Também conhecido como Baraja Española, este é considerado o padrão nacional da Espanha; apesar disso, ele não foi o primeiro padrão regional a se estabelecer como tal. O padrão castelhano foi criado em 1868 pelo fabricante Heraclio Fournier, da cidade de Vitoria, como uma variação enfeitada, inspirado em um baralho com ilustrações neoclássicas criado em 1810 por Clemente Roxas, da cidade de Madri, e que fez muito sucesso. Com o tempo, o baralho de Fournier também alcançou grande popularidade, sendo copiado por diversas outras fabricantes, e se estabelecendo como o baralho favorito dos jogadores. O nome "padrão castelhano" foi cunhado no início do século XX, para diferenciá-lo de outro padrão popular, o catalão; na Espanha, porém, ele costuma ser chamado simplesmente de "padrão espanhol" ou "baralho espanhol".
Todas as ilustrações do padrão castelhano são ricamente trabalhadas, e impressas em várias cores. Cada naipe possui uma peculiaridade: todas as moedas têm uma efígie de mulher em seu interior; as taças são sempre cobertas com uma espécie de tampa; as espadas das cartas 1, 2, 3 e as nas mãos das figuras são longas e com empunhaduras trabalhadas, enquanto as das demais cartas são curtas e semelhantes a adagas; e as clavas possuem poucas protuberâncias (com exceção das cartas 1 e 2), como se tivessem sido "lixadas", diferente das clavas rústicas de outros padrões. Outros detalhes interessantes são que os quatro cavalos têm as quatro patas no chão, e os quatro reis são barbados. Mas a carta que chama mais atenção é o Ás de Ouros, ricamente decorado com uma enorme moeda, várias bandeiras, coroas de folhas, e até um gárgula.
O baralho castelhano pode ser encontrado em duas variedades, a tradicional espanhola de 48 cartas (do 1 ao 9, Sota, Cavaleiro e Rei de cada naipe) ou a de 40 cartas (sem o 8 e o 9 de cada naipe), que é até mais comum, já que a maioria dos jogos modernos só usa 40 cartas. A versão de 48 cartas costuma acompanhar duas cartas extras, chamadas comodines (algo como "pretextos" ou "desculpas"). Estas cartas possuem um logotipo do fabricante, todos os quatro naipes em uma mesma carta, ou um outro personagem qualquer; em jogos mais recentes elas funcionam como curingas, mas sua função inicial era substituir cartas que porventura se danificassem.
Quanto ao tamanho das cartas, o baralho tradicionalmente tem 61 x 95 mm, mas existem duas variações "oficiais": a chamada Liliput, apropriada para jogar paciência, com cartas pequenas de 37 x 57 mm; e a chamada Gigante, que tem cartas enormes de 122 x 190 mm, e eu nem imagino para que sirva. Também não é difícil encontrar este baralho em formato redondo.
Independentemente da fabricante, o baralho castelhano costuma usar as figuras criadas por Fournier, mudando alguns detalhes de acordo com o artista. Se o baralho sofrer muitas modificações, acaba sendo enquadrado como uma variação enfeitada. Existe, porém, uma variação que acabou sendo "incorporada" ao padrão: chamada de Poker Español, esta variação traz cartas com grossas bordas, que contêm curiosos índices, compostos por um número e um pequeno símbolo do naipe, ficando a ilustração original em um quadrado interno, com fundo amarelo. O intuito é possibilitar que se jogue Pôquer (e, por tabela, todo tipo de jogo) com o baralho espanhol ao invés do francês; por causa disso, um baralho de Poker Español possui todas as 52 cartas (incluindo um 10 de cada naipe), tem Ases, Sotas, Cavaleiros e Reis marcados com as letras A, J, Q e K, e até mesmo um Curinga, curiosamente marcado com o número 0, mas sem naipe.
Atualmente, o baralho castelhano é fabricado na Espanha, França, Áustria, México, e até no Brasil, pela Copag.
Este padrão é um descendente direto do inventado por Pere Rotxoxo, da cidade de Barcelona, no século XVII. As ilustrações se mantêm fiéis às originais, embora tenham ganhado alguns novos detalhes conforme as técnicas de impressão se modernizavam.
