Como eu já disse aqui, cada vez que decidia lançar uma nova série, a Capcom inventava uma nova moda, que, como vocês podem perceber pelo resumo acima, deixava Megaman cada vez mais diferente daquilo que era originalmente. Em Megaman Star Force, porém, eles exageraram, a ponto de que praticamente a única coisa que essa série tem de Megaman é o nome. O resultado é que eu, como bom fanático por Megaman, doutrinado ainda na Série Clássica, não gosto de Megaman Star Force. Ainda assim, como eu já falei das outras seis séries, hoje resolvi fazer um esforcinho e falar sobre ela também. Só para fechar a tampa.
Como já foi dito, Megaman Star Force (que, em japonês, se chama Ryuusei no Rockman, "Megaman da Estrela Cadente") é ambientada no futuro da série iniciada com Megaman Battle Network. Para ser mais preciso, 200 anos no futuro. Isso significa que nela, mais uma vez, não temos robôs, mas programas de computador que ajudam os humanos nas tarefas do dia a dia. Em 200 anos, porém, a tecnologia avançou um bocado, e muita coisa mudou: ao invés de uma rede de computadores, à qual os humanos tinham de se conectar através de PETs e usar seus Navis para solucionar problemas, temos uma grande rede eletromagnética, conhecida como EM Wave World, que envolve todo o planeta, criada por três satélites em órbita, conhecidos como Pegasus, Leo e Dragon. A EM Wave World possibilita que equipamentos eletrônicos se conectem uns aos outros sem a necessidade de uma rede física, e permite que alguns humanos, através de equipamentos especiais como o Visualizer, que permite enxergar as conexões da rede e seus programas, também interajam com ela. O resultado é que, apesar de ainda existirem Navis nesse universo, os humanos dependem muito menos deles, ao ponto de ninguém mais ter um companheiro Navi como na época de Megaman Battle Network.
Como a engenhosidade dos humanos para o mal não possui limites, uma coisa permanece inalterada: a EM Wave World é assolada por vírus, que prejudicam seu bom funcionamento e obrigam especialistas a acessá-la regularmente para se livrar deles. Esses vírus, contudo, não são o maior problema envolvendo a rede: no universo de Megaman Star Force existe um planeta alienígena, conhecido simplesmente como FM, cujos habitantes (os FMianos, sim, "efe-eme-ianos") não são feitos de matéria, mas de energia. Essa característica faz com que, em nossa EM Wave World, eles possam se comportar exatamente como programas de computador. Percebendo esse trunfo, e vendo que ele abre incontáveis possibilidades, vários FMianos vêm à Terra, e, ao chegar aqui, descobrem que ainda têm uma outra habilidade ainda mais perigosa: eles podem se mesclar a humanos, dominando seus corpos e os usando para realizar suas vontades. Percebendo a oportunidade, o Rei dos FMianos decide dominar a Terra, escravizando todos os humanos.
Alheio a essa confusão toda está o protagonista do jogo, um menininho chamado Geo Stellar (Subaru Hoshikawa no Japão), que se encontra em profunda depressão depois que seu pai, o famoso cientista Kelvin Stellar, desaparece após um acidente com a estação espacial na qual trabalhava. Um dia, um amigo de seu pai, Aaron Boreal, o visita e o presenteia com um Visualizer. Ao usá-lo, Geo encontra um FMiano, chamado Omega-Xis (sim, em inglês também; em japonês ele se chama Warrock, uma mescla de warlock, "feiticeiro" com Rockman, o nome de Megaman no Japão). Para sua sorte, Omega-Xis não é do time que quer dominar o mundo, mas um renegado que roubou alguma coisa chamada Andromeda Key, que ele não sabe para que serve, mas que deve ser de grande valor, pois o Rei ordenou que fosse recuperada a qualquer custo. Para ter uma chance contra os FMianos, Omega-Xis decide se mesclar a Geo, transformando-se em... Megaman. Pois é.
Como Omega-Xis é bonzinho, Geo permanece no controle enquanto ambos estão transformados em Megaman, diferentemente do que acontece com os demais FMianos, que tomam o controle do corpo dos humanos. Como Megaman, Geo pode viajar através da EM Wave World como se fosse um programa, combatendo vírus e outros FMianos - que assumem nomes relacionados a constelações, como Cancer Bubble e Gemini Spark - e ajudando Omega-Xis a frustrar os planos do Rei, salvando a humanidade. Paralelemente a isso, ele também investiga o acidente que causou o desaparecimento de seu pai, vence a depressão e faz novos amigos.
