
As máquinas da Nutting, porém, ficavam localizadas em bares, o que acabou fazendo de Computer Space um enorme fracasso devido ao fato de que, diferentemente do Pinball, não chamava a atenção dos habituais freqüentadores deste tipo de estabelecimento. Bushnell então começou a buscar uma nova idéia para um jogo eletrônico, e após ver um console Magnavox Odyssey rodando Pong, criou sua própria versão do jogo para arcades. A Nutting não quis investir, achando que Pong seria mais um fracasso, o que levou Bushnell e seu amigo Ted Dabney a fundar sua própria companhia, para produzir máquinas de arcade rodando jogos eletrônicos voltados ao público adolescente.
Bushnell e Dabney tiveram a idéia de chamar a empresa de Syzygy, um termo da astronomia que em português poderia ser traduzido como "conjunção planetária". Como já havia uma empresa registrada com este nome (uma fabricante de velas), Bushnell começou a procurar por outros nomes, por fim escolhendo Atari, um termo utilizado no jogo de tabuleiro japonês Go quando uma pedra está em risco de ser capturada pelo oponente.
A Atari foi fundada em 1972, e seu primeiro lançamento foi a versão de Pong para arcades, que fez tanto sucesso que acabou se tornando mais famosa que a versão do Magnavox Odyssey - e até mesmo que o próprio Magnavox Odyssey. Pensando neste fato, em 1975 Bushnell começou a projetar um videogame caseiro, nos moldes do Magnavox Odyssey, capaz de rodar todos os quatro jogos que a Atari já havia desenvolvido até então, e quantos mais a companhia produzisse. O Magnavox Odyssey havia sido o primeiro videogame do mundo, era preto-e-branco, não tinha som, e vinha com 12 jogos. Para trocar o jogo, o jogador substituía uma placa de circuito impresso em uma abertura especial do console. Na verdade, cada uma destas placas nada mais era que uma série de jumpers, circuitos abertos ou fechados, que diziam ao processador interno do console como ele deveria arrumar as imagens na tela e interpretar os movimentos do joystick, que só se movia para a esquerda e para a direita e não tinha nenhum botão de disparo.
Antes mesmo do lançamento do console, porém, ele ganhou um concorrente, o Channel F, produzido pela Fairchild Semiconductors e lançado em agosto de 1976, o primeiro videogame da Segunda Geração, capaz de rodar jogos bastante diferentes entre si utilizando cartuchos, e com joysticks que se moviam nas oito direções e tinham um botão de tiro. O Stella precisaria ser lançado o mais rápido possível, ou um bando de similares invadiria o mercado, e ele seria apenas mais um ao invés de uma revolução. A Atari, porém, não tinha dinheiro para começar uma produção em massa do console, o que levou Bushnell a vender a companhia à Warner Communications, hoje parte da AOL Time Warner, por 28 milhões de dólares e a promessa de que o Stella entraria em produção o quanto antes.
Após alguns ajustes, em 1977 finalmente foi lançado o videogame idealizado por Bushnell, oficialmente batizado de Atari Video Computer System, ou Atari VCS. Estima-se que tenham sido gastos mais de 100 milhões de dólares no projeto do console, que chegou ao mercado com um par de joysticks, paddles (uma espécie de joystick onde se gira o direcional ao invés de empurrar) opcionais, e nove jogos diferentes, que podiam ser adquiridos separadamente em cartuchos. Os cartuchos, por dentro, nada mais eram que uma placa de circuito impresso com uma ROM, um circuito integrado onde ficava gravado o jogo. As informações da ROM e dos joysticks eram interpretadas pelo processador e transmitidas pela TIA para a tela da TV. No início, porém, as vendas não foram lá essas coisas, principalmente porque a maioria das pessoas nem sabia do que um videogame se tratava, ou achava que o Channel F e o Atari VCS eram apenas clones do Magnavox Odyssey. Ao preço de 199 dólares, o Atari VCS só vendeu 250.000 unidades em 1977 e 550.000 de um total de 800.000 em 1978, o que fez com que a Warner tivesse de cobrir o prejuízo. O Channel F, apesar de mais barato, vendido a 169,95 dólares, vendeu ainda menos, o que levou a Fairchild a desistir de sua produção no início de 1979, e a retirar-se do mercado de videogames.
Mesmo com estas vendas astronômicas, 1982 marcou o início de uma era nada boa para a Atari. Neste ano foi lançado o Intellivision, da Mattel, que contava com uma maciça campanha de marketing que essencialmente dizia que os jogos do Intellivision eram melhores que os do Atari VCS. O Intellivision nunca chegou a ameaçar o Atari VCS, mas mesmo assim os programadores decidiram lançar um novo console para competir com ele. Na verdade, este novo console já estava em produção desde o lançamento do Atari VCS, pois os programadores da época acreditavam que a vida útil de um videogame seria de no máximo três anos. Além disso, buscando uma fatia no mercado dos computadores domésticos que começavam a virar moda no final dos anos 70, a Warner havia criado uma subdivisão da Atari para este fim, o que deu origem aos computadores Atari 400, lançado em 1978, e Atari 800, uma versão mais avançada, lançada em 1979.
