de jogo, é ponto para o adversário. Outros tipos de falta comuns são tocar na rede com qualquer parte do corpo, pisar dentro dos limites da quadra adversária quando a bola está em jogo, errar ou esquecer de fazer o rodízio, errar o posicionamento dos jogadores em quadra e apresentar conduta antidesportiva - esse último, além de render ponto para o adversário, ainda rende um cartão amarelo para o jogador faltoso. Jogadores que cometam faltas especialmente graves (como agredir fisicamente outro jogador) ou que sejam reincidentes na antidesportividade podem até ser expulsos (cartão vermelho), não podendo mais participar do restante do set, ou desclassificados (cartões amarelo e vermelho ao mesmo tempo), não podendo participar do restante da partida.

Uma partida de vôlei é oficiada por nada menos que oito árbitros, sendo os mais importantes o árbitro principal e o segundo árbitro. O árbitro principal oficia o jogo do alto de uma espécie de escada posicionada na lateral da quadra, o mais próximo possível da área de jogo, centralizada com a rede, enquanto o segundo árbitro fica de pé no chão, em posição diretamente oposta ao árbitro principal. Cabe ao árbitro principal autorizar os saques, apitar faltas, mostrar cartões amarelos e vermelhos e indicar a marcação de pontos; o segundo árbitro autoriza as substituições e os pedidos de tempo, e auxilia o principal na marcação de faltas e pontos. Outros quatro árbitros são conhecidos como "juízes de linha", e ficam nos quatro cantos da quadra, cada um com uma bandeira na mão, indicando se as bolas tocaram dentro ou fora da área de jogo. O árbitro principal tem autoridade para desconsiderar as decisões do segundo árbitro e dos juízes de linha se julgar que são conflitantes com as suas - desde que de forma justificada, evidentemente. Completam a arbitragem dois árbitros responsáveis por anotar o placar e tomar conta do rodízio e das substituições, um considerado o principal e o outro seu assistente.

O vôlei possui uma penca de campeonatos internacionais de renome, sendo o principal deles o torneio olímpico. O vôlei pleiteou um lugar nas Olimpíadas desde 1924, mas somente em sua reunião de 1957 o COI aprovou sua inclusão, o que fez com que o esporte estreasse, no masculino e no feminino, nos Jogos de 1964, em Tóquio. No masculino, Estados Unidos e União Soviética dividem o título de maiores medalhistas de ouro, com três cada; o Brasil tem duas, conquistadas em 1992 e 2004, enquanto Japão, Polônia, Holanda e Iugoslávia têm um ouro cada. No feminino, a União Soviética tem quatro ouros, seguida de Cuba, com três, China e Japão com dois cada, e do Brasil com um, conquistado em 2008. Para muitos atletas, o ouro olímpico é a maior glória do vôlei, superando, até mesmo, o título mundial.

O que faz com que o Campeonato Mundial de Vôlei, também disputado a cada quatro anos, atualmente intercalado com as Olimpíadas - ou seja, sempre no mesmo ano da Copa do Mundo de Futebol - seja considerado o segundo em importância. O Mundial é disputado no masculino desde 1949, e no feminino desde 1952. No masculino, a União Soviética é o maior vencedor, com seis títulos, seguido de Brasil e Itália com três, Tchecoslováquia com dois, e Estados Unidos, Polônia e Alemanha Oriental com um cada. No feminino, a Rússia tem sete títulos (cinco deles conquistados como União Soviética), Cuba e Japão têm três cada, a China tem dois, e a Itália, um. O Brasil ainda não foi Campeão Mundial no feminino, mas já conquistou três vezes o vice-campeonato, da primeira vez perdendo para Cuba e nas duas mais recentes para a Rússia.

