terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Escrito por em 30.12.08 com 0 comentários

U2

Nem tudo do que eu gosto está no meu perfil ali da esquerda - até porque, se fosse o caso, eu já teria ficado sem assunto para o átomo há meses. Isto é especialmente verdade no caso de bandas: eu até consigo fazer uma lista curta com as principais, mas se tiver de listar tudo o que eu gosto, sempre acabo esquecendo de uma ou duas. Essa semana, por exemplo, em uma conversa com amigos, esqueci o Depeche Mode.

Pois bem, hoje é o dia de falar de uma banda, uma da qual eu gosto muito, mas da qual não costumo me lembrar quando vou fazer as tão malfadadas listas. Hoje é dia de falar de U2. O que coincidentalmente acabou sendo conveniente também para que eu colocasse uma música apropriada ao final de ano para abrir este post.

Ao procurar informações para este post, eu acabei descobrindo que o U2 é a banda mais "grammyada" do mundo, com nada menos que 22 Grammys. Além disso, eles já venderam mais de 140 milhões de álbuns no mundo inteiro, foram eleitos para o Hall da Fama do Rock no primeiro ano em que entraram na votação, e foram considerados os 22os maiores artistas musicais da história pela revista Rolling Stone. Na minha opinião, eles merecem: além de nos presentear com músicas de qualidade, eles ainda se engajam em projetos sociais e de direitos humanos.

A banda se formou em 1976 em Dublin, capital da Irlanda, quando o bateirista Larry Mullen Jr. colocou um anúncio no mural de sua escola procurando músicos para formar uma banda. A primeira formação contava com Mullen na bateria; seu amigo Ivan McCormick e os irmãos Dave e Dik Evans nas guitarras; um amigo dos Evans, Adam Clayton, no baixo; outro amigo de Mullen, Peter Martin, no teclado; e Paul Hewson nos vocais. Durante um dia, a banda foi chamada de "The Larry Mullen Band", depois foi rebatizada como "Feedback". Martin desisitiu logo do projeto - na verdade, quando a banda passou a se chamar Feedback ele já não estava nela - e McCormick também saiu algumas semanas depois. No início, a banda não tocava músicas inéditas, sendo uma banda de covers.

Como todo mundo que conhece o U2 sabe, dois dos integrantes da banda são conhecidos por apelidos, e não por seus nomes verdadeiros. Quando e por que isso começou é incerto, bem como as origens. Paul Hewson, por exemplo, é hoje internacionalmente conhecido como Bono, mas no início da carreira era Bono Vox (teoricamente, "voz boa" em latim, embora o mais correto seria Vox Bona); segundo ele, ele teria decidido adotar esse nome após vê-lo em um anúncio de aparelhos de surdez no centro de Dublin, mas há uma outra teoria de que os colegas o teriam apelidado quando um amigo que ouviu um ensaio da banda disse que ele cantava tão alto que parecia estar cantando para surdos. O outro integrante com "nome artístico" na banda é Dave Evans, mais conhecido como The Edge ("o limite" em inglês), teoricamente apelidado por Bono por gostar de levar a vida no limite, mas que também pode ter tirado seu nome de uma loja em Dublin na qual praticamente passava o dia inteiro.

Falando em nomes, em março de 1977, a banda decidiu mudar de nome mais uma vez, para The Hype. Dik, que era mais velho, já estava na faculdade, e não se identificava com os interesses dos colegas, também comunicou seu desejo de sair, o que fez durante um concerto em uma igreja presbiteriana de Howth, em março de 1978. Depois disso, os integrantes remanescentes decidiram se concentrar na produção de material inédito, e mudar de nome mais uma vez. Steve Averill, um músico mais experiente e amigo de Clayton, sugeriu seis nomes que considerava bons para quartetos. Desta lista, eles acabaram escolhendo U2 (uma corruptela de "you too", "você também" em inglês), por acharem que era um nome aberto a interpretações, e também por ser o que acharam menos pior da lista.

