quarta-feira, 18 de março de 2009

Escrito por em 18.3.09 com 0 comentários

Final Fantasy (I)

Atualmente existe uma espécie de debate entre os fãs de RPG, sobre qual seria o estilo de ilustração mais, digamos, adequado, ao jogo: o estilo "oriental", semelhante a anime e mangá, usado, por exemplo, em Tormenta, ou o estilo "ocidental", mais "realista", das ilustrações de Dungeons dn Dragons. Para mim, pessoalmente, tanto faz. Talvez porque eu seja fã de anime, jamais me incomodei com ilustrações no estilo oriental em qualquer jogo de RPG. Mas acho que, mesmo que não fosse, também não me importaria tanto; afinal, se há um estilo de ilustração que eu detesto para livros de RPG é o caricatural usado em Paranoia, e isso nunca me impediu de gostar do jogo.

Mais antiga que esta discussão, porém, é uma que envolve RPGs "de livro" e RPGs de videogame. Basicamente, alguns fãs de RPG "de livro" não se conformam com o fato de jogos como Final Fantasy, Phantasy Star, Ultima e outros serem chamados de RPGs, já que neles o jogador não tem liberdade para "fazer o que quiser", ficando preso a situações predeterminadas pela programação do jogo. De minha parte, acho que é uma discussão meio boba; afinal, em um videogame de futebol você não chuta uma bola, e nem por isso ele deixa de ser enquadrado na categoria "esporte".

Mas, deixando estas discussões de lado, o que importa é que, semana passada, enquanto escrevia o post de Tormenta, cheguei a pensar em incluir a discussão oriental x ocidental nele, mas depois mudei de idéia por achar que não tinha muito a ver. Através desta discussão, porém, me lembrei da outra, dos livros x games, e me animei a fazer um post sobre o game de RPG mais famoso do mundo: Final Fantasy. E este post virá ao ar hoje. E semana que vem também, já que ele ficou meio grande e eu o dividi em duas partes.

Final FantasyFalando nisso, assim como outros games, como, por exemplo, Megaman, Final Fantasy também possui diversas séries e spin-offs. Este post só tratará da série principal, que conta atualmente com 12 títulos e o décimo-terceiro a caminho. As outras, como Final Fantasy Legend, Final Fantasy Crystal Chronicles, Final Fantasy Mystic Quest, Final Fantasy Adventure, Final Fantasy Tactics, Kingdom Hearts, e as dezenas de jogos que envolvem chocobos, ficarão de fora por dois motivos: o primeiro é que eu não acho muita graça neles (bem, talvez com exceção de Final Fantasy Legend 3, que eu realmente gostava bastante); o segundo é porque senão eu teria de fazer uma série de uns dez posts, para conseguir cobrir todos os jogos. Talvez seja por isso que eu nunca resolvi falar do Mario.

Isto posto, comecemos: o primeiro Final Fantasy foi inventado por Hironobu Sakaguchi, no Japão, em 1987. Na época, a Square, softhouse onde Sakaguchi trabalhava, estava à beira da falência. Antes da quebra total, Sakaguchi quis lançar um jogo de aventura com clima de fantasia, inspirado pelo título Dragon Quest (conhecido nos Estados Unidos como Dragon Warrior), da então concorrente Enix. Imaginando que seria o último jogo que criaria para a empresa, Sakaguchi decidiu chamá-lo, jocosamente, de Final Fantasy.

No princípio, ninguém levava muita fé no projeto. A equipe de Sakaguchi tinha apenas sete pessoas trabalhando no jogo, e apenas uma das duas maiores revistas especializadas em games do Japão aceitou testar um protótipo para avaliá-lo. Inicialmente a Square iria lançar apenas 200.000 cópias no mercado, mas Sakaguchi conseguiu convencê-los a lançar o dobro disso, e a investir numa sequência caso o jogo fosse bem sucedido. A amigos, porém, ele confidenciou que, se o jogo não se tornasse um sucesso, abandonaria o mercado de games e voltaria para a faculdade.

Para a sorte de Sakaguchi, Final Fantasy foi um enorme sucesso. Lançado ainda em 1987 para o Famicom, a versão japonesa do NES, o videogame de 8 bits da Nintendo, em um cartucho de exagerados - para a época - 2 Megabits, o jogo teve todas as suas 400.000 cópias vendidas em poucos meses, além de vários elogios dos jogadores e da crítica especializada. Final Fantasy praticamente salvou a Square da falência, ajudou a popularizar o gênero de RPG para games, e introduziu vários conceitos que mais tarde seriam copiados por vários outros jogos deste tipo.