O sistema de jogo de Megaman Star Force é bastante parecido com o de Megaman Battle Network: no "mundo real", você controla Geo, que interage com outros personagens e visita vários lugares; ao se transformar em Megaman, você viaja através da EM Wave World, cumprindo missões e derrotando vírus e FMianos. O modo de batalha é quase idêntico ao de Megaman Battle Network, com três diferenças: a maior delas é que as batalhas são vistas por de trás de Megaman, que só pode se mover para os lados - diferentemente da visão lateral das batalhas de Battle Network. Em segundo lugar, o canhão de Megaman carrega sozinho, sem que você precise ficar segurando o botão, disparando quando você o aperta. Finalmente, ao invés de Battle Chips, o jogo conta com Battle Cards, que, na verdade, funcionam exatamente da mesma forma: você os recolhe durante o jogo e os armazena em pastas, escolhendo qual pasta irá usar em cada batalha, sendo que existem Battle Cards de três tipos - Normal, Mega e Giga - e cada um deles tem uma quantidade máxima que você pode colocar em cada pasta. Na hora da batalha, os Cards aparecem seis a seis, aleatoriamente, e você pode escolher quais irá usar a cada turno, podendo, em algumas situações, combinar dois ou mais, ou escolher um Card preferido, que aparece com mais frequência. Além dos Cards, ao longo do jogo você pode obter ou comprar vários acessórios que modificam as habilidades de Megaman, inclusive dando a ele ataques elementais de fogo, água, eletricidade e madeira, que causam dano dobrado a inimigos que tenham vulnerabilidade a um desses tipos.
Seguindo o que já vinha acontecendo com os últimos títulos de Battle Network, Megaman Star Force foi lançado em três versões, Pegasus, Leo e Dragon. A única diferença entre as três - tirando alguns Battle Cards que são exclusivos de uma ou de outra versão - é que, em cada versão, através da EM Wave World, Megaman visita um dos três satélites - não por acaso, o que dá nome à versão - e lá ganha uma transformação especial - Ice Pegasus, Fire Leo ou Green Dragon - que lhe confere novas habilidades enquanto ativada, além de um ataque superpoderoso chamado Star Force Big Bang.
Todas as três versões fazem uso da touchscreen e da rede wi-fi do DS. A touchscreen, evidentemente, é usada durante o jogo, como por exemplo em puzzles que requerem que você toque ou arraste objetos pela tela. Já a conexão wi-fi é usada para que você e seus amigos se conectem à Brother Band ("banda dos irmãos", um trocadilho com broadband, "banda larga"). No jogo, a Brother Band é uma espécie de rede social, à qual Geo e seus amigos se conectam para trocar Cards e conversar a distância; no mundo real, a Brother Band permite que o jogador conecte seu DS aos dos amigos, também para trocar Cards, itens que confiram novas habilidades a Megaman, e até mesmo as transformações especiais obtidas nos satélites.
Megaman Star Force possui, ainda, um easter egg curioso: se você conectar um cartucho de qualquer jogo da série Battle Network à entrada para Game Boy Advance do DS, Megaman pode se encontrar, enquanto navega na EM Wave World, com Megaman.EXE, que lhe oferece uam missão que, se cumprida, terá como prêmio um item especial. Esse easter egg é ainda mais curioso se considerarmos que, ao longo do jogo, Megaman Star Force não faz qualquer referência aos eventos de Battle Network.
Lançado em 2006, Megaman Star Force ganharia sua primeira continuação já no ano seguinte. Chamada simplesmente de Megaman Star Force 2, ela seria lançada não em três - o que, na avaliação da Capcom, fragmentou as vendas, impedindo que o jogo tivesse uma boa vendagem - mas em duas versões, chamadas de Zerker x Saurian e Zerker x Ninja (curiosamente, no Japão os nomes eram Berserk x Dinosaur e Berserk x Shinobi).
Ambientado cerca de dois meses após os eventos do primeiro jogo, Megaman Star Force 2 traz um Geo mais seguro de si e com mais amigos, além de mais acostumado com sua vida de Megaman. Um dia, ele e alguns amigos visitam um instituto que desenvolveu um novo equipamento, o Star Carrier, capaz de criar objetos sólidos a partir de ondas eletromagnéticas. Durante a demonstração do equipamento, o instituto é atacado por Dark Phantom, a união de um misterioso humano chamado Hyde com uma anomalia alienígena não-identificada. Dark Phantom trabalha para a Dra. Vega, cientista louca que planeja usar as ondas eletromagnéticas para restaurar o continente perdido de Mu. Como isso representa um risco à humanidade, caberá a Megaman detê-la antes que seja tarde demais.