Poucos dias depois da mudança de nome, o U2 ganhou um concurso de talentos na cidade de Limerick, cujo prêmio era o direito a gravar uma fita demo em um estúdio profissional, mais 500 Libras em dinheiro. Em abril de 1978 eles entraram nos Keystone Studios para gravar a demo, onde conheceram o jornalista Bill Graham, que um mês depois os apresentou ao empresário Paul McGuinness. McGuinness conseguiu para eles um contrato com a CBS para o lançamento de um EP, chamado Three. Lançado em setembro de 1979 apenas na Irlanda, Three fez bastante sucesso por lá, e rendeu ao U2 seu primeiro show em terras estrangeiras, realizado em Londres em dezembro daquele ano. O show não chamou muita atenção do público ou crítica, mas a CBS decidiu continuar apostando neles lançando o single Another Day em fevereiro de 1980, mais uma vez apenas na Irlanda. O single chamou a atenção da Island Records, que ofereceu ao U2 um contrato mais vantajoso, que previa o lançamento de suas gravações também internacionalmente. Assim, ainda em 1980, o U2 mudou de gravadora e lançou seu primeiro álbum, Boy.

Lançado em maio de 1980, Boy trazia letras que falavam dos sonhos e frustrações da adolescência, incluindo a que se tornaria o primeiro hit internacional do U2, I Will Follow, primeiro lugar das paradas do Reino Unido. O sucesso do disco rendeu uma turnê pela Europa e Estados Unidos, onde, apesar de considerados meio "verdes", os músicos foram bastante elogiados pela crítica, que viu neles uma banda de muito potencial, principalmente devido ao carisma de Bono.

Em 1981, o U2 lançou seu segundo álbum, October. Durante as gravações, Bono e The Edge, que haviam ingressado em um grupo cristão que questionava a coexistência do cristianismo com o rock, decidiram deixar a banda "por razões espirituais", o que quase levou ao fim da carreira do U2. Felizmente, pouco depois eles mudaram de idéia e retornaram, mas o álbum não vendeu bem e foi bastante criticado, o que levou a Island a pressioná-los para que aprimorassem seu trabalho.

Tendo superado a fase conturbada, a banda fez um excelente trabalho em War, seu terceiro álbum, de 1983. Capitaneado por Sunday Bloody Sunday, que falava do Domingo Sangrento, quando 26 jovens irlandeses que protestavam por direitos civis foram metralhados por soldados britânicos na Irlanda do Norte, War trazia um rock cru, que contrastava com a onda eletrônica da época, e rendeu uma nova turnê pela Europa e Estados Unidos, que ajudou a consolidar a fama do U2 de banda que fazia ótimas apresentações ao vivo. Uma das faixas de War, New Year's Day, alcançou o segundo lugar da parada de rock norte-americana, se tornando o primeiro hit da banda fora do Reino Unido. A turnê de War ainda rendeu um álbum ao vivo, Under a Blood Red Sky, um registro em filme, Live at Red Rocks, e permitiu que o U2 negociasse com a Island um contrato bem melhor que o primeiro, no qual eles receberiam mais por cada show, e seriam donos de todas as músicas que gravassem.

O primeiro disco lançado sob esse novo contrato foi The Unforgettable Fire, de 1984, que também marcou a primeira guinada na carreira do U2. Com um som mais rico e orquestrado, diferente do rock cru que faziam até então, e trazendo letras poéticas como a de Pride, o disco ajudou a banda a conseguir uma identidade, a não ser apenas mais uma na multidão, mas acabou trazendo também um problema: algumas de suas faixas, como The Unforgettable Fire e Bad, eram difíceis de serem executadas ao vivo, o que acabou levando a banda a usar sequenciadores durante seus shows, idéia contra a qual eles lutaram durante muito tempo, mas que agora acabou se tornando quase que uma marca registrada de suas apresentações. Confirmando mais uma vez sua fama de fazer ótimas apresentações ao vivo, o U2 viu vários dos críticos que torceram o nariz para o álbum elogiá-lo durante a turnê.