Final Fantasy é ambientado em um mundo de fantasia, com elfos, dragões, anões, sereias, criaturas mitológicas, e, por alguma razão, robôs, e que depende do equilíbrio entre quatro esferas, que representam os elementos da água, fogo, terra e ar, para existir em harmonia. Um dia, estas quatro esferas escurecem, trazendo desequilíbrio meteorológico e caos à sua população. Diz a lenda, porém, que um dia quatro jovens capazes de restaurar as esferas e trazer novamente a paz surgirão.

Estes quatro jovens, evidentemente, são controlados pelo jogador. Nenhum deles possui nome, mas você pode escolhê-los dentre seis classes diferentes, cada uma com seus próprios poderes e habilidades: o Guerreiro, o Faixa-Preta, o Ladrão, o Mago Branco, o Mago Negro e o Mago Vermelho. Durante o jogo você poderá equipá-los com diversas armas, armaduras, itens mágicos e magias, embora alguns destes equipamentos não estejam dispóníveis para todas as classes - Magos Brancos, por exemplo, só podem aprender magia branca, enquanto Magos Negros só podem aprender magia negra; Magos Vermelhos podem aprender dos dois tipos, mas ficam restritos às magias menos poderosas. Cada personagem também tem um nível de experiência de 1 a 50. Este nível aumenta conforme o personagem derrota inimigos e, quanto mais alto o nível, mais poderoso fica o personagem, com melhores valores de ataque e podendo suportar mais dano dos inimigos - uma das principais críticas do jogo, inclusive, era a de que se perdia muito tempo fazendo os personagens subirem de nível para poder derrotar certos oponentes poderosos. Em determinado momento do jogo, todos os personagens recebem um "upgrade", e passam a ter acesso a novos itens e magias que não podiam usar antes.

Final Fantasy IIDurante uma partida de Final Fantasy, o jogador transita entre quatro ambientes de jogo diferentes: o mais simples é o menu, onde ele pode equipar os personagens com itens, controlar seus dados, ver quanta experiência falta para subirem de nível, dentre outras coisas. Na maior parte do tempo, porém, o jogador guiará os personagens pelo mapa geral, que mostra todo o mundo, com os lugares de interesse que os personagens devem visitar; e pelos mapas específicos, como cavernas, florestas, castelos, masmorras, e as cidades, onde eles poderão descansar no famoso Inn para recuperar energia, comprar itens e pergaminhos de magias em lojas, e conversar com os habitantes. Enquanto os personagens andam pelo mapa geral e por alguns mapas específicos, poderão ser aleatoriamente atacados, quando será usado o quarto ambiente, as batalhas. As batalhas em Final Fantasy acontecem em turnos, com o jogador escolhendo o que cada personagem irá fazer, e o computador escolhendo o que os inimigos irão fazer. Uma batalha dura até que os inimigos ou os personagens sejam derrotados ou fujam; caso os quatro personagens sejam derrotados, é game over para o jogador. Algumas batalhas também podem acontecer sem ser aleatoriamente e sem que os personagens possam fugir, como quando eles enfrentam chefes, por exemplo. Alguns mapas específicos, especialmente masmorras, também podem conter baús com itens, sendo que alguns destes itens só podem ser obtidos desta forma, nunca através de lojas. Finalmente, como o jogo é imenso, consumindo várias horas até ser completado, certos locais permitem que o jogador salve o jogo, para continuar daquele ponto em outra ocasião.

Final Fantasy não inventou nenhum destes elementos, que já eram usados em jogos como Ultima e Dragon Quest; para muitos, porém, ele os aperfeiçou - foi o primeiro jogo, por exemplo, a mostrar os personagens durante as batalhas, que até então tinham uma visão em primeira pessoa, mostrando apenas os inimigos - estabelecendo o padrão para os jogos que viriam. A história do jogo também foi muito elogiada, sendo considerada mais profunda e com melhores elementos do que as de seus antecessores. Conforme prometido, diante de tanto sucesso, a Square decidiu investir em uma sequência, também criada por Sakaguchi, para ser lançada já no ano seguinte.