Pois bem, para competir com o Intellivision, em 1982 foi lançada uma versão com gráficos e som melhores e velocidade de processamento maior do Atari VCS, batizada de Atari 5200 (o número de série de sua TIA). Retroativamente, o Atari VCS começou a ser chamado de Atari 2600, o nome que viria nas caixas a partir de então, e pelo qual o console seria conhecido até hoje. Apesar de mais avançado que o 2600, o 5200 não fez sucesso, basicamente por três motivos: o primeiro era que seus joysticks, apesar de terem dois botões de tiro, e a possibilidade de até quatro jogadores simultâneos por jogo (o console tinha quatro entradas para joystick) eram desajeitados de se segurar e quebravam fácil; em segundo lugar, pouco depois do lançamento do 5200 foi lançado um novo concorrente, o Colecovision, fabricado pela Coleco, que acabou abocanhando uma boa fatia do mercado; e, em terceiro lugar, o 2600 já contava com uma legião de fãs fiéis, e cada vez mais jogos eram produzidos para ele. Como o 5200 tinha poucos jogos e não rodava os jogos do 2600, muita gente preferia comprar um "ultrapassado" 2600 a um "moderno" 5200.
Como se tudo isso já não fosse o bastante, as divisões de videogame, computadores e arcades da Atari não se comunicavam entre si, o que aumentava a chance de um projeto falhar. Pelo menos um realmente falhou, o Atari 2700, uma versão do 2600 que transmitiria seus dados para a TV sem fios, mas teve um problema de projeto que não conseguiram arrumar. Outra versão do 2600, a 2800, destinada ao mercado japonês, jamais foi lançada porque, em 1983, a Nintendo lançou lá seu Famicom (que viria a ser conhecido nos EUA como NES, ou Nintendo 8-bits), muito mais avançado até que o 5200, e que rapidamente dominou o mercado. A Atari teve a chance de fabricar o Famicom com exclusividade para os EUA, mas o acordo com a Nintendo foi por água abaixo quando a Coleco conseguiu uma licença para produzir o jogo Donkey Kong para o Colecovision. Mesmo assim, a Nintendo produziu vários jogos para o 2600, como o próprio Donkey Kong e Mario Bros.
Tendo prejuízo atrás de prejuízo, sem o contrato com a Nintendo, e com o mercado saturado de consoles e títulos, sem público para absorver a isso tudo, a Atari chegou ao fundo do poço em 1983, no que ficou conhecido como o crash dos videogames. A Warner teve um prejuízo de 500 milhões de dólares, o que a levou a vender a Atari. A divisão de videogames e a de computadores foram adquiridas pela Commodore (curiosamente, a fabricante do "cérebro" do Atari desde o início) em julho de 1984, e a de arcades pela Namco em 1985. Antes do crash, porém, os programadores da Atari já trabalhavam em uma nova versão do console, para substituir o 5200 e competir com o NES, à qual chamaram de Atari 7800. Esta versão era bem melhor que o 5200, com joysticks digitais (essencialmente iguais aos do NES, com dois botões e tudo), jogos tão bons quanto os primeiros do NES, e, o mais importante para muitos fãs, aceitava todos os jogos do 2600. O Atari 7800 foi lançado em 1986, junto com a primeira versão do 2600 fabricada pela Commodore, mais leve, de linhas mais modernas e mais barata (era vendida por 50 dólares), apelidada de Atari 2600 Jr. A Commodore ainda lançou um novo computador da Atari, o Atari ST, de 16 bits, que teve excelentes vendas na Europa, mas não tão boas nos EUA.
Sob o controle da Commodore, a Atari conseguiu se reerguer, e voltou a dar lucro. O mercado de videogames também voltou a crescer, afastando o risco de um novo crash, mesmo com muito mais consoles e títulos sendo lançados do que em 1983. A Atari ainda lançaria dois outros consoles, o portátil Lynx, em 1989, que mesmo sendo colorido não conseguiu superar as vendas do preto-e-branco Game Boy da Nintendo; e o Jaguar, lançado em 1993 para concorrer com o Playstation da Sony e o Saturn da Sega, mas que também falhou por ter uma quantidade muito pequena de jogos e softhouses interessadas em produzí-los. Depois disso, a companhia virou ela mesma uma softhouse, passando a produzir jogos ao invés de consoles. Atualmente, a Atari é uma subsidiária da Infogrames.
E o 2600, a estrela maior da companhia? Bem, seu sucesso foi tanto que ele só deixou de ser produzido em 1992, 15 anos após seu lançamento. Ainda hoje o Atari 2600 é tido como um dos videogames mais divertidos da História, um dos que tem a maior galeria de jogos (mais de 900), seu símbolo é um ícone dos anos 80, e seu nome é praticamente sinônimo de videogame em alguns países. Até hoje se vendem clones do Atari 2600 no mundo todo, capazes de rodar seus cartuchos ou que já vêm com os jogos na memória. Mas o mais impressionante é que até hoje são produzidos novos jogos para o sistema, seja para jogar em emuladores ou até mesmo para a venda, já que não é tão difícil assim montar um cartucho de Atari. Por essas e outras, o console ganhou o apelido de "o videogame que se recusou a morrer".
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