No final de 1984, o U2 deu mais um passo na construção de sua identidade, participando de seu primeiro grande evento humanitário, o Band Aid, que buscava recolher doações para os famintos da Etiópia, e resultou no single Do They Know It's Christmas?, cujas vendas foram revertidas para o projeto. No ano seguinte, o U2 participou da continuação do Band Aid, o Live Aid, um festival que também teria sua renda revertida para o mesmo propósito. Durante sua apresentação no Estádio de Wembley, Bono saltou do palco e abraçou os fãs, demonstrando que além de grande carisma tinha também grande identificação com seu público. Após o Live Aid, a Rolling Stone classificou o U2 como "A banda dos anos 80", dizendo que ela era "a única banda que importava" para milhares de fãs.

Em 1986 o U2 se envolveria com outro projeto humanitário, o A Conspiracy for Hope, da Anistia Internacional. Suas visitas a El Salvador e à Nicarágua influenciaram as letras de seu álbum seguinte, The Joshua Tree, no qual a banda trabalhou sobre o som do álbum anterior, adicionando elementos de blues, country e gospel. Lançado em 1987, The Joshua Tree vendeu mais rápido que qualquer outro álbum na história do Reino Unido, ficou nove semanas no primeiro lugar da lista dos mais vendidos nos Estados Unidos, rendeu à banda seus dois primeiros Grammys, e trouxe faixas históricas como With or Without You, Where the Streets Have No Name e I Still Haven't Found What I'm Looking For. Sua turnê foi a primeira onde o U2 tocou sozinho em grandes estádios, e ainda rendeu um documentário, Rattle and Hum, que daria origem a um álbum duplo de mesmo nome, com nove faixas de estúdio e seis ao vivo, lançado em 1988. Algumas das faixas do disco foram gravadas no místico Sun Studios em Memphis, e canções do filme foram interpretadas por ícones como Bob Dylan e B.B. King. Ainda assim, Bono temia que a banda passasse por uma estagnação musical, e decretou que o fim da década marcaria o fim de uma era para o U2, que "se afastaria para sonhar tudo novamente".

Assim, em 1991 eles lançaram Achtung Baby, uma nova mudança temática e musical comparável por muitos à de The Unforgettable Fire. Incorporando elementos de dance, rock industrial e alternativo, inspirados pela queda do Muro de Berlim, o U2 se reinventou mais uma vez, produzindo um álbum criticamente aclamado e comercialmente muito bem sucedido. Faixas memoráveis de Achtung Baby incluem One, Who's Gonna Ride Your Wild Horses e Mysterious Ways.

A turnê que seguiu o lançamento de Achtung Baby pela primeira vez não levou o nome do disco, sendo batizada de ZooTV. Definida pela banda como uma crítica à TV a cabo (daí o nome da turnê), que inunda as casas das pessoas com imagens muitas vezes sem qualquer conteúdo, e aos shows de rock da época, cada vez mais gigantes e mirabolantes, sem dar atenção ao principal, a música, os shows da ZooTV traziam extravagâncias, como centenas de televisões cada uma mostrando um programa diferente, carros voadores, canhões de laser, e Bono interpretando vários personagens, um contraste total com os shows apaixonados porém austeros que a banda fazia até então. A ZooTV durou dois anos, 1992 e 1993, sendo que em sua metade o U2 decidiu gravar um EP, chamado Zooropa, que acabou se tornando seu álbum seguinte, de tantas idéias que eles tinham para músicas. Gravado durante um dos intervalos da ZooTV e lançado em 1993, Zooropa seguia a mesma tendência de Achtung Baby, incorporando elementos de techno e música eletrônica. A inovação foi tanta que Bono até abriu mão dos vocais em duas faixas, colocando The Edge para cantar em Numb e convidando Johnny Cash para The Wanderer. Dentre as faixas memoráveis de Zooropa podemos citar ainda Lemon e Stay.

Em 1995, o U2 decidiu lançar um álbum experimental chamado Original Soundtracks 1, com a participação de Brian Eno, produtor dos três últimos álbuns, nos teclados. Como o álbum era diferente de tudo o que a banda havia feito até agora, a Island ficou receosa de lançá-lo como "o novo do U2", então eles decidiram adotar um pseudônimo, Passengers. Talvez por isso, o álbum não foi muito bem sucedido, vendendo pouco e se tornando pouco conhecido, embora uma de suas músicas de trabalho, Miss Sarajevo, que conta com a participação de Luciano Pavarotti, tenha feito um sucesso enorme e se tornado um dos clássicos dos anos 90.