Lançado em 1988 também para o Famicom, Final Fantasy II não era uma continuação, mas um jgoo totalmente novo, que apenas tinha o mesmo estilo de seu antecessor. Mais uma vez, os personagens podiam se locomover pelo mapa geral ou por mapas específicos, lutar em batalhas, e o jogador poderia acessar seus dados através de um menu. Ouvindo às reclamações, porém, a Square eliminou o sistema de níveis baseados em pontos de experiência ganhos ao derrotar inimigos, substituindo-o por um sistema no qual as habilidades dos personagens melhoravam de acordo com a maneira como o jogador as utilizava - um personagem que usasse sempre a mesma arma em batalha, por exemplo, se tornaria cada vez melhor no uso desta arma, tendo seu dano causado com ela aumentado, bem como sua força e vigor. Outras novidades incluem "senhas" ditas por alguns dos personagens encontrados pelos personagens do jogador em mapas específicos, que podem ser repetidas para outros personagens para ganhar itens ou ter acesso a informações secretas; e um grupo formado por apenas três personagens fixos, com o quarto sendo trocado em vários momentos do jogo - e podendo acontecer do jogador ter de lutar em uma batalha com menos de quatro personagens, mesmo que todos ainda estejam vivos. Final Fantasy II também foi o primeiro jogo da série a introduzir os chocobos, uma espécie de avestruz amarelo, que pode ser montado para que o personagem se locomova com mais rapidez e sem ter de passar por batalhas aleatórias, e o primeiro a trazer um personagem chamado Cid, algo que se tornaria recorrente daí por diante.

Desta vez, a história envolve três jovens, cujos pais são mortos durante uma invasão, e decidem se unir a rebeldes que lutam contra o Imperador de Palamecia, que planeja usar um exército de monstros para dominar o mundo inteiro. Estes três jovens - o espadachim Firion, a arqueira Maria e o monge Gus - serão os personagens fixos controaldos pelo jogador. Ao longo do jogo, diversos outros se unem a eles, deixando o trio para serem substituídos por outro mais tarde: o príncipe Gordon, o soldado Josef, a pirata Leila, a maga branca Minwu, o dragoon - uma espécie de personagem característico da série, que usa uma armadura cujo capacete lebra a cabeça de um dragão e luta com uma lança - Richard, e o cavaleiro Leon, que se une ao grupo para não mais sair pouco antes do final do jogo.

Em 1989, o primeiro Final Fantasy seria relançado para o computador MSX2. Como o cartucho tinha 6 Megabits, foi possível fazer algumas melhorias gráficas e uma nova trilha sonora, mas por algum motivo o jogo tinha uma demora antes das batalhas, quando as estava carregando para a memória. No ano seguinte, 1990, Final Fantasy finalmente seria lançado para o NES nos Estados Unidos, traduzido e distribuído pela própria Nintendo. Enquanto isso, no Japão, o terceiro título da série já estava em desenvolvimento. Mais uma vez, ele não seria uma continuação, mas um jogo totalmente novo.

Final Fantasy IIILançado em 1990 para o Famicom, Final Fantasy III contava a história de quatro órfãos, nenhum deles com nome, que um dia encontraram um Cristal da Luz, que lhes deu parte de seus poderes e os instruiu a restaurar o equilíbrio do mundo. Mesmo sem saber ao certo o que isso significava, os quatro decidiram viajar pelo mundo para tentar fazer a vontade do Cristal, e acabaram descobrindo que, há mil anos, uma civilização tecnologicamente avançada tentou usar a energia dos quatro Cristais da Luz em proveito próprio, mas acabou causando um desequilíbrio, que só foi corrigido com a ajuda de quatro cavaleiros que usaram o poder dos Cristais da Escuridão, as contrapartes dos Cristais da Luz. Agora o mesmo desequilíbrio está se repetindo, mas causado pelos Cristais da Escuridão. Cabe aos personagens, portanto, encontrá-los, e usar o poder da Luz para corrigir o que está errado, antes que uma nuvem de escuridão engula o mundo.