Além de um Campeonato Mundial o vôlei também tem uma Copa do Mundo, também disputada a cada quatro anos. Inicialmente disputada sempre no ano seguinte a uma Olimpíada, a Copa do Mundo de Vôlei foi criada com o propósito de que, a cada quatro anos, apenas um não tivesse uma competição internacional do esporte. Após criar a Liga Mundial em 1990, entretanto, a FIVB temeu que o interesse pela Copa do Mundo diminuísse, e decidiu movê-la para o ano imediatamente anterior ao da Olimpíada, transformando-a em uma espécie de torneio pré-olímpico. Deu certo, e hoje a Copa do Mundo é uma das competições mais rentáveis da FIVB. Disputada desde 1965 no masculino e 1973 no feminino, desde 1977 a Copa do Mundo de Vôlei é disputada sempre no Japão, sem escolha de um novo país-sede para cada edição do evento; o motivo oficial é que o torneio seria uma homenagem à participação do Japão no desenvolvimento e divulgação do vôlei, mas muitos alegam que, na verdade, a disposição dos japoneses em torrar seu dinheiro durante a competição é que seria o principal motivo. No masculino, o principal vencedor da Copa do Mundo é a Rússia, com cinco títulos (quatro deles conquistados como União Soviética), seguida do Brasil com dois (os dois mais recentes), e de Estados Unidos, Itália, Cuba e Alemanha Oriental com um título cada. No feminino, Cuba tem quatro títulos, a China três, e Itália, Japão e União Soviética têm um título cada.

Em 1993, a FIVB decidiu que não queria mais nenhum ano sem uma competição internacional quadrienal de vôlei, e inventou a Copa dos Campeões, disputada sempre no ano imediatamente posterior ao da Olimpíada, e, assim como a Copa do Mundo, sempre no Japão. Participam da Copa dos Campeões os quatro campeões continentais (o campeão asiático, o campeão sul-americano, o campeão europeu e o campeão da América do Norte, Central e Caribe), mais o Japão e um sexto time convidado pela FIVB (nas duas últimas edições do campeonato masculino foi o Egito, o campeão africano, e já há uma pressão para que essa vaga passe para o campeão africano de vez). No masculino, o maior vencedor é o Brasil, com três títulos e dois vices; Itália e Cuba têm um título cada. No feminino, cada edição foi vencida por um país diferente: Cuba, Rússia, China, Brasil e Itália.

Finalmente, temos a Liga Mundial, disputada anualmente desde 1990. Diferentemente das demais competições internacionais da FIVB, a Liga Mundial é disputada em duas fases, a primeira com jogos de ida e volta disputados nos países participantes, com os melhores participando de uma segunda fase disputada em um país-sede escolhido com um ano de antecedência. Embora já tenha participação garantida na segunda fase, esse país-sede participa da primeira normalmente. Segundo muitos devido a esse formato, a Liga Mundial é hoje a competição mais popular da FIVB, e conta em sua primeira fase com 16 participantes, dos quais oito se classificam para a segunda fase. Originalmente, a Liga Mundial não tinha eliminatórias, com todos os participantes sendo convidados pela FIVB; desde 2010, entretanto, por causa da popularização do evento, foi criado um torneio classificatório, disputado por seis times - os dois últimos colocados da Liga Mundial do ano anterior e quatro "desafiantes", os melhores colocados no ranking da FIVB em quatro zonas regionais (África, Ásia e Oceania, Américas e Europa). Na prática, isso significa que os 14 primeiros colocados do torneio têm vaga garantida no ano seguinte. O maior campeão da Liga Mundial é o Brasil, com nove títulos, seguido da Itália, com oito, e de Rússia, Cuba, Holanda e Estados Unidos, com um título cada.