Já que o dos Passengers não conta, o álbum seguinte do U2 seria Pop, de 1997. Assim como nos álbuns anteriores, a banda flertou com novos ritmos, abusando de loops, sequenciadores, sons programados e samplers, em faixas como Discothèque, If God Will Send His Angels e Staring at the Sun. O resultado dividiu a crítica e os fãs, com alguns considerando que Pop foi um novo marco na carreira do U2, enquanto outros ficaram desapontados com o resultado achando que a banda havia se tornado comercial demais. Curiosamente, a turnê de Pop, PopMart, brincava justamente com as críticas ao suposto comercialismo da banda, com cenários do palco que faziam referências a propagandas famosas, como a do McDonald's. No final, Pop foi bem menos sucedido comercialmente que seus antecessores recentes, e parte da culpa foi atribuída a uma possível pressa na hora de completá-lo, para começar logo a turnê. O próprio Bono declarou que, infelizmente, o disco não passava a mensagem que eles pretendiam. Um grande mérito, porém, a turnê PopMart teve: uma das cidades incluídas no roteiro foi Srajevo, a então arrasada capital da Bósnia-Herzegovina, o que fez com que o U2 se tornasse a primeira banda a lá se apresentar depois da Guerra da Bósnia, um momento inesquecível para seus integrantes.

Após o pouco sucesso de Pop, o U2 decidiu se "recandidatar ao posto de melhor banda do mundo", retornando a um som mais tradicional. Após lançar, em 1998, a coletânea dupla The Best of 1980-1990, cujo primeiro disco trazia os principais sucessos deste período de tempo mais a inédita The Sweetest Thing, e o segundo trazia B-Sides e raridades, eles retornaram ao estúdio para gravar All That You Can't Leave Behind, o álbum lançado em 2000, que foi considerado por todos os que não gostaram da fase de experimentação dos anos 90 uma brilhante volta às origens, e pela Rolling Stone como a terceira grande obra-prima do U2, ao lado de The Joshua Tree e Achtung Baby. Suas faixas, como Beautiful Day, Stuck in a Moment You Can't Get Out Of e Walk On - dedicada à líder pró-democracia na Birmânia, Aung San Suu Kyi - renderam mais de cinco Grammys para a banda. Chamada de Elevation Tour, a turnê que se seguiu trouxe de volta os palcos sóbrios e a interação com o público, deixando os espetáculos visuais de lado.

Em 2002, a banda lançou mais uma coletânea com B-Sides, The Best of 1990-2000. Dois anos depois saiu seu mais recente álbum inédito, How to Dismantle an Atomic Bomb, que tem um som mais pesado que seu antecessor, e cuja primeira música de trabalho, Vertigo, foi lançada junto com uma versão especial do iPod e com uma "caixa" com 446 músicas da banda, que poderia ser adquirida exclusivamente através do iTunes. How to Dismantle an Atomic Bomb estreou no primeiro lugar em vendas nos Estados Unidos, e apenas na primeira semana vendeu o dobro de All That You Can't Leave Behind, estabelecendo um novo recorde para a banda. Além disso, o álbum ganhou Grammys nas oito categorias para as quais foi indicado, e sua turnê, a Vertigo Tour, que incluía músicas dos três primeiros discos da banda pela primeira vez em vinte anos, foi um grande sucesso.

O mais recente lançamento do U2 é mais uma coletânea, U218 Singles, que também traz a inédita Window in the Skies. Atualmente eles estão em estúdio gravando mais um álbum, que deverá ser lançado no início de 2009.

Graças à sua constante capacidade de se reinventar, o U2 conseguiu permanecer na crista da onda por mais de 20 anos. Todos no ramo da música têm seus altos e baixos, então as críticas que eles receberam nesse tempo todo são apenas gotas em um oceano de sucessos. Eu, de minha parte, desejo pelo menos mais 20 anos bem sucedidos. Por mim, eles podem inventar o que quiserem. Só não podem inventar de parar de cantar.

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