Mesmo assim, as ilustrações do padrão catalão são bem mais simples que as do castelhano, e usam bem menos cores. A principal característica deste padrão está nos cavalos, chamados rampantes, por estarem com as patas dianteiras levantadas; este traço é tão característico que praticamente todos os baralhos influenciados pelo espanhol também trazem cavalos rampantes. Outros detalhes curiosos incluem as estrelas de seis pontas dentro das moedas, as taças destampadas, as clavas rústicas de formatos irregulares, e as espadas sempre longas, mesmo nas cartas com maior quantidade delas. Somente os Reis de Espadas e Copas possuem barba, e os Cavaleiros de Espadas e Copas usam bigode, assim como o Sota de Espadas. O Ás de Ouros, além de decorado com bandeiras, traz ainda uma coroa, um leão e uma âncora. Uma âncora também pode ser encontrada no 4 de Ouros.
As cartas do baralho catalão têm o mesmo tamanho das castelhanas, 61 x 95 mm, mas desconheço a existência de versões Liliput, Gigante ou redonda. Também como o castelhano, é comercializado na versão de 48 cartas, acompanhadas de duas comodines, ou na de 40 cartas. Atualmente ele é produzido na Espanha, Áustria, Argentina e França.
Na França, aliás, o padrão ganhou duas variações curiosas: a primeira, conhecida como catalão francês (Cartes Catalanes, na França), surgiu no início do século XIX, quando as fabricantes da fronteira entre França e Espanha decidiram criar baralhos baseados nos que chegavam da Espanha. As figuras do baralho catalão francês até lembram as do catalão original, mas são bem mais trabalhadas e coloridas, e com algumas diferenças básicas: as moedas trazem em seu centro uma coroa de folhas, as taças são em formato diferente, todos os Reis usam barba, e nenhum Cavaleiro ou Sota tem bigode. O Ás de Ouros também é bem menos decorado, apenas com duas fitas, uma lança e um brasão. Estes detalhes fazem com que muitos considerem este padrão uma "mistura" dos três padrões regionais espanhóis. O baralho catalão francês jamais foi fabricado fora da França, e atualmente é considerado apenas uma variação enfeitada.
A segunda variação é ainda mais interessante: surgida na região de Vendée no século XVII, ela recebeu o nome de Aluette, o mesmo do jogo tradicional da região, originalmente jogado com baralhos trazidos da Espanha. No jogo de Aluette, cada carta possui um "apelido", então as fabricantes da região desenvolveram um baralho especial, onde as figuras das cartas tinham relação com estes apelidos (o 2 de Copas, por exemplo, é apelidado "A Vaca", então a carta do 2 de Copas tem a figura de uma vaca). Além disso, algumas outras cartas ganharam detalhes curiosos, como os Cavaleiros, montados em cavalos desproporcionalmente pequenos, e vestindo roupas femininas. O resultado foi um baralho ricamente ilustrado e bastante colorido, mas que ficou restrito a um único jogo e a uma única região. Atualmente o baralho de Aluette ainda é fabricado pela francesa Grimaud, no tamanho 58 x 89 mm, mas é considerado um baralho específico para um jogo específico, mais ou menos como um baralho de Uno.
Este é o padrão espanhol que mais guarda semelhanças com os primeiros padrões, da época em que cada fabricante inventava suas próprias cartas. Surgido no início do século XIX na cidade de Cadíz, ele não tem nome oficial ("padrão de Cadíz" é um nome extra-oficial, usado pelos colecionadores), e teria desaparecido se não tivesse migrado para a África, mais precisamente para Marrocos.
Com o aumento da popularidade do padrão castelhano, o padrão de Cadíz foi aos poucos sendo abandonado na Espanha, mas em Marrocos ele seguia firme e forte, ao ponto de se espalhar para a Tunísia e para a França, que tinha filiais de suas principais fabricantes nestes dois países. Atualmente, ele é fabricado na França (onde é curiosamente identificado como "padrão espanhol"), El Salvador, Hong Kong e Uruguai, onde deu origem ao Estilo Paris, considerado por alguns como o padrão regional uruguaio.