A maior novidade de Megaman Star Force 2 é o modo Tribe On: usando a Brother Band, Megaman pode ganhar acesso a novas transformações, que lhe conferem novos poderes e habilidades. Existem dez transformações (chamadas Tribes) possíveis, mas, a cada jogo, Megaman só pode se utilizar de quatro delas. Isso porque, se estiver jogando Zerker x Saurian, em sua primeira transformação Megaman deverá escolher entre as Tribes Fire Saurian e Thunder Zerker; e, se estiver jogando Zerker x Ninja, terá de escolher entre Wood Ninja e Thunder Zerker; ou seja, de três opções possíveis, deverá escolher apenas uma. Mais tarde, Megaman ganha a habilidade de efetuar a Double Tribe, mas, das seis opções possíveis, só conseguirá se transformar em duas - a combinação da que escolheu com as outras duas, ou seja, se escolheu Wood Ninja, ganhará acesso à Ninja Zerker e à Ninja Saurian; as demais são Zerker Ninja, Zerker Saurian, Saurian Ninja e Saurian Zerker. Finalmente, mais para o final do jogo, Megaman ganhará acesso à transformação Tribe King, que reúne características de todas as formas, mas só dura três turnos.
Existe, porém, uma forma curiosa de se conseguir acesso às demais transformações: no Japão, a Capacom lançou as Wave Command Cards, uma coleção de 279 cards, vendidos em booster packs como se fossem um card game. Esses cards tinham buracos numerados, e, em determinados momentos do jogo, podiam ser sobrepostos à touchscreen do DS, para que o jogador tocasse as regiões expostas pelos buracos com a canetinha. Ao fazê-lo, o jogador conseguia novos chips, itens, e até mesmo as transformações que não conseguiria pelos métodos normais. Essa coleção foi originalmente lançada exclusivamente no Japão, mas como a capacidade de liberar os itens, chips e transformações não foi removida da versão norte-americana, em dado momento a Capcom decidiu licenciar a editora Prima Publishing para lançar os cards nos Estados Unidos. A Prima, ao invés de lançar os cards, decidiu lançar um livro com figuras de todos eles e instruções sobre em qual tela quais lugares deveriam ser clicados, o que foi uma boa ideia, já que os jogadores não precisariam ficar colecionando os cards para ganhar os itens. A má notícia foi que, por causa de uma tradução porca, um monte de instruções saíram erradas, o que impossibilitava o jogador de conseguir os itens. Pior que isso, os três cards das três transformações básicas saíram sem a numeração dos buracos, o que também não ajudava muito. Felizmente, se um jogador souber onde clicar, não precisará dos cards ou do livro da Prima, embora vá ter muito mais trabalho.
Um jogador pode abrir mão das Tribes para, mas tarde no jogo, se transformar em Megaman Rogue, que tem vantagens e desvantagens sobre as Tribes - por exemplo, Megaman perde as habilidades da Tribe quando é atingido por um ataque de um elemento contra o qual a Tribe tem vulnerabilidade, mas no modo Rogue isso não acontece. Rogue é o último dos sobreviventes de Mu, e também um dos oponentes mais difíceis do jogo, após se unir a um humano chamado Solo. As Tribes, teoricamente, também representam tribos de Mu, embora eu não consiga imaginar uma tribo de ninjas. Finalmente, Megaman Star Force 2 traz alguns vírus gigantes, que, quando derrotados, dão a Megaman Battle Cards especiais que, ao serem usados em conjunto com outro Battle Card de mesmo nome, aumentam o poder do ataque.
O terceiro e último (pelo menos até agora) jogo da série, Megaman Star Force 3, seria lançado no ano seguinte, 2008, mais uma vez para Nintendo DS, e mais uma vez em duas versões, Black Ace e Red Joker. Desta vez, o problema é um ruído (Noise), que atrapalha a EM Wave World e, adivinhem, ameaça a Terra. O Noise é manipulado por um vilão chamado Dealer, fanático por cartas de baralho, que o usa para corromper programas chamados Wizards, equivalentes aos Navis de Battle Network. Enquanto posa como empresário-modelo e benemérito, Dealer põe seu sinistro plano em prática, inclusive usando um meteoro que se dirige para a Terra para fazer o planeta de refém - já que, com tanto Noise na rede, as defesas de nosso planeta não conseguirão desviá-lo. Megaman, como de costume, se envolve acidentamente nos ataques de Dealer, e decide tentar impedi-lo e salvar o mundo mais uma vez.