Final Fantasy III foi o maior jogo lançado para o sistema até então, ocupando todos os 4 Megabits de seu cartucho, o que proporcionava dezenas de personagens, monstros e mapas diferentes, e muitas e muitas horas de jogo até se chegar ao final. De certa forma, ele era mais parecido com o primeiro que com o segundo Final Fantasy, já que os personagens não tinham nomes e o sistema de pontos de experiência foi reintroduzido. As classes de personagem também retornaram, mas diferentes: todos os quatro personagens começavam na mesma classe, o Onion Knight ("cavaleiro da cebola"), e, ao longo do jogo, usando pontos que ganhavam ao derrotar os inimigos, podiam trocar de classe, sendo que, assim como no primeiro jogo, cada classe tinha habilidades e poderes, bem como acesso a itens e magias, diferentes. Ao todo, estavam disponíveis 22 classes, divididas em classes físicas (Onion Knight, Guerreiro, Monge, Caçador, Cavaleiro, Ladrão, Dragoon, Viking, Faixa-Preta, Cavaleiro Mágico e Ninja), com maior ênfase no uso de ataques físicos, e classes mágicas (Mago Branco, Mago Negro, Mago Vermelho, Acadêmico, Geomante, Evocador, Bardo, Xamã, Feiticeiro, Conjurador e Sábio), com maior ênfase no uso de magias. Cada classe também tinha uma habilidade especial, que podia ser usada em batalha (como o salto do Dragoon) ou fora dela (como a habilidade do ladrão de abrir portas trancadas sem precisar da chave).

Apesar de todo o sucesso que fizeram no Japão, nem Final Fantasy II nem Final Fantasy III foram lançados para o NES nos Estados Unidos. A Square Soft, subsidiária norte-americana da Square, chegou a começar a traduzir Final Fantasy II, mas o projeto foi abandonado em 1991, após o lançamento do Super Nintendo, quando a Square Soft achou que seria melhor investir em uma tradução do primeiro jogo da série lançado para este sistema.

Este jogo era Final Fantasy IV, lançado em julho de 1991 no Japão e em novembro do mesmo ano nos Estados Unidos, com o nome de Final Fantasy II, talvez para que ninguém percebesse que dois jogos foram pulados. Com gráficos de 16 bits que usavam e abusavam dos novos efeitos do Super Nintendo, como o Mode7, uma história cativante, e trilha sonora premiada do compositor Nobuo Uematsu, Final Fantasy IV foi mais um grande sucesso, sendo até hoje considerado por muitos como um dos melhores games de todos os tempos.

Final Fantasy IVApesar de todas as melhorias gráficas e sonoras, Final Fantasy IV ainda tinha o mesmo estilo dos três jogos anteriores, mas com algumas inovações importantes, como o fato de que os magos agora aprendiam magias automaticamente ao alcançar certos níveis ou após certos eventos, não precisando mais comprá-las; e a possibilidade de até cinco personagens fazerem parte do grupo de cada vez. A inovação mais importante de Final Fantasy IV foi o sistema de batalhas, patenteado pela Square com o nome de Active Time Battle: ao invés do jogador dizer no início da batalha o que cada personagem iria fazer, e então eles tomarem suas ações na ordem da Velocidade de cada personagem, como ocorria nos três primeiros jogos, aqui cada personagem tinha uma barrinha que ia enchendo progressivamente, e, quando cheia, permitia que o jogador escolhesse o que aquele personagem iria fazer, com o personagem agindo imediatemente após a escolha. A velocidade na qual cada barrinha enchia dependia de fatores como a Velocidade do personagem, itens mágicos equipados, efeitos de magias, e outros. Especificamente em Final Fantasy IV, esta barra era "invisível", não sendo revelada ao jogador, mas nos jogos seguintes da série a barra aparecia na tela, o que permitiria um melhor planejamento de cada batalha.

Final Fantasy IV conta a história de Cecil Harvey, um cavaleiro negro do reino de Baron, que se rebela quando o Rei manda seu esquadrão atacar uma cidade inocente para roubar um cristal místico. Fugindo de sua punição, Cecil acaba aprendendo importantes coisas sobre seu passado, bem como o fato de que o vilão Golbez planeja reunir todos os cristais místicos para se tornar invencível e dominar o mundo. Em sua luta para limpar seu nome e derrotar Golbez, Cecil terá a ajuda de onze personagens, que em determinados momentos do jogo poderão ser controlados pelo jogador: o dragoon Kain Highwind, amigo de infância de Cecil; a conjuradora Rydia, que se une aos dois amigos após ter sua vida salva por Cecil; o sábio Tellah; o bardo Edward Chris von Muir; a maga branca Rosa Farrell, namorada de Cecil; o monge Yang Fang Leiden; os aprendizes de magia Palom e Porom; o engenheiro Cid Pollendina, especializado em airships, navios voadores que também são uma marca registrada da série, presentes como meio de transporte desde o primeiro título; o ninja Edge; e FuSoYa, guardião do povo dos Lunarians, que vive na Lua em um sono profundo, esperando por uma era na qual eles e os humanos poderão viver em harmonia.