A Liga Mundial é disputada apenas no masculino; sua versão feminina se chama Grand Prix, e também é disputada anualmente, desde 1993. O Grand Prix segue uma fórmula bizarra, com 12 participantes indicados pelas Confederações Continentais, através de convite ou torneio classificatório, que se enfrentam em uma primeira fase onde todos enfrentam todos em diversas cidades-sede diferentes, com os seis primeiros se classificando para uma fase final disputada sempre em um país do sudeste asiático (exceto em 2003, 2004 e 2006, quando foi disputada na Itália por causa da gripe aviária). O maior campeão do Grand Prix também é o Brasil, com oito títulos, seguido de Rússia e Estados Unidos com três títulos cada, Cuba com dois, e China e Holanda com um título cada.

Além do vôlei de quadra, desde 1987 a FIVB regula também o vôlei de praia. Criado na Califórnia na década de 1920 como forma de recreação, o vôlei de praia virou esporte no ano de 1930, quando o jogador Pablo Johnson, do Clube Atlético de Santa Mônica, só tendo mais três amigos com quem jogar, decidiu inventar um jogo em duplas. Em pouco tempo a nova modalidade do vôlei chegava à Europa, e logo suas regras seriam codificadas. A Segunda Guerra Mundial, entretanto, atrasaria a disputa de seu primeiro torneio oficial, realizado em 1948 em Los Angeles - e tendo dentre os prêmios, curiosamente, uma caixa de Pepsi.

As regras do vôlei de praia são as mesmas do vôlei de quadra, com algumas exceções. Para começar, são apenas dois jogadores de cada lado, e não seis. A mesma dupla deve jogar junta todos os jogos do torneio, sem direito a substituições a nenhum momento, e, embora possa ter um técnico, este não pode orientar os jogadores no decorrer da partida. A quadra deve ser feita de areia, sem pedras, conchas ou quaisquer detritos, mas não precisa ser "natural": embora o nome do esporte seja vôlei "de praia", muitas quadras são construídas em locais que não ficam nem perto do mar, como Brasília ou a Suíça. A área de jogo é um pouco menor que a de vôlei de quadra, com 16 metros de comprimento por 8 de largura, delimitada por fitas de 5 cm de largura, que ficam sobre a areia. A zona livre ainda se estende a 3 metros além da área de jogo e a rede é do mesmo tamanho, mas a bola é um pouco maior, com entre 66 e 68 cm de circunferência.

A área de jogo do vôlei de praia não possui qualquer marcação; a linha central é imaginária, exatamente sob a rede, e a linha dos 3 metros não existe porque não há necessidade: não há posições fixas, com qualquer um dos dois atletas podendo atacar de qualquer local da quadra ou bloquear - embora não seja permitido que os dois bloqueiem juntos. Falando no bloqueio, no vôlei de praia ele conta como toque na bola, ou seja, após um bloqueio, a dupla só tem mais dois toques antes de ser obrigada a passar a bola para o outro lado. Também não há rodízio, mas os atletas devem se alternar no saque cada vez que o recuperam - quando uma dupla pontua após seu próprio saque, o mesmo atleta continua sacando.

Uma partida de vôlei de praia é disputada em melhor de três sets, sendo vencedora a dupla que primeiro ganhar dois deles. Os dois primeiros sets são de 21 pontos, com um mínimo de dois pontos de vantagem - empatando em 20 a 20 vai a 22 e assim sucessivamente - enquanto o tie break é de 15 pontos, também com a vantagem mínima de dois. As duplas mudam de lado no início de cada set e também toda vez que sua pontuação somada atinge um valor múltiplo de 7 (nos dois primeiros sets) ou de 5 (no tie break); isso ocorre porque no vôlei de praia, tradicionalmente disputado ao ar livre, as condições climáticas, especialmente o vento, podem favorecer ou prejudicar uma das duplas. Cada set tem apenas uma parada técnica, quando a pontuação somada de ambas as duplas alcança 21 pontos.