Com o advento dos Wizards, Megaman Star Force 3 parece ter tentado se aproximar do modelo de Battle Network, talvez buscando trazer para a nova série fãs da antiga. No jogo, os humanos podem se conectar à EM Wave World através de um dispositivo, chamado Hunter-VG, que, em essência, é igual a um PET, servindo para gerenciar Battle Cards, receber e-mails, se conectar a outros dispositivos eletrônicos e se comunicar com os Wizards. A novidade fica por conta do fato de que a touchscreen do DS atua como a tela do Hunter-VG, o que requer que o jogador interaja diretamente com ele em determinados momentos do jogo, como se realmente estivesse operando um Hunter-VG e interagindo com um Wizard. Em determinados momentos do jogo, inclusive, o Hunter-VG de Geo (e, por consequência, do jogador) recebe a visita de Wizards com habilidades específicas, que influenciam a história conforme são manuseados.
A maior novidade das batalhas fica por conta dos Custom Cards, Battle Cards que aparecem "por trás" dos regulares a cada turno, não podendo ser selecionados para uso normalmente, mas podendo ser selecionados, sob determinadas circunstâncias, para usos alternativos, na maioria das vezes relacionadas ao elemento predominante do Card. O Noise também tem um papel fundamental no jogo, já que, como ele está permeando a EM Wave World, quanto mais Megaman interage com ela, mais Noise acumula. Na prática, Megaman tem um "nível de Noise" que começa em 0% e aumenta conforme seu desempenho nas batalhas, conferindo-o novas habilidades de acordo com o percentual alcançado.
A partir de 50% de Noise, Megaman começa a ter acesso às Noise Forms, transformações baseadas nos FMianos do primeiro Megaman Star Force, que, como de costume, lhe conferem poderes e fraquezas elementais. A partir de 100% de Noise, Megaman passa a apresentar habilidades estranhas durante as batalhas, como o acesso a Battle Cards poderosos que não estavam em sua pasta. E, se chegar a 200% de Noise, além de garantir acesso ao servidor capaz de desviar o meteoro que está em rota de colisão com a Terra, Megaman ainda ganha acesso a uma transformação superpoderosa - a Black Ace ou a Red Joker, dependendo da versão - que dura apenas três turnos, mas lhe confere múltiplas habilidades durante esse tempo. Sempre após utilizar uma transformação, o Noise de Megaman volta a 0%, e, embora ele não perca as transformações já adquiridas, só poderá utilizá-las novamente quando alcançar mais uma vez os níveis adequados. Em relação às Noise Forms, algumas são mais fáceis de se conseguir em uma das versões do jogo do que na outra, mas, "trocando" com outros jogadores através da Brother Band, o jogador pode ter acesso a todas elas mais facilmente, e até mesmo combinar características de duas transformações diferentes em uma nova. Mais uma vez, o jogador pode abrir mão de conseguir as transformações para obter a Rogue Noise, que tem habilidades e fraquezas próprias.
Assim como Megaman Star Force 2, Megaman Star Force 3 teve lançada, no Japão, uma coleção de cards que podiam ser colocados sobre a touchscreen do DS para que pontos específicos da tela fossem tocados em uma ordem pré-determinada, liberando novos Battle Cards, itens e as transformações. Apenas os cards que liberam Battle Cards foram lançados nos Estados Unidos, porém, e não para venda, mas através do site da Capcom, para que o jogador os imprimisse, ficando os cards de itens e transformações restritos ao mercado japonês. Mais uma vez, entretanto, embora dê trabalho, um jogador que saiba onde clicar pode obter os itens e transformações sem os cards, já que a função que os habilita não foi removida da versão norte-americana do jogo.
No geral, a série Megaman Star Force não foi nenhum fracasso, tendo até uma boa vendagem. Mas sua falha em atrair os jogadores mais antigos, se concentrando apenas nos novos, levou a Capcom à decisão de interrompê-la após o terceiro jogo. Para mim, não faz falta, apesar de ser sempre ruim ver um Megaman sendo cancelado. Mesmo que não seja um Megaman de verdade, mas um menino unido a uma entidade alienígena.
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