Além do nome diferente, a versão norte-americana de Final Fantasy IV sofreu uma edição severa, diminuindo consideravelmente sua dificuldade, com a energia de certos inimigos e chefes reduzida, passagens secretas sendo identificadas, e até habilidades de alguns personagens sendo removidas. Grande parte do texto também foi censurada, principalmente o que falava sobre religião, e alguns gráficos, como dançarinas de biquíni e runas místicas, foram redesenhados. O curioso é que este FInal Fantasy II norte-americano foi lançado ainda em 1991 no Japão com o nome de Final Fantasy IV Easytype, com a dificuldade ainda mais reduzida e o último chefe redesenhado.

Mas, pelo menos, Final Fantasy IV, mesmo com todas essas alterações, foi lançado em inglês. O título seguinte da série, Final Fantasy V, mais uma vez seria lançado exclusivamente no Japão, para o Super Famicom, o equivalente de lá do Super Nintendo, em 1992. Uma tradução até foi iniciada, mas abandonada depois que a Square Soft achou que o jogo era muito complexo, e não atrairia jogadores novos ou casuais. Em 1995, a Square Soft retomou o projeto da tradução com o intuito de lançar o jogo com o nome de Final Fantasy Extreme, mas este projeto também foi abandonado.

Final Fantasy VA complexidade de Final Fantasy V reside em um novo e aperfeiçoado sistema de classes, semelhante ao usado em Final Fantasy III, mas com muito mais opções de customização de cada personagem - certas habilidades de classe, por exemplo, podem ser mantidas se o personagem mudar para outra classe específica. Curiosamente, é justamente este sistema que torna Final Fantasy V um dos jogos mais legais da série. Desta vez, cada um dos cinco personagens disponíveis para o jogador começa com a classe Freelancer, e, conforme vai adquirindo fragmentos dos Cristais Elementais do Ar, Fogo, Terra e Água, poderá mudar de classe, aumentando sua proficiência naquela classe através de pontos de habilidade, conquistados ao se derrotar inimigos, da mesma forma que os pontos de experiência. Ao todo, Final Fantasy V oferece 22 classes, contando com a Freelancer: seis ligadas ao Cristal do Ar (Cavaleiro, Monge, Ladrão, Mago Branco, Mago Negro e Mago Azul), seis ligadas ao Cristal da Água (Mago Vermelho, Mago do Tempo, Conjurador, Berserker, Cavaleiro Místico e Mímico), cinco ligadas ao Cristal do Fogo (Mestre das Feras, Geomante, Ninja, Ranger e Bardo) e quatro ligadas ao Cristal da Terra (Dragoon, Dançarino, Samurai e Químico). Cada personagem só pode usar uma classe de cada vez, mas pode trocar quantas vezes quiser.

O herói de Final Fantasy V é Butz Klauser (mais tarde renomeado para Bartz, já que Butz não é um nome muito simpático), que, um dia, ao invetsigar a queda de um meteoro com seu chocobo Boko, acaba se envolvendo em uma aventura que jamais poderia imaginar: impedir os servos do feiticeiro Exdeath, aprisionado em um selo místico por um grupo de aventureiros há mil anos, de usar o poder dos quatro Cristais Elementais para libertar seu mestre, o que colocaria o mundo em um grave perigo. Para cumprir sua missão, Bartz conta com quatro importantes aliados: Lenna Charlotte, princesa do reino de Tycoon; Faris Scherwiz, capitão pirata; Galuf Doe, um velho encontrado próximo ao meteoro com amnésia; e Krile Mayer Baldesion, neta de Galuf. Embora os personagens disponíveis sejam cinco, o jogador só pode controlar quatro deles de cada vez, diferentemente do que ocorria no jogo anterior.

Mesmo sem ter sido lançado nos Estados Unidos, Final Fantasy V foi um dos mais bem sucedidos da série, vendendo mais de 2 milhões de cópias. Com a série já bem estabelecida, era natural que um sexto título viesse. Após dois anos de desenvolvimento, foi lançado, em 1994, Final Fantasy VI, que, não sendo considerado tão complexo quanto seu antecessor, seria lançado no mesmo ano nos Estados Unidos, mas com o nome de Final Fantasy III, para manter a numeração de lá.