O campeonato mais importante do vôlei de praia é o Circuito Mundial, disputado desde 1987. O Circuito Mundial é uma série de torneios disputados em diferentes países, chamados etapas, que valem pontos às duplas participantes de acordo com sua classificação final em cada uma delas; ao final da última etapa, a dupla com mais pontos é declarada campeã do Circuito. O Circuito Mundial feminino atualmente conta com 15 etapas, e o masculino com 14; seis dessas etapas (China, Noruega, Suíça, Rússia, Polônia e Áustria) são conhecidas com Grands Slam, e valem mais pontos que as demais. O Brasil sedia uma das etapas do circuito mundial, atualmente a primeira, em Brasília.

O vôlei de praia também tem um Campeonato Mundial, disputado a cada dois anos desde 1997. Além de coroar a dupla campeã mundial masculina e feminina, o Campeonato Mundial também faz parte do Circuito Mundial nos anos em que é realizado, substituindo uma das etapas regulares, e valendo mais pontos até do que os Grands Slam. Finalmente, o vôlei de praia é esporte olímpico desde 1996, quando foi adicionado ao programa nas modalidades masculina e feminina. O país mais bem sucedido do vôlei de praia é o Brasil, com 153 medalhas de ouro no masculino e 114 no feminino em etapas do Circuito Mundial, quatro Campeonatos Mundiais masculinos e três femininos, e dois ouros olímpicos, um masculino e um feminino; seguido dos Estados Unidos, que tem 46 ouros masculinos e 86 femininos nas etapas do Circuito, um Mundial masculino e quatro femininos, e três ouros olímpicos masculinos e dois femininos. Todos os demais países estão muito longe desses números, embora a China seja uma força ascendente no feminino.

Antes de encerrar esse post, eu gostaria de dedicar algumas linhas a um outro esporte, parecido com o vôlei, chamado câmbio. Inventado também em 1895 com o nome de newcombball pela professora de educação física Clara Gregory Baer, que dava aulas no colégio Sophie Newcomb (daí o nome), em Nova Orleans, Louisiana, Estados Unidos, o câmbio é considerado historicamente significante por ter sido o primeiro esporte inventado por uma mulher e o segundo esporte coletivo a ser praticado por mulheres nos Estados Unidos, depois do basquete. Assim como o vôlei, o câmbio é disputado por dois times separados por uma rede, e o objetivo é fazer com que a bola toque o chão da quadra adversária ou com que o oponente cometa uma falta, somando pontos, mas existem três diferenças fundamentais entre os dois esportes: os times de câmbio podem ter de 9 a 12 jogadores; após a recepção do saque é permitido segurar a bola com as duas mãos antes de passá-la para um companheiro ou para o outro lado da rede; e não há o limite de três toques antes de passar a bola para o outro lado.

O câmbio foi extremamente popular nos Estados Unidos até a década de 1920, chegando a rivalizar com o vôlei em algumas cidades. Curiosamente, Baer e Morgan não se conheciam, e não há evidências de que o esporte criado por um tenha influenciado a criação do outro. Conforme a ACM espalhava o vôlei, o câmbio ia perdendo prestígio, até chegar ao status que tem hoje: assim como o queimado, ele não é considerado esporte, mas recreação infantil, ainda disputado em aulas de educação física, mas não mais em campeonatos.

Embora seja um esporte praticamente desconhecido, eu conheço o câmbio desde criança, graças a uma experiência pessoal: quando eu estava no colégio, lá no Ensino Fundamental, as aulas de educação física eram divididas em quatro esportes, um por bimestre. Nós meninos jogávamos vôlei, basquete, handebol e futebol, enquanto as meninas jogavam vôlei, basquete, handebol e câmbio. Graças a isso, cheguei a assistir várias partidas, e até joguei algumas na hora do recreio. Confesso que não faço a menor ideia do porquê de a professora das meninas ter decidido que elas deveriam jogar câmbio, nem se a prática continua no colégio até hoje. Entretanto, desconfio que as meninas já joguem futebol também.

Um comentário:

  1. Poderia falar e demostrar as posições 6x0, 3x3, 4x2 e a 5x1 com recepção, contra ataque , defesa e ataque.

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