As cartas do padrão de Cadíz têm 55 x 84 mm, e o baralho pode ser encontrado tanto na versão de 48 quanto na de 40 cartas, mas sem comodines. Suas principais características são as moedas com desenhos geométicos, as taças destampadas e quase cilíndricas, e as clavas coloridas e com galhinhos, quase como tentáculos. Os cavalos são rampantes e desproporcionalmente pequenos, e os Reis não têm barba. No geral, as ilustrações têm traços simples e ingênuos, mas em compensação são bastante coloridas. Algumas edições especiais, comercializadas como variações enfeitadas, podem ter figuras mais bem trabalhadas.
O padrão criado na cidade de Nápoles é um dos mais famosos da Itália, sendo popular em praticamente todos os lugares que não tenham um padrão próprio. Surpreendentemente, porém, ele é um dos mais recentes, tendo chegado à forma que tem hoje apenas no final do século XVIII.
As cartas do baralho napolitano são pequenas, com 50 x 83 mm, e bastante coloridas, com ilustrações impressas em tons fortes de verde, azul, vermelho e amarelo, além de detalhes em preto, cinza e marrom. As moedas, em amarelo e preto, trazem um sol em seu interior, que possui um rosto nas cartas 2, 3, 4 e 5. As taças são destampadas (com exceção do Ás), e trazem duas alças em suas laterais. As espadas têm lâminas de um azul vivo e empunhaduras ricamente decoradas; e as clavas são lisas, sem qualquer protuberância, e decoradas com folhas. As cartas mais características do padrão são o 3 de Paus, que traz à frente das clavas uma face grotesca e bigoduda; o 5 de Espadas, que retrata uma cena rural entre as espadas; e o Ás de Ouros, que traz uma águia de duas cabeças, e com dois espaços para o selo dos impostos, embora somente um selo fosse aplicado em cada baralho. Além disso, os Cavaleiros de Espadas e Ouros são mouros, com turbantes na cabeça, e uma cimitarra ao invés de uma espada na mão do Cavaleiro de Espadas. Nenhuma carta é numerada ou possui bordas, e todas as figuras são impressas em um único sentido da carta. Os Reis, Cavaleiros e Fantes estão de pé sobre uma espécie de tapete, cuja cor depende do naipe (azul para Espadas, vermelho para Copas, amarelo para Ouros e verde para Paus). O nome e logotipo do fabricante costumam vir impressos no 4 de Ouros e no de Copas.
Atualmente, o padrão napolitano é fabricado por praticamente todas as fabricantes italianas, e também pela austríaca Piatnik. Só é encontrado na versão tradicional italiana de 40 cartas.
Surgido na ilha da Sicília no século XIX, este padrão traz muitos detalhes em comum com o napolitano, sendo, provavelmente, uma adaptação deste. Sua popularidade não se restringe à ilha, sendo utilizado também em muitas cidades do sul da Itália.
Assim como o padrão napolitano, o siciliano tem 40 cartas de 50 x 83 mm, nenhuma delas possuindo índices ou bordas. As figuras, impressas em um único sentido da carta (embora tenhamos taças "de cabeça pra baixo" no o 2 e no 4 de Copas) também são bastante coloridas, mas as ilustrações são mais simples, e com alguns pequenos desenhos, como animais, casinhas, navios e pessoas, para preencher os espaços em branco entre os símbolos dos naipes. As clavas são trabalhadas e com uma espécie de empunhadura; as taças são gordinhas, com bocas pequenas e duas alças; as espadas têm empunhaduras simples e lâminas verdes, com exceção do Ás e do 2, onde estão embainhadas, e das espadas empunhadas pelos personagens, bem mais finas e pontudas que o habitual, e com lâminas azuis. As moedas são o naipe mais curioso, com praticamente cada carta trazendo uma ilustração diferente dentro delas. Curiosamente, o único Cavaleiro que está segurando o símbolo de seu naipe é o de Ouros; nos demais o símbolo aparece suspenso no ar ao lado da figura, o mesmo acontecendo com o Fante de Copas. O Ás de Ouros traz uma águia nas cores verde e vermelha, com o tradicional espaço central destinado ao selo dos impostos.
O baralho siciliano já foi fabricado na Alemanha e Áustria, mas atualmente só é encontrado nos catálogos das principais fabricantes italianas.
Este padrão surgiu na região de Romagna, que hoje corresponde aproximadamente à região da Emilia-Romagna, no centro da Itália. Muitos pesquisadores consideram este padrão uma adaptação do padrão placentino (que veremos semana que vem), mas com muitos detalhes "emprestados" de outros padrões italianos e espanhóis.