Final Fantasy VI foi o primeiro jogo da série a não ser dirigido por Sakaguchi; em seu lugar entraram Yoshinori Kitase, que havia sido roteirista de Final Fantasy V, e Hiroyuki Ito, que trabalhara em vários cargos nos jogos anteriores da série, criando, inclusive, o ATB. Seu enredo é considerado um dos mais profundos e cativantes da série, sua trilha sonora é admirada pelos fãs do estilo até hoje, e seus personagens tinham uma profundidade incomum para games da época. Além disso, Final Fantasy VI trouxe novidades para o esquema de jogo, como dois personagens secretos, a possibilidade de separar o grupo em vários grupos menores durante algumas missões, ataques que só se tornavam disponíveis quando os personagens estavam com poucos pontos de vida, e a introdução das Espers, criaturas mágicas que ensinam magias aos personagens que se associem a elas e ainda podem ser conjuradas para atacar os inimigos durante uma batalha. Final Fantasy VI tem ainda um clima vitoriano, com intrigas sociais e enormes máquinas movidas a vapor, ao invés do estilo medieval fantástico dos cinco jogos anteriores.

A protagonista do jogo é uma garota chamada Terra Branford, filha de uma humana com um Esper. O vilão é o Imperador Gestahl, que vem fazendo experiências misturando magia e tecnologia para criar um exército invencível, e planeja invadir o mundo das Espers para roubar seu poder, aproveitando que a barreira entre os mundos está enfraquecida. Para detê-lo, Terra se une a um grupo de rebeldes que luta para derrubar o Império. Além de Terra, o jogador terá acesso a outros treze personagens: o caçador de tesouros e simpatizante dos rebeldes Locke Cole; Celes Chere, uma ex-general do Império, que se uniu aos rebeldes após ser presa por discordar dos métodos utilizados na guerra; Edgar Roni Figaro, monarca do reino de Figaro, que teoricamente apoia o Império, mas às escondidas ajuda os rebeldes; Sabin Rene Figaro, irmão de Edgar e mestre das artes marciais; Cyan Garamonde, cavaleiro do reino de Doma, que perdeu a família em um ataque do Império; o aventureiro viciado em jogatina Setzer Gabbiani; o ninja mercenário Shadow; Relm Arrowny, garotinha pintora com dons mágicos; Strago Magus, mago azul e avô de Relm; Gau, um menino criado na selva; e Mog, da raça dos Moogles; e dois personagens secretos, o yeti Umaro e o mímico Gogo. Além destes, outros personagens secundários se unem brevemente ao grupo, podendo ser controlados pelo jogador enquanto lá estiverem: os soldados Biggs e Wedge; um grupo de dez Moogles; Banon, o chefe dos rebeldes; um fantasma sem nome; e o General Leo Cristophe, que luta pelo Império mas ajuda Celes.

Final Fantasy VIFinal Fantasy VI praticamente levou a capacidade do Super Nintendo ao limite, ocupando quase todos os 24 Megabits do cartucho, e fazendo uso extensivo do Mode7. Apesar dos gráficos ainda serem em sprites, eles eram mais detalhados que os dos dois jogos anteriores, inclusive no mapa geral. Assim como ocorreu com Final Fantasy IV, o jogo foi modificado ao ser lançado nos Estados Unidos, embora bem menos, e na maioria das vezes por razões de espaço para o texto, ao invés de censura - que, mesmo assim, aconteceu, como no sprite da Esper Siren. Como escrever em caracteres japoneses ocupa menos espaço, alguns diálogos tiveram de ser resumidos, e uma limitação de seis caracteres por nome levou a mudanças como do personagem Stragus para Strago, e da magia Phoenix Down para Fenix Down. Por razões de mercado, o nome da protagonista, que no original japonês era Tina Branford, também foi mudado para Terra, um nome mais exótico e que combinaria com sua ascendência mística.

O difícil processo de tradução de Final Fantasy VI revelou um dilema: quanto mais a série avançava, mais enormes ficavam seus jogos. Além disso, com a chegada dos consoles da nova geração, os gráficos dos jogos passaram a ser majoritariamente em 3D, abandonando os sprites. Como também desejava usar gráficos em 3D, cenas em CG, e todas as vantagens que os novos consoles traziam, a Square viu que, embora os seis primeiros jogos tivessem sido lançados para consoles Nintendo, produzir um Final Fantasy para o Nintendo 64, que usava cartuchos, seria muito mais difícil do que para o Playstation ou Saturn, que rodavam CDs, de capacidade bem maior. E o resultado foi levar sua série para os consoles da Sony.

Mas esta parte da história ficará para semana que vem, quando voltaremos com a segunda parte da série! Até lá!

Final Fantasy

Parte 1

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