Produzido pelas principais fabricantes italianas, o baralho romanhol tem 40 cartas de 51 x 94 mm, nenhuma delas possuindo índices ou bordas. As figuras são bem trabalhadas, mas bem menos coloridas que as de outros padrões italianos. As demais ilustrações são simples, mas usam tons fortes de azul, vermelho e amarelo. As moedas trazem uma espécie de flor em seu interior, embora nem todas as cartas tenham a mesma flor. As taças são descobertas, mas sem alças, e as espadas têm empunhaduras simples e lâminas coloridas. As clavas são lisas e sem qualquer protuberância, com exceção do 2 de Paus, onde cada clava traz quatro pequenos prolongamentos, e um grande nó, como se um pedaço tivesse sido cortado, em sua ponta. Os Reis de Copas e Ouros são armados com machados, e os cavalos dos Cavaleiros são desproporcionalmente pequenos, embora somente os de Paus e Ouros sejam rampantes.
Os Ases são um espetáculo à parte: o de Espadas traz a figura de um pequeno anjo segurando a espada, além de uma fita com uma moeda em cada ponta; o de Copas traz uma taça tampada e ricamente decorada, como uma urna; o de Paus traz uma clava rústica com muitos nós e protuberâncias, além de um pedaço de solo com duas plantinhas; e o de Ouros não traz absolutamente nada além do nome da fabricante e de uma pequena decoração central, que varia de acordo com a mesma, mas nunca é mais detalhada que um pequeno círculo vermelho e algumas folhinhas na horizontal. A razão para um Ás tão econômico, infelizmente, se perdeu no tempo.
Originário da ilha da Sardenha, este é o padrão italiano que mais guarda semelhança com os padrões espanhóis, em uma clara demonstração de que foi adaptado a partir de algum deles. Para começar, todas as cartas possuem bordas, embora todas sejam contínuas, e não quebradas como no baralho espanhol. Além disso, este é o único padrão do centro-sul da Itália no qual as cartas possuem números nos cantos superior esquerdo e inferior direito, sendo este último de cabeça para baixo. Corrobora a teoria de que este padrão é relacionado aos espanhóis o fato de que, embora ele tenha apenas 40 cartas, as figuras são marcadas com os números 10, 11 e 12, exatamente como nos padrões espanhóis de 48 cartas.
As ilustrações também guardam muitas semelhanças com as espanholas; as figuras, por exemplo, são muito mais trabalhadas do que as dos demais baralhos italianos, com roupas garbosas e armaduras coloridas. Os cavalos, à exceção do de Copas, são rampantes e desproporcionalmente pequenos. As moedas possuem efígies em seu interior, as taças são tampadas, e as clavas são rústicas e com protuberâncias. E talvez a maior semelhança entre as figuras deste padrão e dos espanhóis esteja no Ás de Ouros: embora sem decoração em volta, ele é representado por uma enorme moeda, algo que não acontece em nenhum outro padrão regional italiano.
Apesar de todos estes traços em comum, o baralho sardenho ainda possui algumas peculiaridades bem originais. Os Ases de Paus e Espadas, por exemplo, estão nas mãos de anjos, e têm cenários ricamente decorados. As taças também são muito mais decoradas que o habitual, tendo, inclusive, ramos de parreira pendendo de suas bordas. Todas as espadas, exceto as empunhadas pelas figuras, estão embainhadas; e as quatro cartas de valor 4 possuem belas ilustrações no espaço em branco entre os símbolos dos naipes.
Não existem indícios precisos de quando este baralho tenha surgido, mas o mais provável é que tenha sido no final do século XIX. Suas cartas têm 57 x 87 mm, e atualmente só são fabricadas na Itália.
Semana que vem, os sete padrões restantes!
Série Baralhos |
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Padrões Regionais Latinos - Parte 1 |
Gostaria de saber onde poderei comprar o baralho padrão siciliano, obrigado.
ResponderExcluirGostaria de saber onde poderei comprar o baralho padrão siciliano, obrigado.
ResponderExcluirGostaria de saber onde poderei comprar o baralho padrão siciliano, obrigado.
ResponderExcluirSergio, eu não sei, eu mesmo nunca comprei um. Imagino que somente em lojas estrangeiras, deve ter alguma que venda pela internet. Abraços!
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